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Criminologia III

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Prévia do material em texto

Desenvolvimento histórico 
da criminologia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Descrever a origem da criminologia científica.
 � Distinguir a etapa criminológica pré-científica da científica.
 � Reconhecer a escola cartográfica.
Introdução
A história da criminologia pode ser dividida em quatro períodos: o primeiro 
período se estende da Antiguidade aos precursores da antropologia cri-
minal; o segundo período compreende a antropologia criminal; o terceiro 
período é o da sociologia criminal; o último, por sua vez, é referente à 
política criminal.
Neste capítulo, você vai estudar o desenvolvimento histórico da 
criminologia. Você vai conhecer a origem da criminologia científica, 
distinguindo a etapa criminológica pré-científica da científica e, por fim, 
reconhecendo e entendendo a escola cartográfica.
A origem da criminologia científica
A divisão da criminologia em quatro períodos distintos é antecedida, e muito, 
pelo Código de Hamurabi. O Código de Hamurabi, da Babilônia, remonta a 
um dispositivo que punia o crime de corrupção praticado por funcionários 
públicos. Antes disso, o mestre Confúcio já dava demonstrações de saber o que 
era a pena aplicada ao delito, que se tornaria um dos pilares da criminologia.
O Código de Hamurabi, datado de 1.700 a.C., tem como marca principal a adoção da 
lei de Talião (olho por olho, dente por dente) (LYRA, 1980).
É a lei, registrada de forma escrita (expressa), mais antiga da história da humanidade. 
Do latim lex talionis, lei de talião ou pena de talião, consiste na rigorosa reciprocidade 
do crime e da pena — hoje, de forma apropriada, chamada de retaliação. Essa lei é 
ainda muito utilizada Oriente Médio.
Entre os gregos, Alcmeon, de Crotona, no distante séc. VI a.C., foi o 
primeiro a dissecar animais para estudar as qualidades biopsíquicas dos de-
linquentes, sendo que depois pesquisou o cérebro humano para aplicar seus 
experimentos. Já Hipócrates, considerado o pai da medicina, pensava e aduzia 
que todo o crime, assim como o vício, é fruto da loucura. Você pode observar 
que nesse período já surgia a ideia da inimputabilidade do homem insano. 
Sócrates, por meio de seu discípulo Platão, acreditava “[...] que se devia en-
sinar aos indivíduos que se tornavam criminosos como não reincidirem no 
crime, dando a eles a instrução e a formação de caráter de que precisavam” 
(SOARES, 1969, p. 66).
Assim, você pode considerar alguns aspectos relativos ao conceito de 
criminologia. A criminologia é uma ciência empírica que estuda o crime, o 
delinquente, a vítima e o controle social do delito. Ela tem a premissa de analisar 
os fatos e a prática, é uma ciência interdisciplinar que se socorre de outras 
ciências como a biologia, a psicologia, a sociologia e a política (SOARES, 1969).
Nos primórdios, a criminologia tinha o objetivo de explicar e traduzir a 
origem da delinquência, utilizando o método científico causal e explicativo, 
por meio do qual tentava chegar à causa do efeito produzido. As teorias mais 
antigas entendiam que, se a causa do delito fosse exterminada, acabaria também 
o efeito, noção que se tornou ineficaz, como você pode notar se considerar 
uma perspectiva histórica (SOARES, 1969).
As teorias sobre a criminologia têm início com Cesare Lombroso e sua obra 
denominada O homem delinquente, de 1876. A obra abordava principalmente 
o delinquente nato. Desde então, a criminologia já foi permeada por várias 
nuances causais. Um dos nomes influentes para essa ciência foi Rousseau, 
que afirmava que a criminologia deve buscar a causa do delito na própria 
sociedade. Lombroso, por sua vez, sustenta que para acabar com o delito é 
necessário achar a causa no próprio delinquente, não no meio.
Desenvolvimento histórico da criminologia2
Com o tempo, no entanto, tanto a corrente sociológica quanto a teoria 
orgânica a respeito do conceito de criminologia fracassaram. Atualmente, 
se verifica que o aspecto biopsicossocial é o mais relevante. A criminologia 
contemporânea evoluiu bastante e trouxe importantes batalhas teóricas cha-
madas “lutas de escolas” — como a que teve lugar entre a escola clássica e 
a positivista. A criminologia é dividida em escola clássica (Beccaria, século 
XVIII), escola positiva (Lombroso, século XIX) e escola sociológica (final 
do século XIX) (SOARES, 1969).
