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1 1 SUMÁRIO 2 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 3 3 O PROCESSO PENAL MILITAR BRASILEIRO ............................................................ 4 3.1 Aplicação da Lei Processual Penal Militar no espaço e no tempo. ............................. 5 4 APLICAÇÃO DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL ......................................................... 6 4.1 Competência para Aplicação das Sanções Admistrativas Exclusivas. ....................... 9 4.2 Da Inadmissibilidade de Recurso Administrativo. ..................................................... 10 4.3 Dos Recursos Possíveis ........................................................................................... 11 4.4 Persecução Criminal................................................................................................. 11 5 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ..................................................................... 12 5.1 Questões Prejudiciais. .............................................................................................. 15 6 DO INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL .............................................................. 15 7 CITAÇÃO, INTIMAÇÃO E NOTIFICAÇÃO .................................................................. 17 8 Atos probatórios .......................................................................................................... 18 9 DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR ............................................................................ 22 9.1 Competência Da Polícia Judiciária Militar. ................................................................ 23 10 DA AÇÃO PENAL MILITAR E DO SEU EXERCÍCIO ................................................ 25 10.1 Dependência de requisição do Governo ................................................................. 25 10.2 Comunicação ao procurador-geral da República ................................................... 26 10.3 Proibição de existência da denúncia ...................................................................... 26 10.4 Exercício do direito de representação .................................................................... 26 10.5 Informações ............................................................................................................ 26 10.6 Requisição de diligências ....................................................................................... 26 11 DO PROCESSO PENAL MILITAR EM GERAL ......................................................... 27 11.1 Direito de ação e defesa ......................................................................................... 27 11.2 Relação processual ................................................................................................. 27 11.3 Casos de suspensão ............................................................................................... 28 2 11.4 Do juiz, auxiliares e partes do processo ................................................................. 28 11.5 DAS PARTES ........................................................................................................ 30 11.6 Do acusado, seus defensores e curadores ............................................................. 33 12 DA DENÚNCIA ......................................................................................................... 36 13 DA COMPETÊNCIA EM GERAL .............................................................................. 40 14 DA JUSTIÇA MILITAR EM TEMPO DE GUERRA .................................................... 44 3 2 INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 3 O PROCESSO PENAL MILITAR BRASILEIRO Fonte: www.bing.com O processo penal militar brasileiro é regido pelo Decreto – Lei número 1.002 de 21 de outubro de 1969 (Código de Processo Penal Militar – CPPM), conforme prescreve o artigo 1º do referido decreto – Lei, “o processo penal militar reger-se-á pelas normas contidas neste Código, assim em tempo de paz como em tempo de guerra, salvo legislação especial que lhe for estritamente aplicável” (BRASIL, 1969). No caso de divergência de normas de convenção ou tratado de que o Brasil seja signatário, prevalecerão as últimas, ou seja aquela norma que for mais atual, mais nova (BRASIL, 1969). Conforme preconiza o artigo 3º os casos omissos no CPPM serão supridos pela legislação de processo penal comum, quando aplicável ao caso concreto e sem prejuízo da índole do processo penal militar; pela jurisprudência; pelos usos e costumes militares; pelos princípios gerais de Direito; pela analogia (BRASIL, 1969). Acerca do assunto, Célio Lobão dispõe: 5 "Os casos omissos do CPPM serão supridos: pela legislação penal comum, quando aplicável ao caso concreto e sem prejuízo da índole do processo penal militar; (...). A legislação processual penal referida é o CPP e as leis processuais penais extravagantes, desde que, como ficou dito, não contrariem as características do processo penal militar e não haja disposição expressa vedando sua aplicação na Justiça Militar, p. exemplo, a Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei 9.099/1995) não se aplica à Justiça castrense (Lei 9.839/1999). (Apud NEVES 2013)" 3.1 Aplicação da Lei Processual Penal Militar no espaço e no tempo. É possível que um fato desperte o interesse punitivo de dois países, como Brasil e Portugal. É importante saber qual país vai poder aplicar a sua lei no caso concreto. No Processo Penal Militar em tempo de paz, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, aplicam-se as normas do CPPM em todo o território nacional (BRASIL, 1969). Também se aplicam as normas do CPPM: Fora do território nacional ou em lugar de extraterritorialidade brasileira, quando se tratar de crime que atente contra as instituições militares ou a segurança nacional, “ainda que seja o agente processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira” (BRASIL, 1969). Fora do território nacional, em zona ou lugar sob administração ou vigilância da força militar brasileira, ou em ligação com esta, de força militar estrangeira no cumprimento de missão de caráter internacional ou extraterritorial; A bordo de navios, ou quaisquer outras embarcações, e de aeronaves, onde quer que se encontrem, ainda que de propriedade privada, desde que estejam sob comando militar ou militarmente utilizados ou ocupados por ordem de autoridade militar competente; 6 A bordo de aeronaves e navios estrangeiros desde que em lugar sujeito à administração militar, e a infração atente contra as instituições militares ou a segurança nacional. Em tempo de guerra o CPPM será aplicado aos mesmos casos previstos para o tempo de paz. Também em zona,espaço ou lugar onde se realizem operações de força militar brasileira, ou estrangeira que lhe seja aliada, ou cuja defesa, proteção ou vigilância interesse à segurança nacional, ou ao bom êxito daquelas operações e em território estrangeiro militarmente ocupado. 4 APLICAÇÃO DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL Fonte: 3.bp.blogspot.com De acordo com artigo 6º do CPPM, obedecerão às normas processuais militares, salvo quanto à organização de Justiça, aos recursos e à execução de sentença, os processos da Justiça Militar Estadual, nos crimes previstos na Lei Penal Militar a que responderem os oficiais e praças das Polícias e dos Corpos de Bombeiros, Militares. 7 Nesse sentido Silva (2004) afirma que os Policiais Militares dos Estados, possuem direitos, deveres, prerrogativas e garantias diferenciadas de outros agentes públicos. Outorga aos Militares Estaduais idêntico tratamento dado aos Militares Federais, aplicando-se lhes os mesmos artigos constitucionais e especialmente prevendo Lei Estadual específica para dispor sobre o ingresso na Polícia Militar, os limites de idade, a estabilidade e outras condições de transferência para inatividade. A Lei Complementar nº 893, de 09 de março de 2001, que instituiu o Regulamento Disciplinar da Polícia Militar, em seu art. 14, elenca as sanções administrativas disciplinares, dispondo: “Artigo 14 - As sanções disciplinares aplicáveis aos militares do Estado, independentemente do posto, graduação ou função que ocupem, são: I - advertência; II - repreensão; III - permanência disciplinar; IV - detenção; V - reforma administrativa disciplinar; VI - demissão; VII - expulsão; VIII - proibição do uso do uniforme. Mister se faz, novamente ressaltar que das sanções administrativas supra elencadas, enfocaremos especialmente a demissão e a expulsão (SILVA, 2004). A demissão é o ato administrativo que exclui os Militares Estaduais da Instituição Polícia Militar e pode ser imposta tanto aos Oficiais como às Praças. Artigo 23 - A demissão será aplicada ao militar do Estado na seguinte forma: I - ao oficial quando: a) for condenado a pena restritiva de liberdade superior a 2 (dois) anos, por sentença passada em julgado; b) for