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Plano de aula_ direito das coisas

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DIREITO CIVIL – DAS COISAS 
PROF. KRYSTIMA KAREM 
PLANO DE AULA 4 
POSSE 
 
 
2.7.5. Possibilidade de manejar as ações possessórias 
 
Ensina Venosa: “A posse, como estado de fato reconhecido pelo ordenamento, merece proteção específica. Já dissertamos acerca 
do estado de aparência, da paz social e da necessidade de ser mantido esse estado de exteriorização de propriedade. (...) Na 
manutenção desse estado fático pelo direito, reside toda a grandeza do instituto”. Portanto, como dito acima, ao possuidor, há 
a possibilidade de invocar os interditos possessórios, “ou seja, de propor ações possessórias, quando for ameaçado, molestado 
ou esbulhado em sua posse, para repelir tais agressões e continuar na posse” (Maria Helena). 
 
Antes de tudo, devemos fazer uma diferenciação entre JUÍZO POSSESSÓRIO e o JUÍZO PETITÓRIO. 
 
No juízo possessório, discute-se apenas a posse, e não a propriedade. A pessoa que sofreu agressão na sua 
posse, ou está ameaçada de sofrer, ingressa com uma ação possessória, e no juízo que será feito nesta ação, 
perscrutar-se-á apenas e tão somente o fenômeno da posse, não abrindo espaço para discussão de propriedade. 
 
Já no juízo petitório, o autor da ação quer a posse, mas pelo fato de ser proprietário. Ele invocará a sua 
propriedade sobre a coisa e, de modo reflexo, obterá a posse. Mas ele, em ações deste tipo, não alega agressão na 
posse, mas sim alega que é proprietário do bem e quer usufruir dos direitos inerentes à propriedade. 
 
É importante fazer esta diferença, especialmente porque o ordenamento pátrio faz essa distinção. Ou seja, 
fica bem claro que, ao se discutir a posse, isto é, quando instaurado um juízo possessório, não é permitido 
discutir a propriedade, que deve ser objeto apenas e tão somente de ação de juízo petitório. 
 
O ordenamento pátrio prevê apenas 3 tipos de ações possessórios, que são as seguintes: 
 
- Ação de reintegração de posse; 
- Ação de manutenção de posse; 
- Ação de interdito proibitório. 
 
A depender da agressão verificada, caberá uma das três ações (CC, art. 1210 caput). 
 
No caso de esbulho, caberá reintegração de posse. O autor pedirá para ser reintegrado na posse do bem. 
No caso de turbação, caberá manutenção de posse. O autor pedirá para ser mantido na posse do bem. 
No caso de ameaça de uma agressão, caberá interdito proibitório. O autor pedirá para cessar ameaças. 
 
Veja que, para cada causa de pedir, há um pedido específico. 
 
ESBULHO: O possuidor é posto para fora da coisa. É privado de usar, gozar, dispor da coisa. O agressor 
afasta o possuidor da coisa, privando-o dela. O esbulhador, portanto, exerce sobre a coisa uma posse injusta 
(violenta, clandestina, precária), que deve ser combatida em favor da posse justa, ou seja, daquele que foi 
molestado. 
 
TURBAÇÃO: É a perturbação, o incômodo na posse. Não chega a alijar alguém da coisa, o possuidor ainda 
tem o contato com a coisa, mas é incomodado. Ou seja, quer-se ser mantido na posse. Mantido pois, na 
turbação, nunca se perdeu a posse, mas quer-se mantê-la sem os atos de incômodo, daí porque pedir-se-á que o 
juiz mande cessar tais atos. 
 
AMEAÇA DE AGRESSÃO: Não ocorre, de forma efetiva, o esbulho ou a turbação, mas existe o justo 
receio de sofrer tais agressões iminentemente. 
 
Configurada uma das agressões acima, competirá ao ofendido mover a ação competente. 
 
Porém, o ordenamento assegura, em alguns casos, que o ofendido use das próprias forças para proteger a sua 
posse (Art. 1210, § 1º). É a exceção da vedação da autotutela no direito privado. 
 
No caso de esbulho, o ofendido pode usar do desforço imediato, para recuperar a sua posse. 
No caso de turbação, o ofendido pode usar da legítima defesa, para defender a sua posse. 
No caso de ameaça, não há possibilidade de autotutela. 
 
