Buscar

MARY GELDA MAIOLINO SOARES_FRAGMENTO DA ANALISE DE UM CASO DE HISTERIA 1905

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
MARY GELDA MAIOLINO SOARES
RESUMO DO TEXTO:
 FRAGMENTO DA ANALISE DE UM CASO DE HISTERIA (1905)
CABO FRIO - RJ
2020
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
MARY GELDA MAIOLINO SOARES
RESUMO DO TEXTO: 
FRAGMENTO DA ANALISE DE UM CASO DE HISTERIA (1905)
Trabalho Acadêmico apresentado ao Curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras – como requisito parcial da disciplina: Estágio Profissional Supervisionado III.
Docente: Prof. José Daniel Mendes Barcelos
CABO FRIO - RJ
2020
Nas notas preliminares, Freud relata que entre os anos 1895 e 1896 formulou alguns pontos sobre a patogênese dos sintomas histéricos e sobre os processos psíquicos que ocorrem na histeria, em colaboração com o Dr. Breuer (1895) e passados alguns anos iria então fundamentá-las mediante o relato detalhado de um caso clínico e de seu tratamento.
Freud então, nos relata que as enfermidades histéricas se encontram na intimidade da vida psicossexual dos pacientes, e que, os sintomas histéricos são a expressão dos seus mais secretos desejos recalcados, e a elucidação completa de um caso de histeria, estaria fadada a revelar essas intimidades e denunciar esses segredos.
A duração deste caso, que foi publicado logo depois do livro “A Interpretação dos Sonhos”, chamado de pequena histeria, foram de apenas três meses, e mesmo com um tempo reduzido, existiram muitos detalhes e nuances a serem observadas na qual Freud diz que este caso clínico foi logo depois da publicação do seu livro “A Interpretação dos Sonhos”.
O fundador da Psicanálise aponta que qualquer um pode submeter seus sonhos ao exame analítico e a técnicas da Interpretação dos Sonhos, sendo este um pré-requisito indispensável para a compreensão dos processos psíquicos da histeria e das outras psiconeuroses. O seu objetivo, neste caso era mostrar a estrutura íntima da doença neurótica e o determinismo de seus sintomas. Por fim, relata que fazia muito tempo em que ele perdera o contato com ela, e que Dora procurara outro médico por estar enferma por outras causas. Porém, em 1902, Dora faz uma última visita a Freud.
 
O CASO CLÍNICO 
Freud narra a história de Dora, Ida Bauer, seu caso clínico, com duração de três meses, começando no outono de 1900 e terminando em 31 de dezembro do mesmo ano, sendo publicado somente cinco anos depois, questões éticas.
Dora vinha de uma família abastada. O seu pai, era um industrial bem-sucedido, e sua mãe, uma senhora voltada apenas aos afazeres domésticos, tinha uma espécie de fixação por limpeza e uma psicose doméstica, como chamou Freud. A moça e a sua mãe não se davam bem, ela a menosprezava e a evitava e tinha um irmão um ano e meio mais velho, esse, que sempre estava ao lado de sua mãe. Seu pai era a pessoa dominante dessa família, era um homem inteligente e de caráter, e que, forneceu o suporte da história infantil e patológica da paciente. Dora era muito apegada ao pai e às vezes o escandalizava com as suas atitudes.
O amor, carinho e dedicação de Dora pelo pai aumentou ainda mais, devido à sua saúde frágil. Em 1988, ele contraiu uma tuberculose e então a sua família se muda para uma cidade (que Freud nomeou de B). Nessa época ela tinha apenas seis anos e morou nessa cidade por dez anos, e quando chegou a época de verão, sua família se mudou para uma estação de águas nas montanhas.
Quando Dora tinha cerca de dez anos, o pai teve outros problemas de saúde como deslocamento de retina, e dois anos depois, aos doze, ele teve outros problemas de saúde como uma crise confusional, sintomas de paralisia e ligeiras perturbações psíquicas, então ele foi, através de um amigo, para se consultar com Freud, contando que teve sífilis antes do casamento. 
Freud nos narra que a viu pela primeira vez num retorno de seu pai a seu consultório, quando tinha 16 anos. Nessa época, ela sofria com uma tosse e rouquidão, e Freud, então, propõe um tratamento psíquico, que foi negado, passando a crise espontaneamente. O pai de Dora conta a Freud que nos últimos quatro anos, sua filha havia ficado neurótica. 
Aos 18 anos ela é levada a Freud por seu pai para tratamento. O autor então, nos narra que na infância seu irmão um ano e meio mais velho era, o modelo que ela queria seguir, mas, ao crescerem ambos haviam se distanciado e ele sempre tomava o partido da mãe em alguma discussão familiar. Então a habitual atração sexual se dava entre pai e filha, de um lado, e mãe e filho de outro.
OS SINTOMAS NEURÓTICOS DE DORA 
Aos oito anos, Dora já padecia de vários sintomas neuróticos: dispneia crônica, com acessos ocasionais, mais agudos; as doenças infecciosas habituais da infância e por volta dos doze anos ela começou a sofrer de dores de cabeça unilaterais do tipo de enxaquecas, bem como acessos de tosse nervosa. A princípio, esses dois sintomas sempre apareciam juntos depois se separara de maneira diferentes. A enxaqueca tornou-se mais rara e, por volta dos dezesseis anos desapareceu completamente. Mas os acessos de tosse nervosa continuaram.
Quando ela entrou em tratamento continuava com a tosse. Esses acessos levavam por vezes de três a cinco semanas, e, numa ocasião se estendeu por vários meses. O sintoma mais incômodo durante a primeira metade de uma dessas crises, costumava ser a perda completa da voz. O diagnóstico era sempre de nervosismo, mas nenhum tratamento havia tido resultado.
