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Entrevista Lúdica - Capitulo 10 - Jurema Cunha

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JUREMA ALCIDES CUNHA
Entrevista lúdica 
Blanca Guevara Werlang
Freud organizou sobre sua teoria da sexualidade infantil com base em dados obtidos na análise de seus pacientes adultos. Confirmando hipóteses que havia levando em Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Para Freud, as crianças repetem nas brincadeiras tudo que na vida lhes causou profunda impressão e brincando se tornam senhoras da situação. As crianças então segundo Freud, brincam para satisfazer alguma coisa que na realidade fizeram com ela.
Já Hermine Von Hug não utilizou interpretações como na análise de adultos, para ela, o ego da criança ainda não está suficientemente desenvolvido para suportar o peso de uma interpretação psicanalítica, e por saber que a criança não era motivada a procurar análise sendo encaminhada por ser mias um sofrimento da família do que da criança. Ana Freud, seguindo os ensinamentos de Hug colocou-se numa posição contrária a de Melanie Klein: a criança não possui consciência de doença, estando ainda presa a seus objetos originais (pais) pelo que não poderia estabelecer uma neurose de transferência com o terapeuta. Sendo o terapeuta responsável por reforçar os aspectos de vínculo sempre no nível de orientação educativa, considerando que nada tem a ver a associação livre ou sonhos dos adultos.
Melanie Klein entendeu que crianças podem sim ser motivadas dentro de si para análise. Que poderiam ser analisadas do mesmo modo que os adultos, explorando os conflitos inconscientes, abstendo-se de qualquer medida educativa ou de apoio. Sendo a iniciadora da técnica psicanalítica para crianças
Contudo, foi Freud, o primeiro estudioso que refletiu sobre função e o mecanismo psicológico da atividade lúdica infantil, quando interpretou a brincadeira de seu neto de 18 meses. O neto estava brincando com um carretel e um barbante, lançando por cima do berço e depois atirando-o para dentro do berço. O que dava a entender que estava brincando de ir e voltar, uma maneira de controlar a angústia e ausência da mãe. Então, a criança não estaria se divertindo, mas controlando a angústia da ausência da mãe. Portanto, na situação do brinquedo a criança procura se relacionar com o real, experimentando o seu modo procurando construir e recriar a realidade.
Através do brinquedo a criança não só realiza seus desejos, mas também domina a realidade graças ao processo de projeção dos perigos internos sobre o mundo externo.
É então o meio de comunicação da criança ligar mundo interno e externo. O brincar não é só um passa tempo para viver situações prazerosas, mas também uma maneira de elaborar traumas. Para Melanie Klein isso só é possível porque a criança tem a capacidade de simbolizar. Sendo o brincar a linguagem típica da criança se comparado a associação livre e sonhos dos adultos.
Para a psicanalista argentina Aberastury, a criança não só estabelece uma transferência positiva/negativa com o psicoterapeuta como também é capaz de estruturar através do brinquedo a representação de seus conflitos básicos, defesas e fantasias de doença ou cura. Deixando evidente nos primeiros encontros seu funcionamento mental. Ainda segundo ela, não há necessidade de uma caixa para cada criança, considerando que qualquer tipo de brinquedo oferece possibilidades lúdicas projetivas de diagnostico. Na entrevista Lúdica Aberastury considera também conveniente não interpretar, já que ainda não se sabe como a criança será tratada ou não, e, em caso de encaminhamento qual técnica mais adequada. 
É um processo realizado dentro do psicodiagnóstico, que tem desenvolvimento meio e fim. Cujos dados serão ou não confirmados com a testagem. A primeira hora de jogo terapêutica é apenas o elo dentro do contexto maior, onde irão surgir novos aspectos e modificações em função da intervenção. 
No psicodiagnóstico infantil, costuma-se entrevistar os pais antes de ver a criança, com o objetivo de obter informações mais abrangentes possíveis sobre o problema e sobre como a criança é.