condenado a pena de perda da função pública, por sentença passada em julgado; c) for considerado moral ou profissionalmente inidôneo para a promoção ou revelar incompatibilidade para o exercício da função policial militar, por sentença passada em julgado no tribunal competente (SILVA, 2004); Na parte que tange a sanção demissória de Oficial, há previsão de um processo regular denominado Conselho de Justificação iniciado no Poder Executivo, através de Portaria do Secretário da Segurança Pública, que após concluído, é encaminhado à Justiça Militar Estadual, a quem cabe por disposições Constitucionais Federal e 8 Estadual, o julgamento final visando possível constatação de indignidade ou incompatibilidade com o Oficialato. Com o acórdão prolatado, se condenatório, retorna o processo ao Poder Executivo para a formalização da demissão, por ato do Governador do Estado (SILVA, 2004). Estas normas constitucionais estão dispostas nas respectivas cartas políticas, nos incisos VI e VII do Artigo 142 da Constituição Federal, bem como no artigo 138, § 4º e § 5º da Constituição Estadual Paulista, “in verbis”: Art. 142. As Forças Armadas, .... (...) “§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (...) VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra; VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto no inciso anterior; ARTIGO 138 - São servidores públicos militares estaduais os integrantes da Polícia Militar do Estado. (...) § 4º - O oficial da Polícia Militar só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do Oficialato ou com ele incompatível, por decisão do Tribunal de Justiça Militar do Estado. § 5º - O oficial condenado na Justiça comum ou militar à pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto no parágrafo anterior (SILVA, 2004). A pena demissória reservada às praças da Polícia Militar apresenta duas características interessantes extraídas do próprio texto legal, vez que prevê sua apuração e comprovação através de processo regular em alguns casos e aplicação “ex officio” em outras situações (SILVA, 2004). A demissão “ex officio” ocorre quando o comportamento infracional analisado já fora objeto de um processo penal anterior, com sentença transitada em julgado, onde evidentemente, foram exercitados os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa (SILVA, 2004). A regra anotada vêm insculpida da seguinte forma: Artigo 23 - A demissão será aplicada ao militar do Estado na seguinte forma: (...) II - à praça quando: a. for condenada, por sentença passada em julgado, a pena restritiva de liberdade por tempo superior a 2 (dois) anos; b. for condenada, por sentença passada em julgado, a pena de perda da função pública; c. praticar ato ou atos que revelem incompatibilidade com a função policial-militar, comprovado mediante processo regular; d. cometer transgressão disciplinar grave, estando há mais de 2 (dois) anos consecutivos ou 4 (quatro) 9 anos alternados no mau comportamento, apurado mediante processo regular; e. houver cumprido a pena conseqüente do crime de deserção; f. considerada desertora e capturada ou apresentada, tendo sido submetida a exame de saúde, for julgada incapaz definitivamente para o serviço policial-militar (SILVA, 2004). A outra modalidade de penalidade exclusiva trata-se da expulsão e será empregada após apuração do comportamento inadequado do militar, através de processo regular, e reporta-se exclusivamente às praças policiais militares (SILVA, 2004). Esta sanção não se destina aos Oficiais, em razão do descrito nas normas disciplinares transcritas a seguir: “Art. 24. A expulsão será aplicada, mediante processo regular, à praça que atentar contra a segurança das instituições nacionais ou praticar atos desonrosos ou ofensivos ao decoro profissional”. “Artigo 48 - A expulsão será aplicada, em regra, quando a praça policial-militar, independentemente da graduação ou função que ocupe, for condenado judicialmente por crime que também constitua infração disciplinar grave e que denote incapacidade moral para a continuidade do exercício de suas funções”. 4.1 Competência para Aplicação das Sanções Admistrativas Exclusivas. Como é cediço, a competência para julgamento e aplicação das penalidades disciplinares são ligadas compulsoriamente ao cargo, função ou posto das autoridades, tanto que o legislador complementar não só elencou quem possui estas atribuições, como também limitou-as, descrevendo os tipos de sanções administrativas, sua dosimetria e apresentou os subordinados que poderão ser sujeitos passivos das medidas repressivas disciplinares (SILVA, 2004). O Estatuto Disciplinar Militar Estadual Paulista evidencia os seguintes artigos que melhor elucidarão a temática acima discutida: “Artigo 31 - A competência disciplinar é inerente ao cargo, função ou posto, sendo autoridades competentes para aplicar sanção disciplinar”: I - o Governador do Estado: a todos os militares do Estado sujeitos a este Regulamento; II - o Secretário da Segurança Pública e o Comandante Geral: a todos os militares do Estado sujeitos a este Regulamento, exceto ao Chefe da Casa Militar; (...). “Artigo 32 - O Governador do Estado é 10 competente para aplicar todasas sanções disciplinares previstas neste Regulamento, cabendo às demais autoridades as seguintes competências”: I - ao Secretário da Segurança Pública e ao Comandante Geral: todas as sanções disciplinares exceto a demissão de oficiais; (...). Claro fica que compete ao Governador do Estado infligir todas as modalidades administrativas de penalidades disciplinares previstas aos militares estaduais sujeitos ao Regulamento em comento. Ao Secretário de Segurança Pública e ao Comandante Geral, outrossim, cabe a aplicação de todas sanções disciplinares, em especial a demissão e expulsão, com exceção ao instituto repressivo demissório para oficiais (SILVA, 2004). O Comandante Geral da Polícia Militar em virtude de ser a primeira autoridade competente a julgar a transgressão disciplinar, passível de sanção administrativa exclusiva cometida por Praça PM, aplica-a nos estritos termos da legislação pertinente, reforçando assim, os princípios basilares da hierarquia e disciplina e sua autoridade interna (SILVA, 2004). 4.2 Da Inadmissibilidade de Recurso Administrativo. Da decisão final do Comandante Geral nos processos regulares e administrativos disciplinares que objetivam a demissão ou expulsão de Praças, não cabem recursos administrativos pré-estabelecidos, nem os previstos para outras sanções disciplinares, como a reconsideração de ato e o recurso hierárquico (SILVA, 2004). O legislador complementar na Lei nº 893/01 aponta uma única exceção prevista na Constituição Estadual Paulista que aproveita o militar estadual demitido por ato administrativo, todavia absolvido na justiça, após ter sido acusado pelo mesmo comportamento infracional, ou seja, dupla apenação pelo mesmo fato. Esta previsão legal, com redação dada pela Lei Complementar nº 915/02, esta consubstanciada nos seguintes termos: “Artigo 83 - Recebidos os autos, o Comandante Geral, dentro do prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, fundamentado seu despacho, emitirá a decisão final, da qual não caberá recurso, salvo na hipótese do que dispõe o § 3º do artigo 138 da Constituição do Estado.”; II - o parágrafo único do artigo 84: “Artigo 84 - 11 Parágrafo único - Recebido o processo, o Comandante Geral emitirá a decisão final, da qual não caberá recurso, salvo na hipótese do que dispõe o § 3º do artigo 138 da Constituição do Estado (SILVA, 2004).” 4.3 Dos Recursos Possíveis O ato administrativo exclusivo poderá ser contestado pelo militar, requerendo um pronunciamento da autoridade que o excluiu, por meio de um simples pedido de reconsideração, exercitando, destarte, o seu direito de petição, entretanto, sem o efeito suspensivo (SILVA, 2004). Outra hipótese, no entanto, resta ao militar que se considera lesado em seu direito de recurso, vez que o interessado poderá socorrer-se da via judicial para a reparação de eventual ilegalidade patenteada na decisão final do ato administrativo exclusivo. Idealizando ver reconhecida a inconstitucionalidade da não previsão de recursos no Código Disciplinar, vários defensores sustentam a tese de que estaria sendo violado o duplo grau de jurisdição (SILVA, 2004). A visão institucional de que o ato administrativo capital assinado pelo seu Dirigente Maior, decisão irrecorrível no âmbito administrativo, que reforça o princípio da hierarquia militar, já encontra eco nos entendimentos de magistrados e tribunais, principalmente, na questão do tema do duplo grau de jurisdição administrativa, como afirma a douta Juíza de Direito - Isabel Cristina Almada, em sentença proferida em 6 de agosto de 2003: 4.4 Persecução Criminal A persecução criminal, no Direito Penal e Processual Militar, na fase indiciária é exercida pela Polícia Judiciária Militar, através do inquérito policial militar (IPM), de auto de prisão em flagrante (APF), ou de procedimento administrativo de investigação criminal (PDIC) realizado pelo Ministério Público Militar. Na fase judicial é exercida pelos órgãos judiciais competentes, que são os Conselhos de Justiça (Permanente e 12 Especial), em primeira instância, e pelo Superior Tribunal Militar, na segunda instância, através do devido processo penal (ordinário e especial). 