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DESCRIÇÃO Os regimes aduaneiros especiais e seu papel no desenvolvimento econômico. PROPÓSITO Conhecer o tratamento jurídico a que se submetem as mercadorias importadas ou destinadas à exportação, distinguindo os regimes aduaneiros gerais e os especiais, além de estudar as peculiaridades dos regimes aduaneiros especiais, categoria da maior importância na economia, uma vez que os impostos sobre a importação e a exportação são tributos eminentemente regulatórios. PREPARAÇÃO Antes de iniciar seus estudos, tenha à mão o Decreto-Lei nº 37/1966, também chamado de Código Aduaneiro. OBJETIVOS MÓDULO 1 Distinguir as várias espécies de regimes aduaneiros e o trânsito aduaneiro MÓDULO 2 Identificar os regimes aduaneiros especiais e suas características INTRODUÇÃO Neste tema, vamos entender as razões pelas quais o Brasil, bem como os demais países do mundo, concede reduções e outras vantagens tributárias, com o fim de incrementar a produção industrial e, consequentemente, estimular a competitividade, mediante o emprego de condições mais favoráveis à troca de bens com outras nações. Os vários tipos de regimes especiais – o trânsito aduaneiro, a admissão temporária nas suas duas vertentes, o drawback, a exportação temporária, a importação temporária para aperfeiçoamento ativo, a exportação temporária para aperfeiçoamento passivo, o entreposto aduaneiro, o Repetro, além dos demais – são modalidades criadas para incentivar as vendas ao exterior, tal como estabelece, expressamente, o art. 383 do RA, ao dispor que o drawback é um incentivo à exportação. Como complemento natural, vamos analisar os tributos que incidem sobre o comércio exterior, haja vista que, no regime federativo, não só o governo central tributa mercadorias nacionais e estrangeiras. Destinadas ao consumo no país, nas importações, por exemplo, incidem os impostos sobre a venda interna da mercadoria, competência atribuída não só ao governo federal como também aos estados. Nos módulos seguintes, estudaremos todos esses regimes, compreendendo sua base legal e suas peculiaridades, distinguindo-os uns dos outros e apontando as características e as vantagens decorrentes de cada um. Fonte: Shutterstock.com MÓDULO 1 Distinguir as várias espécies de regimes aduaneiros e o trânsito aduaneiro REGIMES ADUANEIROS Regime aduaneiro consiste no tratamento legal e administrativo que disciplina as operações de entrada e saída de mercadorias do território nacional, do qual resulta a cobrança de tributos ou o reconhecimento do direito à imunidade, à isenção ou a qualquer outro benefício fiscal concedido por lei ou pela Constituição. SAIBA MAIS Além do controle da constitucionalidade e da legalidade, as autoridades aduaneiras têm competência para aferir o cumprimento das obrigações acessórias, necessárias e imprescindíveis ao desembaraço de mercadorias pelas alfândegas. O comércio exterior atingiu elevado grau de complexidade, em que inúmeros fatores políticos, econômicos, sociais, diplomáticos, entre outros, interferem nas relações entre os agentes econômicos, assim entendidos como as empresas exportadoras e importadoras. Em razão disso, cresceu de forma exponencial a quantidade de leis, decretos e atos administrativos que regulam as operações de importação e exportação, a ponto de serem expedidas pela Receita Federal do Brasil (RFB) as chamadas soluções de consulta, que, para aquele órgão, têm o caráter mandatório em relação aos contribuintes do imposto. Fonte: Shutterstock.com Os regimes aduaneiros, divididos para fins didáticos em especiais e gerais, estão previstos em toda a legislação tributária concernente à importação e à exportação, desde a Constituição da República, em que encontramos a competência federal para a instituição dos dois impostos, passando pelo Código Tributário Nacional (CTN), pelo Decreto-Lei nº 37/1966, pelo regulamento aduaneiro (RA), aprovado pelo Decreto nº 6.759/2009, e pelas disposições administrativas com força normativa. REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS Os regimes aduaneiros classificam-se em comuns e especiais. REGIMES ADUANEIROS COMUNS Consistem na importação e na exportação em caráter definitivo, ou seja, a mercadoria ingressa no território aduaneiro mediante o cumprimento de todas as formalidades exigidas e, se for o caso, com o pagamento dos tributos devidos, ou na hipótese de exportação mediante a saída da mercadoria do país em caráter definitivo. REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS Exercem papel fundamental no que concerne ao incentivo à industrialização e à exportação, uma vez que a suspensão, a isenção e a redução de tributos permitem desenvolver atividades econômicas sem o dispêndio de recursos que, poupados, revertem em investimentos. Podemos verificar as seguintes características acerca dos regimes aduaneiros especiais: Os regimes aduaneiros especiais se caracterizam pela suspensão dos tributos na entrada ou na saída da mercadoria, a partir da garantia dos tributos eventualmente exigíveis, firmada em termo de responsabilidade perante a repartição na qual se processar o despacho aduaneiro de importação ou de exportação. Os regimes aduaneiros especiais também se caracterizam pela suspensão dos tributos incidentes e, eventualmente, como no caso do drawback (Segundo o art. 383 do RA, “é considerado incentivo à exportação”.) , pela isenção. A suspensão dos tributos é condicionada ao emprego do bem em uma atividade econômica, embora haja casos, como na admissão temporária pura e simples, em que essa finalidade não é observada. Outra característica dos regimes especiais consiste na observância de prazo para gozo do benefício, que varia conforme a modalidade considerada. Significa dizer que os regimes especiais têm início, representado pela concessão, a permanência no regime e a sua extinção. Não fora assim, estaríamos tratando de um regime geral de importação ou de exportação. EXEMPLO O veículo de propriedade de estrangeiro que ingressa no país a turismo. Ainda que a entrada e a permanência do veículo se submetam ao controle aduaneiro, não se vislumbra nessa hipótese o objetivo de prestar serviço ou se destinar a alguma atividade industrial. Em resumo, assim como a isenção, a finalidade econômica também admite exceções. Para completar, afirma-se que os tributos devidos e eventualmente exigidos são garantidos por termo de responsabilidade específico para cada caso, firmado pelo beneficiário e pelo transportador, e acompanhado de depósito em dinheiro, fiança bancária ou de instituição idônea ou de seguro específico que cubra o valor dos tributos suspensos. Por tradição, a arrecadação de tributos é a