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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA Luisa Angelina Frescura Benaduce FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA EM CURSOS DE PEDAGOGIA DE UNIVERSIDADES FEDERAIS (2006-2018) Florianópolis 2020 Luisa Angelina Frescura Benaduce FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA EM CURSOS DE PEDAGOGIA DE UNIVERSIDADES FEDERAIS (2006-2018) Trabalho Conclusão do Curso de Graduação em Pedagogia do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de Licenciado em Pedagogia Orientador: Prof. Dra. Jocemara Triches Florianópolis 2020 Luisa Angelina Frescura Benaduce FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA EM CURSOS DE PEDAGOGIA DE UNIVERSIDADES FEDERAIS (2006-2018) Este Trabalho Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de “licenciatura” e aprovado em sua forma final pelo Curso Pedagogia Florianópolis, 19 de fevereiro de 2020. ________________________ Profa Dra. Jocemara Triches Coordenador do Curso Banca Examinadora: ________________________ Profa Dra. Jocemara Triches Orientadora UFSC ________________________ Profa. Dra. Maria Aparecida Lapa de Aguiar Avaliadora UFSC ________________________ Profa. Dra. Regina Célia Grando Avaliadora UFSC ________________________ Profa. Dra. Rita De Cassia Pacheco Gonçalves Avaliadora UFSC Dedico este trabalho minha mãe, minhas colegas e a todos os professores e futuros professores. AGRADECIMENTOS Não posso começar agradecendo a outra pessoa que não seja minha Mãe, Susana, por ser minha base, me apoiar e incentivar a realizar meus sonhos e objetivos, sempre ouvir minhas reclamações sobre tudo e todos. Por me aceitar como filha. Te amo eternamente. À minha família, por entenderem minhas ausências, principalmente nestes momentos finais, mas sempre me apoiando e auxiliando, até mesmo em trabalhos para as disciplinas com seus talentos, especialmente minhas tias Vera e Odelta, mesmo que nesta etapa só perguntaram sobre o TCC, até mesmo antes de perguntar sobre mim. Ao meu afilhado Igor por entender minhas ausências e ser a pessoinha que me faz crescer e aprender sempre mais sobre o cuidado e o carinho. Às minhas companheiras felinas, Minerva e Murta, que me fizeram companhia nas várias madrugadas que passei escrevendo. Ao meu irmão Guilherme por me ajudar com a revisão, e a ele e minha cunhada Helen, que mesmo a distância acompanharam esse processo, me dando forças. E nos momentos em que estávamos juntos tornavam as coisas mais leves e divertidas, com os jogos e conversas, sem esquecer é claro da cerva. KKK Amo vocês. Ao Programa de Formação Ético/Moral (PROFEM) da Seara Espírita Entreposto da Fé – SEEDE que tive oportunidade de participar dos anos de 2007 à 2011, que tornaram minhas manhãs mais divertidas e trouxeram pessoas que foram muito importantes para formar quem eu sou hoje. A coordenadora Fátima e professoras Juliana Evangelista – Jujuba, Juliana Ramos – Ju, por sempre me ouvirem, me ajudarem a me descobrir, pelas conversas sobre tudo e os conselhos, por me ensinarem tanto, pelos puxões de orelha, sorrisos, brincadeiras, abraços, por todo carinho, por tudo isso e muito mais, foram fundamentais para que eu me tornasse a pessoa que sou hoje, por serem essas pessoas incríveis que eu tanto amo e admiro e sinto uma imensa falta. Aos professores, Alexandre Gandolfi – Alê e Ana Lúcia – Tuca, professores de teatro com que tive a oportunidade de começar minha jornada pelo teatro, que hoje é uma das bases do meu ser. As “tias” da cozinha, que foram muito especiais, que faziam os melhores cafés e almoços. Ao Núcleo Espírita de Artes - NEA, local onde posso recarregar minhas energias e a seus integrantes por me acompanharem desde o início da graduação, me incentivarem, por todo domingo estarem presente, por me ouvirem e me darem forças para continuar, entenderem minhas ausências principalmente nesta etapa final, por serem um porto seguro, um ponto de luz no meio do caos do mundo. À todos os companheiros do Movimento Espírita que de alguma forma me auxiliaram neste processo, com palavras de apoio, gestos de carinho. Aos meus amigos e colegas que de alguma forma fizeram parte deste processo dedicando um pouquinho do seu tempo, sendo com conversas, cafés, desabafos. Especialmente, A Mariana Benate – Mari, por mesmo de longe se fazer presente, pelas conversas sérias e as descontraídas, conselhos, por sofrer comigo nos processos desta etapa e tenho que agradecer muito pela paciência que tem para lidar com essa menina louca e ansiosa. As despedidas vão ser sempre difíceis, mas o reencontro é sempre maravilhoso. Amo muito você. Aos Terríveis, que já são como família e não consigo imaginar minha vida sem as nossas viradas de ano, que são as mais divertidas, e “Quem é bom já nasce Terrível”. Não posso deixar de lembrar dessas pessoas muito importantes, que são fundamentais para que eu esteja aqui hoje, meus Professores da Educação Básica, especialmente os professores que me deram a base e fizeram que a matemática não fosse um “monstro de sete cabeças”, a Ana Maria prof da 1ª série do Ensino Fundamental (EF); Wilson, prof da 4ª série do EF, que lembro até hoje das suas explicações sobre fração com pizzas e barras de chocolate; Neide, prof de matemática da 5ª a 8ª série do EF; Josiane, prof de matemática do 1º ano do Ensino Médio; e Lucinéia, prof do 2º e 3º ano do Ensino Médio, esta que batemos de frente algumas vezes, mas que se tornou muito importante, que me ouviu, que deixou as manhãs na EEB Simão Hess mais divertidas, que me ensinou muito mais do que os conteúdos da disciplina, que sempre me deixava ajudar, muito obrigada Lulu. Além dos professores, agradeço a todos os funcionários das escolas que frequentei, principalmente da orientação, por sempre me receberem nas salas, meus refúgios, local que ia para “fugir” das minhas aulas, mas onde aprendi muito sobre o trabalho pedagógico. A todos esses o meu muito obrigado, por todos os desafios que enfrentam todos os dias no chão da escola, por lutarem por uma Educação de qualidade. Especialmente a Analu, pessoa que eu reencontrei na UFSC, que muito me ensinou e me motivou a continuar, um ser iluminado. Ao CEI Flor do Campus e ao Núcleo de Desenvolvimento Infantil pela oportunidade de crescimento e primeiras aproximações com a área da Educação Infantil, onde fui aprendendo a me constituir como professora. Ao Centro Acadêmico Livre de Pedagogia (CALPe), espaço que me possibilitou discussões sobre todos os assuntos, que me fizeram entender melhor como o mundo funciona e crescer como pessoa. À todos que fizeram deste espaço e contribuíram com minha trajetória na Pedagogia, mas especialmente a Camila Casarotto, Mariana Flores, Rafael Monteiro, pessoas que, de formas diferentes estiveram presente e me apoiando, pelas trocas, por me ouvirem e me ajudarem a superar as dificuldades e deixarem as coisas mais leves e divertidas. Ao Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho (GEPETO), por todas as discussões que me fizeram ver e entender o mundo de uma forma diferente, especialmente as profs Rosalba, Eneida e Maria Helena. À todos os Professores do Curso de Pedagogia que tive contato, seja como estudante ou em reuniões, atos, eventos, mas principalmente: À Professora Maria Aparecida – Cidinha, por todas asconversas e abraços, por acreditar em mim quando eu mesmo não acreditava. Pelas manhãs de segunda-feira durante o semestre de 2018.2 no Núcleo de Aprofundamento e Diversificação de Estudos (NADE) Alfabetização na Perspectiva do Letramento, pelos ensinamentos. Ao Professor Everaldo Silveira pelas conversas e incentivos, pessoa que admiro muito, e a forma leve como levava as disciplinas, foi fundamental para que fosse este o tema deste trabalho. Às professoras Astrid e Carolina, por todos os ensinamentos, pelas conversas e sorrisos em todos os momentos. À Professora Patrícia Lima, por todos os ensinamentos durante o estágio da Educação Infantil, e após isso a oportunidade de ser sua bolsista de monitoria e poder me aprofundar ainda mais nos estudos sobre a infância, poder me aproximar e conhecê-la ainda mais. És um exemplo para mim. Obrigada por todas as conversas, conselhos, sorrisos e apoio, principalmente com o TCC. És muito importante. À Rose, pelos cafés, por me ouvir e me aconselhar, e por tornar as coisas mais leves e divertidas mesmo no meio do caos. És um presente. Às amigas que a UFSC me trouxe, Elisa, Jéssica, Tatiana, Alexandra, por nossas conversas e discussões sobre TUDO, nossas risadas, conselhos, zueiras, por me aceitarem como sou e me ensinarem tanto sobre a vida, me fazendo crescer a cada dia, por me apoiarem e acreditarem em mim, quando eu mesmo já não acreditava, por me incentivarem todos os dias a seguir em frente, por tornarem esse processo mais leve e divertido. Cada uma com seu jeito único. Somos melhores juntas. Que nossos laços fiquem ainda mais forte. Às Professoras Maria Aparecida, Regina e Rita por aceitarem participar da banca de TCC e contribuírem com este processo. E por fim, agradeço à minha orientadora, Jocemara Triches. Faltam-me palavras para agradecer tudo que fez por mim e me auxiliou nestes meus 6 anos de UFSC. Foram tantos momentos: duas vezes a disciplina em momentos bem diferentes, a oportunidade de ser sua monitora, onde pude crescer e aprender muito sobre educação. Por toda paciência (e precisou de muita.. kkk) Pela sua dedicação, todas as vezes