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Lorena Soriano de Melo Lima Vitamina D Fontes: Produção endógena mediante a absorção de UVB na pele em doses suberitrogênicas, ingestão de alimentos que contenham vitamina D3 (colecalciferol), como óleo de fígado de bacalhau, gema de ovo e alguns peixes de água salgada, e por meio de suplementos dietéticos contendo vitamina D. Funções: • Importante regulador da fisiologia osteomineral, em especial do metabolismo do cálcio; • Síntese de antibióticos naturais pelas células de defesa dos mamíferos; • Modulação da autoimunidade e síntese de interleucinas inflamatórias; • No controle da pressão arterial; • Como participa da regulação dos processos de multiplicação e diferenciação celular, é atribuído também a ela papel antioncogênico Síntese de vitamina D I. Tem início com a exposição cutânea à radiação UVB, nos comprimentos de onda entre 290 e 315 nanômetros, é o principal meio de acumulação de vitamina D no corpo humano; II. Se inicia nas camadas profundas da epiderme (estratos espinhoso e basal), onde está armazenada a substância precursora, o 7-deidrocolesterol (7-DHC), localizado na camada bilipídica das membranas celulares; III. OBS: Uma outra variável que está envolvida nessa etapa inicial de ativação da vitamina D é a quantidade de melanina na pele do indivíduo. Esse pigmento também compete pelo fóton da radiação UVB nos comprimentos de onda entre 290 e 315 nm, diminuindo a disponibilidade de fótons para a fotólise do 7-DHC. Os estudos mostram menores reservas da 25(IH)D em indivíduos negros quando comparados aos caucasianos (20), mas que as duas etnias têm a mesma capacidade de síntese de 25(OH)D (21), só que indivíduos com pele mais escura precisam de mais tempo de exposição ao sol para sintetizarem a vitamina D3. IV. OBS: Um grupo etário que merece atenção especial nessa fase inicial de ativação da vitamina D na epiderme é o de idosos, pois, pelo processo de envelhecimento, apresentam afinamento da epiderme e derme, com consequente diminuição da reserva Lorena Soriano de Melo Lima de 7DHC. V. A absorção do fóton UVB pelo 7-DHC promove a quebra fotolítica, formando uma mólecula secosteroide (um tipo de esteroide instável), que é a pré-vitamina D3, é termoinstável e sofre uma reação de isomerização induzida pelo calor, assumindo uma configuração espacial mais estável, a vitamina D3 (ou colecalciferol). VI. Nessa etapa, um aspecto fisiológico importante é o mecanismo endógeno de proteção contra uma síntese excessiva de colecalciferol e consequente intoxicação. Em situações de exposição solar prolongada, a pré-vitamina D3, que também é capaz de absorver fótons UVB, é izomerizada a dois produtos fotolíticos inertes: o lumisterol e o taquisterol VII. O colecalciferol também pode ser obtido pela dieta, provindo de alimentos de origem animal, principalmente peixes gordurosos de água fria e profunda, como o salmão e o atum. Uma outra fonte dietética de vitamina D é o ergosterol (vitamina D2), proveniente de alimentos vegetais, em especial fungos. O colecalciferol e o ergosterol são transportados no sangue por uma glicoproteína, a proteína ligadora da vitamina D (DBP, vitamin D binding protein). VIII.Ao alcançarem o fígado, as vitaminas D2 e D3 sofrem hidroxilação no carbono 25, mediada por uma enzima microssomal da superfamília do citocromo P450 (CYP450) denominada CYP2R1, dando origem a 25-hidroxivitamina D ou calcidiol (25(OH)D3 e 25(OH)D2). A CYP2R1 é uma enzima microssomal expressa preferencialmente no fígado, mas também presente nas células testiculares (25). IX. A CYP27B1 é expressa nas células dos túbulos renais proximais, onde a grande parte do calcitriol necessário ao metabolismo sistêmico é sintetizado (2). A DBP, junto com seus ligantes, apresenta uma alta taxa de recaptação pelas células dos túbulos proximais, o que evita perda urinária dos metabólitos do grupo da vitamina D e concentra a 25(OH)D nos túbulos renais, onde será necessário para a conversão em 1,25(OH)2D. X. Nos rins, a expressão do gene CYP27B1 é regulada principalmente pelos níveis séricos do paratormônio (PTH), fósforo, fator de crescimento do fibroblasto 23 (FGF-23) e pela proteína Klotho, sendo estimulada pelo primeiro e suprimida pelos demais XI. Os efeitos biológicos da 1,25(OH)2D são mediados pelo seu receptor (VDR, vitamin D receptor), um fator de transcrição que pertence à família de receptores hormonais nucleares 1. O VDR é expresso em quase todas as células humanas e parece participar, de maneira direta ou indireta, de regulação de cerca de 3% do genoma humano (27). Entre as poucas células que não apresentam receptores para vitamina D, estão as hemáceas, células musculares estriadas maduras e algumas células altamente diferenciadas do sistema nervoso central, como as células de Lorena Soriano de Melo Lima Purkinje e os neurônios do setor