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CAPÍTULO 2 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conhecer algumas defi ciências: física, auditiva e visual. Distinguir os conceitos de defi ciências, distúrbios e difi culdades de aprendizagem. Compreender os Transtornos do Espectro Autista: Síndrome de Asperger, Autismo e Síndrome de Rett. Conhecer algumas difi culdades de aprendizagem: Dislexia, Disortografi a, Disgrafi a. 50 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano 51 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 CONTEXTUALIZAÇÃO Atualmente, no Brasil, os problemas relativos à Difi culdade de Aprendizagem, Transtornos ou Defi ciências constituem um grande desafi o para todos os envolvidos no processo educativo nas escolas. De um modo geral, as queixas escolares ainda permanecem sobre a criança que não aprende. Essas queixas vêm sendo entendidas, na grande maioria das situações, como frutos de problemas individuais e familiares do aluno encaminhado, que é atendido por práticas psicodiagnósticas baseadas em procedimentos centrados na entrevista inicial, anamnese, aplicação de testes, encaminhamento para psicoterapia e, em alguns casos, orientação aos pais desses alunos. Tais procedimentos são realizados por médicos especializados em neurologia, com uma equipe de profi ssionais, por exemplo, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, pedagogos. Vale lembrar que o termo “psicodiagnóstico” é introduzido por Dupré e por Herman Rorschach no princípio do século XX. Dupré o utilizava para qualifi car a análise dos sintomas puramente psíquicos de uma doença mental, visando fazer o diagnóstico. Queremos destacar as características do conceito de aprendizagem. Mediante os processos de aprendizagem, incorporamos novos conhecimentos, valores, habilidades que são próprias da cultura e da sociedade em que vivemos. As aprendizagens que incorporamos nos fazem mudar de conduta, de maneira de agir, de maneira de responder. São produtos da educação que outros indivíduos da nossa sociedade planejaram e organizaram, ou melhor, do contato menos planifi cado, não tão direto com as pessoas com quem nos relacionamos. Já Shaywitz (2006) pauta as variáveis inseparáveis da aprendizagem e faz referência, além da estrutura cognitiva, aos fatores motivacionais e atitudinais, entre os quais estão o anseio de saber, a necessidade de realizações e o envolvimento do ego. Ou seja, a aprendizagem não ocorre apenas no plano cognitivo. A aprendizagem abrange aspectos orgânicos corporais, afetivos e emocionais. Contudo, os termos distúrbios, difi culdades e transtornos de aprendizagem têm provocado muitas controvérsias entre os profi ssionais, tanto da área da educação quanto da saúde. Isso porque há uma sintomatologia muito ampla, com disparidade de fatores etiológicos, quando se analisa o exercício da leitura, escrita e matemática (MOOJEN apud BASSOLS, 2003). 52 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano CONTEXTUALIZANDO O DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM: DEFINIÇÃO E CAUSAS Teoricamente, distúrbio signifi ca “alteração violenta na ordem natural”. O prefi xo “dis” também pode ser identifi cado com o sentido de anormal, patológico. Em suma, distúrbio de aprendizagem signifi ca anormalidade patológica por mudança violenta na ordem apropriada da aprendizagem. (MOYSÉS; COLARES, 1992). Conforme Fonseca (1995), distúrbio de aprendizagem se refere a um conjunto de difi culdades peculiares e pontuais, caracterizadas pela presença de uma disfunção neurológica. Já a difi culdade de aprendizagem é um termo mais global e abrangente, com causas pautadas no sujeito que estuda, nos conteúdos e nos métodos de ensino, no ambiente físico e social da escola. O distúrbio de aprendizagem é conceitualmente uma disfunção cerebral mínima (D.C.M.). “Se uma doença neurológica pode comprometer o domínio da linguagem escrita, será que a criança que não aprende a ler e a escrever não teria uma doença neurológica?” (MOYSÉS; COLARES, 1992, p.126). Esse fato acomete o aluno em nível individual. Só podem surgir soluções individuais para um problema médico, soluções médicas, essa expressão é muito usada pelas professoras, com o propósito de se referir a uma doença e não como problema localizado no aluno. Na mesma linha de raciocínio, Soares (apud CIASCA, 2003) menciona que estabelecer com todos os educandos a mesma atuação é um caminho improdutivo; cada um é diferente, com o seu próprio tempo lógico e psicológico, e cada um tem uma maneira específi ca de lidar com o conhecimento. Dessa maneira, é mais fácil encaminhar a criança para tratar o distúrbio com especialistas. Muitas crianças são rotuladas como “crianças com problemas de aprendizagem” por não conseguirem acompanhar o resto da turma ou por não conseguirem se expressar, é preciso uma autoavaliação do professor para ver se ele está correspondendo aos anseios dos alunos. Dentre os alunos, muitos têm culturas diferentes, linguagens diferentes e o professor tem que saber corresponder a essas necessidades. A seguir, apresentam-se as formas de distúrbios que podem ocorrer no processo de aprendizagem, segundo Corel e Schwarz (apud JOSÉ; COELHO, 1999). distúrbio de aprendizagem se refere a um conjunto de difi culdades peculiares e pontuais, caracterizadas pela presença de uma disfunção neurológica. Já a difi culdade de aprendizagem é um termo mais global e abrangente, com causas pautadas no sujeito que estuda, nos conteúdos e nos métodos de ensino, no ambiente físico e social da escola. 53 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 1) Distúrbios de aprendizagem condicionados pela escola: – Os condicionados pelo professor. – Os condicionados pela relação professor – aluno. – Os condicionados pela relação entre os alunos. – Os condicionados pelos métodos didáticos. 2) Distúrbios de aprendizagem condicionados pela situação familiar. 3) Distúrbios de aprendizagem condicionados por características da personalidade da criança. 4) Distúrbios de aprendizagem condicionados por difi culdades de educação. França (1996) faz uma distinção entre os termos difi culdade e distúrbios de aprendizagem, baseado na concepção de que o termo “difi culdade” está relacionado a problemas de ordem pedagógica e/ou socioculturais, logo, o problema não está centrado apenas no aluno, sendo essa visão mais frequentemente utilizada em uma perspectiva preventiva. Por outro lado, o termo “distúrbio” está vinculado ao aluno e sugere a existência de comprometimento neurológico em funções corticais específi cas, sendo mais utilizado pela perspectiva clínica ou remediativa. No entanto, para melhor compreensão das principais causas de distúrbios de aprendizagem, Fonseca (1987) procedeu um agrupamento dessas causas com base nos critérios: a) Emocional: a criança manifesta sinais de ansiedade, agressividade, tensão, regressão, narcisismo, negativismo. A incerteza do eu tende a criar nessa criança uma subvalorização perigosa, normalmente associada à autosubestimação e fragilidade do autoconceito. A criança emocionalmente desajustada tende a obter fracos resultados escolares e, na medida em que os distúrbios emocionais desintegram o comportamento, cairá o potencial de aprendizagem. São importantes o encorajamento e a estimulação da iniciativa. b) Familiar: as emoções que os pais apresentam em relação à criança durante os anos anteriores à escola são de essencial importância para seu desenvolvimento futuro e sua aprendizagem escolar. Educandos não amados tendem a não ter confi ança em si mesmos e nos outros e desenvolvem comportamentos agressivos. A rivalidade entre irmãos também é prejudicial, surgindo um sentimento de intolerância. Os problemas socioeconômicos dos pais, a falta de alimentação adequada, cuidados de higiene e saúde interferem, também, no rendimentoescolar. 54 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano c) Cultural: os hábitos de estudo e a valorização da escola são passados pela tradição cultural de cada família. Dependendo do grau de importância que se dá à escola, maior será o empenho da criança em estudar. d) Psicomotora: as atividades motoras desempenham na criança um papel importantíssimo em muitas de suas primeiras iniciativas intelectuais. Quando a criança inicia na escola uma aprendizagem formal, os distúrbios psicomotores fi cam mais claramente caracterizados. Aparecem transtornos na área de orientação espacial e temporal, lateralidade e maturação. Esse aluno necessita de auxílio constante do professor e uma maior estimulação. Precisa adquirir confi ança em si mesmo e melhor conhecimento de suas possibilidades e limites, condições necessárias para um bom relacionamento com o meio em que vive. e) Cognitiva: as letras e as palavras impressas são interiorizadas a partir de aquisições cognitivas básicas, que em muitas crianças com distúrbios de aprendizagem estão fragilmente consolidadas e estruturadas. A criança tem um nível de maturidade inferior ao normal, é mais lenta, podendo ter uma defasagem de um, dois, até três anos em relação às outras crianças. Tem difi culdade no raciocínio matemático e pouca capacidade de abstração. É tensa e ansiosa. As capacidades cognitivas: atenção, percepção, emoção, memória, linguística são básicas e essenciais para que uma criança aprenda a ler e escrever rápida e facilmente. Para França (1996), a distinção realizada entre os termos distúrbios e difi culdades de aprendizagem está baseada na concepção de que o termo “difi culdade” está relacionado a problemas de ordem pedagógica