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2017 Mercado do agronegócio Prof. Pablo Rodrigo Bes Oliveira Copyright © UNIASSELVI 2017 Elaboração: Prof. Pablo Rodrigo Bes Oliveira Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 332.04 O48m Oliveira, Pablo Rodrigo Bes Mercado do agronegócio / Pablo Rodrigo Bes Oliveira: UNIASSELVI, 2017. 160 p. : il. ISBN 978-85-515-0075-0 1. Mercado Financeiro. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Impresso por: III apresentação Queridos acadêmicos, este Livro de Estudos foi construído na intenção de inseri-los nos estudos relativos ao Mercado do Agronegócio, um mercado hoje em expansão e com destaque no cenário nacional e internacional. Para conseguirmos cumprir com esta finalidade teremos que estudar conceitos de áreas diversas que convergem e tangenciam o tema. Áreas como a Economia, Finanças, Contabilidade, Marketing e específicas relacionadas ao segmento como Agricultura, Pecuária e o Agronegócio se farão presentes nas discussões. Na primeira unidade de estudos iremos retomar alguns tópicos importantes da área da Economia, procurando estabelecer conexões entre os diversos mercados que fazem parte de um sistema econômico. Iremos destacar princípios básicos como o da escassez, que correlaciona os aspectos das necessidades ilimitadas versus recursos que se mostram escassos tanto na vida pessoal quanto no interior das organizações. Da mesma forma, estaremos verificando a lei da oferta e da demanda que versa sobre os autores envolvidos nas transações no interior destes mercados. Também iremos focar nesta unidade inicial o Fordismo e o Toyotismo, entendendo que suas ideias são potentes e acabam reconfigurando as formas como as organizações em todos os segmentos se estruturam após estes eventos. Finalizando a unidade veremos um panorama inicial sobre o agronegócio no Brasil e problematizaremos a abertura de mercados e suas consequências. Na segunda unidade de estudos iremos abordar primeiramente a globalização, seus antecedentes históricos que preparam e planificam o mundo, parafraseando a ideia de um dos autores estudados. Iremos abordar como este fenômeno acaba sendo refletido sobre a economia, sobre a cultura e sobre a sociedade em geral, principalmente focando a pobreza. Logo após, iremos falar sobre o comércio eletrônico e a democracia digital que se encontram muito relacionadas ao advento da globalização e se apresentam como as lógicas dominantes hoje no mercado. Finalizando a unidade iremos realizar uma reflexão sobre como o mundo torna-se centrado na lógica matemática, o que chamamos de matematização do mundo da vida, procurando realizar um resgate histórico de como este discurso se constitui e se estabelece como uma verdade a ser seguida. Já na Unidade 3 iremos focar com maior ênfase os aspectos relacionados na gestão da empresa agrícola, focando as áreas da contabilidade agrícola e do marketing voltado para o setor. Iremos visualizar alguns conceitos e ferramentas que servirão de base para o gestor conduzir com sucesso seu empreendimento no agronegócio. O Livro de Estudos foi construído com muito empenho e carinho, buscando uma imersão e pesquisa nos referencias teóricos destas áreas que possam agregar na sua formação acadêmica. Desejamos ótimos estudos a todos! IV UNI Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII suMário UNIDADE 1 - UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO .. 1 TÓPICO 1 - RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA .................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 ALGUNS CONCEITOS DA ECONOMIA ....................................................................................... 3 2.1 A ESCASSEZ ..................................................................................................................................... 3 2.2 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS .............................................................. 5 2.3 OS MERCADOS ............................................................................................................................... 6 2.3.1 O mercado consumidor ......................................................................................................... 7 2.3.2 O mercado concorrente .......................................................................................................... 7 2.3.3 O mercado fornecedor ........................................................................................................... 7 2.3.4 O mercado de trabalho........................................................................................................... 8 2.3.5 O mercado financeiro ............................................................................................................. 8 2.3.5.1 O mercado de capitais ............................................................................................... 8 2.3.5.1.1 O mercado de futuros ................................................................................ 9 2.3.5.1.2 O mercado de opções ................................................................................. 10 2.4 AS TEORIAS ELEMENTARES DE MERCADO .......................................................................... 11 2.4.1 A teoria da demanda .............................................................................................................. 11 2.4.2 Teoria da oferta ....................................................................................................................... 12 2.4.3 O equilíbrio do mercado ........................................................................................................ 13 2.5 RELAÇÕES ENTRE O ESTADO E OS MERCADOS .................................................................. 14 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................17 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 19 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 20 TÓPICO 2 - AS NOVAS ORGANIZAÇÕES ...................................................................................... 21 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21 2 O FORDISMO ....................................................................................................................................... 22 2.1 UMA VISÃO CULTURAL SOBRE O FORDISMO ..................................................................... 26 3 O TOYOTISMO .................................................................................................................................... 27 3.1 A ELIMINAÇÃO DO DESPERDÍCIO .......................................................................................... 29 3.2 O JUST-IN-TIME .............................................................................................................................. 29 3.2.1 Ninben no tsuita jidoka ............................................................................................................. 30 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 30 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 33 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 34 TÓPICO 3 - A ABERTURA DOS MERCADOS NO BRASIL ......................................................... 35 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35 2 UM RESGATE DA HISTÓRIA DA AGRICULTURA AO AGRONEGÓCIO NO BRASIL .. 35 3 ABERTURA DE MERCADO E A ECONOMIA .............................................................................. 39 3.1 ABERTURA DE MERCADO E A POBREZA ............................................................................... 41 3.2 ABERTURA DE MERCADO E A CULTURA .............................................................................. 43 3.3 ABERTURA DE MERCADO E A EMPRESA AGRÍCOLA ........................................................ 44 VIII LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 48 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 50 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 51 UNIDADE 2 - O MUNDO AGORA É PLANO .................................................................................. 53 TÓPICO 1 - AS FORÇAS QUE TORNARAM O MUNDO PLANO.............................................. 55 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 55 2 AS DEZ FORÇAS QUE ACHATARAM O MUNDO ..................................................................... 55 3 OS BLOCOS ECONÔMICOS ............................................................................................................ 59 3.1 O MERCADO COMUM DO SUL ................................................................................................. 61 4 GLOBALIZAÇÃO E POBREZA ......................................................................................................... 65 4.1 GLOBALIZAÇÃO, PODER, CULTURA E MEIO AMBIENTE ................................................. 67 4.2 REFLEXÕES CRÍTICAS SOBRE A GLOBALIZAÇÃO ............................................................... 68 4.3 AS EMPRESAS TRANSNACIONAIS ........................................................................................... 70 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 71 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 74 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 75 TÓPICO 2 - A DEMOCRACIA E O COMÉRCIO ELETRÔNICO ................................................. 77 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 77 2 O COMÉRCIO ELETRÔNICO E A ORGANIZAÇÃO DOS MERCADOS .............................. 77 2.1 PARTICULARIDADES DO COMÉRCIO ELETRÔNICO .......................................................... 80 3 DEMOCRACIA DIGITAL E CIDADANIA ..................................................................................... 82 3.1 ÉTICA E CIBERCRIME ................................................................................................................... 84 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 86 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 89 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 90 TÓPICO 3 - A MATEMATIZAÇÃO DO MUNDO DA VIDA ........................................................ 91 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 91 2 ENUNCIADOS CONSTRUINDO REALIDADES......................................................................... 91 3 O MUNDO CARTESIANO ................................................................................................................ 93 4 A METROLOGIA.................................................................................................................................. 97 5 OS ÁTOMOS, OS BITS E A INTERNET .......................................................................................... 100 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 102 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 104 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 105 UNIDADE 3 - A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA .................................................................. 107 TÓPICO 1 - EM BUSCA DE UMA GESTÃO EFICAZ ..................................................................... 109 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 109 2 ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO ........................................................................................................ 109 3 A CONSTRUÇÃO DA PROPRIEDADE MODERNA ................................................................... 112 4 ORGANIZAR A PRODUÇÃO OU PRODUZIR A ORGANIZAÇÃO? ..................................... 114 4.1 PLANEJAMENTO ........................................................................................................................... 115 4.2 ORGANIZAÇÃO ............................................................................................................................. 1174.3 DIREÇÃO .......................................................................................................................................... 117 4.4 CONTROLE ...................................................................................................................................... 118 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 119 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 121 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 122 IX TÓPICO 2 - A CONTABILIDADE E A EMPRESA AGRÍCOLA .................................................... 123 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 123 2 CULTURAS TEMPORÁRIAS ............................................................................................................ 124 2.1 FLUXO CONTÁBIL DA CULTURA TEMPORÁRIA ................................................................. 125 2.2 CULTURAS PERMANENTES ....................................................................................................... 126 2.2.1 Fluxo contábil da cultura permanente ................................................................................. 127 2.2.2 Informações gerenciais contábeis ......................................................................................... 128 2.3 A CÉDULA DO PRODUTO RURAL ............................................................................................ 133 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 135 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 137 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 138 TÓPICO 3 - MARKETING E AGRONEGÓCIO ................................................................................. 139 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 139 2 O PLANEJAMENTO DE MARKETING ........................................................................................... 141 3 OS PS DO MARKETING ..................................................................................................................... 147 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 150 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 153 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 154 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 155 X 1 UNIDADE 1 UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • compreender os principais conceitos econômicos que se fazem necessários para entender o mercado do agronegócio brasileiro nos dias atuais; • identificar as teorias de mercado e sua aproximação com o setor analisado; • conhecer o Fordismo e o Toyotismo; • compreender o processo de abertura de mercado no Brasil e suas implica- ções nas áreas da economia e na cultura; • perceber como o processo de abertura do mercado nacional reflete no se- tor do agronegócio. Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você encontrará atividades que o auxiliarão no seu aprendizado. TÓPICO 1 – RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA TÓPICO 2 – AS NOVAS ORGANIZAÇÕES TÓPICO 3 – A ABERTURA DO MERCADO NO BRASIL 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA 1 INTRODUÇÃO Queridos acadêmicos, com a intenção de prepará-los para um melhor aprendizado dos objetivos que nos propomos neste tópico inicial do nosso livro de estudos, iremos rever alguns conceitos básicos da área da Economia. Este caminho se faz necessário para que possamos nos situar bem no interior das diversas análises que serão propostas na disciplina, no decorrer de suas unidades e respectivos tópicos. 2 ALGUNS CONCEITOS DA ECONOMIA Para todos aqueles que adentram nas áreas da gestão, sejam nos setores primários, secundários ou terciários, seja no terceiro setor ou mesmo nos estabelecimentos públicos diversos, se faz necessário um conhecimento prévio da área da Economia. Isso nos possibilita analisar e perceber como, atualmente, o Estado se vale de uma série de medidas de regulação do mercado que refletem sobre os negócios que, muitas vezes, estamos gerindo. Desta forma, iniciamos pontuando algumas questões básicas da economia e, posteriormente, como o Estado se relaciona com o mercado. 2.1 A ESCASSEZ O agronegócio no Brasil, hoje, representa riqueza e prosperidade, uma vez que o segmento tem participação efetiva no PIB nacional e se destaca pelo grande volume de exportações, tanto nas áreas agrícolas quanto pecuárias, de produtos finais e insumos. Para começarmos nosso entendimento sobre estas questões, temos que realizar uma incursão sobre alguns dos principais conceitos econômicos que nos ajudarão a entender este setor e perceber como, historicamente, chegamos ao patamar em que nos encontramos hoje. E é nesta direção que partimos agora, procurando esse resgate de noções básicas da economia. Começaremos por recordar a definição do problema básico da economia, que é a ESCASSEZ, lembra? O que isso quer dizer? UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO 4 A escassez representa que todos os recursos são escassos, ou seja, sempre possuiremos, em todas as áreas que analisarmos, uma gama muito maior de necessidades do que podemos atender através de nossos recursos. O conceito fica simples de entendimento quando levamos para nossa vida pessoal: imagine que você recebe um salário mensal com o qual deve viver (ou ao menos deveria), com base neste salário você realiza seu orçamento e decide sobre o que irá pagar, comprar ou investir. Porém, algumas vezes você pode ter a sensação de não conseguir comprar tudo aquilo que queria, não é mesmo? Já se sentiu assim? Se a resposta for positiva, calma, isso traduz essa máxima da economia: os recursos são escassos, por isso temos que fazer escolhas, por isso planejamos nossas compras e pautamos nossas vidas em decisões dentro daquilo que poderíamos comprar. Nas empresas, de modo geral, este princípio também se evidencia, uma vez que os recursos envolvem os insumos, matérias-primas, custos e despesas e evidenciam se os produtos ou serviços serão viáveis economicamente de serem produzidos. Por essa razão se investe em bons projetos, através dos quais as empresas poderão decidir em qual deles investir seus recursos. Mesmo que se tenha inúmeros bons projetos possíveis de serem alocados recursos, fatalmente se terá que optar por alguns, dada a escassez de recursos. FIGURA 1 - OS RECURSOS SÃO ESCASSOS FONTE: Disponível em: <http://bp2.blogger.com/_Ysd6Bm18a1o/SC1fq_Aw7cI/ AAAAAAAAAA4/dECUXsYhjI0/s320/imagem1.JPG>. Acesso em: 20 mar. 2017. Na realidade, ocorre que a escassez dos recursos disponíveis acaba por gerar a escassez dos bens - chamados "bens econômicos" -, por