própria razão de ser dos órgãos fazendários. Todavia, essa afirmação carece de veracidade quando se trata de impostos sobre o comércio exterior. Tendo em vista a natureza extrafiscal desses impostos, a finalidade de obtenção de recursos com vistas à satisfação das necessidades do Estado não guarda pertinência com a característica dos tributos incidentes na importação e na exportação. É preciso, contudo, considerar que o Estado não pode ignorar a necessidade da importação de bens de toda espécie, seja em razão da escassez do produto em face da demanda interna, seja pela carência de bens de capital, que contribuem com a produção de riqueza no país. Ressalvada a hipótese da adoção de política altamente protecionista, o objetivo do controle aduaneiro não se resume à arrecadação, mas, principalmente, a resguardar a sociedade contra a prática desleal de comércio, visando à clareza nas relações comerciais conjugada com a eliminação das barreiras que porventura venham a interpor-se ao livre comércio entre os países. TRÂNSITO ADUANEIRO Entre os regimes aduaneiros especiais, o trânsito aduaneiro possui importante papel. Conforme estabelecem os arts. 315 e seguintes do RA, trânsito aduaneiro é o regime aduaneiro especial que permite o transporteda mercadoria, sob controle fiscal, de um ponto a outro do território aduaneiro, com suspensão dos tributos devidos. Cabe informar que trânsito, como regime especial, não se confunde com transporte, entendido como a operação que conduz mercadorias ou pessoas javascript:void(0) de um ponto a outro, diferentemente, portanto, de um regime jurídico. São modalidades de trânsito aduaneiro: TRÂNSITO ADUANEIRO O trânsito aduaneiro é efetuado por várias modalidades: via aquática, terrestre ou aérea. A declaração sobre essa finalidade deve constar expressamente do conhecimento de carga, assim como do manifesto de carga. Essa condição é essencial para a sua aceitação pelas autoridades aduaneiras. I II III IV I O transporte de mercadoria procedente do exterior com destino a outro ponto do território aduaneiro. II O transporte de mercadoria já despachada para exportação, desde o depósito do exportador até o ponto de embarque e saída do país. Essa modalidade é um importante instrumento de incentivo à exportação, uma vez que agiliza a conferência da mercadoria pela alfândega do local de produção. III O transporte de mercadoria de um recinto aduaneiro a outro, do mesmo ou de outro proprietário. IV Por fim, o chamado trânsito de passagem, que permite o transporte de mercadoria procedente do exterior ou a ele destinada, quando o território nacional constitui parte do trajeto total, que se iniciou no exterior e que deve terminar fora de suas fronteiras. EXEMPLO Um exemplo típico da modalidade de trânsito de passagem é o transporte de mercadoria que chega ao Brasil por via marítima desde o porto de descarga até a fronteira com o Paraguai, onde é entregue às autoridades desse país. As obrigações fiscais, cambiais e outras, suspensas pela aplicação do regime de trânsito aduaneiro, são garantidas na própria declaração de trânsito aduaneiro (DTA), sendo dispensabilidade a assinatura de termo de responsabilidade em casos especiais, a critério do auditor fiscal. Para impedir possível violação dos volumes, de recipientes ou do veículo transportador, são adotadas cautelas fiscais: LACRAÇÃO SINETAGEM CINTAGEM MARCAÇÃO ACOMPANHAMENTO FISCAL (SE NECESSÁRIO) Podemos destacar alguns pontos que ocorrem durante o trânsito aduaneiro: Fonte: Shutterstock.com Antes do desembaraço para trânsito, a autoridade aduaneira do local de origem procede à vistoria, que também pode ser realizada durante o percurso, desde que algum fato que a justifique chegue ao conhecimento da autoridade, e após a conclusão da operação de trânsito, já no local de destino. Fonte: Shutterstock.com A operação de trânsito é concluída quando o veículo transportador chega ao local de destino, onde recebe a visita da autoridade fiscal, que procede ao exame da documentação apresentada e verifica a condição do veículo, dos lacres e dos demais elementos de segurança, além da integridade da carga. Fonte: Shutterstock.com O transportador que não comprovar a chegada da mercadoria ao local de destino ficará sujeito ao cumprimento das obrigações fiscais assumidas no termo de responsabilidade, sem prejuízo de outras penalidades cabíveis. O trânsito aduaneiro é uma opção bastante vantajosa para o importador que não conta com um estabelecimento nas proximidades do ponto de chegada no país, uma vez que o próprio desembaraço da mercadoria é realizado no depósito indicado à repartição fiscal mais próxima. Sob o ponto de vista logístico, a vantagem do trânsito aduaneiro é desafogar as atividades portuárias, aeroportuárias ou de fronteira, visto que a mercadoria é despachada fora da zona primária. ADMISSÃO TEMPORÁRIA PARA UTILIZAÇÃO ECONÔMICA DEFINIÇÃO, CARACTERÍSTICAS E PROCEDIMENTOS A admissão temporária, conforme disposto no art. 315 e seguintes do RA, é o regime especial que permite a importação, com suspensão do pagamento de tributos, de bens que devam permanecer no país durante prazo fixado e com fim determinado e retornar ao exterior sem modificações que lhes confiram nova individualidade, ou seja, no mesmo estado em que entraram. O regime especial de admissão temporária para utilização econômica, que derivou da modalidade no sentido mais geral, permite o ingresso, para permanência temporária no país, com pagamento proporcional dos tributos, de mercadorias javascript:void(0) estrangeiras ou desnacionalizadas, destinadas ao emprego em atividades de serviço ou de industrialização. PAGAMENTO PROPORCIONAL O pagamento, segundo a legislação, é proporcional ao tempo de permanência da mercadoria no país. Nos termos do art. 373, § 2º, do RA, aprovado pelo Decreto nº 6759/2009, é de 1% ao mês. Também no presente caso, deverá ser firmado termo de responsabilidade pelo beneficiário do regime. São assim consideradas as operações de industrialização, como definidas na legislação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), excetuada a transformação, assim como o conserto, o reparo ou a restauração de bens estrangeiros que devam retornar, modificados, ao país de origem. A legislação aduaneira estabelece, como condições para o gozo do regime, que: A mercadoria seja de propriedade de pessoa sediada no exterior. O beneficiário seja pessoa jurídica com sede no país. O objeto do contrato de prestação de serviço seja a mercadoria. O regime caracteriza-se, ainda, por beneficiar mercadorias admitidas sem cobertura cambial. AS OPERAÇÕES DE APERFEIÇOAMENTO ATIVO A admissão temporária para aperfeiçoamento ativo consiste no