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Lombociatalgia decorrente da Hérnia de Disco| Larissa Gomes de Oliveira. 1 DOR EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, DIAGSNÓSTICO E TRATAMENTO DA LOMBOCIALTAGIA DECORRENTE DE HÉRNIA DISCAL. A dor lombar pode se irradiar para a face posterior das coxas de um ou dos dois lados. Quando a dor ultrapassa o joelho recebe o nome de lombociatalgia ou ciática e é um indício do envolvimento de uma raiz nervosa. Cerca de 60% dos casos essa dor irradia para os membros inferiores e é uma dor que inicia na região lombar e que acompanha o trajeto do nervo ciático. Muitas vezes é acompanhada de formigamento, choques e até perda de força na perna ou no pé. FISIOPATOLOGIA A lombalgia é definida como dor e desconforto localizados entre a margem costal e a prega glútea inferior, com ou sem dor na perna. A lombociatalgia surge quando esta dor se irradia para as nádegas e um ou ambos os membros inferiores. As lombalgias e lombociatalgias podem ser primárias ou secundárias, com e sem envolvimento neurológico, sendo classificadas em: 1. mecânico-degenerativas; 2. não mecânicas localizadas: inflamatórias, infecciosas e metabólicas; 3. psicossomáticas; 4. como repercussão de doenças sistêmicas CAUSAS MECÂNICO-DEGENERATIVAS Na coluna vertebral existe um equilíbrio mecânico entre o segmento anterior da unidade anátomo funcional (corpos vertebrais e disco) e o segmento posterior (articulações interapofisárias ou zigoapofisárias). Quando ocorre a ação de forças mecânicas sobre essas estruturas, pode haver um desequilíbrio levando à dor por estimulação direta de terminações nervosas aí existentes, ou pela liberação de substâncias do núcleo pulposo que desencadeiam dor e processo inflamatório pela degeneração do disco intervertebral. Todas as estruturas do segmento motor podem constituir causas de dor. Porém, há evidências de que o ponto central seria o disco intervertebral (85% dos casos) – discopatias (que é uma alteração caracterizada pelo desgaste (desidratação) dos discos intervertebrais, que são os nossos amortecedores) – cuja essandegeneração aumentaria a carga nas facetas articulares e alteraria a distribuição de cargas no platô vertebral e osso subcondral. O disco degenerado tem Lombociatalgia decorrente da Hérnia de Disco| Larissa Gomes de Oliveira. 2 sua capacidade de nutrição pela difusão passiva reduzida, levando a um acúmulo de íon hidrogênio que estimula receptores químicos de dor, situados na parte externa do anel fibroso. As discopatias compreendem as fissuras, rupturas, abaulamentos, diminuição da altura do disco e hérnias que podem ser protrusas e extrusas. Essas alterações degenerativas do disco intervertebral acrescentam um esforço adicional nas outras estruturas de suporte da coluna como as articulações das facetas, ligamentos e cápsulas articulares. Consequentemente, espessamento da membrana sinovial e cápsula articular, formação de tecido cicatricial, diminuição do espaço articular nas articulações facetárias, formação de osteófitos e esclerose do osso subcondral. Essas alterações são responsáveis pela dor em 10% a 15% dos pacientes com lombalgia crônica e lombociatalgia. CAUSAS NÃO MECÂNICAS ➔ INFLAMATÓRIAS As principais causas são as espondiloartropatias soronegativas, como a espondilite anquilosante, síndrome de Reiter, espondilite psoriásica e as espondiloartropatias associadas a doenças intestinais (doença de Chron, retocolite ulcerativa inespecífica e doença de Whipple). Nas espondiloartropatias soronegativas, que são doenças reumáticas inflamatórias, é característica a exacerbação matinal dos sintomas; aqui, a fisiopatogenia da dor é influenciada pelo ritmo circadiano da secreção do cortisol e pelo sistema nervoso autônomo. ➔ INFECCIOSAS Espondilodiscites infecciosas em que é um processo inflamatório envolvendo disco e vértebras adjacentes. Também pode