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CURSO DE ATUALIZAÇÃO JURÍDICA 
 Disciplina: Direito Penal e Processo Penal 
 Tema: Súmulas do STF 
 Prof.: Silvio Maciel 
 Data: 16/03/2007 
 
 
 
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SÚMULAS 690 A 695 – HABEAS CORPUS 
 
Súmula 690 – Habeas Corpus contra Turma Recursal. 
 
As Turmas Recursais, embora não sejam Tribunais, são órgãos de última instância (de última 
instância nos Juizados Especiais). Assim, as decisões das Turmas Recursais não estariam sujeitas ao 
TJ (nem aos extintos Tribunais de Alçada). Daí a Súmula 695, que dispõe que é o STF então o 
competente para julgar HC impetrado contra Turma Recursal. Tal entendimento baseou-se no art. 
102, I, i, da CF/88, que dispõe que compete ao STF julgar originariamente HC quando o coator for 
autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do STF. 
 
Tal Súmula caiu por terra com o HC 86.834/SP, julgado em 23.08.06. O STF entendeu que como 
os Juízes da Turma Recursal, nos casos de crimes comuns ou de responsabilidade, são processados 
e julgados pelos Tribunais de Justiça ou Tribunais Regionais Federais, compete a esses Tribunais 
julgar HC contra Turmas Recursais. 
 
A Súmula 695 não mais se aplica, desde 23.08.06. O entendimento atual do STF é o de que 
compete aos Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais o julgamento de HC contra Turma 
Recursal. 
 
Súmula 691 – HC contra indeferimento de liminar em HC 
 
Com tal entendimento, o STF não conhece HC impetrado contra indeferimento de liminar em HC 
impetrado em Tribunal Superior. 
 
Fundamento da súmula: se o STF conhece e julga HC contra a decisão de indeferimento da liminar, 
ou seja, antes do Tribunal Superior decidir o mérito do HC (julgar definitivamente o HC), está se 
antecipando indevidamente ao Tribunal Competente para apreciar o writ. Haveria violação da 
competência do Tribunal Superior e violação ao postulado da hierarquia dos graus de jurisdição. 
Estaria havendo supressão de instância. (Nesse sentido HC 89.994; HC 87.065 etc). 
 
Ocorre que o STF vem afastando essa súmula (relativização ou mitigação da súmula) quando é 
flagrante a ilegalidade ou abuso de poder. Nesses casos o STF vem conhecendo do HC impetrado 
contra o indeferimento da liminar, sob o argumento de que não pode o STF admitir uma situação de 
flagrante ameaça ou violação à liberdade humana sob o pretexto de supressão de instância ou 
violação de competência do Tribunal. Compete ao STF velar pelas garantias constitucionais, 
inclusive por esse relevante valor da vida humana, a liberdade (Min. Cezar Peluso, no HC 85.185). 
 
São cada vez mais freqüentes as decisões do STF admitindo HC contra indeferimento de liminar no 
Tribunal Superior (HC 85.185; 90.348; 90.349; 90.363, j. 27/12/2006 etc). 
 
No julgamento do HC 85185 (DJU 10.08.05) o Min. Sepúlveda Pertence chegou a propor ao 
Plenário o cancelamento formal da Súmula 691, porque se o Tribunal admite conhecer o HC quando 
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a ilegalidade ou abuso for flagrante, terá de conhecer de todos os HC impetrado, para saber se a 
ilegalidade/abuso é ou não evidente. 
 
A Súmula não foi formalmente cancelada, mas perde cada vez mais aplicabilidade (pode-se falar em 
cancelamento ou afastamento informal ou implícito da súmula) 
 
OBSERVAÇÃO: O art. 102, I, i, da CF/88 dispõe que compete ao STF julgar HC quando o coator for 
“Tribunal Superior”. A liminar é indeferida pelo ministro relator e não pelo Tribunal. Mas todo 
ministro é um órgão fragmentário do Tribunal, assim a decisão é imputável ao próprio Tribunal 
Superior. (Nesse sentido Min. Cezar Peluso, no HC 85.185), sendo, portanto, competente o STF para 
o julgamento do HC. 
 
Súmula 692 – HC contra omissão de relator de processo de extradição. 
 