CH4 do prosencéfalo basal XII. O processo de inativação da 25(OH)D e da 1,25(OH)2D é catalisado pela 24-hidroxilase (CYP24A1), uma enzima mitocondrial, também integrante do complexo do citocromo P450, que age pela hidroxilação dos carbonos 23 ou 24. Essa enzima está presente em maiores quantidades nos rins e no intestino, e em menor quantidade em outras células como fibroblastos, linfócitos, queratinócitos e macrófagos, e sua expressão é regulada pela 1,25(OH)2D e pelo PTH, os quais podem agir sinergicamente (34). Os metabólitos intermediários mais abundantes são a 24,25(OH)2D, 1,24,25(OH)3D, tendo como produtos finais o ácido calcitroico (após 24-hidroxilação) e a 1,25(OH)2D-lactona (após 23-hidroxilação), que são os principais metabólitos eliminados pela bile. Algumas moléculas intermediárias desse processo de inativação da 1,25(OH)2D pela CYP24A1 mantêm atividade metabólica, atuando na expressão do próprio gene CYP24A1 e na inibição da proliferação celular (35). Entre os produtos da CYP24A1, a 24,25(OH)2D merece atenção, uma vez que é uma molécula que mantém atividade metabólica e é essencial à integridade da estrutura óssea e ao processo de reparo de fraturas DE FORMA SIMPLIFICADA: Ela é dividida em 5 fases: 1. Queratinócitos + UVB convertem 7- Dihidrocolesterol (7-DHC) em pré- vitamina D3. 2. Pré-vitamina D3 se isomeriza espontaneamente em vitamina D3. 3. Vitamina D3 entra na circulação e migra para o fígado com o auxilio da proteína transportadora DBP. 4. Lá, o Colecalciferol (vitamina D3) é convertido em calcidiol (ou 25- Hidroxivitamina D3, forma que essa vitamina se estoca e circula no corpo) pela enzima hepática 25-hidroxilase, presente nos hepatócitos. 5. Posteriormente, o calcidiol é levado ao rim onde é convertido pela enzima 1-alfa hidroxilase na forma ativa da vitamina D3, ou seja em, o calcitriol ou 1,25(OH)2 colecalciferol. Lorena Soriano de Melo Lima Radiação ultravioleta A radiação UV (10 a 400 nm) pode ser didaticamente dividida em UVA (320 a 400 nm), UVB (290 a 320 nm) e UVC (200 a 290 nm); o espectro UVA, por sua vez, é subdividido arbitrariamente em UVA-1 (340 a 400 nm) e UVA-2 (320 a 340 nm). A radiação com comprimento de onda inferior a 200 nm é bastante absorvida pela camada de ar e, consequentemente, as faixas UV que se aproximam da radiação ionizante apresentam pouca importância nesse contexto. Aproximadamente 95% da radiação UV que chega à superfície da Terra é formada por UVA e somente 5% por UVB. A maior ou menor chegada dos raios UV à superfície terrestre depende dos seguintes fatores: ■ horário: ao meio-dia, a radiação solar está na menor distância da Terra ■ latitude: a radiação é gradativamente maior a partir dos polos para o Equador (neste ponto a camada de ozônio é menos espessa) Lorena Soriano de Melo Lima ■ estação: a radiação é maior no verão (o ângulo de incidência é perto dos 90°) ■ altitude: a radiação é mais intensa em grandes altitudesporque há menos atmosfera para absorvê-la ■ poluição atmosférica: as nuvens diminuem a radiação entre 10 e 80%. A quantidade de UVA que atinge a superfície terrestre é praticamente constante durante o dia, uma vez que o UVA é pouco filtrado pela camada de ozônio, ao passo que a quantidade de radiação UVB é maior no período entre 10 e 14 h, com pico ao meio-dia (entre 11 e 15h no horário de verão), em função do posicionamento da Terra em relação ao sol, pois a camada de ozônio absorve grande quantidade de UVB. Vale ressaltar o fato de a radiação UVA ter uma intensidade 20 vezes maior que a radiação UVB ao chegar à Terra e ser capaz de atravessar vidros comuns, diferentemente do UVB que não atravessa As radiações, ao atingirem a pele, são parcialmente refletidas, refratadas e, em parte, absorvidas. É importante ressaltar que apenas a radiação absorvida dá início à reação fotoquímica inaugural da resposta biológica A pele é constituída de moléculas orgânicas (lipídios, glicídios, proteínas e ácidos nucleicos) e água, trazendo em solução íons inorgânicos. Uma das características das moléculas orgânicas é o chamado espectro de absorção, que guarda relação com a estrutura eletrônica delas. A maioria dessas moléculas tem o seu espectro de absorção máximo na faixa do UV; como exemplos podem ser citados o triptofano e a tirosina, que absorvem 280 nm; os esteroides, que absorvem acima de 300 nm. Assim, essas radiações de diferentes comprimentos de onda, interagindo sobre diferentes moléculas orgânicas que se encontram na epiderme e derme, determinam reações fotoquímicas cujo efeito final está relacionado com a importância do papel biológico da molécula envolvida. A molécula que absorve o fóton é denominada cromóforo. Quando o cromóforo absorve o fóton, a molécula deixa o estado de repouso e torna-se excitada e, portanto, capaz de reagir com moléculas do meio biológico, levando à formação de fotoprodutos (oxidação