regime especial que permite o ingresso no país de bens que serão objeto de processo de industrialização, como montagem, beneficiamento, condicionamento ou recondicionamento e renovação ou, ainda, conserto, reparo ou restauração, devendo, ao final do regime, ser reexportados. O regime se inicia com a autorização para gozo do benefício, extinguindo-se com a reexportação. Alternativamente, como todos os demais regimes especiais, o bem pode ser transferido para outro regime especial ou submetido a despacho para consumo, mediante o pagamento dos tributos devidos. O regime caracteriza-se, ainda, por beneficiar mercadorias admitidas sem cobertura cambial. EXPORTAÇÃO TEMPORÁRIA DEFINIÇÃO, CARACTERÍSTICAS E PROCEDIMENTOS É o regime aduaneiro especial que permite a saída para o exterior de mercadoria nacional ou nacionalizada, sob a condição de retornar ao país em prazo determinado, qual seja, um ano, prorrogável por período idêntico, no mesmo estado, ou após submetida a processo de conserto, reparo ou restauração. Para fins de sua identificação, a conferência física da mercadoria a ser exportada sob esse regime será feita no estabelecimento do exportador ou em outro local autorizado, como também será executada no retorno do bem do exterior. São passíveis de beneficiamento pelo regime bens que se destinem à exposição de arte ou qualquer outra, a congressos científicos, aos mais variados eventos e às manifestações culturais, a espetáculos esportivos, ou, igualmente, à prestação de serviços diversos em outros países. Fonte: Shutterstock.com PRAZOS CONCEDIDOS PELA AUTORIDADE ADUANEIRA O regime pode ser concedido pela autoridade aduaneira pelo prazo de até um ano, prorrogável por período não superior, no total, a dois anos, mediante a assinatura de termo de responsabilidade perante a repartição fiscal da jurisdição. Só excepcionalmente, e, mediante autorização expressa, esse prazo poderá ser prorrogado por período superior. Na hipótese de exportação vinculada a contrato de prestação de serviço, o prazo coincidirá com o estabelecido para vigência do acordado entre as partes. Nos casos em que a exportação temporária exceder o prazo concedido, o retorno ao país estará sujeito ao pagamento de multa, não podendo ser cobrados tributos como se o produto estrangeiro fosse a mercadoria, em face do que foi decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao julgar o Recurso Extraordinário nº 104.306. Nessa oportunidade,o STF declarou inconstitucional o art. 93 do Decreto-Lei nº 37/1966, visto que a mercadoria exportada temporariamente não se desnacionaliza pelo fato de ser reimportada após a conclusão do prazo de sua permanência no exterior. Constitui requisito essencial para a concessão do regime o registro da exportação no Sistema de Comércio Exterior (Siscomex), que poderá ser dispensado nos casos de bagagem acompanhada e veículos utilizados por seus proprietários, assim como os destinados ao transporte de carga ou passageiros, além de outros, desde que ouvida a Subsecretaria de Operações de Comércio Exterior (Suext). ATENÇÃO O pedido de autorização para operar no regime poderá ser negado pela fiscalização da Secretaria da RFB do local de embarque ou da jurisdição da empresa beneficiária, cabendo recurso de possível indeferimento. Isso, no entanto, não impede a saída da mercadoria do país. Nesse caso, contudo, serão exigidos os tributos devidos na importação incidentes sobre a mercadoria objeto do indeferimento. O regime beneficia o exportador-importador, cuja mercadoria, pela sua natureza ou destinação, não deva permanecer no exterior em definitivo, mas, tão somente, pelo tempo de duração de uma feira ou exposição, por exemplo, ou pelo tempo necessário à prestação do serviço contratado. Exclui-se da aplicação do regime a saída de veículos de propriedade de residentes no país, para viagem de turismo a países integrantes do Mercosul, conforme disposto em normas comunitárias. OPERAÇÕES DE APERFEIÇOAMENTO PASSIVO A exportação temporária para aperfeiçoamento passivo constitui caso particular do regime aludido e pode ser conceituada como o regime aduaneiro especial que permite a saída, do país, por tempo determinado, de mercadoria nacional ou nacionalizada, para ser submetida à operação de transformação, elaboração, beneficiamento ou montagem, no exterior, e a posterior reimportação, sob a forma de produto resultante. No retorno dos bens submetidos a processo de conserto, reparo ou restauração no exterior, serão cobrados os tributos incidentes sobre o valor de partes, peças ou outros componentes agregados à mercadoria. TRIBUTOS INCIDENTES Os tributos devidos na importação do produto resultante da aplicação deste regime são calculados mediante a dedução do valor dos tributos que incidiriam sobre o produto importado, que é o valor dos tributos que seriam devidos na importação da mercadoria objeto da exportação temporária. javascript:void(0) Os eventuais impostos devidos pela exportação serão garantidos por termo de responsabilidade firmado pelo beneficiário do regime. O prazo de permanência no regime será fixado em função do período considerado necessário à realização da operação e do tempo despendido no transporte. ATENÇÃO Esta modalidade de regime aduaneiro especial se extingue com o retorno da mercadoria ao país, incluindo os bens acrescidos, ou com a sua exportação definitiva, caso seja a opção do beneficiário. Confira o depoimento do especialista acerca da admissão temporária e exportação temporária. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SÃO CARACTERÍSTICAS DOS REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS: A) A suspensão do Imposto de Importação, do IPI e do ICMS. B) A suspensão dos tributos e, excepcionalmente, a imunidade. C) A suspensão dos tributos, o prazo e a finalidade econômica. D) A suspensão, a isenção e a imunidade justificadas economicamente. E) A isenção de todos os tributos. 2. UMA SUBSIDIÁRIA BRASILEIRA DE EMPRESA ESTRANGEIRA, ESPECIALIZADA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PORTUÁRIOS, DESEJA IMPORTAR UMA DRAGA PARA RETIRAR AREIA ACUMULADA DE UM CANAL DE ACESSO A DETERMINADO PORTO NO BRASIL E PROMOVER SEU RETORNO AO EXTERIOR APÓS A PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. A IMPORTAÇÃO QUE SE COGITA: A) Não pode ser efetuada por empresa estrangeira, ainda que subsidiária, estabelecida no Brasil. B) É modalidade de regime aduaneiro especial de admissão temporária para utilização econômica. C) É modalidade de trânsito aduaneiro, visto que a mercadoria retorna ao exterior ao final do serviço. D) Enquadra-se no regime aduaneiro especial de admissão temporária para aperfeiçoamento ativo. E) Não se sujeita a regime aduaneiro especial. GABARITO 1. São características dos regimes aduaneiros especiais: A alternativa "C " está correta. Nos regimes aduaneiros especiais, a característica principal é a suspensão dos tributos, desde que justificada por um interesse econômico previsto na lei. Complementarmente, o prazo de permanência no Brasil ou no exterior, conforme o caso, e a garantia dos tributos e das penalidades, eventualmente cabíveis. 