Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Enciclopédia de Citações para as Redações do ENEM: Versão 2020 Autor: Leonardo Scarano Zacarin Use com moderação! Obviamente, pode ser muito difícil que você memorize todos os autores e todos os argumentos para utilizar na redação do ENEM. Por isso, sugiro que você consulte esse manual conforme precise, no decorrer do ano; além disso, você pode escolher três ou quatro autores que você acha mais útil para decorar e utilizá-los como “coringas” em diferentes temas de redação. Eu, pessoalmente, sugiro Bauman, Marx, Adorno e mais um autor à sua escolha. Bons estudos! ÍNDICE Citações de pensadores Zygmunt Bauman ……………………………………………………………………………………………………………………. 1 François Lyotard ............................................................................................................ ................ 3 Karl Marx ………………………………………………………………………………………………………………………………… 3 Sérgio Buarque de Holanda ……………………………………………………………………………………………………. 4 Theodor Adorno ……………………………………………………………………………………………………………………… 5 Paulo Freire ………………………………………………………………………………………………………………………...….. 6 Simone de Beauvoir ………………………………………………………………………………………………………………… 7 Jürgen Habermas …………………………………………………………………………………………………………………….. 7 Émile Durkheim ……………………………………………………………………………………………………………………… 8 Max Weber …………………………………………………………………………………………………………………………...... 9 Caio Prado Júnior …………………………………………………………………………………………………………………..... 9 Carolina Maria de Jesus ………………………………………………………………………………………………………….. 10 Walter Benjamin ……………………………………………………………………………………………………………………. 10 Jean-Jacques Rousseau ………………………………………………………………………………………………………….. 11 Soren Kierkegaard ………………………………………………………………………………………………………………….. 12 Immanuel Kant ………………………………………………………………………………………………………………………. 12 Achille Mbembe …………………………………………………………………………………………………………………….. 13 Pierre Bourdieu ……………………………………………………………………………………………………………………… 14 Steve Tesich ........................................................................................................................... ...... 14 Milton Santos ………………………………………………………………………………………………………………………. 14 Voltaire ………………………………………………………………………………………………………………………………… 15 Thomas Hobbes ……………………………………………………………………………………………………………………… 15 Tales de Mileto .……………………………………………………………………………………………………………………… 16 Gilberto Freyre ………………………………………………………………………………………………………………………..16 Michel Foucault ………………………………………………………………………………………………………………...... 16 Sigmund Freud ……………………………………………………………………………………………………………………… 17 Guy Debord ……………………………………………………………………………………………………………………………. 18 Maquiavel ……………………………………………………………………………………………………………………………… 18 Sócrates …………………………………………………………………………………………………………………………………. 19 Hannah Arendt …………………………………………………………………………………………………………………….. 19 Chimamanda Adichie …………………………………………………………………………………………………………….. 19 René Descartes ………………………………………………………………………………………………………………………. 20 Aristóteles ................................................................................................................................... 20 Claude Lévi-Strauss ..................................................................................................................... 21 John Locke .................................................................................................................. ................. 21 Byung-Chul Han .................................................................................................................... ....... 21 Frases específicas Preconceito ............................................................................................................................. ... 23 Racismo .................................................................................................................... ................... 23 Tecnologia/contemporaneidade ................................................................................................ 24 Educação ............................................................................................... ...................................... 24 Política e Direitos Humanos ................................................................................................. ....... 25 Violência e guerra ....................................................................................................................... 26 Desigualdade ................................................................................................................ ............... 27 Meio ambiente ............................................................................................................................ 27 Cultura ..................................................................................................................... ................... 27 Ganchos argumentativos Desigualdade de gênero .............................................................................................................. 29 Violência urbana ....................................................................................... ................................... 30 Racismo ....................................................................................................................................... 31 LGBTTQIA+fobia .......................................................................................................................... 32 Esporte ..................................................................................................................... ................... 33 Bullying ............................................................................................................................. ........... 35 Tecnologia e internet .............................................................................................. .................... 36 Liberdade de expressão ...................................................................................................... ......... 38 Deficientes .................................................................................................................................. 39 Preconceito linguístico ..................................................................................................... ........... 41 Corrupção .................................................................................................................................... 42 Democratização do acesso à cultura .......................................................................................... . 43 Mídia brasileira e manipulação ................................................................................................... 44 Questão indígena ............................................................................................................ ............ 45 Meio ambiente ............................................................................................................................ 47 Doenças mentais e suicídio .................................................................................................. ....... 48 Sistema carcerário ....................................................................................................................... 49 Obesidade e gordofobia .......................................................................................... .................... 50 Vacinação ................................................................................................................... ................. 52 Mobilidade urbana ...................................................................................................................... 54 Migrações ................................................................................................................... ................. 54 Agricultura, agrotóxicos, transgênicos ........................................................................................55 Pesquisa científica ....................................................................................................................... 56 Crise na educação ........................................................................................................................ 57 Notícias falsas e polarização política ........................................................................................... 59 Guerra às drogas e violência policial ....................................................................................... .... 60 Violência obstétrica ..................................................................................................................... 61 Sistema Único de Saúde .............................................................................................................. 62 Doação de sangue e órgãos ................................................................................................... ...... 