exemplo: as jazidas de minério de ferro são abundantes, porém, o minério pré-usinável, as TÓPICO 1 | RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA 5 chapas de aço e finalmente o automóvel são bens econômicos escassos. Logo, o conceito deescassez econômica deve ser entendido como a situação gerada pela razão de se produzir bens com recursos limitados, a fim de satisfazer as ilimitadas necessidades humanas. Todavia, somente existirá escassez se houver uma procura para a aquisição do bem. Por exemplo: o hino nacional escrito na cabeça de um alfinete é um bem raro, mas não é escasso porque não existe uma procura para sua aquisição (VASCONCELLOS; PINHO, 2006). Lembramos com o exemplo acima que os bens são procurados quando são úteis, originando-se daí a definição de bem econômico. Bem é tudo aquilo que é capaz de atender uma necessidade do homem, tendo sido comprado através da entrega de trabalho ou moeda, diferente dos bens livres que estão ao acesso das pessoas sem esta necessidade. QUADRO 1 - BENS LIVRES E BENS ECONÔMICOS BENS ECONÔMICOS BENS LIVRES São os bens pelos quais o homem necessita despender um valor monetário ou seu trabalho para poder utilizá-los. Considera-se como bens escassos, pois percebemos um desajuste entre a quantidade necessária e a existente desse tipo de bem. Ex.: casa, carro, viagens, alimentos, vestuários etc. São os bens que cada pessoa pode usufruir sem ter que entregar moeda ou trabalho em troca. Estes bens existem na natureza e, normalmente, se apresentam em quantidade superior para a satisfação das necessidades dos indivíduos. Ex.: ar, água dos mares, gelo das regiões polares. FONTE: O autor 2.2 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS Ao prosseguirmos em nossos estudos, temos que recordar que, ao trabalharmos com os conceitos econômicos e sua inserção numa comunidade, três são as perguntas que caracterizam o que é visto como representativo dos principais problemas econômicos. São elas: • O que produzir? • Como produzir? • Para quem produzir? Quando falamos sobre O QUE produzir, consideramos quais produtos deverão ser produzidos, e em quais quantidades serão disponibilizados aos consumidores. Ao definirmos COMO iremos produzir, estamos nos referindo às pessoas que ficarão encarregadas desta tarefa, e quais os recursos e as técnicas ou tecnologias serão empregados. UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO 6 Por fim, ao definirmos PARA QUEM iremos produzir, nos referimos aos compradores em potencial, aqueles que possuem renda para adquirir nossos produtos. Como podemos perceber, devido à escassez e ao atendimento das perguntas relativas aos problemas econômicos fundamentais, temos evidenciado a importância e necessidade de fazer escolhas! Ao decidir "o que" deverá ser produzido e "como", o sistema econômico terá realmente decidido como alocar ou distribuir os recursos disponíveis entre as milhares de diferentes possíveis linhas de produção. Quanta terra destinar- se-á ao cultivo do café? Quanta pastagem? Quantas fábricas para a produção de camisas? Quantos automóveis? Analisar todos esses problemas simultaneamente é por demais complicado. Para simplificá-lo, suponhamos que somente dois bens econômicos deverão ser produzidos: camisas e carros. Haverá sempre uma quantidade máxima de carros (camisas) produzida anualmente, quando todos os recursos forem destinados à sua produção e nada à produção de camisas (carros). A quantidade exata depende da quantidade e da qualidade dos recursos produtivos existentes na economia e do nível tecnológico com que sejam combinados. Evidentemente, fora das quantidades máximas existem infinitas possibilidades de combinações intermediárias entre carros e camisas a serem produzidos (VASCONCELLOS; PINHO, 2006). 2.3 OS MERCADOS A palavra mercado, na economia, serve para definir relações entre os vários aspectos observados. Podemos definir o mercado como o ambiente propício e com condições para a compra e venda de bens e serviços. O conceito de mercado muda na economia a partir da existência das redes digitais, que possibilitam que possam existir relações de compra virtuais, sem a presença física de um local previamente estabelecido. Hoje, sabemos que a grande maioria das organizações possui uma página na internet para efeito de divulgação de seus produtos ou mesmo a comercialização deles. Os consumidores, de certa forma, estão se habituando a realizar suas pesquisas de compra via internet e a compra efetiva nas lojas, ou pela própria rede. O importante é que se entenda o mercado como a organização na qual os ofertantes (vendedores) e os demandantes (compradores) estabelecem suas relações comerciais. Nesta lógica, podemos elencar três tipos de mercados básicos. Seriam eles: o mercado consumidor, o mercado concorrente e o mercado fornecedor. TÓPICO 1 | RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA 7 2.3.1 O mercado consumidor Quando pensamos em produzir algo para a venda, ou prestamos algum tipo de serviço, temos que dimensionar a quem estamos destinando ou projetando nossos produtos ou serviços, quem serão as pessoas que comprarão nossos produtos ou utilizarão nossos serviços ofertados. Esse universo abrange o chamado mercado consumidor, conforme estudamos anteriormente com a lei da demanda, lembram? São os demandantes, compradores em potencial dos bens econômicos para quem produzimos enquanto empresas. Aqui reside a importância das pesquisas realizadas pelas empresas, procurando mapear necessidades e realizar pré-testes antes do lançamento de um novo produto, visando verificar se este será bem aceito ou não pelos clientes. 2.3.2 O mercado concorrente Chamamos de mercado concorrente a junção daquelas empresas que estão atuando no mercado e que ofertam um produto ou serviço igual ou similar ao seu, ou seja, vamos supor que você definiu como foco do seu negócio o cultivo de produtos orgânicos para a venda aos consumidores em feiras do gênero. Para medir e monitorar o seu mercado concorrente, você deve perceber quantos agricultores têm feito a mesma escolha e produzido também de forma orgânica, e mais, quais os produtos eles têm cultivado, como têm vendido estes produtos, no varejo ou em formato de cestas. Enfim, quanto mais informações você possuir sobre a sua concorrência, melhores condições terá para atuar neste mercado. 2.3.3 O mercado fornecedor O mercado fornecedor é aquele que reúne as organizações que irão oferecer os equipamentos, insumos, matérias-primas, embalagens e toda a gama de materiais que você possa vir a necessitar no seu processo de produção ou na sua prestação de serviços. Aqui destacamos a importância de se possuir mais de um fornecedor para os itens necessários. Devemos observar os aspectos de qualidade, preço, prazo, garantias e assistência técnica ao selecionarmos nossos fornecedores e estabelecermos esta parceria nos negócios. UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO 8 2.3.4 O mercado de trabalho Representa a relação entre os trabalhadores e as organizações (empregadores). Representa o local onde as ofertas e demandas de emprego se confrontam e as quantidades oferecidas e demandadas se ajustam em função do preço (que seria o salário no mercado de trabalho) (OLIVEIRA; PICCININI, 2011). O mercado de trabalho abrange o espaço onde estas relações entre empregados e empregadores ocorrem, sendo de suma importância para o funcionamento da economia. Segundo a interpretação clássica da economia, o trabalho é um produto no qual os trabalhadores são vendedores, os empregadores atuam como compradores, os salários são considerados o preço e o mercado de trabalho representa o espaço onde ocorrem as transações. As diferenças de preços entre companhias serão reduzidas com o livre deslocamento dos trabalhadores entre organizações, o que permite que, eventualmente, se alcance o equilíbrio dos salários em todo o mercado. Segundo Horn (2006), este arranjo está inserido no sistema mais amplo da economia capitalista, cumprindo duas funções: aloca os trabalhadores de uma sociedade em diferentes espaços produtivos e assegura renda àqueles que participam desta relação. 2.3.5 O mercado financeiro Segundo o sitede finanças Portal Action (s.d.), o mercado financeiro é o mercado onde os recursos excedentes da economia (poupança) são direcionados para o financiamento de empresas e de novos projetos (investimentos). No mercado financeiro tradicional, o dinheiro que é depositado pelos poupadores nos bancos é utilizado pelas instituições financeiras com o intuito de financiar alguns setores da economia que precisem de recursos. Para realizar essa intermediação, os bancos cobram do tomador do empréstimo o spread, uma taxa, a título de remuneração para cobrir os seus custos operacionais e o risco da mesma. Quanto maior for o risco de não recebimento do dinheiro de volta pela instituição financeira, maior será o spread. Um dos componentes do mercado financeiro é o mercado de capitais, que mais nos interessa conhecer nesta disciplina. 2.3.5.1 O mercado de capitais É no mercado de capitais que as empresas que precisam de recursos conseguem financiamento, por meio da emissão de títulos, vendidos diretamente TÓPICO 1 | RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA 9 aos poupadores/investidores, sem a intermediação bancária. Dessa forma, os investidores acabam emprestando o dinheiro de suas poupanças a empresas, também sem a intermediação bancária (PORTAL ACTION, s.d.). O mercado de capitais é composto por cinco ramificações. São elas: o Mercado de Renda Variável, Mercado de Renda Fixa, Mercado de Câmbio, Mercado de Fundos de Investimento e o Mercado de Derivativos. Como boa parte das transações que envolvem o agronegócio ocorre hoje no mercado de derivativos, mais especificamente nas operações do mercado de futuros e de opções, é sobre estes que estaremos nos aprofundando um pouco mais neste momento. 2.3.5.1.1 O mercado de futuros Os participantes aqui se comprometem a comprar ou vender certa quantidade de um ativo por um preço estipulado para a liquidação em data futura. Estes contratos futuros são negociados somente em bolsas e têm seus compromissos ajustados diariamente, mapeando as possíveis perdas e os ganhos dos investidores. FONTE: Adaptado de Schouchana (2004) Neste mercado, muito utilizado nas operações que envolvem transações agrícolas, é possível a realização de diversas operações (dependendo do nível de risco do investidor), que variam da proteção do lucro (hedge), de renda fixa (baixo risco) e especulativas (alto risco). Desta forma, o mercado futuro serve como uma ferramenta para controlar o risco futuro ao qual o investidor se encontra exposto. Embora se associe o mercado futuro com estratégias de investimentos de alto risco, sua origem é de proteção, o que ocorre com o hedge, que visa a eliminação do risco de preço. Por hedge entendemos uma garantia de preço no futuro e seu FIGURA 2 - CARACTERÍSTICAS DO MERCADO FUTURO Nos negócios efetuados a futuro, compradores e vendedores de determinados ativos ou produtos fixam preço com vencimento para data futura. O comprador futuro fixa preço de compra de seu produto antecipadamente, visando assegurar custo compatível com a margem de rentabilidade para proteger-se do risco de alta no preço desse insumo. O vendedor a futuro fixa o preço de venda de sua mercadoria antecipadamente, para se proteger do risco de queda no preço e garantir a margem de rentabilidade. UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO 10 funcionamento está muito associado ao produtor agrícola. Exemplo: vamos imaginar um produtor de soja. Este realiza a plantação de sua lavoura meses antes da colheita e, consequentemente, da venda da produção, não é mesmo? Durante o plantio o produtor pode incorrer em inúmeros gastos, como o financiamento de máquinas e sua manutenção, salário dos trabalhadores, arrendamentos de terras, entre outros. Todos estes gastos ocorrem ainda antes do agricultor ter uma noção exata do preço que receberá pela saca de sua soja plantada. Neste caso, o produtor pode realizar uma operação de hedge com uma empresa que utilize a sua soja como insumo e que comprará a mesma daqui a quatro meses a um preço predefinido. O produtor, ao fazer o hedge da sua produção, se protege contra a queda do preço da soja, enquanto o comprador, por sua vez, se protege contra a subida do preço. 2.3.5.1.2 O mercado de opções As opções são uma das modalidades operacionais que compõem o mercado de derivativos. São instrumentos financeiros que permitem a transferência do risco de oscilação dos preços entre os participantes do mercado. Neste caso, quem adquire o direito deve pagar um prêmio ao vendedor. Este prêmio não é o valor do bem, mas apenas um valor pago para ter a opção (possibilidade) de comprar ou vender o bem em uma data futura por um preço previamente acordado. O Portal do Investidor (s.d.) indica que o objeto dessa negociação pode ser um ativo financeiro ou uma mercadoria, sendo negociado em pregão com ampla transparência. O comprador da opção, também chamado titular, sempre terá o direito do exercício, mas não a obrigação de exercê-lo. O vendedor da opção, por sua vez, chamado de lançador, terá a obrigação de atender ao exercício caso o titular opte por exercer o seu direito. • Preço de exercício – é o preço que o titular paga (ou recebe) pelo bem em caso de exercício da opção. • Prêmio – é o valor pago pelo titular (e recebido pelo lançador) para adquirir o direito de comprar ou vender o ativo pelo preço de exercício em data futura. É importante destacar que no mercado de opções o titular pode perder, no máximo, o prêmio pago, enquanto para o lançador os riscos são ilimitados. Exemplificando: Vamos simular um exemplo de hedge no mercado de opções. Um produtor de café tem sua safra para colheita estimada em 1.000 sacas e teme que, ao vendê-la, em 60 dias, os preços tenham caído muito e deseja se proteger desse risco. Para assegurar um preço de venda capaz de garantir sua margem de lucro, decide comprar opções de venda do café ao preço do exercício de 500 reais por saca, negociados na bolsa a um vencimento compatível (em torno de 60 dias), a um prêmio de 25 reais por saca, desembolsando de imediato 25.000 reais para adquirir tal direito de venda (1.000 sacas ao prêmio de 25 reais cada). TÓPICO 1 | RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA 11 • Vamos supor que, no vencimento da opção, o preço à vista esteja em 450 reais. O produtor exercerá seu direito de vender a 500 reais a saca, auferindo o resultado de 475.000 reais, correspondente aos 500.000 reais deduzido o prêmio pago de 25.000 reais. • Outra hipótese possível seria que, no vencimento da opção, o preço à vista estivesse em 550 reais, o titular da opção irá perder o seu interesse em vendê-la a 500 reais a saca, preferindo perder os 25.000 reais pagos como prêmio, porém mantendo a possibilidade de vender sua produção pelos 550 reais por saca que estão sendo pagos no mercado à vista, obtendo assim um resultado líquido de 525.000 reais. Obs.: para este exemplo didático não consideramos os custos de transação envolvidos. 2.4 AS TEORIAS ELEMENTARES DE MERCADO Antes de adentrarmos em análises mais rigorosas sobre as teorias de mercado que refletem sobre o setor do agronegócio, no Brasil e no mundo, sobretudo com ênfase nas ideias liberais, nos cabe entender bem questões elementares sobre o mercado. Faremos isso analisando, num primeiro momento, a teoria da demanda e, logo após, a teoria da oferta. 2.4.1 A teoria da demanda A forma mais usual de definirmos a demanda ou procura seria com o número máximo de quantidades de um bem ou serviço que o consumidor deseja comprar durante um certo período de tempo. Perceba que estamos falando de um desejo e não necessariamente a realização da compra, mas sim de uma aspiração a ela. Da mesma forma, precisamos destacar que se estabelece esta relação num determinado período de tempo. Poderíamos nos perguntar: do que depende este desejo de consumir? Que fatores podem influenciar nesta procura? Como tínhamos falado no início desta unidade, os recursos escassos obrigam o consumidora realizar escolhas entre diferentes bens e serviços que gostaria de adquirir contemplando a sua renda, constituindo este um dos principais aspectos que determinam a demanda. Para entendermos um pouco melhor, vamos acompanhar o exemplo: UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO 12 GRÁFICO 1 - DEMANDA Preço P1 P2 Q1 Q2 Demanda Quantidade Demandada FONTE: Ferguson (1987 apud VASCONCELLOS; PINHO, 2006) Supondo que um indivíduo vá almoçar num restaurante, vamos verificar o que influencia sua escolha. Recebendo o cardápio, a primeira coisa que ele olha são os preços. Assim, a escolha de um determinado prato, digamos um filé, depende não só do preço do filé, mas também do preço das outras carnes, do preço das massas etc. Pode-se facilmente ver que, quanto maior for o preço do filé, menos propenso estará o indivíduo a pedir um. Da mesma forma, quanto menor o preço dos outros pratos principais: massas, carnes etc., menor desejo ele terá de comer um filé. Isto se dá porque o filé, as outras carnes e as massas são substitutos. Ele escolhe ou um ou outro. Dificilmente o consumidor pedirá um frango acompanhado de um peixe. De outra parte, existem os acompanhamentos ou complementos. É um filé com fritas, ou com arroz, ou mesmo com arroz e fritas. Caso o preço dos acompanhamentos seja alto, ele reduzirá sua vontade de pedir um filé. Além dos preços, uma outra variável afeta esta escolha: a renda. Se o indivíduo não tiver dinheiro para pagar a conta, não irá pedir o filé com fritas. Também o gosto do consumidor determina a escolha. Mesmo que o preço do bife de fígado e seus acompanhamentos sejam baixos, o indivíduo não pedirá caso não suporte fígado (VASCONCELLOS; PINHO, 2006). Dessa forma, podemos dizer que a lei da demanda estabelece uma relação inversa entre a quantidade e o preço dos bens ou serviços, ou seja, quanto maior for o preço do produto, menor o desejo de compra por parte do consumidor. É importante conhecermos essa lei da demanda, pois através dela também podemos analisar como o comportamento do consumidor ocorre ao ter que optar, da mesma forma, entre produtos diversos ao realizar suas escolhas de compra. 