2. Uma subsidiária brasileira de empresa estrangeira, especializada na prestação de serviços portuários, deseja importar uma draga para retirar areia acumulada de um canal de acesso a determinado porto no Brasil e promover seu retorno ao exterior após a prestação do serviço. A importação que se cogita: A alternativa "B " está correta. O regime aduaneiro especial aplicável é, sem dúvida, a admissão temporária para utilização econômica, destinado à entrada de mercadoria no território para fins de utilização em processo industrial ou na prestação de serviços no país. MÓDULO 2 Identificar os regimes aduaneiros especiais e suas características OUTROS REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS A fim de situar melhor os regimes aduaneiros especiais, é preciso entender que no mundo moderno a função financeira não mais se adequa aos tributos incidentes sobre o comércio exterior. Com efeito, hoje, a arrecadação de tributos sobre as operações de importação e exportação representa percentagem residual em relação à receita total oriunda dos tributos como um todo. A finalidade econômica dos tributos aduaneiros torna a atividade fator diferenciado das demais exações. Importa destacar o necessário equilíbrio entre a imposição tributária sobre o comércio exterior, que determina a incidência de alíquotas seletivas sobre o ingresso de mercadorias no território nacional, e o incentivo às atividades econômicas, caracterizado, principalmente, pelo tratamento diferenciado dispensado pela lei às entradas e saídas de mercadorias do território nacional. Além das modalidades de regimes especiais estudados, podem ser mencionados outros, como o drawback, o Repetro e o entreposto aduaneiro, que merecem a devida atenção por sua importância e aplicação na prática aduaneira, sobre os quais falaremos a seguir. REGIME ADUANEIRO ESPECIAL DE IMPORTAÇÃO DE INSUMOS DESTINADOS À INDUSTRIALIZAÇÃO POR ENCOMENDA (RECOM) O Recom, previsto nos arts. 427 e seguintes do regulamento aduaneiro (RA), consiste no regime aduaneiro especial de insumos destinados à industrialização por encomenda de produtos classificados nas posições 8701 a 8705 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). O regime permite a importação, sem cobertura cambial, de chassis, carroçarias, peças, partes, componentes e acessórios, com suspensão do pagamento do Imposto sobre os Produtos Industrializados (IPI). A importação será sempre realizada por encomenda de pessoa jurídica domiciliada no exterior, correndo por sua conta e ordem a importação. O Imposto de Importação devido somente incidirá sobre os insumos importados e empregados na industrialização dos produtos aqui relacionados. ATENÇÃO O produto resultante da aplicação do presente regime especial não estará sujeito à tributação pelo IPI incidente sobre os insumos adquiridos no mercado interno, se exportado para o exterior. Quando destinados ao mercado interno, os produtos serão remetidos à empresa encomendante, com suspensão do imposto sobre produtos industrializados. REGIME ADUANEIRO ESPECIAL DE IMPORTAÇÃO DE PETRÓLEO BRUTO E SEUS DERIVADOS (REPEX) O Repex, previsto nos arts. 464 e seguintes do RA, é o que permite a importação desses produtos, com suspensão do pagamento de impostos, para posterior exportação, no mesmo estado em que foram importados. O prazo para que a exportação ocorraé de noventa dias, prorrogável uma única vez, por igual período, tendo como termo inicial a data do desembaraço aduaneiro de admissão das mercadorias. Durante esse período, o produto poderá ser utilizado no mercado interno, sob a condição de que seja substituído por outro, na mesma quantidade e idêntica classificação fiscal, quando da posterior exportação. Constituem condições prévias para o regime, concedido em caráter precário: HABILITAÇÃO DA EMPRESA JUNTO À SECRETARIA ESPECIAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL (RFB). AUTORIZAÇÃO DA AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO (ANP) PARA IMPORTAR E EXPORTAR OS PRODUTOS OBJETO DO REGIME. CABE À RFB RELACIONAR OS PRODUTOS QUE PODERÃO SER ADMITIDOS NO REGIME. ATENÇÃO O abastecimento de aeronaves e embarcações estrangeiras com o produto importado não está abrangido pelo regime. REGIME TRIBUTÁRIO PARA INCENTIVO À MODERNIZAÇÃO E À AMPLIAÇÃO DA ESTRUTURA PORTUÁRIA (REPORTO) Criado pelo art. 14 da Lei nº 11.033/2004, alterada pela Lei nº 12.715/2012, e constante dos arts. 471 e seguintes do RA, o Reporto (O Reporto foi instituído pela Lei nº 11.033/2004 e está regulamentado nos arts. 471 a 475 do RA.) é o que permite, na importação de máquinas, equipamentos, peças de reposição e outros bens, a suspensão do pagamento do Imposto de Importação, do IPI, da contribuição para o PIS/PASEP- Importação e da COFINS-Importação, quando importados diretamente pelos beneficiários do regime e destinados ao seu ativo imobilizado. O regime especial destina-se exclusivamente à execução de serviços de carga, descarga, armazenagem e movimentação de mercadorias e produtos, sistemas suplementares de apoio operacional, proteção ambiental, sistemas de segurança e de monitoramento de fluxo de pessoas, mercadorias, produtos, veículos e embarcações, dragagens, e treinamento e formação de trabalhadores, inclusive na implantação de centros de treinamento profissional. Na atividade de movimentação de mercadorias exercida por operador portuário, se o bem admitido no Reporto for o único meio de acesso de um ponto a outro do porto organizado, é permitida a sua utilização em via pública situada fora da área do porto organizado. O Reporto é aplicado, também, aos bens utilizados na execução de serviços de transporte de mercadorias em ferrovias, classificados nas posições 86.01, 86.02 e 86.06 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), e aos trilhos e demais elementos de vias férreas, classificados na posição 73.02. A RFB é competente para relacionar em ato normativo específico os bens que serão beneficiados pela suspensão tributária de que trata o Reporto. Os procedimentos para aplicação do REPORTO estão disciplinados pela Instrução Normativa RFB nº 1.370/2013. SAIBA MAIS Conforme disposto no § 5º, do art. 471 do RA, as peças de reposição devem ter o seu valor aduaneiro igual ou superior a 20% do valor