Aos dezessete anos ela e a família se mudaram para a cidade, onde seu pai tinha uma fábrica, mas como não fez bem à saúde do pai, se mudaram permanentemente para Viena. Então, Dora se transformara em “Uma moça em flor”, simpática, inteligente, e agradável, mas seus pais tinham sérias preocupações com ela. Os traços de sua doença nesta época eram o desânimo e uma alteração do caráter.
A moça não estava tendo uma boa relação com o seu pai, e, evitava a mãe a quem a solicitava para ajudá-la nos afazeres da casa. Um dia, seus pais encontraram uma carta em sua escrivaninha em que ela se despedia deles dizendo não suportar mais a vida. Muito abalados foram conversar com ela e então tivera um primeiro ataque de perda de consciência ou uma amnésia. Foi quando houve então a decisão de começar o tratamento.
O pai de Dora confessou a Freud que quando sua família estava morando em B, havia feito uma amizade com um casal, que Freud, apelidou de Sr. K e Sra. K. Essa senhora era uma espécie de cuidadora para seu pai que estava enfermo. O Sr. K. era um homem muito amável e sempre levava Dora para passear e dando lhe presentes. Ela gostava muito dos filhos do Sr. K e Sra. K, pois brincava e passeava muito com eles. 
Passando algumas semanas nos Alpes com o casal de amigos, foi quando o pai se preparou para partir, a moça se declarou com extrema firmeza que iria com ele, e, de fato assim o fez. Só depois de alguns dias é que esclareceu seu estranho comportamento, onde relatou a mãe que transmitisse ao pai que o Sr. K tivera a audácia de lhe fazer uma proposta amorosa durante uma caminhada depois de um passeio no lago.
Por isso, Dora resolveu voltar com o pai, devido a este comportamento do Sr. K, ao qual negou veementemente para seu pai qualquer atitude de sua parte. Criando tudo isso, por conta de demonstrar interesse por assuntos sexuais, Dora queria que seu pai rompesse a amizade com o casal, mas que ele já tinha se afeiçoado a Sra. K, e não gostaria de fazê-la sofrer mais do que já sofria, inclusive com o marido, o Sr. K.
A EXPERIÊNCIA DE DORA COM O SR. K
Freud com este caso, demonstra muitas dificuldades e que vai muito além do trauma psíquico que declarou junto com Breuer. Não basta somente o trauma para esclarecer a especificidade do sintoma, para determiná-lo, é necessário ir as primeiras manifestações que remontavam à infância, para assim buscar influências ou impressões que pudessem ter surtido algo e então justificasse esse trauma. 
Tendo Dora superado as primeiras dificuldades do tratamento, ela narra para ele sobre uma experiência anterior à cena do lago com o Sr. K, quando ela tinha 14 anos, como
um provável trauma sexual. 
Induzindo a sua mulher a ficar em casa, o Sr. K, despachou os empregados e ficou sozinho, e quando Dora entrou na loja, então, pediu a moça que o aguardasse na porta enquanto ele abaixava as portas, na sequência voltou e, ao invés de sair pela porta aberta a pegou de repente contra si e deu-lhes um beijo nos lábios, Dora sentiu naquele momento uma violenta repugnância, livrou-se do homem e passou correndo em direção a escada, daí alcançando a porta da rua. Mesmo diante do ocorrido, as relações com o Sr. K prosseguiram e nenhum dos dois jamais mencionou essa pequena cena, e Dora afirma tê-la guardado em segredo até o tratamento. Depois disso, ela evitou ficar a sós com o Sr. K. 
Segundo Freud, ela demonstra comportamentos completamente histéricos, pois, uma oportunidade de excitação sexual despertou sentimentos desprazerosos, mesmo sendo ou não capaz de produzir sintomas somáticos. Além de uma inversão de afeto houve, nessa cena, um deslocamento da sensação. Ao invés da excitação genital, ela foi tomada da sensação de repugnância. 
O autor supõe que durante o abraço apaixonado, ela sentiu não só o beijo, mas também a pressão do membro ereto contra seu ventre. Existem três sintomas nela a serem observados que são a repugnância, a sensação de pressão na parte superior do corpo e a evitação dos homens em conversa afetuosa. Levando em consideração a inter-relação desses três signos é que se torna possível compreender o processo de formação dos sintomas. O nojo corresponde ao sintoma do recalcamento da zona erógena dos lábios. A pressão do órgão ereto provavelmente levou a uma alteração da excitação dessa segunda zona erógena e foi fixada no tórax por deslocamento para a sensação simultânea de pressão. O horror aos homens obedece ao mecanismo de uma fobia destinada a dar proteção contra o reavivamento do que foi recalcado.
 Dora não perdoava o seu pai por continuar sua amizade com os K., ela tinha plena convicção do relacionamento amoroso do seu pai com a Sra. K, ela percebia tudo, nada lhe escapava, e esse relacionamento prosseguiu. O pai não era sincero e se dizia doente, quando viajava, Dora se inteirou que a Sra. K também havia viajado para a mesma cidade, e então ficava exasperada, pois tinha o entendimento de ter sido entregue ao Sr. K. como prêmio pela tolerância dele para com as relações entre sua mulher e o seu pai, e por causa dessa ternura de Dora pelo pai, porém os dois homens nunca haviam firmado um pacto formal de que Dora fosse tratada como objeto de troca. O pai achava que podia confiar na filha e no Sr. K., e que esse seria incapaz de segundas intenções com sua filha, por isso, o Sr. K. pôde enviar flores a Dora por um ano inteiro, dar-lhe presentes valiosos e passar todo o seu tempo livre na sua companhia sem que seus pais percebessem nesse comportamento o caráter amoroso.