63 1 CITAÇÕES DE PENSADORES Zygmunt Bauman Modernidade Líquida - Para Zygmunt Bauman, até o século XIX, nós vivíamos em uma etapa chamada de modernidade sólida: a vida era muito estável, mudava muito pouco. Isso, em grande medida, era devido à força das instituições (Estado, Igreja, família, etc.), que ditavam diversos aspectos da nossa vida pessoal - com isso, nós tínhamos uma existência “segura” (não existiam grandes mudanças, grandes ansiedades), mas com uma liberdade limitada. Contudo, depois da Segunda Guerra Mundial, nós superamos esse período e entramos na pós-modernidade, ou “modernidade líquida”. A modernidade líquida privilegia a liberdade em vez da segurança; dessa forma, atualmente, nós temos mais liberdade para determinar diversos aspectos da nossa vida. Por exemplo, no passado, se os nossos pais trabalhassem no campo, nós também trabalharíamos (desde criança, inclusive); atualmente, teoricamente, existe uma liberdade maior para efetuar essa decisão. Essa liberdade traz algumas consequências: - A perda da força das instituições; elas, atualmente, não conseguem interferir na nossa vida com a mesma força que tinham no passado. - A insegurança; antigamente, tudo, em nossa vida, estava muito bem definido. Nós sabíamos, de certa forma, como a nossa vida seria. Atualmente, não: isso, porque grande parte da nossa existência depende das nossas escolhas. - O mal-estar da pós-modernidade; nós temos, até certo ponto, liberdade para fazer nossas escolhas. Porém, nada garante que nós faremos as escolhas certas - e isso faz com que a existência na contemporaneidade seja permeada por um constante desconforto. - O individualismo; cada indivíduo tem a liberdade para tomar as próprias escolhas. Dessa forma, cada um é deixado à própria sorte. Por isso, atualmente, toda pessoa é mais autocentrada. - O aumento da influência do capitalismo. Se as instituições como um todo perderam o seu poder, o capitalismo apenas aumentou: por isso, ele passa a moldar as consciências individuais - ou seja, o jeito que nós vemos o mundo não está, mais, moldado pela Igreja. Não está moldado pela pátria em que vivemos. Acima de tudo, a nossa visão de mundo está permeada pelo capitalismo e pelo consumismo. O consumismo tem uma característica que produz efeitos específicos na nossa consciência: a necessidade contínua de comprar. Para que ele se mantenha, depois de cada compra, deve vir uma nova compra. Por exemplo, eu compro um celular, mas isso não me satisfaz: eu ainda quero comprar outras quinhentas coisas - e, inclusive, meses depois, eu já estou pensando como seria legal ter outros celulares de modelos novos. 2 Nas relações sociais, isso traz uma consequência específica: as relações são rasas, e só duram enquanto atenderem os interesses individuais de ambas as pessoas envolvidas. Isso vale para as relações amorosas: atualmente, as pessoas em geral têm mais interesse em “ficar”, em vez de construir relações duradouras. Vale, também, para as relações de trabalho: as pessoas mudam de trabalho com mais frequência (inclusive, por causa do desemprego estrutural que assola a nossa sociedade). Para ilustrar a constante mudança em nossa sociedade, um trecho do próprio Bauman: “Viver num mundo cheio de oportunidades — cada uma mais apetitosa e atraente que a anterior, cada uma ‘compensando a anterior, e preparando o terreno para a mudança para a seguinte’ — é uma experiência divertida. [...]. Poucas derrotas são definitivas, pouquíssimos contratempos, irreversíveis; mas nenhuma vitória é tampouco final. Para que as possibilidades continuem infinitas, nenhuma deve ser capaz de petrificar-se em realidade para sempre. Melhor que permaneçam líquidas e fluidas e tenham “data de validade”, caso contrário poderiam excluir as oportunidades remanescentes e abortar o embrião da próxima aventura”. Onde encaixar? Analisando a modernidade líquida do ponto de vista da mudança, podemos encaixar o conceito em uma redação sobre quaisquer tipos de preconceito. O preconceito e o conservadorismo são reações à mudança que é inevitável em uma modernidade líquida, e, sendo contrários ao fluxo natural da sociedade, devem ser combatidos. Analisando a modernidade líquida do ponto de vista do individualismo, podemos encaixar o conceito em uma redação sobre qualquer tema que implique o prejuízo a terceiros. Por exemplo, o ressurgimento do liberalismo econômico na atualidade é fruto de uma visão individualista dos seres humanos, que não se preocupa com o próximo, isolando as pessoas pobres. Todas as repercussões do neoliberalismo (privatizações, reforma trabalhista, “uberização” do trabalho etc.) podem ser vistas como fruto de um movimento maior, individualista, que acaba se mostrando gerador de muitos problemas na sociedade atual. Além disso, pode-se encaixar o individualismo em uma análise acerca do uso dos celulares na modernidade, uma vez que, estando em um celular, o indivíduo praticamente se isola do restante da comunidade. Analisando a modernidade líquida do ponto de vista da angústia trazida por ela, podemos encaixar o conceito em uma redação sobre depressão, suicídio e sobre o enfraquecimento dos laços entre as pessoas. Economia Informal - Outra ideia de Zygmunt Bauman. Explorada em seu livro “Amor Líquido”, a economia informal é aquela parte de uma sociedade capitalista que não é voltada para o lucro. Por exemplo, atividades beneficentes e solidárias; relações interpessoais, que são guiadas pelos sentimentos. Por não ser voltada para o lucro, o economista vê essa parte da economia como um espaço a ser conquistado pelo capitalismo: e, assim, o capitalismo atual busca a extinção dessas formas de economia informal. 3 Onde encaixar? Podemos encaixar a ideia de economia informal em uma redação que contenha um tema contrário aos interesses do capitalismo. Por exemplo, a preservação da natureza é parte da economia informal, considerando que ela não visa ao lucro, e acaba constrangendo o capitalismo em certos pontos. Podemos analisar parte da aversão à preservação da natureza porque ela vai contra aos interesses capitalistas, constituindo parcela de economia informal que o capitalismo busca suprimir. François Lyotard Pós-modernidade – é um conceito semelhante àquele explorado por Bauman quando ele fala de modernidade líquida: é o período que veio posteriormente à Segunda Guerra Mundial. Porém, Lyotard analisa esse período sob uma óptica diferente: ele destaca que a pós-modernidade trata- se da perda de nossas crenças nas “metanarrativas” – ou seja, nós paramos de acreditar em filosofias que tentam dar uma fórmula perfeita para explicar a vida, como o Iluminismo defende a razão e o marxismo defende a luta de classes. Basicamente, Lyotard defende que o Iluminismo, quando confrontado com a realidade, trouxe avanços notáveis para a ciência, que levaram à bomba atômica; o marxismo, por sua vez,também defendeu uma fórmula para criar uma sociedade perfeita. Contudo, quando levado em prática, trouxe regimes totalitários que restringiram direitos humanos. Por isso mesmo, cria-se um clima de desconfiança em relação a consensos universais. Onde encaixar? Sempre que falarmos de visões que buscam alcançar um consenso universal, podemos falar que elas podem estar sendo desacreditados por causa da pós-modernidade. Por exemplo, quando falamos do movimento antivacina ou no movimento que desacredita do ambientalismo. Da mesma forma, quaisquer outros pontos de vista que tratem a ciência como opinião: afinal, a ciência tem pretensão de criar um consenso universal, e, por isso, acaba sofrendo desconfiança. Karl Marx Infraestrutura e Superestrutura - Para Karl Marx, uma sociedade pode ser dividida em infraestrutura (composta pela distribuição dos meios de produção e pelas relações de trabalho) e superestrutura (composta por todo o restante da sociedade). Toda essa superestrutura é derivada da infraestrutura; assim, em uma sociedade capitalista, o Estado, a Igreja, a mídia, a cultura - tudo é derivado do capitalismo, direta ou indiretamente. Onde encaixar? Sempre que você afirmar que um fenômeno é culpa do capitalismo, você pode afirmar que ele é “reflexo da infraestrutura da sociedade, como dizia Karl Marx”. Por exemplo, o uso do Estado para interesses das classes mais privilegiadas em eventos como a reforma 4 trabalhista ocorre porque a infraestrutura determina que o Estado, integrante da superestrutura, se comporte dessa forma. Ideologia - Para Karl Marx, as ideologias são conjuntos de proposições elaboradas para sustentar, legitimar e perpetuar a conjuntura atual da sociedade. Porém, essas ideologias são apenas distorções da realidade, derivadas da superestrutura capitalista, que somos forçados a engolir porque todos os principais meios de comunicação, ligados ao capitalismo, a repetem compulsivamente. Onde encaixar? Qualquer ideia que cubra e tenta disfarçar a situação do pobre é ideológica. A meritocracia é o exemplo clássico de ideologia, pois romantiza pessoas que fazem esforços e sacrifícios sobre-humanos para obter uma situação que pessoas bem-nascidas já têm de nascença. No entanto, ela não é o único exemplo: a afirmação que diz que “a riqueza de alguns beneficia a todos” é tipicamente ideológica, porque legitima a divisão de renda atual. Assim, uma redação sobre a desigualdade social pode ter um tópico articulado em torno da ideia de ideologia e como ela sustenta a desigualdade. Exploração do Trabalho - Todo o regime capitalista é estruturado em torno da exploração de trabalho e da mais-valia. A mais-valia é o lucro que o empregador tira do salário do empregado, quando o empregado produz mais riquezas do que ganha com o salário. Onde encaixar? Qualquer redação sobre o trabalho ou sobre a economia aceita um parágrafo sobre a visão marxista de exploração do trabalho associada a eventos atuais - por exemplo, a reforma trabalhista ou a portaria que, recentemente, mudou o conceito de trabalho escravo para restringir o conceito de trabalho escravo, permitindo uma exploração ainda maior. Sérgio Buarque de Holanda Raízes do Brasil - Em seu livro Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda busca encontrar explicações para problemas brasileiros recorrendo a uma análise histórica que volta até os primórdios da colonização brasileira. Não é necessário saber toda a explicação de Sérgio Buarque, claro; mas talvez seja interessante conhecer o conceito de Homem Cordial. Para Sérgio Buarque de Holanda, o brasileiro é tipicamente cordial: age com o coração, com as emoções. E