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1 Psiquiatria | @soumedrotina | Arêtuzya O. Psicopatologia Entrevista Psiquiátrica É o conjunto de procedimentos psicoterápicos e semiológicos que representam um meio para o diagnóstico e tratamento de doentes mentais ou verificação de higidez psíquica. A psicopatologia estuda os fenômenos psíquicos conscientes e patológicos que ocorrem no ho- mem. A propedêutica psiquiátrica se faz pela anamnese – igual a semiologia padrão; e pelo exame físico – difere do padrão, pois terá suas particularidades! Anamnese A postura do médico deve ser acolhedora e não julgadora, deve estimular o paciente a falar es- pontaneamente sobre seu problema, o tempo da consulta varia de patologia para patologia, mas nem sempre são consultas rápidas, o ambiente e o médico devem passar segurança ao paciente. No início, é importante que o paciente fique só, as pessoas não devem falar por ele, depois até pode, mas no início é crucial que ele fale sozinho, é um meio de “se abrir” com o médico. Com familiar: paciente deve estar presente tam- bém nessa hora, checar as informações duvido- sas, dados devem ser bem objetivos. Caracterização dos sintomas: os 3 pilares são >> tempo, intensidade e impacto que isso dá na vida social e laboral (trabalho) do paciente. • Início gradual ou abrupto? • Oscila ao longo do dia? • Qual a intensidade? • Afetam suas atividades diárias? • Você se torna uma pessoa muito diferente de seu estado habitual. Outras informações importantes de serem ques- tionadas: • Antecedentes psiquiátricos (internações tratamento) • Comorbidades • Sintomas físicos que acompanham os psí- quicos. • Uso de álcool e/ou drogas • Se tem ideação suicida/tentativa de suicí- dio • História de heteroagressividade • DNPM e dados de infância • Dados de personalidade pré-mórbida → como são seus aspectos produtivos, suas relações sociais e afetivas Exame Psíquico Também chamado de Exame de Estado Mental (EEM); Este é o ponto principal da consulta, muitas vezes ele não inicia somente após a anamnese, e sim, já na entrada do paciente ao consultório. Consiste em um exame bem observacional, e a maior parte das informações não requer questio- namento direto, serão obtidas por observação de comportamento. Há diversos componentes no exame, se colocar uma alteração em cada ponto dele, no final você consegue dá o diagnóstico do paciente (top né não?) Apresentação Avalia a aparência e comportamento, é a descri- ção geral de como o paciente parece e age du- rante a entrevista. Itens observados: vestimenta, higiene pessoal, maquiagem, expressão facial ... Atitude A pergunta a ser respondida é: como o paciente se porta diante do examinador? O paciente pode ser descrito como cooperativo, agitado, desinibido, desinteressado, hostil, perse- guido e assim vai. Importante avaliar o contexto da situação; ex: se o paciente vier de forma involuntária, certamente compreensível, que ele seja pouco cooperativo. O paciente negativista pode ser ativo ou passivo: ativo → ignora as perguntas; passivo → alheio e indiferente ao que se passa. 2 Psiquiatria | @soumedrotina | Arêtuzya O. Contato Aqui deve ser descrito a impressão subjetiva que o examinador teve do paciente, se foi fácil realizar a entrevista e simpatizar com o paciente. Consciência Pode ser usado em psicopatologia com vários sig- nificados distintos, mas ele é um termo de ques- tão neurológica, traduzido através da escala de Glasgow. O eixo vertical da consciência é a sua quantifica- ção – através de números, grau de vigilância do paciente e a amplitude desta vigilância. Como pode se portar a consciência: • Lúcido, consciente ou vigil • Obnubilação –lentidão da sensopercepção, lentidão da compreensão e da elaboração das impessões sensoriais. Lentifica pen- samentos e evocação de memória, sono- lência mais ou menos acenturada. • Sonolência • Torpor • Coma • Confusão mental O eixo horizontal é a função integradora, é a ca- pacidade de tomar conhecimento da realidade na- quele instante em que se vive. Estado crepuscular: estreitamento súbito e tran- sitório do campo da consciência, o contato com a realidade diminui, permanece com nível de cons- ciência preservado. Na grande maioria das vezes ocorre em epilépti- cos, abuso de substâncias e lesões cerebrais. Di- anfóstico eminentemente clínico. A maioria das suas atitudes são automáticas e não completamente organizadas, por ex: andar sem destino. O