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1 Faculdade Processus Sociologia Geral e Jurídica Prof. Samuel Costa Aula 3 – Émile Durkheim Émile Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo francês. É considerado o pai da Sociologia Moderna e chefe da chamada Escola Sociológica Francesa. É o criador da teoria da coesão social. Junto com Karl Marx e Max Weber, formam um dos pilares dos estudos sociológicos. Foi graças à sua atuação sistemática que a Sociologia teve acesso às universidades e garantiu o status de disciplina acadêmica. Durkheim entendia que a sociedade é regida por leis e uma ciência que dela se ocupe deve chegar à formulação de grandes generalizações que a explique. Ele considerava a Sociologia como a ciência das instituições, cuja missão era reconstruir uma moral que respondesse às exigências do espírito científico da época. Nesta aula veremos os principais conceitos de duas de suas principais obras: “A divisão do trabalho social” e “As regras do método socioló- gico”. A Divisão do Trabalho Social Sua primeira obra, “A Divisão do Trabalho Social” (1893), enuncia dois princípios básicos: 1) consciência coletiva e 2) solidariedade mecânica e orgâni- ca. Entende-se por “Divisão Social do Trabalho” as atribuições (individuais ou coletivas) produtivas nas estruturas socioeconômicas, onde cada sujeito possui uma função na estrutura social, da qual emana seu status perante a sociedade. Consciência coletiva Consciência coletiva é a soma de crenças e sentimentos comuns à média dos membros da comunidade, formando um sistema autônomo, isto é, uma re- alidade distinta que persiste no tempo e une as gerações. A consciência coletiva envolve quase que completamente a mentalidade e a moralidade dos indivíduos. O homem “primitivo” pensa, sente e age conforme determina ou prescreve o grupo a que pertence. Para Durkheim, em cada indivíduo há a existência de duas consciências, a coletiva (predominante) e a individual (peculiar ao indiví- duo). Nas sociedades “primitivas”, a consciência coletiva subjuga a individual, e as sanções aplicadas ao indivíduo, que foge às normas de conduta do grupo, são extremamente severas. Solidariedade Para Durkheim, os laços que unem os indivíduos à sociedade são desig- nados pelo termo solidariedade. Há dois tipos de solidariedade. https://www.todamateria.com.br/estrutura-social/ https://www.coladaweb.com/biografias/emile-durkheim 2 Solidariedade mecânica é a que caracteriza as sociedades pré- capitalistas, nas quais há um baixo (ou nenhum) grau de consciência individu- al, uma vez que predomina, em termos de coesão social, uma consciência cole- tiva que controla a sociedade. Há baixa divisão do trabalho, no sentido de que haveria uma pequena divisão de tarefas e funções presentes nessas sociedades. As “primitivas” coletividades humanas são caracterizadas pela solidariedade mecânica, que se origina das semelhanças entre os membros individuais. Para a manutenção dessa igualdade (necessária à sobrevivência do grupo), a coerção social (baseada na consciência coletiva), é severa e repressiva. Essas sociedades não toleram as disparidades, a originalidade, o particularismo, tanto nos indi- víduos quanto nos grupos, pois isso significa um processo de desintegração. Solidariedade orgânica é a que caracteriza as sociedades modernas e complexas. À medida que as sociedades se tornam mais complexas, a divisão de trabalho e as diferenças entre os indivíduos conduzem a uma crescente in- dependência das consciências. As sanções repressivas, que existem nas socie- dades “primitivas”, dão origem a um sistema legislativo que acentua os valores de igualdade, liberdade, fraternidade e justiça. A coerção social não desaparece, pois a característica da sociedade moderna – os contratos de trabalho – contém elementos predeterminados, independentes dos próprios acordos pessoais. Na solidariedade orgânica, o princípio de divisão do trabalho está baseado nas di- versidades das pessoas e dos grupos e se opõe diretamente à solidariedade me- cânica (por semelhança). A divisão do trabalho gera um novo tipo de solidarie- dade, baseado na complementação de partes diversificadas. Esta solidariedade não se baseia nas semelhanças de indivíduos e grupos, mas na sua indepen- dência. As Regras do Método Sociológico Em 1895, Durkheim publica “As regras do método sociológico”. É o seu tratado mais importante, pois estabelece as regras que devem ser seguidas na análise