5 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR Fonte: mensagenscomamor.com A mera condição da vítima e do agressor não tem a virtude de acionar a competência da Justiça Militar (STF, 2019). O cometimento de delito por agente militar contra vítima militar somente desafia a competência da Justiça Castrense nos casos em que houver vínculo direto com o desempenho da atividade militar. Portanto, a subtração – no interior da caserna, durante o serviço de guarda da organização militar– do cartão magnético e da senha bancária da vítima pelo paciente, ambos militares, enseja a aplicação do art. 9º, II, a, do Código Penal Militar (CPM) e desperta a competência da Justiça Castrense para processar e julgar o crime de furto (CPM, art. 2404). 13 Compete à Justiça Castrense o julgamento de ação penal destinada a apurar crime cometido por agente militar contra vítima também militar, desde que haja vínculo direto com o desempenho de atividade militar (STF, 2019). Embora “a mera condição da vítima e do agressor não tenha a virtude de acionar a competência da Justiça Militar”, na hipótese em que a condição de militar ostentada pelo paciente e pela vítima não seja o único liame existente com as Forças Armadas, a ratificação da competência da Justiça Castrense para processamento e julgamento da ação penal de origem é medida que se impõe, nos termos do art. 9º, II, a, do Código Penal Militar (CPM). Nessas condições, mesmo em se tratando de crime militar impróprio, atinge-se não somente a vítima, mas vulnera-se, “sobretudo, a disciplina militar, traduzida na rigorosa observância e no acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam o organismo militar”. Diante disso, é aplicável esse entendimento na hipótese em que os militares, no momento do crime, estavam em atividade no interior da caserna, e o paciente, tendo consciência de que a vítima era militar e se encontrava em serviço, aproveitou-se da condição de também ser militar para subtrair com maior facilidade patrimônio que estava guardado no armário do colega de farda (STF, 2019). É inadmissível a extinção da punibilidade em virtude da prescrição da pretensão punitiva em perspectiva 1 e 2, inclusive para crimes militares (STF, 2019). A aplicação de causa de extinção da punibilidade não prevista em lei e em aberto contraste com as hipóteses expressamente previstas impede a cognição do fato pelo Poder Judiciário, mediante juízo prévio de culpa – pressuposta à pretensão punitiva –, 14 sem observância do devido processo legal. Subtrai-se ao acusado a possibilidade de provar sua inocência ou a inviabilidade da ação penal (STF, 2019). E, mais. Admitir prescrição em perspectiva conduz a situação em que se veem discutidas questões relacionadas à aplicação da pena (como os requisitos do art. 59), que são ulteriores à comprovação da autoria e da materialidade, com a consequente necessidade de instrução probatória. Inverte-se a lógica do processo, com antecipação hipotética de culpa do acusado (STF, 2019). Dessa forma, há ofensa aos princípios do contraditório, da ampla defesa, da presunção de inocência, da universalidade da jurisdição e da legalidade, todos os quais são cláusulas elementares do devido processo legal. Além da ausência de previsão legal da figura, admitir-se a prescrição virtual ou antecipada constitui ofensa aos princípios constitucionais do contraditório, da ampla defesa, da presunção de inocência, da universalidade da jurisdição e da legalidade, todos os quais são cláusulas elementares do devido processo legal (STF, 2019). Compete à Justiça Militar processar e julgar civil acusado da prática de saque de benefício previdenciáriomilitar após o falecimento do beneficiário (STF, 2019). O Código Penal Militar (CPM) considera crime militar aquele praticado por civil contra o patrimônio sob a administração militar, nos termos do art. 9º, III, a, do CPM5. Apesar disso, a compatibilidade do julgamento de civil pela Justiça Militar da União com a Constituição Federal pende de análise pelo Supremo Tribunal Federal em dois casos sobre o tema (STF, 2019). O caso presente, no entanto, não debate a questão do ponto de vista constitucional. Limita-se à alegação de que o fato não se enquadraria como crime militar, de acordo com os parâmetros da lei. Nesses limites, deve ser aplicada a jurisprudência atualmente dominante, sem necessidade de aguardar o pronunciamento do Plenário (STF, 2019). 15 5.1 Questões Prejudiciais. Se o reconhecimento da existência ou não de crime militar depender de resolução de questão prejudicial heterogênea em outro processo, é possível o sobrestamento da causa pela Justiça Castrense (STF, 2019). O art. 124 do Código de Processo Penal Militar (CPPM) estabelece, entre outras disposições, que o juiz poderá suspender o processo e aguardar a solução pelo juízo cível de questão prejudicial que não se relacione com o estado civil das pessoas, desde que tenha sido proposta ação civil para dirimi-la (STF, 2019). Ademais, o art. 125 do Código Penal Militar (CPM) dispõe que a prescrição da ação penal se regula pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime e não corre enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime. Assim, não há risco de prescrição penal, porque incidente causa a obstar o lapso prescricional, de forma que, mesmo na hipótese de insucesso definitivo do processo de natureza civil na Justiça Federal comum, a pretensão punitiva do Estado estará preservada (STF, 2019). 6 DO INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL Fonte: br.depositphotos.com 16 Não é possível determinar compulsoriamente o incidente de insanidade mental na hipótese em que a defesa se oponha à sua realização (STF, 2019). O incidente, que subsidiará o juiz na decisão sobre a culpabilidade ou não do réu, é prova pericial constituída em favor da defesa (STF, 2019). No Código Penal Militar (CPM), assim como no Código Penal (CP), adotou-se o critério biopsicológico para a análise da inimputabilidade do acusado. Para a conduta do réu não ser considerada culpável, portanto crime, é necessário: a) ter ele doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado; e b) ser absoluta sua incapacidade de, ao tempo da ação ou da omissão, entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (STF, 2019). A circunstância de o agente ter doença mental provisória ou definitiva, ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (critério biológico), não é suficiente para ele ser considerado penalmente inimputável, sem análise específica dessa condição para aplicação da legislação penal (STF, 2019). Para demonstrar-se ser o acusado penalmente inimputável, é imprescindível a realização do exame de insanidade mental, quando os médicos-peritos poderão examiná-lo para atestar sua capacidade, ou não, de entender o caráter ilícito dos fatos ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (critério psicológico) na época em que praticados, devido à existência de doença mental ou ao desenvolvimento mental incompleto ou retardado (STF, 2019). Após o exame, o juízo de primeiro grau poderá, de acordo com o resultado da perícia, tomar uma das decisões previstas nos arts. 1603 e 1614 do Código de Processo Penal Militar (CPPM). Realizado o exame incidental e constatado ser o acusado inimputável, deverá ser impropriamente absolvido, com a aplicação de medida de segurança pela existência de causa de isenção da pena. Na hipótese de ser semi-imputável e comprovados os demais requisitos, impõe-se a condenação, fazendo-se incidir atenuação da pena 17 aplicada. Se comprovada a imputabilidade, responderá normalmente pelo crime cometido (STF, 2019). Não bastam a apresentação de “laudo médico, atestando, de forma categórica, no sentido de que o réu-paciente apresentou reação aguda ao estresse, no qual desenvolveu período de agressividade seguido de amnésia parcial e temporária”, ou a afirmação de que “o paciente é uma pessoa sã mentalmente que apenas no dia dos fatos, teve um apagão com perda temporária de memória, devido ao alto estresse, em razão do processo de separação com sua esposa”, para o juízo penal militar reconhecer, ou não, a inimputabilidade ou semi-imputabilidade do paciente (STF, 2019). Se pretendida pela defesa alguma utilidade na alegação de o paciente ter sofrido “apagão com perda temporária de memória, devido ao alto estresse”, a ação deve continuar regularmente para ultimar-se o exame determinado pelo Conselho Especial de Justiça da Segunda Auditoria da Primeira Circunscrição Judiciária Militar, pois fundamentada a dúvida sobre a sanidade mental do paciente à época dos fatos para a instauração do incidente (STF, 2019). 