paciente sofre uma desorientação espacial e temporal, e uma amnésia ocorre logo após o epi- sódio. Estado dissociativo: perda de sensibilidade tátil, psíquica e neural, como a memória, capacidades motoras e até personalidade; é bem parecido com o transtorno de estresse pós-traumático; Desrealização: é um tipo de transtorno dissocia- tivo, haverá sentimentos recorrentes ou persistentes de distanciamento do próprio corpo ou processos mentais, geralmente com uma sen- sação de ser um observador externo da própria vida ou estar desconectado de um ambiente – quase sempre desencadeado por estresse grave. Descrevo assim: “paciente apresenta-se desperto durante a entrevista, sendo capaz de trocar infor- mações com o meio ambiente ...” Atenção Se o indivíduo é capaz de direcionar ou focar a vida mental em determinados estímulos específi- cos. Atenção voluntária é avaliada pela Tenacidade do indivíduo → capacidade de direcionar voluntaria- mente a vida mental. Atenção espontânea é avaliada pela Vigilância → capacidade não intencional de direcionar a vida psíquica para novos estímulos. Exemplos: Hipervigilância: ocorre num exagero, na facili- dade com que a atenção é atraída pelos aconte- cimentos externos; Hipovigilância: é um enfraquecimento significa- tivo da atenção, onde é difícil obter a atenção do paciente; Hipertenacidade: a atenção se adere em demasia a algum estímulo ou tópico; concentração num estímulo específico; Hipotenacidade: a atenção se afasta com dema- siada rapidez do estímulo ou tópico. Hipertenaz → consegue focar no estudo dele, mas é hipovigilante – então ele consegue manter con- centração mesmo em um ambiente barulhento. Hipotenaz e hipervigil → não consegue prestar atenção, ele tá lendo algo, mas pensando em ou- tra coisa. Hipertenaz e Hipervigil → Paciente com TOC Normalmente há uma relação inversa entre as duas formas de atenção. Mas, há estados em que as duas podem estar globalmente diminuídas ou aumentadas. Descrevo assim: “concentra-se intensamente no entrevistador e no que lhe é dito, abstendo-se completamente do que se passa à sua volta...” por exemplo. 3 Psiquiatria | @soumedrotina | Arêtuzya O. Orientação Capacidade do indivíduo de se situar em tempo e espaço em relação ao ambiente. O indivíduo é ou não capaz de tomar consciência da situação real em que se encontra. Pode ser inferido através da avaliação do estado de consciência; Em geral, o primeiro sentido que se perde é o tempo, depois o espaço, em situações mais gra- ves, pode desorientar da própria identidade. Divide-se em: • Autopsiquica: reconhece dados de identifi- cação pessoal e sabe quem é • Alopsíquica: reconhece o ambiente – esse ainda é dividido → temporal: dia, mês, ano; espacial: a cidade onde está, o consultório; Descrevo assim: sabe fornecer dados de identifi- cação pessoal, informar onde se encontra, dia, mês e ano em que está... Memória É responsável pela fixação, armazenamento e evocação de estímulos e vivências. Guarda com relação a afetividade e a significação – esquecemos o que nos é indiferente, o que é de- sagradável e o por último o que nos dá prazer. Imediata: segundos → falar 3 palavras e pedir para que o paciente repita imediatamente; Recente: minutos, horas a dias → falar 3 palavras e pedir que o paciente repita após alguns minutos eaplicação de “distrator’; Remota: semanas, meses e anos Memória anterógrada = recente Memória retrógrada é o oposto Sensopercepção Como meus órgãos sensitivos percebem as coi- sas. Aqui entra a ilusão, alucinação ... Ilusão é a percepção deformada da realidade, de um objeto real e presente, uma interpretação er- rada do que existe, distorção do objeto Alucinação é uma falsa percepção, você vê uma coisa em que não há objeto. Psicose: alucinação + delírio Tipos → visuais, auditivas, tácteis-cenestésicas, olfativas, gustativas Pensamento Avalio de forma indireta durante o exame, pois es- tará no discurso. 