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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA LUANA DE BONA GOULART ESTUDO DA VIABILIDADE TÉCNICA DA SUBSTITUIÇÃO DE JAZIDA DE ARGILITO NO PROCESSO CERÂMICO VIA SECA: REFORMULAÇÃO DA MASSA CERÂMICA Tubarão 2014 LUANA DE BONA GOULART ESTUDO DA VIABILIDADE TÉCNICA DA SUBSTITUIÇÃO DE JAZIDA DE ARGILITO NO PROCESSO CERÂMICO VIA SECA: REFORMULAÇÃO DA MASSA CERÂMICA Relatório de estágio apresentado ao curso de Graduação em Engenharia Química da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Engenharia Química. Orientadora: Msc.: Jucilene Feltrin Tubarão 2014 LUANA DE BONA GOULART ESTUDO DA VIABILIDADE TÉCNICA DA SUBSTITUIÇÃO DE JAZIDA DE ARGILITO NO PROCESSO CERÂMICO VIA SECA: REFORMULAÇÃO DA MASSA CERÂMICA Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Engenharia Química e aprovado em sua forma final pelo Curso de Engenharia Química, da Universidade do Sul de Santa Catarina. Tubarão, 19 de Novembro de 2014 Professora e Orientadora Jucilene Feltrin, Msc Universidade do Sul de Santa Catarina Dedico este trabalho a minha mãe Janete Ferreira de Bona e a meu pai João Manoel Goulart, que apesar de muitas dificuldades sempre me incentivaram a estudar e continuar sempre em frente. AGRADECIMENTOS A Deus, pelo dom da vida. Aos meus pais, João e Janete que abdicaram de muitas coisas para que eu pudesse concluir este curso. Ao meu irmão Rafael pelo apoio mesmo de longe. Ao meu namorado Luan Furlanetto, pela paciência e pela compreensão nas horas de ausência, assim como pelo apoio nas horas difíceis. Aos meus amigos de faculdade, em especial a Nathalia Vechi e João Marcos Monteiro, muito obrigada pelo companheirismo, que nossa amizade possa perdurar por bastante tempo. A empresa Cejatel, em nome do gerente de produção Claúdio de Bittencourt e do diretor geral Mateus Ricardo, obrigada pela oportunidade da realização deste estágio. Ao meu supervisor de estágio Thiago Lima, obrigada por toda ajuda e ideias. Agradeço também aos meus colegas de trabalho, Giovani, Cléber, Rodrigo e todos os demais. Ao professor Arlindo Della Justina, pela ajuda e conhecimentos repassados. A minha orientadora Jucilene Feltrin, que mesmo de longe conseguiu me ajudar e me orientar em muita coisa, obrigada pelo conhecimento repassado. Ao curso de Engenharia Química e a UNISUL, pela possibilidade de realização do curso. E a todos os demais que direta e indiretamente contribuíram para a conclusão deste trabalho. “(...) Take these broken wings And learn to fly (...)” (Sir Paul McCartney, 1968) RESUMO A indústria cerâmica de revestimentos se divide em dois tipos de processos, a via seca e a via úmida. Na via seca também pode-se produzir telhas semi-gres, em fornos contínuos. Neste tipo de processo, a massa cerâmica é seca, moída, granulada e prensada, sendo mais viável economicamente que o processo via úmida. A formulação mássica é de grande importância para o setor e necessita ser bem formulada, definindo as propriedades técnicas necessárias ao produto final. O presente trabalho tem por objetivo analisar e caracterizar jazidas cerâmicas para a substituição de uma mineração que está se esgotando, e ainda formular uma massa com características mais fundentes. Foram realizados ensaios de caracterização física e química, e selecionadas duas jazidas de argilitos para utilização nos testes de formulação mássica. Realizou-se sete testes, onde o teste número três apresentou características bem semelhantes ao padrão formulado em laboratório e ao padrão industrial. O teste número quatro apresentou maior índice de retração podendo ser utilizado para a redução dos custos de gás de queima, porém deve-se observar como ficará a absorção das peças com a redução de temperatura, pois se a mesma aumentar demasiadamente pode-se diminuir muito a resistência das peças. E por fim enumerou-se sugestões para continuação deste trabalho: a realização dos testes em escala industrial, para que se possam confirmar os resultados obtidos. Palavras-chave: Cerâmica. Formulação mássica. Jazidas. ABSTRACT The industry of ceramic coating divides itself in two kinds of process, the dry method and the humid method. In the dry method it's also possible to produce semi-gres tile, in continuous furnace. In this method, the ceramic body is dried, crushed, granulated, pressed, being more viable economically than the humid method. The formulation of the ceramic body has a great importance to the sector so it needs to be well made, having the characteristic to obtain a better final product. The objective of this work is analyze and characterize ceramic deposits to the substitution of a deposit, used for the dry method, that is almost depleted. And also formulate a ceramic body with a better melting characteristic. Trials were performed on the physical and chemical characterization, and two mudstone deposits were chosen for tests. Seven tests were performed, the sample number three presented similar characteristic to both laboratory and industrial standards. The sample number four presented a higher level of refraction and could be utilized for reduction of gases in the burning process, however it must be observed the absorption of the ceramic pieces while the temperature goes down, with higher absorption the resistance could drop substantially. For the continuation of this work was suggested to take the tests to a industrial scale, with being possible to verify the results of this work. Key-Words: Ceramic. Mass formulation. Ceramic deposit. LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 – Fases do processo produtivo de revestimentos cerâmicos. .................................. 17 Figura 2.2 – Secador rotativo ................................................................................................... 18 Figura 2.3 – Moinho de martelos.............................................................................................. 19 Figura 2.4 - Peneira vibratória .................................................................................................. 19 Figura 2.5 - Moinho Pendular................................................................................................... 20 Figura 2.6 – Silos granuladores. ............................................................................................... 20 Figura 2.7 – Prensa hidráulica .................................................................................................. 22 Figura 2.8 – Secador de rolos ................................................................................................... 23 Figura 2.9 – Campana de esmalte ............................................................................................. 24 Figura 2.10 – Forno de rolos .................................................................................................... 25 Figura 2.11 – Curva de queima do forno Jumper da empresa Cejatel...................................... 25 Figura 2.12 – Estrutura cristalina da caulinita .......................................................................... 28 Figura 2.13 – Efeito da adição de quartzo em argilas .............................................................. 30 Figura 3.1- Fluxograma das etapas dos procedimentos de análise ........................................... 33 Figura 3.2 – JazidaMeleiro 3 ................................................................................................... 34 Figura 3.3 – Jazida Meleiro 2 ................................................................................................... 34 Figura 3.4 – Jazida Turvo ......................................................................................................... 34 Figura 3.5 – Jazida Poço Oito ................................................................................................... 35 Figura 3.6 – Jazida Rio Jundiá.................................................................................................. 35 Figura 3.7 – Jazida Linha Rovaris ............................................................................................ 36 Figura 3.8 – Jazida Boa Vista ................................................................................................... 36 Figura 3.9 – Jazida Timbé do Sul ............................................................................................. 37 Figura 3.10 – Processo de quarteamento de amostras .............................................................. 38 Figura 3.11 – Medidor de densidade aparente .......................................................................... 43 Figura 3.12 – Granutest Vibrotech ........................................................................................... 44 Figura 4.1 – Coloração de queima das amostras analisadas. .................................................... 49 Figura 4.3 – Retração linear dos testes de massa e seu desvio padrão ..................................... 61 Figura 4.4 – Relação da perda ao fogo e o desvio padrão ........................................................ 61 Figura 4.5 – Relação da absorção d’água e o desvio padrão .................................................... 62 Figura 4.6 – Relação da absorção d’água e a carga de ruptura. ............................................... 64 Figura 4.7 – Relação da absorção d’água e a resistência mecânica à flexão. ........................... 