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SIMULADO APROFUNDADO 2

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OAB XXII EXAME DE ORDEM 
Direito Penal 
Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 
1 
SIMULADO DE APROFUNDAMENTO – XXII EXAME DE ORDEM 
(CAPA ROSA) 
 
Rodrigo, brasileiro, solteiro, 26 anos de idade, residente na Rua Alfa, nº 
10, Apartamento 130, Macapá, Amapá, publicitário, no dia 23 de novembro de 
2016, estava voltando da viagem que fez para o sudeste do país. Ao 
desembarcar no Aeroporto de Macapá, foi para a esteira de bagagens e retirou 
uma mala de cor verde limão, idêntica a sua. Entretanto, ao chegar ao saguão do 
aeroporto, Rodrigo verificou a mala e, achando ser sua, tentou abri-la para ali 
pegar um objeto de que necessitava, mas sem sucesso. Com isso, foi 
surpreendido por agentes de segurança, que, após confirmarem que a mala 
pertencia a outra pessoa, prenderam-no em flagrante pelo crime de furto. 
Na Delegacia, a autoridade competente era João, um conhecido de 
Rodrigo das festas que ocorriam na cidade que, diante da narrativa fática, 
autuou o agente em flagrante delito pelo crime de furto qualificado pelo emprego 
de chave falsa, já que o cadeado da mala estava destroçado e a informação dada 
por Rodrigo, inicialmente, foi no sentido de ter perdido a chave e, por isso, 
quebrado o objeto. 
Realizado o auto de prisão em flagrante delito pela conduta delituosa, 
houve a assinatura dos condutores e de duas testemunhas que presenciaram a 
apresentação do preso. Depois disso, o Delegado quis ouvir Rodrigo, no intuito 
de realizar o seu interrogatório, tendo o preso informado que queria a 
assistência de Gabriela, sua namorada e advogada. João, todavia, negou a 
participação da Advogada sob a alegação de que o procedimento era de 
natureza administrativa e, por isso, não era necessária a presença de um 
advogado ao ato. 
Diante da recusa de Rodrigo em prestar os seus esclarecimentos sem a 
presença de advogado, o delegado deu continuidade as formalidades do auto de 
prisão em flagrante, comunicando imediatamente ao juiz da Comarca de 
Macapá/Amapá e ao representante do Ministério Público acerca da prisão. 
Todavia, como a Delegacia estava sem telefone fixo, negou ao preso a 
possibilidade dele falar com seus familiares, inclusive pelo seu telefone pessoal, 
deixando ainda de comunicar o fato à defensoria pública, já que Rodrigo possuía 
advogado. 
Por fim, entregou nota de culpa a Rodrigo, dentro do prazo legal 
estabelecido na legislação vigente. 
No dia 25 de novembro do corrente ano, quarenta e oito horas após a 
prisão em flagrante, a família de Rodrigo tomou conhecimento do ocorrido. 
Considerando a situação hipotética acima, na qualidade de advogado 
contratado pela família de Rodrigo, redija a peça cabível, excetuando-se a 
utilização do Habeas Corpus, no intuito de restituir a liberdade do seu cliente. 
(Valor: 5,0) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 
2 
 
GABARITO COMENTADO 
 
 
Endereçamento correto (Valor: 0,2) 
 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CRIMINAL 
DA COMARCA DE MACAPÁ CAPITAL DO ESTADO DE AMAPÁ 
 
Indicação correta do dispositivo que dá ensejo à apresentação do Relaxamento 
da Prisão em Flagrante – artigo 5º, LXV da Constituição Federal em combinação 
com o artigo 310, I do Código de Processo Penal (Valor: 0,6). 
 