aduaneiro da máquina ou do equipamento ao qual se destinam. ENTREPOSTO ADUANEIRO E DEPÓSITOS ESPECIAIS ENTREPOSTO ADUANEIRO Um regime aduaneiro especial muito utilizado pelos importadores e exportadores é o entreposto aduaneiro. Cabe destacar, de início, que o termo entreposto, como regime aduaneiro especial, não pode ser confundido com o seu outro significado, qual seja, o de depósito. Entreposto aduaneiro é o regime aduaneiro especial que permite, na importação e na exportação, o depósito de mercadorias, em local determinado, com suspensão do pagamento de tributos e sob controle fiscal. Observe que a importação em quantidade considerável pode resultar em economia de frete, seguro e outras despesas relativas ao transporte de mercadorias. A permissão para explorar entreposto de uso público ou de uso privativo é concedida em caráter precário, ou seja, não gera benefício permanente para o titular do regime. O entreposto aduaneiro caracteriza-se pelo uso público ou privativo. Os permissionários do entreposto aduaneiro de uso público são as empresas de armazéns gerais, as empresas comerciais exportadoras e as empresas nacionais prestadoras de serviços de transporte internacional de carga. Por sua vez, o entreposto aduaneiro de uso privativo tem como permissionárias ou beneficiárias as empresas comerciais exportadoras – as chamadas trading companies. Fonte: Shutterstock.com As mercadorias sob esse regime são importadas sem cobertura cambial, isto é, o importador não remete divisas ao exterior para pagamento da importação, considerando-se que a mercadoria pertence ao exportador no exterior até a sua venda no mercado interno. Admite-se, apenas, a cobertura cambial quando a mercadoria se destina à exportação. O prazo máximo de permanência no regime de entreposto aduaneiro é de um ano, sendo permitida a prorrogação por prazo fixado pela autoridade. Define-se regime especial de entreposto aduaneiro na importação aquele que permite a armazenagem de mercadoria estrangeira em recinto alfandegado de uso público, com suspensão do pagamento dos impostos incidentes na importação, conforme disposto no art. 404 do RA. O regime permite, ainda, a permanência de mercadoria estrangeira em feira, congresso, mostra ou evento semelhante, realizado em recinto de uso privativo, previamente alfandegado para esse fim. ATENÇÃO É condição para admissão no regime que a importação não tenha sido efetuada com cobertura cambial. Trata-se de regime vantajoso para o importador, uma vez que o pagamento dos tributos só é exigido por ocasião do despacho aduaneiro. O entreposto aduaneiro também é utilizado na exportação, entendido como o regime que permite a armazenagem de mercadoria destinada à exportação, conforme define o art. 410 do Decreto nº 6.759/2009. O entreposto aduaneiro na exportação compreende as modalidades de regime: REGIME COMUM Nessa modalidade, a mercadoria é armazenada em recinto de uso público, com a suspensão do pagamento de impostos. O depositante, no entanto, somente goza do direito aos benefícios fiscais no momento em que a mercadoria deixa o país. REGIME EXTRAORDINÁRIO Essa modalidade é de uso exclusivo das empresas comerciais exportadoras: as trading companies. Nessa hipótese, mais vantajosa, o gozo do incentivo fiscal ocorre no momento da aquisição da mercadoria pela trading. O entreposto aduaneiro na exportação, em qualquer das duas modalidades, enseja a fruição de incentivos fiscais nas operações de venda de produto brasileiro ao exterior. ENTREPOSTO INDUSTRIAL (RECOF-SPED) O Recof, previsto nos arts. 520 e seguintes do RA, é o regime aduaneiro especial que permite a determinado estabelecimento industrial importar, com suspensão de tributos, com ou sem cobertura cambial, sob controle aduaneiro informatizado, mercadorias que, depois de submetidas à operação de industrialização, deverão destinar-se ao mercado externo. O regime especial é disciplinado pela Instrução Normativa RFB nº 1.988/2020. As mercadorias sob o regime especial apresentam as seguintes características: ARMAZENAMENTO Segundo dispõe a instrução normativa, os insumos admitidos e os produtos finais produzidos sob o regime, nas condições previstas no art. 23 da Instrução Normativa RFB nº 1.291/2012, e no art. 17 da Instrução Normativa RFB nº 1.612/2016, poderão ser armazenados também em recinto alfandegado de zona secundária ou armazém-geral que reserve área própria para essa finalidade; em pátio externo ou depósito fechado do próprio beneficiário; ou pátio externo ou depósito fechado de terceiro – nos casos em que o beneficiário possua ato da Secretaria de Fazenda, finanças ou tributação de estado ou do Distrito Federal que autorize a utilização do referido espaço. DESTINAÇÃO Parte da mercadoria importada sob o regime poderá destinar-se a consumo, no estado em que foi importada ou depois de submetida a processo de industrialização. Além disso, a mercadoria poderá destinar-se à exportação ou à reexportação, assim como poderá ser destruída. AUTORIZAÇÃO A autorização, concedida em caráter precário,poderá ser cancelada ou suspensa a qualquer tempo. Compete ao coordenador-geral do sistema de controle aduaneiro autorizar operações no regime, que poderão ser canceladas ou suspensas a qualquer tempo por descumprimento de termos, limites e condições de funcionamento do regime. HABILITAÇÃO Do ato de habilitação constarão as mercadorias que poderão ser admitidas, as operações de industrialização permitidas e o percentual tolerável de perda, além de outras limitações. PRAZO DE PERMANÊNCIA A mercadoria poderá permanecer no regime especial pelo prazo de um ano, que poderá ser prorrogado por período idêntico. Findo o prazo de autorização, serão exigidos os tributos referentes às mercadorias em estoque, acrescidos dos encargos legais. Com a Instrução Normativa nº 1.612 de 2016, o regime aduaneiro especial de entreposto industrial sob controle aduaneiro (Recof) passou a se chamar regime aduaneiro especial de entreposto industrial sob controle informatizado do sistema público de escrituração digital (Recof-Sped), tendo em vista a necessidade de adaptação aos sistemas informatizados implantados na Secretaria Especial da RFB. O objetivo da criação do Recof-Sped é oferecer ao contribuinte simplificação dos processos, facilidade de ingresso e redução de custos de implementação e manutenção do regime. A grande vantagem disponibilizada pelo Recof-Sped consiste no fato de que, se a empresa beneficiária do regime não lograr exportar parte da mercadoria adquirida ou do produto industrializado, pode, ainda assim, usufruir dos benefícios fiscais previstos. Nesse caso, a empresa poderá destiná-los ao mercado interno, mediante o recolhimento