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Júlia Figueirêdo - DOR PROBLEMA 1 – ABERTURA: TIPOS DE DOR: A dor é definida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) como uma experiência sensorial e emocional incômoda, associada a danos potenciais ou infligidos contra um tecido. Esta abordagem reconhece as esferas objetivas e subjetivas desse fenômeno, capazes de moldar as diferentes capacidades de resposta entre indivíduos ou em períodos distintos. Um estímulo doloroso externo, seja ele químico, mecânico ou térmico, é responsável por desencadear diversas reações traumáticas ao organismo, mediadas pelos nociceptores. Nota-se que todo estímulo nocivo causa dor, mas nem toda dor é decorrente da ação desses receptores. Nesse contexto, é possível classificar as respostas como agudas (chamadas também de rápidas), cuja causa primária é a ação das fibras nervosas supracitadas, e crônicas (ou lentas), que podem estar associadas a essas estruturas, porém também são moduladas por respostas psicológicas e comportamentais. É necessário também diferenciar a dor quanto ao mecanismo de processamento afetado. Na forma nociceptiva, a sensibilização e ativação dos nociceptores é o que transmite os estímulos, ao passo que para a dor neuropática, é necessário haver algum tipo de lesão ou anormalidade nas estruturas neurais centrais ou periféricas. Dor aguda: geralmente nociceptiva, essa resposta é causada por ferimentos, doenças ou pelo funcionamento anormal de músculos ou órgãos, associada a estresse neuroendócrino (varia conforme a intensidade da dor). O objetivo de tal resposta é a delimitação da área em risco de lesão. o Quatro etapas fisiopatológicas mediam a sensação de dor: transdução, transmissão, modulação e percepção; o O quadro álgico normalmente é autolimitado, se resolvendo em dias ou poucas semanas; A dor aguda ainda se divide em dois grupos, divergentes quanto sua origem e características: o Dor somática (superficial ou profunda): respostas superficiais são decorrentes de estímulos na pele, no tecido subcutâneo ou em mucosas, sendo bem-localizada e descrita como uma espécie de dor penetrante, pulsante ou em queimação. A manifestação profunda, por sua vez, surge a partir de músculos, tendões e ossos, sendo, ao contrário da variante supracitada, associada a uma dor surda e difusa. o Dor visceral: esse tipo de dor aguda é fruto de doenças ou de alterações funcionais de órgãos internos ou seus revestimentos. É possível dividir essa categoria em: Dor visceral verdadeira localizada: essa forma de dor é surda, difusa e geralmente sentida na linha média do organismo. Atividades simpáticas e parassimpáticas associadas podem causar náusea, vômitos, alterações na pressão arterial e na frequência cardíaca; Dor parietal localizada: é percebida como uma sensação perfurante tanto ao redor do órgão afetado, como também referida em áreas distantes. Dor visceral referida; Júlia Figueirêdo - DOR Dor parietal referida. Exemplo do processo de referência da dor em uma situação de infarto do miocárdio A referência cutânea da dor visceral ocorre tanto em decorrência de semelhanças no desenvolvimento embriológico dos tecidos, como também pela confluência de sinais viscerais e somáticos em seu transporte no SNC. Distribuição da dor visceral referida na pele Associação entre a localização da dor visceral e os dermátomos nos quais a dor é referida Alguns exemplos de dor aguda incluem a dor obstétrica, a pós-operatória, a dor associada a quadros patogênicos (como infarto do miocárdio) e a pós-traumática. Dor crônica: esse tipo de dor pode ser classificado como aquele que persiste por mais de 4 semanas, extrapolando os períodos de recuperação de uma doença ou lesão. Sua definição contempla formas nociceptivas, neuropáticas ou mistas, todas elas fortemente afetadas por aspectos psicológicos e ambientais. A dor neuropática crônica é lancinante, paroxística (intensa) e em queimação, podendo haver uma reação exacerbada a estímulos que causam desconforto. Os principais exemplos de agentes causadores dessa resposta são distúrbios osteoarticulares, lesões em raízes de nervos, síndrome do membro fantasma, dor associada ao câncer e doenças crônicas em vísceras. RESPOSTAS DO ORGANISMO À DOR AGUDA: A dor aguda é responsável por aumentar o estresse neuroendócrino, o que implica na maior secreção de catecolaminas e na consequente alteração funcional de múltiplos sistemas do organismo, a saber: Sistema cardiovascular: com a maior ativação de fibras do SNAS, observam-se diversas mudanças, como taquicardia, elevação na pressão arterial, maior débito cardíaco e resistência vascular periférica aumentada. A dor pode agravar quadros de isquemia miocárdica devido à maior demanda de oxigênio por essas fibras; Sistema respiratório: com a maior necessidade de O2 e a consequente elevação na produção de CO2, a frequência respiratória aumenta (principalmente em lesões torácicas, que geram espasmos). Atelectasia, hipoxemia e hipoventilação surgem Júlia Figueirêdo - DOR com a menor movimentação torácica e a redução da capacidade residual funcional. Os mesmos efeitos podem surgir em pacientes acamados por muito tempo, ainda que o foco da dor seja distinto; o Tecidos com elevada demanda metabólica são associados à dores mais intensas, o que pode estar associado ao déficit de O2 e à produção resultante de ácido lático. Sistema digestório e excretor: os esfíncteres se contraem e diminuem a motilidade intestinal e urinária graças à ação do SNAS. Com essa interrupção do trânsito do bolo alimentar, o estômago aumenta a secreção de ácidos, podendo causar úlceras e complicações respiratórias; Sistema endócrino: glucagon, catecolaminas e cortisol (hormônios catabólicos) são liberados em maior quantidade que os anabólicos, estimulando a lipólise. A secreção de “hormônios reguladores da PA” promove retenção de líquidos; Efeitos hematológicos: o corpo se insere num estado de hipercoagulabilidade, com maior atração entre plaquetas e redução da fibrinólise; Sistema imunológico: o estado de alerta neuroendócrino estimula a leucocitose e enfraquece o sistema reticuloendotelial, aumentando o risco de infecções; Impactos psicológicos: há alterações no sono e no humor, como ansiedade e depressão. RESPOSTA DO ORGANISMO À DOR CRÔNICA: Em pacientes com dor crônica, a resposta neuroendócrina ao estresse é praticamente nula na maioria dos pacientes, sendo observada apenas em casos de ativação nociceptiva recorrente e em alterações significativas no processamento central de estímulos. Nessas situações, os impactos psicossociais são mais intensos, podendo haver também desgastes em relacionamentos e alterações no apetite.
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