 
 
 
 
RODRIGO, brasileiro, solteiro, publicitário, portador da cédula de identidade 
número __, expedida pela __, inscrito no Cadastro de Pessoa Física do Ministério da 
Fazenda sob o número __, residente e domiciliado na Rua Alfa, nº 10, Apartamento 
130, Amapá, Macapá, por seu advogado abaixo assinado, conforme procuração anexa 
a este instrumento, vem muito respeitosamente à presença de Vossa Excelência, 
requerer o seu 
RELAXAMENTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE 
com fundamento no artigo 5º, LXV, da Constituição Federal, em combinação com o 
artigo 310, I do Código de Processo Penal, pelos motivos de fato e de direito a seguir 
expostos: 
 
Exposição dos Fatos (Valor: 0,2) 
 
1. Dos Fatos 
 Conforme consta do auto de prisão, o requerente foi preso em flagrante em razão 
do suposto crime de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo, conforme 
previsão no artigo 155, §4º, I do Código Penal. 
 O crime teria ocorrido após o agente ter desembarcado no aeroporto da cidade e 
ter ido às esteiras de bagagens, ocasião em que retirou uma mala verde limão, 
indêntica a sua. 
 Ocorre que, ainda no aeroporto, mas já no saguão, longe do local de retirada das 
bagagens, precisando de um objeto que estava na mala, o requerente tentou abrir a 
bagagem, sem sucesso, momento da chegada dos policiais e da condução a 
delegacia competente. 
 Após a lavratura do auto de prisão em flagrante e demais formalidades, a 
autoridade policial não possibilitou ao ora requerente a assistência da sua advogada, 
tampouco comunicou a prisão à defensoria pública, além de não ter dado ao agente a 
oportunidade de se comunicar com os seus familiares, sob a alegação de que a 
Delegacia não possuía telefone fixo. 
 
 
 
 
 
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Da(s) ilegalidade(s) da prisão (Valor: 2,0) 
- Indicar como ilegalidade material a prisão em flagrante do agente pela 
ocorrência do erro de tipo constante no artigo 20 do Código Penal. (Valor: 0,2) 
- Indicar como ilegalidade formal do flagrante a falta de comunicação ao 
advogado indicado pelo preso. (Valor: 0,8) 
- Indicar como ilegalidade formal do flagrante a ausência de comunicação à 
defensoria pública. (Valor: 0,5) 
- Indicar como ilegalidade formal do flagrante a ausência de comunicação do 
fato à família do preso ou pessoa por ele indicada (Valor: 0,5) 
 
2. Da(s) ilegalidade(s) da prisão 
Conforme demonstrado na dinâmica dos fatos, a prisão do ora requerente é 
substancial e formalmente ilegal. De início, verifica-se substancialmente ilegal, já que 
não é possível a prisão em flagrante se não há como tipificar em nosso ordenamento 
jurídico a conduta praticada pelo requerente. 
Como se percebe na descrição dos fatos, Rodrigo imaginou que estava 
pegando a sua mala e não a de outra pessoa. Assim, diante de ocorrência do erro de 
tipo, nos moldes do artigo 20, caput, do Código Penal, não há que se falar em crime e, 
com isso, a prisão, de pronto, é ilegal. 
Ainda que a discussão do erro de tipo pudesse caracterizar tese de mérito, 
verifica-se diante do caso concreto, o absurdo na referida prisão, uma vez que a 
confusão de bagagens não apenas é algo comum em aeroportos, como puderam os 
policiais se certificar de que a mala do requerente não apenas ainda estava na esteira, 
mas também correspondia em semelhança com a que fora encontrada em seu poder. 
Além disso, Excelência, não bastasse a ilegalidade material da prisão de forma 
errônea do requerente, ainda há, no caso concreto, diversas ilegalidades formais no 
ato da autoridade policial, pois a prisão de Rodrigo não foi comunicada ao seu 
advogado, tampouco à defensoria pública e nem aos seus familiares ou pessoa por 
ele indicada. 
A prisão torna-se ilegal quando o preso é impedido de ser assistido por seu 
advogado durante o interrogatório. A lei nº 13.245 alterou o artigo 7º, XXI do Estatuto 
da Advocacia (Lei nº 8.906/1994) como direito do advogado, participar dos 
depoimentos prestados, na fase investigatória, sob pena de nulidade do referido ato. 
Portanto, ainda que Vossa Excelência não considere ilegalidade material a da prisão, 
de pronto já ocorre a ilegalidade formal, devendo a prisão ser imediatamente relaxada. 
Como se não bastasse, a autoridade policial não procedeu em conformidade 
com o estabelecido no artigo 306 do Código de Processo Penal em combinação com o 
artigo 5º, LXII da Constituição Federal, já que ambos estabelecem a necessidade de 
comunicação da prisão aos familiares ou a pessoa indicadapelo preso. O fato da 
Delegacia não possuir telefone fixo não retira do agente o direito constitucional de ter a 
sua prisão comunicada à pessoa por ele indicada. 
Além disso, Excelência, é dever do Delegado constante no §1º do artigo 306 do 
Código de Processo Penal em comunicar à defensoria pública, remetendo cópia 
integral do auto de prisão em flagrante em caso de advogado não constituído pelo 
preso. Ora, se o Delegado não aceitou que o agente fosse assistido por advogado de 
 
