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HAS Acadêmica: Juliana Rabelo da Silva Sousa Definição: Entidade clínica na qual o indivíduo apresenta níveis médios de PA que conferem um aumento do RCV, justificando uma programação terapêutica. Epidemiologia: prevalência (BR) é de 32,5% em adultos. Antes da menopausa, as mulheres apresentam uma prevalência menor, relação que se inverte na pós- menopausa (efeito protetor do estrogênio). Aumento importante da prevalência nas crianças e adolescentes (obesidade e sedentarismo). Mais comum e mais grave em negros. Etiologia Hipertensão primária (essencial): 95% dos casos, causa desconhecida. Hipertensão secundária: 5% causa pode ser conhecida. Causas mais comuns: doença parenquimatosa renal e a estenose de artéria renal (hipertensão renovascular). Causas menos comuns: coartação da aorta, síndrome de Cushing, feocromocitoma, hiperaldosteronismo primário, hiperparatireoidismo primário, hipo e hipertireoidismo, acromegalia, policitemia vera, uso de drogas ilícitas, ciclosporina. Fisiopatologia Aumento inicial de PA através do aumento do DC, geralmente por retenção de sal e água pelo organismo. Remodelamento vascular: A PA elevada estimula a liberação local de substâncias tróficas que promovem a proliferação e o desarranjo celular da parede dos vasos. As médias e pequenas artérias podem ter uma hipertrofia de sua camada muscular, enquanto as arteríolas sofrem alterações proliferativas que reduzem seu lúmen. Assim, a RVP vai aumentando. Consequência: arteriosclerose. SRAA: todo hipertenso deveria ter renina plasmática baixa, já que é regulada pela volemia e PA. O fato de encontrarmos renina na faixa normal indica que ela está sendo produzida em quantidades acima do esperado. Predisposição genética: É mais comum em afrodescententes pelo fato de ter sido naturalmente selecionado, pois confere proteção contra infecções tripanossômicas, tendo como EA uma maior predisposição à HAS e suas complicações. Baixo peso ao nascer e prematuridade: compromete o desenvolvimento renal adequado na fase uterina. Diagnóstico Critérios diagnósticos da hipertensão arterial PA no consultório Média entre 2 medidas da PA, pelo menos 2 consultas, com níveis > ou = a 140x90mmHg. Monitorização residencial (MRPA) Média de várias aferições da PA maiores ou iguais a 135x85mmHg. Monitorização ambulatorial (MAPA) Média das aferições automáticas. Durante o período de vigília, com valores > ou = a 135x85mmHg, PA de 24horas com valores > ou = a 130x80 mmHg e PA no sono com valores > ou = a 120x70 mmHg. Técnica de aferição da PA Esfigmomanometria Paciente em repouso, com o menor estresse possível e sem o efeito de nenhuma substância pressórica. A posição do paciente pode ser sentada, com o dorso recostado na cadeira e com o braço confortavelmente apoiado na mesa. Manguito deve circundar pelo menos 80% da circunferência do braço O cuff deve ser inflado até 20mmHg acima da PAS, estimada pelo desaparecimento do pulso radial e, então, desinsuflado na velocidade de 2mmHg/s PAS corresponde à fase I dos sons de Korotkoff (aparecimento do som), enquanto a PAD é a fase V (desaparecimento do som). Na 1º consulta, a PA deve ser avaliada nos 2 braços, considerando-se sempre a maior e, se o paciente for idoso, diabético ou estiver tomando uma nova droga anti-hipertensiva, é fundamental medir-se também a PA após 3 minutos na posição ortostática. Hipotensão postural: redução >20mmHg na PAS e/ou >10mmHg na PAD. Pseudo-hipertensão: aumento falso da PA devido à calcificação e arteriosclerose que tornam a artérias enrijecidas dificultando seu colabamento. Manobra de Osler: a artéria continua sendo palpada, sem pulso, quando o manguito é insuflado em níveis superiores à PAS aferida. Diagnóstico definitivo: cateterização da artéria radial (método invasivo). MRPA: recomendada para todos os pacientes com condições de fazê-la. Realizar 3 medidas matinais antes do café da