Deve-se combinar com os pais para que eles conversem com a criança a respeito e motivo pelo qual está sendo levada ao psicólogo.
Nos brinquedos oferecidos a criança deposita arte dos sentimentos, representante de distintos vínculos com objetos de seu mundo interno. Tanto no jogo quanto na maneira que utiliza os materiais, as crianças agem, falam e brincam de acordo com suas possibilidades maturativas, emocionais, cognitivas e de socialização. É pela ação ativa ou passiva que elas exprimem possibilidades descobrindo a si mesma e se revelando aos outros. Outras podem resistir a se separarem dos pais, ou ficam na sala de entrevista muito inibidas. Existem também ocasiões em que a criança, devido a problemática emocional, rompe o enquadramento exigindo por parte do entrevistador a colocação de limites. O psicólogo deve em todos os casos estimular a interação conduzindo a situação de maneira que possa deixar transparecer a compreensão do momento, respeitando e acolhendo a criança de forma que se sinta segura. 
O papel do psicólogo na entrevista lúdica diagnóstica é passivo, como observador, mas também ativo na ação de efetuar perguntas para esclarecer dúvidas sobre a brincadeira. Dependendo da situação o psicólogo poderá não participar do jogo ou brincadeira ou poderá desempenhar um determinado papel caso seja o desejo da criança.
O material deve ser apresentado sem ordem, em caixas ou armários sempre com tampas e portas abertas devendo ser adequado para atender crianças de diferentes idades, sexo e interesses. 
Requer também que o profissional esteja bem familiarizado com o material teórico de cunho analítico, sobre a base do marco teórico-técnico fornecido por Freud, Melanie Klein e Aberastury.
Uma analise detalhada da hora do jogo permite a conceitualização do conflito atual do paciente, coloca em evidências seus principais mecanismos de defesas e ansiedades, avalia o tipo de rapport que pode estabelecer a criança com o terapeuta e o tipo de ansiedade de contratransferência que pode despertar nele, põe o manifesto a fantasia de doenças e cura. 
A autora também considera importante compreender a hora do jogo como uma história da criança construída em resposta a uma situação de estímulo avaliando o modo como ela se inclui na situação.
Indicadores formais: a maneira como a criança de aproxima do brinquedo, a sua atitude no inicio e final da hora do jogo, sua localização no consultório atitude corporal e manejo do espaço. 
Efron e colegas propõem um guia com 8 indicadores para orientar a analise com fins diagnósticos e prognósticos: escolha de brinquedos e jogos, modalidade do brinquedo, motricidade, personificação, criatividade, capacidade simbólica, tolerância à frustração e adequação a realidade. 
A exploração do mundo que cerca a criança se dá por meio da vivência e do conhecimento da criança, mostrando a passagem do mundo corporal para o ambiental. Ainda segundo eles cada criança estrutura uma modalidade de brinquedo, baseada na manifestação do ego e traços psíquicos. 
Entre as modalidades estão a plasticidade, a rigidez, a estereotipia e a perseveração. 
A plasticidade pode ser observada quando a criança consegue expressar suas fantasias através de brincadeiras organizadas, com sequencia logica, utilizando brinquedos ou objetos que podem modificar a sua função de acordo com a sua necessidade de expressão, mostrando variedade de recursos egóicos e uma significativa riqueza interna, sem necessidade de recorrer a mecanismo de controle excessivos. 
Alguns autores descrevem três fases sucessivas da evolução dos brinquedos das crianças: auto esfera - o brinquedo é centralizado na exploração do próprio corpo e/ou nos objetos que estão ao seu alcance. 
Microesfera- a criança expressa suas fantasias através de pequenos brinquedos representativos. Macro esfera - incorporação da vivência social, dividir o mundo com os outros. 
Piaget fala de brinquedos e jogo de exercício em que a conduta lúdica é destinada para obtenção de prazer (2anos); brinquedos e jogos simbólicos em que a criança desenvolvea capacidade de representar a realidade que não está presente no seu campo perceptivo (2 a 8 anos) e brinquedos e jogo de regras (a partir dos 8), que são uma imitação das atividades adultas. Sugere-se que cada conduta lúdica, de acordo com a cronologia de cada fase evolutiva (oral, anal, fálica e genital) deve ser comprada dentro do referencial psicanalítico. 
