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1 Disciplina: O espaço vazio e suas possibilidades de aprendizagens Autora: Esp. Silmara Crozeta Revisão de Conteúdos: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm Revisão Ortográfica: Esp. Murillo Hochuli Castex Ano: 2019 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Silmara Crozeta O espaço vazio e suas possibilidades de aprendizagens 1ª Edição 2019 Curitiba, PR Editora São Braz 3 Editora São Braz Rua Cláudio Chantagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Revisão de Conteúdos Alexandre Kramer Morgenterm Revisão Ortográfica Murillo Hochuli Castex Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA CROZETA, Silmara. O espaço vazio e suas possibilidades de aprendizagens / Silmara Crozeta. – Curitiba: Editora São Braz, 2019. 54 p. ISBN: 978-85-5475-418-1 1.Conhecimento. 2. Infância. 3. Perspectiva. Material didático da disciplina de O espaço vazio e suas possibilidades de aprendizagens – Faculdade São Braz (FSB), 2019. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Sumário Prefácio ..................................................................................................... 06 Aula 1 – O espaço e as relações entre a criança e os saberes .................. 07 Apresentação da aula 1 ............................................................................. 07 1.1 Espaço, tempo e a formação do sujeito ................................... 07 1.2 Espaço como potência formativa das memórias do sujeito ....... 10 1.2.1 Alteridade e condições do espaço ......................................... 12 Conclusão da aula 1 .................................................................................. 15 Aula 2 – Expectativas sobre espaço nas ações pedagógicas ..................... 16 Apresentação da aula 2 ............................................................................. 16 2.1 Espaço nas ações pedagógicas ............................................... 16 2.1.1 Como o espaço revela concepções pedagógicas? ................ 17 2.1.2 O espaço como espelho da ação pedagógica ....................... 18 2.2 Repertório de imagem, tempo e artefatos presentes no espaço 18 2.3 A criança da Educação Infantil no espaço educacional ............. 22 Conclusão da aula 2 ................................................................................... 26 Aula 3 - Os espaços amplos, contextos diferenciados e suas possibilidades de criação e o desenvolvimento na educação Infantil ........ 27 Apresentação da aula 3 ............................................................................. 27 3.1 Apontamentos sobre o desenvolvimento infantil ....................... 27 3.2 O desenvolvimento infantil e as concepções de criança e infância ...................................................................................................... 28 3.3 O protagonismo infantil preenche o espaço educacional .......... 32 Conclusão da aula 3 ................................................................................... 37 Aula 4 - A atmosfera dos espaços escolares .............................................. 38 Apresentação da aula 4 ............................................................................. 38 4.1 Estrutura e organização dos centros; o espaço e o ambiente no método Reggio Emilia ........................................................................... 39 4.2 Espaços relacionais e a atmosfera escolar ............................... 40 4.3 O espaço como terceiro educador ............................................ 45 conclusão da aula 4 ................................................................................... 48 Conclusão da disciplina ............................................................................. 49 Índice Remissivo ........................................................................................ 50 Referências ............................................................................................... 52 6 Prefácio Nesta disciplina serão abordadas perspectivas da educação brasileira, com foco na oportunidade de analisar trajetórias educacionais ao longo de experiências acumuladas e transformá-las a partir de diferentes abordagens pedagógicas. Busca-se fazer o estudante compreender a importância da informação e transformar isso em conhecimento, proporcionando, assim, novas perspectivas para serem abordadas em sala, rumando para um caminho impulsionante das tendências pedagógicas e, com ousadia e coragem, constituir um caminho libertador e digno para todos os brasileiros. Propõe-se compreender o espaço e quantas discussões envolvem o conceito, pois as necessidades das crianças atualmente mudaram de forma considerável e determinam a interação do cuidar e educar simultaneamente, incluindo olhares e escutas específicas para brincar. Abordaremos, então, a educação como um processo ativo e dinâmico pela vida, pois ela acontece na escola, em casa e em outros espaços. Objetiva- se, assim, conhecer melhor essa dinâmica e suas abordagens para um processo educacional mais humano e voltado para a vida das crianças. 7 Aula 1 – O espaço e as relações entre a criança e os saberes Apresentação da aula 1 Nesta aula, o significado e os conceitos sobre o espaço serão citados como provocações para despertar a importância e a influência que marcam na vida do ser humano. O espaço, o tempo e as relações com a infância acumulam saberes que potencializam a autonomia da criança. As oportunidades oferecidas por meio do espaço, de modo coletivo, agregam valores essenciais para a vida social. Só se aprende a se comportar à mesa se isso for vivido na família, na escola ou no restaurante. As vivências pessoais constituem os sujeitos e dão condições para estabelecer escolhas, que, ao longo da vida e aos olhos dos outros são mudanças radicais. 1.1 Espaço, tempo e a formação do sujeito A articulação entre tempo e espaço é fundamental para a construção do cotidiano da instituição educacional e, antes do sujeito ocupar o papel de estudante, uma de suas primeiras aprendizagens é lidar com o tempo no espaço e vice-versa. Quando a criança vai para escola,a cultura familiar é a única referência dela e a interação com outras crianças de diferentes culturas familiares amplia o seu repertório, destaca as diferenças entre a cultura trazida de casa e a cultura das diversas crianças e pessoas da escola. Conceituar tempo e espaço é um dos modos de o profissional de educação infantil aproximar a lógica da criança à lógica do adulto. Mesmo que o adulto seja um brincante, a criança busca seu tempo singular para se constituir no espaço. E qual a importância do tempo e do espaço na formação do sujeito? Para Santos (1994, p. 49), “[...] espaço é o conjunto indissociável de sistemas de objetos naturais ou fabricados e de sistemas de ações, deliberadas ou não”. Ou seja, a materialidade da vida se dá em um contexto físico, de modo que o meio afeta, influencia e forma o sujeito. Na citação anterior, a referência aponta o conceito para a área do conhecimento em geografia, porém, cabe para 8 associar formação do sujeito na cultura familiar, escolar e nos diferentes tempos geracionais. Assim, relacionar a cultura escolar com a cultura de infância passa pela análise entre os tempos de aprender, os materiais e o espaço educacional. A abordagem em Reggio Emilia ressignifica o desenvolvimento e os modos de pensar e viver das crianças deste tempo. Os modos de pensar baseados nas relações dualistas (criança X adultos) afetam as relações de aprendizagem significativa, pois a troca entre os pares (adultos/crianças e crianças/crianças) promove reflexões nas dimensões sociais, emocionais, corporais e cognitivas entre adultos e crianças. Por conta da realidade ser “movimento”, o espaço, o tempo e o entorno mudam juntos. Parafraseando Descartes (1867), na célebre frase “penso logo existo”, o destaque se dá para o sujeito que pensa e existe em um espaço. Grandes filósofos dedicaram a vida estudando sobre a existência do ser e, atualmente, toda contribuição filosófica impulsiona um olhar para a existência se fundar a partir de um espaço físico. Entende-se por espaço, em um sentido amplo, a extensão indefinida que contém e envolve todos os seres e objetos. A extensão dos ares; o universo; a imensidade; a região localizada além do sistema solar e da atmosfera terrestre. Convivência familiar em seu espaço Fonte: https://br.freepik.com/fotos-gratis/duas-jovens-irmas-foto-em-preto-e-branco_11 67048.htm 9 O local onde o sujeito nasceu é um espaço de memórias, no qual as lembranças podem ser alegres ou traumáticas. Nas famílias, é comum retomar as histórias dos antecessores por meio de fotos do local ou homenagens de familiares como nome de ruas ou praças. Tais legados também são carregados nos objetos que contam a história de um povo. Como exemplo, no Museu Afro Brasil, em São Paulo, a réplica de um navio negreiro exposto para apreciação causa estranhamento e até comoção ao entrar na sala de exposição, pois o ambiente remete à dor e ao sofrimento e o espaço está impregnado de memórias da cultura africana. Com ou sem provocações planejadas e conscientes, “[...] o espaço tem um papel privilegiado, uma vez que ele cristaliza os momentos anteriores