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Cláudio Luciano Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Gestão de Produção Industrial (FLX1745) - 12/12/20 MÉTODO DE ANÁLISE E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS NA PREVENÇÃO DE DESPERDÍCIOS NA PRODUÇÃO DE COMPRIMIDOS DE CAPTOPRIL Cláudio Luciano 1. INTRODUÇÃO As etapas do Método de Análise e Solução de Problemas (MASP) são, basicamente, identificação do problema, observação, análise e plano de ação. Este trabalho discorre sobre a aplicação de ferramentas pertencentes ao Controle Estatísticos de Processos (CEP) em uma indústria farmacêutica na área de produção de formas farmacêuticas sólidas, produção de comprimidos de captopril, como resposta ao plano de ação desenvolvido no MASP. Foi identificado que ao final do processo de produção muitos comprimidos encontravam-se fora dos parâmetros estabelecidos, gerando grande volume de resíduo químico e perdas significativas para a indústria. Seguindo orientações preconizadas no manual de Boas Práticas de Fabricação (BPF) optou-se por empregar ferramentas pertencentes ao Controle Estatísticos de Processos (CEP) para detectar desvios de parâmetros representativos da produção a fim de identificar a fonte ou fontes de falhas. Esses passos tornaram possível propor ações para solucionar as causas levantadas como fontes de erro e auxiliar a implantação de medidas corretivas e preventivas ao longo da produção, evitando descartes ou reprocessamento no final da cadeia produtiva. Ao fim do trabalho foi possível constatar a importância e impacto do Controle Estatístico de Processo para a gestão das etapas produtivas, eliminação de não conformidades e prevenção de desperdícios. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. Indústria farmacêutica O setor farmacêutico tem alto impacto sobre a sociedade como um todo, principalmente na saúde da população, além de ser um setor economicamente estratégico, já que pode impactar outros setores da economia. Nos últimos anos, alguns países têm ganhado destaque no cenário mundial da indústria farmacêutica, entre eles, o Brasil. Houve crescimento visível na produção nacional de medicamentos após a criação da Lei dos Genéricos, em 1999, o que culminou na abertura de grandes laboratórios de capital nacional. Desde a fundação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em 26 de janeiro de 1999, intensificou-se a fiscalização do controle de qualidade dos medicamentos, conforme os padrões internacionais. Desde então a ANVISA já publicou diversas resoluções, dentre elas a 2 RDC 301, de 21 de agosto de 2019, que dispõe sobre as diretrizes gerais de Boas Práticas de Fabricação (BPF) de Medicamentos que busca maior qualidade dos medicamentos comercializados no país e maior segurança para os usuários. Estar adequado a essa resolução é tão importante que, no período de 1999 a 2010, era a segunda maior fonte de uso dos investimentos realizados pelas empresas produtoras de medicamentos genéricos no país, segundo estudo publicado pela PróGenéricos, cujo gráfico podemos observar abaixo. Gráfico 1: Destino dos investimentos realizados na indústria farmacêutica no período de 1999 a 2010. Fonte: PróGenéricos. De acordo com Queiroz (2003) e Correia (2001), na formulação são realizados processos de natureza física, cuja tecnologia é relativamente simples e difundida. Constitui um estágio de baixa complexidade técnica, logo, apresenta custos menores e não exige mão de obra tão qualificada como nos estágios iniciais. As possíveis “inovações” presentes nesse estágio são as voltadas à obtenção de novas formulações de especialidades já existentes, ou, como no caso em questão, na melhoria e/ou manutenção dos processos. 2.2. MASP O método de análise e solução de problemas (MASP) é um dos métodos mais populares no Brasil para resolução de divergências produtivas na indústria. É derivado de outro método também muito conhecido, o PDCA, sigla derivada dos termos e inglês plan, do, check e act, que em tradução livre correspondem a planejar, fazer, checar e agir. O MASP segue etapas que estão descritas a tabela 1, abaixo. Visa auxiliar na solução de problemas e obter resultados otimizados. O MASP não é a solução para o problema, ele prescreve como o problema deve ser resolvido (ORIBE, 2008). Tabela 1: Fases do MASP. Ciclo Fase do MASP Objetivo 3 P Identificação do Problema Definir claramente o problema e reconhecer sua importância Observação Investigar as características específicas do problema com uma visão ampla e sob vários pontos de vista Análise Descobrir as causas fundamentais Plano de ação Conceber um plano para bloquear as causas fundamentais D Ação Bloquear as causas fundamentais C Verificação Verificar se o bloqueio foi efetivo A Padronização Prevenir contra o reaparecimento do problema Conclusão Recapitular todo o processo de solução do problema para trabalho futuro Fonte: CAMPOS (2004). 