Caso de Renata: tem 7 anos e 6 meses, mostra sinais evidentes de cuidado com a aparência, perfumada e com combinações de cores desde a tiara aos sapatos. Os pais trouxeram a queixa dela ser muito angustiada, com suas atitudes repetitivas, não consegue brincar, arrumar o quarto ou concluir tarefas escolares, pois perde muito tempo na tentativa de organizar as tarefas. 
Durante a entrevista lúdica mostrou-se insegura, pedindo licença para levantar ou pegar os brinquedos que se encontravam na prateleira de um armário, tentado deixa-los organizados como se fossem exposição em vitrine, sendo uma forma mais fácil de enxerga-los para depois escolher com qual brincar. Por fim decide brincar com a casa de bonecas, organizando os móveis de forma indecisa, mudando tantas vezes que a entrevista de esgota. Nota-se então a ação repetitiva de Renata e sua necessidade de ordem e perfeccionismo certamente tentando afastar ou conter uma ameaça imaginária ou perigo deixando transparecer uma modalidade de brincar rígida própria de crianças com componentes neuróticos. Por outro lado, jogos estereotipados são uma modalidade patológica do funcionamento do ego, típicas de funcionamento psicótico. 
Antônio 4 anos. Encaminhado pelo neuro para avaliação psicológica para ajudar na classificação de diagnóstico. Mesmo aceitando facilmente se separar dos pais, não realizou nenhum manifesto verbal ou contato visual com o examinador, evitando qualquer tipo de aproximação. Não atendeu qualquer solicitação direta, desprezando os brinquedos oferecidos, usando apenas um boneco para bater na sua própria cabeça. Ficou agitado e indiferente ao ambiente onde estava. O comportamento de Antônio na entrevista lúdica deia clara aa falta de resposta afetiva e a presença de movimentos estereotipados e ações auto agressivas e desconexão com o mundo externo, tendo a finalidade de descarga de impulsos do ID sem fins de comunicação.
Segundo Melvin e Volkmar as habilidades percepto motoras também se aperfeiçoam por volta dos 2 anos, no período de até 11 anos tanto aspectos quanti como qualitativos são parte do desenvolvimento anterior se organizando passando a funcionar de forma fluente e integrada, até perto de 9 anos, as habilidades motoras se tornam automáticas e estabelecidas. 
É importante que o psicólogo que conduza a hora lúdica tenha conhecimentos essenciais da psicologia evolutiva conhecimentos básicos de fisiologia, neurologia e psicomotricidade, que lhe possibilite identificar e descrever as pausas motoras da criança para verificar a adequação destas etapas em que a criança se encontra. Em relação a imaturidade ou dificuldades motoras, torna-se conveniente a solicitação de avaliação complementar psicopedagógico ou neurológica que auxiliam tanto no diagnostico como no diferencial. A avaliação de motricidade é de especial importância no que diz respeito a integração do corpo, organização e estrutura do espaço temporal, o que possibilita a criança o domínio de objetos do mundo externo social, escolar e emociona, satisfazendo suas necessidades, que, quando não supridas provocarão limitações e frustrações. 
Personificação é quando a criança assume e desempenha papéis no brinquedo. É comum em todos os períodos, aos quais as crianças transformam os brinquedos ou a si em personagens imaginários ou não de acordo com sua faixa etária expressando afetos, relações e conflitos sempre em sintonia com seu mundo interior. 
Esse indicador permite compreender ou não o equilíbrio entre o superego, id e realidade; verifica também a capacidade de fantasia na definição de papéis que por um tempo possibilita a satisfação dos desejos mais grandiosos de seu eu consciente.
