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è Compreender a fisiopatologia, epidemiologia, etiologia e fatores associados da endocardite; è Entender os critérios diagnósticos e tratamento da endocardite; è Discutir a política nacional de atenção a saúde da população de campo; Endocardite • Endocardite Infecciosa (EI) é uma infecção microbiana da superfície endotelial do coração; • Antigamente chamada de “Endocardite Bacteriana”, mas esse termo foi substituído pois outros agentes infecciosos podem causar a doença, como os fungos: Mycoplasma, Chlamydiae e Rickettsiae. • A maioria dos casos de EI ocorre em pacientes com fatores de risco como doença cardíaca estrutural, prótese valvar cardíaca, uso de drogas intravenosas, HIV/AIDS, EI prévia, procedimentos invasivos intravasculares e hemodiálise; • Pacientes jovens com EI geralmente são portadores de cardiopatias congênitas ou são usuários de drogas intravenosas; • Idosos hospitalizados e submetidos a procedimentos invasivos também podem ser acometidos por EI; • Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, devido à alta incidência de portadores de sequela da febre reumática, cuidado inadequado com a higiene dental e a deficiência ao acesso aos sistemas de saúde, a forma subaguda da doença ainda é encontra com frequência; • Em países desenvolvidos, a endocardite nosocomial (infecção hospitalar) é mais comum, enquanto nos países em desenvolvimento se mantém o perfil clássico da EI; • No Brasil, estamos em uma fase de transição e observamos um padrão de infecção endocárdica de primeiro mundo em grandes hospitais privados e, ao mesmo tempo, pacientes com a clássica endocardite estreptocócica nos locais socioeconomicamente vulneráveis; APG 10 – É couve-flor? Amanda Rocha Turma XV 11 Introdução Epidemiologia Amanda Rocha Turma XV 2 • A EI aguda normalmente é causada pela infecção de uma valva anteriormente normal por um agente altamente virulento – Staphylococcus aureus; • A EI subaguda é caracterizada por organismos de baixa virulência: Streptococcus viridans; • Os organismos causais diferem entre os principais grupos de alto risco: è A endocardite de valvas naturais, mas previamente danificadas ou anormais, geralmente é causada pelo Streptococcus viridans (50% a 60% dos casos) – comumente normal da microbiota oral; è S. Aureus: são mais virulentos e comumente encontrados na pele, podem infectar valvas saudáveis e deformadas e são responsáveis por 20% a 30% de todos os casos; è S. Aureus é o principal agente infectante na EI entre os usuários de drogas intravenosas; • Os enterococos faecalis também podem causar a EI subaguda e estão associados à bacteremias após instrumentação do trato urinário em homens; • Infecções por organismos do grupo HACEK, embora mais raras, também podem causar EI subaguda. Eles fazem parte da microbiota normal do trato respiratório. Endocardite Trombótica Não Bacteriana • O endotélio saudável é naturalmente resistente à colonização de patógenos, portanto, para que a EI ocorra é preciso que a superfície endotelial do coração esteja previamente lesada; • Essas lesões podem ocorrer devido à: è Impacto de fluxos sanguíneos de alta velocidade (ex. jatos regurgitantes secundários às insuficiências valvares, ou jatos ejetivos secundários às estenoses valvares); è Estresse mecânico pelo turbilhonamento de sangue, mais intenso no lado de baixa pressão de shunts arteriovenosos (ex. defeito de septo interventricular); è Presença de corpos estranhos, que produzem lesão por trauma físico direto (ex. carbo de marca- passo); • Com a lesão do endotélio, a exposição dos tecidos subendoteliais estimula a formação de um tampão plaquetário (composto por plaquetas e fibrinas); • Esse tampão constitui uma “vegetação” inicialmente estéril chamada de ENDOCARDITE TRMBÓTICA NÃO BACTERIANA (ETNB); Etiologia Amanda Rocha Turma XV 2 Fisiopatologia • Durante episódios de bacteremia, microrganismos podem se aderir, colonizar e se multiplicar no interior da ETNB, dando início ao processo de EI; Endocardite Infecciosa • Certos microrganismos mais virulentos (S. Aureus) são capazes de se aderir ao endotélio valvar até mesmo quando ele se encontra intacto; • Nessa situação, as células endoteliais normofuncionantes, inicialmente, fagocitam os patógenos que, uma vez no meio intracelular, se multiplicam e lesam a célula, promovendo a ruptura da superfície endotelial; • O resultado é a deposição de plaquetas e fibrinas no colágeno subendotelial exposto ao mesmo tempo que as colônias de bactérias se proliferam, culminando na formação de vegetações infectadas desde o início; • De forma geral, após infecção da ETNB ou do endotélio, a proliferação de micro-organismos dentro da vegetação facilita a deposição de mais plaquetas e fibrina (cascata de coagulação) fazendo-a aumentar de tamanho. • A vegetação aumentada acaba por se fragmentar, levando à embolização sistêmica e a bacteremias recorrentes; • É importante salientar que os micro- organismos localizados no interior das vegetações costumam estar, de forma temporária, em um estado metabolicamente inativo, sendo insensíveis à ação dos antimicrobianos; • Na endocardite aguda, os sintomas aparecem. Geralmente, em torno de duas semanas ou menos; • Na EI subaguda, o período entre o início dos sintomas e o diagnóstico costuma ser prolongado, geralmente de cinco a seis semanas, pois muitas vezes os achados clínicos são atribuídos a outras doenças; • Na EI aguda, nos usuários de drogas intravenosas, a valva tricúspide é preferencialmente acometida. Em pacientes