2.4.2 Teoria da oferta Podemos definir a oferta como a quantidade de um bem ou serviço que os produtores desejam vender a um determinado preço num determinado período. TÓPICO 1 | RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA 13 Desta forma, quanto maior for o preço de um bem, maior a intenção ou o desejo daqueles que o produzem em vender tal bem. Podemos dizer haver uma relação direta entre o preço e a quantidade, ao contrário da lei da procura. GRÁFICO 2 - OFERTA FONTE: Ferguson (1987 apud VASCONCELLOS; PINHO, 2006) Além do preço, a oferta de um bem também depende do preço dos fatores de produção empregados e da tecnologia utilizada. Estes dois elementos compõem o que chamamos de custo de produção. Vamos dar um exemplo: aumentando o preço da terra, teremos um grande aumento nos custos de produção do setor agrícola, enquanto em outros segmentos, que utilizam em menor intensidade o fator terra, verificaremos um aumento menor dos custos. 2.4.3 O equilíbrio do mercado O preço é muito importante para que atinjamos o equilíbrio do mercado, sendo determinado tanto pela oferta quanto pela procura de bens e serviços. GRÁFICO 3 - EQUILÍBRIO DO MERCADO FONTE: Ferguson (1987 apud VASCONCELLOS; PINHO, 2006) UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO 14 Olhando para o gráfico apresentado, podemos imaginar algumas situações: • Quando existe um excesso de procura, surgem pressões para o aumento dos preços, pois, como os compradores são incapazes de comprar tudo o que desejam ao preço existente, se dispõem e passam a pagar mais. Já os vendedores, por sua vez, ao perceberem a escassez como oportunidade de elevar os preços sem ocasionar queda nas suas vendas. • Quando existe um excesso de oferta, surgem pressões para os preços caírem, pois os vendedores percebem que não podem vender tudo o que desejam, aumentando seus estoques (o que também é custo) e, assim, passam a oferecer a preços menores. Já os compradores notam a fartura e passam a negociar/ pechinchar o preço destes bens. 2.5 RELAÇÕES ENTRE O ESTADO E OS MERCADOS Agora que já fizemos uma breve introdução a alguns elementos iniciais e elementares da economia, nos cabe analisarmos como o Estado exerce sua participação na regulação das atividades do mercado, seja este mercado de fatores de produção ou mercado de produtos propriamente ditos. Essa análise é interessante, pois sabemos ser conhecidas historicamente dentro do setor agrícola nacional as políticas de incentivos e subsídios relacionados ao incremento da produção. Estas ações, entre outros fatores, explicam a ascensão do agronegócio aos patamares que encontramos hoje no Brasil. A intervenção ativa e continuada do Estado na economia tornou-se um aspecto essencial das economias capitalistas modernas, pelo menos desde o final da Segunda Grande Guerra (CARVALHO, 1999). No Brasil não é diferente, basta constatarmos que o Estado demanda bens e serviços em volume muito superior ao que é exportado e, até mesmo, superior aos investimentos externos. Recorrendo aos antecedentes históricos que nos levam a entender o papel do Estado na regulação da economia e consequentemente do mercado, temos que nos reportar ao século XVII, com o início da teoria econômica, na figura de Adam Smith, conhecido como o Pai da Economia. Adam Smith, em sua obra A Riqueza das Nações (1776), realiza sua famosa afirmação de que uma “mão invisível” seria capaz de regular as ações do mercado (oferta e procura, lembram?), defendia a ideia de um sistema econômico fechado, onde não existia intervenção estatal alguma. Acreditava que a própria relação entre produtores e consumidores seria suficiente para que os preços se ajustassem e o equilíbrio entre oferta e demanda fosse estabelecido. Ao término do século XVIII, os economistas clássicos liberais conseguem grande aceitação de suas teorias. Essa reação para o liberalismo culmina com a ocorrência da Revolução Francesa. As ideias liberais decorrem do direito natural: a ordem natural é a ordem mais perfeita. Os bens naturais, sociais e econômicos TÓPICO 1 | RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA 15 são os bens que possuem caráter eterno. Os direitos econômicos humanos são inalienáveis e existe uma harmonia preestabelecida em toda a coletividade de indivíduos. Segundo o liberalismo, a vida econômica deve afastar-se da influência estatal, uma vez que o trabalho segue os princípios econômicos e a mão de obra está sujeita às mesmas leis da economia que regem o mercado de matérias-primas ou o comércio internacional. Os operários, contudo, estão à mercê dos patrões, porque estes são os donos dos meios de produção. A livre concorrência é o postulado principal do liberalismo econômico (CHIAVENATO, 1993). Estas ideias, que constituem resumidamente o pensamento dos economistas liberais da época, irão perdurar pelos próximos 200 anos, compondo as teorias econômicas de outros pensadores liberais pós-smithianos, como James Mill, David Ricardo e John Stuart Mill. Cabe esclarecer que o desenvolvimento industrial era visto também como atrelado ao desenvolvimento da agricultura, como nos escritos de David Ricardo, que pensava a economia constituída por dois setores: o manufatureiro e o agrícola. O primeiro estaria sujeito ao desenvolvimento tecnológico e o segundo apresentaria uma tecnologia quase estacionária. Para simplificar a argumentação, admitiremos uma tecnologia completamente estacionária para a agricultura. Ora, dado um país que, embora em franca industrialização, ainda fosse basicamente agrícola, como a Inglaterra à época de Ricardo, é fácil entender porque este concebia a economia em seu conjunto como sujeito aos rendimentos marginais decrescentes. Isto seria simplesmente uma decorrência da grande importância relativa da agricultura. Mesmo quehouvesse uma tendência para um aumento na produtividade no setor manufatureiro decorrente do desenvolvimento tecnológico, este ganho de produtividade desapareceria em face das fortes tendências aos rendimentos marginais decrescentes na agricultura – o setor básico da economia (ALBUQUERQUE, 1987). NOTA Os rendimentos marginais decrescentes na agricultura apresentados por David Ricardo relacionavam-se ao entendimento de que, à medida que a população crescesse, a produção agrícola deveria aumentar para alimentar esse número maior de indivíduos. Para isto seria necessária a utilização de uma quantidade maior de terras. Ricardo acreditava que a tendência era de que, a princípio, seriam utilizadas as terras mais produtivas, e à medida que se fizesse necessário, as terras de produtividade decrescente. Isto implicava que, à medida que a população aumentasse, a produção agrícola cresceria com um aumento na extensão das áreas sob cultivo, porém esses aumentos adicionais à produção seriam cada vez menores. Podemos afirmar que o liberalismo econômico corresponde ao período de máximo desenvolvimento da economia capitalista, que era baseada no individualismo e se regia pelo jogo das leis naturais do mercado, pregando a UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO 16 livre concorrência. Claro que esta livre concorrência acaba dando início a alguns dos conflitos sociais que perduram até os dias de hoje, principalmente devido à acumulação crescente de capital por algumas corporações. Com base no estudo destes conflitos e ainda se valendo da teorização de Adam Smith e David Ricardo, Karl Marx e Friedrich Engels publicam o Manifesto Comunista, onde analisam diversos sistemas econômicos e sociais, principalmente o capitalista, e lançam as ideias da luta de classes posicionando o Estado como um órgão sempre a serviço da classe dominante. As condições mudam drasticamente ao final da Segunda Guerra Mundial. Por um lado, pela primeira vez, a teoria se desenvolve no sentido de abrir espaços para a intervenção do governo na economia, com a teoria keynesiana. Por outro, desenvolvimentos políticos seguindo uma lógica própria levaram a uma ampliação do peso do Estado no produto nacional (CARVALHO, 1999). John Maynard Keynes (1883-1946) apontava para a necessidade de se criar uma política econômica por parte do Estado para corrigir falhas do mercado e realizar seu acompanhamento constante. Da mesma forma, quando necessário, poderiam ser feitas intervenções e regulações em busca do equilíbrio de mercado. Hoje podemos dizer que estamos vivendo no mundo, mais especificamente no Brasil, um retorno às ideias liberais, encontradas no neoliberalismo, onde a concepção neoliberal de sociedade e de Estado se inscreve na – e retoma à – tradição do liberalismo clássico, dos séculos XVIII e XIX. Enquanto a obra A riqueza das nações: Investigação sobre sua natureza e suas causas, de Adam Smith (publicada em 1776), é identificada como o marco fundamental do liberalismo econômico, O caminho da servidão, de Friedrich Hayek (publicado em 1944), é identificado como o marco do neoliberalismo. As teorias políticas liberais concebem as funções do Estado essencialmente voltadas para a garantia dos direitos individuais, sem interferência nas esferas da vida pública e, especificamente, na esfera econômica da sociedade. Entre os direitos individuais, destacam-se a “propriedade privada como direito natural” (Locke, 1632-1704), assim como o direito à vida, à liberdade e aos bens necessários para conservar ambas. Na medida em que o Estado, no capitalismo, não institui, não concede a propriedade privada, não tem poder para interferir nela. Tem sim a função de arbitrar – e não de regular – conflitos que