Marcelo tem 4 anos e 11 meses, foi levado a avalição por não conseguir se afastar da mãe na escola e em casa. Na entrevista ele assumiu um papel de gigante muito forte corajoso bravo e malvado que entrava na casa das bonecas a noite para derrubar a esconder ou trocar de lugar todos os objetos deixando tudo bagunçado. Expressa satisfação quando espalha os pequenos móveis e bonecos misturando blocos e carrinhos entre eles. Sobre a proximidade do final de entrevista , ele junta alguns brinquedos montado uma mesa com xícaras e objetos de cozinha e menciona que o gigante sumiu e faz uma mágica. Diz que o pai ficará bravo, que a mãe junta o filho e todos vão lanchar. Depois diz que vai arrumar tudo. Certamente Marcelo está tendo dificuldades de enfrentar frustrações e a ansiedade de sua idade que surgem com seu crescimento e exigência por parte dos pais de alcançar autonomia, o que pode lhe provocar insegurança e desejos de ficar perto da mãe. No brincar, liberou sua onipotência se identificando como poderoso, para fazer aquilo que as figuras de autoridade não aprovariam, então extravasa seus conteúdos agressivos de ataque e domínio nem que seja quando a autoridade está dormindo ou quando o superego está mais permissivo. Mas, quando a realidade se impõe ele faz uma mágica para amenizar o caos com objetos reparadores como forma de abrandar a culpa provocada por seus impulsos agressivos. 
Através da personificação, houve uma regressão do ego, que facilitou Marcelo a projeção de fantasias e desejos se desprendendo de regras rígidas, representando conteúdos internos. Quando a criança constrói ou transforma um novo objeto a partir da reorganização de experiências anteriores. A criatividade é um processo mental de qual resulta novas ideias, formas e relações.
Quando a criança se expressa através do brinquedo ela está exercitando sua capacidade simbólica. O jogo é uma forma de expressão simbólica e a vida de fantasia se torna observável. 
No primeiro ano de vida, o brinquedo consiste na manipulação de objetos, depois passa a ser usado no faz-de-conta visando os objetos que os representam. 
Uma folha de papel pode se tornar um avião, um pedaço de pau de transforma em cavalo, etc. Com o aprendizado na escola, novos jogos aparecem sendo o período da competição e de partilha de papéis em grupo. Em todos os períodos de evolução da criança o simbolismo habilita a transferir desde interesses, fantasias até dependências, preocupações, possibilitando compreender a capacidade de expressão da criança e a qualidade do conflito.
João 6 anos apresenta medo de dormir sozinho e medo do escuro, necessitando dormir com os pais. Pega uma caixa de madeiras de diversos tamanhos e formar e monta um “dormitório”. Dentro do cercado coloca uma cama de casal duas mesas e abajures, enquanto verbaliza mostrando os bonecos que eles terão um filho, verbaliza também que o diabo quer pegar a mãe do garoto, mas o jacaré morde a perna do diabo, então encenando ele o fecha num cercado e coloca o diabo lá dentro. João expressou conteúdos conflitivos através do estádio psicossexual que atravessa. Parece ser uma criança dependente com traços fóbicos que teme ser abandonada ou rejeitada principalmente pela mãe o que se explica a fase edípica que atravessa. Sente-se impossibilitado de participar da união dos pais, sendo invadido por sentimentos de ansiedade, ciúme e frustração frente pai e novo filho, deslocando seus impulsos agressivos para o ambiente. Simbolicamente transforma-se em diabo para roubar a mãe do pai., mas o jacaré estabelece a ordem pelo castigo. Por fim, a tolerância a frustração e adequação da realidade indicam a aceitação ou não de instruções, assim como aceitação de limites do seu papel e do outro, separação dos pais, inicio e fim dos jogos, etc. Tudo isso está ligado a fase do principio do prazer e realidade. A entrevista lúdica é uma técnica de avaliação clínica que permite compreender a natureza do pensamento infantil, fornecendo informações significativasdo ponto de vista evolutivo, psicopatológico e psicodinâmico, possibilitando formular indicações terapêuticas.

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