e/ou sociocultural. Sendo essa visão mais frequentemente utilizada em uma perspectiva preventiva. Por outro lado, o termo “distúrbio” está vinculado ao aluno e sugere a existência de comprometimento neurológico em funções corticais específi cas, sendo mais utilizado pela perspectiva clínica ou remediativa. Zorzi (2003) relata que crianças que não apresentem nenhuma difi culdade no desenvolvimento da linguagem oral podem vir a apresentar difi culdades específi cas de linguagem escrita. Alterações nos processos linguísticos, envolvendo especifi camente a linguagem escrita, são características nesses casos. Entretanto, é necessária uma adequação nessas terminologias, a fi m de permitir uma homogeneização quando esses casos são discutidos pelos profi ssionais das áreas afi ns. Considerando-se os dois principais manuais internacionais de diagnóstico, os transtornos específi cos de aprendizagem são assim defi nidos: 1) CID – 10: organizado pela Organização Mundial de Saúde - OMS/1992 Grupos de transtornos manifestados por comprometimentos específi cos e signifi cativos no aprendizado de habilidades 55 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 escolares. Estes comprometimentos no aprendizado não são resultados diretos de outros transtornos (tais como retardo mental, défi cits neurológicos grosseiros, problemas visuais ou auditivos não corrigidos ou perturbações emocionais) embora eles possam ocorrer simultaneamente em tais condições. (OMS, 1992, p. 237). 2) DSM – IV: organizado pela Associação Psiquiátrica Americana/1995 Os transtornos de aprendizagem são diagnosticados quando os resultados do indivíduo em testes padronizados e individualmente administrados de leitura, matemática ou expressão escrita estão substancialmente abaixo do esperado para sua idade, escolarização ou nível de inteligência. Os transtornos de aprendizagem podem persistir até a idade adulta. (ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA, 1995, p. 46). 3) De acordo com o DSM-V (2014) o transtorno específi co da aprendizagem é um transtorno do neurodesenvolvimento com uma origem biológica, que é a base das anormalidades no nível cognitivo, as quais são associadas às manifestações comportamentais. A origem biológica inclui uma interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que infl uenciam a capacidade do cérebro para perceber ou processar informações verbais ou não verbais com efi ciência e exatidão. Ambos os manuais consideram, basicamente, três tipos de transtornos, quais sejam, da leitura (dislexia), da escrita (disgrafi a e disortografi a) e das habilidades matemáticas (discalculia). Também referem que, em quaisquer dos casos, deve haver os seguintes requisitos para o diagnóstico de transtorno: • Ausência de comprometimento intelectual, neurológico evidente ou sensorial. • Adequadas condições de escolarização. • Início situado obrigatoriamente na primeira ou segunda infância. Uma característica essencial do transtorno específi co da aprendizagem são difi culdades persistentes para aprender habilidades acadêmicas fundamentais, com início durante os anos de escolarização formal (i.e., o período do desenvolvimento). Habilidades acadêmicas básicas incluem leitura exata e fl uente de palavras isoladas, compreensão da leitura, expressão escrita e ortografi a, cálculos aritméticos e raciocínio matemático (solução de problemas matemáticos). Diferentemente de andar ou falar, que são marcos adquiridos do desenvolvimento que emergem com a maturação cerebral, as habilidades acadêmicas (como leitura, ortografi a, escrita, matemática) precisam ser ensinadas e aprendidas de forma explícita. Transtornos específi cos da aprendizagem perturbam o padrão normal de aprendizagem de habilidades acadêmicas; não constituem, simplesmente, uma consequência de falta de oportunidade de aprendizagem ou de educação escolar adequada. Difi culdades para dominar essas habilidades 56 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano acadêmicas básicas podem também ser impedimento para aprendizagem de outras matérias acadêmicas (como história, ciências, geografi a), mas esses problemas são atribuíveis a difi culdades de aprendizagem de habilidades acadêmicas subjacentes. Difi culdade de aprender a correlacionar letras a sons do próprio idioma – a ler palavras impressas (frequentemente chamada de dislexia) – é uma das manifestações mais comuns do transtorno específi co da aprendizagem. As difi culdades de aprendizagem manifestam-se como uma gama de comportamentos ou sintomas descritivos e observáveis. Esses sintomas clínicos podem ser observados, investigados a fundo por entrevista clínica ou confi rmados a partir de relatórios escolares, escalas classifi catórias ou descrições em avaliações educacionais ou psicológicas prévias. (DSM V, 2014, p.112) Portanto, os educadores precisam estar atentos aos estudantes. Quando estiverem desconfi ados de que há uma difi culdade ou distúrbio de aprendizagem, dependendo da intensidade com que os sintomas se apresentam, precisam conversar com a equipe gestora da escola. Se não houver psicólogo na escola, talvez o professor decida com alguém da equipe (talvez outro professor que já conheça o estudante) por conversar com os pais/responsáveis pelo estudante. Nessa conversa, o mais apropriado é que o professor não utilize a expressão “distúrbio”, já que ele não pode fazer o diagnóstico. O ideal é que o professor descreva para os pais os comportamentos do estudante, quais as difi culdades encontradas e não faça comparações com algum “modelo”, bem como sugira que procurem um psicólogo para fazer uma investigação mais completa. METRING, Robert. Neuropsicologia e aprendizagem: fundamentos necessários para planejamento do ensino. Rio de Janeiro: WAK. Agora, vamos conhecer um pouco sobre as Difi culdades de Aprendizagem? As crianças com difi culdades de aprendizagem apresentam algum problema para aprender. São crianças que têm um nível de inteligência bom, não apresentam problemas de visão ou audição, mas falham na escola. Crianças com difi culdades de aprendizagem não são defi cientes, não são incapazes e, ao mesmo tempo, demonstram difi culdades para aprender. As difi culdades de aprendizagem ocorrem devido afatores psicológicos e sociais. O fator social está relacionado a fatores culturais e envolvimentos, forças Portanto, os educadores precisam estar atentos aos estudantes. 57 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 sociais, relações interpessoais e movimento de ações, como palavras, gestos, sinais, expressões entre outros. E o fator psicológico contribui para as funções do desenvolvimento, fatores de aprendizagem, forças psicológicas, identifi cação de pensamentos e cognitividade, bem como contribui para o processamento de rememorização, intenção, autoconsciência e autoconceito. Por exemplo, as causas mais comuns que favorecem as difi culdades de aprendizagem são: inibição, ansiedade, angústia, inadequação à realidade, sentimento generalizado de rejeição. Esses sintomas estão sempre ligados a causas pessoais. Os sintomas são diversos e variáveis de pessoa para pessoa. Entretanto, algumas difi culdades são resultantes de problemas educacionais ou ambientais que não estão relacionados às habilidades cognitivas da criança. Por exemplo, fracasso escolar precoce pode levar à perda da autoconfi ança, com efeitos subsequentes no aprendizado. Uma grande gama de variáveis associadas ao ambiente familiar também colaboram para as difi culdades de aprendizagem. Algumas vezes, todos os diferentes fatores estão interligados. Pain (1981), citado por Rubinstein (1996), considera a difi culdade para aprender como um sintoma que cumpre uma função positiva tão integrativa como o aprender e que pode ser determinado por: 1) Fatores específi cos: relacionados às difi culdades específi cas do indivíduo, os quais não são passíveis de constatação orgânica, mas que se manifestam na área da linguagem ou na organização espacial e temporal, dentre outros. 2) Fatores psicógenos: é necessário que se faça a distinção entre difi culdades de aprendizagem decorrentes de um sintoma ou de uma inibição. Quando relacionado a um sintoma, o não aprender possui um signifi cado inconsciente; quando relacionado a uma inibição, trata-se de uma retração intelectual do ego, ocorrendo uma diminuição das funções cognitivas que acaba por acarretar os problemas para aprender. 