manhã e 3 à noite antes do jantar, por 5 dias consecutivos ou 2 medidas antes do café e 2 antes do jantar, por 7 dias. Diagnóstico imediato PA >180x110 PA≥140x90mmHg + RCV alto Hipertensão do jaleco branco: a PA se apresenta elevada apenas quando um médico ou profissional de saúde afere a sua pressão. Efeito do jaleco branco: aumento transitório da PA (20mmHg PAS e/ou 10mmHg na PAD) quando medida por profissional de saúde. Pode ocorrer em normotensos ou hipertensos e pode levar a uma classificação errônea do estágio da HAS. Hipertensão mascarada: valores normais de PA no consultório mas elevada pela MAPA. Deve ser pesquisada em pcts com PA limítrofe ou normal mas com sinais de lesões em órgãos-alvo. Hipertensão sistólica isolada: típica do idoso, PA S > ou = 140mmHg com PAD < 90 mmHg. Aumenta o RCV. Pré-hipertensão: PAS entre 121-139mmHg e PAD entre 81-89 mmHg. Maior RCV que os indivíduos normotensos. Hipertensão episódica: PA >ou= 140x90mmHg somente em algumas aferições fora do consultório ou no teste ergométrico, elevação PAD>10mmHg em qualquer momento e/ou elevação PAS>60mmHg com 6 METs. Também possuem RCV maior. Classificação Classificação da PA por medidas no consultório (> 18 anos) Classificação PAS PAD Normal ≤ 120 ≤ 80 Pré-Hipertensão 121-139 81-89 Hipertensão Estágio I 140-159 90-99 Hipertensão Estágio II 160-179 100-109 Hipertensão Estágio III ≥ 180 ≥ 110 Hipertensão Sistólica Isolada ≥ 140 < 90 Avaliação clínica e laboratorial Anamnese e exame físico: buscar descartar causas secundárias e identificar LOAs. Índice Tornozelo-Braquial: PA sistólica no tornozelo/PA sistólica no braço, aferido nos dois lados do corpo. O normal é um valor > 0.90. Exames adicionais em função de características individuais do paciente Radiografia de tórax Suspeita clínica de IC, acometimento pulmonar e/ou aórtico. Ecocardiograma Presença de critérios de HVE no ECG, suspeita clínica de IC. Albuminúria Pacientes hipertensos diabéticos, com síndrome metabólica ou com 2 ou + FR. USG-Doppler de carótida Pacientes com sopro carotídeo, sinais de doença cerebrovascular ou doença aterosclerótica em outros territórios. Teste ergométrico Suspeita de doença coronariana estável, diabetes ou HF de DAC em pacientes com PA controlada. Hemoglobina glicada Glicemia de jejum >99mg/dl, HF de DM2 ou diagnóstico prévio e obesidade. USG-Doppler renal Presença de sopro ou massa abdominal. VOP (Velocidade Hipertensos de médio e alto risco. Valores da Onda de Pulso) >12m/s são anormais. RM do cérebro Pacientes com deficit cognitivo ou demência (avaliar infartos cerebrais silenciosos e micro-hemorragias). Estratificação de risco cardiovascular Estratégias Estimativa do RCV diretamente relacionado à HAS (restrita aos hipertensos): toma por base os níveis pressóricos, a presença de FRCV adicionais, LOA, DCV estabelecida e/ou nefropatia. Somar o risco atribuível ao grau de hipertensão do paciente com o risco atribuível à presença de outros fatores. PAS 130- 139 e/ou PAD 85-89 HAS estágio I HAS estágio II HAS estágio III Sem outro FRCV Sem risco adicional Risco baixo Risco moderado Risco alto 1-2 FRCV Risco baixo Risco moderado Risco alto Risco alto ≥ 3 FRCV Risco moderado Risco alto Risco alto Risco alto Presença de LOA, DCV, DRC ou DM Risco alto Risco alto Risco alto Risco alto FRCV adicionais à HAS Sexo Masculino Idade (♂: ≥ 55 anos; ♀: ≥ 65 anos) DCV “prematura” em parente de 1º grau (♂: < 55 anos; ♀: < 65 anos) Tabagismo Dislipidemia Colesterol Total > 190 mg/dl e/ou LDL > 115 mg/dl e/ou HDL < 40 mg/dl em homens ou < 46 mg/dl em mulheres e/ou TG > 150 mg/dl. Resistência à insulinaGlicemia de jejum 100- 125mg/dl Glicemia 2h após TOTG 140-199mg/dl HbA1C 5,7-6,4% Obesidade IMC ≥ 30 kg/m2 CA ≥ 102 cm homens e ≥ 88 cm mulheres LOAs que definem risco alto em pacientes com PA ≥ 130x85mmHg HVE, definida como: ECG: índice de Sokolow-Lyon (SV1 + RV5 ou RV6) ≥ 35 mm, ou onda R em aVL ≥ 11 mm, ou índice de “Cornell- voltagem” > 2440. Ecocardiograma: índice de massa do VE > 115 g/m2 homens e > 95 g/m2 mulheres. USG-Doppler de carótidas: EMI > 0.9 mm ou presença de placa de ateroma. VOP carótido-femoral: > 10 m/s. ITB < 0.9 DRC estágio III (ClCr 30-60 ml/min) Albuminúria: 30-300 mg/dia ou relação albumina/creatinina em spot urinário 30-300 mg/g Doenças estabelecidas que definem risco alto em pacientes com PA ≥ 130x8 mmHg Doença cerebrovascular: AVE isquêmico ou hemorrágico, AIT Avaliação inicial de rotina para o hipertenso EAS Potássio plasmático Creatinina plasmática e estimativa da TFG Glicemia de jejum Lipidograma completo Ácido úrico plasmático ECG Doença coronariana: Angina estável ou instável, IAM, revascularização prévia (angioplastia ou cirurgia). IC com fração de ejeção reduzida ou normal Doença Arterial Periférica sintomática em MMII DRC estágio IV ou V (ClCr < 30 ml/min) Albuminúria > 300 mg/dia Retinopatia avançada = exsudatos Estimativa do RCV em 10 anos, independentemente da presença de HAS (estratégia para qualquer pessoa com idade entre 30-74 anos): avalia múltiplos FRCV, lembrando que a HAS é o principal deles. 1 a etapa: identificação de doença aterosclerótica e seus equivalentes. A presença de qualquer um desses fatores prevê um RCV >20% em 10 anos, classificando automaticamente o paciente como risco alto. Doença aterosclerótica e equivalentes (qualquer um = risco alto) Doença aterosclerótica clinicamente evidente (coronariopatia, doença cerebrovascular, DAP) Aterosclerose subclínica significativa (documentada por métodos complementares) História de algum procedimento de revascularização arterial DM DRC Hipercolesterolemia familiar 2 a etapa: Se a 1 a etapa for negativa o próximo passo é calcular o ERG, que estima o risco de eventos cardiovasculares nos próximos 10 anos. É calculado de maneira diferente para mulheres e homens. ERG <5%: risco baixo, exceto se HF de DCV prematura, o que eleva o risco para a categoria intermediário. Homens com ERG entre 5-20%, e mulheres com ERG entre 5-10% são classificados como risco intermediário. O risco será alto para homens com ERG >20% e mulheres com ERG >10%. 3 a etapa: reclassificação do risco na presença de fatores agravantes. Pacientes de risco intermediário serão reclassificados para risco alto se possuírem pelo menos. Fatores Agravantes do RCV Doença coronariana prematura em parente de 1º grau (♂: < 55 anos, ♀: < 65 anos) Diagnóstico de síndrome metabólica Albuminúria >30mg/dia ou relação albumina/creatinina em spot urinário >30mg/g HVE Proteína C reativa ultrassensível > 2 mg/l EMI de carótida > 1.0 mm Escore de cálcio coronário > 100 ou acima do percentil 75 para sexo e idade ITB < 0.9 Critérios Diagnósticos de Síndrome Metabólica (3 ou mais) Obesidade abdominal: Homens: ≥ 94 cm e Mulheres: ≥ 80 cm. HDL: Homens: < 40 mg/dl e Mulheres: < 50 mg/dl. TG ≥150mg/dl ou tto para hipertrigliceridemia PA (ou tto para HA): PAS ≥130mmHg e/ou PAD ≥85mmHg Glicemia ≥100mg/dl ou tto para DM Tratamento Quando iniciar: HAS estágio 2 ou 3 e 1+RCV alto: iniciar de imediato o tto não medicamentoso e medicamentoso. HAS estágio 1 e RCV intermediário ou baixo: tentar o tto não medicamentoso isolado por 3 para risco intermediários e 6 meses para risco baixo, respectivamente. Se após tal período a PA não ficar dentro da meta iniciar o tto medicamentoso. Obs: A qualquer momento, se não houver adesão à terapia não medicamentosa, ou a PA ou o próprio RCV aumentem, pode-se dar início ao tto medicamentoso. Pré-hipertensos: iniciar de imediato tto não medicamentoso, pois isso reduz a evolução para HAS. Nestes pacientes, o início do tratamento medicamentoso pode ser considerado de forma individualizada caso exista uma DCV estabelecida, ou caso o RCV seja alto. HAS sistólica isolada dos idosos: tto medicamentoso está indicado, desde que bem tolerado. Se ≥80 anos, o tto medicamentoso passa a ser indicado somente se PAS ≥160mmHg. HAS