 
 
 
 
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sua confiança, deveria, então, ter comunicado a sua prisão à defensoria pública, 
remetendo, assim, cópia dos autos aquele órgão conforme preceitua o artigo citado. 
Não realizando tal providência, a prisão torna-se ilegal, devendo ser relaxada de 
pronto. 
 
Da total ausência dos pressupostos da prisão preventiva (Valor: 0,5) 
- Indicar a inexistência de decretação da prisão preventiva do requerente em 
virtude da ausência dos requisitos que a autorizam. (Valor: 0,5) 
 
3. Da total ausência dos pressupostos da prisão preventiva 
Por fim, em caráter subsidiário e apenas por cautela, vale ressaltar que no caso 
concreto, após o relaxamento da prisão em flagrante em face dos patentes vícios 
existentes na prisão, não existe a possibilidade de ser decretada a prisão preventiva 
do requerente. 
No caso em comento, não existem quaisquer dos motivos que autorizariam a 
prisão preventiva, configurando-se evidente a impossibilidade de manutenção do 
indiciado, ora requerente, no cárcere, a qualquer título. 
 
Dos pedidos (Valor: 1,3) 
- Pedido de reconhecimento da ilegalidade da prisão em flagrante, com o 
consequente relaxamento da prisão em flagrante em virtude das ilegalidades 
constantes na prisão. (Valor: 1,0) 
- Pedido de expedição do alvará de soltura. (Valor: 0,3) 
 
4. Do Pedido 
Ante o exposto, postula-se a Vossa Excelência, com base no artigo 5º, LXV da 
Constituição Federal, e artigo 310, I, do Código de Processo Penal, diante da flagrante 
ilegalidade de sua prisão, o imediato relaxamento da prisão em flagrante imposta ao 
requerente. 
Termos em que, ouvido o ilustre representante do Ministério Público e 
expedindo-se o alvará de soltura, pede deferimento. 
 
OBS: O Pedido de oitiva do representante do Ministério Público não é obrigatório, já 
que como a prisão é ilegal, não há que se realizar a oitiva do parquet e, por isso, não 
pontuado. Todavia, a realização do pedido pode ser feita, sem nenhum encargo. 
 
Estrutura correta (Valor: 0,2). 
 
Termos em que, 
Pede deferimento. 
 
Macapá, Amapá, data. 
Advogado, OAB. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS 
 
 
QUESITO AVALIADO FAIXA DE 
VALORES 
ATENDIMENTO 
AO QUESITO 
1. Endereçamento correto ao Juiz de Direito da __ 
Vara Criminal da Comarca de Macapá Capital do 
Estado de Amapá (0,2). 
 