dos tributos, acrescidos da multa e dos juros, desde que o pagamento seja efetuado dentro do prazo estabelecido na legislação. No vídeo a seguir, confira o depoimento do especialista acerca das diferentes características entre o entreposto aduaneiro e o entreposto industrial. DEPÓSITOS ESPECIAIS DEPÓSITO AFIANÇADO Outro dos regimes aduaneiros especiais é o denominado depósito afiançado, previsto nos arts. 488 e seguintes do RA. Permite a estocagem, com suspensão do pagamento de impostos federais e das contribuições para o PIS/PASEP e da COFINS, de materiais importados sem cobertura cambial, destinados à manutenção e ao reparo de embarcação ou aeronave pertencente à empresa autorizada a operar no transporte comercial internacional, e utilizados nessa atividade. Fonte: Shutterstock.com O regime também pode ser concedido à empresa estrangeira que opere no transporte rodoviário. Os depósitos de empresas estrangeiras de transporte marítimo ou aéreo poderão ser utilizados, inclusive, para provisões de bordo. Vale acrescentar que o controle aduaneiro da entrada, da permanência e da saída de mercadorias será efetuado mediante processo informatizado. ATENÇÃO A concessão do regime especial é prevista em acordo internacional, podendo, ainda, ser concedido quando comprovada a reciprocidade de tratamento. O prazo máximo de permanência das mercadorias no regime é de cinco anos. DEPÓSITO CERTIFICADO O regime de depósito alfandegado certificado (DAC), previsto nos arts. 493 e seguintes do RA: Permite considerar exportada, para todos os efeitos fiscais, creditícios e cambiais, a mercadoria nacional depositada em recinto alfandegado de uso público ou instalação portuária de uso privativo misto, vendida à pessoa sediada no exterior, mediante contrato de entrega no território nacional e ordem do adquirente. DEPÓSITO ALFANDEGADO Na admissão para o regime, o depositário emitirá o conhecimento de depósito alfandegado, título que comprova o depósito, a tradição e a propriedade da mercadoria. O prazo de permanência no regime é de um ano. O regime se extingue mediante a comprovação do embarque ou da transposição de fronteira terrestre, do despacho para consumo ou a transferência para o regime especial de drawback, admissão temporária, Repetro, loja franca ou entreposto aduaneiro. DEPÓSITO FRANCO O regime aduaneiro especial de depósito franco, previsto nos arts. 499 e seguintes do RA: Permite, em recinto alfandegado, a armazenagem de mercadoria estrangeira para atender ao fluxo comercial de países limítrofes com terceiros países. O regime, que se baseia em acordo ou convênio internacional firmado pelo Brasil, é instituído com o fim de atender à conveniência de países limítrofes não banhados pelo oceano Atlântico. ATENÇÃO No caso em que o prazo estabelecido para admissão no regime for ultrapassado ou quando houver fundadas suspeitas de falsa declaração de conteúdo, a autoridade aduaneira será obrigada a proceder à conferência física da mercadoria depositada. LOJAS FRANCAS Outro regime especial digno de menção diz respeito às lojas francas, previsto no art. 476 do RA. Permite a estabelecimento instalado em zona primária de porto ou de aeroporto alfandegado a venda de mercadoria nacional ou estrangeira a passageiro em viagem internacional, contra pagamento em cheque de viagem ou em moeda estrangeira conversível. A habilitação para operar no regime é precedida de concorrência pública promovida pela SRF. A aquisição de mercadoria destinada à venda em loja franca goza da suspensão de tributos, que se converte em isenção no momento da venda. Contudo, as mercadorias nacionais são vendidas às lojas francas pelos estabelecimentos industriais ou equiparadas com isenção dos tributos incidentes. Nas lojas francas é permitida a admissão temporária de mercadorias em consignação, caso em que o pagamento ao exportador é efetuado após a venda da mercadoria. Fonte: Shutterstock.com SAIBA MAIS Tripulantes e passageiros em viagens internacionais; missões diplomáticas; repartições consulares; representações de organizações internacionais de caráter permanente, inclusive seus integrantes; empresas de navegação aérea e marítima, de bandeira estrangeira, aportadas no país; além de passageiros em viagem internacional, poderão adquirir mercadorias para seu consumo em lojas francas. DRAWBACK DEFINIÇÃO, CARACTERÍSTICAS E PROCEDIMENTOS Um regime aduaneiro especial digno de citação por sua importância e uso generalizado no comércio consiste no drawback, que se caracteriza pela importação de insumos e produtos intermediários com suspensão, isenção ou restituição de impostos para posterior emprego em produto exportado ou destinado à exportação, após serem objeto de operação de industrialização que modifique a sua classificação tarifária. O art. 383 do RA é bastante claro ao dizer que “o drawback é considerado incentivo à exportação”. De fato, esse regime constitui eficiente incentivo ao desenvolvimento do processo de industrialização, uma vez que os tributos devidos na importação são suspensos, evitando que o industrial seja onerado com o ônus tributário. Com base no drawback, o Estado concede o benefício, o que levou o então ministro do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), Luiz Fux, a afirmar, no Recurso Especial nº 417.821, que a operação resulta de um negócio sinalagmático, em que o importador assume a obrigação de beneficiar e reexportar a mercadoria, e o Estado, de sua parte, outorga o benefício fiscal. O regime tem como objetivo excluir do preço final do produto o ônus tributário relativo à importação de matéria-prima ou ao produto intermediário importado empregado ou consumido na sua fabricação, permitindo a redução do custo dos produtos a serem exportados. SAIBA MAIS São beneficiárias do drawback as empresas industriais exportadoras. Além da suspensão dos tributos eventualmente devidos, a importação sob o regime de drawback não se sujeita à obrigatoriedade de transporte em veículo de bandeira brasileira e à apuração da similaridade, exigências feitas a todos os beneficiários de isenções. MODALIDADES A seguir, confira as diferentes modalidades de drawback: SUSPENSÃO É a mais utilizada no Brasil, dado que o importador não precisa despender qualquerimportância ao importar. Um projeto de exportação é submetido à Subsecretaria de Operações de Comércio Exterior (Suext), que, após o seu exame, expede o ato concessório. A dispensa dos tributos é condicionada à comprovação do embarque para o exterior do produto contendo os bens importados. Mediante a emissão do ato concessório, e até o seu cumprimento total, o beneficiário deve apresentar, até o décimo dia de cada mês, relatório das operações de