 Dora tornara-se cúmplice do relacionamento do pai com a Sr. K e repudiara todos os sinais que pudessem mostrar sua verdadeira natureza. Só da aventura no lago é que datavam sua visão clara do assunto e suas exigências ao pai, durante todos os anos anteriores ela fizera o possível para favorecer as relações do pai com a Sra. K.
Freud percebeu que todo o zelo de Dora pelos filhos da Sra. K. era um disfarce para ocultar dela mesma alguma outra coisa. Ele descobre que em todos esses anos, ela estivera apaixonada pelo Sr. K. e só mais tarde admitiu que poderia ter estado apaixonada pelo Sr. K, mas que após a cena do lago isso havia acabado. 
Durante suas viagens, o Sr. K escrevia a Dora e enviava cartões postais, em algumas ocasiões só Dora sabia de sua volta, pegando sua mulher de surpresa. A afonia de Dora, portanto, se interpretava da seguinte forma: quando o amado estava longe, ela renunciava à fala e esta perdia o seu valor, já que não podia falar com ele. Por outro lado, a escrita ganhava importância como um único meio de se manter em relação com o ausente.
Freud volta falar então da censura pela simulação de doença que Dora fez ao pai, ficando então evidente que a ela correspondia não só autocensuras concernentes a estados patológicos anteriores, mas também a outras relativas à época atual. Ele teve de apontar para Dora que seu atual estado de saúde era uma dissimulação assim como era a doença da Sra. K., onde residia alguma coisa que Dora queria alcançar com essa simulação de doença. O motivo de Dora, com certeza seria o de afastar o seu pai da Sra. K., como não conseguira ser atendida, apelava para a doença esperando ter êxito para assustar o pai por meios de ataques e desmaios, despertando sua compaixão, ela sabia o quanto seu pai a amava. Freud não tinha dúvidas de que, se seu pai dissesse que abandonara a Sra. K, Dora se recuperaria imediatamente. Ele esperava que o pai de Dora não cedesse à persuasão da filha, pois, se tal fato acontecesse ela teria uma poderosa arma nas mãos e em outras situações tornaria a usar os mesmos artifícios que vinha usando, e então caso seu pai não cedesse, ela não renunciaria a sua doença.
Os motivos para adoecer muitas vezes têm início na infância, quando uma criança divide a atenção dos pais com seus irmãos e ela adoece, ela percebe que toda a atenção se volta para ela e então agora conhece um meio de atrair a atenção do pai para si e usará então esse recurso produzir uma doença, e quando adulta, a doença é a única arma que tem para afirmar-se na vida, sendo esses estados patológicos que se destinam a uma determinada pessoa e desaparecem quando ela se afasta. 
No caso de Dora, esse objetivo era claramente o de sensibilizar o pai e afastá-lo da Sra. K., e nada machucou mais Dora do que seu pai achar que o que aconteceu com ela e o Sr. K. fora obra de sua fantasia, ela ficava fora de si em pensar que poderia ter imaginado algo desse porte. Freud constata que Dora gostaria de tomar o lugar da Sra. K na vida do Sr. K.
No caso de Dora, a incessante repetição dos mesmos pensamentos sobre as relações entre o seu pai e a Sra. K. possibilitou extrair da análise um outro material ainda mais importante, uma sequência de pensamentos como essa pode ser descrita como hiperintensa, ou melhor reforçada ou hipervalente. Dora achava e com toda razão, que seus pensamentos sobre o pai reclamavam um julgamento especial, ela não conseguia aceitar e perdoá-lo. Dora agia mais como uma esposa ciumenta por sua exigência ao pai, do que, pelas cenas que costumava criar pela ameaça de suicídio e ficava evidente que ela se colocava no lugar da mãe. Já em relação a fantasia de situação sexual subjacente a tosse, nessa fantasia ela deveria estar-se colocando no lugar da Sra. K., portanto identificava-se com as duas mulheres, a mãe e a Sra. K., essa conclusão de sua inclinação pelo pai era muito maior do que ela sabia ou estava disposta a admitir, ou seja, que estava apaixonada por ele.
É provável que se encontre na maioria dos seres humanos um traço nítido dessa inclinação amorosa precoce entre pais e filhos, já desde o início, no caso das crianças destinadas à neurose e que tem o amadurecimento precoce e são famintas de amor. A predisposição de Dora sempre a atraíra para o pai, e as numerosas doenças deste hão de ter forçosamente aumentado sua ternura por ele. Em muitas dessas doenças ele não permitia que ninguém, senão, ela lhe prestasse os pequenos serviços que seu tratamento requeria, e, orgulhoso do seu desenvolvimento precoce e da inteligência dela, ele a tornara ainda criança sua confidente. Com o aparecimento da Sra. K., na verdade não foi a mãe e sim ela que foi desalojada de mais de uma posição.
Quando Freud relatou a Dora sobre sua inclinação pelo pai, já em época precoce deveria ter tido o caráter de um completo enamoramento, e ela lhe respondeu de forma corriqueira que não se lembrava disso, em seguida ela contou a ele algo parecido sobre uma prima, que disse a ela que odiava a mãe e quando a mãe morresse se casaria com o pai. Nenhuma outra espécie de “sim” pode ser extraída do inconsciente e não existe em absoluto um “não” inconsciente. Ele acrescenta em 1923 outra
forma de respostas do inconsciente. São as exclamações do paciente do tipo: “Não foi isso o que eu pensei”, ou “Eu não estava pensando nisso”. Tais manifestações podem ser diretamente traduzidas: “Sim, isso me era inconsciente”.