de fosfolipídios de membrana), ou, ainda, a modificações bioquímicas (síntese de prostaglandinas), ou mesmo a alterações celulares (apoptose) e, finalmente, a alterações teciduais identificáveis do ponto de vista clínico (eritema, bolha, pigmentação). Deve-se assinalar que o DNA é o principal cromóforo da pele, relacionando-se não apenas com as modificações da resposta imunológica da pele como também com a indução de mutações celulares e o desenvolvimento de malignidades como consequência da interação da radiação UV com a pele. Radiaçao vísivel e infravermelha Lorena Soriano de Melo Lima A radiação visível (400 a 760 nm) corresponde aos comprimentos de onda percebidos como cores pela retina, respondendo por cerca de 39% da composição da radiação solar, e a infravermelha (760 nm a 1 mm), invisível e responsável pela produção de calor, corresponde a cerca de 54% do total da radiação emitida pelo sol que chega à superfície terrestre Efeitos da radiação UV sobre a pele A luz UV atinge diferentes camadas da pele dependendo do comprimento de onda, e assim, interage com diferentes células localizadas em profundidades distintas. A radiação UV de comprimento de onda curto (UVB) é absorvida predominantemente na epiderme, afetando os queratinócitos. A radiação de comprimento de onda longo (UVA) penetra profundamente e interage tanto com queratinócitos da epiderme quanto com fibroblastos dérmicos; Em linhas gerais, a luz UVA atua principalmente gerando radicais livres que irão, posteriormente, ser responsáveis pela peroxidação lipídica e ativação dos fatores de transcrição. Já a radiação UVB, embora possa também gerar radicais livres, tem como principal mecanismo de ação a interação direta com o DNA, causando diversas alterações; Os efeitos perceptíveis da radiação UV podem ser divididos em precoces (eritema, queimadura, bronzeamento, espessamento da epiderme, imunossupressão) e tardios (fotoenvelhecimento, fotocarcinogênese). • Efeitos precoces: a. Eritema: A reação eritematosa à radiação UV é um processo inflamatório, e depende do comprimento de onda em questão, sendo maior quanto menor for o comprimento de onda; assim, a radiação UVB é a mais eficaz na indução de eritema, e a radiação UVA é 1.000 vezes menos potente na indução de eritema, sendo responsável por cerca de 15% do eritema induzido pelo sol. O eritema ocorre de 4 a 8 h após a exposição solar, e é resultante de um processo de oxidação das proteínas aromáticas pericapilares; essa alteração molecular leva à liberação de substâncias mediadoras da vasodilatação, dentre as quais sobressaem as prostaglandinas. Acrescente-se, ainda, que os fótons absorvidos degranulam os mastócitos, liberando histamina, com as suas já conhecidas consequências. Por outro lado, a lesão dos leucócitos, dos lisossomos e dos queratinócitos libera substâncias eritrogênicas. O pico do eritema ocorre entre 6 e 24 h, desaparecendo gradativamente ao longo de 1 dia ou pouco mais, dependendo do fototipo. Esse eritema pode ser retardado ou diminuído pelo uso, em tempo, de inibidores das prostaglandinas, como o ácido acetilsalicílico e a indometacina. A avaliação do eritema se faz pela determinação, experimentalmente, da dose eritematosa mínima (DEM), ou seja, a menor quantidade de radiação necessária para produzir discreto, porém nítido eritema 24 h após a exposição. Em geral, a DEM é determinada exclusivamente pelos UVB. b. Queimadura: Não difere das queimaduras em geral; na queimadura solar de primeiro Lorena Soriano de Melo Lima grau, observam-se apenas eritema e edema das áreas irradiadas, com desconforto relativo; na queimadura de segundo grau, como o edema é muito intenso, há formação de bolhas que, ao se romperem, eliminam grandes quantidades de eletrólitos e proteínas (Figura 75.6). Dependendo da extensão e/ou intensidade do processo, ocorre sintomatologia geral: náuseas, febre, calafrios, taquicardia, delírio, prostração e, até mesmo, choque. Acrescente-se, ainda, que nos climas quentes a superexposição solar leva à hiperidrose, com grandes perdas de água e eletrólitos, e graves repercussões para o equilíbrio térmico e hidreletrolítico. O tratamento dos casos leves é feito por emulsões, uso de pasta d’água e administração de corticosteroides locais; os casos graves necessitam de terapêutica sistêmica com corticosteroide, sobretudo triancinolona (intramuscular), e cuidados especiais (reidratação, reposição de eletrólitos etc.), sendo muitas vezes necessária a internação em CTI Até certo ponto, após exposição solar exagerada, sobretudo em pessoas de pele fototipos I a III, impõe-se, nas primeiras horas, bloquear o efeito das prostaglandinas pelo uso de ácido acetilsalicílico ou indometacina. A ocorrência de queimaduras em pacientes que fazem tratamento com o método PUVA-sol é frequente c. Bronzeamento: Há dois tipos de pigmentação melânica da pele: a cor intrínseca da pele, geneticamente determinada e imutável; e a facultativa, decorrente da ação dos raios solares e dos hormônios, que é mutável. Esta, quando estimulada pelos raios solares ou UV artificialmente produzidos, é conhecida com o nome de bronzeamento. O bronzeamento é induzido tanto pela radiação UVA quanto pela UVB, e pode ser classificado em duas categorias: a) Imediato: conhecido pelo nome fenômeno de Meirowsky, ocorre poucos minutos após a exposição solar e persiste até 24 h b) Tardio: se inicia de 2 a 3 dias após a irradiação e dura, em média, semanas a meses. O BI decorre de melanização, isto é, da foto-oxidação da melanina previamente existente, enquanto o BT deriva da melanogênese e transferência da melanina aos queratinócitos. A radiação UVA provoca o BI, que por seu caráter efêmero, não oferece proteção contra os efeitos da radiação UVB. Doses subsequentes de luz UVA promovem BT e pigmentação persistente. Já a radiação UVB em dose eritrogênica produzBT, visível após cerca de 72 h e capaz de fornecer proteção contra doses subsequentes de radiação UVB. Assim, tanto a radiação UVA quanto a UVB podem causar bronzeamento, mas a UVA é menos eficaz (sendo a UVA curta um pouco mais eficaz). Convém lembrar que os raios infravermelhos e os raios visíveis (luz) também produzem BT, mas em escala muito menor. Para mais informações sobre os mecanismos de proteção contra luz e irradiação UVA, UVB e UVC ■ antes das 9 e depois das 15 h, o eritema solar é mínimo e o bronzeamento é máximo (sobretudo BI, mas também BT), pois a quantidade de UVB que chega à Terra é pequena, e a de UVA é grande ■ ao meio-dia, a quantidade de UVB é máxima, por isso o eritema é intenso, bem como o BT, embora se saiba que, nesse momento, o UVB represente 1/100 em relação ao UVA Lorena Soriano de Melo Lima ■ além da quantidade de radiação que chega à Terra, deve-se considerar o acréscimo decorrente da reflexão na neve, na areia e no mar; essa reflexão é bem maior com o UVA do que com o UVB. d. Espessamento da epiderme: Em consequência das radiações solares, a pele reage tornando-se mais espessa. Nos dois primeiros dias, o espessamento é decorrente de edema inter e intracelular; a partir do terceiro dia, há uma verdadeira hiperplasia de todas as camadas epidérmicas, com exceção da camada basal. Por outro lado, observa-se, ainda, o aumento do número de mitoses. A cada nova exposição às radiações, há maior espessamento da epiderme. O retorno à normalidade pode ocorrer depois de alguns meses. e. Imunossupresão: A imunossupressão local resulta, principalmente, da inibição funcional de células de Langerhans (principal célula apresentadora de antígenos da pele). A imunossupressão sistêmica é causada, em grande parte, pela liberação induzida por UV de mediadores imunossupressores pelos queratinócitos. Várias citocinas parecem estar envolvidas na imunossupressão sistêmica, incluindo IL-10, IL-12, TNF-α e TGF-β. Entre estas, a IL-10 parece ser a mais importante, já que a imunossupressão é notavelmente reduzida na presença anticorpos anti-IL-10. • Efeitos tardios: f. Fotocarcinogênese: Até recentemente, apenas se considerava o papel da radiação UVB nesse processo; no entanto, evidências mais recentes apontam para a participação da radiação UVA, tanto por seu papel depressor da imunidade local quanto pela geração de espécies reativas de oxigênio. É bem conhecido o fato de que a radiação UVB pode danificar proteínas ou membranas Lorena Soriano de Melo Lima celulares e gerar estresse oxidativo; no entanto, seus principais efeitos deletérios são mediados pela absorção direta de fótons pela molécula de DNA, Experimentos demonstraram que a luz UVB gera danos ao DNA principalmente pela formação de fotoprodutos diméricos entre as bases de pirimidina adjacentes na mesma cadeia. A dimerização das pirimidinas gera distorção da estrutura do DNA, e o reparo incorreto dessas lesões conduz não só a mutações, como também ao bloqueio da replicação do DNA e da divisão celular, e à interrupção da transcrição do DNA necessária para a síntese de RNA mensageiro, etapa fundamental para a síntese proteica e para a sobrevivência celular. A ideia mais intuitiva que vem à mente quando se discute o dano ao DNA é o processo de mutagênese e, como consequência, o risco relacionado com o aumento da carcinogênese. Na verdade, o papel das mutações em locais onde houve dimerização das bases de pirimidina está bem estabelecido no caso do gene supressor de tumor p53, em particular no câncer de pele não melanoma. No entanto, é também importante considerar que as lesões do DNA podem constituir eventos primários que provocam uma grande variedade de respostas moleculares: liberação de citocinas, ativação de genes envolvidos na resposta inflamatória, apoptose e pigmentação. g. Fotoenvelhecimento -Imunodepressão: UV atinge fotorreceptores, que