importação e exportação realizadas ao amparo do regime no mês anterior. Serão constituídos termos de responsabilidade para o gozo dos direitos relativos ao Imposto de Importação e ao IPI. A dispensa do Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) está condicionada a requerimento apresentado ao Departamento da Marinha Mercante. ISENÇÃO Essa modalidade, também chamada de reposição de estoque ou de exportação antecipada, consiste na importação, com isenção de tributos, de mercadoria idêntica e em quantidade suficiente para substituir outra de mesma qualidade e na mesma quantidade, utilizada no processo de fabricação de produto exportado anteriormente. O gozo do benefício está sujeito à comprovação pela empresa interessada da exportação de produtos em cujo processo de industrialização tenham sido utilizados partes, peças, matérias- primas ou insumos equivalentes àqueles objetos do pedido de isenção. Vale destacar que o gozo do benefício do drawback isenção está condicionado ao pagamento dos tributos na primeira importação efetuada, conforme dispõe o art. 393-A do RA, com a redação dada pela Lei nº 12.350/2010. RESTITUIÇÃO O importador, após o pagamento dos impostos devidos, recebe da RFB um certificado de crédito fiscal à importação, válido por determinado prazo, que lhe assegura o direito à restituição dos tributos pagos na importação, tão logo comprove o embarque da mercadoria com destino ao exterior. A modalidade restituição difere da modalidade anterior, posto que o importador opta pelo reembolso da quantia paga em vez do direito a uma nova importação isenta. Os benefícios do drawback na importação estendem-se aos impostos internos. Por conseguinte, temos, com a aplicação do regime, não só a dispensa do Imposto de Importação, como também a do IPI, do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços de Transportes e Comunicação (ICMS), do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros e sobre Valores e Títulos Mobiliários (IOF), do AFRMM, das contribuições para o PIS/PASEP e da COFINS, além de outros encargos que correspondam à efetiva contraprestação de serviços. Outras modalidades também podem ser citadas, como: DRAWBACK PARA FORNECIMENTO INTERNO Também conhecido como intermediário ou “verde/amarelo”, foi instituído pela Lei nº 8.032/90. Permite o gozo da suspensão ou da isenção de tributos incidentes sobre matéria-prima e por fabricantes de bens intermediários, formadores da cadeia produtiva de produto a ser exportado ou já importado por outro industrial, fabricante do produto final, em decorrência de licitação internacional, contra pagamento em moeda conversível proveniente de financiamento concedido por instituição financeira internacional, da qual o Brasil participe, ou por entidade governamental estrangeira ou, ainda, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com recursos captados no exterior. Diferentemente das demais modalidades, o drawback previsto na Lei nº 8.032/90 não condiciona o gozo do incentivo fiscal à comprovação da exportação do produto final, e sim à comprovação da venda do produto final no mercado interno. Por esse motivo, a modalidade é conhecida como drawback para fornecimento interno. Essa modalidade vem sendo muito utilizada na implantação de projetos industriais no Brasil. DRAWBACK SOLIDÁRIO Nesta modalidade, duas ou mais empresas encarregadas da industrialização de produtos a serem exportados gozam do direito à isenção dos tributos devidos pela importação, na proporção da parcela que a cada uma corresponda. DRAWBACK INDUSTRIALIZAÇÃO SOB ENCOMENDA Modalidade de drawback em que uma empresa comercial exportadora importa partes e peças, matérias-primas, produtos intermediários ou material de embalagem, para industrialização por terceiro e posterior exportação pela empresa importadora. Qualquer que seja a modalidade de drawback considerada, o objetivo do regime consiste em incentivar o processo de industrialização no país, visando conferir maior competitividade ao produto nacional no mercado externo. REPETRO-SPED É um regime aduaneiro especial de exportação e de importação de bens destinados às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e de gás natural, criado pela Lei nº 9.478/1997, e que constitui um dos mais importantes instrumentos de estímulo às atividades de pesquisa e exploração de petróleo e gás natural. Fonte: Shutterstock.com O Repetro-Sped, regido atualmente pela Lei nº 13.586/2017 e pela Instrução Normativa nº 1.781/2017, e o Repetro- Industrialização, regulado pelo Decreto nº 9.537/2018 e pela Instrução Normativa nº 1.901/2019, são dois regimes aduaneiros especiais relativos ao setor de óleo e gás que permitem a produção, a aquisição e/ou a importação em caráter permanente ou temporário de bens a serem utilizados nas atividades de pesquisa, exploração e produção de petróleo e gás natural. O Repetro, tal como foi concebido, consiste no regime especial em que a empresa habilitada a pesquisar e explorar petróleo e gás natural no Brasil possa adquirir bens de que necessita no mercado interno e exportá-los fictamente para a empresa vencedora em processo de licitação promovida pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), importando-os, ao mesmo tempo, sob o regime de admissão temporária ficta. SAIBA MAIS A exportação ficta e a admissão temporária ficta significam que a mercadoria adquirida no mercado interno não é exportada fisicamente, mas apenas documentalmente, através do Siscomex. A saída do bem, que não deixou o país, também é processada apenas documentalmente pelo Siscomex. Essa é, sem dúvida, uma das formas mais eficazes de incentivo às atividades de pesquisa e exploração de petróleo no território nacional. Resumindo, temos os seguintes tratamentos dispensados ao Repetro: I II III I Exportação, com saída ficta do território aduaneiro e posterior aplicação do regime de admissão temporária, no caso de bens, de fabricação nacional, relacionados em ato da Secretaria Especial da RFB, vendidos à pessoa sediada no exterior. II Exportação, com saída ficta do território aduaneiro, de partes e peças de reposição a serem aplicadas a máquinas e equipamentos sobressalentes, a ferramentas e a outras partes e peças destinadas a garantir a operacionalidade dos bens acima referidos, já admitidos no regime aduaneiro especial de admissão temporária. III Importação, sob o regime de drawback, na modalidade suspensão, de matérias-primas, produtos semielaborados ou acabados, e de partes ou peças utilizadas na fabricação dos bens referidos nos itens anteriores, bem como de máquinas e equipamentos sobressalentes, ferramentas e aparelhos e de outras partes e peças destinadas a garantir a operacionalidade