Considerando essa situação, Freud não pode deixar de supor em primeiro lugar que o suprimido era o seu amor pelo Sr. K. e que, desde a cena do lago por motivos desconhecidos, esse amor estava numa violenta resistência e que, a moça retornara e reforçara sua velha afeição pelo pai para não ter de perceber nada em sua consciência sobre esse amor, dos primeiros anos de sua adolescência que agora se tornara penoso para ela. Ela sentia falta, saudade da pessoa dele e de todos os pequenos sinais de afeição, por outro lado, esses impulsos de ternura e saudade eram combatidos por motivos poderosos dentre os quais era fácil perceber seu orgulho. Desse modo, ela conseguiu convencer-se de que havia rompido com o Sr. K., Freud então conclui que: esse era o lucro que retirava desse processo típico de recalcamento.
Freud nos explica que ele não teve nenhum desapontamento para as suas expectativas que essa exposição dos fatos viesse a provocar em Dora a mais enfática negativa. O “Não” ouvido do paciente depois de se apresentar pela primeira vez um pensamento recalcado à sua percepção, não faz senão constatar a existência de um recalcamento e sua firmeza, serve por assim dizer que, para medir a força desse. Quando esse “não” em vez de ser considerado como expressão de um juízo imparcial é ignorado dando-se prosseguimento ao trabalho e logo aparecem as primeiras provas de que, nesses casos, o “não” significa o desejado sim. Dora admitiu que não conseguia ficar tão zangada com o Sr. K. 
Por trás da sequência hipervalente de pensamentos que se ocupavam com as relações entre o pai de Dora e a Sra. K. ocultava-se de fato um impulso de ciúme cujo objeto era essa mulher, ou seja, um impulso que só poderia fundamentar numa inclinação para o mesmo sexo. Nas mulheres e moças histéricas cuja libido sexual voltada para o homem é energicamente suprimida, constata-se com regularidade que a libido dirigida para as mulheres é vicariamente reforçada e até, parcialmente consciente.
Freud nos relata que “algumas susceptibilidades” o levaram a se perguntar quais tinham sido suas relações com a Sra. K. até a época do rompimento. Ele se inteirou então que a Sra. K. e Dora, era apenas uma menina adolescente, quando se hospedava com os K., costumava partilhar o quarto com a Sra. K., sendo o marido desalojado. Dora era a confidente e conselheira da mulher em todas as dificuldades de sua vida conjugal, não havia nada de que não conversassem. Freud então se indaga, “como foi que Dora conseguiu apaixonar-se pelo homem sobre quem sua adorada amiga tinha tantas coisas ruins a dizer, e constitui um interessante problema psicológico e sem dúvida solucionável quando compreendermos que, no inconsciente, os pensamentos vivem muito comodamente lado a lado e, até os opostos se toleram sem antagonismo num estado de coisas que, com bastante frequência, persiste até mesmo no consciente”.
Freud nos relata que quando Dora falava sobre a Sra. K., costumava elogiar seu “adorável corpo alvo”, num tom mais apropriado a um amante do que a uma rival derrotada. Numa outra ocasião, mais triste do que com raiva, ela me disse estar convencida de que os presentes que o pai lhe oferecia eram escolhidos pela Sra. K. pois, reconhecia seu gosto. De outra feita ainda, ela assinalou que haviam presenteado evidentemente por intervenção da Sra. K., com algumas joias que eram exatamente idênticas às que vira na casa dela, e, desejou possuí-las. Freud fala que nunca ouviu dela uma só palavra áspera ou irada sobre essa mulher, embora, do ponto de vista dos seus pensamentos hipervalentes, devesse ver nela a principal causadora de suas desventuras. Dora parecia comportar-se de maneira inconsequente, mas sua aparente inconsequência era justamente expressão de uma corrente complicadora de sentimentos. De fato, como se comportara para com Dora essa amiga tão entusiasticamente amada?
Freud então vai tentar responder a essas questões nos relatando sobre a Sra. K. Depois que Dora formulou sua acusação contra o Sr. K. e seu pai escreveu para ele pedindo-lhe uma explicação, o Sr. K. respondeu inicialmente, protestando a mais alta estima por ela, se oferecendo para ir até a cidade industrial a fim de esclarecer todos os mal-entendidos. Passadas algumas semanas quando o pai de Dora falou com ele em B. já não se tocou mais na estima, ao contrário, o Sr. K., depreciou a moça e jogou seu trunfo, uma moça que lia tais livros e se interessava por aquelas coisas, não podia ter nenhuma pretensão ao respeito de um homem. A Sra. K. portanto, a havia traído e caluniado pois, somente com ela é que Dora falara sobre Mantegazza e sobre temas proibidos. Era uma repetição do que aconteceu com a governanta, a Sra. K. também não a amara por ela mesma, e sim por causa do pai. Ela a havia sacrificado sem um momento de hesitação para que seu relacionamento com o pai de Dora não fosse perturbado, essa ofensa talvez a tenha tocado mais de perto e tido maior efeito patogênico do que a outra com que ela tentou encobri-la, ou seja, a de ter sido sacrificada pelo pai. Acaso a amnésia, tão obstinadamente perseverante, a respeito das fontes de seu conhecimento proibido (p.39-40) não apontaria diretamente para o valor emocional da acusação que lhe foi feita e, por conseguinte, para sua traição pela amiga?
Freud nos relata que crê não estar errado, portanto, em supor que a sequência hipervalente de pensamentos de Dora que a fazia ocupar-se das relações entre seu pai e a Sra. K. que antes fora consciente, mas também a ocultar o amor pela Sra. K., que era inconsciente no sentido mais profundo. A sequência hipervalente de pensamentos era diretamente oposta a esta última corrente. Dora dizia a si mesma incessantemente que seu pai a sacrificara a essa mulher, fazia demonstrações ruidosas de que a invejava pela posse do pai e, dessa maneira, ocultava de si mesma o oposto que: invejava o pai pelo amor da Sra. K., e que não perdoava à mulher amada a desilusão que ela lhe causara com sua traição. A moção de ciúme feminino estava ligada no inconsciente, ao ciúme que um homem sentiria. Essas correntes de sentimentos masculinos, ou melhor dizendo, ginecofílicos, devem ser consideradas típicas da vida amorosa inconsciente das moças histéricas.