e é o lugar de encontro entre esse passado e o futuro, mediante as relações sociais do presente que nele se realizam” (SANTOS, 1994, p. 122). Saiba Mais O Museu Afro Brasil, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, destaca a perspectiva africana na formação do patrimônio, identidade e cultura brasileira, celebrando a memória, história e a arte brasileira e a afro brasileira. Fonte: http://www.museuafrobrasil.org.br/home Portanto, segundo LEFEBVRE: Do espaço não se pode dizer que seja um produto como qualquer outro, um objeto ou uma soma de objetos, uma coisa ou uma coleção de coisas, uma mercadoria ou um conjunto de mercadorias. Não se pode dizer que seja simplesmente um instrumento, o mais importante de todos os instrumentos, o pressuposto de toda produção e de todo o intercâmbio. Estaria essencialmente vinculado com a produção das relações (sociais) de produção [grifo nosso] (LEFEBVRE, 1976, p. 34). Contextualizando os conceitos advindos da geografia, da filosofia ou das impressões da arte e da história, a sociedade produz um espaço em que as marcas, as tendências, as memórias e os contextos de alegria ou de dor estão 10 inter-relacionados e são interpretados pelas gerações e, ainda, impulsionam a construção de identidade de um povo. A poesia abaixo nos convida a viajar sobre a vida, o tempo e o espaço. Para Refletir Poética De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo. A oeste a morte Contra quem vivo Do sul cativo O este é meu norte. Outros que contem Passo por passo: Eu morro ontem Nasço amanhã Ando onde há espaço: – Meu tempo é quando. (MORAES, 1954, p.169) 1.2 Espaço como potência formativa das memórias do sujeito Qualquer sujeito tem na memória uma brincadeira em um lugar especifico com algum amigo em especial. Cada tempo incorpora a experiência individual, e a vivência coletiva escreve modos sociais, em que a ciência social lê os comportamentos e organiza teses sobre as características que se repetem, ou mudam, em cada geração. Analisando a trajetória geracional, em cada época, as tendências desenham propostas acolhedoras para as várias possibilidades e perspectivas de infância. Com ou sem saudosismo, a infância é um tempo que não volta mais e deve ser vivida em sua plenitude. O brincar sempre esteve presente em um contexto de espaço e tempo adequado ou não, em cada tempo o sentido de infância era associado a modos de brincar, nos espaços da rua, do clube, do quintal, do condomínio, entre outros. Essas pesquisas anunciam sobre as características das gerações, de modo que atores sociais da Geração X nasceram entre os anos 1960 e 1980. 11 A Geração X é constituída pelos filhos da Geração Baby Boomers, formada logo após a Segunda Guerra Mundial e pelos pais da Geração Y. Gerações – Visão geral Fonte: /www.hellerdepaula.com.br/geracoes/ Segundo Sarmento (2004), O resgate do conceito de “geração” impõe a consideração da complexidade dos fatores de estratificação social e a convergência sincrónica de todos eles; a geração não dilui os efeitos de classe, de gênero ou de raça na caracterização das posições sociais, mas conjuga-se com eles, numa relação que não é meramente aditiva nem complementar, antes se exerce na sua especificidade, ativando ou desativando parcialmente esses efeitos (SARMENTO, 2004). Ao observar a cultura familiar, incluindo seus hábitos e objetivos relacionados aos princípios educacionais, Corsaro & Eder (1990) destacam que as culturas das crianças são “um conjunto estável de atividades ou rotinas, artefatos, valores e ideias que as crianças produzem e partilham em interação com os seus pares”. A sociologia descreve a complexidade dos fatores de estratificação social como modos de olhar criticamente a partir da classificação dos sujeitos e dos grupos sociais a que pertencem, com base em dados e condições socioeconômicas. Dentre as diferentes gerações, a sociologia da infância considera que fatores que causam mais impactos partem da vertente cultural. Com a máxima de que o “homem é maior que o conhecimento”, evidencia-se que a concepção de criança, desde os tempos remotos, mudou de cara e de roupa. O ser criança para a sociedade transitou entre o adulto em miniatura, folha de papel em branco, até alcançar a vigente consideração de que ela possui características próprias da sua existência. 12 As concepções mudam conforme a confluência da mentalidade, porém, muitos pensadores dos séculos passados influenciam as tendências educacionais, bem como o enfoque da caracterização da criança dentro da prática educativa. Comotodos os fatos estão interligados, a família conduz a educação de acordo com o prisma social vivido, ao passo que a prática social referencia novos modelos que estão diretamente contaminados ao relacional familiar. Para que haja valorização e promoção da infância, é extremamente importante traçar metas e o primeiro passo deve partir da formação dos profissionais que estão ligados à formação das crianças. A criança elege modelos entre os adultos e uma expressão inadequada, uma correção deslocada, uma convivência sem combinados (regras claras) e limites objetivos podem causar danos irreversíveis. Portanto, uma troca entre adultos e crianças deve estar pautada em critérios que assegurem a função e desenvolvimento dos papéis. Criança é criança e o adulto é responsável pela sua formação integral, considerando o espaço como potência formativa de memórias, bem como cultura de infância. 1.2.1 Alteridade e condições do espaço Contextualizar “geração” e “alteridade” é dar voz para o sujeito, desde a infância, algo que as teorias tradicionais sobre a infância não evidenciavam. Em tese, a sociologia da infância propõe que a sociedade considere as crianças como sujeitos de direitos, destacando que a infância é muito mais do que uma etapa da vida. Assim, as perspectivas do direito da criança não partem das condições econômicas. A criança que vive no centro urbano ou na periferia se banha e é afetada pela cultura local e ambas constituem cultura da infância. Vocabula rio Alteridade: é o estado ou caráter do que é diferente, distinto, é outro; se opõe à identidade, que enxerga o outro, como um ser distinto, diferente; condição ou característica que se desenvolve por relações de diferença, de contraste; "mudança". 13 A constituição e legitimação do campo científico da sociologia da infância está em curso em todo o mundo, desde há pouco mais de uma década. O desenvolvimento recente desse campo de estudos acompanha os progressos verificados no plano internacional, em que a sociologia de infância foi reconhecida como o mais recente Comitê de Pesquisa da Associação Internacional da Sociologia (ISA) e um dos últimos grupos de trabalho a serem criados no interior da Associação Internacional de Sociólogos de Língua Francesa (AISLF). Também em Portugal, o campo se encontra em constituição, tendo já originado os primeiros cursos de pós-graduação e produzido teses, números temáticos de revistas científicas (Fórum Sociológico, 2000, e Educação, Sociedade e Culturas, 2002) e projetos de investigação na área. A escola é o lugar em que as diferenças e semelhanças estão latentes nas relações e toda essa diversidade ocupa o mesmo lugar, partindo do princípio de que todos os estudantes possuem direitos e deveres e devem ser tratados com respeito, sem distinção entre classes sociais, raças, intelecto ou religião. Perspectivas assistencialistas projetam o constituinte em que: “a infância é uma fase sem importância ou propósitos”. Ao contrário, a primeira fase do desenvolvimento humano é a base para formação integral do sujeito e as oportunidades de aprendizado, bem como as experiências, os modelos e as colagens de linguagem são copiados do mundo adulto. Assim, o adulto não pode criticar uma criança, pois ela acaba sendo reflexo das relações deles, que interagem direta ou indiretamente na sua formação. Importante A criança, como sujeito de direitos, ocupa um espaço na sociedade. A sociologia da infância trouxe transparência e clareza acerca da criança como sujeito de direitos, e contingente desafiador atual é transformar a escola em um espaço que ofereça condições éticas, morais, intelectuais, emocionais e sociais, garantindo o desenvolvimento integral do estudante. Em uma perspectiva temporal, as gerações Baby Boomers, em menor proporção, e as gerações X e Y, em maior proporção, são os agentes que articulam e planejam 14 a vida escolar para as gerações Z e Alpha. Ou seja, conhecer mais sobre as diferentes gerações alimenta as mudanças das práticas na escola. O espaço da escola para ser tratado como ambiente de convivência, interação e reconhecimento, em que, para além do eu, existe o outro, imediatamente necessita de mudanças conceituais. O espaço carrega as marcas da história, bem como revela conceitos. Muitas marcas do espaço denominado cidade se anunciam por meio da violência, da poluição do ar, de interferências sonoras e visuais, virtuais, pelo consumo de resíduos e o afastamento das pessoas das praças e parques. Friedmann (2003) afirma: “nossas cidades estão doentes. (...) não há mais equilíbrio entre o antigo, a História e o moderno, o verde e o cimento, o azul e o cinza, o público e o privado, a riqueza e a pobreza”. A dinâmica social é algo instintivo, o sujeito aprecia viver junto, porém, a lógica estabelecida das cidades é de atacar ou defender como algo peculiar das relações. A inversão da ordem é mostrar para as crianças que os espaços coletivos são constituídos de identidade, de memória, história e não de medo ou resguardo em função do perigo. O espaço é o espelho das relações sociais! Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Para melhor reflexão em relação ao nosso estudo, sugiro a leitura do livro estudos da Infância: educação e práticas sociais, organizado por: Manuel Sarmento e Maria Cristina Soares de Gouvêa. Ví deo Outra boa sugestão é o vídeo Alteridade, de apenas 4 minutos. Disponível em: https:// https://youtu.be/q8kXnRvqWyc https://youtu.be/q8kXnRvqWyc 15 A provocação perpassa pela leitura das gerações sociais, dialogando com o espaço, em que, efetivamente, as contribuições trazidas pela sociologia da infância tratam a criança como sujeita que se constitui no espaço. Diante das perspectivas geracionais, os contrapontos apontam para diferenças entre as denominadas gerações Baby Boomers, X e Y em relação às gerações Z e Alpha. A escola como um lugar da diversidade social, cultural, emocional e intelectual abarca todas as gerações e assume o desafio político pedagógico de formar sujeitos plenos para articular as diferenças e semelhanças na sociedade. Conclusão da aula 1 A importância do espaço na formação do sujeito depende dos modos como as gerações alcançam as mudanças de paradigmas entre a geração experiente e a geração que será acolhida. O espaço carrega as marcas da história, bem como revela conceitos. As áreas de conhecimento da geografia, da filosofia e sociologia emprestaram suas teses para alinhar as reflexões e indagações sobre os aspectos sociais, emocionais, intelectuais e econômicos do sujeito. A afirmação que surge é a de que a criança é um sujeito de direitos que produz cultura de infância, uma vez que a sociologia da infância garante as relações vistas pela vertente cultural. Atividade de Aprendizagem A partir do vídeo Alteridade, sugerido na página anterior, reflita sobre a perspectiva americana ao descrever o Brasil. Em seguida, liste contrapontos positivos sobre os estereótipos citados, as generalizações e os sentidos das palavras lançadas no filme. Que outro sentido o abraço pode causar? A cachaça pode ser considerada como elemento da cultura nacional? O Personagem Zé Carioca é aproveitador ou criativo? O samba é a única identidade brasileira? 16 Aula 2 – Expectativas sobre espaço nas ações pedagógicas Apresentação da aula 2 As ações pedagógicas estão diretamente ligadas à relação entre a teoria e a prática. As expectativas sobre o espaço ressignificam escolhas acerca da realidade. Compreender a realidade sugere transformar o conhecimento em pensamento e sabedoria, ou seja, aquilo que é verbalizado é visto na materialidade do espaço. 2.1 Espaço nas ações pedagógicas O espaço escolar na primeira infância se isenta de expectativas, pois o impulsodas crianças é brincar com tudo que as cerca. Destaca-se a responsabilidade da gestão e dos docentes compreenderem que a aprendizagem é um processo vivo e dinâmico. Uma gestão reflexiva, que acolhe e investe nos modos de viver das crianças, no espaço escolar e dialoga com as expectativas da infância. A criança lê o espaço pelos sentidos e responde por meio dos movimentos corporais. Com os bebês se dá pela fala, se mais velhas, sinalizando como o espaço atua no cotidiano do seu desenvolvimento integral. Espaço escolar Fonte: https://br.depositphotos.com/stock-photos/rela%C3%A7%C3%A3o-m%C3%A3 e-e-filho-escola.html?filter=all&qview=81862778 https://br.depositphotos.com/stock-photos/rela%C3%A7%C3%A3o-m%C3%A3e-e-filho-escola.html?filter=all&qview=81862778 https://br.depositphotos.com/stock-photos/rela%C3%A7%C3%A3o-m%C3%A3e-e-filho-escola.html?filter=all&qview=81862778 17 As ações pedagógicas para as crianças da Educação Infantil são processos de interação que começam entre a cultura familiar, escolar, e se estendem até a criança seguir para o ensino fundamental. Se a criança lê o espaço, ela sente com profundidade as expectativas que os adultos depositam no tempo escolar da educação infantil. Assim, o cotidiano da escola é carregado de correntes pedagógicas, pelas quais os professores foram formados e, ainda, interage com as expectativas dos pais e/ou responsáveis que estão envolvidos na formação da criança. Os adultos educam as gerações de filhos, netos e estudantes; a escola de Educação Infantil deve transformar as expectativas em espaços significativos para a infância contemporânea. 2.1.1 Como o espaço revela concepções pedagógicas? Uma questão simples, mas complexa diante da estrutura escolar. Segundo a perspectiva da educação tradicional, o espaço não é considerado como disparador de aprendizagens, e os formatos de escolas, quadradas ou arredondadas, revelam tendências pedagógicas. Na era da informação e da incerteza, formar o sujeito com autonomia emocional e competência para resolver conflitos, e que ainda consiga agradecer o que conquista, depende muito da cultura constituída no espaço social a que pertence. A formação social de uma criança se dá na interação com outro no espaço. Conviver é um dos seis direitos descritos na BNCC e significa: “Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas”. Conviver intensamente provoca sentimento de pertencimento. Assim, cabe levantar a seguinte questão: a formação da criança perpassa pela interação com sujeitos que acumularam experiências em meios fragmentados da teoria e da prática. Em um contingente substancial escolar, o docente que foi formado em um ambiente onde a cognição ocupou o espaço central das relações na escola, isto é, foi banhado pela epistemologia escolástica. Ressignificar a pratica dentro de uma abordagem contemporânea exige formação para o colegiado da escola. Para se viver o novo, precisa se 18 entender e respeitar o que veio antes. Uma abordagem inovadora não faz milagres, demanda estudo, trabalho, esforço, coragem e foco em um ponto que envolva todas as gerações, sobretudo a criança contemporânea. Nesse sentido, os saberes incorporados pelos professores traduzem comportamentos repetitivos diante das demandas dos estudantes. Os valores, sentimentos, conhecimento tácito, os significados, habilidades, a rotina e as inclinações pedagógicas influenciam a longa experiência pessoal e profissional das gerações da escola. Muitas correntes pedagógicas movimentam a formação docente e as teorias de aprendizagem fomentam aspectos metodológicos que conspiram para as mudanças educacionais significativas. 2.1.2 O espaço como espelho da ação pedagógica A implantação da BNCC para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental foi aprovada e homologada em dezembro de 2017. A do Ensino Médio foi aprovada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), no dia 4 de dezembro de 2018, e homologada na semana seguinte, no dia 14 de dezembro, pelo Ministério da Educação. Como um documento mandatório, a instituição de todo território nacional assume a missão de implantar as orientações trazidas nesse material, no qual o intuito é garantir aos estudantes o direito de aprender um conjunto fundamental de conhecimentos e habilidades comuns, de norte a sul, nas escolas públicas, privadas, urbanas e rurais de todo o território nacional. Este cenário transita entre instituições que abraçaram o documento que enfatizam a inserção do componente emocional, segundo Damasio (2000): “sem o componente emocional e valorativo não pode se entender a natureza complexa do pensamento e da conduta humana”. 2.2 Repertório de imagem, tempo e artefatos presentes no espaço A chave para compreender a importância do espaço se dá nas ações autorais do docente, de modo que suas escolhas pedagógicas remetem à 19 antecipação e à interpretação da escolha para compor o planejamento, propondo aprendizagens que o qualifiquem como articulador de novas atitudes. Segundo a BNCC, A Educação Infantil, as aprendizagens essenciais compreendem tanto comportamentos, habilidades e conhecimentos quanto vivências que promovem aprendizagem e desenvolvimento nos diversos campos de experiências, sempre tomando as interações e a brincadeira como eixos estruturantes. Essas aprendizagens, portanto, constituem-se como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento (BNCC, 2017 p. 42). Quando o repertório de imagem do docente contribui para a transformação construtiva, a aprendizagem passa a ter metas educativas e as mudanças no espaço anunciam a aprendizagem para a vida. A Unesco, desde 1996, propõe pilares para educação em que exista a disposição de aprender a aprender, com o intuito de estimular o trânsito do ensino tradicional para promoção da aprendizagem. Na era da informação, o docente acessa facilmente imagens que inspiram e trazem como efeito mobilizador a busca por mudanças. Porém, a falta de análise e interpretação da prática não abrange a formação de conhecimento na docência, deixando-a vulnerável à aprendizagem significativa. Para Carreto e Fuentes (2011, p.7), “aprender a aprender implica em dispor de habilidades para pautar a própria aprendizagem e ser capaz de aprender de maneira cada vez mais eficaz e autônoma, de acordo com os próprios objetivos e