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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N° 626-24.2016.6.26.0261 - CLASSE 32 - PIRAPOZINHO - SÃO PAULO Relator: Ministro Admar Gonzaga Recorrentes: Orlando Padovan e outro Advogados: Hélio Freitas de Carvalho da Silveira - OAB: 154003/SP e outros Recorrida: Coligação Juntos Somos Mais Fortes Advogados: Rogério Leandro Ferreira - OAB: 142624/SP e outro Recorrido: Ministério Público Eleitoral DECISÃO Orlando Padovan e António Carlos Colnago, candidatos eleitos aos cargos de prefeito e vice-prefeito do Município de Pirapozinho/SP nas Eleições de 2016, interpuseram recurso especial eleitoral (fls. 1.816-1.877) em face de acórdão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (fls. 1.553-1.602) que, por unanimidade, recebeu os apelos com efeito suspensivo e declarou a inconstitucionalidade parcial do § 3° do art. 224 do Código Eleitoral, rejeitando as demais questões preliminares, e, por maioria de votos, deu parcial provimento ao recurso dos ora recorrentes, a fim de reformar, em parte, a sentença do Juízo da 261a Zona Eleitoral daquele Estado para afastar o reconhecimento da captação ilícita de sufrágio e a multa imposta com base no art. 41-A da Lei 9.504/97, confirmando, porém, o juízo de procedência da ação de investigação judicial eleitoral ajuizada pela Coligação Juntos Somos Mais Fortes quanto à prática de abuso do poder económico, mantendo, assim, as sanções de cassação de diplomas e de declaração de inelegibilidade pelo período de oito anos, aplicadas nos termos do art. 22, XIV, da Lei Complementar 64/90. Ademais, a Corte de origem negou provimento aos apelos apresentados pelo Ministério Público Eleitoral e pela Coligação Juntos Somos Mais Fortes e deu provimento ao recurso eleitoral de Cícero Alves Maia, candidato não eleito ao cargo de vereador no mesmo pleito, a fim de julg REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP totalmente improcedente a ação de investigação judicial eleitoral com relação a ele. Eis a ementa do acórdão regional (fls. 1.553-1554): RECURSOS ELEITORAIS. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE). ABUSO DE PODER ECONÓMICO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA COM RELAÇÃO A ORLANDO PADOVAN, ANTÓNIO CARLOS COLNAGO, RESPECTIVAMENTE, PREFEITO E VICE-PREFEITO ELEITOS, E CÍCERO ALVES M Al A, CANDIDATO A VEREADOR NAS ELEIÇÕES 2016, E DE IMPROCEDÊNCIA QUANTO A CLAUDECIR MARAFON, VEREADOR ELEITO. RECEBIDOS OS RECURSOS COM EFEITO SUSPENSIVO. AFASTADAS AS PRELIMINARES ARGUIDAS POR ORLANDO PADOVAN, ANTÓNIO CARLOS COLNAGO, CÍCERO ALVES MAIA E CLAUDECIR MARAFON. INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL DO ART. 224, § 3°, DO CÓDIGO ELEITORAL. DISTRIBUIÇÃO DE CAMISETAS VERMELHAS JUNTAMENTE COM R$ 50,00, BEM COMO PAGAMENTO DE CONTAS E COMPRA DE MEDICAMENTOS EM TROCA DE VOTOS. REALIZAÇÃO DE EVENTO COM FORNECIMENTO GRATUITO DE BEBIDAS. DEPOIMENTOS COLHIDOS EM SEDE POLICIAL E NÃO CONFIRMADOS EM JUÍZO, SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO. DESCARACTERIZADA A CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO POR FALTA DE PROVAS. CONFIGURADO O ABUSO DE PODER ECONÓMICO NAS ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS. NÃO RESTOU COMPROVADO O ABUSO DE PODER ECONÓMICO NO PLEITO PROPORCIONAL. A REFORMA DE R. SENTENÇA É MEDIDA QUE SE IMPÕE. DESPROVIMENTO DOS RECURSOS INTERPOSTOS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL E PELA COLIGAÇÃO "JUNTOS SOMOS MAIS FORTES". PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO INTERPOSTO POR ORLANDO PADOVAN E ANTÓNIO CARLOS COLNAGO, A FIM DE AFASTAR O RECONHECIMENTO DA CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO E, CONSEQUENTEMENTE, ELIDIR A MULTA APLICADA. PROVIMENTO DO RECURSO INTERPOSTO POR CÍCERO ALVES MAIA, PARA, COM RELAÇÃO A ELE, JULGAR A PRESENTE AÇÃO IMPROCEDENTE. Opostos embargos de declaração (fls. 1.607-1.627), foram eles rejeitados em decisão assim ementada (fl. 1.780): EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INOVAÇÃO RECURSAL ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE FORMAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. AFASTAMENTO. CONDUTAS CINDÍVEIS E AUTÓNOMAS. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. EMBARGOS REJEITADOS. REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP Os recorrentes sustentam, em suma, que: a) o recurso especial não demanda o reexame do acervo fático-probatório dos autos, mas apenas a requalificação jurídica dos fatos consignados no acórdão recorrido, considerando os votos vencedores e os votos vencidos; b) o acórdão recorrido ofendeu os arts. 275, l e II, do Código Eleitoral, 1.022, II e III, parágrafo único, II, do Código de Processo Civil, e 93, IX, da Constituição da República, diante da existência de omissões e erros materiais no julgado, razão pela qual deve ser aplicado o disposto no art. 1.025 do Código de Processo Civil, ou, caso assim não se entenda, deve ser provido o recurso especial para determinar o retorno dos autos ao TRE/SP, a fim de que a Corte de origem corrija as falhas apontadas nos embargos; c) houve contrariedade ao art. 941, § 3°, do Código de Processo Civil, uma vez que o voto vencido, que reconhecia a improcedência da demanda, não compôs o acórdão regional originário e tal falha não foi corrigida, a despeito da oposição de embargos de declaração, ensejando a nulidade do acórdão recorrido; d) a decisão regional ofendeu os arts. 29, X, e 5°, LI 11 e LVI, da Constituição da República, 157, caput e §§ 1°, 2° e 3°, do Código de Processo Penal e 369 do Código de Processo Civil, assim como afrontou o verbete sumular 702 do Supremo Tribunal Federal, pois considerou válidos os elementos probatórios colhidos em inquérito policial instaurado em desfavor de prefeito e que não foi supervisionado pelo tribunal competente, ensejando a nulidade das provas obtidas; e) o aresto recorrido contrariou os arts. 5°, LV, da Constituição da República, 22, caput, da Lei Complementar 64/90 e 434, 435 e 437, § 1°, do Código de Processo Civil, por violação ao REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP contraditório e à ampla defesa, porquanto, intempestivamente e em audiência de instrução, foram juntados documentos novos pela parte autora sem a concessão de prazo razoável para análise e manifestação dos representados; f) houve violação aos arts. 22, caput, V a X, da Lei Complementar 64/90, 5°, II, LV e LVI, da Constituição da República, e 157, caput e §§ 1°, 2° e 3°, do Código de Processo Penal, em virtude da produção de prova ilícita consistente no depoimento pessoal dos réus, contrariando a jurisprudência desta Corte Superior e do Tribunal Regional Eleitoral paulista; g) o acórdão regional divergiu do entendimento do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul quanto à possibilidade de exame, em embargos declaratórios, da matéria alusiva à nulidade de depoimento pessoal do réu, por tratar-se de matéria de ordem pública, passível de arguição a qualquer momento; h) a oitiva de testemunha não arrolada na petição inicial afronta o disposto nos arts. 22, caput, da LC 64/90, e 27, § 1°, da Res.-TSE 23.462; i) a ausência de formação de litisconsórcio passivo necessário entre todos os envolvidos na suposta prática de abuso do poder económico infringiu o disposto nos arts. 22, XIV, da Lei Complementar 64/90, e 114 e 115 do Código de Processo Civil, tendo o acórdão regional divergido da jurisprudência desta Corte Superior (REspe 843-56) e do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (Acórdão 410/2017) quanto ao ponto; j) houve contrariedade aos arts. 14, § 9°, da Constituição da República, 237 do Código Eleitoral, 19, parágrafo único, e 22, caput, XIV e XVI, da Lei Complementar 64/90, e 371 do Código REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP de Processo Civil, tendo em vista: i) que há ausência de prova robusta e incontestável do abuso do poder económico; ii) que os fatos não configuram ilicitude; iii) que a condenação ocorreu com base em meras presunções; iv) que inexiste gravidade apta a impactar a lisura das eleições; e v) que os recorrentes são apenas beneficiários de atos de terceiros; k) houve dissídio jurisprudência! quanto à impossibilidade de se presumir a responsabilidade do candidato em virtude de proximidade política ou familiar, bem como à indevida declaração de inelegibilidadecom base no art. 22, XIV, da Lei Complementar 64/90, em razão de ato de responsabilidade de terceiros; l) o aresto regional violou o art. 224, § 3°, do Código Eleitoral e a Constituição Federal ao reconhecer a inconstitucionalidade da expressão "após o trânsito em julgado", contida no citado dispositivo legal, com base no acórdão desta Corte proferido nos ED-REspe 139-25, pois tal norma é compatível com o texto constitucional vigente. Requerem o recebimento do recurso especial com efeito suspensivo e pleiteiam o conhecimento e o provimento do apelo, a fim de que sejam tornados insubsistentes os acórdãos regionais e julgada extinta ou improcedente a ação de investigação judicial eleitoral. Caso assim não se entenda, pugnam por que seja afastada a inelegibilidade imposta ou, ainda, reconhecida a nulidade do acórdão e da sentença, determinando-se a realização de novo julgamento da demanda pelas instâncias ordinárias. Por decisão às fls. 1.997-1.999, o Presidente do Tribunal de origem admitiu o recurso especial e concedeu-lhe efeito suspensivo. A Coligação Juntos Somos Mais Fortes apresentou contrarrazões às fls. 2.008-2.018, nas quais pugnou pela revogação do efeito suspensivo conferido ao recurso especial, com determinação de cumprimento REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP imediato do acórdão regional, e pleiteou o não conhecimento e o não provimento do apelo. Pela decisão de fls. 2.023-2.024, o Presidente do TRE/SP manteve a decisão que conferiu efeito suspensivo ao recurso especial. A douta Procuradoria-Geral Eleitoral, no parecer de fls. 2.039-2.047v, opinou pelo não provimento do recurso especial. É o relatório. Decido. O recurso especial é