estender-se para dentro do espaço epidural e partes moles paravertebrais. O corpo vertebral é mais comumente afetado, mas quaisquer elementos da vértebra podem ser envolvidos por contiguidade. ➔ METABÓLICAS Osteoporose, osteomalácia e hiperparatireoidismo, originando fraturas vertebrais que consequentemente levarão a transtornos biomecânicos nas unidades anátomo-funcionais provocando a lombalgia ou lombociatalgia. Essas lesões e fraturas ocorrem devido à fragilidade vertebral consequente à menor densidade óssea. Esse tipo de lesão geralmente ocorre após quedas, embora possam surgir após mínimo ou nenhum trauma. PSICOSSOMÁTICAS Causas emocionais que podem levar à lombalgia e lombociatalgia ou agravar outras causas já existentes, fazendo com que potencialize a dor. COMO REPERCUSSÃO DE DOENÇA SISTÊMICA Lombociatalgia decorrente da Hérnia de Disco| Larissa Gomes de Oliveira. 3 Doenças sistêmicas que podem acometer estruturas intra e extra-raquideanas, a fibromialgia e a síndrome miofascial que podem causar contraturas musculares e hipóxia tecidual gerando dor. Quanto à sua duração, podem ser classificadas em: 1. aguda: até sete dias; 2. subaguda: de sete dias até três meses; 3. crônica: quando os sintomas duram mais de três meses. ETIOLOGIA As principais etiologias da lombociatalgia são: PROTRUSÃO DISCAL Cerca de 90% dos casos de ciatalgia lombar estão relacionados a um processo inflamatório sobre a raiz nervosa causada pela reação inflamatória consequente ao aumento de pressão intradiscal e protrusão do disco intervertebral no interior do canal vertebral. A protrusão de um disco intervertebral pode levar a uma radiculopatia (que é caracterizada pela lesão ou comprometimento de um ou mais nervos e suas raízes nervosas que passam pela coluna vertebral, levando ao surgimento de sintomas como dor, formigamento, sensação de choque e fraqueza dos membros, como acontece na dor pelo comprometimento do nervo ciático, por exemplo). Aproximadamente dois terços ou mais de todas as lesões compressivas das raízes envolvem as raízes lombossacrais. As raizes L5 e S1 são as mais comumente envolvidas. Várias radiculopatias lombossacrais podem ocorrer com a protrusão de um único disco intervertebral comprimindo as raízes durante seu curso para a cauda equina. As polirradiculopatias lombossacrais também podem resultar de uma estenose vertebral, e, em alguns raros casos, da protrusão lateral do disco, mas o envolvimento bilateral geralmente é assimétrico. HÉRNIA DE DISCO Esse problema ocorre quando o núcleo gelatinoso de um disco vertebral se desloca por uma abertura no invólucro exterior mais rígido. Algumas hérnias de disco não causam sintomas. Outras podem irritar os nervos próximos e resultar em dor, dormência ou fraqueza em um braço ou uma perna. Nem todos os discos precisam de intervenção. Quando necessário, o tratamento inclui medicamentos, fisioterapia e, possivelmente, cirurgia. Condição em que além do processo inflamatório sobre a raiz nervosa há uma compressão mecânica dessa raiz pelo disco intervertebral, com prevalência de 5%. Tal condição tem maior incidência entre a terceira e quarta décadas de vida. Lombociatalgia decorrente da Hérnia de Disco| Larissa Gomes de Oliveira. 4 Isso, pois nessa fase da vida o processo degenerativo do disco intervertebral encontra-se em um momento em que ainda há pressão no interior do núcleo pulposo, porém o ânulo fibroso já apresenta redução de sua capacidade de resistir a essa pressão interna. Com isso ocorrem rupturas no ânulo fibroso e consequente compressão de uma raiz nervosa no interior do canal vertebral ou no forâmen intervertebral. Essa doença é a que mais provoca dores nas costas e alterações de sensibilidade para coxa, perna e pé. O disco vertebral é uma estrutura de fibrocartilagem que serve para evitar o contato direto entre uma vértebra e outra, e amortecer o impacto gerado pelos