0,00 / 0,2 
 
2. Indicação correta do dispositivo que dá ensejo à 
apresentação do Relaxamento de Prisão em 
Flagrante – artigo 5º, LXV da Constituição Federal 
(0,3) e artigo 310, I do Código de Processo Penal 
(0,3) 
 
 
0,00 / 0,3 / 0,6 
 
3. Exposição dos Fatos. (0,2) 0,00 / 0,2 
4. Indicar como ilegalidade material a prisão em 
flagrante do agente pela ocorrência do erro de tipo 
constante no artigo 20 do Código Penal. (0,2) 
 
0,00 / 0,2 
 
4.1 Indicar como ilegalidade formal do flagrante a 
falta de comunicação ao advogado indicado pelo 
preso. (0,8) 
 
0,00 / 0,8 
 
4.2. Indicar como ilegalidade formal do flagrante a 
ausência de comunicação à defensoria pública. (0,5) 
 
0,00 / 0,5 
 
4.3. Indicar como ilegalidade formal do flagrante a 
ausência de comunicação do fato à família do preso 
ou pessoa por ele indicada. (0,5) 
 
0,00 / 0,5 
 
5. Indicar a inexistência de decretação da prisão 
preventiva do requerente em virtude da ausência 
dos requisitos que a autorizam. (0,5) 
 
0,00 / 0,5 
 
6. Pedido de reconhecimento da ilegalidade da 
prisão em flagrante (0,5), com o consequente 
relaxamento da prisão em flagrante em virtude das 
ilegalidades constantes na prisão. (0,5) 
 
 
0,00 / 0,5 / 1,0 
 
6.1 Pedido de expedição do alvará de soltura. (0,3) 0,00 / 0,3 
7. Estrutura Correta. (0,2) 0,00 / 0,2 
 
 
QUESTÃO 01 
 
Ernesto, prefeito da cidade de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, juntamente 
com a sua esposa, Laís, empresária residente também nesta cidade, durante 
uma viagem de férias a Recife, Pernambuco, estavam hospedados em um hotel e 
discutiram com um garçom em razão da bebida servida ao casal não estar tão 
gelada quanto esperavam. Como Ernesto e Laís estavam nervosos e tinham 
bebido um pouco além da conta, começaram a agredir o garçom com socos e 
cadeiradas, dotados de animus necandi, vindo este a falecer no caminho do 
hospital em decorrência das agressões sofridas. Os agentes foram denunciados 
pelo delito de homicídio qualificado pelo motivo fútil, nos termos do artigo 121, 
§2º II do Código Penal. Diante da situação apresentada, pergunta-se: 
 
 
 
 
 
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A) A quem compete o processamento e julgamento do feito em relação ao 
Prefeito Ernesto? (Valor: 0,6) 
B) Em relação a sua esposa, Laís, haverá modificação de competência? (Valor: 
0,65) 
Justifique suas respostas. 
 
GABARITO COMENTADO 
 
A) A competência para o processamento e julgamento do feito em relação ao Prefeito 
Ernesto é do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, nos termos do artigo 29, X 
da Constituição Federal em combinação com a Súmula 702 do Supremo Tribunal 
Federal. 
Analisando o caso concreto apresentado, em relação ao Prefeito Ernesto, a 
competência será determinada em razão da função exercida pelo agente, sendo 
competente o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para julgar o crime, pois o 
prefeito é julgado pelo Tribunal de Justiça a que está vinculado, conforme previsão na 
Súmula 702 do STF. 
Vale salientar, inclusive, que tal competência por prerrogativa de função 
prevalece sobre a do Tribunal do Júri, já que ambas estão previstas na Constituição 
Federal. 
 
