Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Autora: Profa. Neusa Meirelles Costa Colaboradores: Profa. Maria José da Silva Dias Prof. Adilson Silva Oliveira Sociologia da Comunicação Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C837s Costa, Neusa Meirelles Sociologia da comunicação / Neusa Meirelles Costa - São Paulo: Editora Sol, 2020. 196 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Comunicação. 2. Cinema. 3. Mídia I.Título. CDU 316 Professora conteudista: Neusa Meirelles Costa Neusa Meirelles Costa é graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (1963) e doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) também em Rio Claro (1968). Desde 1992, é professora titular de Sociologia da Universidade Paulista (UNIP). Entre 1994 e 2014, também foi pesquisadora do Programa de Apoio à Pesquisa do Corpo Docente, da Vice-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da UNIP. Nesse período desenvolveu vários projetos de pesquisa sobre música popular e cinema nacional, focalizando, sob abordagem foucaultiana, temas como: o discurso das letras, corporeidade, inclusão e exclusão social, ordem social e seu avesso, subjetividade e formação social, além de subjetividade masculina construída pelo cinema nacional. Desde 2005, produz material didático para cursos da modalidade EaD da UNIP sobre Sociologia Geral, Sociologia da Comunicação, Pensamento Político Moderno e Pensamento Social Brasileiro, entre outros. Também em 2005 publicou, pela editora Arte & Ciência, o livro De amor e outras falas na música brasileira popular. Entre 2005 e 2014 como membro integrante, participou de congressos nacionais e internacionais, apresentando trabalhos nas seguintes associações: Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), Associação Internacional para Estudo da Música Popular – América Latina (IASPM-AL) e Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema (Socine). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. U505.62 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Talita Lo Ré Giovanna Oliveira Sumário Sociologia da Comunicação APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 ENTÃO, O QUE SE PODE ENTENDER POR COMUNICAÇÃO SOCIAL? ........................................... 10 2 A COMUNICAÇÃO SOCIAL, OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL E OS NOVOS DRTCS ...................................................................................................................................................... 15 2.1 Formação dos MCSM e dos DRTCS, uma breve trajetória ................................................. 16 2.1.1 Comunicação social: dos pregões e proclamas aos cartazes, avisos impressos e volantes ........................................................................................................................... 16 2.1.2 Jornais, revistas e a comunicação social de massa ................................................................... 18 2.1.3 Aspectos peculiares aos MCSM e à sociedade de massas ...................................................... 20 2.1.4 DRTCS e impacto social ........................................................................................................................ 23 2.2 SC: MEDIAÇÃO SIMBÓLICA, MEIOS MASSIVOS ........................................................................ 24 2.3 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO: MEDIAÇÃO SIMBÓLICA E DRTCS ............................... 32 3 SC: PRINCIPAIS ABORDAGENS E TEMAS ............................................................................................... 44 3.1 Tendências: a Escola de Frankfurt (análise crítica) ................................................................. 46 3.2 A crítica intermediária de Umberto Eco ..................................................................................... 53 3.3 Estudos de base funcionalista ......................................................................................................... 58 4 TENDÊNCIAS: SC, INTERDISCIPLIARIDADE E MEIOS MASSIVOS .................................................. 63 4.1 Tendências: SC, sociedade em rede, cibercultura, comunicação e sociabilidade ............................................................................................................................................. 66 Unidade II 5 PRODUÇÃO E CONSUMO: ARTICULAÇÃO MATERIAL E SIMBÓLICA ........................................... 79 5.1 A produção material para consumo material e o consumo material da produção material ................................................................................................................................. 80 5.2 A produção material para consumo simbólico e o consumo material da produção simbólica ............................................................................................................................... 86 5.3 Produção simbólica para consumo material e consumo simbólico da produção material ................................................................................................................................. 88 5.4 Produção simbólica para consumo simbólico e consumo simbólico da produção simbólica ............................................................................................................................... 91 6 PRODUÇÃO SIMBÓLICA DA CULTURA: EDUCAÇÃO, PODER E DISCURSO DE CONVENCIMENTO ........................................................................................................................................ 95 6.1 Produção simbólica virtual para consumo simbólico virtual ...........................................100 6.2 Construção do sujeito e do outro no espaço virtual ...........................................................103 7 A CONSTRUÇÃO DO SOCIAL, SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS .....................................................103 7.1 Identidades e espelho .......................................................................................................................107 7.2 A construção da corporeidade ......................................................................................................114 8 A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO COTIDIANO E DA POLÍTICA .......................................................120 8.1 Política e sociabilidade contemporânea: cidadania, mídia e hegemonia ...................143 7 APRESENTAÇÃO Esta disciplina focaliza a comunicação em sociedade como processo social que reflete as dimensões histórica e cultural. Consequentemente, seu campo de investigação abrange os espaços, social e virtual, em que a comunicação se realiza, levando em conta diversidade de meios, conteúdos e objetivos. O processo da comunicaçãosocial ampliada observa uma lógica própria, social, que implica relações de consumo de bens materiais, bens simbólicos, dispositivos e recursos tecnológicos. Tais aspectos são tratados neste livro-texto: inicialmente, faz-se uma análise crítica do processo de comunicação ampliada e da produção cultural nas mídias sob as distintas abordagens teóricas. Posteriormente, é desenvolvida uma análise de produtos da indústria cultural, do discurso político-ideológico de hegemonia cultural, além de discursos populares paralelos, com ênfase na produção das diferenças sociais. INTRODUÇÃO Neste livro-texto, serão discutidos alguns temas centrais à disciplina, como campo de investigação, problemas e questões relacionados ao objeto central de estudo, comunicação ampliada, metodologias de pesquisa e análise. Tudo isso considerando os distintos meios de comunicação social de massa (MCSM), os contemporâneos meios, os dispositivos e recursos tecnológicos de comunicação social (DRTCS), além de seus reflexos na sociedade, pensando sobretudo no período que vai do fim do século XX aos dias atuais. Serão tratados também três grandes temas: • a construção da produção e do consumo, estudando as mediações simbólicas necessárias à articulação dos dois extremos, um tema importante para publicitários e todos que lidam com a comunicação social; • a mediação dos meios e recursos de comunicação social na construção do sujeito e do outro na formação social brasileira, atentando para a construção e a participação social na instância política. • a importância e o significado dos atuais DRTCS no campo da educação, especialmente nas redes sociais. Bons estudos! 