isso não apenas em esfera doméstica, mas também em esfera pública. Com isso, o brasileiro comum busca, em vez de fazer o que é certo, privilegiar os seus amigos. Por exemplo, em vez de contratar o candidato mais qualificado para uma vaga de trabalho, um empresário prefere contratar o próprio filho, ou um amigo. Podemos, também, encontrar explicações para parte da corrupção brasileira na cordialidade: o brasileiro busca favorecer a si próprio, aos seus amigos, aos seus familiares; dessa forma, desvia 5 dinheiro dos cofres públicos para si próprio; ou, então, fornece informações privilegiadas para uma empresa vencer uma licitação. Basicamente, o homem cordial se apropria dos bens públicos, como se fossem seus; por isso mesmo, muitos interesses privados dos políticos acabam repercutindo na esfera pública. Onde encaixar? A cordialidade do brasileiro pode constituir todo um parágrafo sobre a corrupção no país. Fora isso, o próprio termo “raízes do Brasil” pode formar um jogo de palavras: toda vez que fazemos análises históricas, podemos afirmar que, “tal qual Sérgio Buarque de Holanda, procuraremos a origem do problema nas raízes do Brasil”. Além disso, a gente pode pensar que a persistência de alguns problemas se deve a interesses privados dos políticos, que não fazem o melhor para o país, mas para si próprios; por exemplo, a persistência do desmatamento é possibilitada, em grande medida, pela bancada ruralista presente no Congresso. Da mesma forma, a persistência de condições precárias de trabalho é mantida pela existência de políticos empresários (ou bancados por empresários). Theodore Adorno Indústria cultural - Para Theodore Adorno, a cultura atual é produzida segundo uma lógica capitalista, de produção em massa. Dessa forma, para a arte/cultura contemporânea, não importa o que é mais belo; não importa o que expressa os sentimentos do artista; importa, na verdade, o que gera mais lucro. Atualmente, o que é buscado pelos artistas é o lucro – mesmo que, para alcançá-lo, a qualidade da produção seja sacrificada. Para fazer com que o produto cultural atinja o maior lucro possível, ele deve ser consumido pelo maior número de pessoas possível: dessa forma, temos duas consequências: em primeiro lugar, a cultura torna-se padronizada, com certos clichês (o vilão e o mocinho, as histórias de amor, os finais felizes) – para que a produção cultural seja facilitada. Em segundo lugar, a qualidade da cultura cai; a ela é produzida sem reflexão, sem criatividade, para que todas as pessoas possam compreendê-la e consumi-la. Para Theodor Adorno, essa indústria cultural, produzindo essa cultura de massa, faz com que a população entre em um círculo vicioso. Eles consomem a cultura de massa, porque são explorados pelo capitalismo; cansados, a única coisa que eles conseguem consumir para entretenimento é uma cultura rasa e fácil. Contudo, consumindo essa produção cultural, eles perdem a consciência crítica, e permanecem alienados, sem capacidade de perceber a dominação e se rebelar contra ela. Onde encaixar? - É possível encaixar esse conceito, principalmente, em uma redação que envolva arte e cultura. Pode-se falar acerca da necessidade da democratização de cultura de qualidade, e não a produzida pela indústria cultural, de modo a fazer com que a população reflita acerca dessa cultura - e, então, a cultura cumpra a sua função social. Sem uma democratização da 6 verdadeira cultura, a população se vê diante de cada vez mais obstáculos para refletir. Além disso, quando falamos sobre a alienação provocada pela mídia, também é possível utilizar os conceitos de Adorno. Dialética do Esclarecimento - O livro “Dialética do Esclarecimento” é um livro escrito por Theodore Adorno junto a Max Horkheimer: nesse livro, os dois teóricos analisam os desdobramentos do Iluminismo junto à modernidade, e acabam chegando a uma conclusão inesperada: por mais que o Iluminismo pregasse que as pessoas se libertassem das trevas, pensassem por si próprias, e, assim, chegassem a um quadro onde estivessem emancipadas, ele trouxe efeitos opostos. Afinal, por mais que o Iluminismo tenha sido um período de grande desenvolvimento tecnológico e científico,ele trouxe um quadro de desumanidade nunca antes visto - quadro esse que resultou em eventos como a bomba nuclear, que exigiu um desenvolvimento científico notável. O fato é que o desenvolvimento da racionalidade veio em prejuízo da humanidade – é a chamada “razão instrumental”, que serve apenas para buscar o lucro. Onde encaixar? Sempre que estivermos falando de razão e de ciência, devemos lembrar que a humanidade é necessária para que a criação da ciência não seja completamente alienada: a ciência, sem levar em conta as pessoas que irá atingir, acaba sendo desumana. Assim, qualquer fenômeno pretensamente racional demais pode, no fundo, esconder uma desumanidade enorme. Por isso, a humanidade nunca deve ser deixada em segundo plano. O tema da redação Fuvest de 2020, “o papel da ciência no mundo contemporâneo”, é uma ótima possibilidade de usar essa citação. Paulo Freire Pedagogia do Oprimido - A pedagogia do oprimido (ou pedagogia da libertação) é um modelo de educação diferente do majoritário: ele busca analisar as condições fáticas, as demandas de cada parte da sociedade para criar um modelo específico de educação: basicamente, Paulo Freire propõe educar as pessoas utilizando-se de conceitos que estão presentes na vida dela. Por exemplo, criou um método de alfabetização que se baseava no estudo das palavras utilizadas pelos alunos. O foco da educação sai da figura do professor, e passa para o aluno. Paulo Freire visa, com esse modelo de educação, uma transformação: visa que as pessoas se libertem da sua condição subalterna, marginalizada. Como a educação varia de acordo com os conhecimentos que realmente possam mudar a vida do educando, ela muda a visão de mundo do aluno. Esse fenômeno é chamado de “emancipação”. Onde encaixar? Qualquer redação ou proposta de intervenção relacionada à educação pode permitir uma citação da pedagogia da libertação. Basta você citar que “a educação proposta deve 7 focar na figura do estudante, e, assim buscar uma mudança concreta em sua vida: uma transformação, como propõe a pedagogia do oprimido de Paulo Freire”. Simone de Beauvoir Feminismo e socialização - “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Com essa frase, Simone busca exprimir que ser mulher não é apenas ter dois cromossomos X: na sua sociedade, ser mulher envolvia todo um conjunto de práticas e costumes que valorizam a feminilidade, colocando, assim, a mulher em posição subalterna ao homem. Com essa visão, ela busca ressaltar o machismo e o patriarcalismo presente na sociedade, que educa a mulher para tornar-se uma figura tipicamente caseira e inferior, vítima a todo tempo dos desmandos do seu marido. A autora explica também que a mulher é sempre definida pelo homem, tendo ele como base, assim ela é sempre o Outro e nunca o principal. Onde encaixar? Qualquer redação que envolva desigualdade de sexos exige a transcrição dessa reflexão de Simone de Beauvoir. Ela foi uma figura chave no feminismo mundial, abordando de forma revolucionária a subalternização das mulheres, do ponto de vista de sua socialização. Mesmo uma redação que explore a busca de padrões de beleza pode aceitar essa citação, uma vez que a busca pelos padrões de beleza femininos é mais obstinada por causa dessa cultura que coloca a mulher em posição inferior, tendo por dever agradar ao homem. Jürgen Habermas Democracia deliberativa - A democracia participativa é um modelo de democracia formulado por Jürgen Habermas. É um modelo bastante complexo, mas podemos resumir grande parte dele em um fenômeno: os habitantes não participariam da democracia apenas a partir do voto. Pelo contrário, a democracia deve, para funcionar melhor, se abrir à participação dos cidadãos mesmo em períodos não eleitorais: cada cidadão deveria poder expor as suas ideias, as sugestões de leis, e comunicar as suas razões em esfera pública, abrindo-as para um necessário debate (que é expressão daquilo que Habermas chama de razão comunicativa). Apenas dessa forma, as opiniões serão construídas em público - e serão mais qualificadas, por terem passado por um processo de discussão. Onde encaixar? Sempre que você quiser encaixar modelos democráticos de participação fora do período eleitoral, você pode dizer que está agindo de acordo com a democracia deliberativa habermasiana. Como esse modelo traz maior transparência para as ações dos políticos, poderíamos usá-lo até mesmo em uma intervenção acerca do problema da corrupção no Brasil. Mesmo sem conexão com a política, também é possível utilizar Habermas: basta se manter ligado unicamente à ideia de razão comunicativa. Por exemplo, no tema de redação do ENEM de 2017, 8 poderíamos afirmar que a exclusão dos surdos da educação regular tem, como consequência, a exclusão dele da esfera de expressão da razão comunicativa, tendo em mente que a convivência com a deficiência auditiva não é algo “ensinado” nas escolas. Por fim, destaque-se que o uso de Habermas pode vir conjuntamente a uma citação de Rousseau, tendo em mente que os dois pensadores têm ideias razoavelmente próximas de democracia. Émile Durkheim Fato social - Para Émile Durkheim, o fato social é uma maneira de agir, pensar e sentir que é exterior e independente ao indivíduo, sendo imposta a ele pela sociedade por meio de um atributo chamado coercitividade: a coercitividade é o poder que a sociedade tem de forçar um indivíduo a tomar certa conduta. Caso contrário, ele pode acabar sofrendo exclusão e marginalização da sociedade. Tais fatos estão existentes em enorme