Em regra, a parte não tem o ônus de provar o direito nacional alegado, pois o juiz o conhece (“juria 
novit curia”). Quando, entretanto, a parte alega direito municipal, estadual, estrangeiro ou 
consuetudinário, tem o ônus de prová-lo, pois o juiz não é obrigado e não tem condições de 
conhecer todas as normas jurídicas do mundo inteiro. 
 
Assim, se a parte alegou fato ou direito estrangeiro e não cumpriu seu ônus de prová-lo (direito 
estrangeiro é equiparado a fato), não pode alegar coação do relator do processo de extradição, por 
omissão em apreciar a questão que o envolve. Não há coação ilegal, logo não é cabível HC. 
 
Súmulas 693 a 695 – Não cabimento de HC por ausência de lesão ou perigo de lesão à liberdade 
de locomoção. 
 
O habeas corpus é ação constitucional que se destina, exclusivamente, à proteção da liberdade de 
locomoção – art. 5º, LXVIII, da CF/88. Para violação a outros direitos existem outros remédios 
constitucionais (mandado de segurança individual ou coletivo, habeas data etc). 
 
Assim sendo, nos casos em que não estiver ocorrendo nenhuma ameaça ou coação a liberdade de 
locomoção da pessoa não é cabível o HC. Essa a razão das Súmulas 693 a 695. 
 
Súmula 693 – a pena de multa, não pode mais, em nenhuma hipótese, ser convertida em pena de 
prisão. O art. 51, do CP que permitia essa conversão, foi alterado pela Lei 9268, de 1º.04.96, que 
transformou a multa penal não paga em dívida de valor (dívida ativa da Fazenda Pública). O art. 85, 
da Lei 9099/95, que permitia a conversão em prisão da pena de multa aplicada nos Juizados 
Especiais Criminais foi tacitamente revogado pela nova redação do artigo 51, do CP, conforme 
entendimento unânime da doutrina e jurisprudência (pois a Lei 9.268/96 que o alterou é posterior e 
mais benéfica que o art. 85, da Lei 9.099/95). 
 
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Assim, se a multa jamais pode ser convertida em prisão, não há nenhuma ameaça a liberdade de 
locomoção daquele que está respondendo a processo por infração somente com pena de multa 
cominada ou daquele que foi condenado exclusivamente á multa. Logo não é cabível HC. 
 
Súmula 694 – a exclusão de militar ou a perda de patente ou de função pública nada tem a ver com 
a liberdade de locomoção da pessoa. Também não é cabível HC nessas hipóteses 
 
Súmula 695 – se a pena de prisão já está extinta também não há mais ameaça ou coação a 
liberdade de ir e vir a ser protegida pelo HC. 
 
Mas atenção: a pena já extinta não causa reflexos na liberdade da pessoa, naquele processo em que 
foi já foi cumprida; mas pode causar reflexos à liberdade da pessoa em outro processo. É que a 
condenação, além da pena (efeito principal), causa outros efeitos penais (efeitos secundários). 
 
Suponhamos que a pessoa, em outro processo, não tenha direito à transação penal ou à suspensão 
condicional do processo, em razão de uma indevida (ilegal) condenação no processo anterior, cuja 
pena já foi cumprida. Nesse caso deve ser recebido o HC para anular a condenação anterior (ou o 
processo) e assim possibilitar o benefício no outro processo. 
 
SÚMULA 696 
 
Muito se discutiu sobre a solução adequada no caso do MP se recusar a propor a suspensão do 
processo, mesmo no caso do acusado preencher todos os requisitos legais do art. 89, da Lei 
9099/95. Formaram-se basicamente três correntes: 
 
a) O juiz deve fazer de ofício a proposta de suspensão condicional do processo; 
b) O juiz não pode fazer a proposta de ofício, mas se o MP se recusa a oferecê-la, sem justo motivo 
ou razão, e a defesa suscitaa questão, o juiz pode decidir. Nesse caso não estará agindo de ofício, 
mas por provocação da defesa. Nesse sentido o Enunciado 23, do Fórum Permanente de Juízes 
Coordenadores do JECRIM: “A transação penal e a suspensão condicional do processo não podem 
ser propostas pelo Juiz quando o Ministério Público não o fizer. Todavia, provocado pela parte, 
decidirá a respeito”. É o que o professor Thales Tácito chama de “pedido implícito de suspensão 
condicional do processo pelo réu”. 
b) O juiz não pode fazer a proposta de ofício pelas seguintes razões: 1) a suspensão do processo é 
uma exceção ao princípio da obrigatoriedade (ou legalidade) da ação penal. Assim sendo, somente o 
MP, que é o titular privativo da ação penal pública, pode propor a suspensão; 2) o art. 89, da Lei 
9099/95 é explícito em dispor que a suspensão é oferecida pelo MP; 3) a proposta de ofício pelo juiz 
viola o princípio da inércia da jurisdição; 4) a suspensão não é um direito público subjetivo do 
acusado, mas ato discricionário do MP, titular da ação penal. Se o Promotor então se recusar a 
oferecer a suspensão, o juiz deve remeter a questão ao Procurador-Geral, aplicando por analogia o 
art. 28, do CPP. 
 