65 Figura 4.8 – Comparação de coloração teste 3 e STD’s. .......................................................... 67 LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 – Granulometria padrão das massas úmidas para o revestimento cerâmico e para a telha semi-gres da empresa Cejatel. ................................................................................... 21 Tabela 2.2 – Classificação por grupo de absorção de revestimentos prensados. .................. 26 Tabela 3.1 – Formulação atual da empresa Cejatel .............................................................. 46 Tabela 3.2 – Formulações propostas para teste. ................................................................... 46 Tabela 4.1 – Análises químicas das jazidas .......................................................................... 47 Tabela 4.2 – Resultado da análise química das jazidas ........................................................ 48 Tabela 4.3 – Análise mineralógica das jazidas atuais. .......................................................... 50 Tabela 4.4 – Análise mineralógica das amostras. ................................................................. 50 Tabela 4.5 – Propriedades físicas das jazidas utilizadas atualmente na empresa Cejatel ..... 52 Tabela 4.6 – Resultados da análise de retração linear. ......................................................... 53 Tabela 4.7 – Resultados da análise de perda ao fogo. .......................................................... 54 Tabela 4.8 – Resultados da análise de absorção d’água. ...................................................... 55 Tabela 4.9 – Resultados da DAP das jazidas. ....................................................................... 56 Tabela 4.10 – Histórico das características da massa usada na empresa Cejatel. ................. 57 Tabela 4.11 – Análise granulométrica das massas utilizadas como padrão. ........................ 58 Tabela 4.12 – Densidade aparente dos testes de massa ........................................................ 59 Tabela 4.13 – Resultado das análises físicas dos testes de massa ........................................ 60 Tabela 4.14 – Carga de ruptura e resistência mecânica a flexão dos testes de massa. ......... 63 Tabela 4.15 – Porcentagem de componentes principais nas jazidas e na formulação sugerida. ................................................................................................................................ 68 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 13 1.2 OBJETIVOS .................................................................................................................. 14 1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................................. 14 1.2.2 Objetivos Específicos ...................................................................................................... 14 1.2.3 Justificativa ...................................................................................................................... 15 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 16 2.1. PANORAMA CERÂMICO ATUAL ................................................................................ 16 2.2 PROCESSO VIA SECA ..................................................................................................... 17 2.3.1 Matérias primas que compõem a massa cerâmica ..................................................... 27 2.3.1.1 Argilas .......................................................................................................................... 27 2.3.1.2 Sílica ............................................................................................................................. 29 2.3.1.3 Feldspato ....................................................................................................................... 30 2.3.1.4 Argilitos ........................................................................................................................ 31 3. MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................. 33 3. 1 LEVANTAMENTO DOS DADOS DA EMPRESA ........................................................ 33 3.2 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS .................................................................................. 37 3.2.1 Quarteamento ................................................................................................................ 37 3.2.2 Secagem e moagem das amostras ................................................................................. 38 3.2.3 Umidificação e prensagem ............................................................................................ 39 3.2.4 Secagem e queima .......................................................................................................... 39 3.3 CARACTERIZAÇÃO DAS JAZIDAS E FORMULAÇÕES ........................................... 39 3.3.1 Análise química via fluorescência de raios X – FRX .................................................. 40 3.3.2 Análise mineralógica via difratometria de raio X – DRX .......................................... 40 3.3.3 Retração linear de queima ............................................................................................ 41 3.3.4 Absorção de água ........................................................................................................... 42 3.3.5 Perda ao fogo ..................................................................................................................42 3.3.6 Densidade aparente (DAP) ........................................................................................... 43 3.3.7 Análise granulométrica ................................................................................................. 44 3.3.8 Carga de ruptura e resistência mecânica a flexão (RMF) ......................................... 45 3.3.9 Testes em escala industrial .............................................................................................. 45 3.4 FORMULAÇÃO DA MASSA ........................................................................................... 46 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 47 4.1 ANÁLISES DAS JAZIDAS ............................................................................................... 47 4.1.1 Análise química .............................................................................................................. 47 4.1.2 Análise mineralógica ..................................................................................................... 49 4.1.3 Análises físicas das jazidas ............................................................................................ 52 3.1.3.1 Resultado da análise de retração linear......................................................................... 52 3.1.3.2 Resultado da análise de perda ao fogo.......................................................................... 53 3.1.3.3 Resultado da análise de absorção d’água ..................................................................... 54 3.1.3.4 Resultado da análise de densidade aparente (DAP) ..................................................... 55 4.2 ANÁLISE TESTES DE MASSA ....................................................................................... 57 4.2.1 Análise granulométrica ................................................................................................. 57 4.2.2 Resultado da densidade aparente dos testes de massa ............................................... 58 4.2.3 Análises físicas dos testes de massa .............................................................................. 60 4.2.4 Carga de ruptura e resistência mecânica a flexão ...................................................... 63 4.3 SELEÇÃO DO MELHOR TESTE .................................................................................... 66 5. SUGESTÕES ...................................................................................................................... 69 6. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 71 REFERENCIAS ..................................................................................................................... 72 ANEXOS .................................................................................................................................. 77 ANEXO A - Resultados das análises químicas .................................................................... 78 ANEXO B – Análises mineralógicas ..................................................................................... 