medida na nossa sociedade, desde o mais trivial (usar roupas é um fato social, porque é uma atitude que aprendemos - e, em vida urbana, quem não usa roupas pode ser até preso) até eventos mais complexos (como o trabalho. Nós não temos vontade de trabalhar, é algo que se impõe a nós: porque, se não trabalharmos, sem dinheiro, nossa participação na sociedade acaba sendo bastante restrita). A coercitividade é um elemento fundamental para ser analisado em um comportamento, para identificarmos se trata-se de um fato social ou não. Onde encaixar? Vários temas de redações são fatos sociais. Por exemplo, o culto à beleza é um fato social, uma vez que as pessoas que não se adaptam aos padrões podem, muitas vezes, sofrer exclusão e ridicularização em público. O uso da tecnologia pode ser visto como um fato social, porque é algo que cada vez mais permeia o nosso cotidiano, e quem não tem acesso à tecnologia é cada vez mais privado de algumas esferas e mecanismos da sociedade atual. Nesse sentido, você pode utilizar o atributo da coercitividade para justificar a exclusão social que existe a muitas pessoas que não se adaptam a esses fenômenos. Importante: um fato social não é intrinsecamente benéfico ou problemático. Definir isso depende de análises mais profundas. Solidariedade – a solidariedade, para Durkheim, é a forma que uma sociedade usa para se manter unida. Caso os indivíduos sejam muito parecidos, eles se mantêm unidos pela identificação: trata-se da solidariedade mecânica, que se aplica, por exemplo, a uma sociedade primitiva. Caso os indivíduos sejam diferentes, eles se mantêm unidos por meio da complementariedade: uma classe de indivíduos depende da outra. É o que acontece em todas as sociedades com uma divisão de trabalho aprofundada. Onde encaixar? A solidariedade pode ser citada ao falarmos que a ação de uma pessoa pode ser prejudicial a toda a sociedade. É possível justificar isso por conta da dependência entre os 9 indivíduos. Além disso, a solidariedade pode ser utilizada ao lembrarmos que, qualquer classe, por mais que seja marginalizada ou discriminada, tem um papel essencial na nossa sociedade, por causa da forte interdependência que existe entre nós. Max Weber Ação Social – Max Weber discordava de Émile Durkheim no tocante ao fato social. Ele acredita que,na verdade, existiam ações sociais; a diferença entre ambos é que a ação social admite que o indivíduo também tem o seu papel. A sociedade influencia o indivíduo, mas o indivíduo, em contrapartida, também influencia a sociedade com os seus atos. Onde encaixar? Basicamente, qualquer situação em que você mencione o “poder” de ações individuais pode aceitar uma citação sobre a ação social weberiana. Modernização – A ideia de modernização é um conceito bem específico para Weber; é aquilo que se chama de “desencantamento do mundo”: trata-se de uma libertação de crenças, de ideias míticas, de explicações tradicionais para os fenômenos da sociedade. Dessa forma, nós passamos a adotar visões de mundo pautadas na racionalidade, e não nas tradições. Quanto mais racional uma sociedade é, mais moderna ela é. Onde encaixar? A modernização pode ser encaixada quando abordamos fenômenos irracionais (por exemplo, as diversas formas de preconceito), defendendo o seu abandono em prol de uma sociedade mais moderna. Caio Prado Júnior Economia escravista - Caio Prado Júnior faz uma análise da sociedade brasileira - especialmente, da economia - por meio de uma visão histórica. Para ele, o período colonial deixou fortes marcas na nossa sociedade: dessa forma, muito da nossa organização vem desse período. Por exemplo, a agricultura brasileira tinha um grau considerável de avanço, mas isso apenas porque ela é voltada para o mercado externo, para o consumo das potências. Os produtores do Brasil se pautam para a exportação, mantendo relações sociais, econômicas e políticas que existiam desde o Brasil colônia. Essa economia, chamada por ele de escravista, sustenta-se em grande medida por causa do imperialismo internacional, e mantém desigualdades - pois beneficia apenas uma pequena elite. Destaca-se, ainda, que a economia escravista traz comportamentos sociais que lhe são característicos. O exemplo mais óbvio é o racismo; mas, também, relações como o coronelismo são remanescentes do período colonial. 10 Onde encaixar? Uma redação sobre a desigualdade aceita menções à economia escravista, mas, principalmente, uma redação que fala sobre a preservação da natureza ou os agrotóxicos: esses insumos entram no quadro de modernização da agricultura nacional, e há grande interesse por parte das companhias (como a Monsanto) de manter o consumo brasileiro desses gêneros - assim, expõe-se o imperialismo mencionado por Caio Prado Júnior, que se externaliza por pressões feitas sobre órgãos públicos para a aprovação de leis benéficas ao uso de defensivos agrícolas. Carolina Maria de Jesus Quarto de Despejo - Carolina Maria de Jesus foi uma escritora que fugia aos padrões brasileiros. Negra e moradora da favela do Canindé, na zona Norte de São Paulo, ela teve seus diários encontrados por um jornalista que buscava fazer uma reportagem sobre a favela. Esses diários, de tom poético, renderam um livro chamado “Quarto de Despejo” - e esse título se devia a seguinte frase: “Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, pobres, somos os trastes velhos”. A metáfora é forte e traz uma carga simbólica muito grande, que escancara a marginalização sofrida pelos moradores de periferia. Onde encaixar? A própria história de Carolina pode ser usada como referência quando falamos de desigualdade. Ela era uma mulher negra e pobre que foi descoberta por um jornalista - quantes outres, negres, pobres não têm essa oportunidade e têm o seu talento desperdiçado? Em uma redação que aborda esses tipos de desigualdade, Carolina Maria de Jesus é um estandarte que demonstra como a meritocracia, pura e simplesmente, falha - e, assim, é necessária ajuda a essas classes marginalizadas, de modo que todos possam ter uma igualdade de oportunidades. Além disso, sob circunstâncias parecidas, a frase que origina o título do livro pode ser usada de modo a impor impacto e poética à sua redação. Walter Benjamin Indústria cultural – Walter Benjamin é um sociólogo do mesmo tempo de Adorno e Horkheimer, e ele concorda com a existência de uma indústria cultural. No entanto, ele discorda das consequências apontadas por Adorno: ele afirma que, na verdade, a cultura de massa é benéfica. Isso porque, antes dela, a produção cultural: apenas uma parcela muito pequena da população apreciava, por exemplo, peças teatrais, quadros ou esculturas. A indústria cultural, sem dúvidas, é de qualidade menor. Porém, é melhor que a população tenha acesso a cultura que estimula pouco a reflexão do que não ter acesso a cultura nenhuma. Assim, a indústria cultural é a única possibilidade de utilizar a produção cultural para a transformação social. 11 Onde encaixar? Tal como falei em Adorno, questões acerca da indústria cultural podem ser citadas em qualquer redação que envolva a democratização da cultura. Anjo da história - o Anjo da história (ou Angelus Novus) é uma figura criada pelo filósofo Walter Benjamin para descrever a função dos historiadores. A ideia de “progresso” que é tão defendida pela política é uma ideia que, muitas vezes, é alcançada à custa de muitas vidas, muitos prejuízos que são ignorados, e ficam esquecidos no tempo. A função do historiador é resistir ao fluxo do progresso, e parar no passado. Parar para analisar esses corpos e ruínas que ficaram no passado; remontar as ruínas, reavivar os corpos para entender as histórias que eles deixam atrás. Apenas assim, pode-se entender onde erramos no passado, a fim de consertar os erros e evoluir de forma racional: não guiados pelo instinto inevitável de progresso, mas pela humanidade. Assim, evitamos cometer os mesmos erros. Onde encaixar? Qualquer redação que envolve análise histórica pode ser enriquecida com a citação do Anjo da História. Após a análise, antes das conclusões, podemos falar que “levando em conta o passado, deve-se agir como o Anjo da História de Walter Benjamin: reconstruindo o passado e resistindo ao progresso cego, buscaremos não incidir nos mesmos erros e manter a humanidade daqueles vulneráveis no presente”. Por exemplo, a noção de progresso hoje pode nos impulsionar a buscar terras para melhorar a agricultura e, consequentemente, a economia: mas fazendo uma análise histórica, podemos ver que essa busca já dizimou muitos índios, e, se não conciliada com a humanidade deles, pode trazer ainda mais desumanidades. Destaco, ainda, que é uma citação que se amolda perfeitamente ao tema de redação da Fuvest 2019 (“A importância do passado para a compreensão do presente”). Jean-Jacques Rousseau Vontade geral - A vontade geral (ou soberania popular) é uma ideia de Rousseau para explicar a democracia. Para ele, um regime verdadeiramente democrático deve existir para o benefício dos seus cidadãos, permitindo que eles decidissem acerca dos rumos do Estado por meio da expressão da vontade geral. A vontade geral não é medida pela maioria, mas é formada por meio de um consenso geral entre os membros de uma democracia. Por mais que a ideia de um consenso entre todas as pessoas, na atualidade, seja utópica, é possível analisarmos o quanto um Estado é democrático de acordo com o quanto a vontade geral é atendida. Onde encaixar? Quando falamos da situação política atual, com um presidente com menos de 30% de aprovação da população, podemos falar que a vontade geral está claramente sendo desrespeitada. Assim, é possível questionar até onde estamos vivendo uma democracia