dos fenômenos sociais. Sua metodologia para análise dos fatos sociais podem ser expressas resumidamente, da seguinte maneira: Primeiramente, é preciso considerar fatos sociais como “coisas”. Para Durkheim, "é coisa tudo aquilo que é dado, e que se impõe à observação". Os fatos sociais são uma realidade objetiva. Portanto, são passíveis de observação externa. Por isso, devem ser tratados como "coisas", como objeto externo, fora do campo das ideias. Em seguida é necessário definir o objeto de estudo. É preciso selecionar um grupo de fenômenos cujos caracteres exteriores comuns sejam previamente definidos. O pesquisador nunca deverá tomar por objeto de pesquisa, senão um grupo de fenômenos previamente definidos por certos caracteres exteriores que lhe sejam comuns. Em seguida, é preciso analisar todos os que correspondam a esta definição. Por fim, é importante que se afaste sistematicamente todas as prenoções. Durkheim reconhece, contudo, ser esta uma tarefa difícil. As prenoções acaba- 3 riam sendo pré-juízos acerca de uma prática ou instituição social. Segundo Durkheim muitos sociólogos trabalhavam não sobre o objeto em si, mas de acordo com a ideias pré-estabelecidas acerca do fenômeno. Fato Social Nas palavras do próprio Durkheim: “Fato social é toda maneira de agir, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, que é geral (comum) na extensão de uma dada sociedade, apresentando uma exis- tência própria, independente das manifestações individuais que possa ter”. O fato social, portanto, é tudo o que se produz na sociedade e pela sociedade. É aquilo que interessa e afeta o grupo de alguma forma. Da definição de Durkheim sobre fato social podemos extrair as seguintes características: Exterioridade. O fato social é externo em relação às consciências indivi- duais. As maneiras de agir, de pensar e de sentir (numa determinada cultura) são exteriores às pessoas, porque as precedem, transcendem e a elas sobrevi- vem. Veja, a seguir, alguns exemplos: quando desempenhamos nosso papel de cidadãos, ou de filhos, ou de adeptos de determinada religião, ou de comercian- tes, estamos praticando deveres definidos fora de nós e de nossos hábitos indi- viduais. Como cidadãos, ao atingirmos determinada idade, devemos cumprir certos deveres para com o Estado, que é anterior e independente da nossa exis- tência particular. Como filhos, já encontramos estabelecidas as normas que re- gulam a instituição família em nossa sociedade. Se nos tornarmos adeptos de uma religião qualquer, também constatamos dogmas de fé que precedem a nos- sa existência e continuarão a existir, mesmo que as abandonemos. Essas características de anterioridade e posterioridade levam à conclusão de que os fatos sociais transcendem os indivíduos, e estão acima e fora deles, sendo, portanto, independentes do indivíduo em particular. Coercitividade. O fato social exerce coerção sobre os indivíduos. As nor- mas de conduta ou de pensamento são dotadas de poder coercitivo, uma vez que se impõem aos indivíduos, independentes de suas vontades. Quando nos conformamos com o grupo (através da educação), e aceitamos como válidas as maneiras de agir, de pensar e de sentir do grupo, não sentimos essa coerção. Ela se torna inútil, o que não significa que deixe de existir. A força coercitiva aparece assim que tentamos resistir a ela. As coerções podem ser diretas e drásticas. Se, como comerciantes,dei- xarmos de cumprir obrigações legais que temos para com nossos fornecedores e clientes, a sociedade exercerá sanções que podem consistir, inclusive, em pena de prisão. As coerções, contudo, não necessariamente são drásticas, mas man- têm o seu poder coercitivo. Igualmente eficazes são o riso, a zombaria, o afas- tamento dos amigos, quando nosso comportamento não constitui transgressões às leis, mas acabam se configurando como transgressões às convenções da so- ciedade. As coerções podem ser também indiretas. No mundo dos negócios, se não usarmos as modernas técnicas para vencer nossos concorrentes, a Lei não nos punirá, mas provavelmente iremos à falência. 4 Generalidade. O fato social é comum ao grupo ou à sociedade. A consci- ência coletiva (o conjunto das maneiras de agir, de pensar e de sentir) é carac- terística geral de determinado grupo ou sociedade. Essa generalidade dará fei- ção particular a uma sociedade e permitirá distinguir, por exemplo, um carioca de um paulista.
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