A terceira tese foi a que prevaleceu no STF. O juiz deve remeter a questão ao PG que poderá: a) 
oferecer a proposta; b) designar outro Promotor para oferecê-la; c) insistir na negativa de 
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oferecimento da proposta, caso em que o juiz então deverá decidir sobre o recebimento ou não da 
denúncia (devendo recebê-la se a denúncia não for inepta e estiverem presentes todas as condições 
da ação). 
 
 
SÚMULA 698 – PROGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL 
 
 
O artigo 2º, § 1º, da Lei 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos) proíbe a progressão de regime aos 
condenados por delitos hediondos e assemelhados (tráfico de drogas, terrorismo e tortura). 
Somente é possível o livramento condicional, após 2/3 de cumprimento da pena, vedado aos 
reincidentes em crimes dessa natureza (art. 83, V, do CP) 
 
Ocorre que posteriormente, entrou em vigor a Lei 9.455/97 (Lei de Tortura), Essa lei 
permite a progressão de regime aos condenados por crimes de tortura. Impõe apenas que o regime 
inicial deve ser o fechado, independentemente da quantidade da pena (art. 1º, § 7º). 
 
Com a entrada em vigor da Lei 9.455/97, surgiu uma discussão, com duas correntes 
divergentes: 1ª) o artigo 1º, § 7º, da Lei 9.455/97, por ser lei posterior e mais benéfica, revogou 
tacitamente o art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/90. A progressão de regime prevista na Lei de Tortura deveria 
se estender a todos os demais condenados por outros delitos hediondos e assemelhados (outro 
argumento foi o princípio da igualdade); 2ª) O art. 1º, § 7º, da Lei 9455/97 é norma especial, que 
somente pode ser aplicada aos delitos de tortura. 
 
O STF, por meio da Súmula 698, decidiu no sentido da segunda corrente. A situação 
ficou assim: condenados por tortura – regime inicial fechado, com direito a progressão de regime; 
condenados por outros delitos hediondos e assemelhados – regime integralmente fechado (sem 
possibilidade de progressão). 
 
Ocorre que em 23.02.06, no julgamento do HC n. 82.959, o STF, por maioria de 6x5 
votos reconheceu a inconstitucionalidade do § 1º, do artigo 2º, da Lei 8072/90 que veda a progressão 
de regime aos condenados por crimes hediondos e assemelhados. Decidiu que os Juízes das Execuções 
podem conceder a progressão de regime aos condenados por crimes hediondos e assemelhados, desde 
que preenchidos os requisitos legais. 
 
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Agora os crimes hediondos e assemelhados seguem a regra geral do art. 33, do CP. O 
regime pode ser inicialmente aberto (dependendo da pena), e é cabível a progressão de regime. 
 
Com a decisão do HC 82.959, caiu por terra a Súmula 698, do STF (aliás, nos votos 
vencedores, alguns Ministros fundamentaram que a tortura é o pior dos crimes hediondos e 
assemelhados, porque fere a dignidade humana da vítima. Assim, não é razoável e isonômico permitir 
progressão de regime no crime de tortura e não permitir nos demais casos. Além disso, o artigo 1º, § 
7º da Lei de Tortura é posterior e mais benéfico que o artigo 2º, § 1º, da Lei dos Crimes Hediondos, 
devendo ser aplicado, sob pena de violação do artigo 2º, § único do CP). 
 