liberam mediadores (fator de agregação plaquetaria, prostaglandinas, histaminas). Esses geram alterações no numero e função das células de Langherans. Assim, gera-se uma maior liberação de IL-10 e menor de IL-12, o que vai causar um influxo de macrófagos e consequente supressão imune; - Prurido: as fibras C, além de serem sensível a estímulos pruriginosos, também são sensíveis a temperatura, com inúmeros pacientes relatando prurido em temperaturas quentes. Isso ocorre porque com a elevação da temperatura, o limiar dos receptores de estímulos pruriginosos são baixados, gerando a coceira com maior facilidade. Efeitos da luz vísivel e da radiação infravermelha na pele: A participação da luz visível na produção de pigmentação cutânea, exacerbação de fotodermatoses e no estresse oxidativo formador de radicais livres com potencial de danificar o DNA das células é cada vez mais bem estabelecida. Estima-se que a radiação UVA seja responsável por cerca de 65% dos radicais livres gerados na camada córnea, enquanto a luz visível seja responsável pelo resto. Dentro do espectro visível, a luz azul (400 a 450 nm) é a que apresenta maior ação fotobiológica. A radiação infravermelha abrange comprimentos de onda entre 760 nm e 1 mm, sendo tradicionalmente dividida em curta, média e longa, mas pode ser arbitrariamente dividida em infravermelha A (IRA, 760 a 1.440 nm), IRB (1.440 a 3.000 nm) e IRC (3.000 nm a 1 mm), de acordo Lorena Soriano de Melo Lima com a interação entre as diferentes camadas da pele. A IRA passa pela epiderme, derme e chega até o tecido subcutâneo ainda mais profundamente que o UVA, promovendo discreto aumento da temperatura epidérmica, enquanto a IRC é completamente absorvido na epiderme e provoca aumento considerável da temperatura da pele. A exposição crônica à radiação infravermelha, sobretudo à custa da IRA, contribui para o fotoenvelhecimento ao promover a ativação direta de metaloproteinase-1 (MMP-1) em nível molecular, uma das enzimas responsáveis pela degradação do colágeno, e ao inibir a síntese do colágeno propriamente dito, além de ser potencialmente carcinogênica. Fotoproteção: A fotoproteção ideal é obtida não apenas com o uso do protetor solar, mas também, principalmente, pelo uso de roupas adequadas e com capacidade de proteção contra a radiação UV, chapéus com abas largas e óculos de sol com proteção UV; pela busca de abrigo na sombra e por medidas comportamentais, evitando o excesso de exposição solar no dia a dia. • Protetores: Consistem em formulações tópicas preparadas em diferentes veículos (creme, gel, loção, spray) com adição de agentes orgânicos ou inorgânicos capazes de interagir com a radiação incidente, neutralizando-a de diferentes modos (reflexão, dispersão ou absorção) e, assim, conferir proteção à pele. Assim, o protetor solar ideal deve proteger completamente contra as radiações UVA, UVB, infravermelha e luz visível, sendo, ao mesmo tempo, cosmeticamente aceitável e de uso agradável, sem manchar tecidos. Deve ser fotoestável, mantendo suas propriedades quando exposto à luz solar. Deve ter boa substantividade, isto é, ter a capacidade de aderir à pele e nela permanecer, resistindo ao suor, ao atrito ou à imersão na água. Para não causar efeitos adversos, deve ser não irritante, não sensibilizante e atóxico. Sob o aspecto financeiro, ser de baixo custo, acessível a todos. • Protetores inorgânicos: Os agentes inorgânicos são partículas minerais fotoestabilizadas que protegem a pele primariamente pela reflexão e dispersão de fótons, criando uma barreira física na pele (por isso, também são chamados bloqueadores solares). Em geral, os protetores inorgânicos apresentam maior espectro de ação, atuando tanto sobre a radiação UVA e UVB quanto sobre a luz visível. Os mais amplamente utilizados são o dióxido de titânio (TiO2) e o óxido de zinco (ZnO). O ZnO oferece melhor proteção UVA, e o TiO2 fornece proteção UVB superior, apresentando um tom maisbranco em decorrência de seu maior índice de refração. Todavia, por serem moléculas originalmente grandes (200 a 500 nm), apresentam aspecto esbranquiçado, opaco, que aumenta conforme a concentração do agente. Esse efeito inconveniente, porém, pode ser atenuado por meio da diminuição do tamanho das partículas. Outra característica interessante dos protetores inorgânicos é o fato de serem quimicamente inertes e, por conseguinte, não provocarem sensibilização alérgica, sendo os mais indicados para crianças ou pacientes com peles sensíveis e com história de alergia, que tendem a Lorena Soriano de Melo Lima tolerar melhor essas substâncias em detrimento dos protetores orgânicos. Além disso, protetores opacos oferecerem melhor proteção contra doenças fotossensíveis desencadeadas pela luz visível. • Protetores orgânicos: Os agentes orgânicos, por sua vez, são moléculas que absorvem fótons da radiação UV e, por