A teoria de Lombroso é considerada o início da escola positivista. Já a 
escola filosófica é ditada por Augusto Comte. Essa escola italiana crítica a 
escola clássica, representada por nomes como Beccaria e Bentham, no que 
diz respeito à utilização de uma metodologia lógico-dedutiva, metafísica, na 
qual não existia a observação empírica dos fatos (SOARES, 1969).
A criminologia atual, como outras ciências, tem tentado eliminar o con-
ceito de causa, ficando primordialmente com a ideia de fator. Isso acarreta 
o reconhecimento não apenas de uma causa, mas de fatores que possam 
desencadear o efeito criminoso, como fatores biológicos, psíquicos, sociais. 
Uma das funções principais da criminologia é estabelecer uma relação estreita 
entre três disciplinas consideradas fundamentais: a psicopatologia, o direito 
penal e a ciência político-criminal. 
A criminologia é uma ciência moderna que interliga várias ciências, como 
você já viu aqui. A partir da experimentação desse saber multidisciplinar, 
surgem teorias (um corpo de conceitos sistematizados que permitem conhecer 
um dado domínio da realidade).
Como ciência que é, a criminologia é dotada de objeto próprio e metodologia 
e necessita de experimentos par colocar em prática suas ideias. Ainda que 
interdisciplinar, é uma ciência autônoma, que não se confunde com nenhuma 
das áreas que contribuem para a sua formação (SHECAIRA, 2008).
A criminologia tem como objeto:
1. o crime;
2. o criminoso — sujeito que se envolve numa situação da qual deriva 
o crime;
3. os mecanismos de controle social (formais e informais) que atuam 
sobre o crime;
4. a vítima (que às vezes pode ter inclusive certa culpa no evento).
A criminologia possui importância pelo simples fato de que não existe 
sociedade sem crime. A criminologia como ciência contribui para o cresci-
3Desenvolvimento histórico da criminologia
mento do conhecimento científico com uma abordagem do fenômeno criminal 
(SHECAIRA, 2008). 
O fato de a criminologia ser uma ciência não significa que ela esteja alheia 
à sua função na sociedade. Pelo contrário, a criminologia constitui também 
um princípio de justiça social. Ela tem como finalidade, entre outras, apurar 
a etiologia do crime, fazendo uma análise da personalidade e da conduta do 
criminoso para que ele seja punido na justiça. Ainda, a criminologia visa a 
identificar as causas determinantes do fenômeno criminógeno para auxiliar 
na prevenção da criminalidade, permitindo que aquele que cometeu o crime 
possa ser ressocializado (SHECAIRA, 2008). 
Os estudos da criminologia se dividem em dois ramos que não são inde-
pendentes, e sim interdependentes. São eles:
1. criminologia clínica (bioantropológica) — utiliza-se do método indivi-
dual, analisando casos e experimentos envolvendo a indução;
2. criminologia geral (sociológica) — utiliza-se do método estatístico (de 
grupo, estatístico, sociológico, histórico), que enfatiza o procedimento 
de dedução. 
A criminologia é uma ciência empírica e esse empirismo foi trazido por Cesare Lom-
broso, renomado médico italiano e diretor de um manicômio. Ele foi um dos estudiosos 
pioneiros na catalogação dos delitos e delinquentes com base na medicina legal e na 
psicologia. A sua obra O homem delinquente, de 1876, foi tida como revolucionária na 
área de direito penal, psicologia e medicina legal. Hoje em dia, muitas das teorias de 
Lombroso estão comprovadamente ultrapassadas. Todavia, não se pode desconsiderar 
sua obra, visto que ela caracterizou e influenciou, em sua época, um grande avanço 
na busca das causas que levam o homem a delinquir.
Etapas criminológicas: pré-científicae científica
As etapas criminológicas pré-científica e científica compreendem as escolas 
criminológicas clássica, científica e cartográfica. Cada escola, à sua maneira, 
ofereceu uma grande contribuição para a história da criminologia atual. Nesta 
seção, você vai conhecer a escola clássica e a científica. Na seção seguinte, 
vai estudar a escola cartográfica.