verdadeira, que desrespeita abertamente o princípio da soberania popular. Ainda, quando usamos uma proposta de intervenção defendendo determinada ação do governo para o bem 12 geral, podemos falar que essa intervenção está guiada pela noção de vontade geral de Jean- Jacques Rousseau, que é necessária em uma democracia. Soren Kierkegaard Ansiedade – O filósofo dinamarquês teorizou sobre a natureza da ansiedade. Ele afirmaque a ansiedade e o medo são, de certo modo, parecidas; o medo é a resposta a uma ameaça que é conhecida por nós. Diante dessa ameaça, o organismo se prepara para atacar o que nos amedronta ou fugir disso. A ansiedade, porém, também envolve uma ameaça – mas nós não sabemos de onde vem o perigo, e, por isso, ficamos paralisados, sem saber como é possível lutar contra ela. Kierkegaard sugere que o que nos causa a ansiedade, na verdade, é a nossa liberdade. Ele afirma que a ansiedade seria “a vertigem da liberdade”; explica-se. Como, na contemporaneidade, nós temos inúmeras possibilidades diante de nós, e cada escolha corresponde a um caminho possível com consequências diferentes e desconhecidas, isso nos gera uma angústia, uma insegurança imensa e patente – que é a ansiedade. Onde encaixar? Temas de redação que envolvem a saúde psicológica são o ambiente natural de Kierkegaard. No entanto, a Fuvest, que cobra temas menos sociais e mais filosóficos, também pode aceitar uso de citações do tipo, a depender do tema. Immanuel Kant O que é o Esclarecimento? Immanuel Kant foi um teórico iluminista, e, dentre os seus textos, existiu o excerto “O que é o Esclarecimento?”. Esse texto afirmou que o Esclarecimento/Iluminismo nada mais era do que uma corrente teórica que buscava a emancipação das pessoas; ou seja, buscava que as pessoas parassem de se pautar em visões de mundo míticas e metafísicas, geralmente impostas pelo Monarca ou pela Igreja, e passassem a buscar a Verdade – esta, que somente poderia ser alcançada por meio de um pensamento racional. Quando as pessoas buscassem, por si, a verdade, elas entrariam na chamada “maioridade intelectual”. Onde encaixar? Para começo de conversa, o tema de redação da Fuvest 2017 inteiro se pautou em perguntar se o homem havia alcançado a maioridade. Ainda, essa ideia pode ser usada em um texto que proponha um debate sobre a ciência, ou sobre a alienação como um todo. Imperativo categórico - O imperativo categórico é uma forma de agir pensada por Immanuel Kant, que estabelecia algumas regras para que a ação humana fosse verdadeiramente boa. As duas principais são: 13 - Princípio do fim em si mesmo (ou princípio da dignidade humana): Cada homem deve ser tratado como um fim em si mesmo. Assim, não se pode usar um homem como meio para atingir determinado fim: por exemplo, enganar uma pessoa, bem como qualquer outra atitude que diminua a humanidade da outra pessoa é intrinsecamente má. - Princípio da Lei Universal: A nossa ação deve ser universalizável. Se nós agimos de uma forma, para descobrir se essa ação é boa, devemos nos perguntar: “se todas as pessoas do mundo tomassem essa atitude, ninguém seria prejudicado?”. Se a resposta for “não, ninguém seria prejudicado”, então essa ação é verdadeiramente boa. Por exemplo: se eu passar no sinal vermelho agora, eu não prejudicarei ninguém; mas se todos passarem no sinal vermelho, certamente alguém será prejudicado. Assim, a ação correta a ser tomada é nunca passar no sinal vermelho. Onde encaixar? O primeiro enunciado do imperativo categórico pode ser aplicado em várias redações, uma vez que podemos concluir que ninguém deve se aproveitar de ninguém, em uma sociedade perfeitamente ética. Assim, sempre que um tema envolver uma pessoa subjugando outra, se aproveitando de outra, oprimindo outra de qualquer forma, podemos afirmar que estamos diante de uma violação ao princípio do fim em si mesmo, do imperativo categórico. Acerca do princípio da Lei Universal: difícil de identificar em abstrato a qual tema ele pode pertencer, uma vez que ele é aplicado em ações concretas. Mas, sempre que falamos de temas relacionados à ética e à moralidade, à definição de uma conduta correta - como a corrupção - podemos utilizá-lo. Achille Mbembe Necropolítica – Essa ideia criada pelo filósofo camaronês se baseia na premissa em que o Estado pode decidir quem vai viver e quem vai morrer. A necropolítica acontece, por exemplo, quando o Estado define qual região determinada política pública – o que acaba determinando quem tem mais chances que morrer. Onde encaixar? Essa ideia, associada ao racismo estrutural, pode explicar muito do Brasil; por exemplo, quando falamos da política de combate às drogas, em que o governador Wilson Witzel afirma que vai “atirar na cabecinha” das pessoas. Acontece, também, no caso da crise da água do Rio de Janeiro, evento do início de 2020 em que a água começou a sair suja das torneiras; existe uma classe específica de pessoas que faz mais uso de água da torneira, e é ela que o governo negligencia e deixa exposta à morte. Pierre Bourdieu 14 Poder simbólico - Conceito bastante refinado do sociólogo francês Pierre Bourdieu, o poder simbólico é aquele que se exerce sem a força. Ele é exercido silenciosamente, por meio de costumes, linguagens, imposição de comportamentos, e atua principalmente na esfera de manter o oprimido na condição de oprimido. Por exemplo, a religião exerce poder simbólico sobre os seus fiéis: ele não é exercido pela força, mas por meio de estruturas simbólicas que mantêm os fiéis comportados. No entanto, o principal exemplo desse poder simbólico é aquele que é exercido sobre as mulheres em uma sociedade machista. Situações que moldam a mulher como feminina e passiva existem aos montes e ajudam a manter as mulheres como submissas. Onde encaixar? Em redações de desigualdade de sexos, principalmente. Mas seria muito interessante uma redação que explica a leniência do brasileiro perante os desmandos do poder central de acordo com uma visão de poder simbólico: estruturas propagadas pela mídia em acordo com a burguesia e o Estado desestimulam a ação do povo brasileiro, e o mantém oprimido, sem reação - mesmo sem o uso da força física do exército. Steve Tesich Pós-verdade – é um conceito amplamente utilizado no cotidiano, mas foi criado, primeiramente, pelo escritor e roteirista sérvio-americano. A ideia de pós-verdade está relacionada a uma preponderância de visões individuais à objetividade dos fatos: basicamente, as pessoas valorizam mais as próprias convicções, as próprias emoções. Por isso mesmo, as pessoas estão tão suscetíveis às fake news: basta que essas notícias correspondam às convicções individuais do leitor, que ele passa a acreditar cegamente. E, em um mundo informatizado, isso torna-se ainda mais nocivo, podendo modificar, em massa, o comportamento do internauta. Onde encaixar? Uma redação que fala sobre notícias falsas é o habitat natural dessa referência. No entanto, também podemos mencioná-la quando falamos da polarização e radicalismo das posições políticas: afinal, quando as notícias apelam para o absurdo (por exemplo, “homossexual introduz crucifixo no ânus”), as pessoas tratam a repugnar ainda mais o “outro lado” (no caso do exemplo, o grupo rotulado como “esquerda” política). Milton Santos Meio técnico-científico-informacional - o “adensamento do meio técnico-científico- informacional” é formulação típica do geógrafo Milton Santos. O significado dessa expressão é o que nós, popularmente, chamamos de “globalização”: o emprego de tecnologias em lugares nunca antes explorados por ela e a entrada da tecnologia do nosso cotidiano, por exemplo, são expressões desse fenômeno. Ele traz uma peculiaridade: a desigualdade, a partir dessa ideia, 15 pode ser expressa de acordo com a concentração de tecnologia em um ambiente. Quanto mais rico um lugar é, mais conectado ao restante do mundo ele é. Onde encaixar? Qualquer tema concernente à globalização e à popularização do uso de tecnologias pode aceitar uma citação acerca do adensamento do meio técnico-científico- informacional. Voltaire Tolerância - Voltaire escreveu um livro chamado “Tratado Sobre a Tolerância”. Esse livro pode ser muito inspirador quando analisamos a nossa relação com pessoasde outras culturas, uma vez que tendemos a avaliar o comportamento alheio de acordo com a nossa bagagem cultural. Ele analisa a intolerância religiosa, mas as suas conclusões podem ser estendidas para diversos tipos de intolerância: a intolerância é mais condenável do que qualquer prática religiosa. Por isso, ele vê a tolerância como elemento de coesão necessário para que a sociedade se sustente. E, assim, a tolerância deve ser um projeto universal, exercido com todas as pessoas. Onde encaixar? Qualquer proposta relacionada a qualquer tipo de intolerância aceita uma citação de Voltaire; no tema do ENEM de 2016, portanto, "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”, a citação caiu como uma luva. Thomas Hobbes Estado de natureza - Para o pensador inglês Thomas Hobbes, todo homem é naturalmente mau e egoísta. Faz parte da natureza humana esse caráter, que, sem um Estado forte, fica à mostra - o que ocasiona um estado de guerra perpétua, o chamado Estado de natureza. Cabe a cada homem ceder um tanto de sua liberdade para que o Estado controle a todos (por meio de um contrato social) - com o monopólio do uso da força, ele pode controlar as manifestações humanas, suprimindo essa guerra. Onde encaixar? Originalmente, Hobbes utilizou a ideia de Estado de natureza para defender monarquias absolutistas - que são a forma máxima de controle estatal. Atualmente, no entanto, é um cenário ultrapassado; ainda assim, citações de Hobbes podem ser feitas para