dos bens relacionados, e posterior comprovação do adimplemento das obrigações decorrentes da aplicação desse regime mediante a exportação com saída ficta retrocitada. Nas hipóteses previstas nos dois últimos itens, aplica-se, também, o regime de admissão temporária. Vale lembrar que, nas duas primeiras hipóteses, os bens objetos do regime devem ser produzidos no país e adquiridos por pessoa sediada no exterior, contra pagamento em moeda estrangeira de livre conversibilidade, para entrega no território nacional. Já os bens constantes do item III devem ser de propriedade de pessoa sediada no exterior e importados sem cobertura cambial pelo contratante dos serviços de pesquisa e produção de petróleo e gás natural, ou porterceiro por ele subcontratado. Com vistas a desenvolver as atividades petrolíferas e com gás natural, principalmente após as descobertas do óleo em camadas do pré-sal, em 2006, o Repetro evoluiu para beneficiar inúmeros produtos utilizados na indústria do petróleo e do gás, mediante a concessão de incentivos fiscais compatíveis com a importância do setor para o crescimento da economia do país. Como resultado, temos hoje o Repetro-Sped e o Repetro- Industrialização. REPETRO-SPED O Repetro-Sped é utilizado por empresas operadoras, suas contratadas e subcontratadas para a prestação dos serviços de pesquisa e exploração, enquanto o Repetro-Industrialização é o regime que beneficia a indústria nacional de bens intermediários e de bens finais. A habilitação a um ou outro regime especial requer a comprovação de adequação às exigências legais – entre outras, o exercício de atividades de petróleo e gás natural e a manutenção de sistema contábil informatizado. REPETRO-INDUSTRIALIZAÇÃO O Repetro-Industrialização, cuja utilização é solicitada à RFB mediante a entrega de dossiê digital ou a formação de processo digital, consiste na importação ou aquisição de mercadorias no mercado interno, com a suspensão dos tributos incidentes sobre matérias-primas, produtos intermediários e material de embalagem a serem empregados nos processos de pesquisa, exploração e produção de petróleo e gás no Brasil. São beneficiários do regime de Repetro-Sped as empresas contratadas para as atividades mencionadas, operadoras contratadas pela ANP, contratadas e subcontratadas para o fim exposto. Como benefícios fiscais concedidos por lei, podem ser citadas a importação definitiva com suspensão de tributos; a admissão temporária para fins econômicos com dispensa de tributos; e a admissão temporária para fins econômicos com pagamento dos tributos federais. Vale acentuar que os bens favorecidos pela concessão da admissão temporária para fins econômicos com dispensa de tributos constam de lista fornecida pela Secretaria Especial da RFB. BENS FAVORECIDOS Entre os bens contemplados com os benefícios do Repetro- Sped estão embarcações, máquinas, aparelhos e instrumentos necessários a serviços, plataformas, veículos automóveis especiais, linhas, dutos e umbilicais, e estruturas concebidas para suportar as plataformas em alto-mar. javascript:void(0) VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A IMPORTAÇÃO DE PETRÓLEO BRUTO, COM SUSPENSÃO DE TRIBUTOS E COM FINALIDADE DE MANTER ESTOQUE PARA EXPORTAÇÃO NO PRAZO DE NOVENTA DIAS, CARACTERIZA O REGIME ADUANEIRO ESPECIAL DE: A) Repex B) Repetro-Sped C) Admissão temporária para aperfeiçoamento ativo D) Drawback suspensão E) Reporto 2. O REGIME ADUANEIRO ESPECIAL, QUE PERMITE A UM ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL IMPORTAR MERCADORIA, COM OU SEM COBERTURA CAMBIAL, PARA FINS DE INDUSTRIALIZAÇÃO, SOB CONTROLE INFORMATIZADO, E POSTERIOR EXPORTAÇÃO, SENDO PERMITIDO O CONSUMO DE PARTE DA MERCADORIA IMPORTADA, É O(A) CHAMADO(A): A) Entreposto aduaneiro de exportação B) Drawback na modalidade restituição C) Depósito Especial Alfandegado (DEA) D) Entreposto industrial (Recof-Sped) E) Admissão temporária GABARITO 1. A importação de petróleo bruto, com suspensão de tributos e com finalidade de manter estoque para exportação no prazo de noventa dias, caracteriza o regime aduaneiro especial de: A alternativa "A " está correta. O Repex é um regime especial de caráter estratégico, dado que, basicamente, destina-se ao fornecimento de petróleo a mercados estrangeiros, em regra, limítrofes, podendo ser, eventualmente, consumido no país e reposto a seguir. 2. O regime aduaneiro especial, que permite a um estabelecimento industrial importar mercadoria, com ou sem cobertura cambial, para fins de industrialização, sob controle informatizado, e posterior exportação, sendo permitido o consumo de parte da mercadoria importada, é o(a) chamado(a): A alternativa "D " está correta. Como regra geral, os regimes aduaneiros se destinam a incentivar a produção e a exportação. Nesse ponto, há certa semelhança entre eles. Contudo, o entreposto industrial é o regime aduaneiro especial que permite a determinado estabelecimento industrial importar, com suspensão de tributos, com ou sem cobertura cambial. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Foram analisadas ao longo deste tema as razões pelas quais o Brasil, bem como os demais países do mundo, concede reduções e outras vantagens tributárias, a fim de incrementar a produção industrial e, consequentemente, estimular a competitividade, mediante o emprego de condições mais favoráveis à troca de bens com outras nações. Foram vistos os vários tipos de regimes especiais, quais sejam, o trânsito aduaneiro, a admissão temporária nas suas duas vertentes, o drawback, a exportação temporária, a importação temporária para aperfeiçoamento ativo, a exportação temporária para aperfeiçoamento passivo e o entreposto aduaneiro. Além disso, foram vistos o drawback, o Repetro e o entreposto aduaneiro. Cada um dos regimes especiais possui suas características e finalidades, sendo necessário atentar para a hipótese concreta, para verificar qual mecanismo deve ser utilizado. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS FARO, Ricardo Faro; FARO, Fátima. Curso de comércio exterior. São Paulo: Atlas, 2011. FERNANDES, Rodrigo Mineiro. Introdução ao direito aduaneiro. São Paulo: Intelecto, 2018. JUNQUEIRA, Gustavo; VILELA, Renata (coord.). Direito aduaneiro e tributação aduaneira em homenagem a José Lence Carluci. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018. MEIRA, Liziane Angelotti. Tributos sobre o comércio exterior. São Paulo: Saraiva, 2017. EXPLORE+ Pesquise artigos sobre: O regime especial de entreposto aduaneiro e as operações de importação. O regime de exportação especial com tributos reduzidos. CONTEUDISTA Adilson Rodrigues Pires CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);