9 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO Unidade I Afinal, qual é o campo de investigação da Sociologia da Comunicação (SC)? E qual o motivo dessa observação, já nas primeiras linhas deste livro-texto? Repare que uma conversa entre duas pessoas, um sinal de código, um gesto, enfim, todas as formas de comunicação entre pessoas (mesmo aquelas entre crianças) são formas conhecidas e partilhadas por todos os que se comunicam. Tais formas de comunicação são sociais, porque estão na sociedade, portanto, são também culturais. Elas integram o campo de pesquisa da SC, mas não constituem seu alvo principal. Por quê? Porque elas não são intencionalmente preparadas e deliberadamente ampliadas para todos os integrantes da sociedade, para um ou vários de seus segmentos. Elas acontecem nos circuitos pessoal e grupal, sem o propósito ou condição de serem ampliadas. Pense agora na comunicação via imprensa (jornais e revistas), cinema, programas de rádio, televisão e internet (sites). Agora um mesmo conteúdo comunicado, seja por som, imagem ou movimento, foi ampliado por meios tecnológicos distintos e chega para cada receptor de forma diversa conforme o meio utilizado e a condição de recepção. Essa modalidade de comunicação constituía, até o fim do século passado, o objeto central da SC; tratava-se da comunicação social produzida pelos MCSM – daí a expressão sociedade de massas corresponder ao modelo de sociedade alvo dessa comunicação. Contudo, a partir de 1988 no Brasil (e muito antes nos Estados Unidos) instala-se um outro e poderoso recurso de comunicação, a internet, e com ela a comunicação passa a seguir um modelo dialógico, ou seja, estabelece-se o diálogo entre quem elabora a mensagem e quem a recebe. No início, tratava-se sobretudo de e-mails, portanto o retorno não era imediato, mas logo depois instalaram-se as redes de comunicação social, e a telefonia deixava de ser fixa para se tornar móvel (celular), ampliando ainda mais o campo passível de análise da SC. Considerando os processos sociais centrais para o estudo da SC, tem-se a presença de duas tendências aparentemente contraditórias, descritas a seguir. • De um lado, a comunicação que circula na formação social que corresponde a um modelo de “sociedade de massas”, ou seja, um modelo de sociedade industrial diferenciada por vários mecanismos e dispositivos de acesso ao amplo consumo material e simbólico. Esse formato pressupõe a comunicação ampliada pelos meios de comunicação de massa, os quais são organizados em empresas de comunicação empregando pessoas com qualificação técnica especializada. Essa comunicação é supostamente generalizada, democrática, por assim dizer; ela também pressupõe uma certa uniformidade de valores, interesses partilhados por todos os membros da sociedade e cultura, além de implicar uma formação profissional especializada. 10 Unidade I • De outro lado, a comunicação que circula na formação social pautada no modelo do capitalismo pós-industrial, de consumo, e que reflete o acesso generalizado aos meios de comunicação, respectivos mecanismos e dispositivos de diferenciação social, mas também de forte de conteúdo individual. Essa comunicação pode prescindir do vínculo empregatício com uma organização empresarial. Trata-se de um formato que segue em paralelo, até articulado, à comunicação ampliada pelos meios de comunicação de massa. Os meios que permitem a comunicação social são os DRTCS, com os quais é produzida uma comunicação individualizada, destinada a ser compartilhada e curtida, especialmente em redes sociais, no comércio on-line, na educação a distância etc. Pelas redes sociais circula toda uma gama de conteúdo individualizante de caráter estético, opiniático. A ênfase da vida reside no presente, no agora valorizado; todavia, no sentido oposto, formou-se a crença na permanência dos valores tradicionais, na estagnação das ideias e das atitudes, especialmente nos planos político e religioso. É importante notar que, no campo da comunicação social contemporânea, não se registra a oposição entre o social e o individual, mas, sim, a presença significativa desse conteúdo individualizante na comunicação social, um conteúdo formado por opiniões e preferências partilhadas (e contraditadas) por distintos segmentos sociais (seguidores). A ampliação da comunicação social pelos MCSM, chegando ao modelo de sociedade de massas e cultura de massas (e suas implicações), atualmente está integrada ao conteúdo produzido pelos atuais DRTCS, com consequências várias quanto ao conteúdo comunicado, compartilhado e curtido, bem como quanto aos efeitos de sua circulação. Lembrete Já foi mencionado, mas não custa insistir: a comunicação de massa coexiste com a comunicação nas redes sociais, ambas podendo ser articuladas com finalidades várias, do consumo e preparo de produtos às questões políticas e religiosas. 1 ENTÃO, O QUE SE PODE ENTENDER POR COMUNICAÇÃO SOCIAL? Em princípio, a SC focaliza a comunicação que é intencionalmente elaborada e destinada à sociedade, como o conteúdo de jornais e revistas, os discursos políticos, a publicidade e os programas de televisão. Ou seja, modalidades de comunicação produzidas com o objetivo de atingir uma população, como um discurso presidencial em cadeia nacional, e modalidades destinadas a segmentos sociais, públicos ou audiências específicas. Outro campo de estudo da SC reside na comunicação em espaço virtual, aquela que se tornou possível graças ao avanço da tecnologia da comunicação, e cuja característica central reside na diversidade de mensagens, na individualização e no fato de ser basicamente dialógica (ou seja, o receptor da mensagem responde ao emissor, ainda que em tempos diferentes e de espaços físicos diversos). 11 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO Além dessas modalidades, a SC também se debruça sobre aquela comunicação que circula em uma sociedade de forma relativamente anônima, como as anedotas, as letras da música popular, as histórias infantis etc. Enfim, ao lado dos jornais e revistas (impressos e on-line), rádios, canais de televisão (pagos e abertos), de sites como Google, YouTube, portais em geral, provedores como UOL, Terra e outros, estão os milhares de youtubers disputando audiência e curtidas, além dos posts nas redes sociais, como Facebook, Instagram, LinkedIn e Myspace.Enfim, é a preparação intencional/profissional e a amplitude social da circulação que caracterizam a comunicação social pelos meios massivos; é a individualização do sinal, a circulação da mensagem por uma rede de dispositivos e recursos tecnológicos que caracteriza a comunicação social em espaço virtual. Esses dois campos são coerentes com a cultura, as condições históricas da nação e o estado de referência, contudo, à medida que a comunicação pelo espaço virtual se amplia, vai havendo um desligamento da referência física territorial, assim, esse campo cada vez mais se torna global, embora a linguagem e o registro das mensagens ainda mantenham o vínculo de nacionalidade. “Sacou?” Figura 1 – Comunicação por gesto/imagem Note que essa pergunta se valeu de uma palavra (“sacou”) e de um gesto (polegar para cima), mas ninguém imaginou que se esperava ensacar o texto. Os dois verbos (sacar e ensacar) ficaram subentendidos, mas remetendo para outro sentido: o de chegar a um entendimento da questão proposta. Houve nesse simples exemplo a presença de dois aspectos importantes da comunicação social, ambos trabalhados pela SC: • a possibilidade de um mesmo significante (por exemplo, a palavra ou a figura) remeter a significados (sentidos) distintos; • a possibilidade de significantes distintos (palavras, imagens, sons e gestos) remeterem a um mesmo significado (sentido). Várias ciências da linguagem estudam esses processos, que são fundamentais à comunicação, mas a SC vai se interessar pela combinação peculiar de significantes distintos em uma sociedade e 12 Unidade I cultura, em um dado momento da história, e, nas mesmas condições, pela multiplicidade de significados (ou sentidos) que podem surgir a partir de um mesmo significante. É importante notar que a combinação peculiar de figura e palavra, anteriormente utilizada, foi possível por uma articulação de duas modalidades de discurso: o textual (a palavra) e o imagético (a figura). No entanto, poderiam ser criadas outras articulações: por exemplo, acrescentando aos dois discursos apontados a voz (discurso sonoro), a escrita da palavra em braile ou, ainda, sua articulação em libras. Em qualquer uma dessas situações, a ideia seria preservar o sentido da questão colocada, ou seja: “Entendido?”. Em síntese, a comunicação social aparece em várias combinações ou articulações de texto (escrito ou falado), imagens e sonoridades, sempre visando à destinação coletiva ou social. O gráfico a seguir exemplifica a articulação entre modalidades de discurso e aponta as condições especiais em que se estabelece uma mediação simbólica, cultural e histórica, tornando possível articular significados (ou sentidos). Imprensa Som Rádio Desenho Fotografia Fotogramas Movimento Legendas Locução Cinema Internet Televisão Transdiscursividade Meios de comunicação Texto Flash Projeção Imprensa Imagem Figura 2 – Mediação simbólica e transdiscursividade Observe no gráfico que as modalidades de discurso (som, imagem e texto) são articuladas com ou sem movimento, e as combinações vão se tornando mais complexas até chegar a um centro, e nele todas elas aparecem articuladas por meio do cinema, da televisão e da internet. Na verdade, ao receber um sinal de TV, ao mudar de página em um texto da internet ou, ainda, ao assistir a um filme no cinema, temos todas as modalidades de discurso articuladas e produzindo sentido, o qual não está restrito à imagem, indo além dela. Por exemplo, a tempestade em uma novela (ou seu ruído em um spot de rádio) não é uma tempestade, mas uma criação em estúdio. Mesmo assim, ela pode produzir no telespectador (ou ouvinte) a reação 13 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO de medo que supostamente se teria em meio a uma tempestade real. Várias formações profissionais são voltadas para a produção dessa verossimilhança, fundamental aos meios de comunicação, por isso convém examinar um pouco mais esse processo. Observe que o ruído de tempestade produzido pela sonoplastia não tem a menor relação com os raios, mas apenas produz o efeito sonoro de um raio, assim como o sanduíche de silicone na vitrine de uma padaria também não tem a menor relação com o sanduíche, apenas produz o efeito de imagem. Nesses casos, houve a simulação de um objeto (sanduíche) ou de um fenômeno da natureza (raio), tanto o “raio” quanto o “sanduíche” são simulacros do que eles representam (ninguém comeria o “sanduíche” da vitrine, para essa finalidade todos vão preferir o original). “Mas, então, por que o simulacro?” – você poderia perguntar. Bem, ele existe como peça de comunicação, remetendo o consumidor ao produto original, o qual se deterioraria depois de algum tempo exposto na vitrine. Esse é o sentido dos simulacros na sociedade contemporânea: a comunicação (para o outro) de algo que pode ser positivamente valorizado (o sanduíche para quem está com