B) Embora haja divergência sobre o tema, melhor entendimento se dá no sentido de 
que deva ser garantido a Laís o julgamento perante o Tribunal do Júri da Comarca de 
Recife, Pernambuco, nos termos do artigo 5º, XXXVIII, “d” da Constituição Federal em 
combinação com os artigos 70 e 74, parágrafo 1º do Código de Processo Penal. 
Analisando o caso apresentado, em virtude de Laís não ter prerrogativa de 
função e ser a competência do júri constitucional, deverá existir a separação dos 
processos, sendo Laís processada e julgada pelo Tribunal do Júri de Recife, por se 
tratar de crime doloso contra a vida, cuja competência configura garantia individual 
fundamental. 
 
DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS 
 
QUESITO AVALIADO FAIXA DE 
VALORES 
ATENDIMENTO 
AO QUESITO 
A) A competência para o processamento e 
julgamento do Prefeito é o Tribunal de Justiça do 
Estado de São Paulo OU A competência dar-se-á 
pelo estabelecido no artigo 29, X da Constituição 
Federal em combinação com a Súmula 702 do 
Supremo Tribunal Federal (0,4). A competência por 
prerrogativa de função prevalece sobre a do 
Tribunal do Júri (0,2) 
 
 
 
0,00 / 0,4 / 0,6 
 
B) Laís deve ser julgada pelo Tribunal do Júri da 
Comarca de Recife/PE OU Aplica-se a Laís os 
artigos 5º, XXXVIII, ‘d’ da Constituição Federal e 
artigos 70 e 74 do Código de Processo Penal. 
 
 
0,00 / 0,45 / 0,65 
 
 
 
 
 
 
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(0,45). Os processos serão separados. (0,2) 
 
QUESTÃO 02 
 
Murilo, advogado, foi denunciado pela suposta prática dos crimesde tráfico de 
entorpecentes e de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, tipificados 
respectivamente no artigo 33 da Lei de Drogas – Lei nº 11.343/06 e artigo 12 do 
Estatuto do Desarmamento – Lei 10.826/03. A denúncia lastreia-se em fatos 
descobertos durante cumprimento a mandado de busca e apreensão no 
escritório de advocacia do réu. O mandado tinha a finalidade de apreender, tão 
somente, a arma que pertenceria ao estagiário do escritório, Jonas, que estava 
sendo investigado por envolvimento em um crime de homicídio. Ocorre que os 
policiais depararam-se com, aproximadamente, 900 (novecentos gramas) de 
maconha e um revólver, calibre 38, além de 10 (dez) cartuchos íntegros numa 
caixa de metal. Verificando que a substância e a arma apreendida eram, em 
verdade, de Murilo, o mesmo foi capturado em flagrante delito, sendo conduzido 
à Delegacia de Polícia. Toda a ocorrência deu-se na presença de um 
representante da OAB. Diante das informações apresentadas, pergunta-se: 
A) A prisão de Murilo foi legal? (Valor: 0,6) 
B) Como advogado de Murilo qual a medida privativa de advogado que pode ser 
intentada para salvaguardar sua liberdade? (Valor: 0,65) 
 
GABARITO COMENTADO 
 
A) A prisão em flagrante de Murilo foi legal, tendo em vista que ambos os delitos – 
tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido – são permanentes. 
 Isso porque, não obstante o mandado de busca e apreensão ter sido expedido 
para a apuração de crime praticado por Jonas, estagiário do escritório cuja 
propriedade é de Murilo, por ser a ocorrência flagrancial de dois delitos que possuem 
natureza permanente, não seria razoável exigir dos policiais envolvidos na diligência 
que não constatassem os crimes aduzidos acima, ambos caracterizando estado de 
flagrância, na forma do artigo 303 do Código de Processo Penal, para posteriormente 
retornar com um mandado específico de busca e apreensão para o escritório de 
Murilo. 
 Destaca-se ainda que, pelo fato da busca e apreensão ter ocorrido no escritório 
de advocacia, necessário se faz a indicação expressa de representante da Ordem dos 
Advogados do Brasil no local, para o acompanhamento da diligência, nos termos do 
artigo 7º, inciso IV do Estatuto da OAB – Lei nº 8.906/94. 
 