necessidades”. Ou seja, aprender a aprender também atravessa a aprendizagem do professor. Importante Para compreender o espaço como terceiro educador, é importante saber conceituar: Abordagem / Procedimentos / Habilidades / Técnicas / Estratégias De modo geral, em todo o território nacional, a escola ocupa um espaço físico. Raros são os profissionais, como o antropólogo Tião Rocha, que apresentam a escola a ser de uma perspectiva que liberta o “conhecimento cartesiano e sem a necessidade de um prédio escolar” e expande o 20 conhecimento abraçando os saberes do entorno. Sócrates constituiu a primeira escola filosófica ao ar livre com o intuito de compartilhar seus saberes, já Tião Rocha trocou a vasta experiência acadêmica pelo espaço livre e aberto, mas carregado de sentido e aprendizagens reflexivas. Para Refletir É possível fazer educação embaixo de um pé de manga? Não só é, como já acontece em 20 cidades brasileiras e em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. Nesta perspectiva, envolver o espaço como enfoque estratégico para as aprendizagens é um grande passo, porém requer do profissional amadurecimento e mudança de mentalidade acadêmica. É muito simples considerar o espaço, mas não basta mudar o mobiliário e inserir artefatos da moda. O docente representa no espaço seu possível entendimento acercada sociedade contemporânea. No ensino fundamental, as mesas enfileiradas e um quadro de giz remetem a que tipo de aprendizagem? O espaço da sala enfileirado revela que o conhecimento está centrado no adulto. E este modelo garante aprendizagem genuína para os estudantes da geração Z e Alpha? Passo a passo, a provocação é pensar nos aspectos conceituais, de modo que: Em relação a qualquer experiência de aprendizagem que seja trabalha da pelas crianças, devem ser abolidos os procedimentos que não reconhecem a atividade criadora e o protagonismo da criança pequena, que promovam atividades mecânicas e não significativas para as crianças (Parecer CNE/CEB no 20/09). O ciclo de aprendizagem reflexiva sugere que o docente organize o espaço de acordo com as demandas da cultura local dos estudantes. O professor ocupa um espaço na relação ensino aprendizagem e pode dar espaço para o estudante, independentemente da idade. O adulto, como sujeito mais experiente, articula que o foco esteja voltado para a natureza social da aprendizagem. As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI, Resolução CNE/CEB nº 5/2009)27, em seu Artigo 4º, definem a criança como “sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e 21 práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura” (BRASIL, 2009). Tião Rocha: educação diferenciada e de qualidade Decepcionado com o processo de “ensinagem”, o antropólogo Tião Rocha pediu demissão do cargo de professor da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e criou, em 1984, o CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento). Curvelo, no Sertão mineiro, foi o laboratório da “escola” que abandonou mesa, cadeira, lousa e giz, fez das ruas a sala de aula e envolveu crianças e familiares na pedagogia da roda. “A roda é um lugar da ação e da reflexão, do ouvir e do aprender com o outro. Todos são educadores, porque estão preocupados com a aprendizagem. É uma construção coletiva”, explica. O educador diz que a roda constrói consensos. “Porque todo processo eletivo é um processo de exclusão, e tudo que exclui não é educativo. Uma escola que seleciona não educa, porque excluiu alguns. A melhor pedagogia é aquela que leva todos os meninos a aprenderem. E todos podem aprender, só que cada um no seu ritmo, não podemos uniformizar. ” Nesses 30 anos, o educador foi engrossando seu dicionário de terminologias educacionais, todas calcadas no saber popular: surgiu a pedagogia do abraço, a pedagogia do brinquedo, a pedagogia do sabão e até oficinas de cafuné. Esta última foi provocada depois que um garoto perguntou: “Tião, como faço para conquistar uma moleca? ” Foi a deixa para ele colocar questões de sexualidade na roda. Para resolver a falência da educação, Tião inventou uma UTI educacional, em que “mães cuidadoras” fazem “biscoito escrevido” e “folia do livro” (biblioteca em forma de festa) para ajudar na alfabetização. E ainda colocou em uso termos como “empodimento”, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: “Pode [fazer tal coisa], Tião? ” Seguida da resposta certeira: “Pode, pode tudo”. Aos 66 anos, Tião diz estar convicto de que a escola do futuro não existirá e que ela será substituída por espaços de aprendizagem com todas as ferramentas possíveis e necessárias para os estudantes aprenderem. “Educação se faz com bons educadores, e o modelo escolar arcaico aprisiona e há décadas dá sinais de falência. Não precisamos de sala, precisamos de gente. Não precisamos de prédio, precisamos de espaços de aprendizado. Não precisamos de livros, precisamos ter todos os instrumentos possíveis que levem o menino a aprender. ” Sem pressa, seguindo a Carta da Terra e citando Ariano Suassuna para dizer que “terceira idade é para fruta: verde, madura e podre”, Tião diz se sentir “privilegiado” de viver o que já viveu e acreditar na utopia de não haver mais nenhuma criança analfabeta no Brasil. “Isso não é uma política de governo, nem de terceiro setor, é uma questão ética”, pontua. Fonte: elaborado pela autora (2019), adaptado pelo DI (2019). 22 Uma pedagogia tradicional acolhe a concepção de criança descrita na BNCC? Ou a Pedagogia da Roda vivida por Tião Rocha agrega mais valor as crianças contemporâneas? Essa concepção de criança como ser que observa, questiona, levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila valores e que constrói conhecimentos e se apropria do conhecimento sistematizado por meio da ação e nas interações com o mundo físico e social não deve resultar no confinamento dessas aprendizagens a um processo de desenvolvimento natural ou espontâneo. Ao contrário, impõe a necessidade de imprimir intencionalidade educativa às práticas pedagógicas na Educação Infantil, tanto na creche quanto na pré- escola (BNCC, 2017, p. 31). Articulando a concepção de criança ao fomento educacional, cabe destacar que a BNCC é um documento mandatório que define os direitos e objetivos de aprendizagem das crianças. No entanto, ela não constitui um currículo, embora deva orientá-lo (DCNEB — Parecer CNE/CEB no 07/10). O currículo é formado pelo conjunto de situações cotidianas organizadas para as crianças em cada unidade de Educação Infantil com base em seu projeto pedagógico. Ele se concretiza por meio de “práticas educacionais organizadas em torno do conhecimento e em meio às relações sociais que se travam nos espaços institucionais, e que afetam a construção das identidades das crianças”, assim como define competência como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. 2.3 A criança da Educação Infantil no espaço educacional Em cada geração, a criança ocupou um lugar e, para cada concepção propriamente dita, ocupou um espaço. Por longa data, a Educação Infantil assumiu a infância pelo viés assistencialista. O Parecer CNE/CEB no 20/09 define: A criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de direitos que se desenvolve nas interações, relações e práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por ela estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades nos grupos e contextos culturais nos quais se insere. Nessas condições ela faz amizades, brinca com água 23 ou terra, faz de conta, deseja, aprende, observa, conversa, experimenta, questiona, constrói sentidos sobre o mundo e suas identidades pessoal e coletiva, produzindo cultura (BRASIL, 2009). A criança passou a ser reconhecida como produtora de cultura a partir do momento e do meio (família, escola, sociedade e políticas públicas), sendo reconhecido que estabelece relações entre o mundo, as pessoas e consigo mesma. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Uma boa leitura para ilustrar nossa reflexão acerca do assunto é o livro; Educação infantil. Pra que te quero?; De autoria de Carmem Maria Craidy e Gládis Elise P. da Silva Kaercher. Na Educação Infantil, a criança lê o espaço, interage e dá sinais significativos acerca das escolhas que os profissionais lhe oferecem. De acordo com uma tendência hipoteticamente tradicional, o pátio coberto como um espaço vazio, para cobrir de sol ou chuva, as crianças corriam sem parar, considerando que passaram metade da jornada sentadas realizando atividades cognitivas. Aprofundar a análise diante da cena significa avaliar as crianças como agitadas, que só sabem correr. Se neste mesmo pátio coberto for planejado contextos diferenciados, a criança vai parar de correr, vai ler o que o espaço descreve e passar a se relacionar com os ambientesque lhe foram propostos. O que parece complexo à lógica dos adultos é algo simples e prático para as crianças. As crianças compreendem a linguagem brincante e várias tendências educacionais inovadoras destacam que a criança se constitui no espaço. Ainda seguindo a lógica mandatória, o espaço educacional que acolhe a primeira infância dialoga com os eixos, interações e brincadeiras descritos na BNCC, de modo que vale a pena pensar o quanto os princípios éticos e políticos alicerçam um olhar especifico e diferenciado para as crianças da Educação Infantil. 