fome) ou negativamente valorizado (o ketchup que faz as vezes de sangue nas cenas de cinema). Ainda sobre o simulacro comunicando algo que pode ser negativamente valorizado, poder-se-ia citar o caso das bijuterias, que simulam joias inacessíveis, todavia, em relação às bijuterias temos uma diferença radical: elas são compradas e usadas como réplicas, todos sabem que não são verdadeiras e mesmo assim as compram e usam. Por quê? Porque elas produzem o efeito estético de riqueza, que é valorizado socialmente, a partir do que se depreende que elas são ostentadas para o outro, como se fossem joias. Novamente, aqui se trata de uma peça de comunicação cujo traço fundamental é parecer algo que, sabidamente, não se é. E quanto mais a vida social está envolvida com objetos, aos quais são atribuídos poderes especiais, como o de aludir à riqueza, maior será a multiplicação dos simulacros como peças de comunicação para o outro. Contudo, a verossimilhança não se limita à presença de simulacros: ela abrange a construção discursiva, textual ou oral, implicando o jogo de palavras (significantes) de modo a produzir um efeito de verdade. Observe que não se trata de mentira nem da criação de um mito: a verossimilhança se apresenta como verdade racional, contudo não é. No entanto, exatamente por isso, é largamente utilizada na comunicação social. Ela é fruto da interpretação dos fatos e situações, mas não se apresenta como tal, e sim como a verdade resultante de análises confiáveis. Aqui se encontra a base da verossimilhança: o poder e a confiabilidade que o outro empresta àquele que a profere ou redige. É famosa a transmissão radiofônica da Invasão dos marcianos, em Nova York, realizada por Orson Welles em 1938. Claro que era uma peça de ficção, baseada no livro de H. G. Wells, Guerra dos mundos, mas muitos estadunidenses, não somente nova-iorquinos, não pararam para pensar: saíram à rua, provocando a maior confusão. Com todos aqueles detalhes sendo comunicados e transmitidos pela CBS, uma rádio tida como confiável pela população, o que era narrado só podia ser verdade. 14 Unidade I Mas e o Brasil? “Temos viva a lembrança de que, por efeito daquele sistema, foram se distinguindo, no país, uma minoria integrada nas instituições e uma grande maioria marginalizada” (MÉDICI, 1969, p. 11). Esse é um trecho do discurso de “posse” do presidente Garrastazu Médici, pelo rádio, em 1969, discurso o qual ele denominou de Jogo da verdade. O sistema ao qual ele se referia era o sistema democrático, com eleições diretas, liberdade de imprensa, sindicatos, partidos etc. Vale lembrar que no período do governo Médici, o arrocho salarial e os benefícios instituídos para as elites e a classe média acentuaram ainda mais a concentração de renda. Foi o período do chamado “milagre brasileiro”, quando, nas palavras do então ministro da economia, era preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo – embora em 2014 ele tenha afirmado jamais ter proferido tal frase (DELFIM NETTO, 2014). No mesmo texto, Médici explicou que o Golpe Militar, que ele então chamou de revolução,deu-se em 1964 com o objetivo de “enfrentar o risco de uma cisão interna, chegando ao ponto que obrigou as Forças Armadas a intervirem (golpe militar civil de 1964) para salvar a unidade nacional, evitando a desagregação e o caos” (MÉDICI, 1969, p. 11). Afirmando a necessidade de mudanças, ele continuou explicando que a reforma das instituições econômicas, sociais e políticas: [...] não seria obtida com simples medidas, corretivas ou repressivas, adotadas ao sabor dos acontecimentos. Exigia, na verdade, uma revolução. Era isso o que as Forças Armadas se decidiram a fazer: completar o movimento de 1964, transformando-o em uma autêntica Revolução da Democracia e do Desenvolvimento, em consonância com as mais lídimas aspirações nacionais (MÉDICI, 1969, p. 12). Por meio da leitura do texto, ficavam claras as contradições para aqueles que tinham recursos de análise, mas inconsistências que saltam aos olhos hoje eram ignoradas à época. É significativo ainda que esse discurso fosse intitulado como Jogo da verdade, uma vez que articulava a verdade (as diferenças sociais gritantes) com outras intenções, justificando a intervenção militar e o regime de repressão que se seguiu (exatamente as “medidas repressivas ao sabor dos acontecimentos” que o discurso diz inócuas). Saiba mais Você pode ler o discurso proferido por Médici em 7 de outubro de 1969 acessando o link indicado a seguir. MÉDICI, E. G. Discurso da Presidência: Jogo da Verdade. 7 out. 1969. Disponível em: http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex- presidentes/emilio-medici/discursos/1969/01.pdf/@@download/file/01. pdf. Acesso em: 6 nov. 2019. Um elemento importante na construção de todo discurso de verossimilhança reside em apontar o futuro como caos, desagregação, desordem: esse apelo pretende atingir aqueles que têm a perder com a situação focalizada, ou seja, os segmentos sociais que desfrutam de alguma situação favorável no 15 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO momento (são eles que costumam teme as mudanças, especialmente porque não estão participando da condução do processo). Observação Os conceitos de simulacro e verossimilhança são fundamentais para análise e compreensão da comunicação social na sociedade contemporânea. Eles estão presentes no discurso político, nas reportagens da TV, nas redes sociais. Enfim, são recursos largamente utilizados no chamado discurso de convencimento, tanto para vendas quanto para finalidade eleitoral. 2 A COMUNICAÇÃO SOCIAL, OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL E OS NOVOS DRTCS Quando foi dito que interessa à SC a comunicação ampliada, intencionalmente dirigida para a sociedade e seus segmentos, estava subentendida a existência de agentes dessa comunicação especial, os chamados meios de comunicação (ou veículos de comunicação, embora essa denominação seja um tanto limitada e limitadora). Pode-se dizer que o rádio é um veículo da comunicação, assim como a imprensa, a TV e a internet, mas todos eles têm características próprias que são projetadas na comunicação, bem como condicionam o modo como é elaborada a comunicação. Quando se fala de meios de comunicação, essas características (e suas implicações) estão subentendidas, por isso, trata-se de uma denominação mais adequada. Outro aspecto importante: todos os meios, recursos e dispositivos de comunicação social são tecnológicos, todos implicam certa preparação profissional. Todos os meios de comunicação, especialmente os meios de massa, ao longo do tempo acabaram consolidando-se como organizações empresariais (ou em grupos empresariais), combinando imprensa (jornais e revistas), TV, rádio etc. É o caso, por exemplo, do grupo Globo (detentor da rádio Globo, da TV Globo, da Globosat, do portal de notícias G1 e de revistas impressas, entre outros). Quanto ao desenvolvimento dos dispositivos e recursos tecnológicos de comunicação social, tanto a criação do PC e do ambiente Windows, pela Microsoft, quanto a do Macintosh (ou Mac) e do sistema OS X, pela Apple, se deram por empresas atuando no ambiente competitivo do capitalismo global. Equipamentos (hardware), programas operacionais e aplicativos (software) tiveram a mesma origem empresarial e permanecem nesse campo tenso de concorrência, inovação, grandes sucessos e fracassos. São empresas como Google, além de dispositivos como Google Chrome, Orkut, YouTube e Shoelace, que respondem pela extensão das próprias redes de comunicação. Assim como a Facebook Inc., criadora e proprietária da rede Facebook, as outras redes, como Twitter, LinkedIn e Instagram, também se organizam como empresas. 16 Unidade I Note-se que a difusão dos aplicativos tornou possível e comum não somente ser usuário da comunicação digital, mas também criar essa comunicação (seja por um canal de vídeo, blog ou outros meios) sem ser formado na área. É possível gravar com celular um evento, sem ser jornalista, e enviar essa gravação para um canal de TV, que vai incluí-la na programação, atuar como os grupos organizados que ocupam o espaço da vinheta, em gravações do tipo “O Bom Dia São Paulo volta já”. Desse modo, os limites entre MCSM e DRTCS vão sendo esgarçados, o espaço entre a comunicação virtual e a vida real vai sendo estreitado, um campo entrando no outro. Esse processo fica bem claro na explicação de Rafael Battaglia sobre o funcionamento da Shoelace, rede social recém-criada pelo Google. A proposta do aplicativo, que é definido como uma “rede social hiper local”, é fazer com que o usuário se conecte com pessoas que possuem interesses similares para ir a lugares próximos e passeios que ambos curtam, como um show ou uma partida de futebol. O nome “Shoelace” tenta passar essa ideia: é a palavra em inglês para “cadarço”. A rede social, então, serviria para “amarrar” as pessoas de acordo com seus gostos em comum (BATTAGLIA, 2019). Esses processos, tão naturais e corriqueiros nos dias de hoje, constituem objetos de análise e reflexão da SC e serão discutidos nas páginas seguintes. Lembrete Fazer todos os tipos de compras pela internet, fazer visitas virtuais aos museus, conversar com amigos e desconhecidos que estão em outro continente, consultar livros em bibliotecas estrangeiras são práticas usuais atualmente, assim como verificar sua conta bancária, transferir recursos etc. Todas essas e inúmeras outras práticas fazem parte do modelo de sociabilidade contemporânea, a qual para alguns autores é pós-moderna e para outros é líquida, mas para todos está relacionada a um certo modelo de capitalismo, financeiro, informacional, enfim, pós-industrial. 