3 dimensões: curso, forma e conteúdo. Curso: velocidade do pensamento – lentificado, acelerado, normal Forma: COMO as ideias se desencadeiam umas nas outras, se há harmonia de ideias. • Arborização: encadeamento nas ideias tendem a distanciar do tema principal, mu- danças progressivas do tema – bem visto na mania e psicose. • Fuga de ideias: muda tem rapidamente. • Frouxidão: estágio anterior ao da desagre- gação; • Desagregação de ideias: não se relacio- nam umas com as outras, frases descone- xas e por vezes salada de palavras – visto na psicose. • Perseveração: dificuldade em abandona o tema do discurso. • Prolixidade: não diferencia o que é funda- mental do acessório Nem todos os tipos são patológicos. Conteúdo: quais as ideias expressas pelo paci- ente? Ex: suicida, planos de futuro, obscessivas, delirantes; Delírio e Delirium Para classificar uma ideia delirante, tem que levar em conta aspecto da incorregibilidade, ou seja, nada modifica a ideia delirante por meio de corre- ções, há também o aspecto da influenciabilidade (o delirante pode influenciar outras pessoas a acreditarem no delírio dele, e, por fim, há a incom- preensibilidade – o que é dito não pode ser expli- cado logicamente. Delirium: rebaixamento da consciência Delírio: alteração do pensamento (do juízo) Humor e Afeto É a parte mais difícil do exame psíquico → procura descrever o estado emocional do paciente durante a avaliação; 4 Psiquiatria | @soumedrotina | Arêtuzya O. Humor: emoção que predomina durante a entrevista → depressivo, eufórico, irritado- disfórico, ansioso. Afeto: totalidade das emoções no momento em questão e sua relação com o conteúdo do pensamento. • Sintonia com o conteúdo do pensamento – diz se é congruente ou incongruente; • Se há variação do estado mental durante a entrevista – diz-se pou móvel ou lábil; • Como é a intensidade da expressão emocional – hipermodulante, estável ou plano; • Grau de sintonia com o ambiente e o entrevistador – ressoante ou pouco ressoante. Psicomotricidade Avalia os fenômenos motores que ocorrem durante a entrevista com o paciente, descritos em quantitativos e qualitativos; Quantitativos: • Lentificado, apático, inquietação • Furor: estado de intensa agitação • Estupor: inibição psicomotora intensa Pragmatismo Mede como o indicíduo se organiza para realizar suas atividades; Crítica e Noção de doença A crítica tem a ver com a percepção da inadequação ou gravidade de suas vivências e comportamentos; Noção de doença é o quanto o paciente admite que tais alterações possam ser causadas por transtorno mental. Exemplos de Exame Físico Exemplo 1: Exame sem alterações Apresentação- adequada, bem trajado e higienizado Atitude- colaborativa Contato- bom, fácil de ser realizado Consciência- lúcido e vigil Atenção- sem alterações, responde quando perguntado, sem distrair-se, sem alterações da atenção voluntária ou espontânea Orientação- orientado globalmente auto e alopsíquica. Memória- sem alterações de memória imediata, recente ou remota. Senso percepção- sem alterações Pensamento - curso normal, agregado e sem alterações de conteúdo, sem ideação suicida. Crítica e noção de doença- presentes- se for o caso; Humor e afeto- humor eutímico e sem polarização, afeto congruente, móvel, modulante e ressoante. Psicomotricidade - normal, sem tiques, estereotipias ou maneirismos. Inteligência - aparentemente normal. Exemplo 2: Psicótico Apresentação - pouco higienizado, inadequado a entrevista Atitude - pouco colaborativa e hostil Contato - difícil Consciência - lúcido e vigil Atenção - aumento da atenção espontânea com latência de respostas quando questionado Orientação - desorientado auto psiquicamente e orientado alopsiquicamente. Memória - difícil de ser testada Senso percepção - aparente quadro alucinatório, paciente com intensos solilóquios. Pensamento - curso normal, tendendo a desagregação, com delírios persecutórios. Com ou sem ideação suicida. Crítica e noção de doença- ausentes Humor e afeto - humor irritado e sem polarização, afeto incongruente, pouco móvel, hipomodulante e pouco ressoante. 5 Psiquiatria | @soumedrotina | Arêtuzya O. Psicomotricidade- aumentada, dificuldade de manter-se na sala. Inteligência- não testada. Exemplo 3: paciente depressivo Apresentação - pouco higienizado, adequado a entrevista Atitude - colaborativo e interessado Contato - fácil Consciência - lúcido e vigil Atenção - diminuição da atenção voluntária, se distrai com facilidade Orientação - orientado auto e alopsiquicamente. Memória - diminuída globalmente por dificuldade de concentração. Senso percepção- sem alterações Pensamento - curso lentificado, agregado, com conteúdo de menos valia e ideação de ruína, com ideação, e planejamento suicida, com planejamento para o futuro comprometido Crítica e noção de doença- presentes Humor e afeto- depressivo, afeto congruente, lábil, hipermodulante e ressoante. Psicomotricidade- dimunuída. Inteligência- sem alterações.