24 Parafraseando Aurélio, com o intuito de fortalecer a criança como sujeito de direitos e envolver princípios, o primeiro impulso dado, ou o ato de principiar uma coisa, busca a origem, causa primária, o que constitui a matéria, o que vem a compor algo, fundamentando, assim, a opinião que irá exprimir uma conduta ou algum tipo de comportamento, ou seja, forma um preceito moral, estimula o raciocínio, que é base de uma arte, de uma ciência ou de uma teoria. O princípio das primeiras épocas da vida, envolvendo, na educação, a instrução, opiniões e convicções. Saiba Mais O CPCD é uma ONG, fundada em 1984, em BH/MG, com a missão de promover a educação popular e o desenvolvimento comunitário a partir da cultura. Se dedica na implementação e realização de projetos inovadores, programas integrados e plataformas de transformação social e desenvolvimento sustentável por meio de pedagogias alternativas e tecnologias sociais. A BNCC afirma como direito de aprendizagem que criança deve: “Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões”. Para garantir que a criança se expresse no espaço escolar, o meio deve priorizar um conjunto de princípios que afirmem o bem-estar e a qualidade de vida para as crianças. Éticos Políticos Estéticos Valorização da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades existentes no convívio. Asseguram à criança, desde o nascimento, os direitos da cidadania, o exercício da crítica e o respeito à ordem democrática. Valorização da sensibilidade, da criatividade e da ludicidade da criança, assim como da diversidade de manifestações artísticas e culturais. Fonte: elaborado pelo autor (2019), adaptado pelo DI (2019). A Educação Infantil vem compreendendo que a criança é um ser da experiência, considerando que com ou sem consciência do educador, as 25 crianças aprendem muito em suas relações com os espaços e interações. Segundo Horn (2004); O olhar de um educador atento e sensível a todos os elementos que estão postos em uma sala de aula. O modo como organizamos materiais e móveis, e a forma como as crianças e adultos interagem com eles são reveladores de uma concepção pedagógica (HORN, 2004, p. 15). O estado de pertencimento começa quando a criança se sente presente no espaço que compartilha, percebendo significados e construindo sentidos. Segundo Carvalho & Rubiano (2001, p.109): Brincar em um ambiente aconchegante, que retrate a identidade da criança e de livre acesso ao mesmo, é fundamental no seu desenvolvimento, visto que se estará promovendo a interação entre criança/criança, criança/educador e até mesmo respeitando os momentos em que a criança prefere brincar sozinha, pois só assim se respeitará a individualidade da criança (CARVALHO & RUBIANO, (2001, p. 109). Vocabula rio Estado de pertencimento: começa quando a criança se sente presente no espaço que compartilha significados e constrói sentidos. Sentido: é um termo utilizado para caracterizar o processo fisiológico de receber e reconhecer sensações e estímulos que são produzidos por meio da visão, audição, olfato, tato e paladar do ser humano. Significado: está relacionado às relações de reconhecimento, apreço; valor, importância, significação, significância. Portanto, o sujeito de experiências desmobiliza o perfil do adulto como centro das aprendizagens, de modo que o profissional, segundo o Referencial Curricular Para a Educação Infantil (1998, vol. 1, p. 28), se coloca: Como um meio de poder observar e constituir uma visão dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma em particular, registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e emocionais que dispõe (BRASIL, 1998,1, p. 28). 26 O desenvolvimento infantil integral é um grande desafio e parte de uma somatória de aspectos. As condições físicas, emocionais e sociais anunciam a necessidade de novos moldes curriculares para acolher a criança como sujeito histórico e de direitos. A passividade assistencialista ofertada nas instituições infantis reconhece que o desenvolvimento se dá nas interações, relações e práticas cotidianas. Curiosidade Sugerimos também, para ilustração do assunto, vários vídeos sobre os espaços educacionais; no seguinte site: https://criancaenatureza.org.br/ Viver a infância na Educação Infantil estabelece outra relação social com os adultos e crianças de diferentes idades, nos grupos e contextos culturais e nas articulações pedagógicas que são descritas como direto da criança. Conclusão da aula 2 Esta aula tramitou entre a expectativa do adulto e as relações no espaço. Incansavelmente, a BNCC anuncia que os direitos de aprendizagem da criança partem dos princípios éticos, políticos e estéticos. O momento educacional caminha em um terreno fértil para transformações dentro da Educação Infantil. O romantismo do jardim de infância sai de cena e entra a prospectiva de direitos da infância e descentralização da lógica do adulto como única determinação para o trabalho pedagógico. Ouvir, perceber e sentir as necessidades das crianças contemporâneas como sujeitos de direito e articuladoras de experiências. Atividade de Aprendizagem A partir do vídeo Tempo de Brincar – Instituto Alana - descreva o espaço que foi ofertado para as crianças. Quais os arranjos entre os pares? Quais os enredos que se constituem e como as crianças se relacionam entre elas? Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=NqK147AfJnA 27 Aula 3 - Os espaços amplos, contextos diferenciados e suas possibilidades de criação no desenvolvimento da Educação Infantil Apresentação da aula 3 O espaço será detalhadamente citado como contexto e possibilidade para a criança brincar, participar, expressar, conhecer-se e explorar a materialidade do espaço de dentro e do espaço de fora da escola de Educação Infantil. O destaque é a valorização das linguagens e dos campos de experiência, considerando uma nova organização curricular que coloca a criança como centro do processo educativo. 3.1 Apontamentos sobre o desenvolvimento infantil A abordagem em Reggio Emilia anuncia a mudança curricular com práticas descentralizadas do professor, com espaços articulados para ampliar os saberes da infância, aprofundando o conhecimento educacional em consonância e em relação aos documentos mandatórios do Brasil. O desenvolvimento integral da criança deve partir da valorização da cultura local e parafraseando Freire, “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Portanto, cabe destacar que a LDB, o RCNEI, as DCNEI e a BNCC transitam pelo território nacional com o intuito de imprimir a alma brasileira que reside em cada município, em cada escola, em cada profissional da educação. De maneira poética, os documentos resultam em um ideal comum para uma nação rica, bela e recheada de diversidade. Quando a escola se apropria da produção de conhecimentos por meio das contribuições teóricas acumuladasnas ciências, quando se dá voz e vez à complexidade da infância, a tendência do colegiado será buscar nas abordagens mais experientes um caminho para constituir o trabalho pedagógico em cada espaço escolar. Cabe destacar que a mudança educacional efetiva não se dá na cópia da prática em Reggio Emilia, mas no comprometimento de entender o processo de construção social em contextos. 28 Uma vez que a BNCC apresente os seis direitos de aprendizagem, as mudanças no espaço se consolidam quando as rotinas executoras de tarefas pedagógicas são substituídas por práticas do professor comprometido com as demandas, necessidades e os interesses da criança, para que a vivência se transforme em uma experiência e tenha, de fato, um propósito educativo. A criança, se vista como potente e criativa, gera enredos ativos dentro do contexto educacional. Os materiais não estruturados ampliam a dimensão para criar, transformar, contar, falar sobre o que vê na sua perspectiva da infância. Vale destacar que o espaço constitui o sujeito e, a partir do espaço, ele desenvolve competências. Na mesma perspectiva, as escolas devem manter uma capacidade de integração e “misturas” culturais que atravessam as tendências pedagógicas. Um sujeito nasce na família, acessa a cultura e a tradição local e, somado a um entendimento conceitual voltado ao multiculturalismo, torna-se um sujeito social. O impulso social atualmente conduz à postura coletiva que aparece como competência afirmativa na escola: a diversidade social e o acolhimento às diferenças. 3.2 O desenvolvimento infantil e as concepções de criança e infância Em cada geração, a influência social desenvolveu competências generalizadas nos sujeitos de cada época. Alguns “profissionais da educação ainda repetem: no meu tempo, a criança não tinha voz no meio familiar”. Na abordagem Reggio Emilia, a criança é portadora de cem linguagens, contrariando o impulso formativo do professor e como este professor interage com a tal mudança de papéis. A diversidade é a mistura de culturas que caracterizam a nação brasileira. Na perspectiva de interação tratada como ecologia, cabe muito bem a citação de Pagano (2017): A psicologia do desenvolvimento tem experimentando, nos últimos trinta anos, um período de avanços teóricos radicais, que resultaram na abordagem socioconstrutivista ou psicossocial, entre outras. Ou seja, as ciências aprofundando o olhar para social do sujeito reverberam mudanças no cotidiano escolar (PAGANO, 2017, p. 20). 