O PRIMEIRO SONHO 
Dora o informou que algumas noites havia tido um sonho que já lhe ocorrera repetidas vezes exatamente da mesma maneira, e isso, despertou a sua curiosidade, era justificável, no interesse do tratamento considerar o entrelaçamento desse sonho na trama da análise. Resolvendo fazer uma investigação cuidadosa.
Eis o sonho como Dora relatou:
Uma casa em chamas
Pai ao lado da cama de Dora a acorda
Vestiu-se rapidamente
A mãe queria salvar sua caixa de joia
Não quero que eu e meus dois filhos nos queimemos por causa da sua caixa de joias.
Desceram a escada depressa e logo me vi do lado de fora.
Segundo Freud, Dora teve o sonho três noites seguidas em L., (o lugar no lago onde ocorrera a cena com o Sr. K.), e havia voltado a ter o mesmo sonho algumas noites atrás, em Viena, e ele queria descobrir qual fora o motivo de sua recente repetição. 
Dora conta que seus pais brigaram porque sua mãe queria trancar a sala de jantar à noite, mas como a porta do quarto do irmão dava para a sala e era a única saída, e seu pai não queria que o filho ficasse trancado à noite, pois acreditava que poderia acontecer algo à noite que tornasse necessário a sua saída. Freud então pergunta se ela pensou em um incêndio, e ela afirma que sim.
A frase dita por Dora sobre poder acontecer alguma coisa à noite que torne necessário sair, soaram-lhe “ambíguas” que na sua explicação seria como “reviravolta” no percurso das associações. Dora descobrira o vínculo entre a causa recente e a causa original do sonho, o pai tinha uma real preocupação com a cabana de madeira em L. que não
tinha para-raios, para os proteger. 
Freud afirma a Dora ter certeza de que o sonho foi efeito imediato de sua experiência com o Sr. K., ele diz a ela que as incertezas nas suas respostas eram apenas para confundir a si mesma, a ligação que os números não estavam se ajustando e que por ela ter ficado em L. mais quatro noites após a cena do Lago, poderia ter tido o sonho mais quatro vezes. Ela prossegue dizendo que na tarde seguinte ao passeio (no lago) com o Sr. K., ela havia ido ao quarto e se recostou no sofá para dormir um pouco, e ao abrir os olhos se deparou o Sr. K. em frente a ela. Freud então lhe pergunta se igual ela vira o seu pai no sonho ao lado de sua cama, prossegue dizendo que perguntou o que fazia ali e ele lhe respondeu que o quarto era dele e que entraria quando quisesse, e que, no momento iria apanhar alguma coisa. 
Dora relata que ficou prevenida e pediu a chave a Sra. K., mas no dia seguinte antes de ir fazer a sua toalete viu que havia sumido, e então, supôs que ele havia pego. Freud então diz a ela que: “aí está o tema de trancar ou não o quarto”, que surgiu na primeira associação ao sonho, e ele se questiona se a frase de Dora “vestia-me rapidamente”, se estaria nesse contexto? Ela decide então não ficar mais na casa dos K. na ausência do pai, pois sempre temia que o Sr. K. a surpreendesse. Freud diz que o seu sonho se repetia as três noites seguintes por corresponder a um propósito, o propósito de que, persistiria até ser realizado. 
Freud continua sua interpretação e vai perguntar a Dora sobre a caixa de joias que sua mãe queria salvar, e ela relata então que sua mãe gosta muito de joias, diz que sua mãe já ganhara várias do seu pai, e complementa que também gostava muito de joias até adoecer, e lhe conta que há uns quatro anos atrás sua mãe queria ganhar umas gotas de pérolas para colocar em seus brincos, mas, seu pai lhe dera uma pulseira por não gostar das gotas, e sua mãe diz ao seu pai que ele gastou tanto dinheiro com algo de que não gostava, pois então, que desse para outra pessoa. Freud pergunta se ela aceitaria a joia com prazer, ao que ela lhe responde, “não sei”, ela respondeu assim para esconder algo recalcado. Freud lhe pergunta se não lhe ocorre nada sobre a caixa de joias porque ela só falou sobre as joias, e nada sobre a caixa.
Dora então conta que o Sr. K. lhe presenteara pouco tempo antes com uma caixinha de joias muito dispendiosa. Freud lhe diz que seria muito apropriado retribuir o presente e explica a Dora, que a “caixa de joias” é uma expressão muito apreciada para a mesma coisa que um dia ela falou a respeito, como a bolsinha que usava: os genitais femininos. Então Dora lhe respondeu que já sabia que ele diria tal coisa, Freud lhe diz que o sonho estava ficando mais claro, que ela disse a si mesma que o Sr. K. a estava perseguindo, e que ele, queria forçar a entrada em seu quarto e “minha caixa de joias” está em perigo, e se acontecer algo a culpa seria do seu pai. Foi por isso que escolheu no sonho uma situação que expressa o oposto, um perigo de que seu pai a salva. Ele lhe diz que nessa parte do sonho tudo está transformado em seu oposto e logo saberá porquê, Freud vai explicar o mistério porque sua mãe que nem estava em L. naquela época entra no sonho.
Freud vai relatar à Dora que sua mãe entra no sonho, por ser sua rival anterior nos favores do pai como por exemplo, a “pulseira que a mãe recusou, Dora aceitaria feliz.”