2.3. Controle Estatístico de Processo (CEP) Segundo Leduar Guedes de Lima (2007), em sua dissertação de mestrado na Universidade Federal de Pernambuco: [...]O atual cenário da indústria farmacêutica demonstra a importância da utilização de ferramentas que facilitem a tomada de decisões que podem ser classificadas em estratégicas, operacionais e de controle, esta última refere- se em como planejar e controlar as operações. Essas decisões privilegiam as atividades diárias dos trabalhadores, a qualidade dos produtos e serviços, os custos de produção, os gastos gerais e a manutenção de máquinas. [...] A atenção rigorosa aos requisitos de Boas Práticas de Fabricação (BPF) de medicamentos tem colocado as empresas sob vigilância constante no que concerne aos seus sistemas de qualidade. As BPF são aplicáveis a todas as operações envolvidas na fabricação de medicamentos, e o cumprimento das BPF está dirigido primeiramente para a diminuição dos riscos inerentes a qualquer etapa da produção de uma forma farmacêutica, os quais não podem ser detectados através da realização dos ensaios nos produtos acabados. 4 A ênfase para buscar melhorias da qualidade deve ser concentrada em melhoramentos contínuos, atitudes que, promovidas continuamente, permitam reconhecer os problemas, priorizar ações corretivas, implantá-las e dar sequência à postura pró-ativa, agindo corretamente. A utilização de métodos estatísticos não garante a solução de todos os problemas de um processo, porém é uma maneira racional, lógica e organizada de determinar onde eles existem, sua extensão e a forma de solucioná-los. Esses métodos podem ajudar na obtenção de sistemas que assegurem uma melhoria contínua da qualidade e da produtividade ao mesmo tempo. [...] Técnicas estatísticas são excelentes para representar o grau de segurança que um processo farmacêutico requer. O controle estatístico de processos (CEP) é uma das melhores ferramentas que visa auxiliar no controle eficaz da qualidade. Pode ser descrito como um conjunto de ferramentas de monitoramento da qualidade. Consegue-se uma descrição detalhada do comportamento do processo, identifica sua variabilidade e possibilita seu controle ao longo do tempo já que os dados são retirados e analisados continuamente ao longo da produção o que possibilita manobras de adequação antes que o lote seja integralmente produzido (Alencar, 2004). O CEP abrange a coleta, análise, interpretação dos dados com a finalidade de resolver um problema em particular (Paranthaman, 1990). Lima (2007) diz ainda que “a eficácia da utilização do CEP baseia-se no seguinte conceito: se um processo ocorre sob condições conhecidas e estas são cuidadosamente mantidas, este processo estará sujeito apenas aos efeitos de causas comuns – que definem a posição e a dispersão do processo, configurando-se por uma distribuição normal. Assim, sendo um processo conhecido, pode-seprever toda sua ocorrência”. O principio do CEP está diretamente em agir no processo, ou seja, evitar defeitos, independente de onde eles possam manifestar-se. Não preocupa-se exclusivamente com o produto acabado, utiliza-se da estatística como instrumento básico para a organização, tratamento e análise das informações do processo. O berço do CEP está em atuar preventivamente (Diniz, 2001). 2.3.1. Cartas de Controle Segundo o Portal Action, carta de controle é um tipo de gráfico utilizado para o acompanhamento de um processo. Este gráfico determina estatisticamente uma faixa denominada limites de controle que é limitada pela linha superior (limite superior de controle) e uma linha inferior (limite inferior de controle), além de uma linha média. O objetivo é verificar, por meio do gráfico, se o processo está sob controle, isto é, isento de causas especiais. No caso em questão os pesos dos comprimidos de captopril foram inseridos na carta de controle cujos limites inferior e superior são estabelecidos pela monografia do fármaco na 5 Farmacopeia Brasileira vigente, com objetivo de determinar se existia um problema na etapa de compressão do processo de produção. Um exemplo de gráfico da carta de controle pode ser observado abaixo, nas imagens 1 e 2. Imagem 1: Carta de controle. Fonte: www.portalaction.com.br/controle-estatistico-do-processo. Imagem 1: Carta de controle. Fonte: Lima (2007). É possível observar na imagem representativa do gráfico que os dados estão dispostos entre os limites do intervalo, exceto pelo ponto identificado como 1. Observa-se também que há indícios de falta de aleatoriedade nos últimos 8 pontos, que estão abaixo da linha central. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Ao deparar-se com grande desperdício de comprimidos de captopril, o farmacêutico ligado à produção decidiu utilizar o Método de Análise e Solução de Problemas (MASP) para estudar o cerne da questão e como resolvê-lo. Aplicou-se a técnica e os passos podem ser visualizados na tabela 2, abaixo, com as respectivas conclusões: Tabela 1: Fases do MASP e conclusões. Ciclo Fase do MASP Objetivo Conclusão http://www.portalaction.com.br/controle-estatistico-do-processo 6 P Identificação do Problema Definir claramente o problema e reconhecer sua importância No final da produção do lote muitos comprimidos encontravam-se fora dos parâmetros de peso estabelecidos, o que pode acarretar prejuízos à biodisponibilidade, desintegração e concentração do