possam surgir na sociedade civil, onde proprietários e trabalhadores estabelecem relações de classe, realizam contratos, disputam interesses etc. (HÖFLING, 2001). TÓPICO 1 | RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA 17 Sociedade e Economia do Agronegócio no Brasil Beatriz Heredia Moacir Palmeira Sérgio Pereira Leite Introdução A associação entre “modernidade” e “agricultura” no Brasil tem uma longa história. Desde, pelo menos, a segunda metade do século XIX, que pensadores e homens de ação opõem propostas de uma “agricultura” ou mesmo de uma “indústria rural” moderna ao que seria uma agricultura “tradicional” ou “práticas tradicionais” das empresas agrícolas. Assim foi com a introdução dos engenhos a vapor e com as usinas de açúcar no Nordeste canavieiro; ou com o uso sistemático de máquinas no arroz e no trigo no sul do país nos anos 50 do século XX. Mas foi, sobretudo, a partir dos anos 70 do século que findou - com a política de “modernização da agricultura” promovida pelo regime militar - que se começou a falar mais explicitamente da existência de uma “agricultura moderna” ou de uma “agricultura capitalista” no Brasil, de “empresas rurais” (figura contraposta no Estatuto da Terra ao “latifúndio”) e de “empresários rurais”. Com a importância assumida pelas exportações de produtos agropecuários e agroindustriais e com o envolvimento nesses empreendimentos de capitais das mais diferentes origens, e não só do chamado “capital agrário” (PALMEIRA; LEITE, 1998), a própria resistência dos grandes proprietários de terras às tentativas de mudança do sistema fundiário deslocou-se da defesa da “propriedade” e das “tradições” para a defesa do que seria a “atividade empresarial” no campo e “as (grandes) propriedades produtivas”, “responsáveis pelo desenvolvimento do país”. Nos anos 1980 e início dos 1990, autores com diferentes formações profissionais e com referenciais teóricos e ideológicos os mais variados começam a substituir a expressão “agricultura (ou agropecuária) moderna” por “agroindústria” e a figura dos CAI (complexos agroindustriais) passa a ser moeda corrente (GRAZIANO DA SILVA, 1991; KAGEYAMA et al., 1990; MULLER, 1981, 1983 e 1991, entre outros). A preocupação era assinalar a integração agricultura- indústria pelas “duas pontas”: insumos e produtos, expressão que teria assumido a “industrialização da agricultura” (GRAZIANO DA SILVA, 1995) formulada por Kautsky ([1899] 1986) no final do século XIX. A ideia do agronegócio vai ser uma espécie de radicalização dessa visão, em que o lado “agrícola” perde importância e o lado “industrial” é abordado tendo como referência não a unidade industrial local, mas o conjunto de atividades do grupo que a controla e suas formas de gerenciamento. O boom das exportações de produtos agrícolas e agroindustriais nos anos mais recentes levou à adoção da expressão agronegócio ou da sua matriz agribusiness por associações de produtores e até pelos próprios empresários. LEITURA COMPLEMENTAR UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO 18 Da perspectiva da análise dos economistas rurais é interessante notar, adicionalmente, que a resistência do mainstream ao uso de uma abordagem “intersetorial” agricultura-indústria até meados dos anos 1980 (por considerarem que tal perspectiva feria a propriedade do setor agrícola em atestar os atributos de concorrência pura ou perfeita na análise das funções econômicas e produtivas) é completamente revertida no início dos 1990, quando verifica-se uma adesão, política é certo, aos novos termos (agribusiness primeiramente e, na sequência, o agronegócio) e sua capacidade “explicativa”, em termos da análise econômica, do novo estatuto do setor agropecuário, agora funcionando de forma “integrada”. Da “agricultura moderna” à “sociedade do agronegócio” As fronteiras entre “agricultura moderna”, “complexos agroindustriais” e “agronegócio” não são exatamente coincidentes. Mesmo que esses rótulos apontem alguns elementos recorrentes e, com frequência, sejam utilizados como sinônimos, as combinações feitas e as ênfases atribuídas são distintas. O uso de “máquinas e insumos modernos” está presente nas três expressões, mas o direcionamento para exportaçãonão tem nas duas primeiras o mesmo peso que na última. A integração agricultura-indústria não era o maior destaque que se dava à “agricultura moderna” tal como formulada nos anos 1970 (MENDONÇA, 2005). O gerenciamento de um negócio que envolve muito mais que uma planta industrial ou um conjunto de unidades agrícolas é uma das tônicas da ideia de “agronegócio”. Mesmo que a grande propriedade territorial esteja associada às três formas, na segunda ela é vinculada às práticas de “integração” que envolvem também pequenos produtores; e na terceira, mesmo que as grandes propriedades sejam uma marca das atividades rurais do “agronegócio”, a referência à propriedade territorial desaparece das formulações de seus técnicos e há até quem tente, no plano ideal dos projetos, associá-la com perspectivas favoráveis aos pequenos produtores. FONTE: Disponível em: <www.anpocs.com/index.php/encontros/papers/33...da-anpocs/gt... sociedade/file>. Acesso em: 5 maio 2017. DICAS Querido acadêmico, queira se aprofundar com a leitura do artigo completo, acesse os anais do evento: 33° Encontro Anual da ANPOCS Caxambu, 26 a 30 de outubro de 2009. 19 Neste tópico, você aprendeu que: • Alguns conceitos da economia são importantes para que possamos compreender o mercado que envolve agronegócio e suas particularidades. • A escassez, traduzida na impossibilidade de recursos para satisfazer as necessidades humanas e organizacionais, o que leva à realização de escolhas por parte das pessoas e das empresas. • A teoria da oferta: mantém uma relação inversa entre o preço e a quantidade vendida. • A teoria da demanda: relaciona diretamente o desejo de compra do consumidor com o preço do bem. • O equilíbrio de mercado, perseguido através do equilíbrio entre a oferta e a procura. • A existência de inúmeros mercados: consumidor, fornecedor, concorrentes, de trabalho e financeiro. • O mercado financeiro e suas divisões, focando no mercado de capitais e, dentro deste, nas operações de mercados futuros e no mercado de opções, amplamente utilizadas para comercialização dos ativos agrícolas (comoditties). • No mercado de futuros os participantes se comprometem a comprar ou vender certa quantidade de um ativo por um preço estipulado para a liquidação em data futura. • Vimos ainda que o mercado de opções se caracteriza pelos instrumentos financeiros que permitem a transferência do risco de oscilação dos preços entre os participantes do mercado, e que é um valor pago para ter a opção (possibilidade) de comprar ou vender o bem em uma data futura por um preço previamente acordado. • A influência das teorias econômicas para o equilíbrio e condução dos mercados, mais particularmente nas ideias liberais onde o mercado deve regular-se sem a intervenção do fator econômico. RESUMO DO TÓPICO 1 20 Caro acadêmico! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu livro de estudos. Bom trabalho! 1 O mercado de derivativos possui algumas modalidades, entre elas encontramos os Mercados Futuros e o Mercado de Opções. Analise as afirmativas sobre estes e responda: I – Ambos, os mercados futuros e o mercado de opções, fazem parte do mercado financeiro. II – Os mercados futuros caracterizam-se pela existência do comprometimento da compra do ativo na data futura estipulada. III – O mercado de opções possibilita a disponibilidade do investidor em optar pela compra ou não do ativo negociado, na data futura estipulada. IV – O prêmio é o valor pago pelo lançador para adquirir o direito de comprar ou vender o ativo pelo preço de exercício em data futura. V – O preço de exercício é o preço que o titular paga (ou recebe) pelo bem em caso de exercício da opção. É correto o que afirma em: a) ( ) As assertivas I e III, apenas. b) ( ) As assertivas I, II, III e V, apenas. c) ( ) As assertivas I, II e III, apenas. d) ( ) As assertivas I e V, apenas. e) ( ) A assertiva I, apenas. 2 A escassez é sempre destacada como um problema essencial a ser estudado na economia. Desenvolva uma análise sobre como a escassez pode ser percebida na nossa vida pessoal e dentro de uma empresa que atua no agronegócio. AUTOATIVIDADE 21 TÓPICO 2 AS NOVAS ORGANIZAÇÕES UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O início do século XX marca a história do desenvolvimento industrial no mundo de forma muito clara, uma vez que, fomentado pela Revolução Industrial, começam-se os estudos em busca de uma administração científica que fosse capaz de conduzir as empresas existentes rumo ao sucesso no mundo capitalista emergente. A Revolução Industrial propiciou que houvesse um crescimento acelerado e desorganizado das empresas, exigindo mais complexidade na sua administração, o que era feito ainda de forma empírica. Além disso, sabemos que o aumento do tamanho das empresas também desafia a busca de novas formas de gerenciamento, necessitando planejar para reduzir instabilidades e improvisações. Da mesma forma, surge aí a necessidade de aumentar a competitividade e a eficiência das organizações, pois, como vimos, a concorrência, que era a lógica da economia liberal, ainda ressoa nessa época e, inclusive, em nossos dias atuais. É neste cenário que irão surgir estudos nos Estados Unidos propostos pela Escola da Administração Científica. Escola esta formada por Frederick Winslow Taylor, Henry Lawrence Gantt, Frank Bunker Gilbreth, Harrington Emerson e, por associação, pela aplicação de seus princípios em seus negócios, Henry Ford. A preocupação básica dessa escola era o aumento da produtividade das empresas por meio do aumento da eficiência do setor operacional, dos operários em si. Enfatizando as tarefas, em seus estudos acabam por desenvolver a chamada Organização Racional do Trabalho (ORT). Paralelamente a este movimento ocorrido nos Estados Unidos, surge na França outra corrente de pensamento e estudos, que se denominava de Anatomistas e Fisiologistas das organizações, pois mesmo tendo a mesma preocupação com o aumento da produtividade, procuravam enxergar a empresa por meio da disposição dos seus órgãos internos (departamentos) e suas relações. Entre os autores dessa escola se incluem Henri Fayol, James D. Mooney, Lyndall F. Urwick, Luther Gulick, entre outros. Já no Japão, mudanças significativas nas áreas da indústria somente irão surgir posteriormente, na década de 30, como reação ao Fordismo, associadas ao surgimento da Toyota. UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO 22 Desses movimentos todos que citamos, irão surgir novas organizações, dentre as quais iremos nos aprofundar no estudo de duas delas: o Fordismo e o Toyotismo. 2 O FORDISMO Henry Ford sempre é lembrado como um visionário da administração por suas ideias de vanguarda e inovações na área industrial. O engenheiro americano Henry Ford (1863-1947) era filho de fazendeiros irlandeses e iniciou sua vida como mecânico, chegando posteriormente a engenheiro-chefe de uma fábrica. Ford funda em 1899, com alguns colaboradores, sua primeira fábrica de automóveis, que logo após é fechada. Porém, continua seus projetos e, após conseguir financiamento, funda a Ford Motor Co. Ford utiliza-se das ideias de Taylor com a ênfase nas tarefas, no operacional, e nas ideias de Fayol, ao olhar para a estrutura da sua empresa, aliado ao uso das tecnologias advindas com a segunda fase da Revolução Industrial, para criar um verdadeiro império. Seu projeto pioneiro e muito conhecido foi o Ford Modelo T, onde inaugura um processo de produção que dá início à linha de montagem e destacando-se pelo aproveitamento minucioso e calculado de matéria-prima na sua construção (daí o modelo em T para o aproveitamento otimizado das chapas de aço). Daí podemos afirmar que o Fordismo é o taylorismo aperfeiçoado e ampliado. Vamos conhecer algumas das características do Fordismo: QUADRO 2 - CARACTERÍSTICAS DO FORDISMO Realização de uma única tarefa pelo trabalhador Pagamento pro rata(baseado em critérios da definição do emprego Alto grau de especialização das tarefas Pouco ou nenhum treinamento no trabalho (disciplinamento da força de trabalho) Nenhuma ou pouca preocupação com a segurança no trabalho Autocracia Layout compartimentado (ambiente de trabalho fechado) FONTE: Tachizawa e Saico (1997, p. 44) TÓPICO 2 | AS NOVAS ORGANIZAÇÕES 23 FIGURA 3 - TRABALHADORES DA FORD MONTANDO O FORD MODELO T FONTE: Disponível em: <http://noticias.r7.com/carros/ha-um-seculo-fabrica-da-ford- mudou-a-sociedade-13102013>. Acesso em: 5 maio 2017. Em 1913, já fabricava 800 carros por dia. Em 1914, reparte com seus funcionários o controle acionário. Estabeleceu nessa época o salário-mínimo de cinco dólares por dia e a jornada diária de oito horas de trabalho, quando na época, na maioria dos países da Europa, a jornada variava entre dez e doze horas. Em 1926, já tinha 88 usinas e já empregava 150 mil pessoas, fabricando então 2.000.000 de carros por ano (CHIAVENATO, 1993). Com o incentivo monetário oferecido aos trabalhadores, pagando um salário acima da média da época, Ford atraiu uma quantidade enorme de operários. FIGURA 4 - LINHA DE MONTAGEM FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source= images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjKyOvq3OLTAhVFlpAKHY67BfwQjRwIBw&ur l=http%3A%2F%2Fhistorialuiz.blogspot.com%2F2015%2F11%2Fa-revolucao-industrialhtml&p sig=AFQjCNE9a58dSrcH1q_rSPTQ2YSGAMPXZw&ust=1494416340737559>. Acesso em: 9 maio 2017. UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO 24 Esse aumento dos salários favoreceu não apenas o padrão de vida dos funcionários da Ford, mas também impulsionou de maneira significativa o progresso dos Estados Unidos nas áreas social e econômica. Além de ter sido pioneiro na fabricação de um automóvel popular em larga escala, Ford destaca-se por ter se concentrado em abarcar toda a cadeia produtiva, produzindo desde a matéria-prima inicial ao produto final acabado, além da distribuição comercial por meio de suas próprias agências. Podemos dizer que o período de nascimento e consolidação do que chamamos Fordismo se confunde com o próprio estilo de vida, enfatizando o consumo que vinha se desenvolvendo durante todo o século XX no mundo ocidental. As ideias de Ford ressoam até hoje em nossos tempos, sendo observadas em quase todos os produtos e serviços do nosso cotidiano. Alguns autores chegam a afirmar que a própria sociedade moderna e capitalista que conhecemos é fruto da universalização do pensamento e da prática de Ford. Vamos conhecer algumas das ideias de Ford, que o elevam à condição de visionário e pensador de vanguarda na área empresarial: Quem trabalha seriamente não necessita de título honorífico. Sua obra o honra. Não nos interessa conhecer o que tinha sido o indivíduo. (...) é preciso que comece de baixo e dê provas da sua capacidade. Cada homem é forjador do seu próprio futuro. Ausência de timidez quanto ao futuro e de veneração quanto ao passado. Quem teme o futuro, quem receia falhar, limita sua atividade. O insucesso é uma oportunidade para recomeçar de novo mais inteligentemente. Não há mal em insucesso honesto; o mal reside no medo de falhar. O que passou serve apenas como sugestão de novas sendas e novos meios de ir avante. Despreocupar-se com a competição. Quem pode fazer melhor uma coisa, esse deve ser o único a fazê-la. É criminoso tentar arrancar um negócio das mãos de outrem – criminoso porque é, com fito de lucro, rebaixar a condição de um semelhante e querer dominar pela força, não pela inteligência. Antepor o fito do serviço social ao lucro. Sem lucro, impossível a indústria. O lucro é justo. Empresas bem conduzidas não podem deixar de dar lucros, mas esses lucros devem vir como recompensas ao bom serviço social. Não podem ser o ponto de partida, devem ser o resultado do serviço. Manufaturar não é produzir barato e vender caro. É comprar matéria-prima em boas condições e, com o menor acréscimo de despesas possível, transformá-la em artigos de consumo, fazendo-os chegar ao consumidor. Jogo, especulações, espertezas não podem senão entravar a marcha das operações. FONTE: Ford (1960 apud GOUNET, 1992) TÓPICO 2 | AS NOVAS ORGANIZAÇÕES 25 Segundo Thomas Gounet (1992), o processo de produção e trabalho fordista apoiou-se em cinco pontos: 1. Produção em massa com extrema racionalização do trabalho operário, sem desperdício do tempo. Prevalecia o princípio dos ganhos de escala, isto é, quanto maior o número de operações, melhor o resultado para a empresa. 2. Parcelamento das tarefas. Em vez de montar um veículo inteiro, cada trabalhador cuidava de uma parte da montagem. Essa segmentação levava à economia de tempo e reduzia as operações físicas e mentais. 3. Ritmo e habilidades do trabalho controlado por um sistema encadeado e sequencial de tarefas parciais e repetitivas. 4. Padronização de peças, processos e produtos e integração vertical, com controle de todas as etapas diretas e indiretas do processo de produção. 5. Possibilidade de automação do trabalho. Dessa maneira, por meio de uma redução radical no custo do processo produtivo e dos automóveis, e significativa diminuição do tempo de produção com a linha de montagem, propiciando ainda um aumento maior de salários aos operários, a indústria automobilística fordista segue no topo das vendas para o mundo todo nas décadas de 20 e 30, inclusive para o Japão. Somente na década de 30 é que a indústria fordista experimenta mostras de seu esgotamento, com a retração do mercado, o início do movimento sindical, ao qual Ford era oposto, e as primeiras greves de operários. Também a concorrência interna com a General Motors e seus variados modelos de automóveis ao contrapor o Modelo T e a Chrysler. No Japão, da mesma forma que nos Estados Unidos, algumas indústrias nacionais tentam aplicar o Fordismo em suas organizações, como a Datsun, atual Nissan. Porém, com a instalação das três maiores empresas americanas do ramo, Ford, General Motors e Chrysler no Japão, na década de 1920, a indústria japonesa se mantém estagnada e seu mercado interno é invadido pelos mais diversos modelos de automóveis norte-americanos. Como medida protecionista ao mercado, o governo fascista de Tóquio edita, em 1936, a lei da indústria automobilística japonesa, que, entre outras coisas, proíbe a produção de automóveis de indústrias de fora em seu território. Assim, em 1939 as três empresas se retiram do país. No Brasil, Monteiro