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TROVADORISMO AULA 05 Origem (1189 ou 1198 a 1434) A palavra Trovadorismo origina-se de trovador, termo que designava o poeta na época. Manifestação poética e musical, que aconteceu em Portugal na era medieval. Ela nos serve para entender um pouco nossa literatura de origem, o chamado Quinhentismo brasileiro. AULA 05 2 Designa-se por Trovadorismo o período que engloba a produção literária de Portugal durante seus primeiros séculos de existência (séc. XII ao XIV). AULA 05 Durante essa época a poesia alcançou grande popularidade, não somente entre os nobres da corte mas também entre as pessoas comuns do povo. AULA 05 Os poemas eram cantados e acompanhados de instrumentos musicais e danças, por causa disso, foram denominados cantigas. AULA 04 CONTEXTO HISTÓRICO Momento final da Idade Média na Península Ibérica, onde a cultura apresenta a religiosidade como elemento marcante. A vida do homem medieval é totalmente norteada pelos valores religiosos e para a salvação da alma. São comuns procissões, romarias, construção de templos religiosos, missas etc. AULA 05 A arte reflete, então, esse sentimento religioso em que tudo gira em torno de Deus. (Teocentrismo) Por isso, essa época é chamada de Teocêntrica. As relações sociais estão baseadas também na submissão aos senhores feudais. Estes eram os detentores da posse da terra, habitavam castelos e exerciam o poder absoluto sobre seus servos ou vassalos. AULA 05 Há bastante distanciamento entre as classes sociais, marcando bem a superioridade de uma sobre a outra. AULA 05 INICIO A tradição histórica considera como o primeiro texto literário português uma cantiga (poema musicado) escrita por Paio Soares de Taveirós, datada em 1189 ou 1198 (?) O poema foi dedicado a D. Maria Paes Ribeiro – apelidada de Ribeirinha - que era amante de D. Sancho I. Essa cantiga tornou-se conhecida como "Cantiga de Guarvaia" ou "Cantiga da Ribeirinha". Essa cantiga inaugurou o estilo de época conhecido como Trovadorismo. AULA 05 9 Cantiga da Ribeirinha No mundo non me sei parelha mentre me for'como me vai, ca ja moiro por vós - e ai Mia senhor branca e vermelha queredes que vos retraia quando vos eu vi en saia! AULA 05 10 Mao dia me levantei, que vos enton non vi fea! E, mia senhor, dês aquel dia’ai ! me foi a mi mui mal, e vós filha de don paai Moniz, e bem vos semelha d’haver eu por vós guarvaia, pois eu, mia senhor, d’alfaia nunca de vós houve nen hei valia d’ua correa. (Paio Soares Taveirós) AULA 05 11 Versão atualizada: No mundo não conheço ninguém igual a mim, enquanto acontecer o que me aconteceu, pois eu morro por vós - e ai! Minha senhora alva e rosada, quereis que vos lembre que já vos vi na intimidade! AULA 05 12 Em mau dia eu me levantei Pois vi que não sois feia! E, minha senhora, desde aquele dia , ai! Venho sofrendo de um grande mal enquanto vós, filha de Dom Paio Muniz, a julgar forçoso que eu lhe cubra com o manto pois eu, minha senhora, nunca recebi de vós a coisa mais insignificante AULA 05 13 A poesia desta época compõe-se basicamente de cantigas, geralmente com acompanhamento de instrumentos (alaúde, flauta, viola, gaita etc.). Os autores dessas cantigas eram chamados de trovadores. Esses poetas faziam parte da nobreza ou do clero e, além da letra, criavam a música das composições que eram executadas nas cortes. AULA 05 Já nas camadas populares, quem cantava e executava as canções, mas não as criava, eram os jograis. Mais tarde, as cantigas foram copiladas em Cancioneiros. Os mais importantes Cancioneiros desta época são o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana. AULA 05 15 Cantigas As cantigas eram cantadas no idioma galego-português e dividem-se em dois tipos: Cantigas Líricas Amor Amigo Satíricas Escárnio Maldizer AULA 05 Do ponto de vista literário, as cantigas líricas apresentam maior potencial pois formam a base da poesia lírica portuguesa e até brasileira. Já as cantigas satíricas, geralmente, tratavam de personalidades da época, numa linguagem popular e muitas vezes obscena. AULA 05 Cantigas de amor Origem em Provença, região da França. Trazidas através dos eventos religiosos e contatos entre as cortes. Tratam, geralmente, de um relacionamento amoroso, em que o trovador canta seu amor a uma dama, normalmente de posição social superior, inatingível. Refletindo a relação social de servidão, o trovador roga a dama que aceite sua dedicação e submissão. Eu lírico - masculino AULA 05 Perguntar-vos quero por Deus Senhor fremosa, que vos fez mesurada e de bon prez, que pecados foron os meus que nunca tevestes por ben de nunca mi fazerdes ben. Pero sempre vos soub'amar des aquel dia que vos vi, mays que os meus olhos en mi, e assy o quis Deus guisar, que nunca tevestes por ben de nunca mi fazerdes ben. AULA 05 Des que vos vi, sempr'o