Freud troca então as palavras “aceitar” por “dar e “rejeitar por recusar”. Segundo ele Dora estaria disposta a “dar” a seu pai o que sua mãe lhe “recusava” e a coisa de que se trata é uma “joia”. Tem uma sequência paralela de pensamentos, na qual seu pai deve ser substituído pelo Sr. K., tal como aconteceu na situação em que ele estava em frente a sua cama, ele lhe deu uma caixa de joias. Nessa sequência de pensamentos sua mãe deve ser substituída pela Sra. K. porque ela é que estava presente em L. naquela ocasião. Logo Dora está disposta a dar ao Sr. K., o que a mulher dele lhe “recusa”, ai está o pensamento recalcado com tanto esforço que foi necessário a transformação de todos os elementos em seu oposto. 
Freud diz a ela que temeu o Sr. K. mas, que temeu ainda mais a si mesma, temeu ceder à tentação dele. Confirmam também, portanto, quão intenso era o seu amor por ele. Pede a Dora que olhe em volta para ver algo de especial que não tinha o costume de estar ali (era uma caixa de fósforos) em cima da mesa, mas ela não viu nada. Ele pergunta a ela se sabia por que as crianças eram proibidas de brincar com fósforos? Ao que Dora lhe responde que as crianças poderiam causar um incêndio, ele lhe diz, que não é só por isso, mas porque existe uma superstição de que elas brincam com fogo e molham a cama à noite.
Dora conta a Freud sobre “o molhar a cama à noite” e que seu irmão molhou a cama à noite até seis ou sete anos e às vezes até durante dia, e que, com ela aconteceu também, apenas algumas vezes, no sétimo e oitavo ano, o médico da família foi consultado, e durou até pouco tempo antes da asma nervosa. 
No dia seguinte surpreendeu Freud com mais um acréscimo. Esquecera de contar que todas as vezes depois de acordar, sentia cheiro de fumaça, mas Dora relacionou o cheiro a Freud, a seu pai, e o Sr. K., todos fumavam e inclusive ela já experimentara, esse cheiro apareceu nos três sonhos repetidos. Com os pensamentos ligados à tentação, portanto, pareciam ter remontado à cena anterior e revivido à lembrança do beijo, contra cuja atração sedutora a “pequena chupadora de dedo”, se protegia, por meio do asco.
Dora então indo ao consultório com sua bolsinha porta-moedas na cintura num formato muito na moda a época, falando deitada no divã, brincava com ela: abria-a introduzia um dedo, tornava a fechá-la, a bolsinha com dupla abertura de Dora não passava de uma representação dos órgãos genitais e sua maneira de brincar com ela, abrindo-a e ali inserindo seu dedo, era uma comunicação pantomímica bastante desembaraçada, mas inconfundível do que gostaria de fazer: masturbar-se.
Freud considera sem nenhuma dúvida, a prova da masturbação infantil e ele diz que no caso de Dora ele começara a suspeitar da masturbação quando ela lhe falou sobre as dores estomacais da prima e em seguida se identificou com ela, queixando-se por dias a fio de sensações dolorosas similares, Dora conta que sofrera muitas vezes de espasmos gástricos e que tinha boas razões para considerar sua prima, uma masturbadora. 
Dora culpava seu pai por sua doença e da sua mãe, através do qual toda a série de pensamentos sobre a culpa de seu pai pela doença obteve acesso à manifestação no sintoma da tosse, essa tosse surgida de um catarro real era ainda uma imitação do pai, cujo pulmões estavam afetados e pôde, expressar sua compaixão por ele. Para os ataques de rouquidão de Dora, Freud reúne diversos determinantes como devemos presumir a presença de uma irritação real e organicamente condicionada da garganta, esse estímulo era passível de fixação por dizer respeito a uma região do corpo que, na menina, conservava um alto grau, a significação de uma zona erógena que estava apto a dar expressão a libido excitada. Depois que uma parte da libido voltou-se novamente para o pai, o sintoma obteve o que talvez seja sua significação última: representar a relação sexual com o seu pai pela identificação de Dora com a Sra. K. mas, esta análise ainda não está completa.
O SEGUNDO SONHO 
Algumas semanas depois do primeiro sonho, ocorreu o segundo, alguns dias depois do Natal, com cuja resolução, interrompeu-se a análise. Ele não teve como tornar esse sonho tão transparente quanto o primeiro, porém ele possibilitou uma confirmação desejada de uma posição que se tornara necessária sobre o estado anímico da paciente, preencheu uma lacuna de sua memória e permitiu obter um profundo conhecimento da gênese de outro de seus sintomas.
Narrou Dora:
“Eu estava passeando por uma cidade que não conhecia, vendo ruas e praças que me eram estranhas, numa das praças eu via um monumento. Cheguei então a uma
casa onde eu morava, fui até o meu quarto e encontrei uma carta de mamãe que dizia que, como eu saíra de casa sem o conhecimento dos meus pais, ela não quisera escrever-me que papai estava doente. ‘Agora ele morreu e, se quiser, (aqui, na carta, havia um ponto de interrogação), você pode vir’. Fui então para a estação (Bahnhof) e perguntei umas cem vezes: onde fica a estação, recebia sempre a resposta ‘cinco minutos’ vi depois à minha frente um bosque espesso no qual penetrei, e ali fiz uma pergunta a um homem que encontrei. Disse-me: ‘Mais duas horas e meia’. (Mas quando repetiu o sonho, disse duas horas). Pediu-me que o deixasse acompanhar-me, recusei e fui sozinha. Vi a estação à minha frente e não conseguia alcançá-la. Aí me veio o sentimento habitual de angústia de quando, nos sonhos, não se consegue ir adiante. Depois, eu estava em casa nesse meio tempo, tinha de ter viajado, mas nada sei sobre isso. Dirigi-me à portaria e perguntei ao porteiro por nossa casa. A criada abriu pra mim e respondeu: A mamãe e os outros já estão no cemitério (Friedhof).”