7 CITAÇÃO, INTIMAÇÃO E NOTIFICAÇÃO Fonte: istockphoto.com 18 É válida a expedição de carta precatória para o interrogatório de réu solto, aplicando-se, subsidiariamente, a legislação instrumental comum (STF, 2019). O Código de Processo Penal Militar (CPPM) não dispõe expressamente sobre a possibilidade de interrogatório por meio de carta precatória. O art. 277, II, do CPPM1 prevê sua expedição apenas para a citação do acusado. Como não há vedação ao uso de carta precatória, é viável a aplicação subsidiária do Código de Processo Penal (CPP) quando cabível no caso concreto e sem prejuízo da índole do processo penal militar (STF, 2019). A atenuante de pena prevista no art. 65, III, d, do Código Penal (CP) exige apenas a espontaneidade da confissão. No entanto, em virtude do critério da especialidade, não incide nos crimes militares (STF, 2019). No Código Penal Militar (CPM), a confissão espontânea é tratada de forma diferente e mais rigorosa. Assim, o acusado de crime militar só terá direito à atenuante prevista no CP comum se a autoria for ignorada ou se o delito for imputado a outra pessoa. 8 ATOS PROBATÓRIOS O disposto no art. 400 do Código de Processo Penal (CPP) sobre o momento do interrogatório do acusado não se aplica ao processo-crime militar (STF, 2019). Prevalece o previsto no art. 302 do Código de Processo Penal Militar (CPPM) ante o princípio da especialidade (BRASIL, 1969). CPP: “Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como os esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. ” 19 CPPM: “Art. 302. O acusado será qualificado e interrogado num só ato, no lugar, dia e hora designados pelo juiz, após o recebimento da denúncia; e, se presente à instrução criminal ou preso, antes de ouvidas as testemunhas”. A exigência de realização de interrogatório do acusado ao final da instrução criminal, prevista no art. 400 do Código de Processo Penal (CPP), na redação dada pela Lei 11.719/2008, aplica-se ao processo penal militar, ao processo penal eleitoral e a todos os procedimentos penais regidos por legislação especial (STF, 2019). A Lei 11.719/2008 adequou o sistema acusatório democrático, integrando-o de forma mais harmoniosa aos preceitos constitucionais da Carta da República de 1988. Isso assegurou maior efetividade aos princípios constitucionais, notadamente, os do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV4). O interrogatório judicial,após o advento da Lei 10.792/2003, é expressão instrumental do próprio direito de defesa do acusado. Representa meio viabilizador do exercício das prerrogativas constitucionais da plenitude de defesa e do contraditório6, ainda que passível de ser considerado, mesmo em perspectiva secundária, como fonte de prova, em face dos elementos de informação que dele emergem (STF, 2019). Nesse contexto, em detrimento do princípio da especialidade, a regra do art. 400 do CPP, na redação dada pela Lei 11.719/2008, prepondera por ser mais benéfica e consentânea com a Constituição Federal (CF). Além disso, sua observância não traz prejuízo à instrução nem ao princípio da paridade de armas entre acusação e defesa (STF, 2019). Não se aplica a Lei 11.719/ 2008 ao interrogatório ocorrido em data anterior à sua publicação (20-6-2008). 20 Em observância ao princípio do tempus regit actum Código de Processo Penal (CPP), art. 2º, a nova legislação não pode ser aplicada aos atos processuais praticados antes de sua entrada em vigor. Nesse sentido, ainda que o interrogatório do acusado tenha ocorrido antes da oitiva das testemunhas, não é possível cogitar de constrangimento ou ilegalidade porque realizado um ano antes da vigência da Lei 11.719/2008. Para os casos sujeitos à jurisdição militar, prevalece a norma processual penal militar, de modo que é incabível a aplicação do rito previsto no art. 400 do Código de Processo Penal (CPP), com a redação trazida pela Lei 11.719/2008. Logo, não há que falar em afastamento do art. 302 do Código de Processo Penal Militar (CPPM). Não se pode mesclar o regime penal comum e o castrense, de modo a selecionar o que cada um tem de mais favorável ao acusado. Deve ser reverenciada a especialidade da legislação processual penal militar e da Justiça Castrense, sem a submissão à legislação processual penal comum do crime militar devidamente caracterizado. Portanto, inviável a realização do interrogatório ao fim da instrução criminal (STF, 2019). É ilegal ato de juiz-auditor militar que deixa de receber, distribuir e apreciar pedido de arquivamento de procedimento investigatório criminal instaurado por Procuradoria de Justiça Militar (STF, 2019). Essa conduta, ainda que baseada em portaria da própria auditoria, viola o art. 397 do Código de Processo Penal Militar (CPPM), o qual versa sobre a possibilidade de submissão da decisão de arquivamento ao crivo do Poder Judiciário. Em observância ao princípio da legalidade, não subsiste portaria de teor contrário à norma contida no CPPM (STF, 2019). 21 Diante de pedido de arquivamento, cabe ao juiz-auditor a adoção de duas possíveis condutas: anuir com o arquivamento proposto ou, discordando da fundamentação apresentada, remeter o processo ao procurador-geral (STF, 2019). A recusa em dar andamento ao pleito de trancamento consagra inaceitável abandono do controle jurisdicional a ser exercido no tocante ao princípio da obrigatoriedade da ação penal. Não se pode admitir que argumentos pragmáticos, como aqueles ligados ao volume de trabalho, afastem o devido processo legal (STF, 2019). A correição parcial não pode ser usada como substituta de ação rescisória (STF, 2019). A correição de processos findos só é possível para verificar eventuais irregularidades ou falhas administrativas a serem corrigidas pela Justiça Militar. Nesse sentido, não cabe usá-la, por representação de juiz-auditor corregedor, para rever decisão – coberta pelo manto da coisa julgada – extintiva de punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva ou executória estatal (STF, 2019). “A coisa julgada, seja formal ou material conforme o fundamento da decisão, impede que a inércia da parte, no caso, o MPM, seja suprida pelo órgão judiciário legitimado para proceder à correição parcial”. O prazo recursal para o Ministério Público é contado da entrega dos autos com vista ao departamento administrativo incumbido de recebê-los, e não da deliberada aposição do “ciente” do membro do Ministério Público ou da distribuição interna dos autos (STF, 2019). 22 Do contrário, deixar-se-ia à disposição do Ministério Público, enquanto parte na ação penal, a discricionariedade – incompatível com a paridade de armas entre acusação e defesa – de deliberar, quando melhor lhe aprouver, sobre a fixação do termo inicial do prazo para se desincumbir de certo ônus processual (STF, 2019). Nesse sentido, no âmbito do processo penal militar, o prazo de cinco dias para a correição parcial é contado entre a conclusão dos autos do inquérito arquivado ao juiz- auditor e o protocolo no Superior Tribunal Militar (STF, 2019). 9 DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR Fonte: macauantigo.blogspot.com.br A polícia judiciária militar é exercida nos termos do art. 8º, pelas seguintes autoridades, conforme as respectivas jurisdições: a) pelos ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, em todo o território nacional e fora dele, em relação às forças e órgãos que constituem seus Ministérios, bem como a militares que, neste caráter, desempenhem missão oficial, permanente ou transitória, em país estrangeiro. http://macauantigo.blogspot.com.br/2013_01_01_archive.html 23 b) pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, em relação a entidades que, por disposição legal, estejam sob sua jurisdição. c) pelos chefes de Estado-Maior e pelo secretário-geral da Marinha, nos órgãos, forças e unidades que lhes são subordinados. d) pelos comandantes de Exército e pelo comandante-chefe da Esquadra, nos órgãos, forças e unidades compreendidos no âmbito da respectiva ação de comando; e) pelos comandantes de Região Militar, Distrito Naval ou Zona Aérea, nos órgãos e unidades dos respectivos territórios. f) pelo secretário do Ministério do Exército e pelo chefe de Gabinete do Ministério da Aeronáutica, nos órgãos e serviços que lhes são subordinados. g) pelos diretores e chefes de órgãos, repartições, estabelecimentos ou serviços previstos nas leis de organização básica da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; h) pelos comandantes de forças, unidades ou navios. Na delegação do exercício deve ser obedecida as normas regulamentares de jurisdição, hierarquia e comando, as atribuições enumeradas neste artigo poderão ser delegadas a oficiais da ativa, para fins especificados e por tempo limitado (BRASIL, 1996). Em se tratando de delegação para instauração de inquérito policial militar, deverá aquela recair em oficial de posto superior ao do indiciado, seja este oficial da ativa, da reserva, remunerada ou não, ou reformado (BRASIL, 1996). Não sendo possível a designação de oficial de posto superior ao do indiciado, poderá ser feita a de oficial do mesmo posto, desde que mais antigo. Se o indiciado é oficial da reserva ou reformado, não prevalece, para a delegação, a antiguidade de posto. 