tempestivo. O acórdão atinente ao julgamento dos embargos de declaração foi publicado no Diário da Justiça Eletrônico de 21.2.2018, quarta-feira, conforme certidão à f l. 1.809, e o apelo foi interposto na mesma data (fl. 1.816) em petição subscrita por advogados habilitados nos autos (procurações às fls. 500 e 862 e substabelecimentos às fls. 1.261-1.2626 1.628). No caso, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo manteve a condenação dos recorrentes às sanções de cassação de diplomas e de declaração de inelegibilidade pelo período de oito anos, aplicadas nos termos do art. 22, XIV, da Lei Complementar 64/90, em virtude da prática de abuso do poder económico, consistente na distribuição de camisetas e de cerveja a eleitores. Nas razões recursais, sustenta-se que o acórdão regional afrontou disposições legais e constitucionais, assim como incorreu em divergência jurisprudencial. l - ofensa aos arts. 22, XIV, da Lei Complementar 64/90 e 114 e 115 do Código de Processo Civil - ausência de formação de litisconsórcio passivo necessário Os recorrentes alegam que a ausência de formação de litisconsórcio passivo necessário com todos os envolvidos nos fatos tidos como REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP abusivos, conforme indicado na narrativa da petição inicial, afrontou o disposto nos arts. 22, XIV, da Lei Complementar 64/90 e 114 e 115 do Código de Processo Civil, acarretando a decadência para a propositura da ação de investigação judicial eleitoral. Defendem que "não se pode falar em longa manus se não há uma indicação sequer da atuação direta ou ordem proferida pelos recorrentes" (fls. 1.842-1.843). Acerca da questão, observo que não assiste razão ao parecer da Procuradoria-Geral Eleitoral no ponto em que afirma que "a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral não exige a formação de litisconsórcio passivo necessário nas hipóteses de abuso de poder económico" (fl. 2.044), mas apenas nos casos de conduta vedada e de abuso do poder político. É certo que este Tribunal firmou o "entendimento, a ser aplicado a partir das Eleições de 2016, no sentido da obrigatoriedade do litisconsórcio passivo nas ações de investigação judicial eleitoral que apontem a prática de abuso do poder político, as quais devem ser propostas contra os candidatos beneficiados e também contra os agentes públicos envolvidos nos fatos ou nas omissões a serem apurados" (REspe 843-56, red. para o acórdão Min. Henrique Neves da Silva, DJE de 2.9.2016, grifo nosso). Todavia, conquanto o precedente citado tratasse de hipótese de abuso do poder político, esta Corte Superior já decidiu que a orientação jurisprudencial nele fixada se aplica também às ações de investigação judicial eleitoral que versem sobre a prática de abuso do poder económico, conforme aresto proferido no REspe 624-54, rei. Min. Jorge Mussi, DJE de 11.5.2018, assim ementado: RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÕES 2016. PREFEITO. VICE- PREFEITO. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE). ABUSO DE PODER ECONÓMICO ART. 22 DA LC 64/90. DISTRIBUIÇÃO. BEBIDA. OMISSÃO. VÍCIO INEXISTENTE. EMBARGOS REJEITADOS. PRELIMINAR. LITISCONSÓRCIO PASSIVO AUTORES. DISTRIBUIÇÃO. BEBIDA. NECESSÁRIO REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 8 4. Em Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), impõe-se litisconsórcio passivo necessário entre o autor do ilícito e o beneficiário (precedente). Entendimento que incide nos casos de abuso de poder económico, político e de uso indevido dos meios de comunicação social, pois, a teor do art. 22, XIV, da LC 64/90, aplica-se a inelegibilidade também a quem praticou o ato CONCLUSÃO. PROVIMENTO. IMPROCEDÊNCIA. 16. Recursos especiais providos para julgar improcedentes os pedidos, confirmando-se a liminar anteriormente deferida. Por oportuno, destaco o seguinte trecho do voto condutor do citado precedente: Alega-se nulidade por ausência de formação de litisconsórcio passivo necessário entre os candidatos recorrentes e três responsáveis pela distribuição de 150 latas de cerveja após comício, em desacordo com o entendimento deste Tribunal firmado no REspe 843-56/MG. O TRE/SP, apesar de consignar que não conheceria da alegação, avançou no tema e a examinou, de modo que a matéria encontra-se prequestionada. É o que se infere dos seguintes trechos (fl. 478): Ato contínuo, afirmou que não seria o caso de aplicar à hipótese em análise o entendimento firmado no REspe 843-56/MG, pois nele se discutiu abuso de poder político, enquanto aqui se apura abuso de poder económico. Confira-se (f Is. 478-479): Todavia, a tese fixada pelo TSE no leading case estende-se a todas as condutas apuradas em AIJE (art. 22 da LC 64/90), o que inclui também abuso de poder económico (caso dos autos) e uso indevido dos meios de comunicação social, visto que, naquele julgado, se consignou que: [...] o inciso XIV do art. 22 da LC 64/90 dispõe expressamente que "julgada procedente a representação, [...] o Tribunal declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes [...]". Em outras palavras, assim como nos §§ 4° e 8° do art. 73 é fixada sanção ao autor do ilícito que não o candidato (vindo este a ser o mero beneficiário), no inciso XIV do art. 22 essa distinção também ocorre, estabelecendo-se sanção a quem comete o ilícito em benefício do postulante a cargo eletivo. Em outras palavras, sendo expressa a previsão de inelegibilidade em desfavor de quem comete o ilícito que não o candidato, não há REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP sentido lógico ou justificativa em não citar os autores da conduta para compor o polo passivo. Desse modo, merece reparo a conclusão da Corte Regional de que não haveria litisconsórcio passivo apenas porque a espécie cuida de abuso de poder económico (e não político). Portanto, de acordo com a atual jurisprudência desta Corte, aplicável aos feitos atinentes às Eleições de 2016, como é o presente caso, é obrigatória a formação de litisconsórcio passivo nas ações de investigação judicial eleitoral que versem sobre abuso do poder económico, político e uso indevido dos meios de comunicação social, as quais devem ser propostas em desfavor dos candidatos beneficiários e dos autores da conduta ilícita,tendo em vista que a sanção de inelegibilidade se aplica também a quem praticou o ato. Fixado esse ponto, observo que os recorrentes alegam que apontaram, em embargos de declaração, outras pessoas que, no seu entender, seriam responsáveis pelas condutas tidas como abusivas, as quais não teriam sido incluídas no polo passivo da demanda, embora a participação delas nos fatos estivesse indicada na narrativa da petição inicial e, segundo alegam, tivesse sido registrada no acórdão regional. Destaco o seguinte trecho do voto vencido do Juiz Marcus Elidius, relator originário, o qual acolhia os embargos de declaração a fim de reconhecer a decadência e extinguir a ação de investigação judicial eleitoral com resolução de mérito (f Is. 1 .799-1 .803): Por fim, verifica-se que a jurisprudência consolidou o entendimento de que há litisconsórcio passivo necessário entre os candidatos beneficiados e os responsáveis pela prática do abuso do poder, visto que a eventual procedência da ação acarretaria efeitos na esfera jurídica de ambos, pois o art. 22, inciso XIV, da Lei das Inelegibilidades, também estabelece sanção a quem comete o ilícito em beneficio do postulante a cargo eletivo (Precedentes: TSE, Respe 8547/PI, Rei. Min. António Herman de Vasconcellos e Benjamin, DJE 19.12.16; TSE, Respe 133-48/PI, Rei. Min. António Herman de Vasconcellos e Benjamin, DJE 17.10.16; TSE, Respe 843-56/MG, Relator Designado Min. Henrique Neves, DJE 02.09.16). REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 10 Esse entendimento também privilegia a verdade material, pois apenas com a participação dos responsáveis pela prática abusiva, concedendo-lhes o direito ao contraditório e à ampla defesa, é possível elucidar todas as circunstâncias em que ocorreram os fatos narrados na inicial. Nos embargos de declaração foram elencadas 11 (onze) pessoas supostamente envolvidas nas condutas impugnadas, as quais não fazem parte do polo passivo desta ação. De início, já é possível excluir a necessidade de participação das pessoas abaixo discriminadas, pelas razões a seguir expostas: 1. Estevam Rapchan Manari, João Carlos Assef, Josiane dos Santos e lida Jaques: são citados por possível participação na captação ilícita de sufrágio (arregimentação de eleitores e compra de votos), a qual não foi reconhecida no Acórdão embargado; 2. Proprietário da Chácara "Auto Nil": não foi comprovada a realização de nenhum evento na chácara "Auto Nil"; 3. Carlos Eduardo Martinez Colnago: não foi demonstrada a sua participação na distribuição de bebidas no "Bar do Pedrão"; 4. Dercília Aparecida Vieira: não foi evidenciado o seu envolvimento na distribuição de camisetas; 5. José Andrade dos Santos e Josinaldo Alves da Silva: nos autos não há indícios de participação deles em qualquer das condutas. O proprietário do "Bar do Pedrão", onde foi realizada festa com distribuição gratuita de bebida, não teve a sua conduta individualizada na inicial, a qual sequer faz menção ao seu nome, narrando apenas a realização do evento no local. Somente no curso da instrução processual, foi demonstrado que JOÃO MARINHO SILVA NETO, qualificado como um dos donos do "Bardo Pedrão", realizou a compra das latinhas de cerveja. Por conta disso, não havia como o chamar para compor a [sic] polo passivo quando da propositura da demanda. Conclui-se, então, que a presença de Estevam Rapchan Manari, João Carlos Assef, Josiane dos Santos, lida Jaques, Carlos Eduardo Martinez Colnago, Dercília Aparecida Vieira, José Andrade dos Santos, Josinaldo Alves da Silvar, do Proprietário da Chácara "Auto N/l" e do proprietário do "Bar do Pedrão" no polo passivo não acarreta qualquer nulidade ao processo. Contudo, com relação a Walter Bezamat Remelli, representante da Coligação "Para Nossa Cidade Crescer Ainda Mais", a qual lançou as candidaturas de ORLANDO PADOVAN e ANTÓNIO CARLOS COLNAGO para o pleito majoritário, vê-se que a sua atuação foi fundamental para a distribuição de camisetas. Na própria inicial (fls. 21/23) é relatado que Walter Bezamat Remelli, representante da Coligação "Para Nossa Cidade Crescer Ainda Mais", a qual lançou as candidaturas de ORLANDO PADOVAN e REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 11 ANTÓNIO CARLOS COLNAGO para o pleito majoritário, participou da confecção das blusas vermelhas, pois: 1) em sua casa foi apreendido recibo da "Meeting Uniformes" em nome de ORLANDO PADOVAN, datado de 28/09/2016, no valor de R$ 11.700,00 (onze mil e setecentos reais); 2) Carlos Alexandre Fabrin Boulhosa, proprietário da "Meeting Uniformes", ouvido no bojo do Inquérito Policial, afirmou ler confeccionado 3 (três) lotes, cada um contendo 300 (trezentas) camisetas vermelhas, a pedido de Walter Bezamat Remelli, Assim, está claro que ele deveria ter integrado o polo passivo desta demanda como um dos responsáveis pela prática abusiva, o que não aconteceu. Dessa foram [sic], há de ser reconhecida a nulidade de todos os aios processuais a partir da petição inicial e determinado o retorno dos autos à origem para que a coligação representante providencie o aditamento a inicial para incluir e requerer a citação de Walter Bezamat Remelli. Todavia, deixo de determinar o acima mencionado, tendo em vista que a decadência restou consumada. Explico. O rito previsto no a/t 22, da Lei Complementar n° 64/90, não estabelece prazo decadência! para o ajuizamento da ação de investigação judicial eleitoral. Por Construção jurísprudencial, no, âmbito do c. Tribunal Superior Eleitoral, entende-se que as ações de investigação judicial eleitoral que tratam de abuso de poder económico e político podem ser propostas até a data da diplomação porque, após esta data, restaria, ainda, o ajuizamento da Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (Al M E) e do Recurso Contra Expedição do Diploma (RCED) (Precedentes: TSE, AgR-RMS 5390/RJ, Rei. Min. João Otávio de Noronha, DJE 09.05.2014; TSE, REspe n° 12.531/SP, Rei. Min. limar Galvão, D J 10.9.1995; TSE RO n° 401/ES Rei. Min. Fernando Neves, DJ 10.9.2000; TSE, RP n° 628/DF, Rei. Min. Sálvio de Figueiredo, DJ 17.12:2002). Os responsáveis pelo abuso de poder devem ser chamados a integrar a lide dentro do prazo para propositura da ação, o que não ocorreu no presente caso, pois a diplomação dos eleitos aconteceu no dia 16.12.2016. Portanto, de rigor, o reconhecimento da decadência do direito de propor a presente ação. Diante do exposto, acolho os presentes embargos de declaração, com atribuição de efeito modificativo ao julgado, para, ante a ausência de litisconsórcio passivo necessário, reconhecer a ocorrência [da] decadência do direito de propor a ação e julgar extinto o processo com resolução de mérito, nos termos do artigo 487, inciso II, do Código de Processo Civil. Todavia, prevaleceu o voto divergente do Juiz Marcelo Coutinho Gordo, que rejeitou os embargos de declaração, nos seguintes termos (fIs. 1.781-1.782): REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 12 Inclusão ou não de Walter Bezamat Remelli no polo passivo da ação é questão desconhecida até então. Ou seja, não fora veiculada a qualquer tempo e não haveria de sê-lo agora máxime ao argumento de se tratar "de matéria de ordem pública". Note-se, ademais, que para chegar a tal conclusão o d. Relator, renovadas as vénias, revolve o exame de provas já efetivado anteriormente, algo também descabido nos limites destes embargos. E ainda que assim não fosse, já seria imprópria a conclusão de fundo. A menção acerca do nome de Walter Bezamat Remelli na inicial, mormente concebida a imputação de abuso de poder económico não importa, necessariamente, na sua inclusão no polo da ação. As condutas são cindíveis e autónomas de sorte que o prosseguimento sem ele é, como foi, perfeitamente possível. A questão é distinta dos casos de abuso de poder político onde o ato é conjunto, não cindível portanto. Tem-se, outrossim, a co- participação do agente na mesma conduta. A divergência foi acompanhada pela Juíza Cláudia Lúcia Fonseca Fanucchi, a qual consignou em seu voto que "Walter Bezamet Remelli, sendo representante da Coligação'Para Nossa Cidade Crescer Ainda Mais', à qual pertencem os representados e ainda por possuir cargo em comissão naquele município, é descrito na inicial simplesmente como o cumpridor das ordens, provenientes do então Prefeito de Pirapozinho Orlando Padovan. Também deve-se observar que a representante não imputa a Walter a conduta de distribuição de camisetas" (fl. 1.785). E, mais adiante, asseverou: "O próprio fato do autor da ação alegar que Walter teria pedido as aludidas camisetas vermelhas em confronto com a afirmação inicial de que o recibo correspondente à compra desses materiais estava no nome do representado Orlando Padovan (fl. 22), confirma que Walter somente foi mencionado na exordial como um verdadeiro longa manus do referido representado" (fl. 1.785). Ainda no voto convergente proferido pela Juiz Juíza Cláudia Lúcia Fanucchi, consignou-se que "os embargantes nem mesmo se incumbiram do ónus de descrever qual seria a conduta supostamente ilícita imputada a Walter Bezamet Remelli ao ponto de ensejar sua inclusão como parte nesta ação" (fl. 1.786). REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 13 Como se vê, embora tenha entendido que a alegação referente ao litisconsórcio não fora suscitada em momento anterior e, assim, não poderia ter sido veiculada em sede de embargos de declaração, a Corte de origem analisou as condutas das pessoas elencadas nos aclaratórios e concluiu pela inexistência de litisconsórcio passivo necessário com relação a elas, inclusive quanto a Walter Bezamet Remelli, o qual, de acordo com a corrente vencedora, seria autor de conduta cindível e autónoma, e fora descrito na petição inicial como mero cumpridor das ordens emanadas do recorrente Orlando Padovan, não tendo participado da distribuição de camisetas vermelhas a eleitores. Ressalto que a jurisprudência deste Tribunal é no sentido de que "as condições da ação (legitimidade passiva, no caso), segundo a Teoria da Asserção, devem ser aferidas em abstraio, sem exame de provas, em consonância com as (simples) alegações postas na inicial" (AgR-AI 587-88, rei. Min. RosaWeber, DJE de 9.2.2018). No presente caso, a Corte de origem assentou que Walter Bezamat Remelli seria mero executor das ordens do candidato Orlando Padovan, conforme a narrativa da petição inicial, de modo que a sua integração à lide como litisconsorte passivo necessário não era necessária. Quanto ao tema, este Tribunal Superior já decidiu, mutatis mutandis, que é "desnecessária a formação de litisconsórcio entre candidato beneficiário e agente executor da conduta vedada quando atua na qualidade de simples mandatário" (AgR-REspe 634-49, rei. Min. Rosa Weber, DJE de 30.9.2016). No mesmo sentido: AgR-REspe 311-08, rei. Min. João Otávio de Noronha, DJE de 16.9.2014. De outra parte, colhe-se do acórdão regional referente aos embargos que a conduta do proprietário do bar onde ocorreu a distribuição gratuita de bebidas não foi individualizada na petição inicial, a qual não mencionou o seu nome e apenas narrou a realização do evento no local, tendo sido demonstrado, somente no curso da instrução processual, que João Marinho Silva Neto, um dos donos do citado estabelecimento comercial, realizou a compra das latas de cerveja, de forma que não havia como chamá-lo para compor o polo passivo da demanda. REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 14 Quanto a tais pontos, os recorrentes alegam que não se pode presumir que Walter Bezamat Remelli tenha agido sob sua ordem e sustentam que a petição inicial indicara que João Marinho Silva Neto participou da distribuição gratuita de bebidas, sendo impossível que os autores da demanda não soubessem quem era o dono do estabelecimento comercial, por se tratar de cidade pequena. Todavia, para acolher tais alegações recursais e modificar a conclusão à qual chegou o Tribunal de origem, no sentido de ser dispensável a formação de litisconsórcio passivo na espécie, seria necessário o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, providência que não se admite em recurso especial eleitoral (verbete sumular 24 do TSE). No que diz respeito ao alegado dissenso jurisprudencial com o acórdão do TSE no REspe 843-56 e o Acórdão 410/2017 do TRE/PB, anoto, conforme tem reiteradamente decido esta Corte, que "fica prejudicada a análise da pretensa ocorrência de dissídio jurisprudencial quando se cuida da mesma tese que respaldou o recurso pela alínea a do inciso l do a/f 276 do CE, a qual foi rejeitada por tratar de reexame de provas" (AgR-REspe 1-88, rei. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJE de 22.2.2018). De qualquer forma, anoto que os precedentes indicados como paradigmas não guardam semelhança fática com a hipótese dos autos, pois nestes o Tribunal de origem entendeu que os candidatos recorrentes foram responsáveis pelos atos abusivos, o que não foi reconhecido nos julgados tidos como paradigmas. Com efeito, no Acórdão 410/2017, do TRE/PB, tratava-se de AIJE proposta em face de prefeito e vice-prefeito pela prática de conduta vedada e abuso do poder político, na condição de eventuais beneficiários de suposto excesso de gastos com publicidade institucional no primeiro semestre do ano eleitoral, tendo a Corte Regional Eleitoral paraibana concluído pela imprescindibilidade da citação dos secretários municipais, os quais eram ordenadores de despesa por força de lei complementar local e seriam os responsáveis pelos contratos firmados pela prefeitura com agências de publicidade. REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 15 Já no REspe 843-56, este Tribunal analisou AIJE por abuso do poder político e económico, consistente na atuação de secretário municipal de fazenda, que teria concedido gratificações a servidores públicos em troca de votos, sem a participação do candidato beneficiado. Assim, não há falar em obrigatoriedade de formação de litisconsórcio passivo na espécie e, por conseguinte, não houve decadência da ação de investigação judicial eleitoral, razão pela qual se rejeitam as alegações de ofensa a dispositivos de lei e de dissídio jurisprudência). Passo ao exame das demais alegações recursais. II - ofensa aos arts. 275, l e II, do Código Eleitoral, 489, § 1°, II, III e IV, e 1.022, II e III, parágrafo único, II, do Código de Processo Civil, e 93, IX, da Constituição da República - omissão, contradição e erro material no acórdão regional Os recorrentes apontam ofensa aos arts. 275, l e II, do Código Eleitoral, 489, § 1°, II, III e IV, e 1.022, II e III, parágrafo único, II, do Código de Processo Civil, e 93, IX, da Constituição da República, sob o argumento de que o Tribunal de origem deixou de sanar as omissões do julgado suscitadas em embargos, acerca das alegações de ilicitude do depoimento pessoal dos réus e da oitiva de testemunhas não arroladas na petição inicial, as quais seriam questões de ordem pública e poderiam ser analisadas de ofício. Todavia, não há falar em omissão do acórdão regional quanto a tais pontos, pois o Tribunal de origem, ainda que em sentido contrário à pretensão dos recorrentes, analisou as questões deduzidas e assentou a impossibilidade de se pronunciar sobre as alegações de nulidade do depoimento pessoal dos réus e da oitiva de testemunhas supostamente não arroladas na petição inicial, por configurarem indevida inovação recursal em sede de embargos declaratórios. Ademais, não merece acolhimento a alegação de que o Tribunal de origem deveria se manifestar de ofício sobre as indigitadas REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 16 questões, pois, em casos recentes e alusivos à instância ordinária, esta Corte assentou que "é vedada a inovação de tese recursal em sede de embargos de declaração, ainda que se trate de matéria de ordem pública. Precedente: AgR- RCED 8015-38, rei. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe de 13.5.2016" (REspe 709-48, rei. Min. Admar Gonzaga, DJE de 16.10.2018). Anoto que a aplicação do disposto no art. 1.025 do Código de Processo Civil, alusivo ao prequestionamento ficto, pressupõe quea matéria tenha sido arguida perante o Tribunal a quo e que a instância superior reconheça a existência de vício na falta de exame do tema, situação que não ocorre no presente caso, conforme dito acima. Ill - ofensa ao art. 941, § 3°, do Código de Processo Civil - ausência de transcrição de voto vencido Os recorrentes alegam ofensa ao art. 941, § 3°, do Código de Processo Civil, sob o argumento de que o voto vencido da Desembargadora Marli Ferreira, que teria reconhecido a improcedência da demanda, não compôs o acórdão regional originário, mesmo após a oposição de embargos de declaração, caracterizando-se omissão que ensejaria a nulidade do aresto e determinação para complementação do julgado, ou a realização de novo julgamento na hipótese de ser impossível o saneamento da falha. Defendem que o voto vencido é importante para o delineamento da moldura fática e para fins de prequestionamento e aduzem que o encerramento do biénio de investidura da magistrada prolatora do voto divergente seria irrelevante, porquanto o que se requer é apenas a documentação da prestação jurisdicional entregue durante o exercício da jurisdição eleitoral. Quanto ao ponto, destaco o seguinte trecho do voto proferido pelo relator originário, Juiz Marcus Elidius, por ocasião do julgamento dos embargos de declaração, no que foi acompanhado pelos demais juizes da Corte de origem (fl. 1.798): REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 17 Também não há qualquer omissão em razão do voto vencido da Desembargadora Marli Ferreira não integrar o Acórdão. Segundo o a/t 947, § 3°, do Código de Processo Civil, apenas o voto vencido do relator deve necessariamente ser declarado e considerado parte integrante do acórdão. Frise-se que a Desembargadora Marli Ferreira, na ocasião do julgamento deste recurso, não declarou o seu voto e, atualmente. não compõe mais a Corte deste Tribunal. Acerca da questão, destaco que o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que "a inobservância da regra do § 3° do art. 941 do CPC/15 constitui vício de atividade ou erro de procedimento (error in procedendo), porquanto não diz respeito ao teor do julgamento em si, mas à condução do procedimento de lavratura e publicação do acórdão, já que este representa a materialização do respectivo julgamento. Hipótese em que há nulidade do acórdão, por não conter a totalidade dos votos declarados, mas não do julgamento, pois o resultado proclamado reflete, com exatidão, a conjunção dos votos proferidos pelos membros do colegiado" (STJ, REsp 1.729.143, rei. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJE de 15.2.2019, grifo nosso). Todavia, no caso em exame, não há falar em nulidade do acórdão recorrido, pois ele contém todos os votos declarados no julgamento dos recursos eleitorais, cabendo assinalar, de acordo com o aresto atinente aos embargos de declaração, que a Desembargadora Marli Ferreira não declarou o seu voto vencido e já não integrava a Corte Regional Eleitoral quando da análise do citado recurso integrativo, o que torna inviável a eventual juntada do teor pronunciamento divergente. Ainda quanto ao ponto, observo que argumento similar ao deduzido pelos recorrentes foi analisado no julgamento dos ED-HC 0603989- 63, da relatoria do Ministro Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, DJE de 24.8.2018, ocasião em que este Tribunal rejeitou a tese de omisssão no acórdão embargado por ausência de voto escrito divergente do eminente Ministro Herman Benjamin, tendo em conta que o biénio de atuação do referido julgador REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 18 no TSE já se encerrara, "não havendo, portanto, como se exigira prática de ato retroativo de magistrado que não mais integra este Colegiado". Eis a ementa do referido julgado: ELEIÇÕES 2016. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. HABEAS CORPUS. AÇÃO PENAL. ELEIÇÕES 2016. CORRUPÇÃO ELEITORAL COAÇÃO A TESTEMUNHAS. FRAUDE. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. SENTENÇA CONDENATÓRIA. ORDEM CONCEDIDA. PRISÃO PREVENTIVA E DEMAIS CAUTELAS REVOGADAS. VÍCIOS. INEXISTÊNCIA. VOTO ESCRITO. ENCERRAMENTO DO BIÉNIO DE MEMBRO DO TSE. COMPOSIÇÃO REGULAR DO ACÓRDÃO. RES.-/TSE N° 23.172/2009. REJEIÇÃO. 2. In casu, o Ministério Público Eleitoral aponta omissão no acórdão proferido, por maioria, por esta Corte, referente à ausência do voto escrito do e. Ministro Herman Benjamin, que, ao discordar da fundamentação adotada pelo relator no voto condutor do HC n° 0603989-63/RJ, declarou que acompanharia a divergência e acrescentaria, em momento posterior ao julgamento, as anotações que fundamentariam o seu dissenso. 3. Não compete ao relator substituir ministro que não mais integra esta Corte Superior para adotar providência que somente a este caberia, qual seja, a juntada de voto divergente, cujo conteúdo é dissonante de seu próprio posicionamento. 4. Com efeito, o biénio de atuação do e. Ministro Herman Benjamin perante esta Corte Superior, a teor do que prevê o § 2° do art. 121 da Constituição Federal, se encerrou no dia 27.10.2017, não havendo, portanto, como se exigir a prática de ato retroativo de magistrado que não mais integra este Colegiado. 6. Embargos de declaração rejeitados. (ED-HC 0603989-63, rei, Min. Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, DJE de 24.8.2018.) Conforme dito acima, no presente caso, não houve declaração do voto vencido e, tal como no precedente citado, já se encerrou o biénio de atuação eleitoral da magistrada que o proferiu, razão pela qual merecem ser rejeitadas as alegações de ofensa ao art. 941, § 3°, do Código de Processo Civil e de nulidade do acórdão regional. IV - alegação de ilicitude das provas oriundas do inquérito policial por desrespeito às normas procedimentais REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 19 Os recorrentes apontam nulidade das provas oriundas do inquérito policial e utilizadas na ação de investigação judicial eleitoral, sob o argumento de que "houve efetivamente descumprímento de normas e formas de tramitação usual de uma investigação policial, a contaminar a validade das provas ali reunidas" (fl. 1.831) e, por consequência, das provas produzidas na instrução processual, aduzindo que seria caso de aplicação da teoria dos frutos da árvore envenenada. Examino separadamente as alegações recursais deduzidas neste tópico. IV.1 - violação aos arts. 5°, Llll e LVI, e 29, X, da Constituição da República, 157, capute §§ 1°, 2° e 3°, do Código de Processo Penal, e 369 do Código de Processo Civil, e ofensa ao verbete sumular 702 do Supremo Tribunal Federal - nulidade de provas oriundas de inquérito policial não supervisionado pelo tribunal competente por prerrogativa de função Os recorrentes alegam que a decisão regional ofendeu os arts. 5°, Llll e LVI, e 29, X, da Constituição da República, o verbete sumular 702 do Supremo Tribunal Federal, e os arts. 157, caput e §§ 1°, 2° e 3°, do Código de Processo Penal, e 369 do Código de Processo Civil ao considerar válidos, para embasar a condenação, os elementos probatórios colhidos em inquérito policial instaurado para apurar a prática do crime tipificado no art. 299 do Código Eleitoral, pois a investigação criminal deveria ter sido supervisionada pelo Tribunal Regional Eleitoral por se tratar de investigado no exercício do cargo de prefeito, de forma que o vício ensejaria o julgamento de improcedência da demanda ou a declaração de nulidade das provas obtidas e o retorno dos autos ao juízo de primeiro grau para proferir nova sentença. Sobre o ponto, assim consignou o acórdão regional proferido no julgamento dos embargos declaratórios (fls. 1 .798-1 .799): As alegações alusivas ao foro por prerrogativa de função do Prefeito ORLANDO PADOVAN e ao litisconsórcio passivo necessário, a REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 20 despeito de se tratarem teses defensivas novas, por serem matérias de ordem pública, devem ser enfrentadas. Ora, é claro que a instauração de inquérito policial para apurar suposto crime eleitoral praticado por prefeito depende de supervisão do Tribunal Regional. Contudo, neste caso, o inquérito policialfoi instaurado em outubro de 2016 (fl. 44), para investigar crime eleitoral supostamente praticado por ANTÓNIO CARLOS COLNAGO, vice-prefeito eleito em 2016, CÍCERO DA RODOVIÁRIA, candidato a vereador não eleito em 2016, e CL AU DEC l R MARRAFON, candidato a vereador eleito em 2016, os quais não possuíam foro por prerrogativa de função, e não, por ORLANDO PADOVAN, prefeito reeleito em 2016. Acrescente-se que vice-prefeito não possui foro por prerrogativa de função, como se vê no art. 74, inciso l, da Constituição do Estado de São Paulo. Além do mais, não é possível decretar, em sede de Ação de Investigação Judicial Eleitoral, a nulidade de aios praticados na esfera criminal. É certo que, na linha da jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal, o "inquérito instaurado diante de suposto crime eleitoral cometido por prefeito exige supervisão do órgão a quem compete processar e julgar a respectiva ação penal, sob pena de nulidade de todos os aios" (AgR-REspe 6-10, rei. Min. Herman Benjamin, DJE de 29.9.2016). Todavia, esta Corte já decidiu que "a instauração do inquérito policial sem a supervisão do Tribunal Regional, em razão da prerrogativa de foro do investigado, não acarreta, por si só, nulidade" (REspe 129-35, rei. Min. Luís Roberto Barroso, DJE de 26.1 1 .201 8). Destaco o seguinte trecho do voto condutor do citado aresto: 5. O Supremo Tribunal Federal tem afirmado em diversos precedentes ser nula a investigação instaurada para apurar fatos atribuídos a autoridade com prerrogativa de foro, sem a supervisão do Tribunal competente para processar e julgar a correspondente ação penal (Inq n° 2411-QO, Tribunal Pleno, Rei. Min. Gilmar Mendes; AP n° 933-QO, 2a Turma, Rei. Min. Dias Toffoli; AP n° 912- QO, 1a Turma, Rei. Min. Luiz Fux). No mesmo sentido se orientam julgados do Tribunal Superior Eleitoral (HC n° 645/RN, Rei. Min. REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 21 Gilson Dipp; HC n° 429-07/MT, Rei. Min. Gilmar Mendes; HC n° 106888/SP, Rei. Min. Gilmar Mendes). 6. O rigor dessa orientação predominante, contudo, tem sido atenuado em casos nos quais, embora instaurado o inquérito sem a autorização e supervisão do Tribunal competente, não se verifica prejuízo decorrente dessa irregularidade. É o que se dá, por exemplo, quando os atos instrutórios e o recebimento da denúncia são ratificados pela autoridade competente (AgR-RE n° 730.579, Rei. Min. Ricardo Lewandowski). 7. O mesmo rigor foi afastado pelo STF em caso no qual a instauração do inquérito policial e sua tramitação não se deram com a supervisão do Tribunal competente, em razão de equívoco da autoridade policial, sem o propósito de prejudicar o detentor da prerrogativa de foro (STF, Inq. 2952-ED/RR, Rei. Min. Gilmar Mendes). Nesse precedente, teve influência a circunstância de que a supervisão do inquérito, durante o período de tramitação irregular, foi limitada a prorrogações do prazo para investigações. Entendeu-se que "a falta da adequada supervisão do inquérito pela Corte competente não desconstitui atos de investigação que não dependem de intervenção judicial, como a tomada de depoimentos". Ainda quanto ao ponto, anoto que este Tribunal já decidiu que se admite "a convalidação de atos decisórios em matéria criminal, relativa ao eventual desrespeito a foro por prerrogativa de função se, no momento do deferimento da medida de busca e apreensão, não era ainda conhecido o envolvimento de autoridade com foro privilegiado, a atrair a competência do Tribunal Regional para a supervisão do inquérito e deferimento da cautelar" (AgR-REspe 50-98, rei. Min. Luciana Lóssio, DJE de 8.11.2016, grifo nosso). No presente caso, conquanto o recorrente Orlando Padovan, por exercer o cargo de prefeito, seja detentor de foro especial por prerrogativa de função e o indigitado inquérito policial visasse a apurar a suposta prática de corrupção eleitoral em favor da chapa majoritária por ele encabeçada, deve-se ter em conta que, de acordo com o Tribunal de origem, o citado prefeito não era investigado. Ademais, não há no acórdão recorrido nenhum elemento que permita inferir em que momento da investigação criminal teriam surgido indícios de eventual envolvimento do prefeito nas condutas supostamente ilícitas, ou mesmo se, após esse momento, teria porventura sido praticado ato de caráter REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 22 decisório ou adotada providência que estivesse protegida pela cláusula da reserva de jurisdição, a fim de que se pudesse cogitar a existência de eventual prejuízo, na linha dos precedentes acima citados. Assim, para analisar a alegação de nulidade das provas oriundas do inquérito policial por suposta falta de supervisão do Tribunal Regional Eleitoral competente por prerrogativa de função, seria necessário o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que não se admite em recurso especial eleitoral, nos termos do verbete sumular 24 do TSE. Portanto, não merecem acolhimento as alegações de ofensa aos dispositivos legais e constitucionais citados acima, tampouco se vislumbra nulidade processual quanto ao ponto. IV. 2 - indeferimento de perícia em fotografias, mídias e conversas do WhatsApp Os recorrentes alegam que o Tribunal de origem incorreu em erro de julgamento, pois conversas supostamente realizadas por meio do aplicativo WhatsApp teriam sido utilizadas como razões de decidir para a aplicação das sanções previstas no art. 22, XIV, da Lei Complementar 64/90, configurando-se o uso de prova ilícita para a condenação, na medida em que tais diálogos somente poderiam ter sido analisados após autorização judicial e deveriam ter sido periciados, o que não ocorreu. Defendem que também as fotografias e as mídias dos autos deixaram de ser submetidas a perícia, a fim de demonstrar a sua veracidade e integridade. Acerca da questão, o Tribunal de origem assim se pronunciou no julgamento dos recursos eleitorais (fls. 1 .567-1 .568): Em sede recursal, também é colocado que houve cerceamento do direito de defesa, em razão de o Juízo a quo haver negado a realização de perícia nas fotos, filmagens e documentos escritos oriundos do Inquérito Policial: bem como de acareação entre as testemunhas ILDA JAQUES e SANTA JAQUES, e entre a REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 23 testemunha WALTER BEZAMAT REMELLI e o recorrente CÍCERO ALVES M Al A. Acerca desses pedidos, o Magistrado pronunciou-se em audiência (fl. 1. 129) e na sentença (fl. 1.207): Fl. 1.129 - "(...) Indefiro o pedido de acareação, haja vista que as controvérsias e divergências serão aferidas por ocasião da sentença e, por certo, a mencionada acareação seria inócua. (...)" Fl. 1.207 (...) A prova pericial, na hipótese, além de incompatível com a celeridade do rito eleitoral, ao final se demonstrou desnecessária, já que os fatos restaram comprovados por outros elementos probatórios que supriram a necessidade daquela. Não há razões, então, para se falar em cerceamento do direito de defesa, vez que o Juízo de Primeira Instância motivou o indeferimento das diligências, e decidiu a causa com base nos elementos já constantes dos autos, seguindo os ditames do princípio do livre convencimento motivado. Como se vê, o indeferimento da realização de perícia nas fotografias, nas filmagens e nos documentos escritos oriundos do inquérito policial ocorreu em virtude da sua desnecessidade, tendo em vista que os fatos que seriam objeto de análise pericial teriam sido demonstrados por outros elementos de convicção. Na linha da jurisprudência desta Corte Superior, "cabe ao magistrado a direção do processo, devendo apreciar as necessidades reais da produção de provas para o deslinde da questão, podendo inclusive indeferir as provas que entender desnecessárias ou procrastinatórias, conforme preceitua o art. 130 do Código de Processo Civil" (REspe 1310-64, rei. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJE de 1 4.1 2.201 5). No caso, conforme consignado pelo Tribunal de origem, o juiz eleitoral examinou o conjunto fático-probatóriodos autos e concluiu que a perícia requerida era desnecessária para a solução da controvérsia. Assim, o acórdão regional não merece reparos quanto ao tópico, pois está de acordo com o entendimento desta Corte Superior de que REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 24 "inexiste afronta às garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa em razão do indeferimento das diligências pleiteadas, porquanto desnecessárias ao deslinde da causa" (AgR-RO 0600870-81, rei. Min. Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, PSESS em 13.11.2018). No mesmo sentido: "Suposto cerceamento de defesa. O Regional, analisando o conjunto probatório dos autos, concluiu pela desnecessidade de realização de prova pericial nas gravações, considerando a sua irrelevância no caso concreto. Como se sabe, compete ao magistrado, enquanto destinatário da prova, indeferir, 'em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias' (art. 370, parágrafo único, do CPC). Precedentes" (AgR-REspe 244-24, rei. Min. Gilmar Mendes, DJE de 2.2.2017). No que diz respeito, em específico, ao argumento de que teriam sido utilizadas, para a condenação, conversas realizadas por meio do aplicativo WhatsApp, cuja análise não teria, segundo alegam os recorrentes, sido precedida de autorização judicial, e que não teriam sido periciadas, verifica-se que tal questão não foi objeto de análise e decisão pelo Tribunal de origem, faltando-lhe o indispensável prequestionamento, a teor do verbete sumular 72 do TSE. Ademais, verifica-se que não consta do acórdão recorrido nenhuma informação que possa indicar que a obtenção das conversas via aplicativo de mensagens tenha ocorrido em desacordo com o devido processo legal. Assim, é de ser rejeitada a alegação de ilicitude da prova quanto ao ponto. IV.3 - ausência do delegado de polícia em oitivas realizadas no inquérito policial Os recorrentes alegam que houve inquirição de pessoas no inquérito policial sem a presença do delegado de polícia, o que configuraria indevida transferência para terceiros de atividade privativa da autoridade REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 25 policial, ensejando nulidade que não é afastada pela supervisão e pela circunstância de o delegado ter preparado as perguntas anteriormente aos atos, já que poderia haver a necessidade de se formular novas perguntas a partir das respostas apresentadas. Quanto ao ponto, o Tribunal de origem consignou o seguinte (fls. 1.564-1.565): Ressalte-se, também, que o fato de o delegado não estar presente no momento da gravação dos depoimentos colhidos em sede policial não ocasiona a nulidade do ato. Conforme explicado pelo Delegado de Polícia, o Sr. MARCELO SILVA CONSTANTINI, na audiência de instrução (mídia de fl. 1.153), apesar de a gravação ter sido realizada apenas na presença do escrivão, ele supervisionou todo o trabalho, inclusive, determinando as perguntas que seriam formuladas e, ao final, conferindo os termos digitados. Ou seja, os atos foram totalmente acompanhados e monitorados pela Autoridade Policial. Quanto ao ponto, anoto que as conclusões da Corte de origem de que o delegado de polícia supervisionou a tomada dos depoimentos e determinou as perguntas que seriam formuladas, conferindo os termos digitados, não podem ser revistas sem o indevido reexame fático-probatório. Além disso, verifica-se que os recorrentes apontam a nulidade de forma genérica, pois nem sequer indicam quais pessoas teriam sido inquiridas sem a presença do delegado, assim como não demonstram a existência de eventual prejuízo, limitando-se a afirmar, em tese, a possibilidade de que novas perguntas surgissem a partir das respostas apresentadas pelos depoentes. Todavia, "no processo eleitoral, a decretação de nulidade fica condicionada, por força do art. 219 do CE, à efetiva demonstração de prejuízo" (AgR-AI 708-23, rei. Min. Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, DJE de 19.3.2019). Portanto, não há falar em nulidade quanto ao ponto. REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 26 IV.4 - da busca e apreensão na residência de Walter Bezamat Remelli Os recorrentes sustentam que a testemunha Walter Bezamat Remelli se sentiu vítima de abuso de poder em virtude do suposto emprego de força excessiva em diligência policial realizada na sua casa, a qual teria ocorrido sem mandado de busca e apreensão e com policiais fortemente armados, com realização de revista íntima de sua esposa. Acerca de tais alegações, o Tribunal de origem assim se pronunciou no acórdão atinente ao julgamento dos recursos eleitorais (fls. 1.565-1.566): No que diz respeito à busca e apreensão efetuada na casa de WALTER BEZAMAT REMELLI, ele próprio, no seu depoimento em Juízo, afirmou ter autorizado a entrada dos policiais em sua casa, mesmo depois de ser informado que não havia mandado. O Boletim de Ocorrência, mais especificamente à fl. 232, também registra que só foi realizada a busca após a autorização do proprietário. Ainda em audiência, a testemunha ressaltou que a operação foi constrangedora, vez que os policiais adentraram a casa fortemente armados, vistoriando todos os cantos da residência, e chegando, inclusive, a realizar uma revista íntima em sua esposa. Colocou, também, que esse fato foi representado junto à Corregedor/a da Polícia Civil. No entanto, como não há provas de eventual abuso de autoridade nessa busca e apreensão, ao tempo em que WALTER BEZAMAT REMELLI é enfático ao dizer que anuiu com a entrada dos policiais em sua residência, os objetos apreendidos devem permanecer nos autos. Vê-se, portanto, que a Corte de origem entendeu que, no depoimento prestado em juízo, Walter Bezamat Remelli "afirmou ter autorizado a entrada dos policiais em sua casa, mesmo depois de ser informado que não havia mandado" (fl. 1.565), consignando, ademais, que tal circunstância ficou registrada no boletim de ocorrência e que "não há provas de eventual abuso de autoridade nessa busca e apreensão" (fl. 1.565). REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 27 A pretensão recursal de que sejam revistas tais conclusões, a fim de declarar a suposta ilicitude da diligência de busca e apreensão e dos elementos probatórios nela colhidos, esbarra no óbice ao revolvimento do acervo fático-probatório dos autos (verbete sumular 24 do TSE). Diante de tais considerações, é de ser rejeitada a alegação de ilicitude das provas colhidas no inquérito policial e dos elementos probatórios dela derivados, e, por conseguinte, não há falar em nulidade das decisões das instâncias ordinárias. V - ofensa aos arts. 5°, LV, da Constituição da República, 22, caput, da Lei Complementar 64/90 e 398, 434, 435 e 437, § 1°, do Código de Processo Civil -juntada de documentos na audiência de instrução Os recorrentes alegam que o decisum atacado contrariou os arts. 5°, LV, da Constituição da República, 22, caput, da Lei Complementar 64/90, e 398, 434, 435 e 437, § 1°, do Código de Processo Civil, por violação ao contraditório e à ampla defesa, já que, em audiência, foram juntados documentos de forma extemporânea pela parte autora do feito, sem a prévia concessão de prazo para análise e manifestação dos réus. Acerca de tais alegações, destaco o seguinte trecho do aresto atinente ao julgamento dos recursos eleitorais (fls. 1.566-1.567): Foram juntados diversos documentos provenientes do Inquérito Policial n. 620-17.2016.6.26.0261 no momento da Audiência de Instrução (Termo de Audiência às fls. 1.127/1.130). Sendo que, na própria audiência, a defesa levantou questão relativa a eventual prejuízo, tendo o Juízo de Primeiro Grau posicionado-se da seguinte maneira (77. 1.129): "(..-) inicialmente é necessário consignar que as defesas tiveram ciência verbal sobre a juntada de novos documentos e, inclusive, manusearam alguns deles durante a instrução, de sorte que em razão da própria lealdade processual não se pode alegar ausência de acesso aos referidos documentos durante a instrução. (...)" Como se pode ver, além de as partes terem tido a oportunidade de manusear os documentosdurante a audiência, em sede de alegações finais, foi dada oportunidade para ORLANDO PADOVAN, REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP ANTÓNIO CARLOS COLNAGO, CÍCERO ALVES M Al A e CLAUDECIR MARAFON se manifestarem acerca dos novos elementos, tudo em conformidade com os princípios do contraditório e da ampla defesa. Como se vê, o Tribunal Regional Eleitoral assentou que os recorrentes tiveram oportunidade de manusear os documentos oriundos do inquérito policial que foram juntados aos autos por ocasião da audiência de instrução, assim como puderam se manifestar sobre eles nas alegações finais. Assim, agiu com acerto a Corte de origem ao rejeitar a alegação de afronta aos princípios do contraditório e da ampla defesa, pois, na linha da jurisprudência deste Tribunal Superior, "o cerceamento de defesa resta afastado sempre que oportunizado à parte manifestar-se acerca das provas carreadas aos autos em alegações finais" (REspe 458-67, rei. Min. Luiz Fux, DJE de 30.8.2016). Ademais, para analisar a alegação recursal de que os indigitados documentos teriam sido usados pela parte autora para inquirir testemunhas na audiência de instrução, seria necessário o revolvimento fático- probatório, vedado pelo verbete sumular 24 do TSE. Ainda quanto ao ponto, anoto que este Tribunal já decidiu, na linha de julgados do Superior Tribunal de Justiça, que "somente os documentos tidos como indispensáveis, porque 'substanciais' ou 'fundamentais', devem acompanhar a inicial e a defesa. A juntada dos demais pode ocorrer em outras fases e até mesmo na via recursal, desde que ouvida a parte contrária e inexistentes o espírito de ocultação premeditada e de surpresa do juízo" (REspe 822-03, rei. Min. Henrique Neves da Silva, DJE de 4.2.2015). Na espécie, os recorrentes alegam ser intempestiva a juntada dos citados documentos, mas não demonstram que eles devessem acompanhar a petição inicial por eventualmente serem essenciais à propositura da demanda. Além disso, e conforme assinalado no acórdão regional, os recorrentes puderam não apenas manusear tais documentos na audiência, mas também se manifestar sobre eles nas alegações finais. REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 29 Assim, não há falar em violação aos princípios do contraditório e da ampla defesa na espécie, tampouco em violação aos dispositivos tidos como afrontados, de modo que é forçoso rejeitar as alegações de nulidade das provas e do acórdão regional quanto ao ponto. VI - ofensa aos arts. 22, caput, V a X, da Lei Complementar 64/90, 5°, II, L.V e LVI, da Constituição da República e 157, caput e §§ 1°, 2° e 3°, do Código de Processo Penal - colheita de depoimentos pessoais dos réus e oitiva de testemunhas não arroladas na petição inicial Os recorrentes apontam ofensa aos arts. 22, caput, V a X, da Lei Complementar 64/90, 5°, II, LV e LVI, da Constituição da República e 157, caput e §§ 1°, 2° e 3°, do Código de Processo Penal, sob o argumento de ilicitude da prova consistente na colheita dos depoimentos pessoais dos representados, aduzindo que tal procedimento não tem previsão legal e contrariaria a jurisprudência desta Corte Superior e do TRE/SP. Defendem que o depoimento pessoal do representado Cícero Alves Maia foi determinante para afastar a versão dos fatos apresentada pela testemunha Walter Bezamat Remelli. Sustentam, ademais, que ocorreu oitiva de testemunhas não arroladas na petição inicial da ação de investigação judicial eleitoral, em afronta ao disposto nos arts. 22, caput, da Lei Complementar 64/90 e 27, § 1°, da Res.- TSE 23.462 e em ofensa ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa. Quanto a tais argumentos, a Corte de origem, por ocasião do julgamento dos embargos de declaração, assentou que "a[s] alegações de ilicitude do depoimento pessoal dos réus e de oitiva de testemunha não arrolada na inicial são novas teses defensivas trazidas em sede de embargos, o que não é admitido" (fl. 1.792). Os recorrentes alegam que as supostas nulidades processuais decorrentes da colheita de depoimento pessoal dos investigados e da oitiva de testemunhas não arroladas na petição inicial seriam matérias de ordem pública, REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 30 cognoscíveis pelo órgão julgador de ofício ou em razão dos embargos apresentados. Quanto ao tema, observo que este Tribunal Superior já decidiu que "as matérias de ordem pública, nas instâncias ordinárias, podem ser suscitadas a qualquer tempo, ainda que apenas em âmbito de embargos de declaração" (ED-REspe 10-62, rei. Min. Laurita Vaz, DJE de 19.2.2014). Todavia, em decisão mais recente, proferida na análise de recurso especial em que se alegava omissão de acórdão regional acerca de matéria dita de ordem pública, a qual fora suscitada apenas em embargos opostos perante Tribunal Regional Eleitoral, esta Corte assinalou que "a pretensão de ver apreciada matéria em sede de embargos de declaração opostos em segundo grau de jurisdição quando ela não foi ventilada em nenhum momento processual anterior, nem mesmo em sede de defesa ou no recurso eleitoral, revela quebra do dever processual de cooperação e da boa-fé Caris. 5° e 6° do Código de Processo Civil)" (REspe 709-48, rei. Min. Admar Gonzaga, DJE de 16.10.2018, grifo nosso). Portanto, agiu bem a Corte de origem ao entender pela inadmissibilidade da inovação de teses recursais em sede de embargos de declaração. Além disso, por não ter havido pronunciamento do Tribunal de origem acerca de tais temas, incide o óbice do verbete sumular 72 do TSE, pois até "mesmo as matérias de ordem pública necessitam do prequestionamento para serem analisadas em sede de recurso especial eleitoral, o que não ocorreu no caso" (AgR-REspe 227-92, rei. Min. Laurita Vaz, DJE de 24.6.2014). De qualquer sorte, ressalto que a eventual colheita de depoimento pessoal do réu em ação de investigação judicial eleitoral não ensejaria, por si só, a nulidade processual cogitada pelos recorrentes, pois é necessária a demonstração de efetivo prejuízo decorrente da prática do referido ato processual. REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 31 Acerca do tema, este Tribunal já decidiu que "a ocorrência do constrangimento ilegal consubstanciado na obrigação do representado de prestar depoimento pessoal, por si só, não implica nulidade do processo, 'pois não se pode presumir eventual prejuízo à defesa, mormente se a lei assegura ao interrogado o direito de permanecer perante o juízo em silêncio - princípio do nemo tenetur se detegere'" (AgR-REspe 359-32, rei. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJE de 4.8.2010). Ademais, também já se decidiu que "não há óbice [...] a que o depoimento pessoal seja prestado, se o investigado consentir com a realização do ato, o que pode ser de seu interesse" (AgR-RMS 26-41, rei. Min. Luís Roberto Barroso, DJE de 27.9.2018). No presente caso, não consta no acórdão regional nenhuma referência aos depoimentos pessoais que os recorrentes alegam ter prestado em juízo, havendo menção apenas ao do investigado Cícero Alves Maia, em relação ao qual nem sequer se alega, nas razões recursais, eventual ausência de consentimento do referido depoente ou violação ao seu direito de permanecer em silêncio. De outra parte, da leitura das razões recursais, verifica-se que, para chegar à conclusão de que teria ocorrido oitiva de pessoas não indicadas na petição inicial, os recorrentes fazem "comparação entre o rol de testemunhas de f/s. 39 e o rol adaptado após despacho judicial" (fl. 1.838) nos presentes autos, "para se limitar as testemunhas do autor ao máximo legal (seis testemunhas)" (fl. 1.838). Todavia, ao embasar a alegação apenas no rol de testemunhas juntado com a petição inicial destes autos, os recorrentes olvidam que, de acordo com o acórdão regional, foram apensadas ao presente feito, em virtude de conexão, a AIJE 713-77.2016.6.26.0261, proposta pela Coligação Juntos Somos Mais Fortes em desfavor de Cícero Alves Maia, e a AIJE 712- 92.2016.6.26.0261, ajuizada pelamesma coligação em face de Claudecir Marafon (fl. 1.573). REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 32 Nesse contexto, merece destaque o quanto consignado no parecer ministerial, segundo o qual "a testemunha Santa Jacques foi arrolada na petição inicial do processo n° 713-77.2016.6.26.0261 ff/s. 22 do apenso I)" (fl. 2.044). Assim, a análise da alegação recursal de que a parte autora da demanda, ao cumprir determinação judicial para adequar o rol de testemunhas ao número máximo previsto em lei, teria feito constar da relação dois nomes que não figuraram na nominata inicial (Maria Lima Melo e Santa Jaques) demandaria o revolvimento fático-probatório, em contrariedade ao verbete sumular 24 doTSE. No que tange ao argumento de dissídio jurisprudência! quanto ao entendimento de que a nulidade de depoimento pessoal seria matéria de ordem pública, verifica-se que os recorrentes se cingiram a transcrever trechos de acórdãos, sem demonstrar a existência de semelhança fática entre os julgados, de modo que foram desatendidos os requisitos do verbete sumular 28 doTSE. De qualquer modo, anoto que o aresto indicado como paradigma (acórdão do TRE/RS nos ED-RC 25-66) não guarda semelhança fática com o presente caso, pois nele se discutiu a nulidade de interrogatório em ação penal, por ter sido realizado antes da audiência de instrução, configurando-se inversão do rito previsto na lei processual penal, ao passo que, no presente caso, alega-se a nulidade do próprio depoimento pessoal da parte em ação cível-eleitoral. Desse modo, não vislumbro as apontadas violações de dispositivos legais e constitucionais, tampouco dissídio jurisprudencial quanto ao ponto. VII - violação ao art. 224, § 3°, do Código Eleitoral - renovação de eleição e trânsito em julgado da decisão Os recorrentes alegam que o aresto regional violou o art. 224, § 3°, do Código Eleitoral e a Constituição da República ao reconhecer a REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 33 inconstitucionalidade parcial do citado dispositivo legal com base no acórdão desta Corte proferido nos ED-REspe 139-25, rei. Min. Henrique Neves da Silva, PSESSem28.11.2016. Defendem que a norma em questão, segundo a qual eventual nova eleição ocorrerá após o trânsito em julgado de decisão que cassar o diploma, é adequada ao texto constitucional vigente, compatibilizando-se com os valores da soberania popular, da prestação jurisdicional célere e da independência dos poderes. Sobre o tema, destaco o teor do acórdão regional (fls. 1.569-1.572): [...] O art. 224, § 3°, do Código Eleitoral, dispõe o seguinte: Art. 224, § 3°, do Código Eleitoral. "A decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas eleições, independentemente do número devotos anulados." O Tribunal Superior Eleitoral, quando do julgamento dos Embargos de Declaração no Recurso Especial Eleitoral n° 13925 - Salto de Jacuí/RS, de relatoria de Ministro Henrique Neves da Silva, publicado na sessão do dia 28/11/2016, decidiu que "é inconstitucional a expressão 'após o trânsito em julgado' prevista no § 3° do art. 224 do Código Eleitoral, conforme redação dada pela Lei 13.165/2015, por violar a soberania popular, a garantia fundamental da prestação jurisdicional célere, a independência dos poderes e a legitimidade exigida para o exercício da representação popular", ou seja, foram acolhidos, em parte, os embargos de declaração "para declarar, incidentalmente, a inconstitucionalidade da expressão 'após o trânsito em julgado' prevista no § 3° do art. 224 do Código Eleitoral". Apesar de a decisão supra não possuir efeito vinculante, adota-se no presente caso o entendimento firmado pela Corte Superior Eleitoral, possibilitando a realização de novas eleições assim que esgotadas as instâncias ordinárias, sem a necessidade de aguardar o trânsito em julgado. É importante colocar, também, que o art. 224, § 3°, do Código Eleitoral, é perfeitamente aplicável a este caso concreto, uma vez que há a possibilidade de perda dos mandatos dos candidatos eleitos no pleito majoritário. REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 34 No ponto, anoto que o Supremo Tribunal Federai concluiu em 8.3.2018 a análise da ADI 5.525, da relatoria do Ministro Luís Roberto Barroso, julgando-a parcialmente procedente para declarar inconstitucional a locução "após o trânsito em julgado" contida no 3° do art. 224 do Código Eleitoral, de modo que a questão foi dirimida em sentido contrário à tese defendida pelos recorrentes e com efeito vinculante. Antes disso e conforme consignado no aresto regional, esta Corte também já decidira pela inconstitucionalidade parcial do § 3° do art. 224 do Código Eleitoral, em específico da expressão "após o trânsito em julgado" nele contida. Nesse sentido: ED-REspe 139-25, rei. Min. Henrique Neves da Silva, PSESS em 28.11.2016; AgR-REspe 431-53, rei. Min. Luciana Lóssio, DJE de 31.3.2017; e AgR-REspe 245-09, rei. Min. Luciana Lóssio, DJE de 9.5.2017. Assim, o entendimento do Tribunal a quo quanto à matéria está em consonância com a jurisprudência desta Corte e do Supremo Tribunal Federal, acima citada, razão pela qual incide o verbete sumular 30 do TSE, o qual "pode ser fundamento utilizado para afastar ambas as hipóteses de cabimento do recurso especial - por afronta à lei e dissídio jurisprudencial" (AgR-AI 152-60, rei. Min. Luciana Lóssio, DJE de 27.4.2017). VIII - mérito Ultrapassadas as questões preliminares suscitadas, passo à análise do mérito. No caso, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo entendeu que não ficou comprovada a captação ilícita de sufrágio, mas reconheceu a prática de abuso do poder económico, consistente na distribuição de camisetas e de cerveja a eleitores, razão pela qual confirmou a cassação dos diplomas de prefeito e vice-prefeito dos recorrentes e a declaração da sua inelegibilidade pelo período de oito anos, nos termos do art. 22, XIV, da LC 