B) A medida privativa de advogado cabível para assegurar a liberdade de Murilo é a 
liberdade provisória sem fiança, nos moldes do artigo 310, inciso III do Código de 
Processo Penal em combinação com o artigo 5º, LXVI da Constituição Federal. 
Ademais, cumpre destacar que a liberdade provisória será sem fiança, tendo 
em vista que o artigo 323, inciso II do Código de Processo Penal veda expressamente 
a concessão da fiança para o crime de tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins. 
 
 
 
 
 
 
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DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS 
 
QUESITO AVALIADO FAIXA DE 
VALORES 
ATENDIMENTO 
AO QUESITO 
A) A prisão de Murilo foi legal porque os crimes são 
permanentes. (0,5). Caracteriza-se, assim, estado 
de flagrância OU aplica-se o artigo 303 do Código 
de Processo Penal. (0,1) 
 
 
0,00 / 0,5 / 0,6 
 
B) É cabível a liberdade provisória sem fiança OU 
cabível o constante no artigo 5º, LXVI da 
Constituição Federal em combinação com o artigo 
310, III do Código de Processo Penal. (0,65) 
 
0,00 / 0,65 
 
 
 
QUESTÃO 03 
 
Bianca foi denunciada pelo representante do Ministério Público pela prática do 
delito de estelionato, nos moldes do artigo 171 do Código Penal. Ao final da 
instrução criminal e após a respectiva apresentação de memoriais pelas partes, 
em face das provas colhidas, apurou-se que a conduta típica adequada seria 
furto qualificado pela fraude, constante no artigo 155, § 4º, inciso II do Código 
Penal, já que a agente teria se utilizado de meio fraudulento para diminuir a 
vigilância da res furtiva e, com isso, praticado o crime de subtração da res. Por 
esse motivo, o juiz abriu vista ao representante do Ministério Público. Nesse 
sentido, considerando apenas as informações contidas no caso concreto, 
pergunta-se: 
A) O Magistrado pode, de ofício, dar nova capitulação aos fatos? (Valor: 0,55) 
B) Agiu corretamente o Magistrado ao fazer remessa dos autos ao Ministério 
Público mesmo após a apresentação dos memoriais? (Valor: 0,7) 
 
GABARITO COMENTADO 
 
A) O Magistrado não pode, de ofício, alterar os termos da denúncia, sob pena de 
violação dos princípios da inércia, da ampla defesa, do contraditório, do devido 
processo legal e da congruência ou correlação entre acusação e sentença. 
A inércia decorre da figura atual do sistema acusatório, previsto no artigo 129, 
inciso I da Constituição Federal. Assim, a alteração da imputação, embora necessária, 
incumbirá ao Ministério Público, na forma do artigo 384 do Código de Processo Penal. 
 
B) O Magistrado agiu corretamente ao fazer remessa dos autos para que o Ministério 
Público procedesse com o aditamento da denúncia, ainda que após a apresentação 
dos memoriais. A hipótese consagra o instituto da mutatio libelli, disciplinado ao teor 
do artigo 384 do Código de Processo Penal. 
 
 
 
 
 
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Analisando o caso concreto, a questão deixa claro o surgimento, durante a 
instrução criminal, de elementos distintos daqueles narrados na exordial, o que 
caracteriza mudança a ensejar a aplicação da mutatio libelli. 
Assim, a mutatio libelli ocorre quando, no curso da instrução processual, surgir 
prova não prevista na peça acusatória. Neste caso, deverá o Ministério Público aditar 
a exordial, com posterior oitiva da defesa, respeitando-se o contraditório, a ampla 
defesa, o sistema acusatório e o princípio da correlação entre acusação e sentença, 
não podendo fazê-lo de ofício o juiz processante. 
 
DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS 
 
QUESITO AVALIADO FAIXA DE 
VALORES 
ATENDIMENTO 
AO QUESITO 
A) Não é permitido ao magistrado dar nova 
capitulação dos fatos porque o judiciário é inerte OU 
aplica-se o constante no artigo 129, I da 
Constituição Federal. (0,35). Ofensa aos princípios 
do contraditório, ampla defesa e devido processo 
legal. (0,2) 
 
 
 
0,00 / 0,35 / 0,55 
 
B) Agiu corretamente o magistrado por ser caso de 
aplicação o instituto da mutatio libelli OU agiu 
corretamente o magistrado por aplicação do artigo 
384 do Código de Processo Penal. (0,7) 
 
0,00 / 0,7 
 
 
 
QUESTÃO 04 
 
Luiz, maior e capaz, foi denunciado pelo Ministério Púbico por ter, 
supostamente, ocultado origem e movimentação de valores provenientes de 
crime de contrabando. Diante exclusivamente das informações, pergunta-se: 
A) Qual o suposto crime praticado por Luiz? (Valor: 0,4) 
B) Caso o crime de contrabando não tenha sido julgado, ainda sim, poderá Luiz 
ser processado pelo suposto delito praticado? (Valor: 0,4) 
C) Qual será a competência para o processamento e julgamento do crime ora 
denunciado? (Valor: 0,45) 
 
GABARITO COMENTADO 
 
A) O suposto crime praticado por Luiz é o de lavagem de capitais, tipificado ao teor do 
artigo 1º da Lei 9.613/1998. 
 O mencionado delito estará configurado, dentre outras modalidades, quando o 
sujeito oculta ou dissimula a natureza, origem, localização, disposição, movimentação 
ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal. 
 Da casuística apresentada, vislumbra-se que Luiz supostamente está 
ocultando a origem e movimentação de valores provenientes de crime de contrabando, 
razão pela qual incorre no delito de lavagem de capitais, disciplinado no artigo 1º, 
caput, da Lei 9.613/1998. 
 
 
 
 
 
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B) Ainda que o crime de contrabando não tenha sido julgado, poderá Luiz ser 
processado pelo crime delavagem de capitais, nos moldes do artigo 2º, inciso II, da 
Lei 9.613/1998. 
A Lei de Lavagem de Capitais estabelece que independente do processo e 
julgamento das infrações penais antecedentes poderá/deverá este delito ser 
processado e jugado pelo juízo competente. 
 
C) No caso apresentado, a competência para o processamento e julgamento do feito 
do delito de lavagem de Capitais será da Justiça Federal, nos termos do artigo 2º, 
inciso III, alínea 'b', da Lei 9.613/1998, uma vez que a competência para o processo e 
julgamento da lavagem de dinheiro depende da competência do crime antecedente, de 
onde surgiram os valores objeto da lavagem. 
 Em sendo o crime precedente o de contrabando, crime próprio da competência 
da Justiça Federal, conforme preceitua a Súmula 151 do Superior Tribunal de Justiça, 
será esta também competente para o processamento e julgamento da lavagem de 
capitais, conforme indicado no artigo 2º, inciso III, alínea 'b', da Lei 9.613/1998. 
 
 
DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS 
 
QUESITO AVALIADO FAIXA DE 
VALORES 
ATENDIMENTO 
AO QUESITO 
A) O suposto crime praticado por Luiz é o de 
lavagem de capitais OU crime previsto no artigo 1º 
da Lei 9.613/1998. (0,4) 
 
0,00 / 0,4 
 
B) Pode ser julgado por força do artigo 2º, II da Lei 
9.613/1998. (0,4) 
0,00 / 0,4 
C) Competência da Justiça Federal OU Aplicação 
do artigo 2º, III, ‘b’ da Lei 9.613/1998 OU 
competência depende do crime antessente e como 
o contrabando é da competência da Justiça Federal, 
a lavagem também será. (0,45) 
 
 
0,00 / 0,45 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 
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