9.1 Competência Da Polícia Judiciária Militar. Compete à Polícia judiciária militar: a) apurar os crimes militares, bem como os que, por lei especial, estão sujeitos à jurisdição militar, e sua autoria; 24 b) prestar aos órgãos e juízes da Justiça Militar e aos membros do Ministério Público as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos, bem como realizar as diligências que por eles lhe forem requisitadas; c) cumprir os mandados de prisão expedidos pela Justiça Militar; d) representar a autoridades judiciárias militares acerca da prisão preventiva e da insanidade mental do indiciado; e) cumprir as determinações da Justiça Militar relativas aos presos sob sua guarda e responsabilidade, bem como as demais prescrições deste Código, nesse sentido; f) solicitar das autoridades civis as informações e medidas que julgar úteis à elucidação das infrações penais, que esteja a seu cargo; g) requisitar da polícia civil e das repartições técnicas civis as pesquisase exames necessários ao complemento e subsídio de inquérito policial militar; h) atender, com observância dos regulamentos militares, a pedido de apresentação de militar ou funcionário de repartição militar à autoridade civil competente, desde que legal e fundamentado o pedido. A competência para o processamento e julgamento dos crimes militares (art. 9º do Código Penal Militar), quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, para a Justiça Comum. Contudo, ressalvou o referido texto legal em seu art. 82, § 2º que: “nos crimes dolosos contra a vida, praticado contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum” (BRASIL, 1996). Mais tarde, a Emenda Constitucional n. 45, publicada no DOU em 31 de dezembro de 2004, confirmou a retirada da competência da Justiça Militar Estadual para o processamento e julgamento dos crimes militares quando dolosos contra a vida de civil, in verbis: 25 10 DA AÇÃO PENAL MILITAR E DO SEU EXERCÍCIO Fonte: istockphoto.com A ação penal é pública e somente pode ser promovida por denúncia do Ministério Público Militar. A denúncia deve ser apresentada sempre que houver: a) prova de fato que, em tese, constitua crime; b) indícios de autoria. 10.1 Dependência de requisição do Governo Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141 do Código Penal Militar, a ação penal; quando o agente for militar ou assemelhado, depende de requisição, que será feita ao procurador-geral da Justiça Militar, pelo Ministério a que o agente estiver subordinado; no caso do art. 141 do mesmo Código, quando o agente for civil e não houver co-autor militar, a requisição será do Ministério da Justiça (BRASIL, 1969). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1001.htm#art136 26 10.2 Comunicação ao procurador-geral da República Sem prejuízo dessa disposição, o procurador-geral da Justiça Militar dará conhecimento ao procurador-geral da República de fato apurado em inquérito que tenha relação com qualquer dos crimes referidos neste artigo (BRASIL, 1969). 10.3 Proibição de existência da denúncia Apresentada a denúncia, o Ministério Público não poderá desistir da ação penal. 10.4 Exercício do direito de representação Qualquer pessoa, no exercício do direito de representação, poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, dando-lhe informações sobre fato que constitua crime militar e sua autoria, e indicando-lhe os elementos de convicção (BRASIL, 1969). 10.5 Informações As informações, se escritas, deverão estar devidamente autenticadas; se verbais, serão tomadas por termo perante o juiz, a pedido do órgão do Ministério Público, e na presença deste. 10.6 Requisição de diligências Se o Ministério Público as considerar procedentes, dirigir-se-á à autoridade policial militar para que esta proceda às diligências necessárias ao esclarecimento do fato, instaurando inquérito, se houver motivo para esse fim (BRASIL, 1969). 27 11 DO PROCESSO PENAL MILITAR EM GERAL Fonte: jomoraes.com.br 11.1 Direito de ação e defesa O direito de ação é exercido pelo Ministério Público, como representante da lei e fiscal da sua execução, e o de defesa pelo acusado, cabendo ao juiz exercer o poder de jurisdição, em nome do Estado (BRASIL, 1969). 11.2 Relação processual O processo inicia-se com o recebimento da denúncia pelo juiz, efetiva-se com a citação do acusado e extingue-se no momento em que a sentença definitiva se torna irrecorrível, quer resolva o mérito, quer não (BRASIL, 1969). 28 11.3 Casos de suspensão O processo suspende-se ou extingue-se nos casos previstos neste Código. 11.4 Do juiz, auxiliares e partes do processo Função do juiz: O juiz proverá a regularidade do processo e a execução da lei, e manterá a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força militar (BRASIL, 1969). Independência da função: No exercício das suas atribuições, o juiz não deverá obediência senão, nos termos legais, à autoridade judiciária que lhe é superior. Impedimento para exercer a jurisdição: O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que: a) como advogado ou defensor, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar de justiça ou perito, tiver funcionado seu cônjuge, ou parente consanguíneo ou afim até o terceiro grau inclusive; b) ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha; c) tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão; d) Ele próprio ou seu cônjuge, ou parente consanguíneo ou afim, até o terceiro grau inclusive, for parte ou diretamente interessado. Inexistência de atos: Serão considerados inexistentes os atos praticados por juiz impedido, nos termos deste artigo. Casos de suspeição do juiz: O juiz dar-se-á por suspeito e, se o não fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes: 29 a) se for amigo íntimo ou inimigo de qualquer delas; b) se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, de um ou de outro, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia; c) se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim até o segundo grau inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; d) se ele, seu cônjuge, ou parente, a que alude a alínea anterior, sustentar demanda contra qualquer das partes ou tiver sido procurador de qualquer delas; e) se tiver dado parte oficial do crime; f) se tiver aconselhado qualquer das partes; g) se ele ou seu cônjuge for herdeiro presuntivo, donatário ou usufrutuário de bens ou empregador de qualquer das partes; h) se for presidente, diretor ou administrador de sociedade interessada no processo; i) se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes. Suspeição entre adotante e adotado: A suspeição entre adotante e adotado será considerada nos mesmos termos da resultante entre ascendente e descendente, mas não se estenderá aos respectivos parentes e cessará no caso de se dissolver o vínculo da adoção (BRASIL, 1969). Suspeição por afinidade: A suspeição ou impedimento decorrente de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do casamento que lhe deu causa, salvo sobrevindo descendentes. Mas, ainda que dissolvido o casamento, sem descendentes, não funcionará como juiz o parente afim em primeiro grau na linha ascendente ou descendente ou em segundo grau na linha colateral, de quem for parte do processo (BRASIL, 1969). Suspeição provocada: A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz, ou de propósito der motivo para criá-la. 30 11.5 DAS PARTES Ministério Público: O Ministério Público é o órgão de acusação no processo penal militar, cabendo ao procurador-geral exercê-la nas ações de competência originária no Superior Tribunal Militar e aos procuradores nas ações perante os órgãos judiciários de primeira instância (BRASIL, 1969). Pedido de absolvição: A função de órgão de acusação não impede o Ministério Público de opinar pela absolvição do acusado, quando entender que, para aquele efeito, existem fundadas razões de fato ou de direito (BRASIL, 1969). Fiscalização e função especial do Ministério Público: Cabe ao Ministério Público fiscalizar o cumprimento da lei penal militar, tendo em atenção especial o resguardo das normas de hierarquia e disciplina, como bases da organização das Forças Armadas (BRASIL, 1969). Independência do Ministério Público: O Ministério Público desempenhará as suas funções de natureza processual sem dependência a quaisquer determinações que não emanem de decisão ou despacho da autoridade judiciária competente, no uso de atribuição prevista neste Código e regularmente exercida, havendono exercício das funções recíproca independência entre os órgãos do Ministério Público e os da ordem judiciária (BRASIL, 1969). Subordinação direta ao procurador-geral: Os procuradores são diretamente subordinados ao procurador-geral. Impedimentos: Não pode funcionar no processo o membro do Ministério Público: a) se nele já houver intervindo seu cônjuge ou parente consanguíneo ou afim, até o terceiro grau inclusive, como juiz, defensor do acusado, autoridade policial