reação fotoquímica, dissipam a energia UV incidente na forma de energia térmica, promovendo, assim, a fotoproteção. Desse modo, os protetores orgânicos correspondem, na verdade, aos filtros solares, embora o termo seja indistintamente utilizado para se referir também aos protetores inorgânicos. Inúmeros ativos compõem a lista de agentes orgânicos, com diferentes espectros de ação: UVA, UVB ou ambos. São exemplos os derivados do ácido para-aminobenzoico (PABA, já em desuso), os cinamatos, as benzofenonas, os derivados da cânfora, os salicilatos e outros. Nas formulações comercialmente disponíveis muitos agentes estão associados, sejam orgânicos ou inorgânicos, com o intuito de proporcionar maior efeito fotoprotetor, cosmética aceitável e baixo índice de efeitos adversos. Dentre os compostos mais empregados, merece destaque a avobenzona (butil-metoxidibenzoilmetano), por ser o único filtro orgânico a oferecer ótima proteção na faixa do UVA-1. No entanto, é uma molécula extremamente instável (1 h de exposição ao sol diminui suas propriedades fotoprotetoras em cerca de 50 a 60%), sendo necessária a adição de um agente estabilizador (geralmente outro filtro orgânico, como o octocrileno) à formulação. É importante, ainda, mencionar que dentre os protetores orgânicos utilizados atualmente, os derivados do PABA e as oxibenzonas são os principais fotoalérgenos de contato. No Quadro 75.3, constam os principais ativos utilizados na formulação dos fotoprotetores. Loções de autobronzeamento, ou sem sol, na verdade não bronzeiam a pele, ao contrário disso, elas mancham a pele. Entretanto, elas oferecem uma maneira segura de alcançar a aparência bronzeada, sem os riscos de uma exposição perigosa aos raios ultravioleta. Entretanto, por não aumentarem a produção de melanina, as loções de autobronzeamento não oferecem proteção contra o sol. Logo, os protetores solares ainda devem ser usados durante a exposição à luz do sol. Os resultados do uso de loções de autobronzeamento podem variar, dependendo do tipo de pele da pessoa, da formulação usada e da maneira como a loção é aplicada. Fotoproteção contra luz visível e radiação infravermelha Até o momento, somente agentes inorgânicos não micronizados são capazes de proteger efetivamente contra a luz visível. Para atenuar o problema do efeito esbranquiçado dessas partículas grandes, a indústria vem utilizando aditivos pigmentares como o óxido de ferro, produzindo um tom de base colorida no produto final, portanto mais opaco, mantendo a capacidade de filtrar a radiação visível. Deve-se ressaltar, porém, que ainda não foi estabelecido um método definitivo para quantificar o efeito fotoprotetor nesse espectro da radiação. Assim como o UVA e a luz visível, a radiação infravermelha é capaz de gerar radicais livres. Geralmente, os protetores inorgânicos oferecem alguma proteção contra a radiação infravermelha, porém, até o momento nenhum protetor disponível apresenta capacidade total de proteger a pele contra esse espectro da radiação solar. Lorena Soriano de Melo Lima Quantificação da fotoproteção: Em termos práticos, o FPS representa o número de vezes em que o fotoprotetor intensifica a proteção natural do indivíduo em relação à radiação UVB. Por exemplo, um indivíduo que normalmente ficaria discretamente eritematoso após uma exposição ao sol durante 30 min, sem fotoprotetor, ao usar um protetor solar com um FPS 10, só apresentará eritema após 300 min de exposição ao sol. Isto é, o protetor aumentou em 10 vezes a sua proteção natural à RUB. No entanto, como o critério analisado é o eritema, não se pode utilizá-lo para aferir a proteção contra radiação UVA, que produz pouco eritema. Fotoproteção e vestuário O grau de proteção oferecido pelas roupas é função de diversas características intrínsecas ao material e de modelagem do mesmo e pode ser acessado pelo índice denominado fator de proteção ultravioleta (FPU), que mede a porcentagem de radiação UV filtrada pelo tecido. Este índice é calculado in vitro pela alteração na quantidade de radiação detectada quando o tecido é colocado entre o detector e uma fonte de UV com espectro conhecido. Por exemplo: FPU 50 significa que 1 em cada 50 raios atinge a pele, ou seja, 2% da radiação total, portanto, 98% foram bloqueados. O FPU também pode ser aumentado pela adição de protetores solares em detergentes e amaciantes, persistindo por algumas lavagens. Confecções especiais já trazem destacado este índice. São exemplos o microfilamento de poliamida contendo TiO2; poliamida com elastano (ideal para natação); poliéster (favorece a absorção do suor e suas microfibrilas facilitam o transporte deste para o exterior); e algodão tratado com Tinofast®, capaz de absorver a radiação UV. Ao recomendar o uso de chapéus como estratégia de fotoproteção, deve-se ressaltar que eles precisam proteger a cabeça, as orelhas e o pescoço, e