2.1 Formação dos MCSM e dos DRTCS, uma breve trajetória 2.1.1 Comunicação social: dos pregões e proclamas aos cartazes, avisos impressos e volantes No Brasil colônia, o discurso dos arautos que apregoavam execuções, tanto na Corte quanto na colônia, os sermões, como os do padre Vieira, e os avisos de escravos fugidos, fixados nos muros das praças, eram peças de comunicação social, uma vez que instalavam uma comunicação entre os representantes do poder e o público, formado de súditos, fiéis, capitães do mato e milícias. Fossem proclamas em praça pública, fossem avisos afixados ou pregões do púlpito, esses discursos e avisos eram peças de comunicação com um social tomado na generalidade de situações e na condição geral de pressuposta obediência. Em uma sociedade constituída por uma maioria de analfabetos, havia 17 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO num primeiro momento toda uma encenação com tambores rufando, com o objetivo de chamar a atenção dos ouvintes, para, na sequência, fazer-se a leitura do comunicado e, só então, fixá-lo. Assim, nos comunicados do governo colonial, o sentido social da mensagem não se limitava ao texto oral ou impresso, mas compreendia a demonstração do poder da Coroa sobre os súditos, suas vontades e seus corpos. Por isso as execuções eram em praça pública: os corpos dos sentenciados eram esquartejados, e a cabeça, espetada em um poste, ficava à mostra até que fosse consumida(tal foi o caso de Tiradentes). Os pelourinhos em que eram amarrados os escravos, para receberem chibatadas, também comunicavam o poder de um proprietário branco sobre os corpos de trabalho dos negros escravizados. Em contrapartida, consta que Lutero afixou suas 95 teses contra a venda de indulgências na porta da igreja de Wittemberg em 1517, convidando todos para debatê-las e enviando cópias aos bispos. O evento se passou no âmbito da comunicação social e na direção oposta do poder da Igreja Católica, então predominante. Ainda que não corresponda à verdade histórica, esse evento desencadeia a Reforma, processo histórico, político e econômico da maior relevância. A descoberta da imprensa por Gutenberg, no século XV, tornou possível a circulação de obras religiosas. Além da Bíblia e dos textos de reformadores, outras obras (filosóficas, científicas e políticas) tiveram sua divulgação ampliada, bem como notícias e informações diversas, inclusive as relacionadas aos negócios. Então, a partir do século XVII, verifica-se a formação de um gênero especial de comunicação social, o jornal. Enquanto as obras eram de circulação mais restrita, a publicação periódica de jornais, volantes e panfletos ampliava o circuito da comunicação social e o alcance das ideias, estimulando a manifestação de opiniões e de tendências com efeito mobilizador nas várias revoluções ocorridas do século XVII em diante. A associação de figuras ao texto impresso (articulação das modalidades de discurso textual e imagético) de modo a sintetizar as ideias expostas facilitou o entendimento e o alcance do conteúdo, embora um não substitua ao outro. Assim, livros e depois jornais passaram a conter ilustrações, com o desenho abrindo a possibilidade de, por meio das charges, acentuar as críticas e fazer ironia, com um evidente efeito político. Do século XVIII a meados do XIX, a sociedade ocidental passou por algumas mudanças profundas: a expansão do capitalismo industrial inseriu economias coloniais no circuito da produção e consumo; o escravismo passou a ser francamente condenado e finalmente abolido. As revoluções, francesa e americana, instalaram a hegemonia da ordem burguesa; na América Latina as colônias se rebelaram, buscando autonomia, ou a articulação com autonomia nos impérios coloniais; na Europa o eixo da vida social se deslocou do campo para as cidades, e as contradições entre capital e trabalho deram origem a lutas sociais e abalos nos regimes políticos. Da atuação conjunta desses processos resultou a formação de um padrão societário (de vida social) diferenciado: o de uma sociedade urbana integrada por trabalhadores assalariados, alfabetizados em sua maioria, mas que, sensíveis às mudanças em curso, reivindicavam a atenção do Estado, cujo papel principal passou a ser a articulação da formação social emergente, em 18 Unidade I condições vantajosas para a nova ordem. Essa sociedade, constituída por gente que vive, trabalha, fala e escreve, será o objeto de análise das nascentes ciências humanas e do público dos jornais que circulavam em número significativo. É essa comunicação, social por natureza, que a SC elege como principal objeto de estudo no início do século XX. Mas, com a expansão dos demais meios, a comunicação social por eles realizada foi aos poucos incluída no campo de estudo, especialmente no que se refere ao papel e à influência desses meios no momento das guerras do século XX e nos períodos posteriores. 2.1.2 Jornais, revistas e a comunicação social de massa No ambiente de expansão dos meios de comunicação, na passagem do século XIX para o XX (e daí em diante) surgiram várias tendências estéticas, literárias e políticas que deram origem a revistas destinadas ao tratamento de assuntos específicos, em profundidade, emprestando um perfil editorial, científico ou filosófico de discussão de ideias, caso, por exemplo, do marxismo e de sua crítica na Europa do século XIX. Os jornais, desde o século XIX, passaram a publicar desenhos, depois fotos, além de textos, dando origem ao gênero sensacionalista e, em seguida, instaurando a prática das manchetes. São famosas as reportagens sobre Jack, o estripador, nos jornais londrinos. No Brasil, as charges que se tornaram frequentes no fim do Império. Figura 3 – Jornais, manchetes, charges e notícias Na França, jornais começaram a publicar os primeiros folhetins, instaurando uma modalidade de conteúdo romântico e sentimental, com capítulos diários ou semanais, garantindo a fidelidade dos leitores, sobretudo leitoras, interessados na continuação da história. É claro que naquela época, como hoje, essa prática tinha o mesmo objetivo: elevar as vendas. 19 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO Esse processo deu origem a uma modalidade de narrativa destinada ao grande público, com finalidade de entretenimento. Santos (2010) explica: “passaram, desse modo, a ser lançadas e publicadas diariamente nesse espaço do jornal [rodapé] as tão famosas ficções em fatias, as quais foram um fenômeno francês, que circularam por todo o mundo no período do século XIX”. Essa prática é conhecida no Brasil, mas em novelas: no rádio (Direito de nascer, pela Rádio Nacional) e na TV (primeiro pela TV Tupi, depois pela TV Globo). No Brasil, em 1944, Nelson Rodrigues, com o pseudônimo de Suzana Flag, publicou Meu destino é pecar em folhetim n’O Jornal. O recurso foi um sucesso, elevou as vendas da publicação, sendo lançado posteriormente o livro pela editora de O Cruzeiro. A origem da denominada cultura de massa, segundo especialistas, foi a publicação dos folhetins, com linguagem simplificada, estilo narrativo (antes, durante, depois e conclusão) e sentimentalismo romântico. Mas a essas características literárias se soma a fundamental: os folhetins eram publicados visando ao lucro e à elevação da tiragem. No seu aparecimento, essa cultura de massa, ainda impressa, foi logo colocada em oposição à cultura erudita (especializada) e à cultura tradicional e popular (elaborada pelo povo, ao longo de sua história, com base na oralidade). Criava-se, então, uma clivagem (divisão interna ou diversificação) da cultura, cabendo àquela, de massa, um lugar subalterno, menos valorizado. As revistas instalaram ao longo do século XX uma modalidade de comunicação de massa, destacando aspectos do cotidiano como temas principais, instaurando o que hoje os jornalistas denominam pauta, anunciando a matéria principal na capa com imagem, foto ou desenho. A noção de notícia foi ampliada, abrangendo fatos e processos em curso não somente no espaço de referência, mas no mundo. Outro aspecto importante das revistas foi a crítica política, com largo emprego de caricaturas e charges (um exemplo no Brasil foi a revista O Malho). Com a fotografia, desde o final do século XIX, e, depois, o cinema, tiveram origem as agências de notícias: Reuters, France Press, UPI – com monumentais arquivos de fotos e acontecimentos, sempre disponíveis em um mercado especial formado ao longo do século XX (mesmo porque as fotos constituíam um elemento central das revistas). No filme de Roger Mitchell (1999) Um lugar chamado Notting Hill, fica claro que as notícias sobre a vida de alguém, as imagens associadas a um dado momento de sua vida permanecem em arquivos e podem ser associadas a um novo acontecimento. Os jornais de hoje não servem apenas para embrulhar peixe no dia seguinte: as fotos e as notícias permanecem arquivadas nas agências, prontas para adquirirem novo valor, no caso de a pessoa se tornar novamente notícia. Nesse sentido, o fugaz do momento oculta um poder de renascer, de se tornar permanente (a cobertura da morte da princesa Diana é um exemplo disso: fotos e filmes de seu casamento com o príncipe Charles apareciam na mesma página em que as notícias sobre seu funeral, assim como ocorreu nos documentários). 