ou auxiliar de justiça; 31 b) se ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções; c) se ele próprio ou seu cônjuge ou parente consanguíneo ou afim, até o terceiro grau inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito. Suspeição: Ocorrerá a suspeição do membro do Ministério Público: a) se for amigo íntimo ou inimigo do acusado ou ofendido; b) se ele próprio, seu cônjuge ou parente consanguíneo ou afim, até o terceiro grau inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado pelo acusado ou pelo ofendido; c) se houver aconselhado o acusado; d) se for tutor ou curador, credor ou devedor do acusado; e) se for herdeiro presuntivo, ou donatário ou usufrutuário de bens, do acusado ou seu empregador; f) se for presidente, diretor ou administrador de sociedade ligada de qualquer modo ao acusado. Aplicação extensiva de disposição: Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto nos arts. 39, 40 e 41. Assistente - Habilitação do ofendido como assistente: O ofendido, seu representante legal e seu sucessor podem habilitar-se a intervir no processo como assistentes do Ministério Público. Representante e sucessor do ofendido: Para os efeitos deste artigo, considera-se representante legal o ascendente ou descendente, tutor ou curador do ofendido, se menor de dezoito anos ou incapaz; e sucessor, o seu ascendente, descendente ou irmão, podendo qualquer deles, com exclusão dos demais, exercer o encargo, ou constituir advogado para esse fim, em atenção à ordem estabelecida neste parágrafo, cabendo ao juiz a designação se entre eles não houver acordo (BRASIL, 1969). 32 Competência para admissão do assistente: Cabe ao juiz do processo, ouvido o Ministério Público, conceder ou negar a admissão de assistente de acusação. Oportunidade da admissão: O assistente será admitido enquanto não passar em julgado a sentença e receberá a causa no estado em que se achar. Advogado de ofício como assistente: Pode ser assistente o advogado da Justiça Militar, desde que não funcione no processo naquela qualidade ou como procurador de qualquer acusado. Ofendido que for também acusado: O ofendido que for também acusado no mesmo processo não poderá intervir como assistente, salvo se absolvido por sentença passada em julgado, e daí em diante (BRASIL, 1969). Intervenção do assistente no processo: Ao assistente será permitido, com aquiescência do juiz e ouvido o Ministério Público: a) propor meios de prova; b) requerer perguntas às testemunhas, fazendo-o depois do procurador; c) apresentar quesitos em perícia determinada pelo juiz ou requerida pelo Ministério Público; d) juntar documentos; e) arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público; f) participar do debate oral. Arrolamento de testemunhas e interposição de recursos: Não poderá arrolar testemunhas, exceto requerer o depoimento das que forem referidas, nem requerer a expedição de precatória ou rogatória, ou diligência que retarde o curso do processo, salvo, a critério do juiz e com audiência do Ministério Público, em se tratando de apuração de fato do qual dependa o esclarecimento do crime. Não poderá, igualmente, 33 impetrar recursos, salvo de despacho que indeferir o pedido de assistência (BRASIL, 1969). Efeito do recurso: O recurso do despacho que indeferir a assistência não terá efeito suspensivo, processando-se em autos apartados. Se provido, o assistente será admitido ao processo no estado em que este se encontrar (BRASIL, 1969). Assistente em processo perante o Superior Tribunal Militar: Caberá ao relator do feito, em despacho irrecorrível, após audiência do procurador-geral, admitir ou não o assistente, em processo da competência originária do Superior Tribunal Militar. Nos julgamentos perante esse Tribunal, se o seu presidente consentir, o assistente poderá falar após o procurador-geral, por tempo não superior a dez minutos. Não poderá opor embargos, mas lhe será consentido impugná-los, se oferecidos pela defesa, e depois de o ter feito o procurador-geral (BRASIL, 1969). Notificação do assistente: O processo prosseguirá independentemente de qualquer aviso ao assistente, salvo notificação para assistir ao julgamento. Cassação de assistência: O juiz poderá cassar a admissão do assistente, desde que este tumultue o processo ou infrinja a disciplina judiciária. Não decorrência de impedimento: Da assistência não poderá decorrer impedimento do juiz, do membro do Ministério Público ou do escrivão, ainda que supervenientes na causa. Neste caso, o juiz cassará a admissão do assistente, sem prejuízo da nomeação de outro, que não tenha impedimento, nos termos do art. 60 (BRASIL, 1969). 11.6 Do acusado, seus defensores e curadores Personalidade do acusado: Considera-se acusado aquele a quem é imputada a prática de infração penal em denúncia recebida. 34 Identificação do acusado: A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará o processo, quando certa sua identidade física. A qualquer tempo, no curso do processo ou da execução da sentença, far-se-á a retificação, por termo, nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes (BRASIL, 1969). Nomeação obrigatória de defensor: Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. Constituição de defensor: A constituição de defensor independerá de instrumento de mandado, se o acusado o indicar por ocasião do interrogatório ou em qualquer outra fase do processo por termo nos autos (BRASIL, 1969). Defensor dativo: O juiz nomeará defensor ao acusado que o não tiver, ficando a este ressalvado o direito de a todo o tempo, constituir outro, de sua confiança (BRASIL, 1969). Defesa própria do acusado: A nomeação de defensor não obsta ao acusado o direito de a si mesmo defender-se, caso tenha habilitação; mas o juiz manterá a nomeação, salvo recusa expressa do acusado, a qual constará dos autos (BRASIL, 1969). Nomeação preferente de advogado: É salvo motivo relevante, obrigatória a aceitação do patrocínio da causa, se a nomeação recair em advogado. Defesa de praças: As praças serão defendidas pelo advogado de ofício, cujo patrocínio é obrigatório, devendo preferir a qualquer outro. Proibição de abandono do processo: O defensor não poderá abandonar o processo, senão por motivo imperioso, a critério do juiz (BRASIL, 1969). 35 Sanções no caso de abandono do processo: No caso de abandono sem justificativa, ou de não ser esta aceita, o juiz, em se tratando de advogado, comunicará o fato à Seção da Ordem dos Advogados do Brasil onde estiver inscrito, para que a mesma aplique as medidas disciplinares que julgar cabíveis. Em se tratando de advogado de ofício, o juiz comunicará o fato ao presidente do Superior Tribunal Militar, que aplicará ao infrator a punição que no caso couber (BRASIL, 1969). Nomeação de curador: O juiz dará curador ao acusado incapaz (BRASIL, 1969). Prerrogativa do posto ou graduação: O acusado que for oficial ou graduado não perderá, embora sujeito à disciplina judiciária, as prerrogativas do posto ou graduação. Se preso ou compelido a apresentar-se em juízo, por ordem da autoridade judiciária, será acompanhado por militar de hierarquiasuperior à sua (BRASIL, 1969). Em se tratando de praça que não tiver graduação, será escoltada por graduado ou por praça mais antiga. Não comparecimento de defensor: A falta de comparecimento do defensor, se motivada, adiará o ato do processo, desde que nele seja indispensável a sua presença. Mas, em se repetindo a falta, o juiz lhe dará substituto para efeito do ato, ou, se a ausência perdurar, para prosseguir no processo (BRASIL, 1969). Direitos e deveres do advogado: No exercício da sua função no processo, o advogado terá os direitos que lhe são assegurados e os deveres que lhe são impostos pelo Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, salvo disposição em contrário, expressamente prevista neste Código (BRASIL, 1969). Impedimentos do defensor: Não poderá funcionar como defensor o cônjuge ou o parente consanguíneo ou afim, até o terceiro grau inclusive, do juiz, do membro do Ministério Público ou do escrivão. Mas, se em idênticas condições, qualquer destes for 36 superveniente no processo, tocar-lhe-á o impedimento, e não ao defensor, salvo se dativo, caso em que será substituído por outro (BRASIL, 1969). 