ser confeccionados em tecidos não transparentes à radiação UV. O tamanho da aba é um fator importante, devendo ser de, no mínimo, 7 cm em todo o perímetro cefálico. Fica claro, portanto, que o uso de bonés não confere fotoproteção adequada. Quando adequados, os chapéus conferem FPS em torno de 5 para a face. Lorena Soriano de Melo Lima Fotoenvelhecimento: O termo fotoenvelhecimento refere-se às alterações clínicas, histológicas e funcionais características da pele cronicamente exposta à irradiação solar. Embora compartilhe alguns aspectos com a pele cronologicamente envelhecida, não exposta ao sol, alguns são exclusivos do fotoenvelhecimento, tornando-se uma entidade independente, com fisiopatologia própria. Existem dois processos que levam às alterações cutâneas associadas ao envelhecimento. O primeiro é o do envelhecimento intrínseco ou cronológico, determinado fundamentalmente pela genética. Nele estão presentes os efeitos naturais da gravidade ao longo dos anos, as linhas de expressão, as alterações hormonais e a programação genética de atrofia tanto da derme como do tecido subcutâneo; ocorre também reabsorção óssea. O segundo componente do processo de envelhecimento é o denominado envelhecimento extrínseco. A agressão externa está relacionada com a influência do meio ambiente, tais como radiação UV, tabagismo, vento e exposições a agentes químicos. A exposição solar é, indubitavelmente, o principal fator contribuinte do envelhecimento extrínseco, ocasionando ceratoses actínicas, lentigos, rítides, aspereza da pele, telangiectasias etc. O dano relacionado com a irradiação UV, denominado fotoenvelhecimento, e as alterações ocorridas pela passagem do tempo (envelhecimento cronológico) são, portanto, considerados entidades distintas, mas que obviamente se surperpõem. As alterações clínicas na pele cronologicamente envelhecida são sutis e consistem, primariamente, em flacidez, rugas finas, certo grau de maciez e palidez cutânea. Em contraposição, a pele fotoenvelhecida caracteriza-se pela aspereza, por rugas mais proeminentes, pigmentaçãoirregular e difusa, telangiectasias, tom amarelado da pele e uma variedade de lesões benignas, pré-malignas e neoplásicas. A maioria dessas alterações é causada por mudanças ocorridas na derme. As modificações epidérmicas mais proeminentes são as alterações de pigmentação, tais como lentigos e hiperpigmentação difusa. As alterações induzidas pelo fotoenvelhecimento podem ocorrer bem antes dos sinais do envelhecimento cronológico e, sem dúvida, dependem de inúmeros fatores, como fototipo, natureza e quantidade de exposição solar, tabagismo, capacidade individual de reparação do dano solar etc. Lorena Soriano de Melo Lima Na histopatologia do envelhecimento intrínseco da pele, observa-se afinamento da epiderme com achatamento da junção dermoepidérmica. Na pele cronicamente exposta ao sol, ocorre o oposto: a epiderme torna-se espessada. Somente no estágio final de fotoenvelhecimento é que ocorre a atrofia da epiderme. A acantose, na pele fotoenvelhecida, é acompanhada de atipia celular, perda da polaridade dos núcleos e irregularidade marcante no tamanho das células e das propriedades tintoriais. Os melanócitos estão aumentados em número e tamanho, enquanto as células de Langerhans estão diminuídas e com sua função comprometida. Na pele cronologicamente envelhecida e não exposta à irradiação solar, as células dérmicas estão diminuídas e a hipocelularidade é a regra. Fibroblastos são exíguos e hipodesenvolvidos; mastócitos são raramente vistos. Em contrapartida, na pele fotoenvelhecida encontra-se maior número de fibroblastos, na maioria das vezes hiperplasiados. Mastócitos são abundantes e o número de histiócitos e de outras células mononucleares está bastante aumentado, caracterizando o processo inflamatório denominado heliodermatite ou dermato-heliose. A característica histológica mais proeminente do fotoenvelhecimento é a elastose, que geralmente se inicia na junção da derme papilar e reticular e não é observada na pele cronologicamente envelhecida. Ocorre substituição de fibras colágenas maduras por colágeno com aparência basofílica, a chamada degeneração basofílica do colágeno (Figura 76.6). Sabe-se que esse material é constituído de elastina degradada e proteínas microfibrilares ligadas à fibronectina, uma glicoproteína da matriz dérmica. Outras alterações também encontradas incluem um aumento substancial na deposição de glicosaminoglicanos e fibras elásticas fragmentadas, bem como de proteínas da matriz extracelular dérmica, como elastina e colágeno intersticial. A diferença mais relevante entre o envelhecimento intrínseco e o fotoenvelhecimento ocorre na derme. As alterações no colágeno, o principal componente estrutural da pele, têm sido sugeridas como a causa fundamental das modificações clínicas observadas na pele fotoexposta e