29 Pagano (2017) descreve que: “essa abordagem, a infância é um período espacial para a construção do conhecimento e da identidade de cada ser humano”. Já Stella (2000) afirma que as pesquisas revelam o alto grau de complexidade do comportamento infantil e a manifestação de importantes competências relacionais, mesmo nas primeiras interações sociais da criança. Um modo funcional de refletir acerca do processo educacional parte da análise conceitual dos documentos educacionais mandatórios que respaldam as mudanças em cada tempo e as influências da cultura escolar e social. A diversidade cultural brasileira é riquíssima, porém, a extensão territorial distante, influencia consideravelmente o acesso e o entendimento das mudanças educacionais datadas até pela instância federal. A mudança trazida por documento ou proposta pedagógica demanda tempo para implantação, aprofundamento dos aspectos políticos e a articulação com a cultura local de cada território. O Brasil, sendo uma nação das diferenças culturais, étnicas e sociais, tem dificuldades observadas na educação, que se dão na falta de preocupação do sistema público em desconsiderar a importância de quantificar a implantação dos documentos por meio de indicadores de qualidade eficientes e próximos dos gestores e profissionais da escola. A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 1995, p. 21-22). Na extensão macro e micro das relações com a legislação, Fochi cita, nas suas palestras, uma expressão que se alastra como algo inadmissível para a educação brasileira: a estratégia NHP – “na hora pinta”. As tentativas de acerto e erro precisam ser planejadas, analisadas e avaliadas com ferramentas específicas e compartilhadas de modo que potencializem e valorizem as experiências acumuladas na educação brasileira. Em relação à Reggio Emilia, segundo Rinaldi (2014, p.22), a abordagem é uma experiência que abarca, nas palavras do filósofo francês Gilles Deleuze, “Uma crença de mundo” que promete esperança para uma cultura renovada de 30 infância e sobre a recuperação da escola como espaço público de importância crucial nas sociedades democráticas. O Brasil é uma pátria constituída pelo regime político em que a soberania é exercida pelo povo, as crenças e valores democráticos estão presentes como ativador das escolhas e condutas sociais. Na perspectiva da Carla Rinaldi, construir uma cultura de infância remete à escola como espaço público e demanda articular as políticas públicas a favor da emergente mudança, portanto, é fundamental o envolvimento dos gestores públicos. Malaguzzi (1999) afirma: é curiosa (embora não injustificada) a resistência da crença de que ideias e práticas educacionais só podem originar de modelos oficiais ou teorias estabelecidas. Em linhas gerais, o autor aponta que a obediência não descaracteriza um impulso para ler e lidar com a realidade local e com as características multiculturais de cada lugar. Assim, sendo cada documento mandatório, carrega uma concepção de criança que vale a pena revisitar, para traçar um caminho evolutivo e processual, a trajetória nacional na Educação Infantil: Nos RCNEI, o foco está no desenvolvimento integral da criança, mas ela ainda é vista como alguém que responde aos estímulos dados pelos adultos (no caso da escola, os professores). Já o objetivo é esclarecer o que deve ser ensinado nessa etapa da Educação Básica, em eixos que devem ser considerados de forma integrada: movimento, identidade e autonomia, conhecimento de mundo, artes visuais, música, linguagem oral e escrita, natureza/sociedade e matemática. Nas DCNEI, se amplia o olhar sobre a criança, considerando as interações sociais como condições essenciais para o aprendizado. Ao mesmo tempo, a criança está no centro do processo de aprendizagem, como sujeito das diferentes práticas cotidianas. Trata a criança com toda complexidade e potência e situa a Educação Infantil em relação ao desenvolvimento de princípios éticos, estéticos e políticos. Enquanto o objetivo fica em trazer mais subsídios sobre como a criança aprende, para que, a partir daí, possa se pensar em como garantir o que ela tem direito de aprender nessa fase. Assim, reforça a importância de que o aluno tenha acesso ao conhecimento cultural, preservando o modo de a criança aprender e considera, como eixos estruturantes, a interação 31 e a brincadeira, mas propõe a articulação das diferentes linguagens para a organização curricular e didática. Por fim, na BNCC, há a visão da criança como protagonista em todos os contextos de que faz parte: ela não apenas interage, mas cria e modifica a cultura e a sociedade. O objetivo parte de um significativo avanço no entendimento de como a criança aprende, oferece referências para a construção de um currículo, baseadas em direitos de desenvolvimento, e aprendizagem bem definidos. As diversas áreas de conhecimento e as diferentes linguagens são integradaspor meio dos Campos de Experiência. Parte-se do pressuposto de que a criança aprende por meio das experiências vividas no contexto escolar. Os documentos afirmam que a criança, vista como coadjuvante, passa a ser protagonista das relações na escola, mudando seu lugar na sociedade. Uma vez considerada como sujeito de direitos, segundo Fillipini (2009), a escola é vista como espaço de vida, acredita no potencial das crianças e tem dela uma imagem positiva: “Cada um de nós tem o direito de ser protagonista, de ter papel ativo na aprendizagem e na relação com os outros. Esse é o motor da educação”. A criança na perspectiva de sujeito se constitui na e pela interação com outras crianças, com os adultos, com espaços comuns e aspectos ideológicos que partem da Constituição Federal Brasileira, em que o reconhecimento da importância de proteger à infância parte da garantia dos seguintes direitos: atendimento em creches e pré-escolas às crianças, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de proteção de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Estes direitos foram ratificados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8069/1990, o qual considera a criança como sujeito de direitos, no artigo 100º, parágrafo único: [...] da condição da criança e do adolescente como sujeito de direitos: crianças e adolescentes são titulares dos direitos previstos nesta e em outras leis, bem como na constituição federal (BRASIL, 1990). A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada 32 sociedade tem seu regime de verdade, sua "política geral" de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro (FOUCAULT, 1993, p. 12). Portanto, trazer o lugar da criança como protagonista do espaço escolar faz sentido em função da garantia legal que lhe cabe. Conhecer a legislação atrai um caminho pedagógico qualificado com necessidade de ser quantificado para pontuar os avanços e as fragilidades diante dos direitos da infância. O modo brasileiro baseado na “lei de Gerson” se dissolve pela força da lei. E infringir direitos é crime. Saiba Mais “Lei de Gérson” é um princípio oriundo da cultura popular em que determinada pessoa ou empresa obtém vantagens de forma indiscriminada, sem se importar com questões éticas ou morais. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_G%C3%A9rson 3.3 O protagonismo infantil preenche o espaço educacional O protagonismo infantil, chancelado pela lei, lança um novo desafio para dentro do espaço escolar, pois os prédios quadrados e cimentados ainda são os cenários das creches e pré-escolas brasileiras. Mesmo que o prédio seja modernizado, se a mentalidade pedagógica partir da epistemologia escolástica, as crianças podem ser consideradas como uma página em branco. Para Refletir De um lado, temos as crenças, de outro a verdade; junta-se tudo isso e temos as crenças verdadeiras e, quando essas crenças verdadeiras se justificam, tornam-se conhecimento. Isso se chama epistemologia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_G%C3%A9rson 33 Epistemologia Fonte: elaborado pelo DI (2019). O espaço educacional é carregado por conceitos trazidos pelos adultos que interagem no cotidiano, investem na análise conceitual e refletem sobre o peso que as palavras trazem, de um modo consciente para preenchimento do espaço infantil. Na entrada da creche ou pré-escola, está descrito: “aqui a criança tem voz!!” Para uma frase ser afirmativa, a criança transita pela instituição de modo que o ambiente social garanta interação com outras crianças e adultos, e as práticas e vivências lhe propiciem conhecer novos conceitos, em interação com valores e formas de comportamento correspondentes e dignos da infância. Dentro da abordagem em Reggio Emilia, Rinaldi (2014, p.16) destaca que: O momento de agir e convocar todos os atores sociais que trabalham em espaços educativos para a defesa da infância através de um diálogo verdadeiro, transparente e transformador, conscientes das nossas escolhas e de quanto temos que aprender com as crianças. É o contrário da indiferença, do conformismo e da inteligência (RINALDI, 2014, p. 16). Em algum lugar estava escrito: “ninguém dá o que não tem”, portanto, a educação brasileira passa pela crise existencial entre a reprodução