12 DA DENÚNCIA Fonte: br.freepik.com Requisitos da Denúncia: a) a designação do juiz a que se dirigir; b) o nome, idade, profissão e residência do acusado, ou esclarecimentos pelos quais possa ser qualificado; c) o tempo e o lugar do crime; d) a qualificação do ofendido e a designação da pessoa jurídica ou instituição prejudicada ou atingida, sempre que possível; e) a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias; f) as razões de convicção ou presunção da delinquência; 37 g) a classificação do crime; h) o rol das testemunhas, em número não superior a seis, com a indicação da sua profissão e residência; e o das informantes com a mesma indicação. Dispensa de testemunhas: O rol de testemunhas poderá ser dispensado, se o Ministério Público dispuser de prova documental suficiente para oferecer a denúncia (BRASIL, 1969). Rejeição de denúncia: A denúncia não será recebida pelo juiz: a) se não contiver os requisitos expressos no artigo anterior; b) se o fato narrado não constituir evidentemente crime da competência da Justiça Militar; c) se já estiver extinta a punibilidade; d) se for manifesta a incompetência do juiz ou a ilegitimidade do acusador. Preenchimento de requisitos: No caso da alínea a o juiz antes de rejeitar a denúncia, mandará, em despacho fundamentado, remeter o processo ao órgão do Ministério Público para que, dentro do prazo de três dias, contados da data do recebimento dos autos, sejam preenchidos os requisitos que não o tenham sido (BRASIL, 1969). Ilegitimidade do acusador: No caso de ilegitimidade do acusador, a rejeição da denúncia não obstará o exercício da ação penal, desde que promovida depois por acusador legítimo, a quem o juiz determinará a apresentação dos autos (BRASIL, 1969). Incompetência do juiz: No caso de incompetência do juiz, este a declarará em despacho fundamentado, determinando a remessa do processo ao juiz competente (BRASIL, 1969). 38 Prazo para oferecimento da denúncia: A denúncia deverá ser oferecida, se o acusado estiver preso, dentro do prazo de cinco dias, contados da data do recebimento dos autos para aquele fim; e, dentro do prazo de quinze dias, se o acusado estiver solto. O auditor deverá manifestar-se sobre a denúncia, dentro do prazo de quinze dias (BRASIL, 1969). Prorrogação de prazo: O prazo para o oferecimento da denúncia poderá, por despacho do juiz, ser prorrogado ao dobro; ou ao triplo, em caso excepcional e se o acusado não estiver preso. Se o Ministério Público não oferecer a denúncia dentro deste último prazo, ficará sujeito à pena disciplinar que no caso couber, sem prejuízo da responsabilidade penal em que incorrer, competindo ao juiz providenciar no sentido de ser a denúncia oferecida pelo substituto legal, dirigindo-se, para este fim, ao procurador-geral, que, na falta ou impedimento do substituto, designará outro procurador. Complementação de esclarecimentos: Sempre que, no curso do processo, o Ministério Público necessitar de maiores esclarecimentos, de documentos complementares ou de novos elementos de convicção, poderá requisitá-los, diretamente, de qualquer autoridade militar ou civil, em condições de os fornecer, ou requerer ao juiz que os requisite (BRASIL, 1969). Extinção da punibilidade: A extinção da punibilidade poderá ser reconhecida e declarada em qualquer fase do processo, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, ouvido o Ministério Público, se deste não for o pedido. Morte do acusado: No caso de morte, não se declarará a extinção sem a certidão de óbito do acusado. 39 O foro militar é especial, e, exceto nos crimes dolosos contra a vida praticados contra civil, a ele estão sujeitos, em tempo de paz (BRASIL, 1969). Pessoas sujeitas ao foro militar: Nos crimes definidos em lei contra as instituições militares ou a segurança nacional: a) os militares em situação de atividade e os assemelhados na mesma situação; b) os militares da reserva, quando convocados para o serviço ativo; c) os reservistas, quando convocados e mobilizados, em manobras, ou no desempenho de funções militares; d) os oficiais e praças das Polícias e Corpos de Bombeiros, militares, quando incorporados às Forças Armadas; Crimes funcionais: Nos crimes funcionais contra a administração militar ou contra a administração da Justiça Militar, os auditores, os membros do Ministério Público, os advogados de ofício e os funcionários da Justiça Militar (BRASIL, 1969). Extensão do foro militar: O foro militar se estenderá aos militares da reserva, aos reformados e aos civis, nos crimes contra a segurança nacional ou contra as instituições militares, como tais definidas em lei. Nos crimes dolosos contra a vida, praticado contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum (BRASIL, 1969). Foro militar em tempo de guerra: O foro militar, em tempo de guerra, poderá, por lei especial, abranger outros casos, além dos previstos no artigo anterior e seu parágrafo. Assemelhado: Considera-se assemelhado o funcionário efetivo, ou não, dos Ministérios da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, submetidos a preceito de disciplina militar, em virtude de lei ou regulamento (BRASIL, 1969). 40 13 DA COMPETÊNCIA EM GERAL Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br Determinação da competência: A competência do foro militar será determinada: I - de modo geral: a) pelo lugar da infração; b) pela residência ou domicílio do acusado; c) pela prevenção; II - de modo especial, pela sede do lugar de serviço. Na Circunscrição Judiciária: Dentro de cada Circunscrição Judiciária Militar, a competência será determinada: a) pela especialização das Auditorias; b) pela distribuição; c) por disposição especial deste Código. 41 Modificação da competência: Não prevalecem os critérios de competência indicados nos artigos anteriores, em caso de: a) conexão ou continência; b) prerrogativa de posto ou função; c) desaforamento. Da competência pelo lugar da infração: A competência será, de regra, determinada pelo lugar da infração; e, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução (BRASIL, 1969). A bordo de navio: Os crimes cometidos a bordo de navio ou embarcação sob comando militar ou militarmente ocupado em porto nacional, nos lagos e rios fronteiriços ou em águas territoriais brasileiras, serão, nos dois primeiros casos, processados na Auditoria da Circunscrição Judiciária correspondente a cada um daqueles lugares; e, no último caso, na 1ª Auditoria da Marinha (BRASIL, 1969). Estado da Guanabara: Os crimes cometidos a bordode aeronave militar ou militarmente ocupada, dentro do espaço aéreo correspondente ao território nacional, serão processados pela Auditoria da Circunscrição em cujo território se verificar o pouso após o crime; e se este se efetuar em lugar remoto ou em tal distância que torne difíceis as diligências, a competência será da Auditoria da Circunscrição de onde houver partido a aeronave, salvo se ocorrerem os mesmos óbices, caso em que a competência será da Auditoria mais próxima da 1ª, se na Circunscrição houver mais de uma (BRASIL, 1969). Crimes fora do território nacional: Os crimes militares cometidos fora do território nacional serão, de regra, processados em Auditoria da Capital da União, observado, entretanto, o disposto no artigo seguinte. 42 Crimes praticados em parte no território nacional: No caso de crime militar somente em parte cometido no território nacional, a competência do foro militar se determina de acordo com as seguintes regras: a) se, iniciada a execução em território estrangeiro, o crime se consumar no Brasil, será competente a Auditoria da Circunscrição em que o crime tenha produzido ou devia produzir o resultado; b) se, iniciada a execução no território nacional, o crime se consumar fora dele, será competente a Auditoria da Circunscrição em que se houver praticado o último ato ou execução. Diversidade de Auditorias ou de sedes: Na Circunscrição onde houver mais de uma Auditoria na mesma sede, obedecer-se-á à distribuição e, se for o caso, à especialização de cada uma. Se as sedes forem diferentes, atender-se-á ao lugar da infração (BRASIL, 1969). Residência ou domicílio do acusado: Se não for conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pela residência ou domicílio do acusado, salvo o disposto no art. 96. Prevenção: A competência firmar-se-á por prevenção, sempre que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com competência cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia (BRASIL, 1969). A competência pela prevenção pode ocorrer: a) quando incerto o lugar da infração, por ter sido praticado na divisa de duas ou mais jurisdições; 43 b) quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições; c) quando se tratar de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições; d) quando o acusado tiver mais de uma residência ou não tiver nenhuma, ou forem vários os acusados e com diferentes residências. Para o militar em situação de atividade ou assemelhado na mesma situação, ou para o funcionário lotado em repartição militar, o lugar da infração, quando este não puder ser determinado, será o da unidade, navio, força ou órgão onde estiver servindo, não lhe sendo aplicável o critério da prevenção, salvo entre Auditorias da mesma sede e atendida a respectiva especialização (BRASIL, 1969). Auditorias Especializadas: Nas Circunscrições onde existirem Auditorias Especializadas, a competência de cada uma decorre de pertencerem os oficiais e praças sujeitos a processo perante elas aos quadros da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica. Como oficiais, para os efeitos deste artigo, se compreendem os da ativa, os da reserva, remunerada ou não, e os reformados (BRASIL, 1969). Militares de corporações diferentes: No processo em que forem acusados militares de corporações diferentes, a competência da Auditoria especializada se regulará pela prevenção. Mas esta não poderá prevalecer em detrimento de oficial da ativa, se os co- réus forem praças ou oficiais da reserva ou reformados, ainda que superiores, nem em detrimento destes, se os co-réus forem praças (BRASIL, 1969). Competência por Distribuição: Quando, na sede de Circunscrição, houver mais de uma Auditoria com a mesma competência, esta se fixará pela distribuição. Juízo prevento pela distribuição: A distribuição realizada em virtude de ato anterior à fase judicial do processo prevenirá o juízo. 