20 Unidade I 2.1.3 Aspectos peculiares aos MCSM e à sociedade de massas Já se disse que os MCSM são de massa, uma vez que será o mesmosom do rádio, sinal da TV, texto de jornal ou revista que chegará a todos os que forem atingidos, embora, na recepção, esse sinal seja diferenciado pelo leitor, ouvinte ou telespectador. A sociedade atingida pelo sinal de massa não é uma massa uniforme, mas diferenciada em segmentos, nichos e particularidades que vão das mais comuns (idade, sexo, nacionalidade e poder aquisitivo) a outras mais complexas (como valores e até mesmo as particularidades estimuladas pela própria comunicação publicitária – afinal, a moda desde o início do século XX implicava “ser diferente”). Isso significa que um dos elementos básicos da cultura de massas é a “cultura da diferença”. Será isso mesmo? Sim, mas por quê? Em princípio porque as expressões massas e sociedade de massas envolvem um entendimento preconceituoso, que opõe a cultura de massas (a divulgada pelos meios de comunicação) à cultura erudita (de elite), opondo, consequentemente, o comportamento de massa ao cultivado. Um representante emérito dessa tendência é Ortega y Gasset, sociólogo espanhol, autor de Rebelião das massas (1926), um livro clássico do qual foram selecionados alguns fragmentos ilustrativos. O conceito de multidão é quantitativo e visual. Traduzamo-lo, sem alterá-lo, à terminologia sociológica. Então achamos a ideia de massa social. [...] A massa é o conjunto de pessoas não especialmente qualificadas. Não se entenda, pois, por massas só, nem principalmente, “as massas operárias”. Massa é “o homem médio”. [...] O característico do momento é que a alma vulgar, sabendo-se vulgar, tem o denodo de afirmar o direito de vulgaridade e o impõe por toda a parte. Como se diz na América do Norte: ser diferente é indecente. [...] Esse homem-massa é o homem previamente despojado de sua própria história, sem entranhas de passado e, por isso mesmo, dócil a todas as disciplinas chamadas “internacionais”. Mais do que um homem, é apenas uma carcaça de homem; carece de um “dentro”, de uma intimidade sua, inexorável e inalienável, de um eu que não se possa revogar. Daí estar sempre em disponibilidade para fingir ser qualquer coisa. Tem só apetites, crê que só tem direitos e não crê que tem obrigações: é o homem sem nobreza (sine nobilitate) snob (ORTEGA Y GASSET, 1926, p. 9). É importante notar a época em que Ortega y Gasset escreve: a Europa pós-guerra (Primeira Guerra Mundial), auge do capitalismo industrial. Gasset era favorável aos aliados, mas as tendências autoritárias já eram expressivas na Espanha de então. Por toda parte, o luxo e o consumo alimentavam o viver dos ricos, depauperando cada vez mais os pobres e, na Alemanha, além disso, o Tratado de Versailles, assinado em 1919, impôs uma situação ainda mais desesperadora de pobreza, até de fome. 21 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO Esse contraste era favorável ao fortalecimento das tendências socialistas, especialmente inspiradas no pensamento de Marx. Depois da vitória da Revolução Russa, passaram a predominar as ideias de Lênin na organização dos soviets e do Partido. Depois da morte de Lênin, Stálin assumiu o poder, e foram suas ideias autoritárias que estiveram na consolidação do Partido Comunista da União Soviética e na ação militante desenvolvida em muitos países. Em paralelo a esse crescimento das ideias comunistas, desenvolvia-se também o autoritarismo de direita na Europa e nas Américas, ganhando espaço no favoritismo político. O debate de ideias pelos meios de comunicação de massa foi um processo extremamente importante na preparação da Segunda Guerra e ao longo de todo o conflito, tanto na divulgação do fascismo quanto do nazismo, não só nos países de referência (Itália, Alemanha e Áustria) como nos demais países europeus e das Américas. Vale destacar que todo processo de mobilização depende da aceitação de um conjunto articulado de ideias visando ao convencimento e ao poder; esse discurso pode se apresentar como a única alternativa moral e viável para resolver os problemas políticos de um povo, desde que esse povo acate as medidas necessárias. Por isso o portador desse discurso explica uma dada realidade, alerta para perigos no futuro e cria um inimigo a temer. No nazismo, esse inimigo era o povo judeu, e os heróis eram Hitler e o Partido Nazista. O povo, porque integrante da suposta raça ariana, teria condições de superar os perigos apontados, obtendo uma vitória por mil anos. A força desses discursos políticos de mobilização autoritária reside na confiabilidade atribuída a quem se apresenta como líder. Ele se mostra como pessoa de ilibada moral, dotada de profundo respeito para com o povo, mas também alguém capaz de tomar as medidas de força necessárias para salvar a nação. Enfim, um líder carismático, dotado de um dom especial para conduzir o povo à vitória. Esses discursos não exigem análise daqueles que os ouvem: eles já oferecem as questões e as respostas para os problemas elencados, sendo todas as alternativas externas ao campo desse discurso tidas como falsas, dispensando qualquer análise, tidas por mentirosas e imorais. É por isso que esses discursos tendem a desenvolver na população atitudes de aceitação, obediência e expectativa dócil. Enfim, como se a política não envolvesse o povo, como se fosse um campo pertencente àqueles que a entendem, mas não a todos, mesmo porque “o povo não teria tempo para isso”. Esses discursos tendem a desenvolver na população um processo de apatia política e individualismo silencioso, apenas quebrado nas eleições (quando acontecem). Nessas oportunidades, as campanhas são conduzidas pelo marketing, e as opções políticas se parecem com torcidas organizadas. Tal processo se formou nos Estados Unidos, após a Segunda Guerra e a consequente divisão do mundo em dois blocos: a felicidade americana, sob perigo de ataque dos russos, de um lado, e, de outro, o horror da URSS. Daí a necessidade das comissões de avaliação ideológica, anticomunistas etc. Nos anos de 1950, um sociólogo americano, Wright Mills, estudou as relações entre elite de poder e sociedade buscando caracterizar a sociedade americana em relação aos dois modelos básicos: a 22 Unidade I sociedade de públicos, que seria o modelo democrático, e a sociedade de massas. Com esse objetivo, Mills estabeleceu quatro critérios de análise para caracterização: • a proporção entre os que formam a opinião e os que a recebem já formada, sendo esse um fator indicativo da influência dos meios de comunicação de massa; • a possibilidade de responder a uma opinião sem sofrer repressão interna ou externa; • a relação entre a formação da opinião e sua realização em ato coletivamente, que vinha sendo cada vez mais limitada; • o grau de autoridade institucional de que se reveste a informação (mas o público não tem autonomia em relação à informação divulgada pela autoridade instituída e pode ser confundido); mas também a estrutura do poder pode se confundir com o fluxo de informação. Um público seria integrado por segmentos médios, intelectuais, pessoas que têm uma posição flexível (embora se apresentem bem informadas, são desinteressadas e jamais assumirão uma posição inflexível diante de uma questão dada). Depois de analisar a sociedade americana do final dos anos de 1950 sob esses quatro critérios, Mills (1959) constatou que, em vários aspectos, ela se aproximava de uma sociedade de massas. Contudo, extraiu de sua análise uma distinção significativa: em uma sociedade de públicos, a discussão é o meio de comunicação, enquanto os veículos apenas ampliam o alcance; na sociedade de massas, o tipo de comunicação dominante é a dos veículos formais, e, assim, os públicos se tornam apenas mercados desses veículos. É importante observar que a análise de Mills introduziu uma nuance no conceito de sociedade de massa, na acepção da homogeneidade preconceituosa apontada por Gasset. Ela também antecipou alguns aspectos da sociabilidade contemporânea, em dois sentidos opostos: de um lado, o de uma indiferença em relação às questõesdo cotidiano, gerando o que Baudrillard (1985) denominou de maiorias silenciosas; de outro, na direção do ativismo participativo que caracteriza grupos específicos, as conhecidas minorias participativas, como LGBTS+ e outros. Observação A expressão massa não designa somente uma generalização igualitária, mas também remete a um certo nível de desmerecimento: massa aludindo aos “comuns”, aos populares, ao “povão” ou à “plebe”. Em português essas palavras vão adquirindo sentido correspondente aos critérios de diferenciação social. Assim, povo e povão parecem remeter a contingentes distintos da população; plebe parece ofensivo, mas na verdade é apenas a distinção entre nobres e o restante da população, os não nobres ou plebeus. 23 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO A ação conjunta dos meios (MCSM) instaurou um ambiente cultural especial, a chamada cultura midiática (por referência à mídia ou meios). No cotidiano, a referência à mídia é empregada tanto para cada um dos meios quanto para o seu conjunto, e o conteúdo da interação entre os meios é designado pela expressão cultura midiática (ou cultura das mídias). Finalmente, no que tange à homogeneidade do sinal transmitido, esses meios são denominados meios de comunicação de massa ou massivos (por decorrência, a comunicação realizada é a comunicação massiva). 