sem esse fator de risco, pode haver comprometimento da valva aórtica; Febre e outras manifestações sistêmicas • A febre é o achado mais comum, presente em 90% dos casos, mas pode estar ausente em idosos debilitados; • Na doença aguda, o padrão é de febre alta, podendo ultrapassar 39,4ºC; • Na forma subaguda, a temperatura geralmente é mais baixa e a febre é intermitente (ex. vespertina com sudorese noturna) Amanda Rocha Turma XV 3 Manifestações clínicas • Sudorese noturna, perda ponderal, calafrios fraqueza, náuseas e vômitos são comumente encontrados na doença subaguda; Manifestações Periféricas • Petéquias são encontradas em até 20% a 40% dos casos, sendo mais comum na forma subaguda. São classicamente subconjuntivais, mas podem estar presentes em palato, mucosa bucal e extremidades; • Os nódulos de Osler são lesões de cerca de 2 a 15mm, dolorosas, e, geralmente são encontradas nas polpas digitais das mãos e dos pés. Desaparecem em horas ou dias; (FORMA AGUDA) • As manchas de Janeway, decorrentes da embolização séptica, são lesões maculares hemorrágicas, indolores, localizadas em palmas e plantas. Mais comumente observadas na forma SUBAGUDA e se relacionam com infecções prolongadas; Manifestações Cardíacas • Os sopros cardíacos ocorrem em até 85% dos pacientes, podendo estar ausentes na EI do coração direito (FORMA AGUDA); • As alterações das características de um sopro que o individuo já possuía e o surgimento de um novo sopro (geralmente de regurgitação aórtica), são achados clássicos que ocorrem em uma minoria dos pacientes; • Cerca de 10 a 20% dos pacientes apresentam um novo sopro, a Amanda Rocha Turma XV 4 maioria evoluindo para insuficiência cardíaca; • Outras manifestações clínicas também podem ocorrer na EI como: è Manifestações neurológicas – 20%-40% dos casos, geralmente nas infecções por S. aureous. (Êmbolo cerebral, aneurismas micóticos, encefalopatia tóxicas etc.); è Manifestações renais –atualmente ocorre em 10% dos casos (devido aos antibióticos); è Manifestações musculoesqueléticas – sintomas articulares geralmente são precoces e incluem: artralgia, artrite e pode haver infecções de vértebras (espondilodiscite). Mialgias difusas são encontradas em até 20% dos casos; Esplenomegalia • Um aumento do baço tem sido relatado em até 60% dos casos, sendo mais comum na EI subaguda; Endocardite Infecciosa no Usuário de Drogas Injetáveis • Neste grupo de pacientes, a valva tricúspide é a mais comumente acometida, entretanto, a EI das valvas aórticas e mitral também tem sido descrita; • A maioria dos pacientes encontra-se entre os 20 e 40 anos e existe uma predominância do sexo masculino; • Os achados na endocardite tricúspide incluem êmbolos sépticos para os pulmões; • Nesses casos encontramos: tosse, infiltrados pulmonares, derrame pleural e dor pleurítica, manifestações que podem dominar a apresentação clínica; • Somente 35% de regurgitação tricúspide apresentam sopros cardíacos; • Os critérios diagnósticos da EI baseiam-se, principalmente, na positividade das hemoculturas e do ecocardiograma; • A presença de patologias cardíacas predisponentes, história de uso de drogas, febre, fenômenos vasculares (embólicos, aneurisma micótico, hemorragia cerebral) e os fenômenos imunológicos também compõem os critérios de Duke modificados; • Os critérios de Duke são os mais utilizados e têm esse nome em homenagem à universidade de Duke, onde foram desenvolvidos; • O padrão ouro para o diagnóstico de EI é a comprovação histológica e microbiológica da presença de agentes infecciosos em material obtido diretamente do endocárdio; Diagnóstico Amanda Rocha Turma XV 5 • Um diagnóstico de certeza de EI é baseado no escore de Duke e estabelecido na presença de: è Dois critérios maiores OU; è Um critério maior e três menores OU; è Cinco critérios menores; • Por outro lado, em um paciente com suspeita clínica, rejeitamos com segurança a hipótese de endocardite sempre que: è Um diagnóstico alternativo puder ser estabelecido; è Os sinais e sintomas desaparecerem com quatro ou menos dias de tratamento com antimicrobianos; è A cirurgia cardíaca ou necrópsia forem negativas em um paciente que recebeu quatro ou menos dias de tratamento microbianos; Obtenção das hemoculturas • Devem ser colhidas, no mínimo, três amostras de 10 ml de sangue, cada uma de um sítio de punção diferente; • Dos 10ml colhidos, 5ml são colocados nos frascos para bactérias aeróbicas e 5ml para bactérias anaeróbicas; Ecocardiograma • O ecocardiograma bidimensional transesofágico multiplano é o melhor método diagnóstico para detectar a endocardite infecciosa em todas as circunstâncias (sensibilidade de 90%-95%); • A letalidade da endocardite infecciosa na era pré-antibiótica era de 100%. Com o avanço da terapia, dos métodos diagnósticos e das técnicas cirúrgicas, a letalidade da endocardite foi bastante reduzida, oscilando entre 10% e 15%; • Sabe-se que no interior da vegetação os micro-organismos ficam protegidos do ataque de neutrófilos e da imunidade humoral, por esse motivo, a antibioticoterapia precisa ser bactericida; • A via preferencial é a intravenosa e as doses devem ser altas; Tratamento Amanda Rocha Turma XV 6 Amanda Rocha Turma XV 7 Indicações cirúrgicas • Uma abordagem cirúrgica (que pode incluir reparo ou troca valvar) é considerada imprescindível como parte da terapêutica em muitos casos de EI; • Estima-se que entre 25% e 40% das EI localizadas em valvas esquerdas acabem necessitando de tratamento cirúrgico; • As indicações para tratamento cirúrgico são: Amanda Rocha Turma XV 8