ATENÇÃO: embora a decisão tenha sido proferida em controle difuso de 
constitucionalidade (cujos efeitos são apenas “inter partes”) o STF está a conferir efeito vinculante e 
“erga omnes” ao julgado, para estendê-lo “a todas as decisões ainda passíveis de ser aplicada a 
progressão de regime (todas as execuções ainda não encerradas ou por se iniciar). É a chamada 
“abstrativização do controle difuso” (Frede Didier Junior) que vem sendo aplicada em alguns julgados 
do STF. 
 
Em razão desse efeito vinculante e “erga omnes”, torna-se cabível Reclamação ao STF, 
se o Juiz da Execução não cumprir a decisão proferida no HC 82959. 
 
E foi isso que ocorreu recentemente. Foi ajuizada a Reclamação n. 4335/AC, contra o 
Juiz das Execuções da Comarca de Rio Branco-AC que estava indeferindo pedido de progressão de 
regime dos condenados a crimes hediondos daquela Comarca. O Min. Gilmar Mender admitiu a 
Reclamação (julgamento realizado em 1º.2.2007) reconhecendo que o Juiz das Execuções estava 
desrespeitando a eficácia “erga omnes” dada pelo STF à decisão proferida no HC 82.959. Determinou 
ao Juízo das Execuções proferir nova decisão para verificar se os requerentes preenchem ou não os 
requisitos para a progressão (podendo determinar, desde que fundamentadamente, o exame 
criminológico). 
 
Após o voto do Min. Gilmar Mendes, o Min. Eros Grau pediu vistas. 
 
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Consignou o Tribunal que a jurisprudência do STF evolui e vem admitindo, em certos 
casos, efeito vinculante e “erga omnes” em decisões proferidas em controle difuso de 
constitucionalidade. 
 
SÚMULA 700 – 
 
Antes da Lei de Execução Penal, as decisões do Juiz das Execuções eram 
passíveis de Recurso em Sentido Estrito (art. 581, do CPP). 
 
A Lei 7210/84 (Lei de Execuções Penais), no artigo 197, passou a prever 
Recurso de Agravo contra tais decisões (as decisões do art. 581, IX, XI, XII, XVII, XIX, XX, 
XXI, XXII, XIII e XXIV passaram a ser passives de agravo). 
 
Como era recurso inexistente até então no processo de execução penal, a Lei 
somente se referiu a “Agravo” e não trouxe o prazo de sua interposição surgiu discussão, 
formando-se duas correntes: 
 
a) aplica-se, por analogia, o prazo de 10 dias para o Agravo de Instrumento do 
CPC; 
b) aplica-se o prazo do Recurso em Sentido Estrito, que era o recurso antes 
cabível – 5 dias (art. 586, do CPP). Foi esse entendimento que prevaleceu na Súmula 700. 
do STF. 
 
 
SÚMULAS 702 E 703 – CRIMES DE PREFEITOS 
 
Súmula 702 – O art. 29, X, da CF/88 dispõe que os prefeitos são julgados pelos 
Tribunais de Justiça, mas não especifica em quais crimes a competência é do TJ. O STF então entende 
que a competência do TJ para julgar prefeitos é apenas nos casos de infrações da competência daCURSO DE ATUALIZAÇÃO JURÍDICA 
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Justiça Comum Estadual. Se o crime for da Justiça Comum Federal o prefeito é julgado pelo TRF; no 
caso de crime eleitoral é julgado pelo TRE. 
 
Súmula 703 – O crime não deixa de existir porque se encerrou o mandato do prefeito. 
Além disso, a qualidade de prefeito não é condição para a ação penal. Assim sendo, o prefeito continua 
responsável pelos crimes do Decreto-Lei 201/67, cometidos durante a vigência do mandato, mesmo 
após a extinção desse mandato. 
 
 
SÚMULA 705 – APELAÇÃO: CONFLITO ENTRE DEFENSOR E RÉU 
 
Pode ser que ocorra divergência entre o réu e o defensor quanto à conveniência de 
apelar ou não. Há dois entendimentos na doutrina e jurisprudência quanto á solução que deve ser 
adotada nesse caso: 
 
a) deve prevalecer a vontade do réu, porque a apelação é um direito disponível, que 
pode ser renunciado pelo acusado; além disso, se ele pode o mais, que é destituir o defensor, podem o 
menos, que é renunciar ao recurso. Assim, se o réu renunciar expressamente ao recurso, não pode o 
defensor apelar. Se apelar, ela não pode ser conhecida. Nesse sentido a Súmula 143 das Mesas de 
Processo Penal da USP. 
b) deve prevalecer a vontade do defensor técnico, por ser a pessoa que tem 
conhecimentos para avaliar as vantagens ou desvantagens do recurso para o acusado. O direito de 
liberdade e de ampla defesa são interesses que devem ser preservados em qualquer hipóteses. Para 
essa corrente, mesmo havendo renúncia do acusado, o defensor pode apelar, devendo a apelação ser 
conhecida e julgada. Este foi o entendimento que prevaleceu no STF – Súmula 716, do STF. 
 