fármaco, gerando grande volume de resíduo químico e perdas significativas para a indústria já que o material precisa ser descartado. Observação Investigar as características específicas do problema com uma visão ampla e sob vários pontos de vista O que pode ser a causa do problema? Falha na distribuição do material particulado? Falha na alimentação da compressora? Falha no preenchimento da matriz? Falha na ejeção do comprimido? Baixa compressibilidade? Falha humana ou de tecnologia? Análise Descobrir as causas fundamentais Ao analisar as possibilidades, constatou-se variação na alimentação da matriz da compressora e falha do acompanhamento produtivo. A análise de qualidade era realizada somente por lote, não deixando espaço para possíveis correções ao longo da fabricação Plano de ação Conceber um plano Estudar a variação de peso dos 7 para bloquear as causas fundamentais comprimidos para entender se é um problema decorrente de superaquecimento do maquinário e consequente dilatação do metal (variação de peso apareceria somente depois de ciclos produtivos e não desde os primeiros) ou se o problema é má regulação do cabeçote e pistão responsáveis pela compressão (falha humana – funcionário regula mal [problema aparece e persiste desde o primeiro ciclo] ou falha mecânica – equipamento precisa de manutenção [falha aleatória]). Para isso adotou-se o controle estatístico de processo, mais precisamente o preenchimento de carta controle. D Ação Bloquear as causas fundamentais Identificou-se erro aleatório, conforme é possível observar no gráfico 2, abaixo. Ou seja, o maquinário precisa de manutenção corretiva. C Verificação Verificar se o bloqueio foi efetivo A aplicação do controle estatístico de processo foi eficaz em determinar o problema? Sim A Padronização Prevenir contra o reaparecimento do problema A empresa adotou o procedimento como padrão e todos os lotes são acompanhados 8 Conclusão Recapitular todo o processo de solução do problema para trabalho futuro A partir do MASP foi possível identificar a causa do problema e optou-se pelo emprego do CEP. Ao identificar a causa da variação e o maquinário passar pela manutenção a variação observada foi significativamente menor, conforme ilustrado no gráfico 3, abaixo. Fonte: Adaptado de Campos (2004). Gráfico 2: Carta Controle de comprimidos de captopril – antes da manutenção. Fonte: Lima (2007). Gráfico 3: Carta Controle de comprimidos de captopril – após manutenção. Fonte: Adaptação de Lima (2007). Foi identificado que ao final do processo de produção muitos comprimidos encontravam-se fora dos parâmetros estabelecidos, gerando grande volume de resíduo químico e perdas significativas para a indústria. Seguindo orientações preconizadas no manual de Boas Práticas de Fabricação (BPF) optou-se por empregar ferramentas pertencentes ao Controle Estatísticos de Processos (CEP) para detectar desvios de parâmetros representativos da produção a fim de identificar a fonte ou fontes de falhas. Através do emprego de cartas de controle para acompanhamento do processo de compressão dos comprimidos de captopril por meio da aferição do peso, concluiu-se que a causa da variação era 9 instabilidade do maquinário e ao realizar-se a manutenção para calibragem do ajuste dos pistões superior e inferior do cabeçote de compressão a variação tornou-se significativamente menor. Foi possível constatar a importância e impacto do Controle Estatístico de Processo para a gestão das etapas produtivas, eliminação de não conformidades ao longo do processo produtivo evitando desperdícios de insumos inertes e ativos. 4. REFERÊNCIAS ALENCAR, J. R. B. Validação do processo de fabricação de formas farmacêuticas sólidas usando CEP e redes neurais. [Exame de qualificação] tecnologia de processos químicos e bioquímicos. Rio de Janeiro: Centro de Tecnologia, Escola de Química, UFRJ; 2004. CAMPOS, Vicente Falconi. TQC: Controle da Qualidade Total (no estilo japonês). 8. ed. Belo Horizonte: Bloch Editora, 2004. CORREIA, T. de B. O Mercado de Medicamentos no Brasil durante a década de 1990 e Regulação do Setor Farmacêutico. MonografiaemEconomia, UNICAMP / IE, 2001. DINIZ, M.G. Desmistificando o controle estatístico de processo. São Paulo: Artliber; 2001. p. 39-62. LIMA, Leduar Guedes de. Utilização do controle estatístico de processo (CEP) para otimizar e validar o processo na produção de formas farmacêuticas sólidas (comprimidos). 2007. 67 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Farmácia, Ciências Farmacêuticas Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007. ORIBE, C. Y. Quem resolve problemas aprende? A contribuição do método de análise e solução de problemas para a aprendizagem organizacional. 2008. 168f. Dissertação (Mestrado em Administração). Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. 2008. PARANTHAMAN, D. Controle de Qualidade. São Paulo: McGraw-Hill Ltda; 1990. p. 118 - 212. QUEIROZ, S.R.R. de. Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira: competitividade da indústria de fármacos (Nota Técnica Setorial do Complexo Químico). IE/UNICAMP; IEI UFRJ; FDC;FUNCEX, 2003.
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