Freud considerava que, de modo geral, ainda era preciso explicar o que a levara a sentir-se tão absurdamente melindrada pela proposta do Sr. K. e percebia que para o Sr. K., a proposta a Dora, nada foi de indecoroso ou leviano de sedução. E o seu ato de contar foi uma sede doentia de vingança, uma jovem normal daria conta da situação. 
Dora havia ganho um álbum de fotos de uma estação de águas Alemã, e então, quando vai mostrá-lo aos convidados que estavam em sua casa, pergunta a mãe: “onde está a caixa?”. Uma das paisagens mostrava uma praça com um monumento. O autor do presente era um jovem que Dora havia conhecido na cidade onde seu pai tinha a fábrica, ele aceitou um trabalho na Alemanha, para subir mais rápido em sua carreira, e sempre se fazia lembra à Dora, e esperava sua situação melhorar, para se apresentar como pretendente. 
Nas festas de natal chegara um priminho a quem Dora teve de mostrar Viena, mas o primo a fez lembrar de sua estada em Dresden pela primeira vez. Onde ela perambulou, como no sonho, ela recusara a companhia do primo e seguira sozinha pela galeria, onde se deteve em frente à Madona Sistina, ficou umas duas horas “sonhadoramente” a admirá-la em silêncio. Ante a pergunta sobre o que tanto lhe agradara no quadro, não soube dar nenhuma resposta clara, finalmente disse: “A Madona.” 
Nessa primeira parte do sonho, Dora se identifica com um rapaz. Ele vagueia por terras estrangeiras, esforça-se por atingir uma meta, mas é retido, precisa de paciência, tem de esperar. Freud diz que se Dora tinha em mente o engenheiro, seria muito condizente que essa meta fosse a posse de uma mulher, da própria pessoa dela. Em vez disso era uma estação, que aliás, pela relação entre a pergunta do sonho e a pergunta realmente formulada, nos é lícito substituir por caixa, uma caixa e uma mulher: isso já começara a combinar melhor.
Na véspera do natal, em meio à confraternização de família de Dora, o pai lhe pedira que fosse buscar o conhaque, Dora pediu à mãe a chave do bufê, mas ela estava absorta na conversa e não lhe deu resposta alguma, até que, com o exagero da impaciência, Dora exclamou “já lhe perguntei umas ‘cem vezes’ onde está a chave”. Na verdade, ela só tinha falado umas cinco vezes. “Onde está a chave?”, parece o equivalente masculino de “Onde está a caixa? Portanto são perguntas pelos órgãos genitais.
Sobre o conteúdo da carta Freud questiona, de onde proviria a frase “se você quiser?” ocorreu a Dora que depois da palavra “quiser” havia um ponto de interrogação, e com isso, ela reconheceu essas palavras como uma citação extraída da carta da Sra. K. que fizera o convite para L., (o lugar junto ao lago). Freud acha muito estranho, após a intercalação “se você quiser vir”. Havia nessa carta um ponto de interrogação colocado bem no meio da frase. 
Dora conta que o Sr. K. fizera uma introdução razoavelmente séria mas, ela não o deixara terminar. Mal compreendeu do que se tratava e deu-lhe uma bofetada no rosto e se afastou às pressas. Freud diz que queria saber que palavras ele empregara, mas Dora só se lembrara de uma de suas alegações: “Sabe, não tenho nada com minha mulher.” Naquele momento para não tornar a encontrá-lo ela quisera voltar para L., contornando o lago a pé e perguntou a um homem com quem cruzou, a que distância ficava. Ante a resposta “duas horas e meia”, desistiu dessa intenção e voltou em busca do barco. O Sr. K. também estava lá novamente e aproximou-se dela e lhe pediu que o desculpasse e que, não contasse nada sobre o incidente. Mas ela não lhe deu resposta alguma. O bosque do sonho era muito parecido com o bosque na orla do lago, no qual se desenrolara a cena que ela acabava de me descrever mais uma vez. 
Freud então relata que partilhou suas conclusões com Dora. A impressão causada foi impactante pois emergiu imediatamente um pequenino fragmento esquecido do sonho, que ela foi calmamente para seu quarto e pôs-se a ler um livro grande que estava sobre sua escrivaninha. A ênfase sobre dois detalhes: “calmamente” e “grande”, relacionado com o livro. 
Freud nos relata que esses trabalhos para esclarecer o segundo sonho haviam requerido duas sessões a qual ele mostrou a Dora sua satisfação, e ela, respondeu em tom desdenhoso: “Ora, será que apareceu tanta coisa assim?” E com isso Freud se preparou para a chegada de outras revelações.
 Freud nos relata que Dora iniciou a terceira sessão com essas palavras:”
“-O senhor sabe doutor que hoje estou aqui pela última vez?”
“-Não posso saber, pois você não me disse nada a esse respeito.”
“-É, eu me propusera aguentar até o Ano Novo, mas não quero esperar mais pela cura”.
“-Você sabe que tem sempre a liberdade de se retirar. Mas hoje ainda vamos continuar trabalhando. Quando foi que tomou essa decisão?
“-Faz uns quatorze dias, creio.
Freud então vai dizer a Dora que isso soa como uma empregada ou uma governanta, um aviso prévio de quatorze dias. 
Segundo Freud foi um incontestável ato de vingança de Dora para com ele. No momento em que, suas esperanças de um término feliz do tratamento estavam no auge, ela partisse de forma tão inesperada e aniquilasse essas esperanças. Também sua tendência a prejudicar a si mesma beneficiou-se desse procedimento. A despeito de todo o interesse teórico e de todo o empenho médico de curar tenho muito presente que a influência psíquica necessariamente tem limites e respeito como tais também a vontade e a compreensão do paciente.”