maior ben que vos podia querer vos quigi, a todo meu poder, e pero quis Nostro Senhor que nunca tevestes por ben de nunca mi fazerdes ben. Mays, senhor, ainda con ben se cobraria ben por ben. (Don Dinis, rei de Portugal que viveu entre 1261 – 1325) AULA 05 Cantiga de amigo De origem popular esses textos apresentam valor histórico, além de literário, uma vez que retratam os costumes da sociedade da época. Este tipo de texto apresenta um eu-lírico feminino. O trovador compõe a cantiga, mas o ponto de vista é feminino. Tem como tema o sofrimento da mulher à espera do namorado (chamado "amigo"), a dor do amor não correspondido, as saudades, os ciúmes, as confissões da mulher a suas amigas, etc. AULA 05 Os elementos da natureza estão sempre presentes, além de pessoas do ambiente familiar, evidenciando o caráter popular da cantiga de amigo. AULA 05 Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! E ai Deus, se verrá cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado! E ai Deus, se verrá cedo! AULA 05 Se vistes meu amigo, o por que eu sospiro! E ai Deus, se verrá cedo! Se vistes meu amado, por que hei gran cuidado! E ai Deus, se verrá cedo! Martin Codax AULA 05 Cantiga de Amor Cantiga de Amigo Eu lírico masculino Eu lírico feminino Expressão da vida da corte Expressão da vida campesina e urbana Amor cortês (idealizado) Tratamento dado ao namorado (amigo) Idealização da mulher Amor realizado – Saudades do amigo Vassalagem amorosa Simplicidade – quadros sentimentais Expressão da coita d'amor Sofrimento amoroso Maestria e refrão Paralelismo e refrão Origem provençal Origem popular Comparação AULA 05 Cantigas satíricas Nessas cantigas os trovadores preocupavam-se em denunciar os falsos valores morais vigentes, atingindo todas as classes sociais: senhores feudais, clérigos, povo e até eles próprios. Dividem-se em: Cantigas de escárnio Cantigas de maldizer AULA 05 Cantigas de escárnio Nessa cantiga, o eu lírico, faz uma crítica (sátira) indireta e irônica a alguém. Para os trovadores fazerem uma cantiga de escárnio, ele precisa compor uma cantiga falando mal de alguém, ou seja, fazendo uma critica a alguma pessoa, através de palavras de duplo sentido, ou seja, através de ambiguidades, trocadilhos e jogos semânticos, através de um processo denominado pelos trovadores equívoco. AULA 05 Ai, dona fea, foste-vos queixar que vos nunca louv[o] em meu cantar; mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia!... Cantiga de Escárnio AULA 05 Dona fea, se Deus me perdon, pois avedes [a] tan gran coraçon que vos eu loe, en esta razon vos quero já loar toda via; e vedes qual será a loaçon: dona fea, velha e sandia! Dona fea, nunca vos eu loei en meu trobar, pero muito trobei; mais ora já un bon cantar farei, en que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia! Joan Garcia de Guilhade AULA 05 Cantigas de maldizer (crítica direta e mais grosseira) Esse tipo de cantiga, também traz críticas, ou seja sátirasdiretas, porém não são acompanhadas de duplos sentidos. É normal que ocorra agressões verbais à pessoa que está sendo criticada, ou seja, satirizada, geralmente usa-se até mesmo palavrões para compor esse tipo de cantiga. AULA 05 cantiga de maldizer: Maria Peres se mãefestou noutro dia, ca por pecador se sentiu, e log' a Nostro Senhor prometeu, pelo mal em que andou, que tevess' um clérig' a seu poder, polos pecados que lhi faz fazer o demo, com que x'ela sempr'andou. Mãefestou-se, ca diz que s'achou pecador mui't, porém, rogador foi log' a Deus, ca teve por melhor de guardar a El ca o que a guardou E mentre viva diz que quer teer um clérigo, com que se defender possa do demo, que sempre guardou AULA 05 E pois que bem seus pecados catou de sa mor' ouv ela gram pavor e d'esmolar ouv' ela gram sabor E logo entom um clérico filhou e deu-lhe a cama em que sol jazer E diz que o terrá mentre viver e esta fará; todo por Deus filhou. E pois que s'este preito começou, antr'eles ambos ouve grand'amor. Antr'el á sempr'o demo maior atá que se Balteira confessou. Mais pois que viu o clérigo caer, antre'eles ambos ouv'i a perder o demo, dês que (desde que) s'ela confessou. (Fernando Velho) AULA 05 • Início: Cantiga da Ribeirinha (1189 ou 1198) • Influência provençal na península Ibérica • Teocentrismo • Musicalidade – Métrica medieval • Cantiga de amor: ⇒ Eu lírico masculino ⇒ Coita ⇒ Vassalagem amorosa ⇒ Amor cortês Resumo AULA 05 33 • Cantiga de amigo: ⇒ Eu lírico feminino ⇒ Origem popular ⇒ Cotidiano – Valor histórico • Cantiga de escárnio: sátira indireta • Cantiga de maldizer: sátira direta AULA 05 34 Love Song Pois nasci nunca vi Amor, e ouço del sempre falar. Pero sei que me quer matar, mais rogarei a mia senhor que me mostr'aquel matador, ou que m'ampare del melhor. AULA 05 35
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