incentivar que o Estado tenha um controle mais forte de uma área, ou estabeleça leis mais rígidas. “Assim como Hobbes teorizou, o Estado deve controlar manifestações associais do homem, garantindo que a sociedade conviva pacificamente”. Tales de Mileto 16 Surgimento da Filosofia – Tales de Mileto é conhecido como o mais antigo filósofo. Ele tinha suas crenças; porém, morava em uma cidade portuária, e, assim, conviveu com pessoas com diferentes crenças, costumes e culturas. Isso o levou a refletir, a procurar qual seria o conceito fundamental que uniria, na sua essência, todos os homens. Onde encaixar? Especialmente, é possível fazer paralelos com situações de intolerância e xenofobia. Se as pessoas, atualmente, quando encaram o estranho, se sentem acuadas e agem de forma irracional, o correto seria o diametral oposto: é necessário adotar uma postura de reflexão, para entender os elementos em comum entre os povos, e não os elementos de separação. Gilberto Freyre Democracia racial – O sociólogo brasileiro Gilberto Freyre analisou as relações coloniais entre portugueses, africanos e indígenas, especialmente sobre a óptica do dia a dia nos engenhos. Analisou tal realidade em sua obra “Casa-Grande e Senzala”, e chegou a uma conclusão: a escravidão, no Brasil, não teria sido tão forte, violenta e desumana quanto foi em outros países, como na América Espanhola. Dessa forma, o sociólogo chega à conclusão de que o Brasil seria uma “democracia racial”: todas as pessoas teriam traços europeus, africanos e indígenas na sua cultura, de modo que, no Brasil, não há de se falar de racismo tão fortemente quanto em outros países. Por exemplo, nunca tivemos leis explícitas de segregação racial, como houve nos Estados Unidos. Contudo, destaca-se: contemporaneamente, essa teoria é fortemente rejeitada no meio sociológico, tendo em mente que diversos índices sociais indicam que a população negra e parda sofre forte marginalização. Dessa forma, a teoria criada por Gilberto Freyre pode ser vista como uma forma de mascarar os problemas raciais. Onde encaixar? Qualquer redação que aborde temas de diferenças étnicas aceitam referências críticas à Gilberto Freyre. Isso, porque teorias como aquela criada por ele ajudam a mascarar o problema do racismo, e manter a desigualdade étnica. “Afinal, por que seriam instaurados programas contra o racismo se o Brasil é uma democracia racial?” Michel Foucault Controle social - O controle social, que não é um conceito de Foucault, é entendido como “o conjunto de mecanismos de intervenção que cada sociedade ou grupo social possui e que são usados como forma de garantir a previsibilidade do comportamento dos indivíduos”. Foucault, no entanto, estuda fortemente os mecanismos de social na modernidade em sua obra “Vigiar e Punir”. 17 Se, antigamente, os reis absolutistas exerciam o controle social de forma expressa (com tortura e execuções sumárias, por exemplo), o regime democrático não coaduna com essas formas - mas, ainda assim, a necessidade de controlar as ações em sociedade não diminuiu. Une-se, a isso, o desenvolvimento do capitalismo industrial, que preza pela produtividade a níveis extremos: surge a necessidade de que o Estado controle os corpos a todo o tempo, para garantir que eles sejam produtivos - e, para isso, o Estado precisa vigiar as pessoas. Assim, desde os presídios, até as escolas, indústrias e Forças Armadas, a vigilância é uma tendência crescente em nossa sociedade - e as formas de correção para os corpos que não são dóceis a esse exercício de poder são inúmeras: hospitais (psiquiátricos ou não), penitenciárias, igreja, etc. Resumidamente: a sociedade moderna tenta, cada vez mais, controlar nossos corpos - e o faz por formas bem menos óbvias do que ocorria em Estados absolutistas. Onde encaixar? Pode-se fazer um paralelo com certas manifestações culturais reprimidas - o funk, as pichações - e a ideia de controle social para Foucault. Afinal, a vigilância e a correção são duas dinâmicas constantes quando falamos dessas manifestações culturais, marginalizadas pela sociedade. Além disso, quaisquer redações que envolvam discussões sobre a nossa privacidade, ou sobre algum meio de controle aceitam o recurso a Foucault. Sigmund Freud Desestímulo pela conscientização - Freud afirmava que a nossa mente tinha alguns processos que não passavam pelo nosso controle. São mecanismos inconscientes, que nós simplesmente repetimos sem pensar profundamente acerca deles. Muitos desses mecanismos são impossíveis de controlar sem que nós fiquemos conscientes acerca deles. Por exemplo, analisemos o nosso uso do celular: muitas vezes, nós ficamos dependentes do celular sem nem perceber: checamos mensagens, olhamos o Facebook quase compulsivamente. Somente quando ficamos conscientes da existência desse vício que podemos desenvolver mecanismos de resistência a essa compulsão. Sem pensar acerca disso, nós simplesmente repetimos os padrões que já fazemos. Onde encaixar? Em qualquer intervenção envolvendo a conscientização, é possível citar o desestímulo pela conscientização. Afinal, se é proposto que a pessoa fique consciente dos seus comportamentos, a função dessa conscientização é desenvolver mecanismos de resistência ao comportamento conscientizado. Além disso, podemos citar a questão da conscientização em uma redação que esteja relacionada à falta de reflexão. Por exemplo, em uma redação sobre as notícias falsas espalhadas em meio virtual: as pessoas espalham essas notícias sem nem pensar acerca da sua falsidade. É algo que vem da falta de reflexão, um comportamento automático que poderia ser controlado com a conscientização - segundo a psicologia freudiana. Da mesma forma, uma redação que envolva preconceitos: muitas vezes, as pessoas replicam comportamentos preconceituosos sem nem perceber, porque elas não são conscientes disso. 18 Guy Debord Sociedade do espetáculo – O sociólogo francês afirma que, na contemporaneidade, nós estamos vivendo uma etapa do desenvolvimento social que valoriza fortemente a imagem. Por meio da disseminação dos meios de comunicação de massa, as pessoas passam a dar mais destaque para as imagens, as aparências, do que à verdadeira realidade. Essas imagens transmitidas, especialmente quando falamos de propaganda, contém traços de surrealismo, tendo em mente que buscam transmitiruma alegria, aventura, ousadia que não existe na vida real. Além disso, esse quadro de superexposição e valorização da imagem tem uma outra consequência: a perda de privacidade. Afinal, não é apenas a mídia que constrói o espetáculo: as próprias pessoas também colaboram para com esse cenário, principalmente por meio das redes sociais. Onde encaixar? Em primeiro lugar, eu creio que a espetacularização da sociedade é um tema que pode ser cobrado na Fuvest, porque tem o perfil do vestibular. Mas, além disso, quando falamos de jornais que tratam a realidade como se fosse um melodrama (por exemplo, o Brasil Urgente, apresentado pelo Datena, que faz com que a realidade brasileira pareça o faroeste), isso também ocorre por causa da espetacularização. Além disso, quando falamos de saúde psicológica, também podemos mencionar a espetacularização; com muitas pessoas exibindo a própria vida, nas redes sociais, como se fosse um paraíso, sem dúvidas isso colabora para que outras pessoas se sintam inferiores. Ainda, a decisão do Instagram de não permitir que outras pessoas vejam as curtidas das fotos pode ser vista como relacionada a esse fenômeno. Maquiavel Razão de Estado - A famosa expressão “os fins justificam os meios” vem de Nicolau Maquiavel. Para ele, o chefe de Estado estava autorizado a tomar qualquer atitude para manter o poder e manter o país estável. Essa possibilidade ocorre por causa da Razão de Estado: tudo tem a sua razão se beneficiar o Estado. E, para beneficiar o Estado, valem quaisquer meios. Devemos lembrar que essa visão hoje deve ser totalmente repudiada, uma vez que pode justificar um número imenso de crueldades, justificando-a com a razão de Estado. Como já levantado por filósofos como Kant, Walter Benjamin e Adorno, a humanidade deve estar sempre em primeiro lugar. Onde encaixar? A expressão “maquiavélico” tem um sentido específico nesse contexto: uma atitude maquiavélica é aquela que ignora os outros e se vale de quaisquer condutas para atingir determinado fim. Podemos dizer que a devastação da natureza e a dizimação dos índios é 19 bastante maquiavélica, pois toma ações de moral duvidosa para chegar a um objetivo superior - no entanto, como a humanidade deve estar em primeiro lugar, tais atitudes devem ser repudiadas. Sócrates Ignorância e maiêutica - Para Sócrates, todos os erros eram derivados da ignorância. Além disso, para ele, a busca pelo conhecimento era feita por meio da maiêutica, técnica constituída por perguntas que buscam desfazer antigas ideias e preconceitos, tentando construir conjuntamente um conhecimento novo e verdadeiro, que exclua os erros típicos da ignorância. Onde encaixar? Podemos encaixar a ideia de que todos os erros são derivados da ignorância em quaisquer temas relacionados à falta de reflexão, a preconceitos e afins. Hannah Arendt Banalidade do Mal - A Banalidade do Mal é uma ideia formulada por Hannah Arendt em seu livro “Eichmann em Jerusalém”. Eichmann era um burocrata do regime nazista, que tinha função crucial na construção das ferrovias que levavam os judeus aos campos de concentração. Ao ser capturado e julgado, no fim da Segunda Guerra Mundial, em Jerusalém, ele afirmou que não matava judeus; ele construía máquinas. Desconectado completamente dos resultados de suas ações, Eichmann não reconhecia o mal que causava aos judeus: não reconhecia o seu papel no Holocausto. Esse traço de personalidade relacionado a falta de reflexão, que motiva as pessoas a agirem de forma má sem ao menos entenderem os resultados de sua conduta, Hannah Arendt chama de Banalidade do Mal. Onde encaixar? É possível mencionar a banalidade do mal em intervenções que, de alguma forma, incentivem a conscientização ou a reflexão - afinal, a banalidade do mal é um exemplo de como a falta de reflexão pode ser nociva. Além disso, em um tema relacionado às tecnologias atuais, é possível mencionar como as redes sociais, a televisão e outras tecnologias e mídias contribuem, cada vez mais, para a falta de reflexão, o que torna a população facilmente manipulável - afinal, a população deixa, lentamente, de desenvolver senso crítico que ajude a entender os efeitos futuros de suas ações e posições políticas. Chimamanda Adichie Sejamos Todos Feministas - Chimamanda, escritora nigeriana, escreveu um livro com relevo mundial intitulado “Sejamos Todos Feministas” (We Should All Be Feminists). Ela ensina como as regras sociais nos limitam, definindo nossas formas de viver, nossos sonhos e mesmo nossos 20 objetivos de vida - tudo, de acordo com o nosso gênero. As mulheres são ensinadas a se encolherem, de modo a não ameaçarem o espaço ocupado tipicamente por homens na esfera pública - e, para Chimamanda, esse arranjo machista não funciona, atualmente, nem mesmo para os homens. Ela afirma que “seríamos bem mais felizes, mais livres para sermos quem realmente somos, se não tivéssemos o peso das expectativas de gênero”. O feminismo, assim, é necessário para libertar homens e mulheres. Onde encaixar? Embora o tema sobre a possibilidade de um homem ser feminista ainda ser bastante controvertido, ele definitivamente não passa perto da temática central do feminismo. Assim, as ideias de Chimamanda encaixariam melhor para contextualizar o tema, em uma introdução - ou como uma frase de finalização, na conclusão - do que em um argumento, propriamente. Citar a autora nesses contextos adicionaria uma boa dose de refinamento à sua redação. René Descartes Dúvida hiperbólica - Descartes era um filósofo racionalista, o qual acreditava que estamos em um mundo cercado de mentiras e falsas impressões, nas quais acreditamos sem ter muito fundamento - por exemplo, as tradições. Acreditamos nelas porque elas são passadas de geração em geração, ganhando uma aura de verdade absoluta - no entanto, não necessariamente elas são verdade. A única forma de derrubarmos esse conhecimento falso é duvidando dele. Duvidando de tudo. Após a dúvida, aqueles fatos que não podem ser provados são mentira - e a única coisa que resiste à dúvida é a efetiva verdade. Deveríamos, assim, duvidar de tudo que se apresenta diante de nossos sentidos, falhos. Onde encaixar? Podemos utilizar a dúvida hiperbólica quando estivermos expondo a manipulação à qual somos submetidos diariamente em sociedade - por exemplo, se estivermos falando da mídia. Poder-se-ia falar que devemos duvidar de tudo que nos é apresentado, assim como nos propôs Descartes. Aristóteles Meio-termo – Aristóteles é um filósofo da Grécia Antiga que se debruçou sobre várias questões; dentre elas, a pergunta “como agir bem”. Após reflexões, ele concluiu que o melhor caminho sempre era o meio termo; por exemplo, uma pessoa não deveria ser covarde, mas também não deveria ser irresponsavelmente brava: ela deveria ser corajosa. Onde encaixar? Basicamente, você pode encaixar Aristóteles sempre que você pretenda optar por um caminho mediano entre dois extremos. Contudo, cuidado quando citá-lo: é uma citação bastante “batida”, não original. 21 Claude Lévi-Strauss Estruturalismo: para esse antropólogo francês, existem duas ideias complementares: a Natureza (antes da intervenção humana) e a Cultura (a porção do mundo organizada pelo humano). Uma sociedade normalmente substitui a Natureza pela Cultura gradativamente, e, quanto mais isso acontece, mais complexa uma sociedade é – e isso ocorre em todas as sociedades. A Cultura, dessa forma, trata-se de uma produção sobre a Natureza, e não uma negação dela. Dessa forma, as diferenças entre as sociedades não se devem ao fato de uma ser “mais civilizada” e outra ser “mais primitiva”; a única diferença é, na verdade, a forma que a Cultura se organiza – a sua estrutura. Daí vem o termo “estruturalismo”. Essa concepção foi revolucionária, porque rompeu, para sempre, a tradicional dicotomia entrenatureza e cultura. Onde encaixar? A ideia de Lévi-Strauss demonstra, em última instância, que todas as sociedades são compostas do mesmo elemento, e a única diferença é a sua organização. Por isso, sempre que falamos de conflitos entre diferentes sociedades (no tocante à xenofobia, ou, mesmo, à intolerância religiosa – como foi o tema de 2016 do ENEM), é possível encaixar alguma ideia de Lévi-Strauss. John Locke Tábula rasa – Para Locke, as pessoas nascem sem saber nada, como uma folha de papel em branco (ou uma “tábula rasa”). Com o tempo, as pessoas absorvem o que está ao seu redor e aprendem. Dessa forma, tudo que sabemos foi aprendido por nós em algum momento. Onde encaixar? Quando falamos de preconceito, é possível relacionar à ideia de tábula rasa. Associando à ideia de Locke, nós podemos ver que o preconceito não é inato a nós, mas aprendido, passado de geração por geração. Byung-Chul Han Sociedade do cansaço – Para o sociólogo contemporâneo sul-coreano, cada sociedade tem as suas patologias próprias. Por exemplo, no século XX, tivemos diversas doenças bacteriológicas e virais. No século XXI, porém, a nossa patologia própria são as doenças psicológicas – e, para o sociólogo, todas surgem a partir do excesso de positividade. Na sociedade contemporânea, temos, ao nosso redor, diversos estímulos positivos. Por exemplo, a campanha presidencial de Obama em 2008: “Yes, we can”. Por exemplo, o slogan da Nike: “Just do it”. A ascensão dos coaches também se aplica nesse caso - entre diversas outras formas de 22 estímulo. Essas ideias fazem com que as pessoas sejam pressionadas por serem sempre produtivas, autênticas, e acabam se autoexplorando ao máximo; por isso, a procrastinação nos traz tanta culpa. A sociedade nos faz crer que nós não temos direito ao ócio: precisamos, a todo momento, trabalhar. O multitasking, por exemplo, que é a ideia de fazer várias tarefas ao mesmo tempo, ganha espaço. Tendo esse cenário em mente, o excesso de desempenho e produtividade gera um cansaço; esse cansaço é, ao mesmo tempo, coletivo (se manifesta em toda a sociedade) e individual (se manifesta isoladamente em cada indivíduo). Com isso, os indivíduos perdem produtividade (síndrome de Burnout), o que acaba gerando mais problemas psicológicos ainda. Onde encaixar? A sociedade do cansaço é uma mina de problemas psicológicos. Qualquer redação que verse sobre o aspecto aceita uma citação de Byung-Chul Han. 23 Frases Específicas Preconceito ● “Estamos habituados a transformar diferenças em desigualdades.” – Marilena Chauí, filósofa e escritora brasileira. ● “É mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito.” – Albert Einstein, físico teórico alemão. ● “Crer em preconceitos é cômodo porque nos protege de conflitos, porque confirma nossas ações anteriores.” – Agnes Heller, filósofa húngara, em “O Cotidiano e a História” (2004). ● “Todo homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo.” – Arthur Schopenhauer, filósofo alemão. ● “O desenvolvimento humano só existirá se a sociedade civil afirmar cinco pontos fundamentais: igualdade, diversidade, participação, solidariedade e liberdade.” – Betinho (Herbert José de Sousa), sociólogo e ativista brasileiro. ● “Todo preconceito é fruto da ignorância, e qualquer atividade cultural contra preconceitos é válida.” - Paulo Autran, escritor brasileiro. ● “De tudo que existe, nada é tão estranho como as relações humanas, com suas mudanças, na sua extraordinária irracionalidade” – Virginia Woolf, escritora britânica. Racismo ● “O Brasil, último país a acabar com a escravidão tem um perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso.” – Darcy Ribeiro, antropólogo, escritor e político brasileiro. ● “Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor de sua pele.” - Martin Luther King Jr., ativista político estadunidense. ● “A democracia só será uma realidade se houver, de fato, igualdade racial no Brasil e o negro não sofrer nenhuma espécie de discriminação, de preconceito, de estigma e segregação, seja em termos de classe, seja em temos de raça. Por isso, a luta de classes, para o negro, deve caminhar juntamente com a luta racial propriamente dita.” – Florestan Fernandes, sociólogo e político brasileiro, em “Significado do Protesto Negro” (1989). ● “Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra.” Bob Marley, cantor, guitarrista e compositor jamaicano. ● “Ninguém nasce a odiar outra pessoa devido à cor da sua pele, ao seu passado ou religião. As pessoas aprendem a odiar, e, se o podem fazer, também podem ser ensinadas 24 a amar, porque o amor é mais natural no coração humano do que o seu oposto.” – Nelson Mandela, advogado, líder rebelde e ex-presidente da África do Sul. Tecnologia/contemporaneidade ● “A humanidade está adquirindo toda a tecnologia certa por toda as razões erradas” – Richard Buckminster Fuller, escritor e inventor estadounidense. ● “O espírito humano precisa prevalecer sobre a tecnologia” - Albert Einstein, físico teórico alemão. ● “Esse é o principal ponto da tecnologia. Por um lado, ela cria um apetite por imortalidade e, por outro, ameaça extinção universal” - Don DeLillo, escritor estadounidense. ● “Nós criamos uma civilização global em que os elementos mais cruciais dependem profundamente da ciência e da tecnologia. Também criamos uma ordem em que quase ninguém compreende a ciência e a tecnologia. É uma receita para o desastre” – Carl Sagan, astrônomo estadounidense. ● “Vivemos em um mundo em que pessoas usam a ciência para negar a ciência” – Alicia Kowaltowski, professora de biologia da Universidade de São Paulo. ● "O homem cria as ferramentas, e as ferramentas recriam o homem." – Marshall McLuhan, filósofo canadense. ● "A única coisa que podemos ter certeza, é a incerteza." – Zygmunt Bauman, sociólogo polonês. ● “As redes sociais são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha.” Zygmunt Bauman, sociólogo polonês. ● “Tornamo-nos deuses na tecnologia, mas permanecemos macacos na vida” – Arnold Toynbee, historiador britânico. Educação ● “A educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo.” – Nelson Mandela, advogado, líder rebelde e ex-presidente da África do Sul. ● “O ser humano é aquilo que a educação faz dele.” – Immanuel Kant, filósofo prussiano. ● “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” – Paulo Freire, educador, pedagogo e filósofo brasileiro, em “Pedagogia do Oprimido” (1970). ● “Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.” – Paulo Freire. ● “Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes.” – Paulo Freire. 25 ● “O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram.” – Jean Piaget, biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, em “O Juízo Moral na Criança” (1994). ● “O resultado mais sublime da educação é a tolerância.” – Helen Keller, escritora, conferencista e ativista social estadunidense. ● “Quem abre uma escola fecha uma prisão.” – Victor Hugo, escritor, estadista e ativista pelos direitos humanos francês. ● “Quanto aos homens, não é o que eles são que me interessa, mas o que eles podem se tornar.” – Jean-Paul Sartre, filósofo, escritor e crítico francês. ● “Sem um fim social, o saber será a maior das futilidades.” - Gilberto Freyre, sociólogo e escritor brasileiro. ● “A vida deve ser uma constante educação.” - Gustave Flaubert, escritor francês. ● “A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida.” - Sêneca, escritor e filósofo estoico romano. ● “O conhecimento imposto à forçanão pode permanecer na alma por muito tempo.” - Platão, filósofo grego. ● “A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor.” – Padre Antônio Vieira, escritor e religioso luso-brasileiro. ● “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto” – Darcy Ribeiro, antropólogo brasileiro. ● "A forma hoje como nós produzimos conhecimento produz também ignorância." – Edgar Morin, sociólogo francês. Política e Direitos Humanos ● “A democracia não é apenas a lei da maioria, é a lei da maioria respeitando o direito das minorias.” – Clement Attlee, ex-primeiro-ministro do Reino Unido. ● “O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e existe somente enquanto o grupo se conserva unido.” – Hannah Arendt, filósofa política alemã. ● “Os direitos humanos são violados não só pelo terrorismo, a repressão, os assassinatos, mas também pela existência de extrema pobreza e estruturas econômicas injustas, que originam as grandes desigualdades.” – Papa Francisco. ● “O que me preocupa não é o grito dos maus, é o silêncio dos bons.” – Martin Luther King Jr., ativista político estadunidense. ● “O meu ideal político é a democracia, para que todo o homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado.” - Albert Einstein, físico teórico alemão. ● “A liberdade é para o homem o que o céu é para um condor.” - Castro Alves, escritor brasileiro. 26 ● “Nós somos responsáveis pelo outro, (...) pela simples razão de que, em nosso mundo globalizado, tudo o que fazemos (ou deixamos de fazer) tem impacto na vida de todo mundo e tudo o que as pessoas fazem (ou se privam de fazer) acaba afetando nossas vidas” – Zygmunt Bauman, sociólogo polonês. ● “O homem nasce livre e por toda parte se encontra acorrentado” – Jean-Jacques Rousseau, filósofo político suíço. ● "A vontade geral deve emanar de todos para ser aplicada a todos" – Jean-Jacques Rousseau, filósofo político suíço. ● “A liberdade é para o homem o que o céu é para um condor” – Castro Alves, escritor e poeta brasileiro. ● “A sociedade não suprime a barbárie, aperfeiçoa-a” – Voltaire, pensador iluminista do século XVIII. Violência e guerra ● “A violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida, a liberdade do ser humano.” - Papa João Paulo II. ● “Eu sou contra a violência porque parece fazer bem, mas o bem é temporário; o mal que faz é que é permanente.” - Mahatma Gandhi, intelectual e revolucionário pacifista indiano. ● “A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos.” - Albert Einstein, físico teórico alemão. ● “Não há nenhum exemplo, nas nossas nações modernas, de uma guerra que haja compensado com um pouco de bem o mal que fez.” – Voltaire, filósofo, escritor e cientista político francês iluminista. ● “A violência é sempre terrível, mesmo quando a causa é justa” – Friedrich Schiller, poeta alemão. ● “A violência não é força, mas fraqueza, nem nunca poderá ser criadora de coisa alguma, apenas destruidora.” - Benedetto Croce, historiador, escritor, filósofo e político italiano. ● “A violência, seja qual for a maneira pela qual ela se manifesta, é sempre uma derrota.” - Jean-Paul Sartre, filósofo, escritor e crítico francês. ● “O mal não está confinado às guerras ou às ideologias totalitárias. Hoje ele se revela com mais frequência quando deixamos de reagir ao sofrimento de outra pessoa, quando nos recusamos a compreender os outros, quando somos insensíveis e evitamos o olhar ético silencioso” – Zygmunt Bauman, sociólogo polonês. Desigualdade 27 ● “Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes” – Barão de Itararé, humorista brasileiro. ● “A prova do nosso progresso não é se aumentamos a abundância dos que têm muito, mas se providenciamos o suficiente para os que têm muito pouco” – Franklin Delano Roosevelt, ex-presidente dos Estados Unidos. ● “A injustiça secular dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos.” – Ariano Suassuna, escritor brasileiro. ● “O progresso roda constantemente sobre duas engrenagens. Faz andar uma coisa esmagando sempre alguém.” – Victor Hugo, escritor francês. ● “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.” – Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. ● "O consumidor não é soberano, como a indústria cultural queria fazer crer; não é o seu sujeito, mas o seu objeto." – Theodor Adorno, filósofo alemão. Meio Ambiente ● “Inteligência é a habilidade das espécies para viver em harmonia com o meio ambiente.” – Paul Atson, cofundador e diretor da fundação Greenpeace. ● “Em todas as coisas da natureza existe algo de maravilhoso” – Aristóteles, filósofo grego. ● “Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o amor.” – Pitágoras, filósofo e matemático grego. ● “Tornou-se aterradoramente claro que a nossa tecnologia ultrapassou a nossa humanidade.” – Albert Einstein, físico teórico alemão. Cultura ● “Um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda sim pela sua cultura.” – Betinho (Herbert José de Sousa), sociólogo e ativista brasileiro. ● “A cultura é uma necessidade imprescindível de toda uma vida, é uma dimensão constitutiva da existência humana, como as mãos são um atributo do homem.” – José Ortega y Gasset, filósofo, ensaísta, jornalista e ativista político espanhol. ● “A cultura é melhor conforto para a velhice.” – Aristóteles, filósofo grego. ● “A arte é uma forma de vida.” - Richard Wollheim, artista e filósofo britânico. ● “A cultura, sob todas as formas de arte, de amor e de pensamento, através dos séculos, capacitou o homem a ser menos escravizado.” - André Malraux, escritor, sociólogo e teórico político francês. 28 ● “Um povo que lê nunca será um povo escravo.” – Antônio Lobo Antunes, escritor e psiquiatra português. 29 Ganchos Argumentativos Desigualdade de Gênero: ➔ O desenvolvimento da pílula anticoncepcional, em 1956, facilitou a emancipação feminina e o empoderamento com o próprio corpo. ➔ Lei Maria da Penha, criada para combater a violência contra a mulher. ➔ Desde a literatura barroca, século XXII, a figura feminina foi edificada quanto a um instrumento de sedução; na poesia “À mesma Dona Ângela”, o autor Gregório de Matos se refere a elas “Sois anjo, que me tenta e não me guarda”, “se a beleza hei de ver para matar-me com o pecado, antes olhos cegueis”. ➔ No livro Lolita, por Vladimir Nabokov, é narrada a história de Humbert, um homem de meia idade que mantém um relacionamento sexual com uma garota de 12 anos. O personagem romantiza o abuso e induz a provocação por parte da vítima. Um tema acerca da cultura do estupro poderia ganhar muito com essa citação. ➔ Antigamente, muitas mulheres taxadas de “pervertidas” eram internadas em hospitais psiquiátricos, e as formas de tratamento eram extremamente machistas - afinal, o comportamento taxado de “perversão” era, muitas vezes, nada mais que uma revolta e recusa perante o machismo da sociedade. Atualmente, embora isso não se mantenha de forma tão aberta e explícita, ainda existe o que chamamos de gaslighting: é o nome que o movimento feminista dá a homens que tentam fazer mulheres duvidarem de sua própria sanidade (chamando elas de loucas, distorcendo informações, enfim: minando o seu psicológico com o tempo). Dessa forma, as suas opiniões restam desvalorizadas apenas por serem mulheres. Esse termo vem do filme Gaslight, de 1944, em que o protagonista faz exatamente isso. ➔ De acordo com pesquisa realizada pelo confederação global Oxfam e divulgada em 2019, a desigualdade salarial entre homens e mulheres
Compartilhar