85 13 1. INTRODUÇÃO O Brasil atualmente é um dos maiores produtores de cerâmica de revestimento, com uma produção de cerca de 871 milhões de metros quadrados no ano de 2013. Deste total aproximadamente 70% da produção é realizada por via seca. Já a produção de telhas são realizadas por cerca de 2509 empresas, sendo que não há uma contabilidade exata da divisão entre telhas vermelhas, brancas e semi-gres. O tipo semi-gres de telha é produzido também pelo processo de via seca (PRADO; BRESSIANI, 2013). O processo via seca consiste em utilizar a massa simples, constituída de argilas de queima avermelhada, preparada em moinhos de martelo ou pendulares, levemente umidificada, e encaminhada ao processamento cerâmico (prensagem a seco, secagem, decoração e queima). Diferentemente do processo via úmida onde argilas de cor clara, são moídas e homogeneizadas em moinhos de bolas em meio aquoso, seca e granulada em spray dryer (atomizador), e conformada por prensagem a seco, para seguir então para a decoração e queima. Para a composição da massa há, geralmente, uma mistura de rocha argilosa fresca, mais fundente, com rocha parcialmente alterada, mais plástica (BNDS, 2013). Hoje o maior polo de produção via seca encontra-se em Santa Gertrudes em São Paulo de forma que essas indústrias são as maiores concorrentes do mercado do sul do país. Apresentando bons produtos e com preços mais acessíveis, os revestimentos via seca paulista tornam-se o obstáculo maior para o setor cerâmico do sul (PRADO; BRESSIANI, 2013). Desta forma busca-se um processo que apresente um produto de qualidade e com um custo mais baixo para poder concorrer em questão de preço no mercado, uma vez que o mesmo está em ascensão e os tipos de produtos são semelhantes. A concorrência interna e externa, notadamente da China e o câmbio desfavorável têm derrubado os preços médios mesmo com o aumento significativo de produtos de maior valor como os porcelanatos (PRADO; BRESSIANI, 2013). A marca Cejatel Revestimentos Cerâmicos está no mercado há 40 anos, produzindo telhas naturais, esmaltadas e revestimentos cerâmicos. As telhas esmaltadas utilizam o mesmo processo dos revestimentos cerâmicos, a empresa foi a primeira a desenvolver e produzir telhas semi-gres por esse processo. Os dois produtos utilizam a mesma 14 formulação de massa, a empresa consome em média 21 toneladas por hora, de jazidas das localidades de Meleiro e Turvo, na microrregião do extremo sul catarinense. Atualmente uma das jazidas está se esgotando sendo necessária a substituição do argilito na formulação mássica por outra jazida. Desta forma busca-se primeiramente ajustar a formulação da massa para que o processo continue estável. Como a mudança na formulação é inevitável busca-se também como forma de redução de custos no processo, e assim redução do preço dos produtos, uma formulação mássica que tenha propriedades fundentes, proporcionando consequentemente uma redução no custo do processo de queima. 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral Reformular a massa cerâmica substituindo a matéria prima argilito e manter as propriedades finais do produto. 1.2.2 Objetivos Específicos Fazer o levantamento de dados da empresa, avaliando as jazidas já abertas que não estão em extração; Coletar amostras das jazidas para caracterização das mesmas; Avaliar os resultados da caracterização das matérias primas e comparar com o argilito a ser substituído; Reformular a composição mássica a partir dos resultados das análises e comparar as mesmas com a massa atual; Ajustar a formulação mássica para que a mesma obtenha características de maior retração, maior perda ao fogo e menor absorção; 15 Realizar o teste em escala industrial da melhor formulação. 1.2.3 Justificativa A empresa San Marcos Revestimentos Cerâmicos Ltda, conhecida no mercado como Cejatel, localizada as margens da BR -101, em Costa da Lagoa, Jaguaruna, produz mensalmente cerca de 450.000 m² de revestimentos e 3.200.000 de telhas semi-gres, itens estes que consomem em torno de 500 T/dia de argilitos cerâmicos (CEJATEL, 2014). Esses argilitos vêm de diferentes jazidas das cidades de Turvo e Meleiro, no extremo sul catarinense. A massa cerâmica atual da empresa tem características que mantém o processo estável, sendo que os itens de retração linear, perda ao fogo e absorção d’água são propriedades importantes, refletindo a estabilidade da massa e a sua qualidade. As características ditas mais fundentes (menor absorção d’água, maior retração e perda ao fogo) da massa da utilizada atualmente são dadas pela jazidadenominada Meleiro 3. Apesar da mesma representar apenas 10% da massa total ela é de extrema importância, pois dá as peças características mais fundentes, ajudando também na maior carga de ruptura das peças, já que a absorção d’água influi na mesma. A jazida Meleiro 3 tem um tempo útil de extração de no máximo 5 meses, desta forma necessita-se de uma jazida que possa substituir a mesma e que mantenha o processo industrial com as mesmas características. A empresa conta com 5 jazidas já abertas porém as mesmas não são utilizadas, além de cerca de 40 requerimentos de jazidas não abertas. Desta forma justifica-se o fato do presente projeto, uma vez que a empresa necessita das análises de novas jazidas. A princípio, como há pouco tempo para a substituição da jazida Meleiro 3, irão ser avaliadas as jazidas já abertas. Serão realizados testes de formulações mássicas visando maior fundência e consequentemente redução também no consumo de gás natural na empresa, uma vez que a mesma tem na queima cerca de 30% dos seus gastos totais, consumindo em média 1000000 de m³/ mês (CEJATEL, 2014). 16 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. PANORAMA CERÂMICO ATUAL Nos últimos anos a indústria cerâmica no Brasil passou por algumas modificações fazendo com que o processo cerâmico ficasse mais fácil, buscando sempre uma maior qualidade e preço para o cliente final. Atualmente o país é o segundo maior produtor e consumidor de revestimento cerâmico do mundo, sendo que foram produzidos 871,6 milhões de metros quadrados em 2013 (PRADO; BRESSIANI, 2013). Existem cerca de 93 empresas de revestimentos cerâmicos pelo país, que empregam em média 25 mil empregos diretos e 200 mil indiretos, os principais polos ficam em Santa Gertrudes (SP) e na região de Criciúma (SC). Uma das principais vantagens do Brasil é a existência de duas modalidades de produção de revestimentos, que são a via úmida e a via seca. Cerca de 70% da produção de revestimentos é realizada por indústrias via seca (BNDS,2013). A produção de telhas semi-gres é realizada pelo mesmo processo de via seca. A marca Cejatel foi uma das primeiras empresas a implantar o sistema de telhas esmaltadas em sistema de forno contínuo, ou seja, as telhas tem a mesma formulação de massa, passam pelo mesmo processo de moagem, prensagem, decoração e queima. Resultando em um produto de excelente qualidade sendo reconhecido nacional e internacionalmente (CEJATEL, 2014). Como o processo de produção das telhas semi-gres é algo relativamente novo, e segue a normativa ABNT NBR 15310 de 2004, que especifica parâmetros para as telhas de cerâmica vermelha, não há uma contabilidade especifica dos números de produção nacional. Os números estão englobados na produção de telhas de cerâmica vermelha que em 2006 foi cerca de 1,3 bilhões de peças (CNI, 2010). A empresa Cejatel produz cerca de 3,2 milhões de peças por mês dos dois modelos de telhas semi-gres, estando estas dentro de normas nacionais e internacionais, sendo a primeira telha de argila do Brasil a obter certificação nos Estados Unidos para comercialização (NOA – Miami-Dade Building Code Compliance Office). 17 2.2 PROCESSO VIA SECA A modalidade de produção via seca que é utilizado tanto para a produção de revestimentos quanto para telhas semi-gres, difere em algumas etapas do processo tradicional conhecido como via úmida, conforme a figura 2.1. Este processo apresenta algumas vantagens como a diminuição de custos energéticos, simplicidade de operação, menor desgaste do equipamento, menor manutenção das instalações, elevada produtividade e redução no impacto ambiental (LOLLI et al., 2000 apud DANDOLLINI;BERNARDIN, 2010). Figura 2.1 – Fases do processo produtivo de revestimentos cerâmicos. Fonte: BNDS, 2013. As diferenças estão na etapa de processamento da base cerâmica que começa pela a diferença dos tipos de materiais extraídos para mesma. O processo via seca é composto de argilas vermelhas, geralmente de consistência adensada e dura, conhecidos como argilitos (SANTOS, 1975). Já a via úmida, apresenta um número maior de componentes minerais, além da argila têm-se os caulins, filitos, talcos, etc (BNDS, 2013). 18 A preparação de massas é uma das etapas mais importantes para a indústria cerâmica já que ela é que dará estabilidade no processo, podendo-se trabalhar com mais tranquilidade nas etapas posteriores, desde que esta seja estável. Na via seca os argilitos são extraídos e compõe uma formulação em diferentes proporções de acordo com as características finais que se quer nos produtos. Essa formulação geralmente passa por um processo de secagem natural no estoque conservando uma umidade que varia de 15 a17% (DANDOLLINI; BERNARDIN, 2010). A seguir é encaminhada para um britador para a diminuição dos torrões. Após é conduzida para um secador rotativo (figura 2.2) onde há a redução da umidade para índices de 3 a 5,5% (CEJATEL, 2014). Figura 2.2 – Secador rotativo Fonte: ICON, 2014. O material segue para o moinho de martelos e posteriormente passa por peneiras (figuras 2.3 e 2.4). 19 Figura 2.3 – Moinho de martelos Fonte: VERDÉS, 2014. Figura 2.4 - Peneira vibratória Fonte: MINING, 2012. O retido das peneiras, cerca de 30%, é encaminhado para o moinho pendular e posteriormente agregado novamente ao processo (figura 2.5). O passante das peneiras, os demais 70%, é colocado em silos para o resfriamento e posterior alimentação do granulador, que opera em uma vazão de 25 T/h. 20 Figura 2.5 - Moinho Pendular Fonte: VERDÉS, 2014. A granulação (figura 2.6) tem a função formar pequenos grânulos, homogeneizando e umidificando o pó pela ação de forças inerciais geradas pela rotação das pás e também pela ação de bicos pulverizadores, conferindo ao produto final uma granulometria compacta, esférica, sem porosidade e homogênea (DANDOLLINI; BERNARDIN, 2010). Na tabela 2.1 tem-se a granulometria padrão para as massas da empresa Cejatel. Figura 2.6 – Silos granuladores. Fonte: PALAMATIC, 2014. 