Mas, atenção: o desforço ou retomada da posse pelo próprio ofendido, deve ser feita logo que constatada a 
ofensa. Doutrina entende que esse desde logo é no prazo inferior a ano e dia. E os atos de defesa não podem ser 
exagerados. Deve ser na medida da ofensa. Não pode ir além do indispensável à manutenção ou restituição da 
posse. 
 
ESQUEMA DA PROTEÇÃO POSSESSÓRIA 
 
 
 
INQUIETAÇÃO 
 
SOLUÇÕES 
 
AUTOTUTELA JUDICIAL 
(AÇÕES POSSESSÓRIAS) 
Esbulho Desforço imediato Ação de reintegração de posse 
Turbação Legítima defesa Ação de manutenção de posse 
Ameaça -- Interdito proibitório 
 
 
Fungibilidade das ações possessórias: Art. 920 do CPC: A propositura de uma ação possessória em vez 
de outra não obstará que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela, cujos 
requisitos estejam provados. 
 
Caráter dúplice das ações possessórias. Art. 922 do CPC: É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi 
o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da 
turbação ou do esbulho cometido pelo autor. Nas ações possessórias, portanto, o réu não precisará apenas se 
defender. Ele poderá pedir também, e este pedido é feito na própria contestação, e não em reconvenção. Ele 
pedirá a proteção possessória que entender ser devida a si. 
 
As ações possessórias podem ser de força nova e de força velha. É de força nova quando intentada 
antes de ano e dia do ato impugnado. É de força velha quando intentada após esse prazo. 
 
É importante essa verificação, pois sendo de força nova, seguirá o rito dos arts. 926 a 933 do CPC. Terá um 
rito especial, e ainda caberá liminar. Se for de força velha, seguirá o rito ordinário, e não caberá liminar (é possível 
tutela antecipada). 
 
 
2.8. Ações que não são possessórias, mas, de certa forma, visam proteger a sua fruição de forma 
pacífica e mansa pelo possuidor. 
 
2.8.1. Ação de imissão na posse: Tem por escopo a aquisição da posse pela via judicial. Alguém, que 
nunca teve a posse sobre determinado bem, mas tem a legitimidade para tanto, precisa se socorrer do judiciário 
para tanto. Esta ação tinha previsão expressa no CPC antigo. No CPC atual, não teve previsão expressa, mas não 
se pode dizer que ela não existe mais. Existe, sim. 
A ação de imissão de posse é PLENAMENTE CABÍVEL na sistemática do ordenamento pátrio vigente, voltando-
se para a efetivação do direito à posse que assiste a alguém, que por objeção de outrem, ainda não pôde desfrutá-
la. 
O que o CPC/73 fez foi apenas e tão somente retirar a “Ação de Imissão de Posse” do rol dos procedimentos 
especiais, sendo que o seu cabimento permaneceu inalterado sempre que mister para o resguardo da pretensão 
competente, porém passando a seguir o procedimento comum (ordinário ou sumário, a depender do valor 
da causa). 
Jurisprudência: 
 
Processual Civil. Recurso Especial. Ação de imissão de posse. 
Acórdão. Omissão. Inexistência. Tutela antecipada. Pressupostos. 
Reexame de prova. Cabimento em ação de imissão de posse. Terceiro possuidor. Legitimidade 
passiva ad causam. 
- A omissão apta a ser suprida pelos embargos declaratórios é aquela advinda do próprio 
julgamento e prejudicial à compreensão da causa, e não aquela que entenda o embargante, ainda 
mais como meio transverso de se impugnar os fundamentos da decisão embargada. 
- É inadmissível o recurso especial na parte em que a sua análise dependa de reexame de prova, 
com o fito de se identificar, ou não, a existência dos pressupostos autorizadores da tutela 
antecipada. 
- Não prevista pelo CPC em vigor como ação sujeita a procedimento especial, aplica-se à 
ação de imissão de posse, de natureza petitória, o rito comum (procedimento ordinário); 
cabível, em conseqüência, o pedido de tutela antecipada, a qual será deferida desde que 
preenchidos os requisitos que lhe são próprios. 
- A ação de imissão na posse é própria àquele que detém o domínio e pretende haver a 
posse dos bens adquiridos, contra o alienante ou terceiros, que os detenham. 
- Recurso especial a que não se conhece. 
(REsp 404.717/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 
27/08/2002, DJ 30/09/2002, p. 257)2.8.2. Ação de nunciação de obra nova: CPC, art. 934-940. Esta ação visa impedir que o domínio ou a 
posse de um bem imóvel seja prejudicada por obra nova efetuada no prédio vizinho. Quer-se, com esta ação, 
cessar a obra nociva. 
O objetivo inicial da ação de nunciação de obra nova é embargar a obra, o que poderá ser feito liminarmente 
ou no mérito. Eventualmente, poderá ser determinado, ao final, a demolição da obra, caso esta não esteja em 
condições de ser modificada para cessar a ameaça ao prédio vizinho. Pode ter caso, porém, que bastará o 
cessamento da obra. 
Vejamos alguns artigos do CPC: 
 