do conhecimento e a produção social de conhecer e se aproximar do conhecimento. O ato de transpor a criança como protagonista no espaço escolar remete à mudança das práticas pedagógicas e à organização de contextos de aprendizagem. Para Ferreira (2004), a origem etimológica do termo remete à 34 palavra protagonistés que, no idioma grego, significava o ator principal de uma peça teatral, ou aquele que ocupava o lugar principal em um acontecimento. Em tempo, vale destacar as contribuições de Piaget, segundo Rinaldi (2014 p. 28): Teorias e filosofias que hoje começaram a ser amplamente utilizadas em discussões sobre educação, mas que ainda não são visíveis e incorporadas às práticas pedagógicas, chegaram a ser bastante visíveis e incorporadas em Reggio durante algum tempo. (...) os educadores de Reggio se inspiraram no pensamento de Piaget, em especial na importância por ele atribuída à epistemologia e na sua visão de que o objetivo do ensino é oferecer condições de aprendizado (RINALDI, 2014, p. 28). Aprofundar os estudos em Reggio, por Loris Malaguzzi, transita nas relações entre a valorização das descobertas teóricas de Jean Piaget e perpassa pelo impulso entre a interdependência e a transgressão evolutiva mediada pelas influências da cultura local apontadas por Malaguzzi, sem desconsiderar inúmeros insights banhados por Lev Vygotsky, principalmente no caráter relevante entre linguagem e pensamento. E ainda, RINALDI (2014, p.28) descreve que Outra inspiração importante foi John Dewey, que via o aprendizado como um processo ativo e não uma transmissão pré-moldada de conhecimento. A composição e formação da abordagem em Reggio Emilia não se constitui por um só nome, mas sim por um coletivo onde autores e educadores reunidos pelo impulso social da cidade destruída pela guerra são abraçadas como ação social (RINALDI, 2014, p. 28). Diante de muitos aprofundamentos teóricos, em que diferentes pensadores semióticos focavam a importância da linguagem que Reggio constitui, na obra As cem linguagens das crianças, onde Rinaldi (2014 p. 340) afirma: E há algo mais que é pleno de democracia, a teoria das cem linguagens das crianças, que deveria ter sido mais desenvolvida, por que é fantástica. (..) acho que o número cem foi escolhido para ser bem provocador, a fim de reivindicar para todas essas linguagens não só a mesma dignidade, mas também o direito de expressão e comunicação de umas com as outras (Rinaldi, 2014, p. 340). Portanto, entre muitas contribuições que a abordagem em Reggio traz, perpassa pela maneira generosa de olhar para as linguagens e manifestações artísticas, assumindo um caráter pedagógico que qualifica a aquisição de conhecimento, desestabilizando a crença de que a arte não mobiliza 35 conhecimento. Contextualizando a abordagem em Reggio e a implantação da BNCC, cabe relacionar aos princípios estéticos o sentido da “valorização da sensibilidade, da criatividade e da ludicidade da criança, assim como da diversidade de manifestaçõesartísticas e culturais” (BRASIL, 2017). Para Refletir A abordagem em Reggio Emilia evidencia que a diferença da subjetividade reforça o valor de cada indivíduo e por isso zela por um modelo educativo que dê conta de todas as particularidades dos estudantes e das suas famílias. A valorização das linguagens, o investimento nas experiências estéticas garantidas como princípio norteador do documento oficial, remetem à organização de espaço escolar influenciada pela multiculturalidade brasileira. Vale destacar que para saber sobre a cultura estabelecida em um determinado espaço escolar, o melhor modo é perguntar para as crianças e deixar que elas façam perguntas (FORTUNATI, 2009, p. 47). O aspecto mais revolucionário da proposta acontece: [...] por uma ideia de criança sociável, capaz de se encontrar e se confrontar com outras crianças para construir novos pontos de vista e conhecimentos. [...] Por uma ideia de criança curiosa, que aprende a conhecer e a entender não porque renuncie, mas porque nunca deixa de se abrir ao senso do espanto e da maravilha” (FORTUNATI, 2009, p. 47). Importante ECOLOGIA: Os organismos da Terra não vivem isolados, interagem uns com os outros e com o meio ambiente. Ao estudo dessas interações chamamos acologia. A palavra ecologia vem de duas palavras gregas: Oikós, que quer dizer casa, e logos, que significa estudo. Ecologia significa, literalmente, a ciência do habitat. Fonte: www.sobiologia.com.br/conteudos/bio_ecologia/ecologia.php 36 Em um mundo fragmentado, as influências sociais perpassam por ideias que dividem, sedimentam e criam contextos fechados e isolados. Fato é que as crianças se alimentam dos fragmentos da teoria adultocêntrica que afeta e se mistura às iniciativas mais leves que as crianças têm de ver a vida. Isso se dá em qualquer tempo, pois cada tempo geracional constitui sua própria cultura, e Corsário (2001) potencializa a produção da cultura, que pode ser vista de maneira ecologicamente polida e funcional para a vida contemporânea: [...] a produção infantil de cultura de pares não é uma questão de simples imitação ou apropriação direta do mundo adulto. As crianças se apropriam criativamente de informações do mundo adulto para produzir suas próprias culturas de pares. Tal apropriação é criativa no sentido de que estende ou desenvolve a cultura de pares; as crianças transformam as informações do mundo adulto a fim de responder às preocupações de seu mundo. Dessa forma, contribuem simultaneamente para a reprodução da cultura adulta (CORSARO, 2011, p. 53). Para tanto, a criança protagonista não pode ser tratada como a estrela do palco da escola, pois a mudança necessária para considerar uma educação de qualidade acontece de modo que revele a equidade, de modo que os profissionais estejam envolvidos dentro das descobertas pedagógicas com consciência e entendimento de que os desenvolvimentos cognitivos, afetivos e sociais são para todos os envolvidos no processo formativo de sujeitos. Vocabula rio Equidade: essa palavra tem sua origem na palavra em latim aequitas; devemos utilizar este substantivo sempre que quisermos referir à capacidade de apreciar e julgar com retidão, imparcialidade, justiça e igualdade, pois prima por analisar justa e imparcialmente cada caso, para que não haja desigualdades e injustiças. A BNCC, com a intenção do trabalho com eixos que articulem interações e brincadeiras, com foco em princípios e direitos de aprendizagens, mobiliza conhecimentos, valores e atitudes que alcançam competências. A escola como espaço formativo não faz milagres pedagógicos, pois, como cita o ditado africano, “é preciso uma aldeia para educar uma criança”. 37 Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Outra boa leitura para ilustrar, ainda mais, nossa reflexão acerca do assunto é o livro: Diálogos com Reggio Emilia, de autoria de Rinaldi. Ví deo Para educar uma criança, é preciso uma aldeia inteira | Tião Rocha Trecho da palestra "O ato de educar: conectando bibliotecas e comunidades", realizada durante o 8º Seminário Biblioteca Viva. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=qA_R6Pzc0_E É necessário reiterar que Loris Malaguzzi foi, de modo poético, o escriba de um movimento social, onde os mesmos autores da sociologia, da filosofia e da psicologia foram lidos com olhos reflexivos em grupos de educadores, e ainda continuam construindo uma história educacional que extrapolou o território italiano e provoca, nos espaços escolares do mundo, a vontade de reescrever muitos tratados da Educação Infantil. O grande aprendizado dentro das contribuições em Reggio Emilia parte do convite a todos os adultos envolvidos na formação da infância: olhar para o real estabelecido pelos documentos mandatórios e escrever de maneira autoral o currículo local que assegure as aprendizagens significativas às crianças e essências descritas na BNCC. Conclusão da aula 3 Os espaços amplos e contextos diferenciados mudam a partir do referencial teórico, bem como são sujeitos de mudanças quando os adultos https://www.youtube.com/watch?v=qA_R6Pzc0_E 38 percebem a importância de as crianças assumirem o lugar de protagonistas da escola, creche ou pré-escola. As crianças dizem muito sobre o espaço e os modos como são tratadas constitui uma nova cultura social. Quando a infância é excludente, a criança reage de uma forma, se acolhida e reconhecida como sujeito de direitos, a formação de identidade e seus saberes resultam em diferentes possibilidades de criação e o desenvolvimento integral da criança na Educação Infantil; Analisamos uma abordagem em Reggio que provoca o movimento de retomar as experiências acumuladas pelos documentos educacionais oficiais, ditos mandatórios, e, pelo viés das concepções e conceitos trazidos nos textos, refletir os modos como a Educação Infantil no Brasil passa pela crise conceitual. Uma palavra carrega um discurso e uma ação mobiliza uma comunidade inteira. Atividade de Aprendizagem Em um contexto amplo, descreva características culturais da cidade, personagens históricos, lugares de memórias para formação local e, se puder, visite estes espaços ou as memórias com sentimento de pertencimento e orgulho da sua formação humana. O mesmo exercício pode ser feito na sua casa. Aula 4 - A atmosfera dos espaços escolares Apresentação da aula 4 Nesta aula abordaremos a atmosfera escolar por meio da perspectiva de que as escolhas pedagógicas repercutem significativamente na estrutura e organização da escola. A abordagem em Reggio Emilia constrói uma trajetória sólida a respeito de espaços e ambientes de aprendizagens na primeira infância, em que a atitude básica do docente não está determinada somente nos resultados, mas caminha na perspectiva de observar, refletir e retomar as ações das crianças no espaço. A atitude do docente incentiva e facilita o processo de aprendizagem das crianças, sem distanciar o fato de o adulto amparar e mediar as relações 39 cotidianas das crianças. Um adulto presente no espaço escolar garante, no tempo de permanência da criança na escola, um ambiente com materiais e objetos que viabilizam a pesquisa para a criança conhecer mais sobre si, o outro e o entorno. 