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Resenha 25 anos de Educação pública no Brasil

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25 anos em ziguezague 
Em 1968 ocorreu a chamada reforma universitária que instituiu mudanças nas instituições 
públicas com o objetivo de as aproximarem das universidades estadunidenses em alguns 
aspectos. Havendo também, através de incentivos tributários, houve uma expansão 
significativa da educação superior privada. 
Durante a ditadura, a educação básica foi marcada pelo tecnicismo. Em torno de 1980 já 
era possível perceber a necessidade de modificar a organização da educação, recorrendo 
também ao financiamento da união. A oferta escolar também aumentou, expandindo o 
ensino fundamental, porém sob a lógica de estratificação da educação, criando “castas”. 
Ao fim do período ditatorial, os educadores dispunham de importantes entidades 
acadêmicas que, em 1986, constituíram o Fórum Nacional de Defesa da Escola Pública 
(FNDEP). Tinham como objetivo interferir na elaboração da nova Carta Magna do país. 
Ainda que ao longo do processo de elaboração da Carta Magna, os dominantes se 
reuniram em grupos de interesse como a educação, foi a mobilização social favoreceu a 
aprovação de uma carta que contemplava avanços para a educação. 
O Capítulo III da Constituição Federal de 88 dispõe sobre os avanços importantes para a 
educação pública. Art. 207, por exemplo, confere autonomia didático-científica, 
administrativa e financeira às universidades e as conceitua como instituições que 
“obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão”, 
marca um momento de imenso significado para a universidade brasileira. 
A destruição de diversos direitos sociais previstos na Constituição começou ainda na 
Nova República, sobretudo na construção das condições para a implementação das 
políticas neoliberais mais ortodoxas. (LEHER, 2010) 
Com a vitória de Collor em 89, a sucessão de desarticulações da classe trabalhadora e 
contrarreforma, as lutas da educação foram ainda mais prejudicas. Fernando Collor de 
Mello foi o primeiro governo a assumir plenamente a agenda neoliberal e tentou 
implementar a política do Banco Mundial para a universidade. Queria assim diferenciar 
as instituições de ensino superior e diversificar as suas fontes de financiamento. O que 
atrapalharia possibilidade da generalização da universidade pública e gratuita, assentada 
no princípio da indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão. 
Afim de favorecer o crescimento do setor empresarial, o seu governo removeu o controle 
público sobre as instituições privadas passaram a ser reguladas pelo mercado. O que levou 
a um crescimento exponencial de universidades privados, o que vemos até hoje. Enquanto 
as públicas deveriam ser reconfiguradas como “unidades de ensino” ou ““unidades de 
serviços educacionais e de adequação tecnológica”, chamadas de “centros de excelência”. 
Reduzindo ainda o orçamento das universidades. Foi apresentada então a PEC-56-B com 
o objetivo de remover pontos da constituição de 1988 como a gratuidade, autonomia 
constitucional, indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão e regime jurídico 
único. Essas medidas desencadearam grandes greves nas universidades federais. 
Com a eleição de Cardoso em 95 e com o objetivo de tornar pensáveis as orientações da 
política educacional de seu período é preciso levar em consideração as transformações do 
cenário de trabalho e as transformações do estado, que foram feitas sob as reformas 
neoliberais. Com a grande onda de desemprego de jovens, foi tratado o ajuste do sistema 
educacional e da força de trabalho que estava em situação precarizada. 
Então o projeto educacional de Cardoso foi alinhado com a agenda neoliberal, adequando 
o projeto para a nova estrutura produtiva do país que não exigia alta formação cultural ou 
cientifica dos indivíduos. Indagado sobre quais eram as prioridades educacionais, 
respondeu: expandir o ensino elementar e frear o crescimento das universidades públicas 
(ARCHARD e FLORES, 1997 apud LEHER, 2010) 
Embora as reformas possuíssem diversos níveis de institucionalização, todas primavam 
por obedecer a linhas gerais bem demarcadas. A exemplo temos, segundo Leher (2010): 
 “Empregabilidade”: a dita teoria do capital humano (TCH) fora ajustada ao 
contexto de elevado desemprego, especialmente de jovens. Na impossibilidade 
de associar a elevação do nível educacional ao aumento da renda do trabalhador, 
por meio de melhores salários, a chamada TCH foi redefinida a partir da noção 
de empregabilidade, um atributo que tornaria o indivíduo uma força de trabalho 
mais vendável no mercado. Mas não havia qualquer promessa de que a 
qualificação iria produzir melhor renda. ” 
Na mesma década, o Ministério da Educação (MEC) implementou medidas com o 
objetivo de melhorar o fluxo escolar em todos os níveis: nova periodização por meio de 
ciclos, reformas curriculares, aprovação automática, treinamento de professores, 
gratificações por desempenho etc. 