3) Fatores ambientais: relacionados às condições objetivas ambientais que podem favorecer ou não a aprendizagem do indivíduo. Para Strick e Smith (2001, p.34), “[...] as difi culdades de aprendizagem referem-se não a um único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho acadêmico.” As difi culdades são conhecidas como problemas que intervêm no comando de habilidades escolares 58 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano básicas e elas só podem ser convencionalmente identifi cadas quando uma criança começa a ter problemas na escola. As difi culdades de aprendizagem são persistentes e não transitórias. Em crianças e adolescentes, defi ne-se persistência como um limitado progresso na aprendizagem (ausência de evidências de que o indivíduo está alcançando o mesmo nível dos colegas) durante pelo menos seis meses, apesar de ter sido proporcionada ajuda adicional em casa ou na escola. Por exemplo, difi culdades em aprender a ler palavras isoladas que não se resolvem completa ou rapidamente com a provisão de instrução em habilidades fonológicas ou estratégias de identifi cação de palavras podem indicar um transtorno específi co da aprendizagem. Evidências de difi culdades persistentes de aprendizagem podem ser detectadas em relatórios escolares cumulativos, portfólios de trabalhos da criança avaliados, medidas baseadas no currículo ou entrevista clínica. (DSM V, 2014, p.112). As crianças com difi culdades de aprendizagem são satisfatoriamente inteligentes, mas se confrontam com muitos obstáculos na escola. Essas crianças têm boas intenções no que se refere a deveres e tarefas de casa, mas no decorrer do trabalho esquecem as instruções ou os objetivos. Smith e Stick (2001) nos fazem pensar que, na realidade, as difi culdades de aprendizagem são normalmente tão sutis que essas crianças não parecem ter difi culdade alguma. Pois elas têm difi culdades em pontos particulares, mas em outros não. Muitas vezes, elas têm inteligência na faixa de média a superior, apenas não são capazes em algumas áreas. Outros comportamentos problemáticos, segundo Smith e Stick (2001), podem ser observados em pessoas jovens com difi culdades de aprendizagem. Eles são os seguintes: • Fraco alcance da atenção: A criança se distrai com facilidade, perde rapidamente o interesse por novas atividades, deixa projetos inacabados. Figura 1 - Criança distraída em sala de aula Fonte: Disponível em: <http://www.corbisimages.com/stock- photo/rights-managed/42-19840854/distracted-student-in- classroom?popup=1>. Acesso em: 06 ago. 2012. As difi culdades são conhecidas como problemas que intervêm no comando de habilidades escolares básicas. 59 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 • Difi culdade para seguir instruções: a criança pode pedir ajuda repetidamente, mesmo durante tarefas simples. • Imaturidade social: a criança age como se fosse mais jovem que sua idade cronológica e pode preferir brincar com crianças menores. • Difi culdade com a conversação: a criança tem difi culdades em encontrar palavras certas. • Infl exibilidade: a criança teima em continuar fazendo as coisas à sua própria maneira. • Distração: a criança frequentemente perde a lição, as roupas e outros objetos seus. • Falta de destreza: a criança parece desajeitada e sem coordenação. Em geral deixa cair as coisas, pode ter uma caligrafi a péssima, é vista como completamente inepta em esportes e jogos. • Falta de controle dos impulsos: a criança toca tudo que prende seu interesse. Smith e Stick (2001, p. 15) nos trazem relatos dos próprios estudantes que veem nesses comportamentos defeitos de personalidade: “Eu fi quei muito contente quando descobri que tinha difi culdade de aprendizagem. Até então eu achava que era apenas uma cabeça de vento imbecil.” É importante pensar que muitos dos itens acima se referem a aspectos da personalidade. As pessoas são diferentes umas das outras. Uns são mais distraídos, outros mais tímidos, outros mais descontraídos. Senão teríamos uma sociedade de “iguais” e não haveria a diversidade, as subjetividades, etc. As crianças com difi culdades de aprendizagem, embora se sintam felizes, desenvolvem problemas emocionais relacionados. Tornam-se frustradas, questionam sua própria inteligência, algumas se sentem furiosas e põem para fora fi sicamente essa sensação, fi cam ansiosas e deprimidas. Elas se isolam socialmente, sofrem de solidão e de baixa autoestima. Os pais de alunos com difi culdades de aprendizagem, em geral, tentam lidar com uma gama imensa de problemas. Os pais devem se lembrar de um ponto muito importante: eles não são impotentes. Smith e Stick (2001) afi rmam que está comprovado que os estudantes mais propensos a ter sucesso são aqueles que têm pais informados e incentivadores ao seu lado, ajudando-os a estabelecer objetivos realistas e encorajando o orgulho, envolvendo-os em responsabilidades em casa e na comunidade. Os pais de alunos com difi culdades de aprendizagem, em geral, tentam lidar com uma gama imensa de problemas. 60 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano Os pais, professores e diretores precisam estar em parceria nas ações para encontrarem a melhor maneira de ajudar as crianças. Mas o começo da jornada está com os pais, eles precisam se tornar ativos na escola para garantir que as necessidades educacionais de seus fi lhos sejam plenamente satisfeitas. Hoje sabemos que a maioria das crianças com difi culdades de aprendizagem não têm uma história de lesão cerebral, mesmo quando têm, nem sempre é certo que esta é a fonte de suas difi culdades escolares. Smith e Stick (2001) afi rmam que: Entre os tipos de lesões associados a difi culdadesde aprendizagem estão acidentes, hemorragias cerebrais e tumores, doenças como encefalite e meningite, transtornos glandulares não tratados na primeira infância e hipoglicemia na primeira infância. A desnutrição e a exposição a substâncias químicas tóxicas também causam danos cerebrais. Incidentes envolvendo sufocação, afogamento, inalação de fumaça, envenenamento por monóxido de carbono e algumas complicações do parto também se enquadram nessa categoria. Também podem ocorrer lesões cerebrais antes do parto. Sabemos bem que, quando certas doenças ocorrem durante a gravidez – diabete, doença renal e sarampo, entre outras -, o dano cerebral ao feto é, às vezes, o infeliz resultado. A exposição pré-natal a drogas (álcool, nicotina e alguns medicamentos prescritos, bem como drogas de “rua”) esta claramente associada a uma variedade de difi culdades de aprendizagem, incluindo atrasos cognitivos, défi cits de atenção, hiperatividades e problemas de memória. De acordo com Smith e Stick (2001, p. 24), “[...] o funcionamento apropriado do córtex cerebral é essencial para o pensamento e a aprendizagem de nível superior. ” O processo contínuo de amadurecimento cerebral explica porque as crianças se tornam gradualmente capazes de fazer coisas que não podiam fazer antes. Com o uso de tecnologia e imagens para o estudo da atividade no córtex cerebral, os cientistas identifi caram três padrões que ocorrem com particular frequência em indivíduos com difi culdades acadêmicas: • O hemisfério esquerdo é hipoativo/ o hemisfério direito é hiperativo. O hemisfério cerebral esquerdo geralmente se especializa nas funções da linguagem. No hemisfério cerebral direito, podem-se produzir atrasos na aprendizagem da leitura, já que o lado direito do cérebro está fracamente adaptado à tarefa de decodifi cação de palavras por sua alteração em sons e sílabas individuais. Os pais, professores e diretores precisam estar em parceria nas ações para encontrarem a melhor maneira de ajudar as crianças. 61 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 • O hemisfério direito é hipoativo/ o hemisfério esquerdo é hiperativo. Os indivíduos com defi ciências no córtex cerebral direito apresentam difi culdade com o senso de tempo. Um hemisfério esquerdo hiperativo geralmente acarreta uma abordagem excessivamente analítica à solução de problemas. • Hipoatividade nos lobos frontais. Os lobos frontais do córtex cerebral conduzem o desempenho motor e também incluem regiões envolvidas no planejamento e na avaliação, no foco da atenção, na organização, na avaliação de informações e no equilíbrio das emoções. Quando as regiões frontais do cérebro não estão funcionando de maneira efi ciente, as crianças têm problemas de coordenação muscular, articulação, controle dos impulsos, planejamento, organização e manutenção da atenção. FISCHER, Juliane. O cérebro e o corpo no aprendizado. Indaial: Editora da Uniasselvi. Para Smith e Stick (2001), as células cerebrais se comunicam umas com as outras por meio de “mensageiros” químicos chamados de neurotransmissores. Qualquer mudança no clima químico delicadamente equilibrado do cérebro pode intervir nesses neurotransmissores e danifi car a habilidade do cérebro de funcionar adequadamente. Os investigadores Smith e Stick (2001) descobriram uma variedade de irregularidades nos cérebros de pessoas com transtorno de défi cit de atenção/ hiperatividade. Uma é que muitos indivíduos com o transtorno são defi cientes em relação a uma classe de neurotransmissores chamados catecolaminas. As catecolaminas controlam diversos sistemas neurais no cérebro, o comportamento motor e a motivação. Estudiosos observavam que drogas estimulantes (como a ritalina), que aumentam o nível de catecolaminas no cérebro, normalizavam temporariamente o desenvolvimento de crianças hiperativas e com pouca infl uência dos impulsos. Smith e Stick (2001) afi rmam que é importante recordar que o medicamento raramente é uma solução total para as difi culdades de uma criança. Os estudos têm apontado frequentemente que medicamentos combinados com um programa de modifi cação comportamental funcionam melhor que os medicamentos sozinhos. A hereditariedade também é um fator para difi culdades de aprendizagem. 62 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano A hereditariedade também é um fator para difi culdades de aprendizagem. Smith e Stick (2001) descobriram que 60% das crianças com difi culdades de aprendizagem tinham pais e/ou irmãos com problemas similares, enquanto 25% podiam identifi car avós, tios e tias com difi culdades de aprendizagem. Os investigadores também notaram que a genética, provavelmente, jamais é a única causa de uma difi culdade de aprendizagem. Smith e Stick (2001, p. 30) dizem que “[...] 40% do défi cit de cada criança se devem a problemas genéticos, 35% a infl uências ambientais compartilhadas, e 25% a fatores ambientais únicos em relação ao individuo ou a fatores aleatórios ainda não-compreendidos. ” Logo, quando existe uma história familiar de difi culdades de aprendizagem, os pais também precisam do apoio que é oferecido às crianças, tanto dos profi ssionais quanto de outros membros da família. E, por fi m, as infl uências ambientais. Os ambientes domésticos e escolares da criança afetam seu desenvolvimento intelectual e seu potencial para a aprendizagem. O ambiente doméstico desempenha uma importante ação para determinar se qualquer criança aprende bem ou mal. Os estudos de Smith e Stick (2001) têm demonstrado que um ambiente estimulante e encorajador em casa produz estudantes adaptáveis e muito preparados para estudar, mesmo entre crianças cuja saúde ou inteligência foi comprometida de alguma maneira. Para Smith e Stick (2001), as crianças que recebem um incentivo afetuoso durante toda a sua vida tendem a ter maneiras positivas, tanto sobre a aprendizagem quanto sobre si mesmas. Seu espírito de “eu posso fazer isso” as ajuda a enfrentarem os desafi os e superarem as barreiras. Figura 2 - Afetividade: mãe e fi lho Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/qTZ84u>. Acesso em: 06 ago. 2012. Seu espírito de “eu posso fazer isso” as ajuda a enfrentarem os desafi os e superarem as barreiras. Seu espírito de “eu posso fazer isso” as ajuda a enfrentarem os desafi os e superarem as barreiras. 63 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 Ao contrário, as crianças que são privadas de um ambiente estimulante nos primeiros anos de vida enfrentam muitos obstáculos. Elas adquirem lentamente as habilidades cognitivas básicas, têm poucas habilidades sociais e tendem a se comunicar mal. Não usam suas capacidades intelectuais em seu benefício e podem mostrar pouca curiosidade ou interesse por aprender, não possuem autoconfi ança, o que as coloca em risco educacional durante todos os anos de escola. Em muitos aspectos, o ambiente doméstico pode prejudicar a capacidade de uma criança para aprender. (SMITH; STICK, 2001). As crianças que não obtêm nutrição alimentar ou sono sufi cientes obviamente sofrerão em sua capacidade para se concentrar e absorver informações. Supomos, também, que as crianças criadas por pais ou responsáveis que falam mal o idioma e aquelas que veem muita televisão tendem a ter atraso no desenvolvimento da língua. Isso afeta sua capacidade para se expressar e compreender seus professores e também as coloca em situações de risco para problemas de leitura e de escrita, pois esses hábitos nada estimulam o raciocínio e as habilidades que envolvem a aquisição da leitura. Smith e Stick (2001, p. 33) nos dizem, ainda, que o estresse emocional também “[...] compromete a capacidade das crianças para aprender.” A ansiedade em relação a dinheiro ou mudança de residência, a discórdia familiar ou doença pode não apenas ser prejudicial em si mesma, mas, com o tempo, pode desgastar a acomodação de uma criança para acreditar, assumir riscose ser receptiva a novas situações que são importantes para o sucesso na escola. Figura 3 - Ansiedade: mudança de residência Fonte: Disponível em: <http://www.corbisimages.com/stock- photo/royalty-free/42-32122332/usa-new-jersey-jersey-city- father-helping?popup=1>. Acesso em: 06 ago. 2012. 64 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano A fi m de obterem progresso intelectual, as crianças devem não apenas estar prontas e serem capazes de aprender, mas também devem ter oportunidades apropriadas da aprendizagem. Smith e Stick (2001) afi rmam que um aluno, cuja orientação é principalmente visual e exploratória, necessita ver e tocar as coisas a fi m de entendê-las, por exemplo. Esse estudante não se sairá bem com professores que “palestram” o tempo todo, não importando o quanto possam ser inteligentes e preocupados com suas matérias. Da mesma forma, uma criança cuja abordagem da aprendizagem é basicamente refl exiva – isto é, que precisa de tempo para considerar todos os aspectos de um problema antes de tentar uma solução – irá se sair muito mal em uma sala de aula em que os alunos são levados apressadamente de uma tarefa para outra de acordo com os ditames de um currículo rígido. Para progredirem, as crianças precisam ser encorajadas a trabalhar ao seu próprio modo. Ao fi nal, compreender como uma criança veio a ter uma difi culdade de aprendizagem é bem menos importante do que saber como encontrar os tipos certos de ajuda. SAMPAIO, Simaia. TRANSTORNOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: entendendo melhor os alunos com necessidades educacionais especiais. Rio de Janeiro: WAK. Atividade de Estudos: 1) Conceitue distúrbio e difi culdade de aprendizagem. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 2) Descreva os três tipos de transtornos e quais os requisitos para o seu diagnóstico. As crianças devem não apenas estar prontas e serem capazes de aprender, mas também devem ter oportunidades apropriadas da aprendizagem. 65 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ DEFICIÊNCIA AUDITIVA E VISUAL Vamos agora estudar sobre a defi ciência auditiva e visual. a) Defi ciência Auditiva Crianças defi cientes auditivas gozam de completa capacidade mental. São pessoas absolutamente normais sob o ponto de vista psicológico. Mas, devido à falta de informação, é comum que sejam tratadas ou confundidas com defi cientes mentais ou autistas. Pesquisas mostram que apenas quem sofre defi ciência auditiva ou convive com quem a tem conhece o tamanho do problema. A defi ciência auditiva é entendida como a perda total ou parcial, ou seja, a privação ou a diminuição do sentido da audição. Podendo ser congênita (viroses maternas: rubéola, sarampo; doenças tóxicas da gestante: sífi lis, toxoplasmose; ingestão de medicamentos ototóxicos que lesam o nervo auditivo durante a gravidez) ou adquirida (quando existe uma predisposição genética: otosclerose; quando ocorre meningite, ingestão de remédios ototóxicos, exposição a sons ambientes: explosão, bombas) impossibilita ou difi culta a capacidade de compreender a fala através do ouvido. A perda auditiva infl uencia no desenvolvimento infantil: maior idade, maior experiência com o som. É avaliada pela sua intensidade em cada um dos ouvidos, em função de diversas frequências. A etiologia da defi ciência auditiva tem relação com a idade da perda auditiva; com a reação emocional dos pais; desenvolvimento intelectual. Pode ser de duas causas: hereditárias e adquiridas. Para o defi ciente auditivo, os programas educacionais devem levar em consideração a idade em que a criança perdeu a audição, ou seja, uma criança A defi ciência auditiva é entendida como a perda total ou parcial, ou seja, a privação ou a diminuição do sentido da audição. 66 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano que adquiriu a surdez congenitamente terá que aprender uma linguagem totalmente nova e não tem experiência com som. (GONZALEZ, 2007). Se a defi ciência auditiva ocorreu após o nascimento, os programas educacionais devem levar em consideração que essa criança necessita de uma organização total de seu sistema linguístico. Já quando a defi ciência auditiva ocorreu após os três anos, essa criança terá que manter a linguagem já adquirida e enriquecê-la a partir da experiência acumulada. Os defi cientes auditivos têm uma inteligência semelhante a dos ouvintes, não sendo encontrados atrasos nos diferentes fatores que confi guram o desenvolvimento sensório-motor. Figura 4 - Criança Defi ciente Auditiva Fonte: Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_ fotos/2012/03/120305_caes_guias_surdos_fn.shtml>. Acesso em: 14 ago. 2012. Os intercâmbios sociais e linguísticos têm uma marcada infl uência no desenvolvimento cognitivo. A criança percebe o mundo por meio da linguagem, que se converte em parte essencial do seu desenvolvimento cognitivo. A linguagem convém para delinear e aceitar a ação humana. A atenção educacional é uma garantia de um desenvolvimento satisfatório. Essa atenção tem que incluir a estimulação sensorial, as atividades comunicativas e expressivas, o desenvolvimento simbólico, a participação dos pais, a utilização dos resíduos auditivos da criança. Segundo Gonzalez (2007), a infl uência da defi ciência auditiva sobre a aquisição da linguagem e o desenvolvimento da fala depende, inicialmente, dos níveis de audição. Porém, a criança com defi ciência auditiva tem sempre uma linguagem, isto é, “[...] uma ideia da comunicação com seu meio já simplesmente a partir da leitura labial, acompanhando-a de gestos signifi cativos.” (GONZALEZ, 2007, p.90). A infl uência da defi ciência auditiva sobre a aquisição da linguagem e o desenvolvimento da fala depende, inicialmente, dos níveis de audição. 