sistólica isolada dos jovens (<30 anos): tto medicamentoso só está indicado se o RCV global for alto. Risco intermediário ou baixo: indica-se apenas tratamento não medicamentoso e monitorização para o surgimento de LOAs Tratamento não medicamentoso Deve ser indicado para todos os hipertensos pois potencializa a ação dos medicamentos e também ajuda a controlar outros FR. Tratamento não medicamentoso da HAS Controle do peso e da Circunferência abdominal Manter: IMC < 25 kg/m2 até 65 anos. IMC < 27 kg/m2 após 65 anos. CA < 94 cm em homens e < 80 cm em mulheres. Dieta Adotar a dieta DASH (rica em frutas, hortaliças e laticínios com baixo teor de gordura, e pobre em carne vermelha, doces e bebidas adoçadas.). Consumo de sal Máx. de 2g/dia de sódio, ou 5g/dia de NaCl. Consumo de álcool Máx. de 1 dose/dia em mulheres e pessoas com baixo peso, e 2 doses/dia em homens. Exercícios físicos Recomendação populacional (incluindo todos os hipertensos): fazer pelo menos 30min/dia de atividade aeróbica por 5-7 dias da semana. Recomendação individualizada (visando maiores benefícios): sempre que possível, associar atividades aeróbicas com exercícios resistidos (estes de 2-3x/semana). Outras Cessação do tabagismo, respiração lenta (reduzir FR para < 6-10/min, durante 15-20min/dia, por pelo menos 8 semanas) e técnicas para controle do estresse (psicoterapia, meditação, biofeedback e/ou técnicas de relaxamento). Equipe multiprofissional Hipertensos tratados por equipe multiprofissional têm maior adesão e melhores resultados tanto no tratamento medicamentoso quanto no não medicamentoso Tratamento medicamentoso Classe de anti-hipertensivos: anexo Monoterapia - HA estágio 1, com RCV baixo e moderado Classes de anti-hipertensivos consideradas preferenciais em monoterapia inicial são: DIU tiazídicos IECA BCC BRA Se o objetivo terapêutico não for conseguido, conduta: Resultado parcial + EA, aumentar a dose do medicamento em uso, podendo ser considerada a associação com anti-hipertensivo de outro grupo. Não houve efeito terapêutico esperado na dose máxima preconizada ou surgiram EA, substituir o anti-hipertensivo, reduzir a dosagem e associar outro de classe diferente ou instituir uma outra associação. Se, ainda assim, a resposta for inadequada, associar três ou mais medicamentos. Combinação de medicamentos HA estágio 1 e com RCV alto ou muito alto ou DCV associada e estágio 2 ou 3 com ou sem outros FRCV: considerar combinação de fármacos. Estágio 1 com baixo ou moderado RCV: embora não preferencial, também poderá ser considerada em casos individuais. Evitar uso de anti-hipertensivos com mesmo mecanismo de ação. Exceto DIU tiazídicos com poupadores de potássio. BB + DIU = alterações no metabolismo dos glicídeos IECA + BRA = muitos EA Caso não sejam alcançadas as metas com 2 fármacos, conduta: Resultado parcial e sem EA, aumentar a dose da combinação inicial ou acrescentar mais um anti- hipertensivo de outra classe. Se a meta não tiver sido atingida na dose máxima ou se surgirem EA, recomenda-se a substituição da combinação ou associar outros anti-hipertensivos. Caso o DIU não esteja sendo utilizado, deve ser o 3º a ser acrescentado. Seu uso potencializa a ação anti- hipertensiva de qualquer dos medicamentos iniciais. HA resistente (faltade controle da PA com o uso de pelo menos 3 medicamentos em dosagens máximas toleradas, sendo um deles um DIU), está indicada a associação de espironolactona. Os simpaticolíticos de ação central (clonidina) ou BB podem ser uma alternativa ao 4º fármaco, ficando o uso de vasodilatadores diretos reservado para casos especiais e em associação com DIU e BB. Metas terapêuticas Avaliações mensais, até que esteja controlada. Metas Pressóricas – VII Diretriz Brasileira de HAS (2016) HAS estágio I e II com RCV alto <130x80mmHg HAS estágio III, HÁ estágio I e II com RCV baixo ou intermediário <140x90mmHg
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