Se ocorrer o contrário, ou seja, se o réu desejar recorrer e o defensor renunciar ao 
recurso e se recusar a interpor a apelação, o acusado tem o direito de ser intimado a constituir novo 
defensor. Não pode o juiz nomear-lhe um defensor sem antes lhe dar a possibilidade de constituir 
outro, sob pena de nulidade do julgamento da apelação. Apenas se o réu não constituir outro 
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advogado em lugar do que renunciou, o juiz poderá nomear de ofício outro defensor – Súmula 718, do 
STF. 
 
SÚMULA 706 – 
 
A prevenção é critério residual de fixação de competência. É utilizada quando restarem 
dois ou mais juízes igualmente competentes para o processo (art. 83, do CPP). No caso de vários 
juízes igualmente competentes, fica prevento aquele que praticou por primeiro algum ato ou medida 
relativa ao processo, ainda que antes do oferecimento da denúncia (decisão sobre concessão de fiança, 
decretação de prisão preventiva ou temporária, autorização de interceptação telefônica etc). 
 
Essa competência é relativa. Em outras palavras: a incompetência por prevenção não 
pode ser decretada de ofício pelo juiz; deve ser argüida pela parte interessada, no momento oportuno 
(defesa prévia ou preliminar) sob pena de preclusão e depende de comprovação de prejuízo. 
 
Caso contrário a questão fica preclusa e o prorroga-se a competência do juiz que não era 
prevento, tornando-se ele competente para o processo. 
 
É competência relativa porque sua fixação não é feita por normas constitucionais. Sua 
violação não acarreta, portanto, violação constitucional. 
 
SÚMULA 709 – INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO 
 
A contagem do prazo prescricional inicia-se no dia em que o crime se consumou, ou no 
caso de tentativa ou crime permanente, no dia em que cessou a execução ou a consumação do delito 
(art. 111, do CP). 
 
Esse prazo se interrompe pelo recebimento da denúncia ou queixa (art. 117, I, do CP). 
Se o juiz rejeita a denúncia ou queixa o prazo não se interrompe, portanto, ou seja, continua a correr. 
 
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Se o Tribunal der provimento ao Recurso em Sentido Estrito (581, I, CPP) interposto 
pelo MP ou querelante contra a decisão de rejeição da denúncia, tal decisão já equivale ao recebimento 
da denúncia. 
 
Só não valerá como interrupção da prescrição se a decisão do juiz foi nula. Ex. decisão 
proferida por juiz absolutamente incompetente. 
 
 
SÚMULAS 710 E 310 – CONTAGEM DO PRAZO DA INTIMAÇAO 
 
 
Como o CPP não estabelece regras claras sobre a contagem do prazo nas intimações, 
sustentava-se que tal prazo deveria ser contado da juntada da intimação aos autos, aplicando-se por 
analogia o CPC. 
 
O STF, entretanto, decidiu que no processo penal o prazo inicia-se da intimação e não da 
juntada aos autos da intimação. Não se inclui na contagem o dia do começo (art. 798, § 1º, do CPP). 
Assim, se a intimação ou a publicação da intimação ocorrer na sexta-feira o prazo somente se inicia na 
segunda-feira ou no primeiro dia útil – Súmula 310, do STF. 
 
SÚMULA 711 – SUCESSÃO DE LEIS E CRIMES CONTINUADO E PERMANENTE. 
 
Se antes de se encerrar a série de crimes da continuidade delitiva, ou antes de se encerrar o crime 
permanente, houver alteração da lei penal, será aplicada a lei penal nova, ainda que seja mais 
desfavorável ao acusado. 
 
Será aplicada a lei nova, mesmo que ela seja pior do que a lei que vigorava quando começou a série 
de crimes ou o crime permanente. 
 