Desenvolvimento histórico da criminologia4
Etapa pré-científica da criminologia
Essa etapa corresponde ao período humanista, compreendido entre 1750 e 
1850. Ele é marcado pelas ideias dos pensadores que contestavam os ideais 
absolutistas, em uma reação à arbitrariedade da administração da justiça 
penal e ao caráter atroz das penas. Afinal, as leis da época eram permeadas 
de excessos, rigorismo e crueldade, acarretando a aplicação de penas como 
castigos corporais e penas capitais. O Direito servia de instrumento de privi-
légio, delegando aos juízes a possibilidade de julgar o infrator de acordo com 
a sua condição social (BECCARIA, 1999).
As obras de Montesquieu, Voltaire, Rousseau e D’Alembert foram im-
portantes para o humanismo, uma vez que construíram o próprio alicerce 
do período humanitário e o início da radical transformação liberal e huma-
nista do Direito Penal. Nesse período é que teve início a escola clássica da 
criminologia. 
Na etapa pré-científica, o crime é analisado da seguinte forma:
1. fato isolado;
2. fato individual;
3. mera infração de lei (causalismo e tipicidade formal, mera adequação 
e subsunção do fato à norma);
4. mera contrariedade à norma jurídica;
Escola clássica
A escola clássica é baseada na ideia do homem como um ser livre e racional 
que é capaz de refletir, tomar decisões e agir de acordo com essas decisões. Tais 
decisões são pautadas em um cálculo racional das vantagens e desvantagens 
que a ação acarretará. O maior expoente dessa escola foi Cesare Bonesana, 
Marquês de Beccaria, que escreveu um livro intitulado Dos Crimes e das 
Penas (BECCARIA, 1999).
Na sua terminologia, o prazer e a dor são os motores da conduta humana 
(BECCARIA, 1999). Isso significa que, quando o indivíduo está diante da 
possibilidade de cometer um crime, faz um cálculo racional dos benefícios 
esperados (prazer) e confronta-os com os prejuízos (dor) que acredita ter com 
tal prática. Se os benefícios forem superiores aos prejuízos, terá tendência para 
delinquir. Essa é uma ideia básica do utilitarismo, uma corrente filosófica 
heterogênea, hoje esquecida. De acordo com essa corrente, as ações deveriam 
ser avaliadas dependendo do grau, menor ou maior, de felicidade dos sujeitos 
5Desenvolvimento histórico da criminologia
e, de forma geral, dependendo do contributo para a felicidade do maior número 
de pessoas (BECCARIA, 1999).
A escola clássica chegou à conclusão de que esse cálculo não é perfeito do 
ponto de vista racional e que outros elementos podem entrar em jogo. Nesse 
sentido, existem diferenças entre as pessoas e suas particularidades. A escola 
clássica também traz a ideia de que compreender o fenômeno criminal é com-
preender a relação entre benefícios e prejuízos resultantes da prática do delito. 
Tal escola acredita que esse processo de escolha racional é igual em todas as 
pessoas, com algumas exceções, como é o caso das crianças ou dos loucos.
Assim, para a escola clássica, a responsabilidade criminal do delinquente 
levaria em conta sua responsabilidade moral e se sustentaria pelo livre-arbítrio, 
inerente ao ser humano. Assim, ela parte da premissa de que o homem é um 
ser livre e racional, capaz de pensar, tomar decisões e agir em consequência 
disso (PENTEADO FILHO, 2012). Como afirma Maíllo (2008, p. 63):
Quando alguém encara a possibilidade de cometer um delito, efetua um cálculo 
racional dos benefícios esperados (prazer) e os confronta com os prejuízos (dor) 
que acredita vão derivar da prática do delito; se os benefícios são superiores 
aos prejuízos, tenderá a cometer a conduta delitiva. 
Trata-se, portanto, de um pensamento que deriva do utilitarismo, atual-
mente um tanto esquecido. Essa corrente defendia a ideia de que as ações 
humanas deveriam ser julgadas conforme proporcionavam mais ou menos 
prazer ao indivíduo e contribuíam ou não para a maior satisfação do grupo 
social (PENTEADO FILHO, 2012). 