na envelhecida naturalmente. As características clínicas e histológicas do fotoenvelhecimento são conhecidas há algum tempo, porém só recentemente os mecanismos moleculares responsáveis por suas alterações têm sido identificados. Um trabalho recente demonstrou que há uma significativa diferença nos mecanismos que levam à deficiência de colágeno na pele fotoenvelhecida em comparação aos que atuam na pele cronologicamente envelhecida. Foi demonstrado que a irradiação UV induz à síntese de metaloproteinases de matriz (MMP) na pele humana in vivo. De fato, evidências consistentes indicam que as MMP desempenham papel de destaque na patogênese do fotoenvelhecimento, apresentando atividade proteolítica para degradar proteínas da matriz. Seu surgimento pode ser induzido tanto por UVB como por UVA, e cada MMP degrada componentes diferentes das proteínas da matriz dérmica. A MMP-1, por exemplo, é responsável pela degradação do colágeno tipos I, II e III, enquanto a MMP-9 degrada colágeno tipos IV e V. A atividade das MMP é controlada pela regulação transcricional e por inibidores tissulares específicos das MMP, conhecidos como TIMPs (tecidual inhibitory metaloproteinases); são identificadas quatro dessas TIMPs no momento. A ativação dos fatores de transcrição, desencadeada pela exposição solar, parece ser responsável pela indução das MMP, que resulta na degradação das proteínas da matriz dérmica. Além dessa ativação, tem sido proposto um segundo mecanismo fisiopatológico responsável pelo fotoenvelhecimento. As alterações no DNA mitocondrial iniciariam esse processo a partir de mutações resultantes nessas Lorena Soriano de Melo Lima organelas celulares. O estudo das mutações do DNA mitocondrial induzidas pelos raios UVA e do impacto desse mecanismo no fotoenvelhecimento baseia-se na denominada teoria mitocondrial do fotoenvelhecimento. Mitocôndrias são organelas celulares cuja principal função é gerar energia para a célula. Esse processo é realizado por meio de uma série de etapas chamada de fosforilação oxidativa. Essas organelas contêm seu próprio DNA, que está organizado em uma molécula circular. Todas as informações necessárias para o correto funcionamento da mitocôndria estão codificadas nesse DNA. No caso de mutação, há prejuízo na habilidade dessa mitocôndria em produzir adenosina trifosfato (ATP) e prover energia para a célula. Tem sido proposto que mutações no DNA mitocondrial desempenham papel importante no processo de envelhecimento cronológico. O acúmulo de mutações do DNA mitocondrial é acompanhado por declínio da função dessa organela. Mutações no DNA mitocondrial também estariam envolvidas no processo de fotoenvelhecimento. Vários estudos demonstraram que a pele cronicamente exposta ao sol, com sinais de fotoenvelhecimento, apresenta frequência substancialmente mais elevada de mutações do DNA mitocondrial em comparação à pele não fotoexposta. Ultimamente, uma nova teoria vem ganhando importância. As células humanas dispõem de um número finito de divisões celulares até alcançarem um estágio de não divisão celular denominado senescência replicativa. Tem sido proposto que o encurtamento dos telômeros seria o relógio molecular que desencadearia o início do processo de envelhecimento. Telômeros são complexos DNA-proteína encontrados nas extremidades dos cromossomos, protegendo-os da degradação e da recombinação cromossômica. Ao longo da vida, observa-se nas duplicações celulares um encurtamento do telômero, até um tamanho mínimo que interrompe a proliferação celular. Criou-se, então, a hipótese de que este funcionaria como um “relógio celular”, capaz de controlar a entrada na senescência. Especula-se que a telomerase, uma enzima do tipo transcriptase reversa, que tem como função adicionar sequências repetitivas de pares da base à extremidade 3’ da fita de DNA na região dos telômeros, seja capaz de “atrasar” o relógio telomérico, despontando como uma possibilidade terapêutica na eterna procura da fonte da juventude. É discutido o envolvimento dos radicais livres no desencadeamento da mais frequente deleção do DNA mitocondrial, a chamada “deleção comum”. Isso sugere que substâncias com potencial de destruição ou neutralização de radicais livres possam ser empregadas para prevenir o fotoenvelhecimento. Uma vez que o fotoenvelhecimento e a fotocarcinogênese apresentam características em comum, é tentador especular que estudos na área do fotoenvelhecimento, bem como a pesquisa de novas substâncias que atuem melhorando ou reparando os danos causados pelo fotoenvelhecimento, possam colaborar de alguma maneira com a prevenção da fotocarcinogênese. A compreensão do complexo processo de fotoenvelhecimento evoluiu substancialmente nos últimos anos. A elucidação dos mecanismos de base envolvidos é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de tratamento e prevenção desse problema