64/90. REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 35 Destaco o teor do acórdão regional (fIs. 1.573-1.602): O cerne da presente questão está em saber se foram realizadas, de modo a caracterizar abuso de poder económico e captação ilícita de sufrágio, as seguintes condutas: I. entrega de camisetas vermelhas, juntamente com o valor de R$ 50, 00 (cinquenta reais) e da promessa de pagamento de mais R$ 50,00 (cinquenta reais) no caso de vitória da chapa ORLANDO PADOVAN/CARLÃO; II. quitação de contas de água e de luz, bem como compra de medicamentos em troca de votos; e III. realização, no dia 01/10/2016 (véspera da eleições), de evento no "Bar do Pedrão" com a distribuição de bebida gratuita à população. A) Entrega de camisetas vermelhas, juntamente com o valor de R$ 50,00 (cinquenta reais) e da promessa de pagamento de mais R$ 50,00 (cinquenta reais) no caso de vitória da chapa ORLANDO PADOVAN/CARLÃO. Analisando os registros fotográficos juntados aos autos, a exemplo das f Is. 411/455 e 635/653, observa-se que no dia da eleição (02/10/2016) diversos eleitores de Pirapozinho/SP foram votar trajando vermelho (cor da chapa ORLANDO PADOVAN/CARLÃO) ou amarelo (cor da chapa MARCOS BRAMBILA/MARCOS CAVALLI). Inclusive na mídia de fl. 654, há vídeo em que o então candidato MARCOS BRAMBILA pede para seus eleitores irem votar vestidos de amarelo. Na busca e apreensão realizada na casa de WALTER BEZAMAT REMELLI ff/s. 230/235) foi encontrado um recibo da "MEETING UNIFORMES" Cf/s. 237/238) em nome de ORLANDO PADOVAN, datado de 28/09/2016, no valor de R$ 11.700,00 (onze mil e setecentos reais). No Relatório de Investigação de f Is. 242/250, conste [m] as seguintes informações: Após analisar a impressão no recibo e a impressão colhida na fábrica, chegamos a conclusão que foram feitas pelo mesmo carimbo, contudo, a impressão do recibo apresenta-se menos nítida aparentando que foi feita às pressas. Neste relatório é colocado, também, que CARLOS ALEXANDREFABRIN BOULHOSA, proprietário da "MEETING UNIFORMES", afirmou ter confeccionado 3 (três) lotes, cada um contendo 300 (trezentas) camisetas vermelhas, a pedido de WALTER BEZAMAT REMELLI. Por sua vez, WALTER BEZAMAT REMELLI, em seu depoimento em juízo (mídia de fl. 1.154), confirmou ter comprado essas camisetas, REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 36 no entanto não reconheceu o recibo de fls. 237/238. Ele afirmou que adquiriu as blusas atendendo a uma solicitação de CÍCERO ALVES MAIA, sem o conhecimento de ORLANDO PADOVAN; que, com relação a essa negociação, não foi emitido recibo; e que o valor total da transação foi R$ 10.800,00 (dez mil e oitocentos reais), pois cada peça custou R$ 12,00 (doze reais). No Relatório de Investigação de fls. 88/97, constam fotos de diversas camisetas vermelhas, todas no mesmo padrão. Algumas dessas camisetas foram apresentadas na Delegacia por MARCILIO MELO DOS SANTOS (2 camisetas), ROSAL/NA ALBINO DE BARROS (1 camiseta), ELIEGE CRISTINA DE BARROS (1 camiseta), MARIA LÚCIA BARROS (1 camiseta) e pelo advogado ROGÉRIO LEANDRO FERREIRA (3 camisetas), e outras, foram apreendidas nas residências de JOSIANE DOS SANTOS (6 camisetas) e de DERCILIA APARECIDA VIEIRA (3 camisetas), no carro de CARLOS EDUARDO MARTINS COLNAGO (2 camisetas) e na propriedade de CÍCERO ALVES MAIA (25 camisetas). Nesse relatório também está a foto da camiseta que DERCILIA APARECIDA VIEIRA usou no dia da eleição e que foi apreendida nessa ocasião. CÍCERO ALVES MAIA, em seu depoimento pessoal (mídia de fl. 1.154), negou a versão de WALTER BEZAMAT REMELLI, e disse que as 25 (vinte e cinco) camisetas encontradas na sua propriedade foram compradas por ele, sem nota fiscal. No Relatório de Investigação de fls. 1.011/1.021, pode-se ver que houve conversas, via aplicativo WhatsApp, nas quais CLAUDECIR MARRAFON e ELEONA DE CAMPOS NEVES pedem a ROSÂNGELA FRANCISCA MARTINÊS, esposa de ANTÓNIO CARLOS COLNAGO, camisetas. Na residência de JOSIANE DOS SANTOS (relatório de investigação de fls. 307/318), foi encontrada uma lista com nomes de diversas pessoas, e os respectivos números de RG, CPF e título de eleitor. Na casa e no comércio de CÍCERO ALVES MAIA (relatório de fls. 345/388), foram encontradas diversas listas, algumas com nomes de pessoas associados a valores, outras com nomes de eleitores e os respectivos números de RG, CPF e título de eleitor. Já na residência de CLAUDECIR MARAFON (relatório de fls. 389/398), foram apreendidas lista com nomes de eleitores, acompanhados dos números dos títulos, e relação de cabos eleitorais. Na casa de ILDA JAQUES (relatório de fls. 399/408), foi encontrada relação com nomes associados a valores, essas pessoas, supostamente, teriam sido arregimentadas para trabalhar na campanha de CÍCERO ALVES MAIA e de ORLANDO PADOVAN/ CARLÃO. Em sede policial, MIKAELE ANDREIA DA SILVA LOIOLA (fl. 47), MARIA LÚCIA BARROS (fls. 48/49), ELIEGE CRISTINA DE BARROS (fls. 50/51) e ROSALINA ALBINO DE BARROS (fl. 52) afirmaram que receberam camisetas vermelhas para serem usadas REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 37 no dia da eleição, juntamente com o valor de R$ 50,00 (cinquenta reais), em troca do voto na chapa ORLANDO PADOVAN/CARLÃO, e que lhes foram prometidos mais R$ 50,00 (cinquenta reais) no caso de vitória. ISABELE CRISTINA LUCAS ff/s. 319/320) narrou que foi procurada por "NALDO", candidato a vereador, para trabalhar nas eleições, no entanto não recebeu nenhuma camiseta, tampouco lhe foi oferecido qualquer valor; que ela forneceu os dados do seu título de eleitor; e que, apesar de não ter havido pedido expresso, para ela, ficou claro que a intenção era pagar pelo seu voto. Nesse mesmo sentido foi o depoimento de CRISLEINE CRISTINA MAGALHÃES SOUZA (fls. 322/323). M ARA MICHELE DA SILVA CARVALHO (fl. 321) disse que foi ao comité no intuito fornecer o seu nome e o de seu marido (ALEX DA SILVA) para trabalhar nas eleições, mas, ao invés disso, a cada um deles foi oferecido o valor de R$ 50,00 (cinquenta reais) para votar em ORLANDO PADOVAN/CARLÃO e no "CÍCERO DA RODOVIÁRIA" (CÍCERO ALVES MAIA). Com relação aos depoimentos de VANETE DE OLIVEIRA MARTINS, SELVA DE OLIVEIRA MARTINS, EDNA DE OLIVEIRA SOARES e ELIANA OLIVEIRA DA SILVA ANADÃO (fls. 986/993), é interessante transcrever trecho da sentença ora recorrida: "- VANETE DE OLIVEIRA MARTINS: Disse que forneceu seus dados para sua tia, ELIANA, que a contratou para trabalhar como cabo eleitoral do requerido Claudecir, pela quantia de R$ 50,00, e que, além do dinheiro, recebeu uma camiseta vermelha para trabalhar no dia das eleições, circulando com ela. - SELAVA /s/c/ DE OLIVEIRA MARTINS: Contou que sua irmã, ELIANA, pediu os seus dados para que seu genro, Renato, trabalhasse nas eleições em prol do candidato Claudecir, e que recebeu uma camiseta vermelha para trabalhar no dia das eleições. - EDNA DE OLIVEIRA SOARES: Discorreu que trabalhou nas eleições para o requerido Claudecir, e entregou os números de títulos eleitorais de familiares (Selva, Vanete, Francisco, Tatiana, Edna e Marcos) para Claudecir. Negou que ele tivesse distribuído camisetas, mas afirmou que, após as eleições, Claudecir foi até o bairro para pagar as pessoas que tinham trabalhado para ele, entregando R$ 50,00 para VANETE e para o marido da depoente. - ELIANA OLIVEIRA DA SILVA ANADÃO: Expôs que trabalhou nas eleições pedindo votos para os requeridos Claudecir e Orlando, e entregou os números de títulos eleitorais de familiares (SELVA, VANETE, Francisco, Tatiana) para EDNA, que os repassou para, Claudecir Disse que ficou sabendo que SELVA e VANETE receberiam R$ 50,00." Contudo, é importante salientar que esses depoimentos colhidos em sede policial não foram ratificados em juízo, sob o crivo do contraditório. REspe n° 626-24.2016.6.26.0261/SP 38 Ouvida em juízo como testemunha, MARIA ILMA MELO, mãe de MARCÍLIO MELO DOS SANTOS (mídia de fl. 1.154), em depoimento confuso, relatou que foi até a rodoviária procurar "C/D/A TUBALDINI", já que tinha interesse em trabalhar na eleição; que, como não encontrou "CIDA TUBALDINI", informou o seu nome e o de seu filho, bem como os números dos seus títulos de eleitor a "Joni", filho de CÍCERO ALVES MAIA; que foi acordado que ela receberia R$ 50,00 (cinquenta reais) logo após a votação e, como contrapartida, teria que trabalhar pedindo votos para CÍCERO ALVES MAIA no dia da eleição; que nessa ocasião lhe foi dito que com o número do título era possível aferir se o eleitor votou em CÍCERO ALVES MAIA, já que dava para saber o número de votos recebidos em cada seção eleitoral; que o valor de R$ 50,00 (cinquenta reais) não foi pago espontaneamente após as eleições, tendo ela, inclusive, entrado em contato telefónico com CÍCERO ALVES MAIA; que o filho dela, o qual é especial e toma remédio controlado, foi até a rodoviária nervoso cobrar o dinheiro, e, por conta disso, foram entregues a ele R$ 50,00 (cinquenta reais); e que não trabalhou para ninguém no dia da eleição, apenas vendeu suco em frente a um dos locais de votação. MARIA ILMA MELO também informou que na véspera da eleição ANTÓNIO CARLOS COLNAGO ("CARLÃO") e CÍCERO ALVES MAIA foram até a sua casa e entregaram a ela 2 (duas) camisetas vermelhas, uma para ela e outra para o seu filho, e disseram que ela receberia R$ 100,00 (cem reais) logo após a eleição caso votasse na chapa ORLANDO PADOVAN/CARLÃO, mas que essa quantia jamais foi paga. Em audiência, foi confirmado que o número do celular da testemunha MARIA ILMA MELO é o mesmo que consta ao lado do seu nome na lista de "CIDA TUBALDINI" (fl. 365), apreendida nas buscas realizadas na casa e no comércio de CÍCERO ALVES MAIA. SANTA JAQUES, irmã de ILDA JAQUES, foi ouvida como testemunha (mídia de fl. 1.154), apesar de ter declarado não falar com ANTÓNIO CARLOS COLNAGO há aproximadamente 10 (dez) anos, em razão de um desentendimento entre eles, e de ter apoiado a chapa MARCOS BRAMBILA/MARCOS CAVALLI. Segundo ela, sua irmã ILDA JAQUES colaborou com a campanha de ORLANDO PADOVAN e ANTÓNIO CARLOS COLNAGO, arregimentando
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