21 Tabela 2.1 – Granulometria padrão das massas úmidas para o revestimento cerâmico e para a telha semi-gres da empresa Cejatel. Granulometria úmida – Telha Semi-Gres Malha peneira Porcentagem de retido #20 10-35% #35 10-50% #48 10-35% #80 8-25% #100 0-8% #150 0-8% Fundo 0-5% Granulometria úmida – Revestimento Cerâmico Malha peneira Porcentagem de retido #20 8-35% #35 15-50% #48 10-30% #80 8-20% #100 0-8% #150 0-8% Fundo 0-5% Fonte: CEJATEL, 2014. A diferença de granulometria entre a produção de telha e de revestimento cerâmico dá-se pelas diferenças no processo, onde no revestimento há utilização do moinho pendular, que processa uma granulometria menor em relação ao moinho de martelos. Outro item que explica esta diferença de granulometrias está na espessura e compactação dos produtos. O revestimento apresenta uma espessura de 7,7 mm na saída da prensagem, enquanto as telhas apresentam uma espessura muito maior, em torno de 15 mm, desta forma o revestimento não pode ter grãos maiores em excesso, pois os mesmos não terão um empacotamento satisfatório, apresentando problemas no processo. Já as telhas por terem uma maior espessura e peso, aceitam facilmente a condição de granulometria maior. Este item 22 também é válido para a umidade da massa, onde no revestimento é menor e nas telhas pode chegar a 9,4%. Após a granulação a massa sai com uma umidade variando de 9,2 a 9,4 % nos silos de massa para a telha e de 8,8 a 9,2% de umidade para o revestimento cerâmico (CEJATEL, 2014). Os silos alimentam as prensas hidráulicas que fazem o processo de conformação das peças (figura 2.7). O objetivo da prensagem além de conferir forma às peças é também dar as mesmas determinadamassa específica (na ordem de 1,9 -2,1 g.cm -3 ), que seja compatível com os problemas conhecidos na área como “coração negro”, que são problemas de desgaseificação da matéria orgânica contida na massa que conferem características não desejáveis aos produtos como a formação de bolhas no esmalte, conhecido como “fervido” (OLIVEIRA, 2000 apud SOUSA, 2008). Figura 2.7 – Prensa hidráulica Fonte: SACMI, 2000. Além de oferecer características de massa específica, a prensagem faz com que as peças tenham resistência mecânica até a chegada ao secador. Na empresa Cejatel, são conformadas telhas em dois modelos: a Wave, conhecida no mercado como telha americana, e a Premier, telha plana de encaixe. É exercida uma pressão de 230 kgf/cm² sobre o material em 23 uma prensagem tripla. Nos revestimentos são dois tamanhos: 45 cm por 45 cm e 31 cm por 58 cm, com uma pressão de 250 kgf/cm² (CEJATEL, 2014). A secagem é a etapa subsequente à prensagem, é realizada em secador de rolos contínuos (figura 2.8), onde as peças entram com uma umidade em média de 9 % e saem com uma umidade residual de 1,0 a 1,5%. Nesta fase do processo há o aumento da resistência mecânica que se atribui a uma densificação causada pelo empacotamento e atração das partículas que aumenta as forças de ligação entre as mesmas. Os valores de tensão de ruptura a seco devem ser superiores a 2,5 MPa e a retração (variações dimensionais) nesta fase devem ser de 0 a 0,3% (SOUSA, 2008). Figura 2.8 – Secador de rolos Fonte: SITI, 2008. A cobertura vitrificada que dará características estéticas aos produtos é feita após a secagem. Geralmente são duas camadas, uma que serve de base denominada engobe, que tem a função de esconder a cor da base e pequenas imperfeições que possam acontecer, e uma segunda camada, o esmalte, que dá o acabamento mate ou brilhante aos materiais. Ambas as camadas são aplicadas por meio de campanas para a produção de revestimentos cerâmicos (figura 2.9). Estes dispositivos permitem a obtenção de superfícies lisas especulares através da aplicação de um véu contínuo de esmalte com espessura e velocidade de quedas constantes. Já 24 na produção de telhas, a aplicação das camadas pode ser realizada além de por campana, por meio de bicos pulverizadores de alta pressão. Figura 2.9 – Campana de esmalte Fonte: FAPESP, 2010. Por fim após a decoração, as peças cerâmicas vão para a etapa de queima em um forno de rolos (figura 2.10), que irá consolidar o formato das mesmas e criar microestrutura no material. Existem dois tipos de queima: a biqueima e a monoqueima. Na biqueima a base cerâmica e o esmalte são queimados separadamente, e na monoqueima a queima entre esmalte e base ocorre simultaneamente. A empresa Cejatel utiliza a monoqueima, esse processo tem custos energéticos menores e otimiza o tempo total do mesmo. As temperaturas máximas de queima ficam entre 1080 a 1150 ºC e a curva de queima geralmente adquire o comportamento conforme a figura 2.11. Sendo os ciclos de 45 minutos onde as peças permanecem na temperatura máxima em torno de 5 minutos (patamar de queima), e em ciclo de 40 minutos as peças permanecem na temperatura máxima por 2 a 3 minutos. 25 Figura 2.10 – Forno de rolos Fonte: SITI, 2008. Figura 2.11 – Curva de queima do forno Jumper da empresa Cejatel. Fonte: CEJATEL, 2014. O trecho A-B até 800 ºC corresponde a fase de pré-aquecimento, onde há a eliminação da água residual contida na massa e nas camadas de engobe e esmalte. Na fase compreendida entre B-C, dos 800 aos 900 °C há a decomposição dos carbonatos e a emissão de CO2. Neste intervalo os esmaltes devem ter certa porosidade para que a expulsão dos gases seja facilitada. No terceiro intervalo (C-D), entre 900 e 1100°C há as reações entre os óxidos 26 alcalinos terrosos, principalmente CaO e MgO, provenientes da fase anterior, com fases amorfas residuais. Esta fase é importante, pois a formação destes novos compostos define o ajuste e as propriedades físico-mecânicas dos produtos. Na zona máxima de temperatura, D-E, há o término da sinterização da base e o esmalte se funde e estende completamente. A última fase (E-F) compreende a fase de resfriamento rápido do esmalte até cerca de 600°C, após o resfriamento procede lentamente para equilibrar as tensões atribuídas as transformações do quartzo livre, ainda presente na base queimada (SOUSA, 2008). As etapas do processo via seca que mais consomem energia (térmica e elétrica) são a secagem e a queima das peças, que representam 74,2% e 21,3% respectivamente, os 4,5% restantes estão distribuídos em outras etapas (CNI, 2010). 2.3 MASSAS CERAMICAS Um dos pontos principais na formulação de massas cerâmicas são as propriedades finais que se deseja ter no produto. Para revestimentos cerâmicos, a NBR 13818 (1997) classifica os revestimentos por métodos de fabricação A, B e C que corresponde respectivamente a extrudado, prensado e outros. E também é classificado pelos grupos de absorção I, II e III, e subgrupos a e b. Os produtos do tipo B são classificados conforme a tabela 2.2, sendo que a empresa Cejatel produz revestimentos cerâmicos que se enquadram no grupo BIIb. Tabela 2.2 – Classificação por grupo de absorção de revestimentos prensados. Classificação Absorção de água(%) BIa ≤ 0,5% BIb 0,5 < Abs ≤ 3% BIIa 3 < Abs ≤ 6% BIIb 6 < Abs ≤ 10% BIII > 10% Fonte: NBR 13818, 1997. 27 Quanto às telhas a NBR 15310 (2004) especifica que as mesmas devem tem absorção menor que 20%. Quanto ao tamanho das peças, as normas especificam que para o revestimento, o tamanho de trabalho não seja maior ou menor que 0,6% para áreas maiores que 410 cm², já nas telhas têm-se uma aceitação de ± 2% do tamanho declarado. Desta forma a avaliação das características finais que se quer nos produtos é o primeiro passo para a formulação da massa cerâmica, uma vez a quantidade de cada componente presentes nas massas cerâmicas é responsável pelas fases mineralógicas que ocorrem na queima, fases essas que influenciam diretamente as propriedades do produto acabado. Geralmente as cerâmicas tradicionais são produzidas a partir de três componentes principais, que são a argila, a sílica e o feldspato. 2.3.1 Matérias primas que compõem a massa cerâmica 2.3.1.1 Argilas As argilas são materiais naturais constituídas essencialmente por partículas cristalinas pequenas, têm como composição basicamente alumino-silicatos hidratados, Al2O3.SiO2.H2O, além de quantidades pequenas de outros óxidos, principalmente de elementos alcalinos e alcalinos terrosos como TiO2, Fe2O3, MgO,CaO,Na2O e K2O. A argila fornece as peças cerâmicas propriedades plásticas, que são necessárias na fase de moldagem do material, sendo o componente em maior quantidade nas formulações (SMITH,1998).. Considerando a composição mineralógica, para a produção de revestimento cerâmico, os argilominerais de maior interesse são a caulinita e a ilita. A caulinita apresenta uma estrutura com um empilhamento regular de uma folha tetraédrica de SiO4 e de uma folha octaédrica de hidróxidos de alumínio, ligados por um íon oxigênio, conforme figura 2.12. Durante a queima a caulinita forma uma fase líquida bem gradual, desta forma pode ser utilizada uma ampla faixa de queima (SANTOS, 1989 apud SOUSA, 2008). 