Não se aplica a lei do começo do crime, mas a lei do final do crime. 
 
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Ex. durante a extorsão mediante seqüestro, o artigo 159, do CP é alterado, para aumentar a pena 
de 8 a 15 anos de reclusão para 10 a 20 anos de reclusão. Será está lei nova (leia-se: pena nova) 
que será aplicada. 
 
Ex. durante uma série de 5 furtos simples, a lei é alterada e a pena é aumentada para 3 a 10 anos. 
Esta nova lei será aplicada ao crime continuado (aos 5 crimes praticados em continuidade delitiva). 
 
SÚMULA 712 – DESAFORAMENTO: INTIMAÇÃO DA DEFESA 
 
O desaforamento é cabível nas hipóteses previstas no art. 424 e parágrafo único, do CPP. Pode ser 
provocado mediante representação do Juiz ou requerimento das partes (do Ministério Público ou 
réu). 
 
Será nula a decisão do Tribunal que determinar o desaforamento, sem permitir à defesa manifestar-
se sobre ele. É que o desaforamento sem a oitiva da defesa viola o princípio constitucional do 
contraditório e da ampla defesa. 
 
SÚMULA 713, DO STF – EFEITO DEVOLUTIVO DA APELAÇÃO NO JÚRI. 
 
O art. 593, III, a a d, do CPP prevê quatro hipóteses de apelação da decisões do Júri (nulidade 
posterior à pronúncia; sentença do juiz contrária à letra da lei ou à decisão dos jurados; erro ou 
injustiça na aplicação da pena ou medida de segurança; decisão dos jurados manifestamente 
contrária à prova dos autos). 
 
Trata-se de apelação limitada, restrita ou vinculada. Na petição de interposição da apelação, a parte 
deve mencionar expressamente o motivo da apelação. E nas razões de apelação a parte fica 
vinculada ao motivo indicado na petição de interposição, não podendo alegar outro motivo diverso. 
Ex. se a parte indicar na petição nulidade posterior à pronúncia, nãopoderá sustentar na 
fundamentação que a decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos. 
 
E o Tribunal, ao julgar, fica vinculado ao motivo indicado na interposição da apelação, não podendo 
ampliar o campo de análise do recurso, sob pena de violação da soberania dos veredictos (art. 5º, 
XXXVIII, c, CF/88). 
 
Se, porém, a parte indicou mais de um fundamento na interposição da apelação o Tribunal deverá 
analisar ambos ou todos. Veja que a Súmula menciona “fundamentos” o que significa que a parte 
pode alegar mais de um. 
 
 
SÚMULA 714 – ESPÉCIE DE AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA DE SERVIDOR PÚBLICO. 
 
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O artigo 145, § único c/c artigo 141, II, do CP dispõem que nos crimes contra a honra praticados 
contra funcionário público em razão de suas funções, a ação depende de representação – trata-se 
de ação penal pública condicionada à representação do funcionário ofendido. 
 
Ocorre que o STF decidiu que nesses crimes a ação pode ser pública condicionada á representação 
ou pode ser ação privada (pode o MP oferecer denúncia ou o funcionário oferecer queixa – caso de 
legitimidade concorrente. Ambos têm legitimidade para a propositura da ação penal). 
SÚMULA 715 – PRAZO MÁXIMO DE CUMPRIMENTO DE PENA 
 
O artigo 75, do CP dispõe que o prazo máximo de cumprimento de pena é de 30 anos (no caso de 
condenação por contravenção o prazo máximo é de 5 anos – Art. 10, da LCP). 
 
O juiz pode condenar a prazo superior (60 anos, 100 anos, 200 anos etc), mas o réu cumprirá no 
máximo 30 anos. 
 
Discutia-se, porém, na doutrina e na jurisprudência, se os prazos para progressão de regime, 
livramento condicional etc, deveria ser calculados com base nos 30 anos, ou com base na pena 
aplicada. 
 
O STF, com a Súmula 715, decidiu: o prazo é calculado sobre a pena aplicada e não sobre o limite 
de 30 anos (esse limite é apenas para cumprimento máximo de pena). 
Ex. se o réu foi condenado a 70 anos, o prazo de 1/6 para progressão de regime será calculado 
sobre os 70 anos e não sobre os 30 anos previstos no art. 75, do CP. 
 