67 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 Para Vygotsky (1989), não devemos perceber a linguagem falada como apenas uma forma de comunicação, mas também como uma função reguladora do pensamento, ou seja, é através da linguagem que se constitui o pensamento do indivíduo. Portanto, podemos dizer que a linguagem está sempre presente no sujeito, mesmo nos momentos em que não está se comunicando com outras pessoas. A criança surda deve adquirir a linguagem, segundo Vygotsky (1989), da mesma forma que as crianças ouvintes, uma vez que ele valoriza a educação pré-escolar como o ambiente propício para a estimulação da língua oral e como meio de incorporar a criança surda à comunidade ouvinte. Portanto, não é que a criança deva desenvolver a linguagem falada, é preciso possibilitar caminhos e verifi car o que é possível de ser desenvolvido, o que a família acredita que seja importante e o que para a criança também é importante. Assim, a língua de sinais seria a língua que o defi ciente auditivo poderia dominar plenamente e que serviria para todas as suas necessidades de comunicação e cognitivas. Porém, para que a criança tenha sucesso na aquisição da língua de sinais, é necessário que a família também a aprenda, para que assim a criança possa utilizá-la para se comunicar em casa. b) Defi ciência Visual Mesmo com os esforços da Organização das Nações Unidas - ONU e da Organização Mundial de Saúde - OMS para eliminar a incoerência dos conceitos,a palavra defi ciente continua tendo um sentido muito forte, opondo-se à palavra efi ciente. Ser defi ciente, antes de tudo, é não ser capaz, não ser efi caz. De um modo geral, a sociedade civil brasileira forma uma imagem completamente distorcida do que venha a ser um cego. (CADORE et al., 2004). “Ver é captar a existência de uma coisa, ou seja, a sua singularidade.” (GIL apud CADORE et al., 2004). Assim, a capacidade de ver não corresponde ao potencial de visão. Enxergamos o mundo através do corpo e da sua interferência com os objetos e as pessoas, através da linguagem, do toque e da percepção corporal. Figura 5 - Criança Defi ciente Visual Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/q2DZTg>. Acesso em: 13 ago. 2012. 68 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano Na ausência de um sentido, os remanescentes têm que trabalhar sem uma das informações. No caso específi co da visão, a pessoa terá que formar essa rede através de dados originados de forma intermitente e sequencial, normalmente recebidos de forma fragmentada. Não existe uma compensação sensorial mágica, no entanto, inicialmente, os outros sentidos parecem diminuídos na ausência da visão e as crianças cegas a cada passo parecem não ter a percepção de seu ambiente e necessitar de estimulação adicional. (CAROLAN; CHASE; KEELER apud CADORE et al.,2004). Os sentidos não esclarecem a vida em atos gritantes ou sutis, dividem a realidade em fatias vibrantes, juntando-as de modo a formar um padrão signifi cativo. Captam amostras eventuais. Permitem que uma sugestão decifre um todo. Escolhem e estabelecem uma versão razoável, executando pequenas e delicadas transações. (ACKERMAN, apud FIGUEIREDO, 1997, p.85). De acordo com Conde (2004), a criança cega, privada do principal dos sentidos, não desenvolve naturalmente os outros intactos de forma compensatória. Sem uma estimulação adequada, os sentidos restantes não atuam de forma fi dedigna na diminuição na defasagem na captação e elaboração dos estímulos que a cegueira provoca. Canejo (apud CADORE et al., 2004) diz que é errado afi rmar que uma pessoa privada de um sentido possa ser compensada pelo aumento dos sentidos restantes. Porém, é de conhecimento geral que ao utilizar com enorme frequência um sentido, ele se torna apurado. Contudo, para o defi ciente visual, torna-se necessária a mobilidade, a fi m de estabelecer um elo principal de união com o mundo exterior, sem o qual fi ca impedido o desenvolvimento auditivo e tátil. Até que possa se mexer, a criança cega terá escassos dados sobre a estrutura do espaço que a rodeia. Ao mesmo tempo em que acrescenta a necessidade de mobilidade para aquisição de informações, há uma carência de motivação, causada pela defi ciência da visão. (CADORE et al., 2004). Segundo Cutsforth (apud CADORE et al., 2004), a audição é o único sentido de distância de que os cegos dispõem e tem de funcionar de forma absolutamente diferente, sem o conhecimento da visão. Os sons são provavelmente a mais importante forma de input sensorial para uma criança cega, mas sem visão nem sempre são fáceis de interpretar, podendo fornecer indicações sobre a distância e a direção, mas não sobre a forma. Figueira, Arsego e Foletto (apud CADORE et al., 2004) afi rmam que exterocepção (esteregnosia) é o sentido que possibilita ao sujeito o reconhecimento Na ausência de um sentido, os remanescentes têm que trabalhar sem uma das informações. 69 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 de um elemento pela sensibilidade tátil e térmica, estabelecendo a forma, o contorno e o estado dos objetos. O tato oferece informações sobre forma, qualidade, textura, resistência, temperatura e peso, porém a visão permite a apreensão da totalidade ao mesmo tempo em que as partes estão a ser examinadas, quer pelos olhos, quer pelo tato, quer por sua combinação. A percepção tátil para cegos tem um sentido inteiramente diferente, já que suas imagens são formadas por meio de percepções táteis e auditivas, enquanto as dos videntes são formadas, predominantemente, por impressões visuais. No entanto, de acordo com Cadore e colaboradores (2004), o tato sofre limitações sem a visão semelhantes à audição porque a visão é necessária para a apreensão da totalidade do objeto. O incentivo para a exploração tátil é normalmente harmônico pela visão: a cor, o padrão decorativo, a forma e a localização são alcançadas visualmente e convêm para confi rmar e aliciar. Aquilo que é percebido somente pelo tato carece da integração que a visão possibilita. TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA: SÍNDROME DE ASPERGER, AUTISMO E SÍNDROME DE RETT No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica America DSM -V (2014), os transtornos Globais do Desenvolvimento (nomenclatura utilizada no DSM –IV), que incluíam o Autismo, Transtorno Desintegrativo da Infância e as Síndromes de Asperg e Rett foram absorvidos por um único diagnóstico, Transtorno do Espectro Autista. a) Síndrome de Asperger A Síndrome de Asperger é um transtorno do espectro do autismo que causa defi ciências ao funcionamento normal da comunicação, da socialização e da imaginação (a capacidade de comportar-se e pensar com certo nível de fl exibilidade), assim como, muitas vezes, da coordenação física. Afeta crianças de ambos os sexos, mas os meninos são atingidos em números signifi cativamente maiores. Hans Asperger era um médico pediatra de Viena que apresentou a Síndrome de Asperger em 1944. No início de seus estudos, foi descrita como uma psicopatia autística, permanecendo seu trabalho inicial limitado por muito tempo unicamente à língua alemã. (ORRÚ, 2011). Afeta crianças de ambos os sexos, mas os meninos são atingidos em números signifi cativamente maiores. 70 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano Figura 6 - Hans Asperger Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/P8ZjWE>. Acesso em: 06 ago. 2012. Leo Kanner, já em 1943, descreveu cerca de onze casos que denominou como distúrbios autísticos do contato afetivo, por perceber que os pacientes apresentavam incapacidade de se relacionar normalmente com outras pessoas, o que ocorria desde o início da vida. De acordo com Orrú (2011, p. 1), Kanner, em seus casos, também observou “[...] respostas incomuns ao ambiente, que incluíam maneirismos, motores estereotipados, resistência à mudança ou insistência na monotonia.” Figura 7 - Leo Kanner Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/dlCrFv>. Acesso em: 06 ago. 2012. Os estudos de Kanner revelaram, também, que esses pacientes apresentavam outros sintomas, como: falta de habilidades de comunicação, inversão dos pronomes e a convergência ao eco na linguagem (ecolalia), além dos défi cits de relacionamento social. (ORRÚ, 2011). Somente em 1981, com Lorna Wing, o termo Síndrome de Asperger passou a ser utilizado regularmente, exigindo que muitos estudos fossem realizados para compor seu diagnóstico. Atualmente, essa síndrome está “[...] no conceito dos transtornos do desenvolvimento, sendo entendida como uma variante do autismo no que diz respeito à característica de alto funcionamento.” (ORRÚ, 2011, p. 1). 71 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 Figura 8 - Lorna Wing Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/X0xp1t>. Acesso em: 06 ago. 2012. Feita essa breve abordagem sobre o desenvolvimento histórico da Síndrome de Asperger, torna-se pertinente fazer uso do conceito proposto por Teixeira (2011): A Síndrome de Asperger é uma desordem pouco comum, contudo, importante na prevenção do processo psicológico de crianças, que tardiamente é diagnosticada devido à falta de conhecimento por parte dos profi ssionais, nomeadamente dos professores e educadores. Essa síndrome é uma classe bastante atual na publicação científi ca e encontra-se em uso geral nos últimos 15 anos. Teixeira (2011) acrescenta que, somente em 1994, a síndrome foi reconhecida como critério de diagnósticono DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o que fez com que até esse período muitas crianças fossem diagnosticadas com síndromes como Autismo, Perturbação Obsessivo- Compulsiva, entre outras. O diagnóstico da Síndrome de Asperger tem uma análise basicamente clínica. Acontece por meio de observação de características comportamentais e de análise do histórico do indivíduo. No entanto, não se pode descartar a necessidade da realização de exames laboratoriais quando houver suspeita de associação com outra condição clínica. Em síntese, conforme o DSM IV (1995) e o CID 10 (1993), “[...] o indivíduo com Síndrome de Asperger apresenta a alteração/disfunção social do autismo na presença de inteligência normal, não havendo atraso de linguagem.” (GHZIUDDIN; LEININGER; TSAI, 1995 apud ORRÚ, 2011, p. 1). Com as revisões dos transtornos psiquiátricos na nova versão do DSM, o DSM-5, a Síndrome de Asperger deixou de ser classifi cada. Visto que essa síndrome foi marcada por difi culdades em interagir com os outros, juntamente com comportamentos anormais e in teresses anormalmente intensos por