saltos, por exemplo. Assim, uma lesão discal, ou discopatia, como tambémé conhecida esta condição, prejudica a função do próprio disco vertebral e ainda pressionam outras estruturas importantes da coluna, como a raiz nervosa ou a medula espinhal. TIPOS DE HÉRNIA DE DISCO O início de uma lesão discal pode acontecer quando a pessoa não tem uma boa postura, faz levantamento de pesos sem dobrar os joelhos e não ingere cerca de 2 litros de água por dia. Nesse caso, apesar de não ter formado uma hérnia, o disco já está danificado, tem menor espessura, mas ainda mantém seu formato original: oval. Se a pessoa não melhorar sua postura e seus hábitos de vida, em poucos anos, provavelmente ela irá desenvolver uma hérnia de disco. A hérnia ocorre quando o disco vertebral perde seu formato original, deixando de ser oval, formando um abaulamento, que é uma espécie de 'gota', que pode pressionar a a raiz do nervo ciático, por exemplo. Assim, os 3 tipos de hérnia de disco que existem são: Hérnia de disco protusa: é o tipo mais comum, quando o núcleo do disco permanece intacto, mas já há perda da forma oval; Lombociatalgia decorrente da Hérnia de Disco| Larissa Gomes de Oliveira. 5 Hérnia de disco extrusa: quando o núcleo do disco encontra-se deformado, formando uma 'gota'; Hérnia de disco sequestrada: quando o núcleo está muito danificado e pode até mesmo se dividir em duas partes. A hérnia ainda deve ser classificada de acordo com a sua localização exata, podendo ser póstero ou póstero lateral. Uma hérnia de disco póstero lateral pode pressionar o nervo causando sensação de formigamento, fraqueza ou perda da sensibilidade num braço ou numa perna, mas quando existe uma hérnia de disco posterior, a região pressionada é a medula espinhal e por isso a pessoa pode apresentar estes sintomas nos dois braços ou nas duas pernas, por exemplo. O diagnóstico da hérnia de disco pode ser feito através da observação dos sintomas e do exame físico, mas também pode ser confirmado por exames, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética, que servem para avaliar o disco, sua espessura, a localização exata da hérnia e que tipo de hérnia a pessoa tem. O exame de raio X não mostra claramente a hérnia mas pode ser suficiente para mostrar o alinhamento da coluna e a integridade ou destruição das vértebras e por isso, por vezes o médico solicita inicialmente o raio X e com o resultado deste, solicita a ressonância ou tomografia para avaliar a gravidade. Ao confirmar que existe uma ou mais hérnias de disco, o médico pode indicar o tratamento que pode ser feito com fisioterapia, Pilates, RPG, osteopatia, ou cirurgia. Normalmente a cirurgia é a última opção de tratamento, ficando reservada para os casos onde a pessoa não apresenta melhora dos sintomas com as outras formas de tratamento ESTENOSE DO CANAL VERTEBRAL A estenose do canal vertebral é um estreitamento de seu diâmetro, que, na coluna cervical e na dorsal pode causar compressão medular, associada ou não à compressão radicular. Na coluna lombar pode causar compressão de uma ou mais raízes da cauda equina. Condição que pode ser congênita, na minoria dos casos e degenerativa, na maioria, em que o diâmetro do canal vertebral está entre 10 e 12mm secundário ao espessamento ósseo das lâminas e facetas articulares, hipertrofia do ligamento amarelo, ossificação do ligamento longitudinal posterior e hiperlordose. Tal condição está relacionada à compressão nervosa mecânica e também a insuficiência vascular e isquemia relativa. SÍNDROME PÓS-LAMINECTOMIA Cerca de 10 a 40% dos pacientes que são submetidos a cirurgia de coluna lombar para alívio de dor, independente da técnica cirúrgica utilizada, evoluem com dor crônica neuropática no membro inferior que é responsável por perda da qualidade de vida. Tal condição tem etiologia multifatorial e está relacionada a eventos pré, intra e pós-operatórios. Lombociatalgia decorrente da Hérnia de Disco| Larissa Gomes de Oliveira. 