28 Figura 2.12 – Estrutura cristalina da caulinita Fonte: SOUSA, 2008. Diferentemente da caulinita, a ilita apresenta um empilhamento regular de duas folhas tetraédricas de hidróxido de alumínio. Devido a possíveis substituições isomórficas de alumínio por silício ou ainda por ferro e magnésio como cátion octadreal, a ilita apresenta um comportamento mais fundente na queima, com formação de uma fase líquida mais abundantee mais rápida (SANTOS, 1989 apud SOUSA, 2008). Outros componentes das argilas que são considerados como impurezas, são os sais solúveis, geralmente Ca 2+ e SO4 2- , matéria orgânica, e ainda quantidades de calcita, dolomita, entre outros. Os sais solúveis podem ocasionar problemas de eflorescências em revestimentos cerâmicos que são depósitos salinos na superfície do produto (ALBARO, 1991 apud SOUSA, 2008). Quanto aos óxidos em menores quantidades Chiari et al (1996 apud SOUZA, 2008) relata que os óxidos de cálcio (CaO) e de magnésio (MgO) presentes nos argilitos e procedentes da decomposição dos carbonatos na queima reagem com as fases amorfas que resultam da desidratação dos minerais argilosos, formando então alumino-silicatos que auxiliam na ação contra a umidade. Quando se tem um maior número de carbonatos de cálcio e materiais refratários minerais na composição inicial, menor será a variação da retração linear e da absorção de água. Desta forma se a quantidade de carbonatos e o restante da composição da massa estiverem adequados para que a retração durante a queima seja pequena, os demais fatorem 29 como alterações na compactação e densidade aparente não apresentarão diferenças significativas na retração final do produto. A matéria orgânica quando é excessiva na composição da argila pode trazer problemas para o processo cerâmico. Em ciclos rápidos de queima a indicação é que a quantidade de matéria orgânica seja menor que 0,1 %, uma quantidade maior pode formar o conhecido “coração negro”, como já anteriormente comentado, que pode trazer problemas como choque térmico e bolhas na cobertura vítrea das peças. O coração negro ocorre quando a matéria prima não oxida totalmente devido a combustão da matéria orgânica, onde a melhor maneira de combater o mesmo é diminuir o teor de substâncias não plásticas (OLIVEIRA, 2003 apud ANDRADE, 2009). Nos processos de via seca ainda, os argilitos geralmente apresentam grande quantidade de FeO3, que conferem a cor avermelhada as bases cerâmicas. 2.3.1.2 Sílica A sílica (SiO2) está presente nas formulações mássicas da cerâmica geralmente em sua forma alotrópica, o quartzo. A sílica tem algumas restrições de utilização uma vez que apresenta modificações polimórficas ao longo das faixas de temperatura a que é exposta. Essas modificações acabam por alterar a estrutura cristalina, mudando também a massa especifica do material. A sílica/quartzo é um componente refratário nas formulações devido a seu alto ponto de fusão, garantindo a integridade estrutural da peça durante a queima (ZAUBERAS; RIELLA, 2001). Na massa cerâmica a sílica diminui a retração de secagem e queima, aumentando o coeficiente de dilatação do corpo cerâmico. Geralmente o teor de quartzo nas indústrias cerâmicas fica entre 25 e 40 %, porém índices maiores que 20% em massa podem ocorrer trincas nas peças, principalmente devido às transformações do quartzo-α em quartzo- β, quando aquecidos a 573°C que faz com que haja um aumento do volume da peça e consequentemente um aumento das tensões internas (SOUSA, 2008). A figura 2.13 mostra a influência de diferentes proporções de quartzo em argila sem carbonatos na absorção e retração linear. 30 Figura 2.13 – Efeito da adição de quartzo em argilas Fonte: BARBA et al., 2002 apud SOUSA, 2008. Pode-se observar que em temperaturas menores que 1100°C a retração linear e a absorção diminuem como o aumento da quantidade de quartzo, fato este devido a compacidade da mistura. Porém em temperaturas acima de 1100°C, a absorção acaba aumentando nos maiores teores de quartzo, mostrando capacidade do aumento da porosidade que o quartzo pode causar. 2.3.1.3 Feldspato Os feldspatos englobam vários silicatos de alumínio, contendo ainda várias proporções de potássio, sódio, cálcio e às vezes bário (ARAÚJO, 2008). Na natureza aparecem muitos silicatos que têm redes tridimensional sendo o feldspato o mais importantes industrialmente. 31 O feldspato pode ter uma pureza mineralógica elevada ou ter misturas consideráveis de quartzo. De acordo com Biff (2002, apud Araújo, 2008), estes podem ser distinguidos de acordo com sua composição química, dividindo-se em feldspato potássico (ortoclásio- K(AlSi3O8)), feldspato sódico (albita – Na(AlSi3O8)) e feldspato cálcico ( anortita – Ca(Al2Si2O8)). Na formulação mássica os feldspatos são a parte mais fundentes das mesmas, isto se torna de grande importância uma vez que a presença destes faz com que se possa reduzir a temperatura de formação de fase líquida durante a fase de sinterização da queima. Com um ponto de fusão mais baixo, a fase liquida tende a preencher as cavidades do corpo cerâmico tornando-o mais fundente. 2.3.1.4 Argilitos Os argilitos são estruturas formadas por argilominerais geralmente cristalinos, onde por acumulação e compactação de minerais argilosos os mesmos são formados (DEER et al, 1991). Quimicamente os argilitos são compostos de silicatos hidratados, principalmente de alumínio e magnésio, contendo ainda outros elementos como ferro, cálcio, sódio, potássio, entre outros (SANTOS, 1975). Os argilitos são de natureza mais dura e geralmente apresentam uma formação lamelar ou em blocos, sendo um material mais rígido. Os argilitos ainda podem apresentar fragmentos de matéria orgânica, principalmente nas camadas mais superficiais de uma jazida. Os argilominerais mais comuns nos argilitos são a calcita, dolomita, ilita, esmectite, entre outros. Na geologia catarinense, principalmente nas formações geológicas pertencentes à Bacia do Paraná e no sul do estado, tem-se basicamente rochas pelíticas (argilitos e siltitos) (GEREMIAS; KAHN; GOUVEIA, 2005). No sul do estado de Santa Catarina ocorre a formação Rio do Rastro junto as encostas da Serra Geral, com um predomínio de argilitos cinzas e roxos, com características fundentes. Nesta formação também ocorrem espigões no meio de extensas várzeas de sedimentos quaternários, representadas por argilitos de natureza ilítica/caulinítica e em rochas 32 mais coesas há presença de feldspatos sódicos e potássicos. Essa área abrange as cidades de Turvo, Ermo e Timbé do Sul, com formações de colorações cinza, marrom e vermelho. Sendo que esses tipo de formações apresentam características desejadas para o emprego na produção de revestimentos e telhas pelo processo de monoqueima. 33 3. MATERIAIS E MÉTODOS As etapas realizadas na metodologia do trabalho seguiram a ordem conforme a figura 3.1, sendo que os métodos de análise estão descritos nos itens a seguir. Figura 3.1- Fluxograma das etapas dos procedimentos de análise Fonte: Elaboração da autora, 2014. 3. 1 LEVANTAMENTO DOS DADOS DA EMPRESA A atual massa cerâmica da empresa Cejatel, que é utilizada tanto para a produção de revestimentos cerâmicos quanto para as telhas semi-gres, é constituída de três jazidas 34 diferentes. Dessas três ainda há a divisão por camadas das mesmas, e ainda já uma quarta jazida não utilizada atualmente. Estas jazidas são localizadas em Meleiro e Turvo, conforme as figuras 3.2, 3.3 e 3.4. A jazida Meleiro 3, que é o argilito a ser substituído na formulação, tem condições de extração no máximo de 5 a 6 meses. Figura 3.2 – Jazida Meleiro 3 Fonte: Elaboração da autora, 2014. Figura 3.3 – Jazida Meleiro 2 Fonte: Elaboração da autora, 2014. 35 Figura 3.4 – Jazida Turvo Fonte: Elaboração da autora, 2014. Os argilitos a serem analisados são de jazidas já requeridas e abertas pela empresa, as mesmas situam-se em Içara, Turvo, Ermo e Timbé do Sul, conforme as figuras 3.5, 3.6, 3.7, 3.8 e 3.9. Figura 3.5 – Jazida Poço Oito Fonte: Elaboração da autora, 2014.36 Figura 3.6 – Jazida Rio Jundiá Fonte: Elaboração da autora, 2014. Figura 3.7 – Jazida Linha Rovaris Fonte: Elaboração da autora, 2014. Figura 3.8 – Jazida Boa Vista Fonte: Elaboração da autora, 2014. 37 Figura 3.9 – Jazida Timbé do Sul Fonte: Elaboração da autora, 2014. Foi realizada uma visita técnica e coleta das amostras para posterior análise. As amostras foram obtidas de vários pontos aleatórios das jazidas. Nas jazidas de Rio Jundiá e Boa Vista foram coletadas camadas diferentes para análise individual das mesmas. Nas demais a formação é de apenas uma camada. As amostras das jazidas de Meleiro 3, Meleiro 2 e Turvo foram coletadas no pátio de estocagem da empresa. 3.2 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS As amostras foram secas naturalmente durante 6 horas para posterior quarteamento. Alguns torrões foram reduzidos de tamanho para melhor homogeneização. 3.2.1 Quarteamento O quarteamento consiste na homogeneização das argilas, que foi realizado conforme a NBR NM 27:2000 (ABNT, 2000). A amostra foi colocada em um chão plano e limpo e homogeneizada com auxílio de uma pá. Após dispôs-se a amostra em uma pilha em formato cônico. O material foi então estendido, achatado e divido em quatro partes iguais, como uma pizza, conforme figura 3.10. Duas destas partes foram desprezadas e duas foram misturadas novamente. Repetiu-se o processo até que as amostras pesassem cerca de 3 kg 38 (SANTOS,1975). As partes descartadas foram guardadas em sacos identificados e as partes quarteadas foram submetidas à secagem. Figura 3.10 – Processo de quarteamento de amostras Fonte: NBR NM 27:2000, 2000. 