2.1.4 DRTCS e impacto social A internet surgiu nos anos 1969, nos Estados Unidos, no ambiente da Guerra Fria, permitindo a comunicação entre cientistas (de Stanford e da Universidade da Califórnia) associados ao Departamento de Estado. Na época, com nome de Arpanet. Nos anos 1980, a Arpanet foi expandida para outros países europeus, e a partir de 1987 foi autorizado o uso comercial da rede, mas então com o nome de internet. Logo depois, passaram a ser introduzidas mudanças na direção do modelo atual, em ritmo surpreendente, possibilitando uma grande expansão e atingindo bilhões de usuários no mundo todo. No Brasil, a exploração comercial começou em 1995, embora desde 1989 a UFRGS e a UFRJ já estivessem conectadas (seguidas pela Fapesp). Os dispositivos e recursos tecnológicos de comunicação social têm uma característica central importante: eles pressupõem o retorno da comunicação e, exatamente por isso, possibilitam o contato entre pessoas, empresas ou grupos, independentemente de distância, nacionalidade, religião etc. Em conjunto, eles formam uma grande rede internacional de comunicação, multilíngue, havendo recursos de tradução (embora o inglês seja o idioma mais usual na comunicação internacional). Fernando D’Aquino, da empresa TecMundo, ao descrever a história das redes sociais, registra que o fato mais marcante nos anos 1980: [...] foi quando a America On-line (AOL), em 1985, passou a fornecer ferramentas para que as pessoas criassem perfis virtuais nos quais podiam descrever a si mesmas e criar comunidades para troca de informações e discussões sobre os mais variados assuntos (D’AQUINO, 2012). Mais de uma década depois, em 1997, a AOL implementou um sistema de mensagens instantâneas entre chats que serviu de inspiração para o Messenger. Muitos outros dispositivos de comunicação datam desse período, inclusive o ICQ, criado em 1996. Embora esta discussão não tenha o objetivo de estabelecer uma cronologia da expansão dos DRCS, alguns dados podem ser apontados: 24 Unidade I Quadro 1 – Cronologia de Expansão dos DRCS Ano Nome Função/ serviço 1995 The Globe Permitir que os usuários personalizem informações e perfis, interagindo com pessoas com interesses em comum. 1997 UOL (Brasil) Informação, serviços e áreas de atividade à disposição dos usuários. 1995 Classmates Reunir amigos, marcar encontros etc. 2002 Fotolog Informações baseadas em fotos. 2002 Friendster Contatos, publicação de perfis, opiniões etc. 2003 Myspace Permitir contatos, opiniões, encontros etc. 2003 LinkedIn Contatos profissionais; só no Brasil são mais de 15 milhões de usuários. 2004 Orkut Rede do Google de grande sucesso, mas que foi desativada em 2014. 2006 Twitter Similar ao Facebook, mas com milhões de adeptos. 2005 YouTube Plataforma destinada a facilitar a reprodução e produção de vídeos. 2009 WhatsApp Ferramenta para contato entre usuários, envio de mensagens, imagens etc. Quanto ao conteúdo, essa enorme rede não tem limites: as mensagens podem ser sobre orientação para ações (desde aplicações financeiras a encontros e práticas sexuais), ordens, notícias, recados de amor, de ódio, podem ser verdadeiras ou não (fake), podem ser visualizadas por todo o público ou serem criptografadas para garantir sigilo. Podem ser mantidas (salvas) ou excluídas (deletadas), embora permaneçam disponíveis para propósitos investigativos. Podem ser armazenadas no computador, em algum dispositivo móvel de armazenamento ou em uma nuvem virtual e ali permanecer. Finalmente, essa comunicação pode ser por texto, som, imagem e/ou movimento, oferecendo a representação mais fiel possível da realidade material (embora seja de uma empiricidade peculiar, a virtual). 2.2 SC: MEDIAÇÃO SIMBÓLICA, MEIOS MASSIVOS Os meios de comunicação de massa constroem uma modalidade de mediação simbólica transdiscursiva, ou seja, articulam modalidades distintas de discursos (texto, som e imagem) na produção de uma homogeneidade do sinal, por isso são meios massivos, ou realizam uma comunicação massiva, mas, como foi apontado antes, se o sinal é homogêneo, o receptor, em geral, não o é. Uma vez que a comunicação se faz sempre entre um emissor e um receptor, o processo de comunicar percorre um trajeto, uma mediação, entre esses dois polos. Essa mediação consiste de protocolos de comunicação e entendimento entre ambos, emissor e receptor, de modo a tornar a mensagem inteligível, compreendida pelo destinatário, que vai se apropriar dela, discuti-la ou se opor a ela. É por isso que as mensagens por imagem são facilmente entendidas, mesmo sem texto, enquanto os textos apresentam maior dificuldade para o receptor. É por isso que os emoticons são facilmente perceptíveis, muito mais que a descrição textual de amor, dor, saudade, raiva ou alegria. Nesse sentido, um primeiro aspecto a ser comentado no que diz respeito à comunicação social nos dias atuais é a peculiar empiricidade do espaço virtual em que se dá a comunicação, sabendo-se que nele, 25 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO espaço virtual, estão inscritas as dimensões social e cultural da comunicação, além, consequentemente, da dimensão histórica. Em geral, reserva-se a denominação meios de comunicação de massa para aqueles meios que ampliam a comunicação, notadamente os técnicos, como rádio, fotografia, cinema, vídeos, TV, telefonia e respectivos suportes tecnológicos da comunicação (LP, CD, CDR, DVD e dispositivos como computadores, tablets, celulares etc.). É importante notar que os recursos tecnológicos condicionam a modalidade de mensagem que podem conter: por exemplo, imagens por LP é algo inviável, mas um CD poderia armazená-las perfeitamente. Assim, embora diga-se que “o papel aguenta tudo”, isso não é verdade: o papel suporta tudo que venha em imagem, texto ou aroma, mas não em som. Observe que a referência que se faz é ao papel, não aos cartões plastificados, porque nesse caso a história é outra. Na realidade, os meios massivos são interpostos na posição de emissores (por isso são meios) e caracterizam modalidades de comunicação (entre quem comunica, o emissor, e o receptor, ou público) condicionando o modo como é construído o conteúdo da mensagem e a própria mensagem. Mas como realizam isso? Observe o gráfico a seguir. Emissor envia mensagens em Som sonoridades (audição) Imagens (estáticas e em movimento), gestos (corpos) (visão) Odores, perfumes (olfato) Mediação simbólica (da mensagem) Adequa o conteúdo ao meio de comunicação e Adapta a mensagem ao receptor Características e condições Mediação simbólica (na recepção) Decodificação por meio: a) Matriz de sentidos(cultura) b) Repertórios (do receptor) razão, emoção moral, ética, estética, crenças imaginário Figura 4 – Como se dá a comunicação social pelos meios massivos O bloco à esquerda indica as modalidades de mensagens que são enviadas pelos meios, ou seja, mensagens de som, imagens, gestos e odores. Como se pode deduzir, essas mensagens são dirigidas à dimensão sensível, embora todas não se limitem à sensibilidade, avançando para a racionalidade. O leitor atento deve estar estranhando a menção a odores: é claro que a televisão não transmite odor, seja ele qual for. Então, como informar ao consumidor provável que aquele perfume é ótimo ou que aquele desodorante masculino deixa qualquer homem irresistível? Simples: são criadas sugestões visuais. Às vezes até desenhos de flores, gestos das personagens, vozes em off referindo-se ao perfume ou o próprio diálogo das personagens (como será mencionado mais tarde). Se você, leitor, ouve um ruído em casa durante o dia, calmamente procura saber, e não ouvir, do que se trata. No entanto, à noite a postura será outra: primeiro você se assusta, depois investiga do que se trata. As nuances entre ouvir, saber e investigar dizem respeito à sonoridade (foi somente um som que 26 Unidade I você ouviu), mas suas atitudes dizem respeito a uma dada racionalidade. Afinal, que barulho é esse? Quem será que está aqui? No gráfico anterior, o bloco do meio focaliza as duas instâncias ou modalidades de mediação simbólica realizadas pelos MCSM na preparação das mensagens: a) adequação do conteúdo ao meio e b) adaptação da mensagem ao receptor. Mas como isso acontece? A adequação do conteúdo ao meio de comunicação é facilmente perceptível: no cinema, um século pode transcorrer no limite de 100 minutos, o tempo de um longa-metragem; na TV, todo um período da história pode ser condensado nos capítulos de uma novela, com direito aos intervalos comerciais. No meio impresso, temos que uma obra de difícil compreensão pode ser divulgada em quadrinhos, ainda que com perdas significativas. Além dessas questões de adaptação, ainda há as que dizem respeito às limitações do recurso, como foi apontado em relação ao papel. Todavia, cada vez mais novos recursos tecnológicos tornam possível superar tais dificuldades. No cinema e na TV, vampiros e fantasmas existem, assim como os monstros e as fadas, a má feiticeira e a donzela; todas essas personagens falam e são visualizadas, mas não têm odor. Assim, a cena de uma guerra é glamorosa, heroica, mas não fétida. Em compensação, nos comerciais de perfume de marcas famosas, charme, riqueza e sensualidade aparecem associados ao produto, cabendo ao telespectador imaginar a fragrância – o que ele faz – e comprar a mercadoria. Assim, os meios condicionam o modo como “se” pretende estabelecer a comunicação com o receptor, que pode ser um indivíduo, como o leitor solitário de um artigo de revista, o ouvinte de um programa de rádio, o telespectador da novela, o internauta, ou o público de uma sessão de cinema. Em qualquer desses casos, o receptor não está sendo considerado na sua individualidade, na sua pessoalidade, mas na sua tipicidade, ou na condição de integrante anônimo de um dado grupo social. Observe que o pronome se que acompanha “pretende”, no parágrafo anterior, está entre aspas, e não se trata de um erro: ali está contida a ideia de interposição do meio na comunicação. A peça publicitária e o comercial de perfume não foram elaborados por quem fabrica o perfume ou outro produto, mas por um publicitário. Foi ele quem propôs como apresentar o perfume, para qual público etc. Seu trabalho, um saber prático de mediação simbólica, será remunerado, consistindo em uma argumentação especial elaborada para conseguir a aceitação do cliente. Dois aspectos são importantes ao se discutir a interposição: o primeiro diz respeito à delimitação por características do receptor, possibilidade que permite aos meios de comunicação determinar públicos ou audiências para cada programa e anunciante, caracterizando públicos preferenciais para comerciais. O segundo aspecto vem na direção oposta, os meios insistem na interatividade: “Visite o nosso site e converse com Dr. Fulano sobre este tema” ou “Se você tem alguma dúvida, consulte...”