que me ouviu e me aconselhou, por estar ali todas as vezes que eu pensei em desistir, por acreditar em mim quando eu mesmo já não acreditava e me dar forças para seguir em frente, pelo seu olhar atento, por tornar esse processo mais leve. Te admiro, pela pessoa e professora que és, por lutar tanto pela educação. Sou muito grata por tudo, todos os momentos, os abraços. Você foi fundamental para que eu chegasse até este momento, com você pude crescer como pessoa e aprender tanto. Muito Obrigada! RESUMO Esta pesquisa teve o objetivo de analisar como está proposta a formação de professores para o ensino de matemática em Cursos de Pedagogia de 27 Universidades Federais, sendo uma de cada estado e do Distrito Federal. Buscamos mapear como a matemática está presente nos currículos dos cursos, quais os conteúdos ofertados nestas disciplinas e quais as principais questões que envolvem o ensino de matemática na formação de professores em Cursos de Pedagogia. Utilizou-se como procedimentos metodológicos o levantamento de produção acadêmica, para investigar o que já havia sido pesquisado sobre este tema, e análise documental, especialmente das matrizes curriculares e ementário dos estudados. Foram localizadas 76 disciplinas entre obrigatórias, optativas e eletivas voltadas para a área da matemática nos 27 cursos analisados. Concluiu-se que há espaço nos Cursos de Pedagogia destinado à matemática, particularmente para o ensino dessa disciplina, mas existe pouca oferta de disciplinas e uma baixa carga horária para tal; identificamos que as disciplinas se voltam para o “como ensinar” os conteúdos, contudo há pouca evidência de espaço destinado para apropriação dos conteúdos. Destaca-se a falta de foco para o ensino de conceitos e conteúdos matemáticos para a educação infantil, e ainda mais para a EJA e demais modalidades nas quais o/a licenciado/a em pedagogia possa atuar. Palavras-chave: Formação de Professores. Curso de Pedagogia. Formação Matemática. Universidades Federais. LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Levantamento de produção acadêmica sobre a formação em matemática em CPe no Brasil (2006 - 2018) ……………………………………………………….............27 https://docs.google.com/document/d/1ONixnk2XDExPq_vzYrDvNYX3sg8H9_uC/edit#heading=h.17dp8vu LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Comparativo da carga horária total da Cursos de Pedagogia com as disciplinas de Matemática (2006 - 2018) …………………………………………………………...…45 Tabela 2 – Tabela com as informações das Disciplinas analisadas………………...…...…64 https://docs.google.com/document/d/1ONixnk2XDExPq_vzYrDvNYX3sg8H9_uC/edit#heading=h.35nkun2 https://docs.google.com/document/d/1ONixnk2XDExPq_vzYrDvNYX3sg8H9_uC/edit#heading=h.35nkun2 https://docs.google.com/document/d/1ONixnk2XDExPq_vzYrDvNYX3sg8H9_uC/edit#heading=h.17dp8vu https://docs.google.com/document/d/1ONixnk2XDExPq_vzYrDvNYX3sg8H9_uC/edit#heading=h.35nkun2 https://docs.google.com/document/d/1ONixnk2XDExPq_vzYrDvNYX3sg8H9_uC/edit#heading=h.17dp8vu LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Quantidade e tipo de disciplinas da área de matemática entre os 27 Cursos de Pedagogia estudados (2006 - 2018) ……………………………………………………….38 Gráfico 2 – Quantidade de disciplinas obrigatórias ofertadas por fase nos 27 Cursos de Pedagogia de Instituições Federais de Ensino Superior (2006 - 2018)…………………….40 https://docs.google.com/document/d/1A9baqDRYYPVn5p-brvHKe0qnoveaedL1/edit#heading=h.35nkun2 https://docs.google.com/document/d/1A9baqDRYYPVn5p-brvHKe0qnoveaedL1/edit#heading=h.35nkun2 https://docs.google.com/document/d/1ONixnk2XDExPq_vzYrDvNYX3sg8H9_uC/edit#heading=h.17dp8vu https://docs.google.com/document/d/1A9baqDRYYPVn5p-brvHKe0qnoveaedL1/edit#heading=h.35nkun2 https://docs.google.com/document/d/1ONixnk2XDExPq_vzYrDvNYX3sg8H9_uC/edit#heading=h.17dp8vu LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AI – Anos Iniciais AIEF – Anos Iniciais do Ensino Fundamental ANPEd – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. BDTD – Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações BNCC – Base Nacional Comum Curricular CPe – Curso de Pedagogia DCNFP – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores DCNP – Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia Disc – Disciplinas EB – Educação Básica EF – Ensino Fundamental EI – Educação Infantil EJA – Educação de Jovens e Adultos ELE – Eletiva GT – Grupo de Trabalho H/A – Hora Aula IBICT – Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia IFES – Instituições Federais de Ensino Superior LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação MTM – Matemática NC – Não Consta NI – Não Informado OBR – Obrigatória/o OPT – Optativa PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PPCPe – Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia PPP – Projeto Político Pedagógico RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil SciELO – Scientific Eletronic Library Online. TCC – Trabalho de Conclusão de Curso. UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana UFAC – Universidade Federal do Acre UFAL – Universidade Federal de Alagoas UFAM – Universidade Federal do Amazonas UFBA – Universidade Federal da Bahia UFC – Universidade Federal do Ceará UFES – Universidade Federal do Espírito Santo UFG – Universidade Federal de Goiás UFMA – Universidade Federal do Maranhão UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMT – Universidade Federal do Mato Grosso UFPA – Universidade Federal do Pará UFPB – Universidade Federal da Paraíba UFPE – Universidade Federal de Pernambuco UFPI – Universidade Federal do Piauí UFPR – Universidade Federal do ParanáUFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRR – Universidade Federal de Roraima UFS – Universidade Federal do Sergipe UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina UFT – Universidade Federal de Tocantins UnB – Universidade de Brasília UNIFAP – Universidade Federal do Amapá UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo UNIR – Universidade Federal de Rondônia SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO…………………………………………………...….…….….….…...17 1.1 OBJETIVOS……………………………………………………….…….….….….…..22 1.1.1 Objetivo Geral……………………………………………………….…....….….….22 1.1.2 Objetivos Específicos…………………………..………………………….…….….22 1.2 METODOLOGIA……………………………………………………….…….….…....23 2. ANÁLISE DE LEVANTAMENTO DE PRODUÇÃO ACADÊMICA……..………25 2.1 SOBRE O CURSO DE PEDAGOGIA. ……………………………………………….29 2.2 A MATEMÁTICA NO CURSO DE PEDAGOGIA………………..…………………32 2.3 ENSINAR MATEMÁTICA PARA QUEM? …………………………………...….…35 3. O ENSINO DA MATEMÁTICA EM CURSOS DE PEDAGOGIA…….....……….37 3.1 OBSERVAÇÕES GERAIS SOBRE A MATEMÁTICA EM CURSOS DE PEDAGOGIA……………………………………………………….…….….….….….….37 3.2 A CARGA HORÁRIA DAS DISCIPLINAS VOLTADAS À FORMAÇÃO MATEMÁTICA……………………………………………………….…….….….….…...44 3.3 O QUE TRAZEM AS EMENTAS DAS DISCIPLINAS VOLTADAS À FORMAÇÃO MATEMÁTICA? ……………………………………………………….…….….….….…46 3.3.1 Formação Matemática para a Educação Infantil…………………………...……50 4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ………………………………………………..……54 REFERÊNCIAS……………………………………………………….…….……………..58 APÊNDICE A - Tabela com os dados das disciplinas analisadas. ……………..…………64 https://docs.google.com/document/d/1ONixnk2XDExPq_vzYrDvNYX3sg8H9_uC/edit#heading=h.17dp8vu https://docs.google.com/document/d/1ONixnk2XDExPq_vzYrDvNYX3sg8H9_uC/edit#heading=h.17dp8vu https://docs.google.com/document/d/1ONixnk2XDExPq_vzYrDvNYX3sg8H9_uC/edit#heading=h.17dp8vu 17 1. INTRODUÇÃO Primeiramente, gostaria de poder dizer que foi fácil realizar esta pesquisa e fazer com que se tornasse concreta, que não tive nenhum problema ou vontade de desistir pelo caminho, mas, logicamente, não foi assim, não foi nada fácil! Por este motivo acho importante escrever sobre como cheguei neste momento. Escolhi que faria Pedagogia antes mesmo de saber realmente sobre o que o Curso tratava. A escolha se deu por incentivo de duas amigas, quando ainda estava na 8ª série do Ensino Fundamental. Nos dois anos posteriores descobri o que era este curso e já dizia a todos que o faria. Fiquei ainda mais motivada para tal! Durante os anos do Ensino Médio ouvi de alguns professores: “você vai fazer Pedagogia? Você é tão inteligente, faz outra coisa”. No início aquilo me incomodava demais, até me frustrava. Como meus professores – PROFESSORES, aqueles que eram minhas referências, aqueles que deveriam me apoiar – podiam ter essa postura? Um certo dia me irritei e lhes disse: “Se não for eu, e meus colegas, que resolverem fazer pedagogia, ser professores, quem irá dar aula para os filhos de vocês?”