3.2.2 Secagem e moagem das amostras Os métodos de preparação das amostras seguiram o procedimento da empresa para a liberação de lotes da massa cerâmica (CEJATEL, 2011). As amostras foram secas em estufa modelo CT- 035 da Servitech, a 110ºC durante 24 horas. Em seguida os torrões foram reduzidos manualmente a um tamanho máximo de 5 cm, para posterior moagem. A moagem foi realizada em um moinho de martelos e as amostras acondicionadas em embalagens plásticas. Após as amostras foram passadas em uma peneira malha #48 tyler (0,295mm). O retido na peneira foi moído novamente, porém em um moinho de bolas modelo CT – 242/1 também da Servitech, por 3 minutos. A moagem do resíduo que posteriormente foi misturado ao passante da peneira serve para simular a moagem industrial, já que é isto que ocorre no processo. 39 3.2.3 Umidificação e prensagem As amostras foram divididas em sacos de 500g para serem umidificadas. Utilizou- se 9% em peso para a umidificação, este valor fica compreendido entre os valores de umidade da massa do piso e das telhas que compreende a faixa de 8,5 a 9,4% de umidade. Após as amostras foram passadas em uma peneira malha #14 tyler (1,41mm). para desfazer o torrões provenientes da umidificação e mantidas em sacos fechados evitando a perda da umidade. Para a prensagem utilizou-se uma presa hidráulica Servitech 30T para cada amostra prensou-se 4 corpos de prova com 65g cada. Foram utilizadas duas cargas sobre as amostras, uma de 5 T (100 kgf/cm²) e uma segunda de 9 T ( 180 kgf/cm²). 3.2.4 Secagem e queima Os corpos de prova foram secos em estufa de circulação forçada por 2 horas. A queima foi realizada no forno modelo Jumper com ciclo rápido de 45 minutos (de frio-a-frio), a temperatura máxima do ciclo foi de 1095ºC (CEJATEL, 2014). Os corpos de prova foram previamente colocados sobre um substrato refratário e tratados termicamente. 3.3 CARACTERIZAÇÃO DAS JAZIDAS E FORMULAÇÕES Para a caracterização física e química das matérias primas coletadas nas jazidas e as reformulações mássicas utilizaram-se as análises: análise química, determinação mineralógica, retração de queima, absorção de água, perda ao fogo, densidade aparente, determinação granulométrica e resistência mecânica. 40 3.3.1 Análise química via fluorescência de raios X – FRX A fluorescência de raios X é a excitação dos elementos de uma amostra devido à absorção de um feixe primário e emissão das linhas características de fluorescência de raios X. A excitação é mais frequentemente provocada por irradiação da amostra com um feixe de raios X de um tubo de raios X ou uma fonte radioativa (SKOOG, 2002). Os raios que são emitidos são de comprimentos de ondas característicos para cada elemento químico que constitui o material irradiado (HOFFMANN, 2011). A partir de uma comparação com um padrão é possível determinar quantitativamente e de forma rápida os componentes químicos de uma amostra. A análise química das amostras das jazidas foi realizada em laboratório externo, CTC – SENAI em Criciúma, pelas metodologias internas no mesmo (PR-CRI-097, PR-CRI- 098 e PR-CRI-103) no equipamento PW 2400 – PANalytical. Os resultados foram expressos em porcentagem dos óxidos mais estáveis (SENAI, 2014). 3.3.2 Análise mineralógica via difratometria de raio X – DRX A técnica de difratometria de raio X é muito utilizada para o análise de fases cristalinas em corpos cerâmicos. O princípio desta análise instrumental consiste em emitir os elétrons termoionicamente a partir de um filamento, onde os mesmos serão acelerados por uma diferença de potencial elétrico em direção a um alvo metálico. Os elétrons vão então interagir no choque com o metal podendo arrancar elétrons das camadas dos átomos constituintes do alvo. Logo a camada de elétrons estará incompleta e os elétrons acabarão saltando para esta camada, que emitirá um fóton de raios X (HOFFMANN, 2011). Segundo Skoog (et al, 2002) quando os raios X são espalhados pelo ambiente ordenado de um cristal, ocorre a interferência entre os raios espalhados porque as distâncias entre os centros espalhadores são da mesma ordem de grandeza que o comprimento de onda da radiação, onde resulta-se a difração. A lei de Bragg é uma condição geométrica que o arranjo deve realizar para que se tenha uma difração de raios X. Esta leva em consideração a interferência de ondas emitidas para cada plano da família descrita por uma ordem de reflexão (HOFFMANN, 2011). 41 Nos estudos analíticos por difração a amostra cristalina deve estar na forma de pó para que os cristais estejam orientados em todas as direções possíveis. A análise mineralógica das amostras também foi realizada em laboratório externo, CTC – SENAI em Criciúma. O equipamento utilizado no ensaio foi um Difratômetro Bruker – D8 com goniômetro theta – theta. A radiação é Ka em tubo de cobre nas condições de 40kV e 40mA. A velocidade e o intervalo de varredura do goniômetro são 1 grama de pó a 1 segundo para 0,02° do goniômetro de 2° a 72° 2 theta, respectivamente (SENAI, 2014). Os resultados dos ensaios mandados pelo SENAI da análise química por FRX e a mineralógica por DRX estão dispostos no Anexo A e B respectivamente. 3.3.3 Retração linear de queima A retração de queima serve para medir a diminuição percentual das peças após a queima das mesmas. A metodologia utilizada foi de acordo com a normativa MB-305 (ABNT, 1984), onde calcula-se a retração pela equação (1): 100. i if Linear L LL R (1) Onde Lf é o comprimento após a queima do corpo de prova, em milímetros e o Li é o comprimento antes da queima, também em milímetros. As medidas foram realizadas com um paquímetro digital da marca Digimess bico fino modelo 100.251, com precisão de ±0,01mm. O resultado de retração de cada amostra é uma média de três corpos de prova diferentes, queimados no mesmo ciclo e expresso em porcentagem. 42 3.3.4 Absorção de água A absorção de água é a quantidade de água que a peçaconsegue absorver, neste caso após a queima. A metodologia utilizada seguiu a normativa NBR 13818 (ABNT,1997). Onde calcula-se a mesma pela equação (2): 100. i if M MM AA (2) Onde Mf é a massa saturada de água em gramas e Mi é a massa inicialmente seca também em gramas. O peso dos corpos de prova foram obtidos por uma balança Marte AD5002 de precisão ±0,01 e a imersão dos mesmos foi realizada em uma cuba modelo CT- 306/C da Servitech. O resultado de retração de cada amostra é uma média de três corpos de prova diferentes, queimados no mesmo ciclo e expresso em porcentagem. 3.3.5 Perda ao fogo A perda ao fogo mede a quantidade de massa perdida após a queima, sendo que está perda é de água estrutural e matéria orgânica. O método constitui-se de pesar o corpo de prova seco antes da queima e o corpo de prova queimado. Calcula-se a perda ao fogo pela equação (3): 100. i if M MM PF (3) Onde Mf é a massa depois da queima em gramas, e Mi é a massa antes da queima também em gramas. . O peso dos corpos de prova foi obtido por uma balança Marte AD5002 43 de precisão ±0,01. O resultado de retração de cada amostra é uma média de três corpos de prova diferentes, queimados no mesmo ciclo e expresso em porcentagem. 3.3.6 Densidade aparente (DAP) A densidade aparente das amostras das jazidas e das formulações teste foi realizada pelo método do empuxo de mercúrio. A análise foi realizada em corpos de prova crus (medindo 50 mm x 50 mm) ditos úmidos, após a sua conformação na prensa, e nos corpos de prova secos em estufa modelo CT- 035 da Servitech, a 110ºC por duas horas. O método consiste em pesar o corpo de prova e após colocá-lo na superfície do mercúrio, o braço de imersão irá imergir o corpo de prova e deve-se anotar o valor do peso do mesmo imerso em mercúrio (TEIXEIRA, 2011). O equipamento utilizado para este ensaio foi um medidor de densidade aparente modelo CT – 295 da Servitech, e uma balança analítica (Marte AD5002 de precisão ±0,01), conforme figura abaixo. Figura 3.11 – Medidor de densidade aparente Fonte: SERVITECH, 2014. Assim utiliza-se a equação (4) para o cálculo da densidade aparente. 44 mer sub i M M DAP . (4) Onde Mi é a massa inicial do corpo de prova (úmido ou seco), Msub é a massa do corpo de prova submerso no mercúrio e ρmer é a densidade do mercúrio. 3.3.7 Análise granulométrica A análise granulométrica foi realizada em 100g de amostra úmida (em torno de 8 a 8,5%) em um granuteste Vibrotech modelo CT – 025, da Servitech, conforme figura 3.12. O mesmo tinha as peneiras com as malhas #20 (0,833mm), #35 (0,417mm), #48 (0,295mm), #80 (0,177mm), #100 (0,147mm) e #150 (0,104mm). A amostra foi colocada em vibração por 15 minutos, e as amostras foram pesadas em uma balança analítica para saber a porcentagem retida em cada malha. Figura 3.12 – Granutest Vibrotech Fonte: SERVITECH, 2014. 45 3.3.8 Carga de ruptura e resistência mecânica a flexão (RMF) As análises de carga de ruptura e resistência mecânica a flexão dos corpos de prova foram realizados conforme a NBR 13818:1997, em um flexímetro SKZ -10000. Os corpos de prova foram submetidos à resistência a flexão em três pontos, onde se encontra a força de ruptura que a partir desta pode-se calcular o módulo de resistência à flexão pela equação (5). 22 3 bh FL MRF (5) Onde F é a força de ruptura em Newton, L é a distância entre as barras de apoio em milímetros, b é a largura do corpo de prova em milímetros e h é a espessura mínima do corpo de prova. Já a carga de ruptura é calculada pela equação (6), sendo que F, L e b são os mesmos do MRF. b LF CR . (6) 3.3.9 Testes em escala industrial Os testes em escala industrial necessários ao trabalho não foram realizados em função do pouco tempo disponível, uma vez que apesar das jazidas aqui analisadas já estarem abertas, as mesmas não estão em operação. Desta forma seria necessário transportar o maquinário até Timbé do Sul e Meleiro, extrair, transportar até Jaguaruna, e passar o material por todo processo de secagem, moagem e granulação. Processo que demandam dias, pois a massa precisa descansar. 