44 14 DA JUSTIÇA MILITAR EM TEMPO DE GUERRA Fonte: exame.com Remessa do Inquérito a Justiça: Os autos do inquérito, do flagrante, ou documentos relativos ao crime serão remetidos à Auditoria, pela autoridade militar competente. O prazo para a conclusão do inquérito é de cinco dias, podendo, por motivo excepcional, ser prorrogado por mais três dias (BRASIL, 1969). Nos casos de violência praticada contra inferior para compeli-lo ao cumprimento do dever legal ou em repulsa a agressão, os autos do inquérito serão remetidos diretamente ao Conselho Superior, que determinará o arquivamento, se o fato estiver justificado; ou, em caso contrário, a instauração de processo (BRASIL, 1969). Oferecimento da denúncia o seu conteúdo e regras: Recebidos os autos do inquérito, do flagrante, ou documentos, o auditor dará vista imediata ao procurador que, dentro em vinte e quatro horas, oferecerá a denúncia, contendo: a) o nome do acusado e sua qualificação; b) a exposição sucinta dos fatos; 45 c) a classificação do crime; d) a indicação das circunstâncias agravantes expressamente previstas na lei penal e a de todos os fatos e circunstâncias que devam influir na fixação da pena; e) a indicação de duas a quatro testemunhas. Será dispensado o rol de testemunhas, se a denúncia se fundar em prova documental. Recebimento da denúncia e citação: Recebida a denúncia, mandará o auditor citar incontinenti o acusado e intimar as testemunhas, nomeando-lhe defensor o advogado de ofício, que terá vista dos autos em cartório, pelo prazo de vinte e quatro horas, podendo, dentro desse prazo, oferecer defesa escrita e juntar documentos. O acusado poderá dispensar a assistência de advogado, se estiver em condições de fazer sua defesa (BRASIL, 1969). Julgamento à revelia: O réu preso será requisitado, devendo ser processado e julgado à revelia, independentemente de citação, se se ausentar sem permissão. Instrução criminal: Na audiência de instrução criminal, que será iniciada vinte e quatro horas após a citação, qualificação e interrogatório do acusado, proceder-se-á a inquirição das testemunhas de acusação, pela forma prescrita neste Código. - Em seguida, serão ouvidas até duas testemunhas de defesa, se apresentadas no ato. - As testemunhas de defesa que forem militares poderão ser requisitadas, se o acusado o requerer, e for possível o seu comparecimento em juízo. - Será na presença do escrivão a vista dos autos às partes, para alegações escritas (BRASIL, 1969). Dispensa de comparecimento do réu: É dispensado o comparecimento do acusado à audiência de julgamento, se assim o desejar. Questões preliminares: As questões preliminares ou incidentes, que forem suscitadas, serão resolvidas, conforme o caso, pelo auditor ou pelo Conselho de Justiça. 46 Rejeição da denúncia: Se o procurador não oferecer denúncia, ou se esta for rejeitada, os autos serão remetidos ao Conselho Superior de Justiça Militar, que decidirá de forma definitiva a respeito do oferecimento (BRASIL, 1969). Julgamento de praça ou civil: Sendo praça ou civil o acusado, o auditor procederá ao julgamento em outra audiência, dentro em quarenta e oito horas. O procurador e o defensor terão, cada um, vinte minutos, para fazer oralmente suas alegações. Após os debates orais, o auditor lavrará a sentença, dela mandando intimar o procurador e o réu, ou seu defensor (BRASIL, 1969). Julgamento de oficiais: No processo a que responder oficial até o posto de tenente- coronel, inclusive, proceder-se-á ao julgamento pelo Conselho de Justiça, no mesmo dia da sua instalação. Lavratura da sentença: Prestado o compromisso pelos juízes nomeados, serão lidas pelo escrivão as peças essenciais do processo e, após os debates orais,que não excederão o prazo fixado pelo artigo anterior, passará o Conselho a deliberar em sessão secreta, devendo a sentença ser lavrada dentro do prazo de vinte e quatro horas (BRASIL, 1969). Certidão da nomeação dos juízes militares: A nomeação dos juízes do Conselho constará dos autos do processo, por certidão. O procurador e o acusado, ou seu defensor, serão intimados da sentença no mesmo dia em que esta for assinada (BRASIL, 1969). Suprimento do extrato da fé de ofício ou dos assentamentos: A falta do extrato da fé de ofício ou dos assentamentos do acusado poderá ser suprida por outros meios informativos (BRASIL, 1969). 47 Classificação do crime: Os órgãos da Justiça Militar, tanto em primeira como em segunda instância, poderão alterar a classificação do crime, sem, todavia, inovar a acusação. Havendo impossibilidade de alterar a classificação do crime, o processo será anulado, devendo ser oferecida nova denúncia (BRASIL, 1969). Julgamento em grupos no mesmo processo: Quando, na denúncia, figurarem diversos acusados, poderão ser processados e julgados em grupos, se assim o aconselhar o interesse da Justiça (BRASIL, 1969). Procurador em processo originário perante o Conselho Superior: Nos processos a que responderem oficiais generais, coronéis ou capitães-de-mar-e-guerra, as funções do Ministério Público serão desempenhadas pelo procurador que servir junto ao Conselho Superior de Justiça Militar. A instrução criminal será presidida pelo auditor que funcionar naquele Conselho, cabendo-lhe ainda relatar os processos para julgamento. O oferecimento da denúncia, citação do acusado, intimação de testemunhas, nomeação de defensor, instrução criminal, julgamento e lavratura da sentença, reger- se-ão, no que lhes for aplicável, pelas normas estabelecidas para os processos da competência do auditor e do Conselho de Justiça (BRASIL, 1969). Crimes de responsabilidade: Oferecida a denúncia, nos crimes de responsabilidade, o auditor mandará intimar o denunciado para apresentar defesa dentro do prazo de dois dias, findo o qual decidirá sobre o recebimento, ou não, da denúncia, submetendo o despacho, no caso de rejeição, à decisão do Conselho (BRASIL, 1969). Recursos das decisões do Conselho Superior de Justiça: Das decisões proferidas pelo Conselho Superior de Justiça, nos processos de sua competência originária, somente caberá o recurso de embargos (BRASIL, 1969). 48 Desempenho da função de escrivão: As funções de escrivão serão desempenhadas pelo secretário do Conselho, e as de oficial de justiça por uma praça graduada (BRASIL, 1969). Processos e julgamento de desertores: No processo de deserção observar-se-á o seguinte: I — Após o transcurso do prazo de graça, o comandante ou autoridade militar equivalente, sob cujas ordens servir o oficial ou praça, fará lavrar um termo com todas as circunstâncias, assinado por duas testemunhas, equivalendo esse termo à formação da culpa; II — A publicação da ausência em boletim substituirá o edital; III — Os documentos relativos à deserção serão remetidos ao auditor, após a apresentação ou captura do acusado, e permanecerão em cartório pelo prazo de vinte e quatro horas, com vista ao advogado de ofício, para apresentar defesa escrita, seguindo-se o julgamento pelo Conselho de Justiça, conforme o caso (BRASIL, 1969). 49 15 BIBLIOGRAFIA BRASIL, DECRETO-LEI Nº 1.002, DE 21 DE OUTUBRO DE 1969. Código de Processo Penal Militar. [S. l.], 1969. CASTRO, Sonia Rabello. Coletânea da Legislação de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2001. Caderno Jurídico. Direito Penal e Processual Penal Militar. São Paulo: Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, 2001 (Imprensa Oficial do estado de São Paulo) A partir de 2004 os fascículos serão numerados continuamente e recomeçam a cada novo volume. Direito - periódicos I. Escola Superior do Ministério Público. De São Paulo. LUZ, Egberto Maia. Direito Administrativo Disciplinar – Teoria e Prática. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1994. NEVES, Cícero Robson Coimbra et al. A prova ilícita no CPPM em face das novas alterações da legislação processual penal comum. TERESINA: Revista Jus Navegandi, 2010. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/17159. Acesso em: 29 out. 2020. STF, Informativos. Direito Processual Penal Militar. Brasília: STF, 2019. v. 15. Disponível em: < http://portal.stf.jus.br/textos/informativos>. Acesso em: 4 nov. 2020. ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Responsabilidade do Estado por Atos das Forças Policiais. Belo Horizonte: Editora Líder, 2004. ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Direito Administrativo Militar – Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Editora Lume Juris, 2003.
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