4.1 Estrutura e organização dos centros; o espaço e o ambiente no método Reggio Emilia A organização de um espaço escolar remete a competências específicas dos adultos, pois deve levar em consideração as necessidades das crianças atrelando o mobiliário e os materiais existentes na escola. Apreciar os espaços inovadores na internet inspira e provoca desejos no profissional da educação, mas a realidade chama a presença do adulto em organizar a escola e/ou a sala de referência com criatividade e adequações. De maneira efetiva, as crianças aprendem a valorizaro espaço. Na organização, há um esforço verdadeiro do adulto articulador das mudanças. Comumente, os enxovais das escolas são padronizados e pouco significativos. Quem faz a diferença diante do padrão é a ação do professor que pode organizar ambientes favoráveis à sua demanda de trabalho. O belo se encontra nas coisas ou nas ações mais simples. A estética espacial não pode ser vista somente na perspectiva do adulto, pois um espaço excessivamente colorido para as crianças com necessidades especiais é algo que fere e incomoda. A neutralidade em um espaço sugere uma ação democrática e generosa para os atores sociais da escola. Em uma escola de Educação Infantil, os aromas, as cores e os sabores são sentidos intensos e servem como meio de acesso às crianças na integralidade da infância. As crianças pequenas demandam de cuidados específicos, mas, ao mesmo tempo, precisam de espaço para agir na vida cotidiana. Pensar na criança, um a um, é um equívoco fatal para a infância. Nesse sentido, é como pensar hipoteticamente uma escola feita de uma criança para um professor. A beleza de uma escola de infância se dá na diversidade social das famílias, nas experiências dos professores articulados em uma gestão que faz cada ano ser um ano diferente, em que os saberes acumulados no ano 40 anterior alimentam a potência da escola em inovar e querer mais e mais aprender com as crianças. 4.2 Espaços relacionais e a atmosfera escolar As cidades são muito esparsas, devido à estrutura e organização, e, de modo simplista, alcançam a primordial capacidade de se relacionar entre elas e estabelecer uma conexão. Nesse sentido, olhar para Reggio Emilia como cidade que legitima a busca da criança ocupando o papel de protagonista e formatando uma nova cultura de infância, articula conexões com as diversas cidades brasileiras e suas possibilidades. Vocabula rio Esparsas: derramado, espalhado, sentido de grandeza, extensão; por ser tão complexo e esparso, houve a necessidade de um Novo Código. Contextualizar a cidade Reggio Emilia, é uma forma de apoiar as conexões das abordagens dela, pois quando se conhecem os aspectos sociais e históricos, aguçam-se os sentidos para compreender os fatores positivos das experiências, sem buscar replicar, em um espaço, o que não produziu a mesma história. Era uma vez, moradores da pequena cidade de Reggio Emilia, no norte da Itália, que passaram pela dolorosa experiência da II Guerra Mundial. Na destruição pós-guerra, apareciam, nos escombros e na perda de entes queridos que se foram lutando pela pátria, sentimentos de reconstrução. A comunidade local assumiu a responsabilidade de reconstruir as vidas e uma parcela dos cidadãos decidiu, então, que a melhor forma para isso era reconstruir o tecido social, cultural e político da comunidade, que, em seu começo, se deu com a construção de uma escola com as próprias mãos. Para Malaguzzi (1999, p. 66), “a Segunda Guerra Mundial, ou qualquer guerra, em seu trágico absurdo, pode ter sido uma forma de recomeçar do zero, viver e trabalhar para o futuro”. Este desejo atinge uma pessoa quando a guerra http://www.aprendiz.org.br/tag/comunidade 41 finalmente termina e os símbolos da vida reaparecem com uma violência igual àquela do tempo da destruição. Saiba Mais A Associação Internacional de Cidades Educadoras (Fundada em 1994 e tendo como base a Carta de Cidades Educadoras, Declaração de Barcelona, 1990) auxilia governos, prefeituras, secretarias e cidades a implementarem medidas voltadas ao desenvolvimento integral de seus habitantes, tendo a educação, a equidade e os direitos humanos como fundamentos. Portanto, Horn (2004) afirma que “o espaço não é neutro” e, para Reggio Emilia, na década de 40, a intenção coletiva de assumir o vazio da guerra de modo efetivo e consciente transformou a cidade em excelência no campo da educação. O idealizador da proposta foi Loris Malaguzzi, que envolveu o grupo de educadores a aprofundar os estudos em Piaget e Vygotsky de maneira crítica e honrosa, a qual, em 1970, segundo Rinaldi (2014, p. 27), que a experimentação gerou a adoção de outra concepção: a de que o aprendizado das crianças se situa em um contexto sociocultural e se dá por meio de inter-relações, que requerem a construção de um ambiente que permita um movimento máximo de interdependência e interação”. Curiosidade Loris Malaguzzi nasceu em Correggio, em 23 de fevereiro de 1920, e se formou em Pedagogia na Universidade de Urbino. Em 1940, ele começou a ensinar nas escolas primárias e, entre 1941-1943, em Sologno, uma cidade perto de Reggio Emilia, no município de Villa Minozzo. Fonte: https://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Biografia-De-Loris -Malaguzzi/78587749.html Em uma dimensão social, Reggio Emilia é a somatória socioconstrucionista, onde a perspectiva de organizar o espaço sugere que as mudanças estejam em uma esfera maior para considerar maior abrangência. (Barbosa; Horn, 2004, p. 67). 42 Organizar o cotidiano das crianças da Educação Infantil pressupõe pensar que o estabelecimento de uma sequência básica de atividades diárias é, antes de mais nada, o resultado da leitura que fazemos do nosso grupo de crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades. É importante que o educador observe o que as crianças brincam, como estas brincadeiras se desenvolvem, o que mais gostam de fazer, em que espaços preferem ficar, o que lhes chama mais atenção, em que momentos do dia estão mais tranquilos ou mais agitados. Este conhecimento é fundamental para que a estruturação espaço-temporal tenha significado. Ao lado disto, também é importante considerar o contexto sociocultural no qual se insere e a proposta pedagógica da instituição, que deverão lhe dar suporte (BARBOSA; HORN, 2004, p. 67). Segundo Pagano (2017), “estas teorias têm legitimado a grande importância que, atualmente, as creches e pré-escolas atribuem ao contexto, um espaço físico e relacional, que permite o desenvolvimento infantil avançar entre a consolidação do conhecimento e a descontinuidade criada pela novidade e curiosidade. A criança só percebe o outro por meio do convívio, quando estão envolvidas em um ambiente propício à prática, com situações de pesquisa e conversas que incentivem as trocas sobre si e sobre os outros. Valorar a postura crítica de um sujeito remete diretamente aos modos como foi tratado quando criança. O desafio tramita em investir no processo de construção da identidade individual em consonância com os aspectos coletivos com suas múltiplas particularidades. É preciso oferecer espaços com propostas diferenciadas, situações diversificadas, que ampliem as possibilidades de exploração e ‘pesquisa’ infantis. As crianças realmente ampliaram suas possibilidades de exercitar a autonomia, a liberdade, a iniciativa, a livre escolha, quando o espaço está adequadamente organizado. Percebi, também, que poderia ficar mais livre para atendê-las individualmente, conforme suas necessidades, para observá-las e conhecê-las melhor. Dessa forma, ainda, poderia me envolver com um pequeno grupo de crianças, propondo uma atividade específica, como na situação relatada anteriormente, quando me pus a brincar de carro com uma caixa de papelão com algumas crianças, enquanto outras se envolviam com diferentes objetos e lugares na sala (THIAGO, 2006, p. 60). Horn (2004) ainda diante dessa esfera destaca: Desse modo, cabe ao adulto organizar sua prática junto às crianças de modo que as relações do grupo possam ocorrer longe das coerções de um disciplinamento centrado nas normas ditadas pelo adulto. As crianças necessitam de espaço para exercerem sua atividade e para contestarem o que desaprovam. Ao mesmo tempo, é necessário ter 43 clareza de que, nos primeiros tempos de vida, o indivíduo apresenta reações
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