. Esses dois aspectos mostram que a comunicação por qualquer um desses meios é construída (produzida) para a sociedade, tomada em uma segmentação generalizante, como as donas de casa, os homens, os adultos de ambos os sexos, os jovens, o público de classe A e AB ou a partir de um “você” tão geral quanto um anônimo grupo, mas que é alvo de boa parte dos comerciais. 27 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO O terceiro bloco do gráfico aponta exatamente a relação entre o meio (que é de massa, pela natureza do sinal emitido) e a recepção, ou seja, a sociedade (que é segmentada). A uniformidade, que é típica ao sinal emitido, não tem correspondência no receptor: na sociedade, o sinal é recebido como mensagem, portanto será decodificado como tal (ou, como se costuma dizer, será entendido a partir do repertório já existente). São aspectos importantes para a SC: • a modalidade das mensagens e as condições de produção e elaboração, de modo a adequar o conteúdo ao meio e ao receptor (sociedade ou público escolhido); • as condições de recepção, de modo a examinar como o conteúdo das mensagens é recebido e quais as implicações sociais desse conteúdo. As questões propriamente sociológicas relacionadas aos meios de comunicação começam pela produção da mensagem: a tendência da produção é construir a mensagem da forma mais simples, exatamente para poder atingir um público maior. Uma novela brasileira, por exemplo, pode ser entendida por crianças e adultos que tenham domínio de nossa língua falada, embora a compreensão de adultos e de crianças possa ser diferente (aliás, uma diferença que vem diminuindo sistematicamente). Por exemplo, para as novelas que, em geral, não incluem a gravação em libras, as emissoras fazem constar a legenda de cada cena, e assim se torna possível a uma pessoa surda acompanhar a trama. Quanto aos discursos em rede nacional e outras situações semelhantes, há uma gravação em libras, de modo a incluir os cerca de 6 milhões de brasileiros com deficiência auditiva. Vale observar que esse cuidado não é uma simples estratégia de marketing, mas o atendimento a um dos tópicos da legislação sobre os Direitos Humanos. Voltando ao tema discutido, deve-se assinalar a importância de contornar a suposta contradição entre o meio de comunicação (que é de massa) e o social (que é segmentado). O caminho encontrado pela televisão tem sido o de simplificar o conteúdo ou assumidamente trazê-lo, na complexidade possível, em programas previamente marcados como culturais, e para os quais as emissoras esperam pequena audiência. No rádio, a segmentação não é por programa, mas por emissora: algumas se concentram nas notícias, outras se dedicam ao rock, outras, à música brasileira etc. Já a fotografia, o cinema e a imprensa têm outras peculiaridades. A fotografia depende da destinação: se a foto é para um jornal ou uma revista sensacionalista, destacam-se os detalhes do evento: o sangue, os destroços etc. Alguns fotógrafos evitam retratar o rosto das mães quando sabem da morte de seus filhos, outros fazem desse momento um diferencial em suas imagens (uma questão de ética). Na imprensa, também o sensacionalismo se reflete nas manchetes, no corpo da fonte empregada e nos dizeres. Em São Paulo, um jornal ficou famoso por esses traços, o Notícias Populares: as manchetes eram tão relativas que dependiam da interpretação, como em “Nasceu o diabo em São Paulo” (FERREIRA, 2017). Um aspecto essencial ao se discutir os meios de comunicação social (e as estratégias de simplificação e segmentação de conteúdo) remete às características desses meios: eles são empresas, multinacionais em sua maioria, para as quais a rentabilidade final em publicidade é fator decisivo para sua permanência.28 Unidade I Por esse motivo, é relativamente fácil adotar as estratégias mencionadas. Elas resultam em um público cativo, por exemplo, como o das novelas (e dos comerciais a cada 15 minutos). Então, já se pode concluir que a cultura divulgada por esses meios tem um sentido finalista, que é assegurar a audiência (portanto, a publicidade) e, consequentemente, o consumo e a rentabilidade da empresa. Todavia, esse consumo de conteúdos implica duas tendências de comportamento significativas: de um lado, o consumo dos produtos anunciados nos comerciais (em geral um consumo material, realizado por troca monetária, tirando da circulação uma parcela da produção e movendo a dinâmica do capitalismo, como se sabe), de outro lado, há o consumo de ideias, padrões, valores, atitudes e conhecimentos expostos na programação. Esse último constitui um consumo do simbólico, uma vez que não retira nada da circulação, ao contrário, faz circular e amplia o âmbito de ideias, valores e atitudes divulgados (uma vez que estimula a adesão a ideias, valores e conhecimentos divulgados na condição de verdadeiros, embora nem sempre o sejam). Essa modalidade de adesão é um dos temas centrais da SC, visto que o conteúdo produzido é apresentado como informação verdadeira embora esteja relacionada aos interesses da organização empresarial que a produziu (e contratou alguém para produzir). Na televisão, esse é o papel dos comentaristas, dos entrevistados em atrações especiais e da produção de todos os programas, por isso os profissionais nessas áreas são genericamente apontados como formadores de opinião. São eles, principalmente, que constroem um discurso sobre a realidade, sem as premissas dessa construção. Mesmo assim, um discurso que reiteradamente explica a realidade vivida pelo outro, o receptor, e às vezes até indica a atitude a ser tomada por ele. Os outros meios, como a imprensa, a fotografia e o cinema também se organizam como empresas, também multinacionais em sua maioria. A imprensa abrangendo jornais, revistas e livros (editoras), a fotografia compreendendo agências internacionais de notícias, e o cinema contendo os grandes estúdios e, sobretudo, as distribuidoras. Embora sejam meios distintos, em geral se articulam na realização de uma produção que assegure retorno financeiro e que seja dirigida para públicos específicos. Algumas editoras, por exemplo, têm adquirido um perfil relativamente definido ao se voltarem para áreas profissionais (contudo também elas incluem em seus catálogos os best-sellers traduzidos, os livros de autoajuda, de culinária etc.); em síntese, combinam o lucrativo com a imagem intelectualizada ou sofisticada. É importante acentuar que a leitura (jornais, livros ou internet) exige uma postura do receptor distinta daquela do telespectador ou do ouvinte do rádio: ele deve deixar-se levar pelo texto, acompanhá-lo nas ideias que integram a tessitura do discurso, estando familiarizado com a problemática tratada, os conceitos, os termos técnicos ou mesmo a história de temas e situações focalizadas. Esse repertório não está disponível para todos os leitores, então eles tendem a abandonar o texto ou a ler somente o resumo. Além disso, alguns autores, de áreas de conhecimento específicas, escrevem para seus pares e não para o leitor curioso e interessado; consequentemente, escrevem textos precisos, mas complicados, difíceis, exigindo um dicionário ao lado (e muitas vezes o dicionário 29 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO não traz aquelas palavras que estão no texto). Novamente, o resultado é abandonar a leitura ou buscar um texto de divulgação. Mas o que vem a ser essa divulgação? A velha simplificação mencionada antes, mas agora com dois sentidos especiais: de um lado, trocar em miúdos a linguagem dos autores para tornar suas ideias mais acessíveis. De outro lado, a finalidade didática dessa divulgação tornando as ideias compreensíveis para iniciantes (e isso sem perda do conteúdo), mas também criar o gosto do leitor pelo conteúdo. Essa modalidade de simplificação do texto impresso, em geral, é muito distinta daquela utilizada na TV, e às vezes no rádio, já que esses dois meios simplificam a questão, e não a linguagem de sua exposição sistemática. É preciso compreender também que parte substancial do que se entende por cultura (o repertório antes mencionado) não está disponível para o jovem iniciante de hoje, simplesmente porque ele não tem tempo nem disponibilidade para, por exemplo, ler filosofia depois de um dia exaustivo de trabalho (muitas vezes ele também não tem recursos financeiros para adquirir os livros, e as “xerotecas” estão aí para comprovar). Contudo, de longa data, editoras recorrem a estratégias de marketing para tornar algumas obras reconhecidamente importantes mais acessíveis e atrativas. Por exemplo, no final dos anos 1960, várias iniciativas foram voltadas para a publicação de fascículos (ou volumes): a Bíblia Sagrada, em primorosa publicação, coleções de teatro, de literatura mundial, de música brasileira popular, pintura, jazz etc. Várias dessas coleções tiveram novas edições, como a de música brasileira popular: duas edições, uma em vinil e outra ampliada em CD. Nos anos 1970, a Editora Abril publicou pela primeira vez a coleção Os pensadores, conjunto de mais de 30 títulos de obras significativas em várias áreas da filosofia e das ciências sociais, seguida de quatro volumes de História das grandes ideias da cultura ocidental. Os textos integrais, em excelentes traduções e comentários de uma equipe de excelentes consultores, facilitaram a vida de muitos estudantes, uma vez que, na época, eram raras as traduções. A coleção continua sendo consultada e figura em muitas bibliotecas pessoais, contudo, foi uma iniciativa de um meio de comunicação social voltado para a comunicação de massa. E o cinema? E a música? Bem, aqui tudo o que foi dito antes a respeito dos meios de comunicação pode ser aplicado. O que é o cinema? A construção de uma realidade fictícia que a fotografia retém imobilizada e à qual o cinema imprime movimento. Mas uma realidade construída, “representificada” como afirma Menezes (2003). Seja em documentário, seja nos filmes de ficção, a realidade construída pelo olhar da câmera não é a realidade que seria vista pelo espectador, mas aquela focalizada sob orientação do diretor e de outros membros da equipe. Assim, os filmes de efeitos especiais são uma demonstração clara desse poder do cinema de construir uma “realidade falsa”, mas convincente. Aliás, o cinema traz impregnado, como marca de origem, a visão do diretor do filme a partir de um roteiro elaborado por um roteirista (que, por sua vez, pode ter adaptado em roteiro uma obra da literatura ou do teatro, um poema, informações obtidas em jornais ou até fragmentos da cultura tradicional). O diretor do filme vai filmá-lo com a participação de um diretor de fotografia, cenógrafo ou diretor de cena, além da colaboração de toda a equipe e dos atores, não esquecendo a produção e a trilha sonora. 