. A partir daí eles entenderam que não iriam me dissuadir de cursar Pedagogia. Consegui entrar na Universidade logo ao término do Ensino Médio e, ainda antes de começar as tão esperadas aulas, já pensava no temido Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). No começo, pensava em trabalhar com algo relacionado a arte, pois esta sempre esteve presente em minha vida, visto que possuo mãe formada em Artes Plásticas, pai músico, e tias todas artesãs. Não havia como ser muito diferente. Ao começar o curso, percebi que este era um assunto que possuía grande foco e era tratado com maior facilidade dentro do curso. Deixei de pensar por um tempo no tema, mas o receio sobre o trabalho final continuava ali, presente em todas as etapas do curso. Mas por que então a Matemática? Durante os primeiros semestres, tive dificuldades em acompanhar as aulas, pois nunca fui muito estudiosa e aquelas disciplinas teóricas e densas, que dão a base para criar as estruturas de conhecimentos, muitas vezes não entravam na minha cabeça. Naquele momento, eu não via sentido nenhum daqueles conteúdos. Sempre me chamavam atenção às disciplinas práticas, onde conseguíamos chegar num resultado. Por consequência, acabei reprovando em algumas disciplinas no começo curso. Logo no segundo semestre comecei a fazer estágio no Centro de Educação Infantil Flor do Campus e foi neste espaço, cercada daqueles pequenos, que percebi que tinha feito 18 a escolha certa! Foi ali também onde pude constatar que algumas colegas tinham diversos problemas em relação a compreensão de conceitos básicos da Matemática em algumas questões do dia a dia, como ver as horas no relógio ou resolver algum problema lógico. Naquele mesmo espaço em que comecei a considerar que tinha feito a escolha certa, também comecei a achar que estava no lugar errado, uma vez que, percebi que a matemática era importante e não havia muito “espaço” ali, sendo ela, fundamental para o trabalho e desenvolvimento das crianças. Na 4ª fase tivemos a disciplina “Educação Matemática e Infância”, nosso primeiro contato com esta área dentro do Curso. Nesta fase, percebi ainda mais o quanto minhas colegas possuíam receios e bloqueios quanto aos conhecimento matemáticos. Enquanto algumas atividades para mim eram algo simples, para algumas delas parecia ser um “bicho de sete cabeças”. No semestre seguinte sai da minha turma e fui cursar disciplinas que haviam ficado para trás. Comecei a fazer disciplinas com uma turma de 2ª fase e logo comecei a conversar com algumas colegas e contar meu processo até ali. Após várias conversas e trocas, pude perceber que, por conta de toda sua trajetória escolar e os problemas e dificuldades encontrados com a matemática, muitas delas tinham receios do que iriam encontrar na disciplina de matemática e me questionavam: “mas como que é?”, “vai ter contas pra gente fazer?”, “eu não gosto de matemática..”, “nunca fui bem nessa matéria, tenho medo de reprovar..”, “não sabia que tinha disciplinas de matemática..”. Comecei a pensar em como minhas colegas, futuras professoras, possuíam tantos traumas e receios quanto a esta disciplina que teriam que ensinar futuramente. A matemática sempre foi uma área que me encantou e na qual tive muita facilidade no decorrer de meus anos escolares. Sempre foi fácil entender a lógica relacionada à matemática e fazer ligações de coisas cotidianas para me ajudar a entender os conteúdos. Contudo, percebo que para a maioria das pessoas com quem tive contato, ela não possui o mesmo “sentido”. No meu período de educação básica, ensinei muitos colegas a entenderem, ou “decorarem”, como funcionavam as fórmulas para determinada prova ou trabalho. No Curso de Pedagogia da UFSC, tive contato com duas disciplinas da área de matemática como disciplinas do campo de fundamentos e metodologias, a primeira no 4º 19 semestre, “Educação Matemática e Infância”1, e a segunda no 5º semestre “Fundamentos e Metodologia da Matemática”2, ambas as disciplinas têm tanto fundamentos e metodologia, sendo que a primeira tem um enfoque maior no debate para o ensino na Educação Infantil e a segunda para o ensino nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, além da divisão dos conteúdos. No 6º semestre do Curso de Pedagogia, com a disciplina de “Pesquisa em Educação II” precisei definir o tema para começar os primeiros passos na pesquisa. Escolher um tema dentre tantos que já havíamos estudado e nos aproximado no decorrer do curso foi um processo confuso e desafiador. Neste período já havia me aproximado da Professora Jocemara e ela foi fundamental neste processo. Apesar de certa dúvida a respeito de seguir na área de artes ou da matemática, acabei optando por esta última por considerá-lá relevante, por saber que essa disciplina acaba sendo a que possui maior resistência porparte dos estudantes da Educação Básica e pelas dificuldades que percebia em minhas colegas, futuras professoras. Como ensinar algo que não se tem domínio ou não se conhece? Meus estudos vão ao encontro desta temática por entender o quanto a compreensão desta disciplina é importante para o desenvolvimento e para pensar como a matemática é trabalhada nos cursos de Pedagogia. Busco conhecer qual é o tempo destinado, quais conteúdos são trabalhados na matemática neste curso de formação de professores. Tinha por hipótese que esta área seria pouco estudada dentro dos cursos de Pedagogia e que isso contribuiria para torná-la um grande desafio na formação e atuação das estudantes, futuras pedagogas, pelas inúmeras dificuldades que estas trazem consigo de sua trajetória escolar. Esta resistência encontrada no ensino de matemática não é algo novo, mas algo que já vem se apresentando nesta área há muito tempo. Partindo da constatação de que a matemática é a disciplina que, na maioria das vezes, tem os piores resultados nas avaliações de larga escala3 e pensando em como os 1 “Concepções de Matemática e Educação Matemática. Matemática e suas relações com a infância. Ensino e aprendizagem da Matemática e suas relações com a sociedade.” (UFSC, 2008, p. 33) 2 “Conceito de número e suas aplicabilidades. As operações fundamentais no conjunto dos Naturais e dos Racionais. Estudo da geometria euclidiana. Novas tendências em Educação Matemática e suas relações com a pesquisa.” (UFSC, 2008, p. 34) 3 Isso pode ser confirmado, por exemplo em: https://qedu.org.br/brasil/proficiencia?gclid=CjwKCAiAg9rxBRADEiwAxKDTuhlyQ5ZsRag3RMPyYW67 RAZVQYMKd5i2kEdquOZoAdphSMzV08Y7mBoCnN8QAvD_BwE https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/12/03/Como-o-Pisa-revela-uma-d%C3%A9cada-de- estagna%C3%A7%C3%A3o-do-ensino-no-Brasil https://qedu.org.br/brasil/proficiencia?gclid=CjwKCAiAg9rxBRADEiwAxKDTuhlyQ5ZsRag3RMPyYW67RAZVQYMKd5i2kEdquOZoAdphSMzV08Y7mBoCnN8QAvD_BwE https://qedu.org.br/brasil/proficiencia?gclid=CjwKCAiAg9rxBRADEiwAxKDTuhlyQ5ZsRag3RMPyYW67RAZVQYMKd5i2kEdquOZoAdphSMzV08Y7mBoCnN8QAvD_BwE https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/12/03/Como-o-Pisa-revela-uma-d%C3%A9cada-de-estagna%C3%A7%C3%A3o-do-ensino-no-Brasil https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/12/03/Como-o-Pisa-revela-uma-d%C3%A9cada-de-estagna%C3%A7%C3%A3o-do-ensino-no-Brasil 20 estudantes se apropriam dessa área de conhecimento, precisamos pensar qual é a formação que esse professor-pedagogo está tendo para trabalhar no ensino da matemática. O que é preciso para que ele esteja preparado para ensinar seus futuros estudantes, não somente para essas avaliações, mas para a vida? A matemática não está presente somente no cotidiano escolar, mas em toda a vida dos sujeitos. No Brasil, a formação de professores de matemática ocorre na graduação, em cursos de licenciatura, mas este professor irá atuar nos Anos Finais do Ensino Fundamental (AFEF) e no Ensino Médio (EM). Nosso foco está para a formação de professores para as primeiras etapas da Educação Básica (EB), sendo elas Educação Infantil (EI) e Anos Iniciais do Ensino Fundamental (AIEF). A formação de professores para o ensino de matemática para essas etapas acontece em Cursos de Graduação em Pedagogia e são denominados “Professores que ensinam matemática”. O Curso de Graduação em Pedagogia surgiu em 1939 com a organização da Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil. Saviani (2012) apresenta que o profissional que formava-se bacharel em pedagogia era conhecido como técnico em educação e, após cursar as disciplinas de didática, poderia ser licenciado. Este esquema era conhecido como “3+1”, onde em três anos se formava o bacharel e com mais um formava o licenciado, e assim, inicialmente o Curso de Pedagogia não formava o professor que iria atuar com a Educação Básica, mas sim o professor que iria formar o professor nos cursos de nível médio para atuarem com as etapas de ensino anteriores. Com a da Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961, a primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB), o esquema anterior deixa de existir, e a formação passava a abranger bacharelado e licenciatura com uma formação só e no mesmo período de tempo. A partir da reforma do ensino superior decorrente da Lei n. 5.540/68 e do Decreto-Lei n. 464, de 11 de Fevereiro de 1969, [que] eliminou o regime seriado introduzindo a matrícula por disciplinas e o regime de créditos, o que foi implementado na forma de disciplinas semestrais (SAVIANI, 2012, p. 42) http://portal.inep.gov.br/documents/186968/484421/RELAT%C3%93RIO+SAEB+2017/fef63936-8002- 43b6-b741-4ac9ff39338f?version=1.0 http://portal.inep.gov.br/documents/186968/484421/RELAT%C3%93RIO+SAEB+2017/fef63936-8002-43b6-b741-4ac9ff39338f?version=1.0 http://portal.inep.gov.br/documents/186968/484421/RELAT%C3%93RIO+SAEB+2017/fef63936-8002-43b6-b741-4ac9ff39338f?version=1.0 21 Foi com esta reforma que foram criadas as habilitações4, tendo o curso um núcleo comum a todos e a parte diversificada que seria de escolha de cada estudante. Até este momento, o Curso de Pedagogia não era regulamentado, tendo ainda sido aprovada a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e somente em 10 de Abril de 2006 é que são aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia (DCNP), que acaba com as habilitações, dando ênfase na docência como base para a formação do Pedagogo, mas fazendo com que