Caracterizando os professores como o problema da ineficiência do sistema, o MEC criou 
instrumentos para aprofundar a falta de autonomidavdocente e a expropriação do 
conhecimento destes através da Secretaria de Desenvolvimento, Inovação e Avaliação 
Educacional (Sediae) voltada para a gestão da qualidade (total) em educação, reforçando 
o poder regulatório do Estado. Também foram definidos novos parâmetros curriculares 
foram estabelecidos em 1997, aumentaram a fiscalização sobre o conteúdo veiculado 
pelas escolas, definindo ditas competências a serem adquiridas pelos indivíduos. Essa 
expropriação do conhecimento docente foi recomendação do Programa de Promoção da 
Reforma Educacional na América Latina e no Caribe. 
Houve uma mobilização para a substituição tecnológica que foi encaminhada por meio 
de medidas como o Programa TV Escola, o Programa Nacional de Informática na 
Educação e a criação do Fundo de Universalização dos Serviços em Telecomunicações, 
que destina recursos para conectar as escolas da rede pública à internet. O financiamento 
é parte do problema da gestão do sistema. Segundo Leher (2010), 
“Partindo do pressuposto de que os recursos aplicados na educação são 
suficientes, o MEC concluiu, entretanto, que os recursos eram mal 
administrados. O principal instrumento de gestão financeira do ensino 
fundamental foi o Fundef, 10 instituído pela EC no 14/1996 e pela Lei nº 
9424/1996. Este Fundo aprofundou a municipalização espúria, deixando 
desguarnecidas, em termos orçamentários, a educação infantil, a educação de 
jovens e adultos (EJA) e o ensino médio. Nesse sentido, esse fundo foi uma 
poderosa ferramenta de focalização da política educacional, no caso no ensino 
fundamental. “ 
Outra mudança importante foi o direito à educação (nível fundamental) ser reconhecido 
abstratamente e ampliado formalmente. Apesar de reconhecido, não houve o direito ao 
padrão unitário de qualidade. Assim, a equidade e a distinção social caminhavam juntas. 
Todas essas medidas formavam um amálgama que fragilizava os pilares da universidade 
pública estabelecidos pelo Art. 207 da Constituição. 
As entidades representativas constituíram o Congresso Nacional de Educação (Coned) 
como um projeto educacional alternativo. Nos dois primeiros eventos elaboraram e 
aprovaram o Plano Nacional de Educação: Proposta da Sociedade Brasileira. Ainda 
Segundo Leher (2010), nesses eventos foram produzidos levantamentos das 
consequências das políticas neoliberais para o ensino e os integrantes construíram um 
plano nacional de educação definido como sendo da “sociedade brasileira”. As mudanças 
na Cut contribuíram para enfraquecimento das lutas pela educação pública, assim, em 
2001, o governo aprovou o PNE. 
O autor destaca ainda que o ensino superior deveria ser acessível aos jovens capazes e 
ampliado de 12% para 30% dos jovens na faixa de 18 a 24 anos em dez anos. Este 
aumento da oferta de vagas que poderia ocorrer não somente através de ensino presencialcomo também por ensino a distância e, ainda, por cursos pós-médios de curta duração, 
garantindo um diploma intermediário, e por formação aligeirada nos institutos superiores 
de educação, especialmente para a formação de professores. 
Com a definição dos 7% do PIB destinados. À educação pública pelo Deputado 
Marchezan no PNE governamental, que já estavam abaixo do proposto mas ainda 
correspondia um aumento significativo. O PNE também estabelece metas que não 
correspondiam aos recursos disponíveis, acarretando em indicadores educacionais muito 
ruins ao final do governo de Cardoso. 