30 Unidade I Portanto, um filme é sempre um trabalho de equipe no qual a autoria única propriamente dita, como acontece na literatura ou nas artes plásticas, simplesmente desaparece ou fica referida apenas ao diretor (visto que ele tem a concepção de como deverá ser o filme). A situação, embora seja bastante semelhante à da televisão (ambos combinam imagem, sonoridades, diálogos, movimento e música) também é bastante diferente, uma vez que na TV o ritmo é outro, as tomadas são outras, e, fundamentalmente, o tempo (duração) é outro. Observação É relativamente comum dizer que um determinado filme representa um ”cinema de autor”. Em geral, a expressão designa filmes de diretores conhecidos que criaram uma própria concepção de cinema e contagiaram outros, às vezes formaram uma tendência na cinematografia, como, no Brasil, Glauber Rocha com o Cinema Novo, ou John Ford no cinema americano, Alfred Hitchcock no cinema anglo-americano, Fellinina Itália, Almodóvar e Saura na Espanha, Ingmar Bergman na Suécia ou Alain Resnais e a Nouvelle Vague francesa. Perceber a diferença é fácil: um capítulo de novela pode ser uma cena em um filme, mas toda uma novela (em geral, durando oito meses) pode ser um filme de 80 minutos a 110 minutos, em média. Não só isso: a novela, em geral, acaba, exceto quando se forma um canal especializado em reprises (como o canal Viva, da Globo). O filme permanece por longo tempo, ainda que nas salas especiais das cinematecas, na versão DVD ou, ainda, sendo exibido nos canais de streaming (Netflix) e nas extensões dos canais de TV. Nesse sentido, um filme é uma obra, enquanto a novela televisiva tem uma identidade própria: nem obra propriamente, uma vez que não resulta da inventiva de um autor-diretor responsável por seu sucesso ou fracasso, nem um programa televisivo, uma vez que tem uma continuidade, um roteiro, um sentido. Atualmente, o cinema vem incorporando os meios tecnológicos e o ritmo da televisão, e são vários os filmes que têm origem em programas da TV. Também a TV vem incorporando do cinema certas peculiaridades, como as chamadas externas, os cenários deslocados, os efeitos especiais e de luz, os cenários etc. Filmes são programas frequentes na TV, e o ambiente da TV já serviu de cenário para inúmeros filmes, inclusive brasileiros. Todavia, essa proximidade não venceu ainda uma questão básica: a concorrência dos filmes americanos com os nacionais, ou seja, a concorrência entre estéticas diferenciadas. Enfim, a SC estuda a mediação simbólica realizada pelos meios de comunicação massivos considerando alguns fatores: modalidade das mensagens, produção e adaptação, além da recepção do conteúdo e de seus reflexos sociais. Uma vez que o conteúdo produzido é sempre cultural (em outras palavras, integra a cultura de uma sociedade em um dado momento de sua história), mas é elaborado intencionalmente e por empresas, ele se constitui em uma modalidade específica de produto, o produto cultural. No seu conjunto, as empresas que realizam essa produção integram o que se convencionou denominar por indústria cultural (IC), embora a expressão seja mais associada ao modo de elaborar a 31 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO cultura divulgada do que à natureza do empreendimento empresarial). Conforme analisaremos adiante, IC é um conceito desenvolvido por Adorno e Horkheimer, autores integrantes da abordagem da SC conhecida como Escola de Frankfurt. É verdade que o conteúdo produzido integra a cultura em vários campos, desde culinária a regras de amamentação dos bebês, relacionamentos, medicina alternativa, história, arte, notícias, esporte, política etc. A multiplicidade de assuntos, incluindo aqueles dos bate-papos espontâneos, tem uma finalidade explícita, que seria a de informar o espectador, a audiência, o público em uma dada direção. Nesse sentido, a exposição do assunto coloca o receptor em posição de passividade, no máximo ele poderá enviar um e-mail, que será respondido ou não. Essa passividade, tão comum nos programas de TV, tem característica distinta daquela do cinema: na sala de projeção o espectador é levado a sonhar de olhos abertos (DROGUETT, 2004), ele se envolve na cena, sofre com as personagens, grita de medo ou ri das piadas e situações. Ele escolheu o filme, o gênero e às vezes o diretor. Há um conteúdo que lhe é exibido, mesmo assim só chegará a ele se houver um repertório para entendimento, uma vez que o filme remete para o que se encontra fora da tela, lugar da compreensão. É claro que um filme pode ser exibido na tela da TV ou do monitor, mas não será a mesma coisa: nessas situações a magia do cinema fica reduzida, perde-se a dimensão propriamente cinematográfica do filme. Por seu turno, filmes há, e muitos, que reproduzem a estética da TV, ou o modo de produção da TV, mas esse tema será discutido depois. Se a maioria dos produtos culturais tem por finalidade entreter e informar o receptor (audiência, público), enquanto as empresas responsáveis são submetidas às regras do mercado (oferta/demanda e lucro/prejuízo), pode-se concluir que, quanto maior a audiência, maior a possibilidade de patrocínio (publicidade) e de maior lucro. Desse modo, aqueles conteúdos mais específicos são deixados de lado ou são simplificados. Ninguém irá simplificar um jogo de futebol, mas uma matéria sobre a arte contemporânea, possivelmente. E o que se pode dizer de uma aula de filosofia? Esses aspectos, a simplificação dos conteúdos, a superficialidade e a vulgarização integram a área de estudos da SC sobre a comunicação social a partir dos meios de comunicação massivos. Muitas vezes, para adaptar um conteúdo ao meio e à recepção, são produzidos sentidos cujo entendimento se situa no que está fora da tela, dependendo do repertório do público. Uma sequência do filme Abril despedaçado (WALTER SALLES, 2001) permite explorar com mais detalhes o que se passa fora da tela: no filme, dois irmãos, jovens nordestinos, trabalham na produção de rapadura sob o sol escaldante. O tempo rotineiro é sinalizado pelo rodar da bolandeira, pelos dentes da moenda, com seu ruído angustiante. Os bois ensaiam parar e são forçados violentamente a voltar ao trabalho repetido. Findo o dia, bois liberados da canga, o irmão mais novo grita: “Tonho, os boi tão rodando sozinho!”. O olhar surpreso do menino encontra o olhar de conformismo do irmão, ambos constatando que os bois, mesmo liberados da canga, emparelhados, continuam circulando a bolandeira. Os olhares 32 Unidade I dos irmãos e a fala do menino remetem a uma linha de fuga, e no além da tela entende-se que ali, naquele ambiente calcinado, bois e homens se submetem à ordem autoritária que os ultrapassa, ambos cumprem um destino, ou servem a ele e a uma tradição. A ordem tradicional, autoritária e repressiva, leva à submissão de todos, mas também à resistência: olhando os bois, Tonho, que carregava a canga nos ombros, deixa-a cair no chão. Em For all, o trampolim da vitória, (1997), a música de 1959 de Gordurinha (“Só boto beep bop no meu samba...”) remete ao imperialismo cultural, à economia política, enquanto na tela desfilam imagens de itens de consumo valorizados nos anos da Guerra Fria (do milk-shake ao carro). Outro exemplo em que a articulação se dá pela sonoridade é a clássica cena do banho em Psicose, dirigido por Hitchcock: as facadas não aparecem na tela, apenas a música as cria, para depois serem confirmadas por um fio de sangue escorrendo pelo ralo da banheira. Saiba mais O entendimento não se encontra na imagem, mas naquilo que está fora da tela. No cartaz de Domésticas, o filme (2001), o modo como a sociedade lida com as domésticas aparece claramente: elas são o serviço e seus objetos de trabalho. Há também o exemplo de uma famosa imagem retratando a mais completa exclusão social em São Paulo: um tênue muro separando os bairros (e as realidades tão contrastantes) de Morumbi e Paraisópolis. Você pode ver o cartaz e conhecer outras informações sobre Domésticas, o filme (2001) acessando o link a seguir. DOMÉSTICAS, o filme. Adorocinema. [s.d]. Disponível em: http://www. adorocinema.com/filmes/filme-37050/. Acesso em: 10 jan. 2020. A foto retratando os cotidianos tão díspares em dois bairros vizinhos paulistas foi tema de uma reportagem do jornal inglês The Guardian, reportagem a qual você pode ler por meio do link indicado a seguir. SÃO Paulo: imagem de injustiça. The Guardian, Londres, 29 nov. 2017. Disponível em: https://www.theguardian.com/cities/2017/nov/29/sao-paulo- tuca-vieira-photograph-paraisopolis-portuguese. Acesso em: 10 jan. 2020. 2.3 SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO: MEDIAÇÃO SIMBÓLICA E DRTCS Nas páginas anteriores o foco de análise estava dirigido para a comunicação social por meios massivos, agora o foco será dirigido para o processo de comunicação entre inúmeros emissores e inúmeros receptores, simultaneamente, formando uma imensa rede de comunicação social. Contudo, cada
Compartilhar