ele seja formado para todas as áreas, antes separadas, agora em um currículo único, formando o “especialista no professor” (SAVIANI, 2012, p. 60). Para esta pesquisa tomo como ponto de partida os estudos realizados por Triches (2016), ao analisar o currículo de 27 CPe de Universidades Federais. Usando a mesma empiria da pesquisadora, busco me aprofundar nas questões específicas das disciplinas referentes ao ensino de matemática, e como a mesma está sendo ofertada/proposta nesses cursos. Para chegar a estas questões específicas da matemática, precisamos pensar qual o perfil de profissional se está querendo formar em CPe no Brasil. Sobre isso, Triches (2016) enfatiza que a última legislação que determinou mudanças expressivas neste Curso no Brasil foi a Resolução CNE/CP n. 1, de 15 de maio de 2006, a qual aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia, licenciatura. Segundo ela, Pela Resolução, o CPe não formará o Pedagogo, mas sim o Licenciado em Pedagogia, o docente, que poderá (ou deverá) assumir outros papéis, dependendo da situação e das condições em que venha a atuar. O docente, como dito, não é referido apenas como sinônimo de professor, pois, diante da reconversão, sua acepção foi expandida. (TRICHES, 2016, p. 57) É preciso compreender qual o papel deste profissional, polivalente, que tem de dar conta de todas essas atribuições e competências em sala de aula, e como as questões metodológicas estão sendo colocadas nesta formação. Sobre a formação de professores e, especial sobre o Curso de Pedagogia, Libâneo (2006, p. 861) afirma que: 4 “Pelas habilitações procurou-se privilegiar a formação de técnicos com funções supostamente bem específicas no âmbito das escolas e sistemas de ensino que configurariam um mercado de trabalho também supostamente já bem constituído, demandando, em consequência, os profissionais com uma formação específica que seria suprida pelo curso de pedagogia; daí a reestruturação desse curso exatamente para atender à referida demanda.” (SAVIANI, 2012, p. 44) 22 Há dois problemas conexos que podem estar comprometendo a qualidade da formação de muitos cursos: a) sobrecarga disciplinar no currículo para cobrirtodas as tarefas previstas para o professor; b) ausência de conteúdos específicos das disciplinas do currículo do ensino fundamental. É difícil crer que um curso com 3.200 horas possa formar professores para três funções que têm, cada uma, sua especificidade: a docência, a gestão, a pesquisa, ou formar, ao mesmo tempo, bons professores e bons especialistas, com tantas responsabilidades profissionais a esperar tanto do professor como do especialista. Insistir nisso significa implantar um currículo inchado, fragmentado, aligeirado, levando ao empobrecimento da formação profissional. Para se atingir qualidade da formação, ou se forma bem um professor ou se forma bem um especialista, devendo prever-se, portanto, dois percursos curriculares articulados entre si, porém distintos. Este autor também afirma que “[...] em boa parte dos atuais cursos há quase que total ausência no currículo de conteúdos específicos (de português, ciências, matemática, história etc.), existindo apenas as metodologias. Como formar bons professores sem o domínio desses conhecimentos específicos?” (LIBÂNEO, 2006, p. 861). Essa questão é central nesta pesquisa. 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo Geral Compreender como está proposta a formação para o ensino de matemática em Cursos de Pedagogia de 27 Universidades Federais com base nos projetos pedagógicos e nas ementas das disciplinas de matemática. 1.1.2 Objetivos Específicos ● Mapear como as disciplinas específicas que tratam sobre a matemática estão organizadas nos currículos dos CPe; ● Identificar que conteúdos são ofertados nessas disciplinas e são considerados centrais para a formação de professores que ensinarão matemática nas primeiras etapas da educação básica; ● Conhecer as principais questões que envolvem o ensino da matemática na formação de professores, em especial em CPe; 23 1.2 METODOLOGIA Esta pesquisa foi realizada por meio de análise bibliográfica e documental tendo como base os Projetos Políticos de Cursos de Pedagogia (PPCPe) de 27 Universidades Federais, sendo o foco deste estudo a matriz curricular desses cursos. Delimitamos como recorte temporal a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (DCNP) de 2006 até 2018. Tomamos5 como base a empiria utilizada nas pesquisas de Triches (2016) para a sua tese de doutorado intitulada “A Internalização da Agenda do Capital em Cursos de Pedagogia de Universidades Federais (2006 - 2015)” e atualizadas por Flores (2019) no projeto de Iniciação Científica “O Curso de Pedagogia de Universidades Federais após a Reforma de 2006 e de 2015: Adesão ou Transgressão às Determinações do Capital?”, sob orientação pela professora Jocemara Triches. Foram selecionados 27 PPCPe de Universidades Federais, sendo uma de cada um dos 26 estados e do Distrito Federal, campus central, modalidade presencial. Os CPe estudados estão vinculados às seguintes Instituições Federais de Ensino Superior (IFES): Universidade Federal do Acre (UFAC), Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal de Paraíba (UFPB), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal de Roraima (UFRR), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal do Tocantins (UFT), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), 5 A partir deste momento trocamos a forma de escrita do singular para o plural, pois o primeiro momento se constituiu como uma escrita bastante pessoal e de agora em diante, passa a ter um caráter compartilhado no diálogo com autores de referência. 24 Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Quanto aos documentos analisados, os centrais são: DCNP/2006 e Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores (DCNFP) de 1 de Julho de 2015 que “Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada.” (BRASIL, 2015, p. 1) Além das análises dos PPCPe, fizemos um levantamento de produções acadêmicas com objetivo de nos aproximarmos do tema e ver o que já havia sido pesquisado. Este trabalho foi organizado em quatro seções, sendo a primeira a introdução; na segunda seção fizemos um levantamento bibliográfico de produções acadêmicas procurando observar o que já havia de pesquisas nesta área na terceira apresentamos o foco central da pesquisa, a análise das matrizes curriculares com foco no ensino de matemática encontradas nos Cursos de Pedagogia das 27 Universidades Federais analisadas; Na quarta e última seção, trazemos algumas considerações e sínteses para refletirmos acerca da importância deste tema. 25 2. ANÁLISE DE LEVANTAMENTO DE PRODUÇÃO ACADÊMICA Para poder nos apropriar melhor do assunto pesquisado fizemos um levantamento de produção acadêmica. Utilizamos a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), a Scientific Electronic Library Online (SciELO) e a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd). Como em 2006 foram instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (DCNP), onde as antigas habilitações são extinguidas e o curso configurou-se exclusivamente como uma licenciatura, passando o mesmo curso a ofertar todas as áreas num currículo comum, delimitamos o recorte temporal da pesquisa de 2006 a 2018. Para a realização da pesquisa utilizamos como palavras-chaves base “Curso de Pedagogia” e “Matemática”, sendo nosso foco ver trabalhos que tratavam da formação de pedagogos para o ensino da matemática, mais especificamente no currículo dos Cursos de Pedagogia. Em algumas das páginas que utilizamos para a pesquisa foi preciso adicionar outras palavras-chaves e alguns filtros, que serão melhor explicitados a seguir. Na página oficial da ANPED, a partir das análises dos encontros nacionais, a busca não nos possibilitou identificar nenhum trabalho referente ao tema específico da matemática no currículo dos CPe em nenhum dos três Grupos de Trabalho (GT) mapeados, sendo esses: GT08 - Formação de Professores; GT12 – Currículo; GT19 - Educação Matemática. Na SciELO fizemos a busca com as palavras chaves “Curso de Pedagogia” e “Matemática”, encontramos 25 trabalhos, após colocarmos os filtros com a delimitação de tempo (de 2006 a 2018) e área temáticas “Educação e educacional; humanidades, multidisciplinar”, encontramos 13 trabalhos, dentre estes alguns tratavam sobre conteúdos específicos do ensino de matemática, outros não tinham relação com o tema, sendo somente dois selecionados. Já no BDTD fizemos diversas pesquisas e filtragens e encontramos resultados em três delas. A primeira busca e filtro foi com as palavras chaves “Curso de Pedagogia” e “Matemática”, com resumo em português, na qual encontramos 1.032 trabalhos inicialmente, mas, a partir da delimitação pelo tempo e pela área de conhecimento “CNPQ: Ciências Humanas:Educação” encontramos 93 trabalhos. No segundo filtro desses textos, a partir do título, excluímos trabalhos por se tratarem de pesquisas sobre conteúdos 26 específicos do ensino de matemática, como modelagem, geometria, entre outros, que não são o foco específico desta pesquisa. Também encontramos muitos que trazem entrevistas com estudantes e egressos de CPe, sem abordar uma análise sobre o ensino da matemática neste curso. No terceiro e último filtro, incluindo textos que continham entrevistas, mas que também tratam diretamente do currículo do curso em questão, um trabalho foi