Na Figura 1, a seguir, você pode ver uma síntese das ideias da escola clássica.
Figura 1. Escola Clássica — princípios e expoentes.
Fonte: Adaptada de Penteado Filho (2012, p. 43).
Desenvolvimento histórico da criminologia6
Assim, a diferença entre a escola positivista e a escola clássica fundamenta-
-se exatamente no pensamento de seus defensores. Ferri, um dos fundadores 
da escola positivista, naquela época possuía ideias avançadas, não procurava 
analisar o delinquente de forma individual. Já a escola clássica analisava o 
delinquente de forma individual, sem a preocupação com as variantes sociais; 
logo, matar era considerado crime e não importavam os fatores que levavam 
à delinquência. O criminoso era banido da sociedade, pouco importando se 
doente mental ou doente social (FERRI, 1996).
Etapa científica da criminologia
A etapa científica tem início no final do século passado e ocorre com o positi-
vismo criminológico, com a escola positivista, por meio de Lombroso, Garófalo 
e Ferri. Ela surgiu como crítica e alternativa à escola clássica, dando lugar a 
uma polêmica da utilização do método científico (o método abstrato e dedutivo 
dos clássicos, baseado no silogismo) frente ao método empírico-indutivo dos 
positivistas (baseado na observação dos fatos, dos dados) (FERRI, 1996).
A escola positivista italiana, no entanto, traz duas direções opostas: a 
antropológica de Lombroso e a sociológica de Ferri, que corroboram a ideia 
etiológica do fator individual e do fator social na explicação do delito (FERRI, 
1996).
Ferri, entre os séculos XVIII a XIX, foi um dos cientistas que mais contri-
buíram para a evolução da criminologia, pois se preocupava com o objeto dessa 
ciência, o crime. Para os teóricos anteriores a Ferri, não havia a preocupação 
com o crime em si. Para muitos, o crime era apenas um fato que contrariava 
e perturbava a ordem da sociedade. De forma alguma se questionava se o 
delinquente tinha ou não a intenção de delinquir.
Após Ferri, todos os conceitos, como fatores, tipos, antijuridicidade e culpa-
bilidade, passaram a ser questionados, pois se analisava o crime e o criminoso, 
tendo cada crime a sua pena diferenciada (FERRI, 1996). Outra preocupação 
foi a questão da pena e da punição: Ferri enfatizava que o tratamento deveria 
ser diferenciado, ou seja, cada crime deveria ter sua pena correspondente.
Escola positivista italiana
A criminologia positiva nasce com Guerry e Quetelet, no último terço do 
século XIX, com a chamada escola italiana ou positivista, cujos principais 
representantes foram Lombroso, Ferri e Garofalo (FERRI, 1996). Lombroso, 
por várias vezes, foi considerado o pai da criminologia contemporânea, e 
7Desenvolvimento histórico da criminologia
isso decorre do fato de sua obra ser uma reação às ideias da escola clássica, 
sobretudo no que diz respeito à utilização da metodologia lógico-dedutiva.
A escola positivista italiana vê na criminalidade um sujeito que age impelido 
por causas que fogem ao seu controle. Assim, essa escola propõe respostas ao 
crime que tendam a proteger a sociedade e a reabilitação do criminoso, sendo 
uma teoria contrária à escola clássica (SANTOS, 1984).
A criminologia positivista contemporânea é claramente herdeira dessa 
tomada de posição. A metodologia racionalista da escola clássica — baseada 
no raciocínio consciencioso, mas desvinculado da observação empírica siste-
mática — parecia manifestamente insatisfatória nos anos de maior influência 
do positivismo face à explicação e à prevenção do crime: para essas funções, 
a metafísica dava melhores resultados e o conhecimento e a técnica humana 
não sofriam grande avanço por essa via (SANTOS, 1984). 
A escola positivista, do ponto devista etiológico, aceita a inserção de fatores biológicos 
na criminalidade, a ponto de afirmar que a criminalidade dos pais pode ser herdada. 
Para Lombroso (1967), não existe nenhum crime que encontre a sua raiz 
em múltiplas causas — incluindo, claro, variantes ambientais e sociais, tais 
como o clima, o abuso de bebidas alcoólicas, a educação ou a profissão. 
Lombroso afirma que existem diversos tipos de criminalidade e que cada um 
deles responde a um conjunto de causas específicas.