 Art.934. Compete esta ação: 
I - ao proprietário ou possuidor, a fim de impedir que a edificação de obra nova em 
imóvel vizinho Ihe prejudique o prédio, suas servidões ou fins a que é destinado; 
II - ao condômino, para impedir que o co-proprietário execute alguma obra com 
prejuízo ou alteração da coisa comum; 
III - ao Município, a fim de impedir que o particular construa em contravenção da lei, do 
regulamento ou de postura. 
 
 Art. 935. Ao prejudicado também é lícito, se o caso for urgente, fazer o embargo 
extrajudicial, notificando verbalmente, perante duas testemunhas, o proprietário ou, em 
sua falta, o construtor, para não continuar a obra. 
Parágrafo único. Dentro de 3 (três) dias requererá o nunciante a ratificação em juízo, 
sob pena de cessar o efeito do embargo. 
 
Art. 936. Na petição inicial, elaborada com observância dos requisitos do art. 282, 
requererá o nunciante: 
I - o embargo para que fique suspensa a obra e se mande afinal reconstituir, modificar ou 
demolir o que estiver feito em seu detrimento; 
II - a cominação de pena para o caso de inobservância do preceito; 
III - a condenação em perdas e danos. 
Parágrafo único. Tratando-se de demolição, colheita, corte de madeiras, extração de 
minérios e obras semelhantes, pode incluir-se o pedido de apreensão e depósito dos 
materiais e produtos já retirados. 
 
Art. 937. É lícito ao juiz conceder o embargo liminarmente ou após justificação prévia. 
 
Art. 938. Deferido o embargo, o oficial de justiça, encarregado de seu cumprimento, 
lavrará auto circunstanciado, descrevendo o estado em que se encontra a obra; e, ato 
contínuo, intimará o construtor e os operários a que não continuem a obra sob pena de 
desobediência e citará o proprietário a contestar em 5 (cinco) dias a ação. 
 
Art. 939. Aplica-se a esta ação o disposto no art. 803. 
 
Art. 940. O nunciado poderá, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, 
requerer o prosseguimento da obra, desde que preste caução e demonstre prejuízo 
resultante da suspensão dela. 
§ 1o A caução será prestada no juízo de origem, embora a causa se encontre no tribunal. 
§ 2o Em nenhuma hipótese terá lugar o prosseguimento, tratando-se de obra nova 
levantada contra determinação de regulamentos administrativos. 
 
 
2.8.3. Ação de dano infecto: Esta ação visa cessar conflitos com vizinhos, quando estes praticam atos que 
impedem o prejudicado de exercer a posse do bem de maneira pacífica. Em outras palavras, atos dos vizinhos 
pode perturbar o sossego, ou então os prédios vizinhos estão ameaçando o prejudicado, cabendo ação de dano 
infecto, para acabar com estes prejuízos ou ameaças. 
O art. 1.277 do CC reza: O proprietário ou possuidor de um prédio tem o direto de fazer cessar as 
interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela 
utilização de propriedade vizinha. 
Nessa esteira, também cabe a ação de dano infecto quando o prédio vizinho possa vir a ruir, trazendo 
prejuízo pros vizinhos prejudicados. Neste caso, exigir-se-á a demolição do prédio ou a sua reparação. Pede-se, 
ainda, caução pelo dano iminente. CC, art. 1.280.

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