temas curiosos, como, por exemplo, estatísticas de futebol ou trens. Com o lançamento 72 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano ofi cial do DSM-5, a síndrome de Asperger era considerada relacionada, mas distinta do autismo. O DSM-5 contém um novo distúrbio que substitui tanto o antigo transtorno autista como a síndrome de Asperger, ele é chamado de: transtorno do espectro do autismo. Finalizando este tópico, é relevante destacar que a Síndrome de Asperger é mais comum em indivíduos do sexo masculino e em famílias com membros que manifestam os mesmos comportamentos ou sintomas. Conforme ressalta Galenti (2011, p.45), a Síndrome de Asperger “[...] consiste em um autismo de alta funcionalidade, no qual a criança nasce com a síndrome e a partir dos dois anos de idade começa a manifestar os primeiros sintomas.” Teixeira (2011) ressalta que mesmo existindo muitas semelhanças entre a Síndrome de Asperger e o Autismo, a primeira apresenta altas habilidades cognitivas que passam de Q.I. (coefi ciente de inteligência) normal até índices mais elevados. Observa-se, ainda, que a Síndrome de Asperger tem sintomas específi cos que diferem do autismo de baixa funcionalidade, uma vez que a pessoa com a Síndrome demonstra interesse por objetos do mundo exterior. Nesse sentido, os entraves que surgem na hora de diferenciar a Síndrome de Asperger do Autismo estão justamente nas poucas pesquisas realizadas sobre as doenças, na falta de preparo dos profi ssionais que agem com essas crianças, bem como nas difi culdades em reunir sintomas padrões, os quais geram muita confusão na elaboração do diagnóstico. (TEIXEIRA, 2011). Considerados como sujeitos “aspies”, só têm sua síndrome descoberta a partir do acompanhamento e do desenvolvimento das crianças nos meios sociais em que vivem, uma vez que ainda não foi descoberta a origem do problema e como se desenvolve. (JUCÁ, 2011). b) Autismo Nesse contexto, frente às difi culdades em distinguir a Síndrome de Asperger do Autismo e como o conceito do primeiro já foi apresentado neste caderno, destaca-se que o termo “autismo” vem do grego autós que signifi ca “de si mesmo” e foi empregado pela primeira vez por Beuler, em 1911, numa tentativa de descrever as razões que levavam à fuga da realidade e ao retraimento interior dos pacientes que sofriam de esquizofrenia. (CUNHA, 2009). O autismo pode: [...] surgir nos primeiros meses de vida, mas, em geral, os sintomas tornam-se aparentes por volta dos três anos de idade. Percebe-se na criança o uso insatisfatório de sinais sociais, emocionais e de comunicação, além da falta de reciprocidade afetiva. A comunicação verbal é bastante limitada, Consiste em um autismo de alta funcionalidade, no qual a criança nasce com a síndrome e a partir dos dois anos de idade começa a manifestar os primeiros sintomas. 73 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 as expressões gestuais são inexistentes, porque a criança não atribui valor simbólico a eles. (CUNHA, 2009, p. 24). Cunha (2009) destaca que o CID 10 classifi ca o autismo como um dos Transtornos Invasivos de Desenvolvimento e aponta a Síndrome de Asperger como um distúrbio que surge a partir de quadros autísticos e, embora proporcione diferenças por não acontecer retardo mental, atraso cognitivo e prejuízo signifi cativo na linguagem, consegue confundir os profi ssionais na elaboração do diagnóstico. O transtorno do espectro autista é um novo transtorno do DSM-5 que engloba o transtorno autista (autismo), o transtorno de Asperger, o transtorno desintegrativo da infância, o transtorno de Rett e o transtorno global do desenvolvimento sem outra especifi cação do DSM-IV. Ele é caracterizado por défi cits em dois domínios centrais: 1) défi cits na comunicação social e interação social e 2) padrões repetitivos e restritos de comportamento, interesses e atividades. A seguir, apresento um quadro com as principais mudanças ocorridas: Quadro 3 - Comparativo entre o DSM-IV e o DSM-V Capítulos dos DSM- IV Capítulos o DSM-V - Transtornos Geralmente Diagnosticados pela primeira vez na infância e na adolescência - Delírio, Demência, Transtornos Amnéstico e Outros Transtornos Cognitivos - Transtornos mentais causados por uma condição médica geral não classificados em outr o local - Transtornos relacionados a substâncias - Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos - Transtornos do Humor - Transtornos de Ansiedade - Transtornos Somatoformes - Transtornos Factícios - Transtornos Dissociativos - Transtornos sexuais e da identidade de gênero - Transtornos de alimentação - Transtornos do sono - Transtorno do controle do impulsos não classificados em outro local - Transtornos da adaptação - Transtornos da personalidade - Outras condições que podem ser foco de atenção clínica - Transtornos do neurodesenvolvimento - Espectro da Esquizofrenia e outros Transtornos psicóticos - Transtorno bipolar e outros Transtornos relacionados - Transtornos depressivos - Transtornos de ansiedade - Transtorno obsessivo-compulsivo e outros Transtornos relacio- nados - Trauma e Transtornos relacionados ao Estresse - Transtornos Dissociativos - Sintomas somáticos e outros Transtornos relacionados - Alimentação e Transtornos alimentares - Transtornos da excreção - Transtornos do sono-vigília - Disfunções sexuais - Disforia de gênero - Transtornos disruptivo, controle do impulsos e conduta - Transtornos relacionados a substâncias e adição - Transtornos neurocognitivos - Transtornos de personalidade - Transtornos parafílicos - Outros Transtornos mentais - Transtornos do movimento induzidos por medicamentos - Outros efeitos adversos de medicamentos - Outras condições que podem ser foco de atenção clínica Fonte: As autoras. 74 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano Figura 9 - Principais Características do Autista Fonte: Asa (1978). Figura 10 - Principais Características do Autista Fonte: Asa (1978). O fi lme Rain Main aborda a questão do autismo e como as pessoas se relacionam com esse tipo de síndrome. Os novos critérios de transtorno do espectro do autismo incluem a comunicação social, prejudicada reciprocidade social, o que pode signifi car difi culdades em fazer contato ocular, falta de expressão facial ou nenhum interesse nos seus pares. Comportamentos ou interesses peculiares - tecnicamente descritos como “restritos e repetitivos” no DSM-5 - tornam-se o segundo critério. Pode-se incluir 75 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 agitar as mãos, a insistência em uma rotina rigorosa ou uma fi xação em um assunto específi co. De forma diferente da maioria das pessoas diagnosticadas com autismo, de acordo com os critérios antigos do DSM, aqueles com diagnóstico de síndrome de Asperger geralmentepoderiam agir de forma independente, porque eles poderiam se comunicar de forma adequada. Mesmo assim, os aspectos das suas habilidades sociais podem ser prejudicados. Por exemplo, enquanto muitas pessoas não são conversadoras talentosas, alguém com Asperger pode continuar a falar sobre um assunto favorito por algum tempo, mantendo-se alheio à perda de interesse do seu ouvinte. Enquanto isso, o velho diagnóstico de autismo poderia acarretar problemas mais graves, como a falta de discurso ou uso anormal da linguagem. A última edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o chamado DSM-V, inclui algumas mudanças signifi cativas para os critérios de diagnósticos para o autismo, agrupando várias doenças anteriormente separadas em um grande grupo, como em um grande guarda-chuva que abrigava todas essas especifi cações. Se você ou seu fi lho estão no espectro do autismo ou você está no processo de ser diagnosticado, é importante entender essas mudanças no DSM-V, as razões para a nova defi nição e como as mudanças podem afetá-lo. Há algumas mudanças signifi cativas para a defi nição de autismo, segundo o DSM - V. • Um Transtorno, em vez de cinco: Anteriormente, havia cinco transtornos do espectro do autismo, cada um deles tinha um diagnóstico único: Transtorno Autista ou Autismo Clássico, Transtorno de Asperger, Transtorno Invasivo do Desenvolvimento – Sem Outra Especifi cação (PDD-NOS ), Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância. Na última revisão do DSM, esses transtornos não existirão como diagnósticos distintos no espectro do autismo. Em vez disso, com exceção da síndrome de Rett, eles serão incluídos no diagnóstico de “Transtorno do Espectro do Autismo.” Síndrome de Rett se tornará uma entidade própria e deixará de ser parte do espectro do autismo. De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria DSM-V Development Team, os padrões para o diagnóstico de transtornos do espectro do autismo mudaram por várias razões: • Embora seja possível distinguir claramente as pessoas com TEA’s daquelas com o funcionamento neurotípico, é mais difícil de diagnosticar os subtipos válidos e consistentes. 