O positivismo sociológico de Enrico Ferri tinha como norte a ideia de 
menos justiça penal e mais justiça social. Ele acreditava na preponderância 
do fator social sobre o fator genético. Para Ferri, as causas do crime eram os 
fatores criminógenos biológicos, físicos e sociais. Ele fazia a classificação 
dos delinquentes em categorias e afirmava que não existe a possibilidade de 
os criminosos serem iguais.
Outro exponente do positivismo jurídico foi Garófalo, que sustentava 
que o crime é sintoma de uma anomalia moral ou psiquiátrica do indivíduo. 
Garófalo defendia a pena de morte e o delito natural, sendo que afirmava a 
existência do delinquente nato, que seria irrecuperável, pois teria uma falha 
moral de caráter. Para os delinquentes naturais, ele defendia a pena de morte. 
Foi Garófalo quem distinguiu a criminologia como ciência — diversa do 
Direito Penal (FERNANDES; FERNANDES, 2002).
Desenvolvimento histórico da criminologia8
Escola cartográfica
Após os ditames do século XIX, as ciências criminais alcançaram certa pro-
jeção, uma vez que aumentou a preocupação com o estudo do fenômeno da 
criminalidade. Os estudiosos passaram, então, a levar em consideração as 
causas dos crimes (PENTEADO FILHO, 2012). 
A escola cartográfica ou estatística moral teve início como contraponto 
ao pensamento abstrato da escola clássica. Está posicionada entre a escola 
clássica e a positiva, e o ponto em comum entre elas é o método utilizado em 
seus estudos. Para a escola cartográfica, o crime é um fenômeno concreto, só 
podendo ser estudado pelo método estatístico, criando mapas geográficos da 
criminalidade, mapeando o crime. Na escola cartográfica, criou-se a curva 
agregada da idade para verificar o ápice da criminalidade, que se daria por 
volta dos 23 anos. 
Os principais representantes da escola cartográfica são Adolphe Quetelet 
e Garry. Segundo Quetelet, o indivíduo se torna um criminoso persistente 
ou se torna um delinquente desistente. Quetelet criou as leis térmicas da 
criminalidade, que tiveram grande influência de Enrico Ferri (considerado 
pai da sociologia criminal) (QUETELET, 1835). Além disso, ele foi respon-
sável pelo conceito novo de “homem médio” e personagem histórico que se 
destacou por alertar o poder público responsável sobre a questão dos crimes 
não comunicados, batizados como “cifra negra” (PENTEADO FILHO, 2012).
Costuma entender-se por “cifra negra” os crimes que não chegam a integrar as esta-
tísticas, por exemplo, por não serem detectados.
Garry e Quetelet sustentavam que o crime é um fenômeno concreto e deve 
ser estudado pelas estatísticas, em oposição ao pensamento abstrato da escola 
clássica. Eles descobriram, por meio do mapeamento do crime (cartografia), 
que o registro anual de crimes em um país permanece constante ao longo 
do tempo, sendo um fenômeno coletivo, constante e regular, regido por leis 
naturais como qualquer outro fenômeno natural. Foi aí que se passou a utilizar 
o método empírico (análise, observação, indução) em vez do lógico (dedutivo).
No ano de 1827, foram publicadas na França as primeiras estatísticas 
modernas sobre a criminalidade, e essas estatísticas foram alvo do interesse 
9Desenvolvimento histórico da criminologia
de renomados investigadores, entre os quais Guerry e, sobretudo, Quetelet 
(QUETELET, 1835). Este último defende o uso das estatísticas oficiais na 
contabilização dos crimes, mas é um defensor muito cauteloso e perfeitamente 
consciente do fenômeno da cifra negra. Ele afirma que é impossível saber a 
soma total dos crimes cometidos num país e vai além, sustenta que: 
O conhecimento sobre as estatísticas do crime e ofensas não terá qualquer uti-
lidade se não admitirmos tacitamente que existe uma relação quase invariável 
entre as ofensas conhecidas e julgadas e a soma total dos crimes cometidos 
que são desconhecidos (QUETELET, 1835, p. 21).
 Como você sabe, nos dias atuais, as estatísticas oficiais são um instrumento 
que possui o poder de contabilizar e organizar os dados de forma racional. 