selecionado para ser analisado. Ainda no BDTD, com outros descritores, utilizamos como palavras-chaves “Curso de Pedagogia”, “Matemática” e “currículo” com resumo em português e encontramos 315 resultados, com a delimitação de tempo, diminuiu para 300. Por ainda ser uma quantidade muito grande, delimitamos a área de conhecimento “Ciências humanas: Educação” e encontramos 27 trabalhos. Da mesma forma que na pesquisa anterior, encontramos muitos trabalhos de conteúdos específicos. Assim selecionamos aqui somente um trabalho para análise. Na terceira busca usamos as palavras-chave “Curso de Pedagogia” e “matemática”, mantendo resumo em português, delimitação de tempo, com recorte no assunto: “Formação de Professores” e dos 17 trabalhos encontramos, destes selecionamos dois por mais se aproximar do recorte temático da pesquisa. A partir dos recortes feitos na pesquisa tivemos dificuldade de localizar muitos trabalhos especificamente sobre a análise da matemática nos currículos do Curso de Pedagogia. Em contrapartida, existem muitos que trazem pesquisas e entrevistas com estudantes dos cursos de pedagogia e/ou professores formados ou que no período de formação já atuam, sobre os conhecimentos que esses estudantes e professores adquirem nas disciplinas referentes à Matemática durante sua formação. Também encontramos muitos trabalhos que tratam sobre o ensino de conteúdos específicos da matemática nos cursos de Pedagogia, como modelagem matemática, geometria, mas estes não foram selecionados, pois não entravam no foco específico desta pesquisa. Para a análise, incluímos a pesquisa de mestrado feita por Oliveira (2018), ainda que que não tenha aparecido em nenhuma das nossas buscas, por termos conhecimento da sua existência, até mesmo pela empiria da pesquisa ter sido o currículo do CPe da UFSC e entrevistas com acadêmicas do referido curso. Após todas as buscas, filtros e inclusões, sete trabalhos foram selecionados para análise, sendo cinco dissertações e dois artigos, que podem ser melhor visualizados no quadro abaixo. 27 Quadro 1 - Levantamento de produção acadêmica sobre formação em matemática em CPe no Brasil (2006-2018) Fonte Ano Título Autor Orientador/a Inst. / Publicação Tipo IBICT 2008 A Formação em matemática no curso de Pedagogia: percepções dos alunos-professores sobre contribuições para a prática em sala de aula. Adriana Mascarenhas Mattos Bulos Nelson Rui Ribas Bejarano UFBA Dissertação IBICT 2011 A formação do pedagogo e o ensino da matemática nos anos iniciais do ensino fundamental Simone Marques Lima Ademar de Lima Carvalho UFMT Dissertação ScIELO 2012 Formação inicial de professores e o curso de pedagogia: reflexões sobre a formação matemática Marlisa Bernardi Almeida; Maria das Graças de Lima Revista: Ciência e Educação Artigo IBICT 2016 O Pedagogo e o ensino de matemática: uma análise de formação inicial Fernanda Cíntia Costa Matos Maria José Costa dos Santos UFC Dissertação ScIELO 2016 A formação para a matemática do professor de anos iniciais Jaqueline de Moraes Costa; Nilcéia Aparecida Maciel; Ercules Costa Revista: Ciência e Educação Artigo IBICT 2018 A formação de professores em Matemática para os anos iniciais do ensino fundamental: o papel do curso de Pedagogia Maria Odilma Oliveira Castro Sandramara Matias Chaves UFG Dissertação 2018 A formação matemática de acadêmicos do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Santa Catarina: Limites, desafios e possibilidades Fábio da Costa Oliveira Everaldo Silveira UFSC Dissertação Fonte: Autora (2019) Como podemos observar no quadro, os trabalhos selecionados são todos de autores, orientadores e de locais diferentes, exceto pelos artigos que são da mesma revista. Dos sete trabalhos, seis deles utilizaram entrevistas com estudantes e/ou egressos do Curso de Pedagogia, e apenas um tem como enfoque mais específico análise das matrizes curriculares das disciplinas referente ao ensino de Matemática nos Cursos de Pedagogia, este intitulado “A formação para a matemática do professor de anos iniciais”. 28 Percebemos a recorrência de duas autoras como referência em todos os textos analisados, Edda Curi e Bernadete Gatti. Curi é doutora em Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Sua formação tem ênfase em formação de professores, currículo, anos iniciais, e Educação matemática. Seu texto mais utilizado nas pesquisas analisadas foi sua tese de doutorado intitulada “Formação de professores polivalentes: uma análise do conhecimento para ensinar Matemática e de crenças e atitudes que interferem na constituição desses conhecimentos”, defendida em 2004. Gatti possui graduação em Pedagogia, e doutorado em psicologia pela Universite de Paris VII. Seu texto mais utilizado nas pesquisas analisadas foi “Formação de professores para o ensino fundamental: instituições formadoras e seus currículos”. Também percebemos que uma perspectiva comum em todos eles, é o fato de reconhecer que um dos problemas na formação de professores é que nas disciplinas voltadas a matemática nos cursos se ensina o “como ensinar”, metodologias, fundamentos da área, mas não “o que ensinar”, os conteúdos específicos. Lima (2011, p. 132) afirma que “[...] as docentes apontaram a formação metodológica como um aspecto positivo da formação deixando claro que [o] pedagogo possui conhecimento razoável do “como” ensinar, mas, infelizmente, pouca base do “que” ensinar”. Abaixo, citamos alguns relatos de entrevistados dos trabalhos analisados: A26: Deixou a desejar quanto a conteúdos específicos pois na verdade aprendemos apenas as metodologias de como ensinar mas não aprendemos o que ensinar. (ALMEIDA e LIMA, 2012, p. 463) [...] não há como falar em como ensinar, em metodologia do ensino, sem se falar do objeto de ensino. (CASTRO, 2018, p. 85) Observamos ainda que os trabalhos com entrevistas, realizados em diferentes estados trazem dados muito semelhantes, em que os entrevistados, na maioria, relatam que já possuíam dificuldades em relação à matemática e, mesmo após as disciplinas, continuam tendo, portanto, não se sentem preparados para ministrar aulas de matemática. Segundo Castro (2018, p. 44) “[...] os licenciandos que escolheram ser pedagogos, em sua maioria, não tiveram uma boa experiência com a matemática durante a sua formação na educação básica.” A seguir trazemos alguns relatos de estudantes dos trabalhos analisados: 29 Q17: “Minhas experiências nas aulas de matemática sempre foram muito negativas, pois sempre tive muita dificuldade nessa matéria”. (OLIVEIRA, 2018, p. 92) Q10: “Lembro-me das aulas de matemática, as dificuldades em aprender, dificuldade em decorar a tabuada e lembro-me de um professor sempre carrancudo, ignorante e sem paciência que se irritava quando os alunos não entendiam na primeira explicação”. (OLIVEIRA, 2018, p. 93) Q16: “Sempre tive dificuldade em aprender cálculo. Para mimas aulas eram chatas e não tínhamos apoio dos professores com novas dinâmicas e um número exagerado de exercícios”. (OLIVEIRA, 2018, p. 93) A21: Continuo tendo dificuldades e não gosto da disciplina. (ALMEIDA; LIMA; 2012, p. 462) A05: O ensino da matemática teria que ser uma matéria que fosse estudada de maneira detalhada e não superficial, porque muitos de nós temos dificuldades nesta disciplina. (ALMEIDA; LIMA; 2012, p. 463) Os relatos descrevem dificuldades, experiências negativas em relação ao ensino de matemática na formação de professores, que será aprofundado posteriormente. Nessa direção questionamos: como ensinar o que não sabe ou não se tem domínio? as acadêmicas da Pedagogia sabem os conteúdos do currículo da educação básica? Seria possível incentivar algo que não se gosta? Como fazer com que estes estudantes, futuros professores aprendam matemática para que consigam ensinar seus alunos? Nem todas as questões são objetos desta pesquisa e/ou são possíveis de se responder, mas são inquietações que nos acompanham. Para uma análise mais aprofundada dos textos selecionados, organizamos em um quadro com o que entendemos ser os principais tópicos que poderiam nos auxiliar a compreender melhor sobre a temática. A seguir vamos trazer alguns dos eixos que nos chamaram mais atenção sobre os textos, o que falam sobre o CPe e as reformas e leis que a regulamentam, a matemática no curso de pedagogia, para quem é o ensino de matemática, algumas críticas. 