 
SÚMULAS 716 E 717 – EXECUÇÃO PROVISÓRIA 
 
 
Se o réu estiver respondendo ao processo preso, for condenado, e apenas a defesa recorrer 
(recurso exclusivo da defesa) já se pode realizar a execução provisória da pena. Pois se houve 
apenas recurso da defesa, a pena não poderá ser aumentada (a situação do réu não poderá ser 
agravada), em razão do princípio da proibição da reformatio in pejus (art. 617, do CPP). Teremos, 
portanto, duas situações: 
a) Se o juiz condenar o réu no regime semi-aberto ou aberto ele já pode sair da prisão 
e continuar sua pena nesse regime menos grave determinado na sentença; 
b) Se o juiz condenar no fechado, mas antes do julgamento da apelação ele tiver 
cumprido tempo suficiente para passar para o regime semi-aberto, poderá passar. 
Ele não poderá ser prejudicado pela demora do julgamento de sua apelação. 
 
 CURSO DE ATUALIZAÇÃO JURÍDICA 
 Disciplina: Direito Penal e Processo Penal 
 Tema: Súmulas do STF 
 Prof.: Silvio Maciel 
 Data: 16/03/2007 
 
 
 
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Se o condenado estiver em prisão especial (a prisão especial significa local distinto do presídio 
comum ou cela especial, individual ou coletiva para presos especiais, no próprio presídio comum – 
art. 295, §§ 1º a 3º, do CPP) ele também tem direito à execução provisória de sua pena, no caso de 
recurso exclusivo da defesa – Súmula 717, STF. 
 
Conclusão: Presos comuns e especiais têm direito à execução provisória no caso de recurso 
exclusivo da defesa. Se a sentença estiver transitada em julgado para a acusação. 
 
ATENÇÃO: a expressão “execução provisória” também é utilizada para se referir à possibilidade do 
réu ser preso durante pendência de Recurso Extraordinário ou Recurso Especial (ou de agravo 
contra a denegação do RE ou Resp). Para uma corrente é possível o réu ser preso na pendência de 
tais recursos, pois embora a sentença não tenha ainda transitado em julgado, o RE e o Resp não 
têm efeito suspensivo (logo a sentença pode ser executada); para outros, não existe tal 
possibilidade, sob pena de violação do princípio constitucional da presunção de inocência, uma vez 
que a sentença ainda não transitou em julgado. 
 
 
SÚMULAS 718 E 719 – REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA 
 
O regime inicial de pena deve ser fixado de acordo com as regras do artigo 33, § 2º, “a” a “c” 
(inclusive nas condenações por crimes hediondos e assemelhados, uma vez que o STF declarou 
inconstitucional a regime integralmente fechado, previsto no artigo 2º, § 1º, CP). 
Ex. condenado primário e pena não superior a 4 anos – regime inicial aberto 
Ex. condenado primário e pena superior a 4 anos, mas não superior a 8 anos – regime inicial semi-
aberto. 
 
Se o juiz quiser fixar regime inicial mais grave do que determina o CP, precisará fundamentar, 
motivar tal decisão (Súmula 719, do STF); e não serve como fundamentação a gravidade abstrata 
do crime (Súmula 719, do STF). A gravidade abstrata do crime já é levada em conta pelo legislador, 
ao cominar pena mais grave para tais delitos. Por isso que, por exemplo, a pena do roubo é maior 
do que a pena do furto. Resumindo: a gravidade abstrata do crime já é levada em conta na pena 
abstrata cominada para esse crime. Não pode, portanto, servir de argumento também para fixar 
regime inicial de pena mais grave (bis in idem). 
 
O juiz pode fixar regime inicial mais grave do que o determinado pelo CP se as circunstâncias 
judiciais (art. 59, CP) forem desfavoráveis ao condenado. Ex. péssimos antecedentes criminais; 
conseqüências gravíssimas do crime etc. 
 
SÚMULA 721 – COMPETÊNCIA DO JÚRI. 
 