Nos índices de criminalidade apresentados na estatística francesa entre 1826 
e 1829, acusados e condenados por crimes contra a propriedade ou contra as 
pessoas eram muito parecidos. Na visão de Quetelet, se os crimes dependiam 
unicamente do livre-arbítrio dos indivíduos que os praticavam, o mais lógico 
é que variassem enormemente, mesmo de um ano para o outro. E, no entanto, 
as estatísticas mostravam claramente que não era assim (QUETELET, 1835).
Quetelet produziu um estudo pormenorizado do crime, levando em consi-
deração as regiões e suas características, destacando sempre a influência das 
forças sociais. As conclusões desse trabalho foram as seguintes: 
1. Quetelet estabeleceu algo que ainda hoje ocupa um dos lugares mais 
destacados na discussão teórica da criminologia: as duas variantes que 
mais se correlacionam com a criminalidade são a idade e o gênero — ou 
seja, os jovens e os homens cometem um número desproporcional dos 
crimes praticados numa sociedade;
2. além disso, ele chamou a atenção sobre o importante papel que desem-
penha o fator oportunidade na prática de atos criminosos: as oportuni-
dades para delinquir existentes num país ou região têm influência no 
volume da criminalidade; se as oportunidades aumentarem, o crime 
terá tendência para segui-las.
Para a escola cartográfica, existem fatores produzidos pela natureza que 
afetam o comportamento delitivo, como a condição do tempo. Com esses 
estudos, chegou-se à conclusão de que no inverno as pessoas praticam mais 
crimes contra o patrimônio, porque a vigilância é diminuída durante esse 
período. Já na primavera ocorrem mais crimes contra os costumes. No verão, 
Desenvolvimento histórico da criminologia10
por sua vez, acontecem mais crimes contra as pessoas, já que os indivíduos 
podem se encontrar, com mais facilidade, em estado de irritação; além disso, 
nessa época aumenta o consumo de bebida alcóolica (QUETELET, 1835).
Assim, você pode verificar que a criminologia positivista já havia sido criada 
na Europa em meados do século XIX, sendo consolidada por volta de 1872, com 
a obra de Lombroso, Ferri e Garofalo, pilares da escola positivista ou italiana.
Todavia, o mundo da criminologia muito deve a Adolphe Quetelet por sua 
obra Ensaio de física social (1835), expoente da criminologia inicial. Nessa 
obra, o autor projeta análises estatísticas relevantes sobre criminalidade, in-
cluindo os primeiros estudos sobre “cifras negras de criminalidade” (percentual 
de delitos não comunicados formalmente à polícia e que não integram dados 
estatísticos oficiais). Nessa discussão acerca de quem é o criador da moderna 
criminologia, um aspecto é fundamental: houve forte influência do Iluminismo, 
tanto nos clássicos quanto nos positivistas (PENTEADO FILHO, 2012).
BECCARIA, C. B. Dos delitos e das penas. São Paulo: EDIPRO, 1999.
FERNANDES, N.; FERNANDES, V. Criminologia integrada. 2. ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2002.
FERRI, E. Princípios do direito criminal. Rio de Janeiro: Bookseller, 1996.
LOMBROSO, C. Discours d’ouverture.VI CONGRÈS D’ANTHROPOLOGIE CRIMINELLE, 
6. Annalles..., Paris, 1967.
LYRA, R. Novo direito penal: introdução. Rio de Janeiro: Forense, 1980.
MAÍLLO, A. S. Introdução à criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
PENTEADO FILHO, N. S. Manual esquemático de criminologia. São Paulo: Saraiva, 2012.
QUETELET, A. Sur l’homme et le développement de ses facultés ou essai de physique 
sociale. Paris: Bachelier, 1835.SANTOS, J. C. dos. As raízes do crime: um estudo sobre as estruturas e as instituições 
da violência. Rio de Janeiro: Forense, 1984.
SHECAIRA, S. S. Criminologia. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
SOARES, O. A justiça e a criminalidade. [s.l.]: Júris libertatis, 1969.
Leitura recomendada
GÓMEZ SERRANO, A. Historia de la criminología en España. Madrid: Editorial Dykinson, 2007.
11Desenvolvimento histórico da criminologia
http://ouverture.vi/
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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