Lobato encarrega-se da tradução das duas primeiras obras de Ford, “Minha Vida e Minha Obra” e “Hoje e amanhã”. Entusiasta das ideias de Henry Ford, comenta no prefácio da obra “Hoje e amanhã” que Ford foi um gênio porque “enriqueceu enriquecendo a humanidade, enriquecendo e tornando feliz o operário, enriquecendo e facilitando a vida do consumidor”, e defendeu a aplicação do Fordismo no Brasil. UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO 26 2.1 UMA VISÃO CULTURAL SOBRE O FORDISMO Não podemos perceber o Fordismo somente como um movimento industrial que modifica as relações de trabalho e cria novos layouts e maneiras de produzir e gerenciar as organizações empresariais. Pesquisadores deste período e dos seus possíveis desdobramentos na cultura norte-americana e, por extensão, de seus conceitos quase que na totalidade do nosso mundo, afirmam que os efeitos vão muito além destes analisados em nível empresarial. O antropólogo David Harvey, em sua obra “Condição Pós-Moderna” (1992), mapeia vários eventos ocorridos na Modernidade que refletem no que denomina como Pós-Modernidade, dedicando um de seus capítulos a uma interessante análise sobre o Fordismo. Em muitos aspectos, as inovações tecnológicas e organizacionais de Ford eram mera extensão de tendências bem estabelecidas. A forma cooperativa de organização de negócios, por exemplo, tinha sido aperfeiçoada pelas estradas de ferro ao longo do século XIX e já tinha chegado,em particular depois da onda de fusões e de formações de trustes e de cartéis no final do século, a muitos setores industriais (um terço dos ativos manufatureiros americanos passou por fusões somente entre os anos de 1888 e 1902). Ford também fez pouco mais do que racionalizar velhas tecnologias e uma detalhada visão do trabalho preexistente, embora, ao fazer o trabalho chegar ao trabalhador numa posição fixa, ele tenha conseguido dramáticos ganhos de produtividade. Os Princípios da Administração Científica, de F. W. Taylor – um influente tratado que descrevia como a produtividade do trabalhador podia ser radicalmente aumentada através da decomposição de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da organização de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padrões rigorosos de tempo e estudo do movimento – tinham sido publicados, afinal, em 1911. E o pensamento de Taylor tinha uma longa ancestralidade, remontando, através dos experimentos de Gilbreth, na década de 1890, às obras dos escritores da metade do século XIX, como Ure e Babbage, que Marx considerara reveladoras. A separação entre gerência, concepção, controle e execução (e tudo o que isso significava em termos de relações sociais hierárquicas e de desabilitação dentro do processo de trabalho) também já estava bem avançada em muitas indústrias. O que havia de especial em Ford (e que, em última análise, distingue o Fordismo do Taylorismo) era a sua visão, seu reconhecimento explícito de que produção de massa significava consumo de massa, um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista (HARVEY, 1992). Desta constatação podemos dizer que o Fordismo cria um novo tipo de trabalhador e um novo tipo de homem na esteira de suas transformações no mundo industrial. Segundo Gramsci (1985 apud HARVEY, 1992, p. 124), os novos métodos de trabalho utilizados por Ford “são inseparáveis de um modo específico de viver e de pensar e sentir a vida”. TÓPICO 2 | AS NOVAS ORGANIZAÇÕES 27 Ford, como já dissemos, era um visionário e acreditava que um novo tipo de sociedade poderia ser construído simplesmente com a aplicação adequada ao poder corporativo. Ao propor a jornada de trabalho de oito horas e o salário de cinco dólares a hora, pensava muito além da disciplina e da produtividade da linha de montagem. Queria proporcionar aos operários renda e tempo de lazer suficientes para que consumissem os produtos produzidos em massa que as corporações fabricavam em quantidades cada vez maiores. 3 O TOYOTISMO A história do Sistema Toyota de Produção remonta à Toyoda Spinning and Weaving Company, fundada por Sakichi Toyoda, em 1918. Posteriormente, esta empresa veio a chamar-se Toyota Automatic Loom Works. Em 1936 a empresa entra para o ramo automobilístico com o lançamento do Modelo AA, sendo que em 1937 constitui-se a Toyota Motor Company. Após a derrota na Segunda Guerra, retorna a intervenção norte-americana no conjunto do aparelho econômico, político e militar, o Japão se vê imerso em discussões na busca por uma indústria automobilística autônoma que fosse capaz de concorrer em competitividade com os Estados Unidos. Acontece que o mercado japonês na época possuía inúmeras restrições, entre elas: RESTRIÇÕES NO MERCADO JAPONÊS PRÉ-TOYOTA • É demasiadamente restrito. O nível de vida dos japoneses não é o mesmo dos norte-americanos. A possibilidade de consumo de massa é limitadíssima nessa época. Desde o início os fabricantes devem produzir com custos equivalentes aos da produção em massa. • A demanda não é apenas débil. Ela dirige-se preferencialmente para veículos menores, que correspondem melhor ao bolso dos japoneses e à configuração acidentada e pouco espaçosa do país. • A demanda é também mais diversificada. O que obriga a produzir mais modelos, cada um deles em pequena quantidade. Um desafio a mais. • Acrescente-se a falta de espaço, o que eleva muito os custos imobiliários. Afinal, o Fordismo exigia espaço para os estoques da produção em massa. FONTE: Adaptado de Gounet (1992) No cenário descrito no quadro acima, já na década de 1950, os japoneses Kiichiro Toyoda, filho de Sakichi, engenheiro e empreendedor, e Taiichi Ohno, engenheiro especialista em produção, visitaram por três meses as instalações da Ford em Detroit. Depois dessas análises na indústria fordista, eles concluem que a produção em massa não seria aplicável ao Japão, podendo favorecer o fracasso caso utilizada. UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO 28 É assim que surge o ohnismo, que propõe uma reformulação do sistema fordista de produção em massa a ser aplicado na indústria japonesa, tendo início na empresa Toyota. São estes os princípios do ohnismo, resumidos: OHNISMO 1. Reduzir o custo por meio da eliminação dos desperdícios técnicos e sociais, com especial atenção ao uso inadequado da força de trabalho na produção. 2. Produzir com o menor número possível de trabalhadores pelo trabalho cooperativo ou em grupo. 3. Racionalizar o trabalho com estudos de tempo e métodos no processo de produção. 4. Produzir sem defeitos e nos prazos corretos. 5. Criar o trabalhador polivalente, para estar pronto para desempenhar qualquer função no grupo de trabalho. 6. Flexibilizar a alocação dos trabalhadores nos grupos de trabalho. FONTE: Adaptado de Hirata (1996, p. 11-14) Analisando os princípios acima, podemos perceber que também o Toyotismo acaba influenciando o mundo empresarial, com suas ideias aliadas à industrialização automobilística que ressoam até os dias atuais. Acreditava-se, na Toyota, que a ênfase ao trabalho do grupo desenvolvia o espírito de colaboração e o estimulava psicologicamente para a motivação. Assim, o trabalhador desenvolve maior responsabilidade no processo de trabalho, facilitando bastante a atuação da gerência, voltada sempre para o aperfeiçoamento contínuo dos processos. Por outro lado, a empresa oferece padrões salariais bem elevados e garantias no emprego. O modelo japonês, manifesto principalmente nas grandes empresas, teve a capacidade de articular em um processo único os traços dos demais paradigmas – técnico, humanista, organizacional, sistêmico, participativo e da qualidade – em torno da estratégia global da empresa (NOGUEIRA, 2007). O Toyotismo tem por características: Múltiplas tarefas. Pagamento pessoal em função e resultado por equipe. Eliminação da delimitação de tarefas. Longo treinamento no trabalho “educação continuada” do trabalhador. Grande estabilidade no emprego para trabalhadores centrais (emprego vitalício). Liderança participativa. Layout flexível e aberto (ambiente de trabalho panorâmico) (TACHIZAWA; SAICO, 1997, p. 44). TÓPICO 2 | AS NOVAS ORGANIZAÇÕES 29 3.1 A ELIMINAÇÃO DO DESPERDÍCIO Uma parte importante da filosofia do Sistema Toyota de Produção baseia- se na busca pela redução de custos através da Muda, que significa a eliminação de operações de desperdício. Ohno dividiu este desperdício em sete categorias: 1. Superprodução 2. Transporte 3. Existência de estoque desnecessário 4. Produção de mercadorias defeituosas 5. Espera (tempo ocioso/não produtivo) 6. Processamento 7. Movimento desnecessário Acreditavam que o segredo para a eliminação do desperdício era localizar onde ele ocorria e assegurar que fosse reconhecido por todos da fábrica como tal para que fosse evitado. 3.2 O JUST-IN-TIME Conhecido por JIT, o Just-in-time foi criado por Kiichiro Toyoda e implementado por Ohno, e significa fornecer a cada processo o que necessita, na hora em que necessita e na quantidade específica necessária. As ideias de Ohno sobre a implementação do Just-in-time também surgiram de sua experiência no supermercado. Os clientes vão ao supermercado para comprar o que precisam, na quantidade e no momento em que precisam. Quando chegou à Toyota,
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