2.1 SOBRE O CURSO DE PEDAGOGIA. Segundo consta nos textos analisados, as DCNP/2006 representam um marco de mudança no CPe, pois o transformou em uma licenciatura ampliada, que habilitaria o 30 professor para diversas áreas simultaneamente, assim alargando a formação, entretanto, esse fato também fez com que acontecesse um inchaço no currículo, pois, mesmo formando exclusivamente o professor para a Educação Infantil e para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, propõem-se também formar o Professor para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Especial, Ensino Normal de Nível Médio, Gestão Educacional. Castro (2018, p. 32) coloca que “O perfil do pedagogo passa a ser o do profissional habilitado a atuar em diversas áreas da educação e a docência passa a configurar como sendo a essência de sua identidade formativa”. Para complementar, A formação inicial do pedagogo é apontada por ter algumas deficiências e por às vezes não atender a necessidade exigida na profissão, isso por necessitar de conhecimentos em várias áreas: Educação Infantil, Ensino Fundamental anos iniciais, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e Gestão Educacional, coisa que o tempo de um curso de graduação não suporta. (MATOS, 2016, p. 33) Com tantas áreas, e um curto tempo de formação, concordamos com a preocupação dos autores quando afirmam que os conhecimentos acabam sendo adquiridos de uma maneira superficial, sem conseguir aprofundar os conteúdos, de modo que os estudantes, futuros pedagogos não consigam se apropriar dos conhecimentos mínimos necessários para exercer sua prática pedagógica. “Para cumprir o objetivo de formação, é necessário que, além de conhecer os conteúdos de matemática, o professor tenha também conhecimento de como tratá-los, a fim de que a aprendizagem do aluno se efetive.” (COSTA; PINHEIRO; COSTA, 2016, p. 506) Lima (2011, p. 190) aponta que os CPe deveriam ter o seguinte compromisso: articular um projeto educativo voltado à formação de um professor que se constitua num sujeito histórico, crítico e criativo, capaz de pensar sua própria condição de ser humano; que, sendo agente da práxis educativa, mostre-se apto a perceber-se como educador-educando; que, ainda como sujeito de seu próprio desenvolvimento, seja encorajado a apropriar-se das habilidades e conhecimentos necessários ao exercício do magistério; [...] seja capaz de intervir na transformação da qualidade da educação matemática. Assim, segundo a autora, a formação acabou sendo baseada em formas de ensinar, ensinando o “como” e esquecendo de ensinar a epistemologia do conceito e a prática dos conteúdos. É necessário que o “[...] pedagogo tenha uma formação que o possibilite, pedagógico-didaticamente, desenvolver conhecimentos sólidos e eficazes, capazes de 31 garantir aprendizagens minimamente satisfatórias quanto às áreas de conhecimento em que atua.” (ALMEIDA; LIMA, 2012 p. 455) De um modo geral os autores criticam a reforma que ocorreu no CPe, consideram que elas foram importantes para a constituição do curso, mas criticam o alargamento do currículo, a enorme quantidade de disciplinas, que acabam fragilizando a formação. Mas não localizamos debates específicos sobre a divisão de curso para Educação Infantil e Anos Iniciais. Dos textos analisados, seis trazem um histórico do Curso de Pedagogia no Brasil. Todos os textos analisaram CPe de instituições públicas, sendo algumas dessas Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT); outras não foram citadas. Três produções acadêmicas tratam de CPe de instituições privadas. Quanto ao profissional formado no CPe, o/a pedagogo/a, Lima (2011, p. 37) afirma que após as DCNP/2006 é “impossível um só curso dar conta de uma formação de qualidade com um perfil tão alargado, que prevê a formação de um profissional para atuar nas diversas áreas da docência, na gestão e na produção de conhecimento.” Com isso, algumas deficiências na formação inicial deste profissional são apontadas por não conseguir atender todas as necessidades da profissão. Oliveira (2018, p. 50) nos indica alguns questionamentos importante sobre a formação do professor: [...] o professor dos anos iniciais é conhecido por professor generalista ou polivalente e tem a missão de fazer com que o processo de ensino e aprendizagem ocorra de maneira eficaz em História, Geografia, Matemática, Ciências e Língua Portuguesa, independente de possuir afinidade ou não com alguma dessas áreas do conhecimento. Surge aí a grande questão: como é possível ter o domínio e a formação necessária para todas essas áreas? Será que a formação inicial no curso de Pedagogia prepara esse profissional para atuar com qualidade? Como propiciar um ensino interdisciplinar quando os professores, em sua maioria, vivenciaram o ensino fragmentado por disciplinas? E as especificidades de cada disciplina? Como lidar com elas? Será que a formação está propiciando os saberes necessários? E, finalmente, o que dizer das avaliações sobre desempenho que evidenciam a fragilidade do ensino, justamente nas áreas em que mais os professores enfatizam? 32 É preciso pensar sobre essas questões e em como está estruturado os CPe, pois com uma ou duas disciplinas dos conteúdos específicos os estudantes não conseguem se apropriar dos conteúdos. No caso da matemática, em que muitos deles já vêm com dificuldades e têm que tentar quebrar essas barreiras com a disciplina, essa quantidade ou a forma como a disciplina é ofertada acaba sendo insuficiente. 2.2 A MATEMÁTICA NO CURSO DE PEDAGOGIA Outro aspecto que observamos foi como os autores abordam a matemática do CPe, pela diversidade de áreas e conteúdos que tem que ser ensinados, acaba fazendo que o currículo fique muito inchado, dificultando a possibilidade de aprofundar os conteúdos, deixando o conhecimento precário. Bulos (2008, p. 39; 79) enfatiza que “[...] é necessário que o currículo do curso tenha conteúdos teórico metodológicos para atender a demanda desse profissional” e “apesar de inúmeras mudanças na estrutura curricular do curso, existem lacunas em relação aos conteúdos que os pedagogos (professores das séries iniciais) precisam ensinar na prática de sala de aula em todas as disciplinas.”. Com a matemáticanão é diferente, faltam conhecimentos básicos necessários para a formação deste profissional. Em todos os textos que utilizaram entrevistas, percebe-se que há um receio em relação a esta área do conhecimento e que trazem uma defasagem no conhecimento matemático no seu processo formativo desde a educação básica, mas reconhecem a importância da disciplina, e a necessidade de estarem preparadas para sua atuação docente. Para Costa, Pinheiro e Costa (2016 p. 508) “[...] o grande erro na formação do professor de anos iniciais é negligenciar a formação matemática básica, porque os conteúdos são considerados tão simplistas que dispensam uma preparação para tal.”. Segundo Almeida e Lima (2012, p. 465), os reflexos de uma formação com defasagens aparecem na prática, o pouco espaço destinado a esta área do conhecimento acaba sendo insuficiente para uma formação de qualidade. Elas ainda colocam que “a desvalorização desta área do conhecimento pode trazer prejuízos para a formação matemática, não somente dos futuros professores, mas, sobretudo, para seus alunos das séries iniciais.” As autoras ainda colocam que “a formação inicial do professor deverá 33 providenciar uma compreensão profunda da matemática com a qual irá trabalhar em sua prática educativa” (ALMEIDA; LIMA, 2012, p. 457), desta forma, contribuindo para o desenvolvimento de concepções, sentimentos, atitudes e capacidades positivas em relação à matemática, até para ajudá-los a superarem os problemas anteriores. Essa formação deve encorajar os futuros professores a refletirem, questionando seus conhecimentos e dificuldades, de forma que possam vir a alterá-las. (ALMEIDA; LIMA, 2012, p. 462) Para o ensino desta disciplina, como para as outras, é preciso que o professor tenha uma boa relação com essa e esteja seguro quanto aos conhecimentos da disciplina, Matos (2016, p. 39) salienta que “[...] para que esses alunos que estão na escola aprendam a Matemática é necessário que os professores sejam bem preparados, com formação em todos os conteúdos matemáticos necessários a essas turmas.” Bulos (2008, p. 77) nos questiona “como utilizar procedimentos didáticos adequados sem ter domínio dos conceitos a serem trabalhados? Como tornar esses conceitos significativos para os educandos?” Se muitas vezes para o próprio professor não faz sentido? Todos os textos trazem críticas à organização curricular dos CPe das diferentes instituições que foram analisadas. Costa, Pinheiro e Costa (2016, p. 519), que têm como enfoque específico em sua pesquisa a análise curricular das disciplinas do ensino de matemática nos CPe, colocam como ‘problema crônico’ o fato dos cursos de Pedagogia possuírem uma carga horária muito reduzida para a formação didático-pedagógica em matemática. Esse cenário se torna ainda mais agravado “[...] pela superficialidade nos conhecimentos conceituais de matemática”. Também segundo seus apontamentos, a maioria dos CPe destina aos estudos de matemática uma carga horária baixa, tendo por referência os estudos de Curi (2004)6 ao identificar que a formação para matemática ocupa em torno de 3% a 4% dos currículos dos CPe. Costa, Pinheiro e Costa (2016, p. 515) colocam que “a média de horas destinadas para formação em matemática do professor de anos iniciais, na maioria das instituições, está em torno de 3,2%.” Apesar das mudanças na estrutura curricular do curso tenham ocorrido, ainda “[...] existem lacunas em relação aos conteúdos que os pedagogos [...] precisam ensinar na prática de sala de aula em todas as disciplinas.” (BULOS, 2008, p. 79). Afirma por isso o autor que, 6 Importante colocar que Curi realizou sua pesquisa em 2004, e as DCNP são aprovadas somente em 2006. 