Freud vai então concluir esse segundo sonho dizendo que nunca se pode calcular para que lado penderá a decisão no conflito entre os motivos, se para eliminação, ou o reforço do recalcamento. A incapacidade para o atendimento de uma demanda amorosa real, é um dos traços mais essenciais da neurose, os doentes são dominados pela oposição entre a realidade e a fantasia, aquilo por que mais intensamente anseiam em suas fantasias é justamente aquilo de que fogem quando lhes é apresentado pela realidade, e com maior gosto se entregam a suas fantasias quando já não precisam temer a realização delas. A barreira levantada pelo recalcamento, no entanto, pode cair sob o assalto de excitações violentas de causa real, a neurose ainda pode ser derrotada pela realidade. Mas não podemos avaliar genericamente em quem e de que maneira essa cura seria possível.
Observações de Freud a respeito da estrutura desse sonho que não se deixa compreender tão a fundo que se possa tentar sua síntese. Como um fragmento anteposto à maneira de uma fachada, destaca-se a fantasia de vingança contra o pai: Ela sai arbitrariamente de casa, o pai adoece, e depois morre. Então ela vai pra casa, e todos os outros já estão no cemitério; ela sobe para o quarto, sem nenhuma tristeza, e lê calmamente a enciclopédia. Por baixo disso há duas alusões a outro ato de vingança realmente praticado por Dora, ao deixar que os pais encontrem sua carta de despedida, a carta (da mãe no sonho) e a menção ao funeral da tia que lhe servira de modelo, o material dos acontecimentos
em L. Por trás dessa fantasia ocultam-se os pensamentos de vingança contra o Sr. K., para os quais ela encontrou uma saída em sua conduta perante mim. A criada, o convite, o bosque e as duas horas e meia, provém do material dos acontecimentos em L. A lembrança da governanta e da troca de correspondência entre esta e seus pais conjuga-se com o elemento da carta de despedida de Dora, na carta que aparece no conteúdo do sonho, pela qual ela é autorizada a voltar para casa. Sua recusa a se deixar acompanhar, sua decisão de ir sozinha, talvez possa traduzir-se assim: “Já que você me tratou como a uma criada, deixo-o parado aí, sigo meu caminho sozinha e não me caso”.
Encoberto por esses pensamentos de vingança, vislumbra-se em outros pontos um material proveniente de fantasias de ternura decorrentes do amor inconscientemente prolongado pelo Sr. K. “Eu teria esperado por você até ser sua mulher”, a defloração, o parto. Por fim, pertence à quarta esfera de pensamentos, a mais profundamente ocultada, a do amor pela Sra. K., o fato de a fantasia de defloração ser representada desde o ponto de vista do homem (identificação com o admirador agora residente no estrangeiro), e de haver em duas passagens as mais claras alusões a ditos de duplo sentido (“Será que o Sr. mora aqui?”) e à fonte não oral de seus conhecimentos sexuais (a enciclopédia). Realizam-se nesse sonho moções cruéis e sádicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Há três pontos no caso Dora que considero importantes para a clínica das neuroses, o primeiro é quando Dora é levada à Freud pelo seu pai para tratamento dizendo que sua filha se tornou neurótica. Freud então pede que ela lhe conte o que se passa, e então Dora conta que ela foi vítima de assédio por parte do Sr. K., e com a conivência do seu pai que a seu ver tinha um caso amoroso com a Sra. K, ela achava que seu pai não queria esclarecer o comportamento do Sr. K. em relação a ela para não ser molestado em seu próprio relacionamento com a Sra. K. 
O segundo ponto, é que, quando Freud implica Dora nas situações que relata perguntando: “qual a sua responsabilidade naquilo que reclama?” É aí então que Dora começa a relatar sua história, pode-se dizer que, é aí que começa a fazer “Análise” buscando sempre a parte responsável dela na história.
Dora relata a Freud seu asco, nojo, repulsa que sentiu ao ser beijada pelo Sr. K. e, essa “repugnância” se tornou um “sintoma permanente”. Freud queria saber sobre os percursos dos desejos de Dora, sua sexualidade infantil, e, de como se deu sua resolução
Freud aponta a Histeria de Dora dizendo:
O comportamento dessa menina de quatorze anos já era totalmente histérico: “Eu tomaria por histérica sem hesitação qualquer pessoa em quem uma oportunidade de excitação sexual despertasse sentimentos preponderantes ou exclusivamente desprazerosos, fosse ela ou não capaz de produzir sintomas somáticos. Freud fala então sobre a necessidade de esclarecer o mecanismo dessa “inversão do afeto” que acontece, Freud diz ser uma das tarefas mais importantes, e ao mesmo tempo, uma das mais difíceis da psicologia das neuroses.
 O terceiro foi o equívoco de Freud ao não perceber que Dora ao identificar ao desejo do Sr. K. ela pôde se identificar como querendo ser uma mulher, como a Sra. K. Dora que desde menina teve a Sra. K. como um parâmetro do que é ser uma mulher.
Uma mulher que como ela descreve para Freud. “Admirável”. Dora admira a Sra. K. e quer ser como ela. É isso que escapa à Freud, porque ele tentou compreender ao invés de escutar. Enquanto analista, não devemos compreender por que não é disso que se trata numa análise, não é para compreender. O analista escuta pela via do inconsciente, e é isso que um analista deve fazer. Se trata de querer ver de onde vem esse desejo, de que lugar esse sujeito deseja. A histérica deseja o lugar do homem. 
 BIBLIOGRAFIA
FREUD, S, Fragmento da Análise de um caso de Histeria (1905). In: FREUD, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Edição Standard Brasileira (vol. VII). Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 19.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando