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VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Introdução à Psiquiatria – Anamnese e Exame psíquico MEDICINA CENTRADA NO MÉDICO MEDICINA CENTRADA NO PACIENTE Modelo de medicina centrada no médico como especialista e, consequentemente, uma medicina centrada na doença que estaria privilegiando aspectos cuja referência é o sinal e o sintoma, com vistas a uma prescrição medicamentosa. Foco: a ênfase está nos conteúdos da entrevista, evidenciando um controle maior do médico. Nesse modelo a referência é o mundo de experiências da pessoa que sofre. O paciente ocupa o centro da atividade clínica, há o objetivo explícito da busca pela aliança terapêutica (empatia, confiança e disponibilidade para a mudança). Foco: aquele que sofre está inserido na interação, o que tende a propiciar uma interação mais espontânea, menos ‘assimétrica’ e mais pessoal. Avaliação Entrevista com paciente (Anamnese subjetiva). Entrevista com acompanhantes (Anamnese objetiva). Escalas e entrevistas estruturadas. Exame Físico. Hipóteses diagnósticas. Plano terapêutico inicial. Testes psicológicos. Exames clínicos. A entrevista psiquiátrica Nuanças especiais natureza do problema trazido à consulta; conflitos que acometem o paciente; preconceito e expectativas em relação ao psiquiatra e à psiquiatria. Influem, ainda a personalidade do paciente; o ambiente onde a entrevista se dá; a personalidade e experiência do entrevistador. Recomenda-se que a entrevista apenas se realize se o entrevistador julgar que sua segurança pessoal encontra-se garantida. Testes laboratoriais e psicométricos são de utilidade bastante restrita. A formulação de diagnóstico formal, bem como a visão da dinâmica da pessoa, em seu plano íntimo e social, é quase exclusivamente baseada na entrevista. A entrevista psiquiátrica deverá conjugar a obtenção de razoável volume de informações: - sobre o que incomoda o paciente, - sobre seu comportamento verbal e não-verbal, - sobre sua história de vida. Vínculo terapêutico. Anamnese Identificação. Queixa e duração queixa básica, sofrimento, dificuldade ou conflito que o traz à consulta. História Pregressa da Moléstia Atual. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C História Psiquiátrica. História Clínica. IDA. Hábitos e estilo de vida. Antecedentes pessoais e familiares. História de Vida. Exame Psíquico. 3 REGRAS DA ENTREVISTA PSIQUIÁTRICA 1. Pacientes organizados (mentalmente), com inteligência normal, com escolaridade boa ou razoável, fora de “estado psicótico”, devem ser entrevistados de forma mais aberta, permitindo-se que falem e se expressem de forma mais fluente e espontânea. O entrevistador fala pouco, fazendo algumas pontuações para que o paciente “conte a sua história”. 2. Pacientes desorganizados, com nível intelectual baixo, em estado psicótico ou paranoide, “travados” por alto nível de ansiedade, devem ser entrevistados de forma mais estruturada. Nesse caso, o entrevistador fala mais, faz perguntas mais simples e dirigidas (questões fáceis de serem compreendidas e respondidas). 3. Nos primeiros contatos com pacientes muito tímidos, ansiosos ou paranoides, fazer primeiro perguntas neutras (nome, onde mora, profissão, estado civil, nome de familiares etc.), para apenas gradativamente começar a formular perguntas “mais específicas” (às vezes, constrangedoras para o paciente), como: “Tem tido problemas ou dificuldades emocionais?”, “Como avalia a gravidade de sua doença?”, “Tem medo da morte?”, “Como está sua relação com sua esposa?”, “O que aconteceu que você agrediu seus familiares?” etc. a) Pergunta aberta Como se encontra seu estado de ânimo? b) Pergunta alternativa O senhor está alegre ou triste? c) Pergunta sugestiva passiva O senhor está triste? d) Pergunta sugestiva ativa O senhor está triste, não está? Obs.: Não devem ser procuradas, precocemente, explicações psicológicas para os sintomas. Semiologia psicopatológica Estudo dos sinais e sintomas dos transtornos mentais. Baseada em: - Observação cuidadosa; - Ouvir e enxergar; - Ouvir e buscar compreender; - Raciocínio clínico acurado sobre os dados clínicos. O Exame Psíquico É o exame do estado mental atual, realizado com cuidado e minúcia pelo entrevistador desde o início da entrevista até a fase final, quando são feitas outras perguntas. O exame psíquico é realizado ao longo da anamnese. Verificar, estudar, investigar as funções psíquicas, o seu padrão e alterações. Ao final da anamnese complementar com a investigação dos pontos que não foram elucidados adequadamente, incompletos ou duvidosos. Ter um roteiro completo de exame. Redação da História Clínica e Exame psíquico: - Relatar observações clínicas de forma clara e completa; - Ao escrever entendemos melhor a experiência do paciente, seus sintomas e psicopatologia; - Protege o profissional de acusações futuras; VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C - Redação clara e aprofundada dos pontos principais, geral e abrangente nos pontos acessórios; - Evitar o uso de termos técnicos; - Português simples e correto; - O paciente pode ser caótico e desorganizado, mas o relato clínico nunca. Se for um quadro neurológico/orgânico mais urgente. Se for um quadro psicológico mais cautela. 1. Apresentação e contato: Cuidado pessoal, higiene, trajes, postura, mímica, atitude global do paciente. Expressão facial, gestual, altura e expressão sonora da voz, Equivale ao BEG, REG e MEG do exame físico. Exemplo: Apresentação adequada, com contato fácil, porém agitado. 2. Consciência: Atividade integradora dos fenômenos psíquicos, o todo momentâneo que possibilita o tomar consciência da realidade naquele instante. Totalidade da experiência momentânea inserida na corrente contínua da vida psíquica. - Vigilância ou estado de alerta. É o estado de ciência que o indivíduo tem em relação a si próprio e ao meio. - Clareza: Capacidades de percepção, intelectual e de memória claras. 2.1. Alopsíquica (Nível de Consciência – QUANTIDADE DE CONSCIÊNCIA): Consciência do entorno (orientação no tempo e no espaço). - Alterações quantitativas (sugestivo de alteração cérebro-orgânica) Continuum entre estar alerta e a inconsciência; Excesso ou rebaixamento do nível de vigilância (Vigilância excessiva; Vigilância atenta; Vigilância relaxada; Sonolência; Sono leve; Sono profundo). 2.2. Autopsíquica (Consciência do “Eu”, consciência de si mesmo – QUALIDADE DA CONSCIÊNCIA): - Sabemos e conhecemos a nós mesmos como seres viventes e ativos e biograficamente coerentes em um todo unitário. - Único (eu sei que não tem ninguém no mundo igual a mim), impermeável (normalmente a pessoa não ouve vozes, quando ela ouvir o pensamento é dito permeável) e permanente no tempo (sei que sou a mesma pessoa hoje e sei que serei a mesma pessoa no futuro). - Alterações qualitativas (patognomônico de quadro psiquiátrico) Algo novo, de natureza diferente do observado nas outras pessoas. Além do rebaixamento aparecem ideias estranhas e fantásticas e percepções errôneas (Estado Crepuscular; Dissociações; Transe; Estados hipnóticos). ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS COM MANIFESTAÇÕES PSICOPATOLÓGICAS: Delirium - Rebaixamento da consciência; Alterações da atenção, memória de fixação e orientação. - Presença de ilusões, alucinações, onirismos, pensamento incoerente, delírios. - Sugestionabilidade, flutuação do grau de consciência. Estado Crepuscular Estado confusional parcial, consciência parcial dos atos, diminuição de respostas a estímulos externos; foco da atenção em vivências interiores, em detrimento do ambiente. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C 3. Atenção: - Capacidade de focalizar a atividade psíquica, de discriminar os conteúdos da consciência dirigindo-se a determinados estímulos. 3.1. Espontânea (involuntária): É o direcionamento da concentração suscitado por um evento momentâneo/incidental (ex: se alguém bater uma panela ao nosso lado direcionaremos nossa consciência para isso, mas não o fazemos se alguém respira fundo ou fala baixo). 3.2. Voluntária: É a capacidade de direcionar intencional e ativamente a consciência para determinado objeto ou ação (ex: ao estudar). Me esforço para prestar atenção, eu escolho prestar atenção nisso; está prejudicada quando estamos cansados. - Na maioria das vezes: se a voluntária está reduzida, a espontânea está aumentada. 4. Memória: - Envolve a capacidade de: registrar, fixar, conservar e reproduzir a experiência anterior. - É a função mental que permite fixar (capacidade de gravar fatos), conservar (guardar para toda a vida), evocar (trazer a consciência) e reconhecer (detectar algo que já foi fixado). 4.1. Fixação: De curto prazo. Tende a ser prejudicada quando estamos cansados. 4.2. Evocação: De longo prazo (hipocampo). Tende a ser prejudicada em quadros neurológicos. 5. Inteligência: - Capacidades e instrumentos utilizáveis para adaptação às tarefas vitais. - Habilidade para pensar e agir racional e logicamente. - Capacidade de solucionar problemas e se adaptar a situações novas. - Mais usada na psiquiatria infantil. - Capacidade de reconhecer padrões repetitivos. 