46 3.4 FORMULAÇÃO DA MASSA Atualmente a formulação mássica da empresa encontra-se como a descrita na tabela 3.1. Tabela 3.1 – Formulação atual da empresa Cejatel Jazida Porcentagem das Camadas Porcentagem na Formulação Meleiro 2 Superior 10% Meio 50% Inferior 40% 50% Meleiro 3 Superior 50% Inferior 50% 10% Turvo Superior 20% Inferior 80% 40% Fonte: CEJATEL, 2014. A partir das análises inicias das jazidas, que serão discutidas no item resultados e discussões, optou-se pela utilização de três amostras para realizar os testes de formulação. Assim como ocorre nas jazidas Meleiro 2 e Turvo, formações de Boa Vista e Rio Jundiá também são divididas em camadas. Boa Vista apresenta 90% de formação inferior e 10% de superior, já Rio Jundiá apresenta 80% de inferior e os 20% restantes de superior. A tabela 3.2 traz as novas formulações propostas para teste. Tabela 3.2 – Formulações propostas para teste. Meleiro 2 Turvo Timbé do Sul Boa Vista Rio Jundiá Teste 1 50% 40% 10% - - Teste 2 40% 40% 10% 10% - Teste 3 45% 40% 10% 5% - Teste 4 45% 35% 15% 5% - Teste 5 40% 40% 10% - 10% Teste 6 45% 40% 10% - 5% Teste 7 45% 35% 15% - 5% Fonte: Elaboração da autora, 2014. 47 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 ANÁLISES DAS JAZIDAS Primeiramente realizou-se as análises individuais das jazidas que poderiam substituir a atual Meleiro 3, posteriormente selecionou-se as jazidas com características próximas para iniciar a reformulação da massa cerâmica. 4.1.1 Análise química A tabela 4.1 apresenta a análise química das atuais jazidas utilizadas na empresa já considerando a mistura das camadas de extração, as mesmas foram realizadas pelo laboratório da Colorminas Mineração e estavam no histórico da empresa. Tabela 4.1 – Análises químicas das jazidas Amostras SiO2 (%) Al2O3(%) Fe2O3 (%) CaO (%) K2O (%) Meleiro 2 67,07 13,81 5,12 1,7 2,98 Meleiro 3 65,6 16,4 6,15 0,45 3,4 Turvo 65,28 15,22 5,14 0,68 5,88 - MgO (%) Na2O (%) MnO (%) P2O5 (%) TiO2 (%) Meleiro 2 2,4 ** 0,13 ** 0,66 Meleiro 3 1,8 ** 0,1 ** 0,75 Turvo 1,96 ** ** 0,08 0,7 Fonte: COLORMINAS, 2012. A tabela 4.2 apresenta o resultado da análise química das amostras das jazidas coletadas, realizada pelo CTC- SENAI de Criciúma. 48 Tabela 4.2 – Resultado da análise química das jazidas Amostras SiO2 (%) Al2O3 (%) Fe2O3 (%) CaO (%) K2O (%) Boa Vista 67,4 14,33 4,63 0,51 6,7 Linha Rovaris 71,18 14,78 3,15 0,07 3,9 Poço Oito 72,51 13,8 3,77 0,19 2,02 Rio Jundiá 70,81 13,79 4,09 0,39 4,81 Timbé do Sul 61,01 19,86 6,75 ** 3,53 - MgO (%) Na2O (%) MnO (%) P2O5 (%) TiO2 (%) Boa Vista 1,81 1,1 ** 0,22 0,57 Linha Rovaris 1,03 3,28 ** ** 0,55 Poço Oito 0,99 1,77 0,07 0,13 0,62 Rio Jundiá 1,37 1,39 0,07 0,06 0,5 Timbé do Sul 1,68 0,13 0,05 0,08 0,76 Fonte: SENAI, 2014. A partir da análise química das amostras das jazidas pode-se observar que quimicamente as amostras similares a jazida Meleiro 3 são: Boa Vista e Timbé do Sul. A Boa Vista tem porcentagens de sílica e óxido de alumínio bem próximos ao de Meleiro 3, porém apresenta quantidade menor de óxido de ferro e uma quantidade maior de óxido de potássio, confirmando a presença da fase cristalina de feldspato microclínio (cerca de 34%), ou como é mais conhecido, o feldspato potássico (KAlSi3O8). A jazida Timbé do Sul apresenta porcentagens de óxidos bem similares com Meleiro 3, menor percentual de sílica e óxido de cálcio assimcomo óxido de magnésio. Apresenta índices um pouco maiores de óxido de alumínio e óxido de ferro. O Fe2O3 em maior quantidade faz com que as amostras tenham uma cor avermelhada característica, proporcionando a massa formulada uma coloração também mais vermelha (SILVA, 2005). Este item não apresenta problemas uma vez que os produtos manufaturados pela empresa Cejatel são de processo via seca e naturalmente apresentam a coloração de sua base avermelhada (Figura 4.1). Em proporções de até 10% o óxido de ferro não causa problemas 49 na formulação, desta forma é possível utilizar uma das jazidas para a substituição de Meleiro 3 (ANDRADE, 2009). Figura 4.1 – Coloração de queima das amostras analisadas. Fonte: Elaboração da autora, 2014. As demais amostras apresentam um valor maior de sílica, que pode proporcionar a massa menor índice de plasticidade, que ajuda na secagem da mesma. Porém a maior influência do quartzo nas massas cerâmicas está no aumento da refratariedade da mesma e a redução do seu coeficiente de dilatação, podendo ainda diminuir a resistência mecânica das peças, que são características não visadas neste trabalho (ANDRADE, 2009). 4.1.2 Análise mineralógica Assim como a análise química, a análise mineralógica das jazidas utilizadas atualmente na empresa Cejatel foi realizada pela Colorminas Mineração e estava arquivada na empresa. Os resultados estão dispostos na tabela 4.3. 50 Tabela 4.3 – Análise mineralógica das jazidas atuais. Amostras Fases Cristalinas Presentes Meleiro 2 Quartzo, Anortita, Ilita Meleiro 3 Quartzo, Ilita, Microclinio, Anortita Turvo Quartzo, Microclinio, Ilita Fonte: COLORMINAS, 2012. Os resultados da análise de fases cristalinas por difração de raio X realizada pelo CTC – SENAI estão expostos na tabela 4.4. Tabela 4.4 – Análise mineralógica das amostras. Amostras Fases Cristalinas Presentes Boa Vista Quartzo, Microclínio, Anortita, Ilita Linha Rovaris Quartzo, Microclínio, Anortita, Ilita Poço Oito Quartzo, Microclínio, Anortita, Ilita Rio Jundiá Quartzo, Microclínio, Anortita, Ilita Timbé do Sul Quartzo, Ilita Fonte: SENAI, 2014. Em complemento as análises químicas tem-se as mineralógicas, o Meleiro 3 é composto basicamente por quartzo, ilita, microclínio, e anortita , onde o quartzo aparece em maior quantidade nas partes superiores da jazida, sendo uma parte mais arenosa da mesma. A ilita é um material argiloso que está estruturalmente relacionada com as micas, e tem uma fórmula química geral que pode ser descrita por KyAl4(Si8-y, Aly)O20(OH)4 (DEER et al, 1991). Devido a sua fórmula química, a ilita substitui parcialmente feldspatos potássicos, e pode ter coloração variada, indo do branco amarelado, até ao avermelhado, como é o caso do Meleiro 3. A ilita quando queimada acima de 1075°C apresenta valores mais acentuados de carga de ruptura, que em concordância com a baixa absorção de água e com maior retração linear, dá características mais fundentes as peças (ROVERI et al, 2007). 51 A anortita e o microclínio que são feldspatos cálcicos e potássicos respectivamente, são por natureza materiais fundentes, desta forma diminuem a temperatura de formação de fase líquida na etapa de queima. Os mesmos diminuem a porosidade das peças abaixando os índices de absorção de água e aumentando a carga de ruptura das peças (SILVA, 2005). Devido a essas formações a jazida Meleiro 3 apresenta características mais fundentes, com maior retração e perda ao fogo, e menor absorção. Como já comentado nas análises químicas, as jazidas Boa Vista e Timbé do Sul apresentam as melhores características para os fins necessários do trabalho. A jazida Boa Vista apresenta quantidades de anortita e ilita maior que de quartzo (cerca de 32% de cada), desta forma a matéria prima apresenta características mais fundentes conforme o Meleiro 3. A jazida Timbé do Sul apresenta apenas quartzo e ilita em suas fases cristalinas, com uma proporção de quase 70% de ilita. Desta forma suas propriedades físicas são fundentes, conforme serão discutidas nos itens posteriores. A coloração avermelhada ilita do Timbé do Sul é de maior intensidade que Meleiro 3, conforme figura 4.2. Figura 4.2 – Comparação de coloração Meleiro 3, Timbé do Sul e Boa Vista Fonte: Elaboração da autora, 2014. 52 4.1.3 Análises físicas das jazidas As jazidas foram analisadas fisicamente por perda ao fogo, retração e absorção de água, todas as análises foram realizadas em triplicada. Além destas foi realizada a densidade aparente a úmido e a seco das mesmas. Quanto às propriedades físicas das jazidas utilizadas atualmente tem-se os valores da tabela 4.5, obtidos após tratamento térmico a temperatura máxima de 1095°C durante ciclo de 42 minutos, já considerando a mistura das camadas de extração realizadas alguns meses. Tabela 4.5 – Propriedades físicas das jazidas utilizadas atualmente na empresa Cejatel Amostras Retração (%) Perda ao Fogo (%) Absorção (%) Meleiro 2 4,05 5,11 5,25 Meleiro 3 6,42 5,63 3,01 Turvo 3,30 3,80 3,53 Fonte: Elaboração da autora, 2014. 3.1.3.1 Resultado da análise de retração linear A jazida Meleiro 3, que necessita ser substituída, foi analisada novamente para ser utilizada como padrão, uma vez que as novas jazidas devem apresentar características similares. Outro fator é que a jazida Meleiro 3 vem apresentando oscilações em suas características nos últimos meses, em função de estar se esgotando pois a extração não é mais homogênea. A tabela 4.6 traz os resultados da análise de retração das amostras. 53 Tabela 4.6 – Resultados da análise de retração linear. Amostra Retração Linear Média (%) Desvio Padrão Boa Vista 3,09 ± 0,024 Linha Rovaris 1,01 ± 0,063 Meleiro 3 4,41 ± 0,006 Poço Oito 0,76 ± 0,001 Rio Jundiá 2,49 ± 0,124 Timbé do Sul 4,99 ± 0,151 Fonte: Elaboração da autora, 2014. Como pode-se observar a propriedade de retração da jazida Meleiro 3 modificou- se passando de 6% para em torno 4,5%, isso deve-se ao fato de a jazida não estar mais estável como no seu início, contendo uma maior quantidade de material superficial: as areias quartzosas. A jazida teste que mais apresentou semelhança com o Meleiro 3 foi o Timbé do Sul com quase 5% de retração. A jazida Boa Vista também apresentou um resultado satisfatório, em torno de 3 %, porém este valor é metade do valor original de retração da jazida. 3.1.3.2 Resultado da análise de perda ao fogo Os valores encontrados para a perda ao fogo das amostras estão expostos na tabela 4.7. 54 Tabela 4.7 – Resultados da análise de perda ao fogo. Amostra Perda ao fogo (%) Desvio Padrão Boa Vista 2,518 ± 0,026 Linha Rovaris 2,076 ± 0,092 Meleiro 3 5,213 ± 0,039 Poço Oito 3,691 ± 0,182 Rio Jundiá 2,672 ± 0,052 Timbé do Sul 5,918 ± 0,026 Fonte: Elaboração da autora, 2014. Quanto a perda ao fogo, Meleiro 3 não apresentou muitas diferenças em relação as mudanças na jazida, permanecendo em torno de 5%. A jazida Timbé do Sul apresentou novamente o melhor resultado, com quase 6% de perda ao fogo, isso deve-se a maior quantidade de ilita em sua formação. Após, o melhor resultado foi da jazida Poço Oito com 3,7% de perda ao fogo. 3.1.3.3 Resultado da análise de absorção d’água A tabela 4.8 expõe os resultados encontrados para a absorção d’água. 55 Tabela 4.8 – Resultados da análise de absorção d’água. Amostra Absorção d’água (%) Desvio Padrão Boa Vista 7,645 ± 0,112 Linha Rovaris 18,582 ± 0,381 Meleiro 3 11,265 ± 0,190 Poço Oito 16,028 ± 0,487 Rio Jundiá 9,977 ± 0,282 Timbé do Sul 11,595 ± 0,252 Fonte: Elaboração da autora, 2014. Quanto à absorção houve uma mudança drástica passando de 3 a 4% para 11%. Estamudança também justifica-se pelas oscilações de extração na jazida, como há maior quantidade de material na camada superior, e nesta área encontra-se uma maior quantidade de quartzo, o material apresenta maior absorção de água. Porém como as demais jazidas da formulação (Meleiro 2 e Turvo) tem baixa absorção e a jazida Meleiro 3 tem participação de apenas 10% no valor total da composição, o valor da absorção para a formulação mássica não se alterou significativamente. A jazida que mais apresentou valores próximos ao atual da jazida Meleiro 3 foi Timbé do Sul, com 11,6%. A jazida com menor absorção foi a Boa Vista com 7,6% . 3.1.3.4 Resultado da análise de densidade aparente (DAP) Os resultados da densidade aparente das amostras tanto a úmido quanto a seco estão expostos na tabela 4.9. 56 Tabela 4.9 – Resultados da DAP das jazidas. Amostra DAP úmida (g/cm³) DAP seca (g/cm³) Boa Vista 2,08 1,88 Linha Rovaris 1,79 1,69 Meleiro 3 1,95 1,93 Poço Oito 1,94 1,80 Rio Jundiá 1,99 1,83 Timbé do Sul 1,93 1,82 Fonte: Elaboração da autora, 2014. O processo de prensagem aumenta a densidade aparente a verde das peças cerâmicas. A densidade aparente, junto com a resistência mecânica, compõem as propriedades mais importantes da peça cerâmica prensada, afetando o comportamento da peça em diferentes etapas do processo cerâmico e influenciando de maneira decisiva na contração linear, absorção de água, deformação piroplástica (MARCIANO, 2014). Valores de densidade aparente muito alto, acima de 2,1-2,2 g/cm³, podem prejudicar na eliminação dos gases na queima e causar problemas de porosidade no esmalte (OLIVEIRA, 2000). Porém valores baixos de densidade aparente individual das matérias primas podem prejudicar na prensagem, diminuindo a resistência mecânica a verde. Além disso esta etapa tem forte influência nas propriedades posteriores como a contração linear e a capacidade de absorção de água. Os melhores valores encontrados foram: jazida da Boa Vista, e do Rio Jundiá. Após todas as análises químicas e físicas, selecionou-se a jazida Timbé do Sul para a realização dos testes em substituição do Meleiro 3 na formulação. A definição foi realizada a partir dos seus índices de perda ao fogo e retração (similares a Meleiro 3), além da análise mineralógica que caracteriza a Timbé do Sul como fundente. Porém a absorção desta jazida apresenta-se maior e seu valor de densidade aparente é menor que o Meleiro 3. 57 Também foi selecionada para compor as formulações testes a jazida Boa Vista e a Rio Jundiá. Os testes foram realizados conforme item 3.4 e os resultados das análises são apresentados e discutidos posteriormente. 4.2 ANÁLISE TESTES DE MASSA A massa na formulação atual, com 50% de Meleiro 2, 40% de Turvo e 10% de Meleiro 3 apresenta as características descritas da tabela 4.10. Tabela 4.10 – Histórico das características da massa usada na empresa Cejatel. Retração linear (%) Perda ao fogo (%) Absorção d’água (%) Massa Padrão 2,9 3,76 9,17 Fonte: Elaboração da autora, 2014. 4.2.1 Análise granulométrica A análise granulométrica foi realizada em duas amostras que foram utilizadas como padrão comparativo dos testes. Uma amostra corresponde ao padrão formulado em laboratório e a outra foi obtida diretamente do processo produtivo, desta forma busca-se comparar a granulometria das duas para validação. O resultado da análise granulométrica encontra-se na tabela 4.11. 58 Tabela 4.11 – Análise granulométrica das massas utilizadas como padrão. Malha peneira Massa formulada em laboratório (% retido) Massa do processo produtivo (% retido) #20 (0,833mm) 8,51 10,81 #35 (0,417mm) 35,60 35,00 #48 (0,295mm) 26,90 20,97 #80 (0,177mm) 20,28 21,78 #100 (0,147mm) 0,41 0,22 #150 (0,104mm) 1,30 2,57 Fundo 3,29 4,44 Fonte: Elaboração da autora, 2014. O resultado da análise granulométrica apresentou-se satisfatório de forma que as proporções retidas ficaram similares. A principal diferença encontra-se na malha mais grossa (#20 – 0,833mm) onde no processo produtivo aparece em maior quantidade, devido a moagem em moinho martelo. A diferença também ocorre nas malhas mais finas do material do processo produtivo (#150 – 0,104mm e no fundo) devido a incorporação dos moídos em moinho pendular. Apesar dessas diferenças a análise granulométrica ficou próxima, pode-se dizer que a moagem em laboratório representa o processo produtivo, assim os testes realizados representam com grande fidelidade o que ocorre no processo fabril. 4.2.2 Resultado da densidade aparente dos testes de massa Na tabela 4.12 encontram-se os resultados das densidades aparentes (úmida e seca) dos testes de massa. Os testes são identificados conforme item 3.4 onde se mostraram as 59 formulações propostas. Os padrões são identificados por STD 1 e STD 2 para massa formulada em laboratório e massa do processo produtivo respectivamente. Tabela 4.12 – Densidade aparente dos testes de massa Amostra DAP úmida (g/cm³) DAP seca (g/cm³) Teste 1 1,94 1,93 Teste 2 1,98 1,90 Teste 3 2,01 1,92 Teste 4 2,03 1,72 Teste 5 2,02 1,90 Teste 6 2,07 1,88 Teste 7 2,03 1,87 STD 1 2,02 1,92 STD 2 2,01 1,93 Fonte: Elaboração da autora, 2014. A densidade aparente como já anteriormente exposto é bem importante para o processo cerâmico e deve ficar próximo a 2,00 g/cm³. Os testes a úmido apresentaram resultados similares, onde apenas o teste 1 ficou bem abaixo dos demais. Isto se deve principalmente ao teste 1 utilizar a substituição direta do Meleiro 3 por Timbé do Sul em proporção total de 10%. Como a amostra Timbé do Sul tem densidade aparente menor, alterou toda a densidade aparente da mistura. Os demais testes apresentaram bom resultado na densidade a úmido, assim como a comparação da formulação atual feita em laboratório e a do processo industrial. Porém quando se observa a densidade a seco, percebe-se que as amostras apresentaram resultados diferentes, sendo que o teste 1 apresentou densidade próxima aos 60 padrões, enquanto outros testes apresentaram valores menores. O teste 3 e o teste 5 foram os que apresentaram valores mais próximos aos padrões em ambas as análises. 4.2.3 Análises físicas dos testes de massa Como no item anterior os testes e os padrões serão identificados da mesma forma. Na tabela 4.13 encontram-se os resultados de retração linear, perda ao fogo e absorção de água. Tabela 4.13 – Resultado das análises físicas dos testes de massa Retração linear (%) Perda ao fogo (%) Absorção d’água (%) Teste 1 3,76 4,50 7,36 Teste 2 3,54 4,06 7,29 Teste 3 3,85 4,15 6,79 Teste 4 4,02 4,36 6,95 Teste 5 3,56 3,83 8,96 Teste 6 3,67 4,42 7,38 Teste 7 3,97 4,51 7,16 STD 1 3,87 4,51 7,29 STD 2 3,55 4,43 6,80 Fonte: Elaboração da autora, 2014. Nos figuras 4.3, 4.4 e 4.4 apresentam-se os valores encontrados para as propriedades físicas com a indicação do desvio padrão entre as amostras. 61 Figura 4.3 – Retração linear dos testes de massa e seu desvio padrão Fonte: Elaboração da autora, 2014. Figura 4.4 – Relação da perda ao fogo e o desvio padrão Fonte: Elaboração da autora, 2014. 62 Figura 4.5 – Relação da absorção d’água e o desvio padrão 7,36 7,29 6,79 6,95 8,96 7,38 7,16 7,29 6,8 0 2 4 6 8 10 12 A b s o rç ã o d ’á g u a ( % ) Absorção d’água e desvio padrão Fonte: Elaboração da autora, 2014. Os testes apresentaram resultados bem satisfatórios na substituição da jazida Meleiro 3, onde o teste 3 mostrou-se com valores mais próximos ao padrão de produção. A menor absorção em relação ao teste 2 deve-se a menor quantidade de jazida Boa Vista e a maior quantidade de Meleiro 2 na formulação, onde o mesmo é mais fundente, ajustando
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