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SAÚDE DA FAMÍLIA - PR2

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ANA DA JUSTA BARTOLO M1 – 2020.1
SAÚDE DA FAMÍLIA – PR2
ESPIRITUALIDADE E SAÚDE
Todo o conhecimento parte da experiência humana, então, compreender o outro é compreender também a sua experiência. Isso também inclui a maneira do outro compreender e vivenciar o universo. Para uma atuação integral e eficaz na produção de saúde é necessário entender o indivíduo no contexto de suas crenças, ou seja, na dimensão mítica espiritual por ele vivida. Além disso, a espiritualidade, a despeito de sua frequente relação com a religião, historicamente tem sido ponto de conforto para muitas pessoas em diversos momentos da vida.
Religiosidade: prática de vida, onde há o seguimento de uma autoridade externa. Diz respeito a aspectos interpessoais e institucionais que derivam do engajamento e sistematização de culto, valores, dogmas, rituais, hábitos de convivência e regras compartilhadas por um grupo.
Espiritualidade: envolve o domínio existencial, a essência do que é ser humano, seguindo uma autoridade interna. Direciona questões sobre o significado da vida, que traz conforto, podendo estar ou não vinculada a uma religião. A espiritualidade pode ser entendida como o conjunto de crenças que traz vitalidade e significado aos eventos da vida. É a propensão humana para o interesse pelos outros e por si mesmo.
Uma pessoa pode ter uma religiosidade forte (frequentando cultos regularmente), mas ter uma espiritualidade pouco desenvolvida (por não vivenciar estes aspectos em seu interior ou nas suas práticas de vida).
Embora não possamos explicar certos fenômenos, sentimos que eles acontecem sem sabermos como e por qual razão. Podemos não os compreender, mas não podemos ignorá-los. Com o pensamento somos capazes de desencadear emoções, sentimentos, expectativas positivas ou negativas, ações e comportamentos. A dimensão espiritual é retratada como atribuição significativa diante do sofrimento por uma doença, e também como meio de esperança frente às variações do estado de saúde. Há evidencias de que pessoas com a espiritualidade bem desenvolvida costumam ter hábitos de vida mais saudáveis, e quando adoecem se recuperam mais rapidamente.
Diversas pesquisas, têm reconhecido a necessidade da valorização do ensino da espiritualidade na formação do médico. A religião e/ou a espiritualidade são considerados parte integrante dos cuidados de saúde e da vida diária para muitos pacientes. Assim, os profissionais deverão estar capacitados para prover esses cuidados para pacientes.
 
MITOS E PRECONCEITOS EM RELAÇÃO À CIÊNCIA E SAÚDE
Ciência refere ao sistema de adquirir conhecimento baseado no método cientifico, bem como ao corpo organizado de conhecimento adquirido através de pesquisas. A ciência é o esforço para descobrir e aumentar o conhecimento humano de como o universo funciona.
Medicina é o conjunto de praticas fortemente embasadas nas ciências atuando no corpo individual e coletivo. Embora lidando com riscos, índices e medições sobre estados normais e patológicos, a medicina tem como objetivo central aliviar o sofrimento humano de forma ética.  
Existem 5 formas de se conhecer o mundo, através de: mitos, senso comum, arte, ciência e filosofia. Mito é uma das primeiras formas de conhecer o mundo. A característica principal que define o mito é seu caráter dogmático. Ele não precisa ser provado, não pode ser contestado - basta acreditar ou não. O senso comum é o nosso conhecimento cotidiano. Pode ser simples e sem grandes reflexões ou complexo e sofisticado. Muitas vezes reproduz preconceitos e ideias sobre as quais não nos preocupamos em refletir. A arte é uma forma peculiar de se conhecer o mundo. Sua importância não reside em objetividade ou mesmo em conteúdo. O trabalho artístico é uma interpretação construída pelo sujeito que produz a obra. A ciência é o uso da razão para se compreender o mundo (racionalidade). Método científico, conhecimentos adquiridos por estudos e pesquisas, exclui as convicções não testáveis e comprováveis. Por fim, a filosofia se diferencia das demais ciências por transitar pelas diferentes formas de conhecimento buscando uma reflexão que não se fragmente.
Saber popular X saber cientifico: saber popular - acúmulo de saberes intuitivos ou conhecimentos práticos, desenvolvidos pelos seres humanos é o que torna possível sua existência até os dias de hoje. Saber científico - teve a mesma base do saber popular, a referência na experiência, um fenômeno é explicado a partir da formulação de uma hipótese e pela análise dos dados coletados através de técnicas específicas, possíveis de serem repetidas, formulando-se uma Lei. Por fim, é importante ressaltar que o conhecimento científico é embasado e rigoroso, porém, não é A VERDADE ABSOLUTA DOS FATOS. Os resultados de uma pesquisa não são inquestionáveis e novas pesquisas podem “jogar por terra” os resultados alcançados. Outros métodos de experimentação, aparelhos e novos conhecimentos podem demonstrar limites ou até mesmo “erros” e “falhas” na pesquisa realizada e na teoria dela elaborada.
 
CULTURA, ÉTICA E ANTROPOLOGIA
A busca constante de uma maior competência ao cuidar da saúde de comunidades e pessoas com diferentes culturas é uma das características da medicina. Os profissionais de saúde estão igualmente enredados em redes naturais-culturais, sendo o próprio conhecimento médico um subsistema natural-cultural. Há uma grande defasagem de estudo e treinamento na formação dos profissionais de saúde em relação à cultura, ao corpo e à saúde. Mais do que conhecer as crenças do outro a respeito dos fenômenos relacionados à saúde, o trabalho do médico pode ser o de criar espaços de diálogo entre vários saberes e fazeres, mapeando diferenças, buscando objetivos conjuntos, identificando redes de atuantes envolvidos e potencialmente modificáveis, pactuando ações e interpretando sentidos. Em um país como o Brasil, com grande diversidade cultural, a aquisição de conhecimentos, de habilidades e de certa sensibilidade intercultural é ainda mais importante.
Pensar a cultura, a ética e antropologia ligadas à medicina significa pensar os fenômenos saúde-doença de forma ampliada, para além dos parâmetros usualmente adotados pela medicina. Significa relativizarmos conceitos médicos, pensar a realidade social como parte integrante do adoecimento e contextualizar os sujeitos que demandam pela assistência médica. A antropologia tem contribuído no sentido do questionamento modelo biomédico tradicional como verdade única, com implicações importantes na própria construção de políticas públicas mais qualificadas na área da atenção à saúde da população.
Algumas características do SUS, em especial no que diz respeito à APS, podem ajudar na obtenção de maior adequação cultural, como a adscrição territorial de clientela, a descentralização de políticas e o planejamento com base em diagnósticos locais e regionais. A ampliação de um enfoque excessivamente mental e simbólico para um modelo que entenda saúde e doença como resultado de arranjos de atuantes em coletivos ou redes (o que está de acordo como conceito ampliado de saúde) pode ser útil para a diminuição do receio que muitos profissionais de saúde sentem ao trabalhar com questões culturais.

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