A partir do agravamento da crise de 1998, o governo Cardoso perdeu considerável força 
política. Somada e consequentemente à crescente insatisfação popular, o número de 
greves voltou a aumentar e o cenário latino-americano comprovava que as lutas sociais 
podiam alcançar níveis considerados temerários pelos setores dominantes. Embora seu 
governo tivesse investido nas políticas de alívio à pobreza, estas eram débeis e a 
organicidade da relação política com os setores populares era por demais assistemática. 
Não é possível esquecer que o pleito de 2002 ocorreu sob o espectro da crise da Argentina 
que explodiu em dezembro de 2001. 
 A reconfiguração da base produtiva no pleito em 2002 foi repercutida também na área 
da educação. Quando a política educacional não aponta para a criação e consolidação de 
um sistema nacional de educação que pudesse ser a base estrutural da escola unitária. 
Seguiu perseguindo as políticas focalizadas, a partir do pressuposto geral de que o 
dualismo educacional é um imperativo do mercado. 
Exemplificado ainda pelo exame dos programas para a juventude das periferias das 
grandes cidades, para os jovens do campo, para os jovens da baixa classe média permite 
concluir que a ideia de que os programas educacionais devem estar ajustados ao tipo de 
“clientela” tornou-se o eixo das intervenções em matéria educativa. A educação básica 
referenciada nos conceitos de politecnia e da escola unitária não condiz com o padrão de 
acumulação capitalista dependente em que se aprofundava o país. 
As primeiras medidas comprovaram que a agenda do Coned não seria considerada nas 
políticas educacionais. Porém, algumas das ideias de representantes, demandariam 
recursos novos para a educação. O ministro relatou publicamente que o MEC estava 
esvaziado em termos orçamentários, fragilizando enormemente sua posição no governo, 
tendo sido demitido em janeiro de 2004, um ano após a posse. (LEHER, 2010) 
Se acelerou em seguida as iniciativas ministeriais em matéria de educação superior do 
setor privado-mercantil, como o ProUni, e outras propostas de reforma universitária que 
estavam de acordo com o setor privado e que buscavam deslocar o ensino superior ao 
mercado. 
As políticas do governo Lula da Silva para a educação superior não objetivaram alterar a 
crescente supremacia da oferta privada sobre a pública. De acordo com Leher (2010), 
“encobertas pela narrativa da ampliação da oferta e da democratização do acesso, essas 
diretrizes chegam ao país no segundo mandato de Lula da Silva.”. Assim, a principal 
medida para efetivar o modelo da educação terciária nas instituições é o Programa de 
Reestruturação das Universidades Federais (Reuni). Esta foi uma das medidas do PDE. 
Ainda que entre 1995 e 2005 o número de estudantes de graduação tenha crescido mais 
de 65%, o de mestrandos superou 170% e o de doutorandos ultrapassou 270%, conforme 
os censos do Inep, os recursos no período não se alteraram. Em conformidade com a não 
cobertura orçamentária para a expansão das universidades públicas, uma das principais 
estratégias de diversificação da oferta de educação superior, que estava ainda relacionada 
ao cyber-rentismo, é a educação a distância. 
Síntese Pessoal 
Em suma, é possível perceber que o que nos alarma no que diz respeito à educação hoje 
é na verdade um projeto de longa data. O modelo neoliberal põe em risco a qualidade e 
um maior financiamento do ensino, principalmente na educação básica. Podemos 
identificar ainda uma reivindicação da responsabilidade para com a população, 
dificultando qualquer pretensão de se ter um ensino digno e valorizado, tanto por 
profissionais quanto pelos alunos. É imprescindível conhecer a história das políticas 
públicas para que possamos reivindicar mudanças que tenham resultados positivos e não 
somente máscaras frente a uma estrutura inflexível. 
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
LEHER, Roberto. 25 anos de Educação Publica no Brasil: notas para um balanço do 
período. In: GUIMARÃES, Catia.; BRASIL, Isabel.; MOROSINI, Márcia. Trabalho, 
Educação e Saúde: 25 anos de formação Politécnica no SUS. Rio de Janeiro: 
EPSJV(Fiocruz), 2010

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