76 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano • Uma vez que todas as pessoas com transtornos do espectro autista exibem alguns dos comportamentos típicos, é melhor redefi nir o diagnóstico por gravidade do que ter um rótulo completamente separado. • Um único diagnóstico de TEA refl ete melhor a atual pesquisa sobre a apresentação e patologia do autismo. A versão anterior do DSM tinha três critérios principais para diagnóstico: • Desafi os de Linguagem • Défi cits sociais • Comportamentos estereotipados ou repetitivos O novo DSM terá apenas duas áreas principais: comunicação social e os défi cits e os comportamentos fi xos ou repetitivos. A nova versão do DSM não inclui atraso de linguagem como um critério para o diagnóstico. Atrasos de linguagem podem ocorrer por muitas razões e não foram consistentes em todo o espectro do autismo, a Equipe de Desenvolvimento DSM-V sentiu que eles não devem ser necessários para o diagnóstico. Para conhecer mais AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2014. c) Síndrome de Rett A Síndrome de Rett é uma patologia relativamente nova, de reconhecida importância em todo o mundo, cujo estudo diz respeito não só às ciências médicas, como neurologia e neuropsiquiatria, mas, também, às diversas disciplinas das áreas da reabilitação e da educação especial. Hagberg, um dos pioneiros na caracterização clínica e estágios da evolução da Síndrome e que lhe deu esse nome em justa homenagem ao Dr. Andreas Rett, seu descobridor, afi rmou que, na Suécia, a Síndrome de Rett já representa 1/3 de todos os casos de defi ciência mental grave diagnosticados em crianças do sexo feminino. 77 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 Andreas Rett publicou em Viena, em 1966, os primeiros vinte e um casos de uma nova Síndrome, exclusiva do sexo feminino, com sintomas de autismo e demência precoces, estereotipias manuais características e curso progressivo. Até a publicação de Hagberg e colaboradores, em 1983, essa síndrome se limitava aos casos descritos por Rett, porém, pouco a pouco, tornou-se universalmente reconhecida. Rett, em 1966, descreveu essa condição na literatura austríaca. Tratava-se de uma desordem limitada às mulheres, que nascem normais e se desenvolvem de forma aparentemente adequada até o sexto mês/décimo oitavo mês, isso é, a enfermidade aparece no período de tempo compreendido entre o fi nal do primeiro semestre e o fi nal do terceiro semestre, eventualmente mais tarde, mas raramente após o décimo oitavo mês de vida. Figura 11 - Síndrome de Rett Fonte: Disponível em: <http://www.rettsyndrome.org.es/ uruguay/index.html>. Acesso em: 14 ago. 2012. As meninas, antes normais, desenvolvem uma progressiva perda de aquisições de seu desenvolvimento psicomotor (DPM), como aquisições motoras e cognitivas (regressão ou estagnação do DPM), interação interpessoal ou social defi ciente ou muito inapropriada (autismo), desaceleração do crescimento do perímetro craniano (microcefalia adquirida) e inabilidade para se comunicar verbalmente. Com o tempo, escoliose, hiperrefl exia, espasticidade, tetraparesias podem ocorrer e melhora da epilepsia com uma paradoxal melhora do comportamento autístico. Ocorre, ainda, baixa estatura, marcada perda de peso corporal, apesar de apetite preservado. Os pés e as mãos costumam ser pequenos, com distúrbios vasomotores e a marcha, nos casos em que se mantém, é característica. Pode apresentar tendência à marcha na ponta dos pés e deambula com difi culdade, em um padrão de marcha apráxica e atáxixa (disbásica). 78 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano A visão e a audição são aparentemente preservadas. A puberdade ocorre em seu tempo com a menarca e caracteres sexuais secundários normais. Algumas doenças neurológicas compartilham sintomas com a síndrome de Rett e isso pode difi cultar o diagnóstico clínico, especialmente nos primeiros estágios da forma clássica (ou no caso de formas atípicas). Quando os primeiros sintomas da síndrome de Rett estão surgindo, muitas pacientes são diagnosticadas de forma equivocada como autistas, por exemplo. (ORRÚ, 2011). Uma vez que o diagnóstico precoce facilita o estabelecimento de uma estratégia terapêutica adequada, a informação é fundamental. Embora ainda não tenha sido descoberta a cura da síndrome de Rett, as pacientes que são acompanhadas de forma adequada podem ter uma vida melhor e mais feliz. Atividade de Estudos: 1) Partindo do princípio de que o modo de designar as pessoas refl ete uma visão sobre elas e, em muitos casos, concepções preconceituosas frente a determinados fenômenos, consideramos importante explicitar nosso ponto de vista sobre os termos usados por profi ssionais especializados, principalmente os da educação de surdos, para se referirem às pessoas que, por diferentes motivos, não ouvem. Então, agora, descreva o que você entendeu por defi ciência auditiva. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________ 79 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 2) A síndrome de Rett é uma desordem neurológica e de desenvolvimento que, na maioria das vezes, ocorre no sexo feminino. Outra síndrome, que afeta preferencialmente o sexo masculino, é a de Asperger. Descreva como é realizado o diagnóstico da Síndrome de Asperger. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 3) Cite pelos menos três características da Síndrome de Rett. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM: TRANSTORNO DA LEITURA (DISLEXIA), TRANSTORNO DA EXPRESSÃO ESCRITA (DISORTOGRAFIA E DISGRAFIA), TRANSTORNO DA MATEMÁTICA (DISCALCULIA) Todos têm pontos fortes e fracos na aprendizagem. Para Smith e Stick (2001, p. 36), as crianças com difi culdades de aprendizagem “[...] sofrem de uma combinação infeliz: não apenas suas fraquezas são mais pronunciadas, mas elas também estão naquelas áreas que mais tendem a interferir na aquisição de habilidades básicas em leitura, matemática ou escrita.” 80 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano Essas crianças são, com frequência, brilhantes, criativas e até mesmo talentosas em outras esferas, mas já que estão tendo uma má atuação nos campos mais apreciados em nossa sociedade, seus talentos podem não ser considerados importantes ou ser vistos como irrelevantes. Smith e Stick (2001, p. 36) afi rmam que: Na verdade, as crianças com difi culdades de aprendizagem comumente estão lutando em uma ou mais de quatro áreas básicas que evitam o processamento adequado de informações: atenção, percepção visual, processamento da linguagem ou coordenação muscular. Até mesmo leves fraquezas nessas áreas podem criar grandes obstáculos à aprendizagem e à comunicação em salas de aula tradicionais. É muito importante que tanto os pais quanto os estudantes compreendam exatamente em quais desses campos encontram- se os défi cits. Em geral, quanto mais os jovens com problemas de aprendizagem compreendem seus próprios padrões de recursos e fraquezas, mais propensos estão para aceitarem a si mesmos, a protegerem o que é melhor para seu caso e a planejarem estratégias que minimizem suas carências e maximizem suas habilidades e talentos. Qualquer sujeito que esteja envolvido com crianças que têm distúrbios de aprendizagem deve entender os três pontos a seguir: • As crianças com distúrbios de aprendizagem frequentemente têm problemas em mais de uma área. • Os distúrbios de aprendizagem não desaparecem quando uma criança volta para casa após a escola. • Os distúrbios de aprendizagem podem produzir consequências emocionais. Não importam os muitos problemas que um aluno possa encontrar na escola, a preocupação principal dos pais deve ser sempre o bem-estar emocional da criança. Tanto o CID-10 como o DSM-V apresentam basicamente três tipos de transtornos específi cos: o Transtorno com prejuízo na leitura, o Transtorno com prejuízo na matemática, e o Transtorno com prejuízo na expressão escrita. A caracterização geral desses transtornos não difere muito entre os dois manuais. Com a consequência de um dano cerebral, os problemas que afetam a compreensão ou produção da linguagem são conhecidos como afasia e o sintoma predominante do paciente afásico é a perda da capacidade ou habilidade da É muito importante que tanto os pais quanto os estudantes compreendam exatamente em quais desses campos encontram-se os défi cits. 81 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 linguagem falada e escrita por conta de lesões cerebrais, partindo desse contexto, podemos falar sobre a dislexia adquirida. A partir de meados dos anos 70 quando neuropsicólogos cognitivos investigaram quais as partes do processo normal da leitura foram danifi cadas ou perdidas, ocasionando perturbações como dislexias adquiridas periféricas (transtorno nos quais os sistemas de análise visual estão danifi cados) e dislexias adquiridas centrais (agrupamento de transtornos em que o sistema visual é danifi cado na compreensão e/ou comunicação das palavras escritas). (ELLIS, 1995, p. 46). As dislexias adquiridas periféricas são: • Dislexia por Negligência: incapacidade para ler as letras iniciais das palavras, embora tenham consciência de que elas existam. • Dislexia da Atenção: incapacidade de ler textos, ou seja, várias palavras na página, as palavras se misturam. • Leitura letra por letra: inabilidade de ler uma palavra completa. Para poder pronunciar a palavra identifi cam letra por letra, quanto maior a palavra, mais tempo leva para identifi cá-la. (ELLIS, 1995). As Dislexias Centrais são: • Leitura não Semântica: difi culdade na compreensão das palavras ou texto, embora consiga ler. • Dislexia de Superfície: leitura ruim de palavras irregulares, pronunciadas como se fossem regulares, não lendo corretamente, não saberá o signifi cado da palavra. • Dislexia Fonológica: difi culdade na leitura oral das palavras não familiares. • Dislexia Profunda: incapacidade quase que total de leitura palavras em voz alta. Isso sugere incapacidade de conversão da letra para o som. (ELLIS, 1995). O Transtorno da Leitura, alternativamente conhecido como dislexia, é um transtorno caracterizado por problemas no reconhecimento preciso ou fl uente de palavras, problemas de decodifi cação e difi culdade de ortografi a. Dessa forma, pode-se afi rmar que se trata de um transtorno específi co das habilidades de leitura, que sob nenhuma hipótese está relacionado à idade mental, problemas de acuidade visual ou baixo nível de escolaridade. O DSM-V (2014) classifi ca como critérios diagnósticos para o Transtorno da Leitura: • Leitura de palavras de forma imprecisa ou lenta e com esforço (por exemplo, lê palavras isoladas em voz alta, de forma incorreta ou lenta e hesitante, frequentemente adivinha palavras, tem difi culdade de soletrá-las). 