5.1. Inteligência concreta/formal resolução de problemas matemáticos. 5.2. Inteligência abstrata conceito por trás das palavras. 6. Comunicação e Linguagem: - Exteriorização do pensamento. - Adequado ao contexto social do paciente. 6.1. Segmentar: Capacidade de formar frases usando sujeito, verbo e predicado em ordem correta. 6.2. Suprassegmentar: Capacidade de dizer as frases com entonação adequada (prosória). Parte mais específica da psiquiatria: 7. Pensamento: 7.1. Curso: Velocidade do pensamento (curso normal, curso acelerado - mania, curso lentificado – paciente bêbado/deprimido). Normalmente está alterado pelo humor. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C 7.2. Forma: Como o pensamento se articula; estrutura e arquitetura básicas do pensamento (estou com fome vou para a cantina). Normal é forma agregada. Pode estar desagregado (sem nexo lógico = estou com fome + fulano morreu ontem) ou com fuga de ideias. 7.3. Conteúdo: Aquilo que dá substância ao pensamento, temas predominantes e assuntos em si. Normal é não delirante. Pode estar alterado no delírio. 8. Sensopercepção: - Integração da sensação gerando percepção consciente. São os sentidos. - Envolve 3 fases: um evento sensorial; a captação do evento pelos órgãos do sentido e; a percepção com significado do evento (por exemplo, ter consciência de estar vendo um objeto). Alterações Quantitativas Hiperestesia ou Hipoestesia. Alterações Qualitativas Ilusões (percepções deformadas de objetos); Alucinações (percepção clara de um objeto sem o objeto, sem crítica); Alucinose (o paciente percebe a experiência alucinatória como estranha a sua pessoa). Alucinação gustativa, olfativas, visual mais comuns em quadros orgânicos. Alucinação proprioceptiva. Quadro psiquiátrico dá mais alucinação auditiva. 9. Humor: “Média longitudinal dos sentimentos” , é o tônus afetivo do paciente, o estado basal do paciente. É o estado afetivo basal do paciente, é uma emoção difusa e prolongada que determina a forma subjetiva que o paciente percebe o mundo. Estado emocional. Sei como está o humor da pessoa pela relação afetiva dela com os outros. O timo era visto como a sede das emoções Eutímico (normal), hipertímico (eufórico) ou hipotímico/distímico. 10. Afetividade: Contato interpessoal; expressão de sentimentos (é a forma como o indivíduo expressa suas emoções). Alteração: embotado (sem cor, distanciado, apático) ou dissociado (o pensamento não condiz com a expressão emocional). Se afetividade está alterada, dificulta a avaliação do humor. Afetos: Qualidade e tônus emocional que acompanham uma ideia ou representação mental. Componente emocional de uma ideia. Características da afetividade: - Experiência pessoal – só accessível à pessoa e intransferível aos outros. - Influência - sobre a personalidade, corpo, relações sociais. Modo de comunicação não verbal. - Qualidade – Não são estáticos, mas vividos em um continuum entre polos extremos (amor – ódio). - Elementos cognitivos – estímulos desencadeantes podem ser imaginários ou simbólicos (emoções agradáveis, desagradáveis ou patológicas). - Estabilidade - manutenção por inércia. - Modulação - tendência a mudar de forma gradual e lenta. - Tônus - intensidade da resposta afetiva esperada. - Ressonância - responder a um afeto com o mesmo afeto. - Coerência - o afeto acompanha a vivência que o despertou. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C 11. Crítica: É o julgamento da realidade. Capacidade de julgar o estado mórbido. Pode estar alterada de forma parcial ou total. - Exaltada (autoacusação e culpa); - Insuficiente (oligofrenia); - Debilitada (demência); - Suspensa (rebaixamento de consciência). 12. Psicomotricidade: Representação física do psiquismo. Reflete a passagem da vontade para a ação. Ex.: atitudes, postura, gestos, fala etc. Se a pessoa está se movimentando mais ou menos. Movimento causado pela alteração da mente. - Hipercinesia: movimentação global aumentada, por ex., na mania. - Hipocinesia: movimentação global reduzida, por ex., na depressão. - Ecopraxia: imitar os movimentos de outra pessoa, por ex., na esquizofrenia. - Estereotipia e maneirismo: repetição constante de movimento complexo, por ex. na esquizofrenia. - Tique: movimento de determinado grupo muscular, súbito e involuntário, por ex., nos transtornos de tique. 13. Pragmatismo: A pessoa está conseguindo fazer as coisas que normalmente fazia (vida independente). Planejar o que vamos fazer. Auxilia a avaliar o grau de intensidade das outras alterações mentais e planejar as condutas.
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