6 SÍNDROME DO PIRIFORME Cerca de 6% dos casos de ciatalgia lombar podem ser relacionados à síndrome do piriforme. Tal condição está relacionada à compressão do nervo ciático pelo músculo piriforme ou mesmo pelo tendão desse músculo no assoalho pélvico. Isso ocorre quando há hipertrofia, inflamação ou variação anatômica do músculo. QUADRO CLÍNICO O diagnóstico preciso do padrão de dor é essencial para se obter bom resultado terapêutico, visto que o fármaco deve ser específico para cada tipo de dor: nociceptiva, neuropática ou mista. A identificação do componente neuropático depende de anamnese e exame físico minuciosos, além dos exames complementares. O exame físico deve incluir inspeção estática e dinâmica, marcha, manobras especiais provocativas, palpação (partes ósseas e partes moles), além da avaliação de pontos-gatilho (PG) miofasciais. Os PG estão presentes em 85% dos pacientes avaliados em centros de dor e é uma das principais causas de dores crônicas. O exame neurológico deve avaliar motricidade, sensibilidade (tátil, dolorosa, térmica e vibratória) e reflexos tendíneos profundos no tendão patelar (L4) e Aquileu (S1). A manobra provocativa mais utilizada é o teste da elevação da perna estendida, que é considerada positiva para comprometimento do nervo ciático quando reproduz os sintomas radiculares em uma elevação entre 35° e 70°. TRATAMENTO A lombociatalgia se resolve frequentemente sem tratamento, na maioria dos casos. Inúmeras análises sistemáticas compararam várias formas de terapia para dor ciática, mas a validade dos estudos é limitada. O tratamento inicial mais comum é o controle da dor por meio de medicação e fisioterapia. O tratamento pode ser do tipo conservador, que engloba o repouso e o uso de medicamentos, ou o tratamento cirúrgico. O repouso é altamente eficaz nos casos de lombociatalgias; contudo, ele não pode ser longo, pois o repouso em excesso pode causar efeitos negativos sobre o aparelho locomotor. CONSERVADOR MEDICAMENTOS ➔ Analgésicos Não Opióides 1. Paracetamol (acetaminofen) 500mg de 4 a 6 vezes ao dia, nas dores leve a moderada. Cautela em pacientes com hepatopatias e associado a antiinflamatório não hormonal. ➔ Dipirona 500mg até 4 vezes ao dia. (Analgésicos Opióides). Lombociatalgia decorrente da Hérnia de Disco| Larissa Gomes de Oliveira. 7 Usados em lombalgia aguda e lombociatalgia por hérnias discais resistentes a outros analgésicos, fraturas e metástases. 1. Fosfato de codeína 30mg 3 a 4 vezes ao dia 2. Cloridrato de tramadol 100 a 400mg por dia 3. Oxicodona 5 a 10mg, 3 a 4 vezes ao dia. 4. Sulfato de morfina: indicação restrita a casos graves ➔ Glicocorticóides Indicados nos casos de lombociatalgia aguda. ➔ Relaxantes Musculares Podem ser associados aos AINHs mostrando melhor resultado do que quando usados isoladamente. 1. Ciclobenzaprina: 5 a 10 mg/dia, relaxante muscular de ação central estruturalmente relacionados com os antidepressivos tricíclicos. 2. Carisoprodol: 350 mg/dia, medicação de uso em curto prazo. ➔ Antidepressivos Indicados nas lombalgias crônicas com componente psicossomático e nas fibromialgias. Exercícios (Base Fisiológica) O exercício aumenta o nível de ß endorfina no sangue periférico e diminui o pH no interior do disco intervertebral por aumentar a concentração de O2, diminuindo assim, o estímulo doloroso. Na fase aguda das lombalgias e lombociatalgias os exercícios devem ser considerados com cautela, sendo, no entanto, importantes para o tratamento da lombalgia crônica, podendo ser feitos: 1. Alongamento 2. Relaxamento 3. Exercícios isométricos de quadríceps e tríceps. Lombociatalgia decorrente da Hérnia de Disco| Larissa Gomes de Oliveira. 8 REFERÊNCIAS ALVES NETO, Onofre et al.. Dor: princípios e prática. Porto Alegre: Editora Artmed, 2009.
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