82 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano • Difi culdade para compreender o sentido do que é lido (por exemplo, pode ler o texto com precisão, mas não compreende a sequência, as relações, as inferências ou os sentidos mais profundos do que é lido). Uma equipe multidisciplinar, formada por psicóloga, fonoaudióloga e psicopedagoga clínica deve iniciar uma minuciosa investigação. Essa mesma equipe deve, ainda, garantir uma maior abrangência do processo de avaliação, verifi cando a necessidade do parecer de outros profi ssionais, como neurologista, oftalmologista, otorrinolaringologista, geneticista, pediatra e outros, conforme o caso. “A equipe de profi ssionais verifi cará todas as possibilidades antes de confi rmar ou descartar o diagnóstico de dislexia. É a avaliação multidisciplinar e de exclusão. Nesse processo, ainda é muito importante tomar o parecer da escola, dos pais e levantar o histórico familiar e de evolução do paciente.” (ZONTA, 2008, p. 3). É importante haver uma boa troca de informações, experiências e até sintonia dos procedimentos executados entre profi ssional, escolae família para fechar o quadro de diagnóstico sobre a dislexia. Os educadores são geralmente os primeiros a notar as difi culdades das crianças na fase da alfabetização, porém, sem as informações necessárias sobre o distúrbio, não as entende de maneira a tornar menos árduos os problemas para dar continuidade ao aprendizado, recorrendo aos pais que, preocupados, procuram profi ssionais ligados à área. O diagnóstico diferencial em Dislexia tem sido orientado por sintomas e sinais característicos. Nos casos menos severos, os problemas só passam a ser percebidos como difi culdades signifi cativas de aprendizado, em geral, pelo professor, tornando-se mais evidentes a partir do segundo ano do curso primário. Porém quando os níveis são muito tênues, correm o risco de não serem diagnosticados, embora, como adverte um especialista italiano, a falta do diagnóstico e da adequada assistência psicopedagógica a esse disléxico pode vir a agravar as suas difi culdades sociais e de aprendizado. E quanto mais graves ou severas se apresentem essas difi culdades, elas podem ser percebidas, como tendência ou risco, já a partir dos primeiros anos da vida escolar dessa criança, por seus pais, especialmente por sua mãe, e por seu professor. (ELLIS, 1995, p. 22). Especialistas também esclarecem que o diagnóstico diferencial e o treinamento remediativo para o disléxico adulto deve seguir o rumo idêntico daquele que é adequado à criança e ao jovem disléxico. Mas o profi ssional recomendado para essa ação é o psicólogo escolar, que poderá tomar a iniciativa de informar a necessidade dessas providências aos pais dessa criança e atuar como mediador entre os familiares e os diversos 83 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 profi ssionais que compartilham dessa avaliação diagnóstica, ou seja, se for para a ação frente a questões emocionais por conta do problema da dislexia. A atuação e ação pedagógica quem faz é o psicopedagogo. E, além disso, o professor de sala de aula deve adequar a metodologia para atender esse aluno. Programa remediativo de suporte psicopedagógico, elaborado com base no diagnóstico diferencial em Dislexia poderá, também, ser aplicado com a participação cooperativa do psicólogo escolar, com formação em difi culdades de aprendizado. Também pode ser acompanhado pelo psicopedagogo, se o problema se relacionar à aprendizagem apenas. a) Transtorno da Expressão Escrita Ler e escrever são dois processos de natureza distinta. Embora possa ocorrer paralelamente, o processo de aprendizagem da leitura é muito mais simples e, consequentemente, mais rápido do que a escrita. Os bons leitores têm grandes chances de escrever bem, já que a leitura fornece a matéria-prima para a escrita. (SMOLKA et al., 1989). Para Tfouni (1995 apud SMOLKA et al., 1989), aprender a escrever envolve construir conhecimentos em torno dos aspectos notacionais e discursivos da língua escrita. Sabe-se que é papel da escola tornar o aluno alfabetizado, o que inclui o domínio do código, mas o principal desafi o é tornar um indivíduo letrado, habilitando-o a usar a escrita em atividades comunicativas e culturais. Portanto, aprender a ler envolve decifrar o escrito, interpretar e compreender os textos de diferentes gêneros. Nessa perspectiva, a aprendizagem deixa de estar centrada nos processos de codifi cação e decodifi cação do sistema. Segundo os PCN’s (BRASIL, 1997) para tornar os alunos bons leitores – para desenvolver, muito mais do que a capacidade de ler, o gosto e o compromisso com a leitura - a escola terá de mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender) requer esforço. Precisará fazê-los achar que a leitura é importante e desafi adora, algo que, se conquistado inteiramente, dará autonomia e independência. Precisará torná-los confi antes, condição para poderem se desafi ar a “aprender fazendo”. Uma prática de leitura que não desperte e cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica efi ciente. Nessa perspectiva, para aprender a ler é necessário que os alunos participem de situações de leitura de fato, que entrem em contato com textos de real circulação na sociedade e interajam com a diversidade de textos escritos, contando com o incentivo e a ajuda dos colegas e do professor. A leitura é um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo de construção do signifi cado do texto, é lendo que adquirimos novos conhecimentos, desafi amos nossa imaginação e descobrimos o 84 Neuropsicopedagogia e o desenvolvimento humano prazer de pensar, conhecer e sonhar. Finalmente, é por meio da leitura que se tem acesso à cidadania. Uma das funções da escola hoje é alfabetizar os alunos em um contexto letrado, ou seja, um contexto que envolva os aprendizados sociais de leitura e escrita. Através de uma linguagem própria, a criança expressa suas observações, suas conclusões e seus valores. Ela constrói, à sua maneira, um saber a respeito do mundo. O ato de ler e escrever possibilita que ela faça leituras e escritas, segundo suas possibilidades, com os conhecimentos que foram construídos. Assim, compreender o sistema de escrita e o funcionamento da linguagem usada para escrever constituem pontos norteadores do trabalho pedagógico em torno da prática de produção de texto. O sentido atribuído pelas crianças à escrita tem relação direta com suas experiências e com as oportunidades que teve de ampliar seus conhecimentos acerca da escrita. (SMOLKA et al., 1989). No processo de alfabetização, a criança deve ter o convívio com a linguagem escrita em atividades reais e signifi cativas, tendo a interação com as mais diversas produções gráfi cas utilizadas no meio cultural e em sala de aula para que possa vir a construir o conteúdo de ensino. A alfabetização se constitui como uma atividade interativa, interdiscursiva de apropriação de diferentes linguagens, produzidas culturalmente. Segundo Ferri (1996), é necessário compreender que, no processo de alfabetização, o diálogo com a linguagem escrita precisa ser uma atividade real e signifi cativa, na qual as crianças interagem com diferentes conhecimentos, com o professor, sua intencionalidade e a linguagem escrita em suas diferentes manifestações. Para aprender a ler e escrever, é necessário que o aluno sinta a sala de aula como um ambiente em que os pretextos para ler e escrever são intensamente vividos. A linguagem escrita, como signo mediador que permite importante consequência no desenvolvimento da pessoa, é um processo extremamente sofi sticado de representação da realidade. Conforme Franchi (1999), o aprendizado da escrita e da leitura tem de se orientar sempre para o que seja ler e escrever e nenhum processo ou método de alfabetização será efi caz se retirar de perspectiva o valor da escrita e da leitura na prática social. Entender a alfabetização implica refl etir como o fazer pedagógico possibilita às crianças o dizer e o escrever sobre o que pensam, o que desejam, o que Uma das funções da escola hoje é alfabetizar os alunos em um contexto letrado, ou seja, um contexto que envolva os aprendizados sociais de leitura e escrita. 85 DEFICIÊNCIAS, DISTÚRBIOS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEMCapítulo 2 querem e sonham, o que falam e como falam, priorizando a interferência com o outro pela palavra. Embora transmitir informações seja um dos objetivos da língua escrita, escrever é mais do que isso: quem escreve se comunica, interage e “[...] precisa coordenar uma série de aspectos: o que dizer, a quem dizer e como dizer”. (CANDIANI, 2012). Para as crianças com dislexia, a escrita torna-se mais severa, quando não pior do que a difi culdade na leitura, porque é gasto mais tempo trabalhando na leitura do que na escrita e ela é mais resistente a uma melhora. As crianças com dislexia demonstram escrita defeituosa, irregularidade no desenho das letras e perda de concentração e de fl uidez de raciocínio. O quadro 1 apresenta alguns