Essa Súmula estabelece duas regras: 
 
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a) A competência por prerrogativa de função prevista na CF (competência dos Tribunais de Justiça e 
dos Tribunais Superiores) prevalece sobre a competência do Júri. 
Ex. Se um prefeito comete homicídio será julgado pelo Tribunal de Justiça e não pelo Tribunal do 
Júri. 
Ex. se um Juiz ou Promotor praticar um homicídio serão julgados pelo respectivos Tribunal de 
Justiça e não pelo Tribunal do Júri. 
Ex. Se um desembargador ou um Governador comete um homicídio, será julgado pelo STJ (art. 
105, I, a, da CF/88) e não pelo Tribunal do Júri. 
 
b) A competência do Júri prevalece sobre a competência por prerrogativa de função estabelecida 
exclusivamente na Constituição Estadual. 
 
Ex. se uma autoridade estadual tem foro por prerrogativa de função previsto na Constituição 
Estadual e comete um homicídio, será julgado pelo Tribunal do Júri. 
 
O fundamento da Súmula é simples: a norma de uma Constituição Estadual não pode prevalecer 
sobre norma da Constituição Federal. 
 
OBSERVAÇÃO: O prof. Thales Tácito fala no “princípio da simetria do foro federal para agentes 
políticos com similitude de funções (STF – HC 78.168/PB, que foi precedente da Súmula 721). 
 
Assim, se o deputado federal que comete um homicídio tem direito a ser julgado pelo STF e não 
pelo Júri, um deputado estadual que cometa um homicídio tem direito a ser julgado pelo TJ e não 
pelo Tribunal do Júri (princípio da simetria constitucional). 
 
A interpretação da Súmula 721,para ele, é a seguinte: a competência do Tribunal do Júri prevalece 
sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido, exclusivamente, na Constituição Estadual, 
ressalvados os casos de simetria de foro federal para agentes com similitude de funções. 
 
SÚMULA 723 – SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. 
 
 
A suspensão condicional do processo – art. 89, da Lei 9099/95 – é cabível nas infrações 
cuja pena mínima cominada (abstrata) não seja superior a 1 ano. 
 
No caso de crime continuado, o juiz aplica a pena de um dos crimes (no caso de crimes idênticos) 
ou a pena do crime mais grave (se crimes diversos), aumentada, em qualquer caso, de 1/6 a 2/3 
(no caso de crime continuado genérico – art. 71, “caput”, CP) ou aumentada até o triplo (no caso de 
crime continuado específico – art. 71, § único, CP). 
 
Para se saber qual é a pena mínima abstrata no caso de crime continuado, soma-se a pena mínima 
do crime mais grave (do crime mais grave porque é este que o juiz tem de considerar na aplicação 
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da pena no crime continuado), com o aumento mínimo de 1/6. Pena mínima + aumento mínimo = 
menor pena possível. Assim sabe-se qual é a pena mínima abstrata daquele determinado crime 
continuado. Se não for superior a um ano, é cabível a suspensão condicional do processo; se for 
superior a 1 ano não é cabível. 
 
Ex. o agente pratica em continuidade delitiva, dois delitos de violação de domicílio simples (art. 150, 
“caput”, do CP – pena: detenção de 1 a 3 meses) e um delito de violação de domicílio qualificado 
(art. 150, § 1º, do CP – pena: detenção de 6 meses a 2 anos) 
Somando-se a pena mínima do crime mais grave – 6 meses – com o aumento mínimo de 1/6, 
chega-se a pena de 7 meses. 
 
Conclusão: é cabível suspensão condicional do processo aos três crimes de violação de domicílio 
praticados em continuidade delitiva. 
 
OBS: se os crimes forem idênticos, soma-se a pena mínima de um deles, com o mínimo de 1/6. 
 
No caso de concurso formal e crime continuado aplica-se a Súmula 243, do STJ 
 
Concurso formal perfeito (art. 70, do CP): faz-se o mesmo raciocínio do crime continuado. Soma-se 
a pena mínima da infração mais grave (ou de qualquer infração, se forem idênticas), com o 
aumento mínimo de 1/6; 
Concurso material (ou concurso formal imperfeito) somam-se as penas mínimas de todos os delitos. 
Se a soma não ultrapassar um ano é cabível a suspensão; se ultrapassar não é cabível. Ex. uma 
violação de domicílio qualificada (art. 150, § 1º, CP) + uma lesão simples (art. 129, CP) + uma 
injúria (art. 140, do CP) → 6 meses + 3 meses + 1 mês = 10 meses – cabível a suspensão. 
ATENÇÃO: nesse exemplo não é cabível a transação porque a soma das penas máximas dos três 
delito ultrapassa 2 anos.

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