34 É preciso pensar o quê, como, porquê e para quê se ensina matemática nessas séries. A ampliação da carga horária para as disciplinas específicas para ensinar é uma necessidade urgente, a fim de que essas discussões possam favorecer a formação desse professor polivalente. Porém, vale destacar que, a ampliação apenas não soluciona o problema, mas a estrutura das disciplinas também precisa ser repensada numa perspectiva de possibilitar a reflexão sobre os conceitos básicos dos conteúdos matemáticos que serão ensinados. (BULOS, 2008, p. 90) Alguns autores defendem que “[...] o ensino tem que acontecer de forma que o aluno aprenda a desenvolver capacidades de resolver problemas de forma contextualizada e que isso venha refletir em transferir esses conhecimentos para o dia a dia em sociedade.” (MATOS, 2016, p. 36; 37). “Para ensinar a Matemática é necessário contextualizar o conhecimento tecido historicamente a fim de que o aluno seja capaz de atribuir sentido e significados às ideias matemáticas podendo pensar, estabelecer relações, justificar, analisar, discutir e criar sobre estas ideias.” (FIORENTINI, 1995, apud LIMA, 2011, p. 122) A Matemática deve ser trabalhada a partir da realidade do aluno, adaptando os conceitos as mudanças que ocorrem na sociedade, com resoluções de problemas, fazendo com que o sujeito vá criando repertório e desenvolvendo habilidades para resolver e propor novos problemas. Bulos (2008, p. 54) questiona “como trabalhar didática e metodologias nos cursos de formação de professores sem estabelecer relações também com conteúdos a serem trabalhados?”. Matos (2008, p. 43) ressalta que “As disciplinas ofertadas por mais que se esforce não conseguem dar conta da quantidade de conteúdos matemáticos necessários à formação do professor que irá atuar com Educação Infantil, anos iniciais do Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA).” No decorrer das entrevistas dos trabalhos analisados, percebe-se que várias entrevistadas colocam que as disciplinas que trabalham conteúdos matemáticos nos CPe trazem metodologias, mas não trazem os conteúdos específicos relacionados a matemática que elas têm que trabalhar na escola. A26: Deixou a desejar quanto a conteúdos específicos pois na verdade aprendemos apenas as metodologias de como ensinar mas não aprendemos o que ensinar. (ALMEIDA; LIMA; 2012, p. 463) A10: Aprendi a usar os jogos, mas não aprendi como aplicar os conteúdos. (ALMEIDA; LIMA; 2012, p. 463) 35 Não encontramos nada nos textos que indique que não fosse o pedagogo a trabalhar com está disciplina, nem comentando sobre uma quantidade mínima de disciplinas que deveria ser ofertada no CPe, mas trazem que a quantidade usualmente ofertada não tem sido suficiente para que a formação seja realizada. 2.3 ENSINAR MATEMÁTICA PARA QUEM? As pesquisas trazem que o pedagogo é formado para atuar em diversas áreas além da Educação Infantil (EI) e Anos Iniciais do Ensino Fundamental (AIEF), já citadas anteriormente, mas a partir da análise das pesquisas acadêmicas identificamos que a maioria dos trabalhos tem um grande enfoque na formação matemática para os anos iniciais e percebemos que mesmo a EI parece ser deixada de lado. Pesquisamos nos textos analisados as palavras “Educação Infantil” e “Anos Iniciais” para ver o quanto aparecem e há uma enorme diferença de ocorrências. Em alguns, Anos Iniciais aparece o dobro de vezes, além de que a maioria das vezes que “Educação Infantil” aparece está vinculado aos anos iniciais, como o foco da formação de Pedagogo. Procuramos também “Educação de Jovens e Adultos” e “Educação Especial”, estas só aparecem em quatro dos sete textos, menos de cinco vezes em cada texto, e não trazem nada específico sobre conteúdos para essas áreas. Uma das passagens em que se inclui a educação infantil afirma-se que: [...] é de fundamental importância que a formação para o ensino de matemática da educação infantil e dos anos iniciais nos cursos de Pedagogia capacite os futuros professores no sentido de possibilitar o discernimento quantoao uso devido das diferentes metodologias, sem cair em equívocos, modismos e perda de objetivos, senso comum e empobrecimento da atividade docente e, ainda, propiciar o possível abandono de resistências e pré-conceitos anteriores à formação superior. (OLIVEIRA, 2018, p. 107; 108) Sobre a Educação Infantil, fizemos uma busca nas plataformas de pesquisa SciELO e BDTD com os termos “ensino de matemática”, “educação infantil” e “formação de professores” para vermos se existem trabalhos que pensem a questão do ensino da matemática na formação de professores para a EI. Encontramos estudos que tratam de conteúdos que devem ser ensinados na EI, além de outros que tratavam sobre os Anos 36 Iniciais, mas nenhum trabalho que trate especificamente do ensino da matemática na formação de professores para a EI. Em síntese, a partir da análise, podemos perceber que os autores trazem críticas ao CPe pelo seu currículo muito alargado, a baixa carga horária destinada às disciplinas de matemática, com forte ênfase no como ensinar. Apontam também a falta de articulação das disciplinas de conhecimentos específicos das diferentes áreas do conhecimento e dos conhecimentos específicos e conhecimentos pedagógicos. A análise foi importante para nos fazer pensar melhor sobre como o ensino de matemática está proposto, a desvalorização das disciplinas desta área e a baixa carga horária. Também nos ajudará a pensar melhor sobre a organização das matrizes curriculares, e se nos cursos de pedagogia há uma preocupação sobre o ensino da matemática além de fundamentos e metodologias. Pelas entrevistas presentes nos trabalhos analisados podemos perceber também como os estudantes veem essa formação, com seus limites e possibilidades. 37 3. O ENSINO DA MATEMÁTICA EM CURSOS DE PEDAGOGIA Nesta seção, apresentaremos o objeto dessa pesquisa, ou seja, as disciplinas de matemática dos Cursos de Pedagogia (CPe) das 27 Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Para que consigamos analisar as informações, fizemos uma tabulação das disciplinas com as seguintes informações: a Instituição; ano do Projetos Pedagógicos dos Cursos de Pedagogia (PPCPe); Carga Horária (CH) total do curso; nome das disciplinas; tipo de disciplina, ou seja, se é obrigatória (OBR), optativa (OPT) ou eletiva (ELE); fase em que a disciplina é ofertada; CH de cada disciplina e CH total das disciplinas de uma mesma instituição; quantidade de Créditos; ementa; e Classificação7. Para a última, utilizamos inicialmente a classificação definida por Triches (2016), com atualizações em alguns casos, por mudança na matriz curricular. Nas subseções seguintes trazemos algumas sínteses desse mapeamento. Destacamos que os planos de ensinos e programas das disciplinas não foram analisados, portanto, para análise mais aprofundada utilizamos apenas as ementas das disciplinas. 3.1 OBSERVAÇÕES GERAIS SOBRE A MATEMÁTICA EM CURSOS DE PEDAGOGIA Importante lembrar que estamos trabalhando com 27 Cursos de Pedagogia, de Universidades Federais, sendo um de cada estado e do Distrito Federal, priorizamos os CPe que são ofertados nos campus das capitais e que sejam presenciais. Destes, destacamos que o curso com menor CH total é o da UFPR, com 3.200 horas; por sua vez, o da UNIFAP possui maior carga horária, com 4.040 horas. Das 27 IFES estudadas, o CPe da UFPR é o único que não está organizado por semestres e sim com regime anual. 7 Utilizamos inicialmente a classificação definida por Triches (2016), com atualizações em alguns casos, por mudança na matriz curricular. A autora classificou as disciplinas em “fundamentos da educação, docência, gestão, pesquisa, estágio, política educacional e outros temas” (TRICHES, 2016, p. 145). Outros quer dizer que são disciplinas que não se encaixam nas demais classificações. 38 Analisando as matrizes curriculares dos CPe das 27 IFES, encontramos um total de 76 disciplinas da área da matemática, sendo essas 49 obrigatórias (o que corresponde a 65,3%), 17 optativas (21,3%) e 10 eletivas (13,3%). Temos que lembrar que contamos as disciplinas optativas e eletivas, mas não é garantido que as mesmas sejam ofertadas com frequência e não temos como informar quantos estudantes buscam-na para cursá-la. Constatamos que todos os CPe estudados têm disciplinas obrigatórias relacionadas a matemática. Dessas, 59,3% (16 CPe) têm duas disciplinas de matemática que devem ser cursadas por todos os estudantes, 29,6% (oito Cursos) tem apenas uma e 11,1% (três cursos) têm três disciplinas na área, sendo que uma delas é de estatística. Os resultados que encontramos vão ao encontro do que Almeida e Lima (2012) trazem em sua pesquisa quando colocam que é insuficiente o espaço destinado a esta área do conhecimento. Foi possível encontrar no máximo de sete disciplinas da área da matemática nos CPe, entre os diferentes tipos de componentes curriculares, conforme demonstrado no Gráfico 1. Gráfico 1 – Quantidade e tipo de disciplinas da área de matemática entre os 27 Cursos de Pedagogia estudados, 2006 à 2018 Fonte: Produção da autora a partir das matrizes curriculares de 27 CPe de IFES. 39 Dos 27 CPe, catorze têm somente disciplinas obrigatórias (UFAL, UFAM, UFG, UFMA, UFMG, UFPA, UFPR, UFRN, UFRR, UFS, UFSC, UFT, UNIFAP e UNIFESP) dez IFES têm disciplinas obrigatórias e optativas (UFBA, UFC, UFES, UFMS, UFMT, UFPB, UFPI, UFRJ, UNB e UNIR), e três têm disciplinas obrigatórias e eletivas (UFAC, UFPE e UFRGS). Dito de outra forma, pelo menos 13 CPe possuem mais de um tipo de disciplinas da área da matemática para seus estudantes. Isso pode indicar oportunidade para aprofundamento ou diversificação dos estudos na área supracitada. Os CPe da UFPE e UFRGS são os que possuem maior quantidade de disciplinas, sendo duas obrigatório em cada uma, cinco ELE na UFPE e quatro na UFRGS, totalizando sete disciplinas na UFPE e seis disciplinas na UFRGS. Já os CPe da UFPR, UFT e UNIFAP têm somente uma disciplina, sendo essa obrigatório. Além destas três citadas acima, outras cinco Universidades (UFPB, UFPI, UFMS, UNB e UFRJ) têm apenas uma disciplina obrigatório além das optativas e eletivas. Essas disciplinas da área da matemática estão distribuídas em quase todas as fases/anos dos CPe estudados, não sendo localizada nenhuma oferta na 1ª fase. Para melhor visualização dessa distribuição, apresentamos o gráfico que segue. 40 Gráfico 2 - Quantidade de disciplinas obrigatórias ofertadas por fase8 nos 27 Cursos de Pedagogia de Instituições Federais de Ensino Superior (2006 - 2018) Fonte: Produção da autora a partir das matrizes curriculares de 27 CPe de IFES. Percebemos que há uma predominância de oferta das disciplinas obrigatórias nas 5ª e 6ª fases dos CPe, tendo 11 e 13 respectivamente, o que corresponde, o estudo da matemática a partir da metade do curso em diante. Primeiramente nos interessamos em observar quais eram as disciplinas ofertadas nas fases mais nas “extremidades” dos Cursos, mas ampliamos e analisamos em todas as fases. Das três disciplinas encontradas na 2ª fase, duas são voltadas para a área de Estatística, “Estatística Educacional” (UFAL, 2006) e “Estatística Aplicada à Educação I” (UFC, 2014) e a outra é “Fundamentos e Metodologia do Ensino de Matemática I” (UFMT, 2007). Na 3ª fase já encontramos uma quantidade maior de disciplinas voltada para a docência, tendo somente duas disciplinas de estatística nesta fase, e essas são na UFMA e UFRR. As disciplinas ofertadas na 4ª fase e 5ª fase dos CPe são todas voltadas para a 8Algumas IFES possuem CPe em mais de um período, aqui consideramos a fase em que a disciplina é ofertada primeiro. 41 docência, ou seja, disciplinasque têm como foco central os fundamentos e metodologias do ensino. Das 13 disciplinas encontradas na 6ª fase apenas uma que não é voltada à docência, “Estatística e Educação” (UFAC, NI). Na 7ª também encontramos apenas uma disciplina classificada como “outros”, denominada “Estatística Aplicada à Educação” (UFPA, 2010), as demais são voltadas à docência. Por fim, as disciplinas ofertadas na 8ª fase, uma é “Matemática nos Anos Iniciais” (UFPA, 2010) e a outra “Ensino de Matemática II” (UFRN, 2017). A disciplina da UFPA citada a cima, é ofertada junto com “Estágio no Ensino Fundamental II”, onde acontece a prática docente, e a da UFRN é ofertada junto com o estágio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Nos parece que, pela ementa das disciplinas citadas e suas antecessoras, em relação aos estágios, a da UFPA9 (2010) pode deixar algumas lacunas de conhecimentos, pois, pelo que observamos nas ementas10, não parece que se trabalham conteúdos propriamente ditos na disciplina ofertada na 5ª fase, denominada “Abordagens Teórico-Metodológicas da Matemática Escolar”. Como ficaria o aprendizado do estudante para ensinar esta disciplina no mesmo semestre em que estará atuando em campo? Podemos afirmar que os Cursos analisados, em geral, seguem o padrão de ofertar primeiro as disciplinas, classificadas por Triches (2016, p. 147) como “fundamentos da Educação”, disciplinas que são base de “[...] caráter teórico, oriundas das diferentes áreas que permitem compreender os determinantes históricos, filosóficos, sociológicos, culturais e econômicos da educação e da escola, bem como os elementos biológicos e psicológicos do desenvolvimento humano e da aprendizagem.” e depois as disciplinas de metodologias, classificadas como “Docência”. Notamos que existem diferenças entre as IFES de quanto seria um crédito, sendo que algumas não trabalham com ele, utilizando somente carga horária (CH), essas são: 9 Outro caso que se assemelha a este é da UFPR, onde a única disciplina da área de Matemática no Curso é ofertada junto com o estágio dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, mas como este curso trabalha com regime anual e não semestral, não sabemos como é o funcionamento das disciplinas. 10 Abordagens teórico metodológicas da Matemática Escolar “A matemática enquanto necessidade humana e ciência: aspectos históricos, filosóficos, epistemológicos. A formação matemática que se pretende dos professores polivalentes. Educação matemática nos diferentes níveis e etapas de escolaridade. Tendências metodológicas para o ensino da matemática. Avaliação em educação matemática.” (UFPA, 2010, p. 140); Matemática nos anos iniciais “Análise de propostas para o ensino de matemática na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Abordagens sociológicas, epistemológicas, cognitivas e didáticas dos conteúdos “números e operações”, “espaço e forma”, “grandezas e medidas” e “tratamento da informação”. Análise de livros didáticos.” (UFPA, 2010, p. 153) 42 UFAL, UFBA, UFC, UFG, UFMS, UFMT, UFPA, UFRN, UFRR. Percebemos que na UFAC, UFAM e UFRJ um crédito corresponde a diferentes cargas horárias. A UFAC possui quatro disciplinas com CH de 60 horas/aula (h/a), sendo essas duas disciplinas com 3 créditos e duas com 4 créditos; a UFAM, possui duas disciplinas de 3 créditos, sendo uma com CH de 45 h/a e outra com CH de 60 h/a; já a UFRJ tem duas disciplinas com CH e quantidade de créditos diferentes, mas que também não se igualam, são essas uma disciplina obrigatória com 60 h/a sendo 4 créditos, e outra disciplina optativa com 45 h/a de 2 créditos. Fizemos uma busca nos nomes de todas as disciplinas e percebemos que algumas têm uma recorrência maior entre os cursos. No nome das disciplinas da área da matemática, por exemplo, a palavra “ensino” aparece 30 vezes, “educação” aparece 24 vezes, “fundamentos” aparece 19 vezes, “metodologia” aparece 18 vezes, “educação matemática” aparece 13 vezes. Algumas das disciplinas tem em seu nome mais de uma das palavras procuradas como: “Fundamentos e Metodologia do ensino da Matemática” (7 disciplinas), “Conteúdos e Fundamentos Metodológicos do Ensino da Matemática”. Segundo Triches (2016, p. 193) “diferentes denominações para uma mesma área podem representar mudança de perspectiva ou ampliação da abordagem, presença de grupos e tendências teóricas nas instituições ou tentativas de inovação para torná-los mais atrativos ou, ainda, mais coetâneos com a realidade social.” Entendemos que mesmo com as diferentes denominações essas disciplinas indicam uma predominância de ensinar os Fundamentos e Metodologias do Ensino. A partir da leitura das ementas, também percebemos que apesar de aparecerem determinados conteúdos, parece que a questão principal ali colocada é o como ensinar aquele conteúdo e não o ensino do mesmo. Identificamos algumas disciplinas com nomes e temáticas diferentes, sendo duas obrigatórias, quatro eletivas e cinco optativas. São elas: A criança e a linguagem matemática, disciplina obrigatória na UFAM (2008) Alfabetização matemática, disciplina obrigatória na UFS (2011); Desenvolvimento do raciocínio combinatório, disciplina eletiva na UFPE (2007); Introdução a psicologia da educação matemática, disciplina eletiva na UFPE (2007); Recursos didáticos para o ensino de Matemática, disciplina eletiva na UFPE (2007); Raciocínio Lógico: desenvolvimento e avaliação, disciplina eletiva na UFRGS (2018); História da educação Matemática, disciplina optativa na UFES (2018); Resolução de problemas na Educação Básica, disciplina optativa na UFES (2018); Informática e 43 Educação Matemática, disciplina optativa na UFMS (2014); Jogos Matemáticos disciplina optativa na UFMT (2007); Matemática Básica, disciplina optativa na UNIR (2014). Compreendemos que nove11 delas são voltadas para a docência, ou seja, visam contribuir para formação do docente, seja com fundamentos ou metodologias, que atuará na disciplina da área. Ainda quanto aos nomes das disciplinas, percebemos também a falta da palavra “infância” ou “infantil”, que aparecem apenas no nome de três disciplinas, sendo dessas uma obrigatória (UFSC, 2007), denominada de Educação Matemática e Infância; e duas optativas, Educação Matemática e Educação Infantil e Matemática na Educação Infantil (UFC, 2014; UFSM, 2014). Procuramos também por “criança” e esta aparece apenas uma vez, denominada A Criança e a Linguagem Matemática (UFAM, 2008). Iremos aprofundar ainda nesta seção sobre etapa de ensino e grupos para os quais as disciplinas de matemática em CPe são direcionadas. Encontramos 14 disciplinas relacionadas diretamente à estatística em 12 CPe, estando presente em 44,4% dos Cursos, sendo dessas seis obrigatórias (UFAC, UFAL, UFC, UFMA e UFPA), cinco optativas (UFBA, UFC, UFMS, UFPB e UFPI) e três eletivas (UFPE e UFRGS). Podemos perceber que dessas, com exceção da UFRGS e UFMS, as demais são da região Norte ou Nordeste. Destas, 13 disciplinas estão classificadas como Outros segundo a classificação de Triches (2016), por ser uma disciplina que não está diretamente relacionada à docência, mas conhecimentos de base para compreensão do processo educativo ou da política educacional. Destacamos que apenas uma disciplina de estatística foi classificada como docência, sendo essa uma disciplina eletiva, denominada “Ensino de Estatística nos Anos Iniciais” (UFPE, 2007) Segundo Costa, Pinheiro e Costa (2016, p. 517) “A importância [da estatística] na formação para o pedagogo já se justifica pelas próprias avaliações externas de acompanhamento das instituições, que acontecem com base em dados estatísticos.” Colocam ainda que “a estatística está presente em todas as etapas da Educação Básica. Se houver fragilidade na formação desse docente, certamente a deficiência se estenderá para a formação de seus
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