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INSTITUTO DAMÁSIO DE DIREITO – IDD FACULDADE IBMEC SP CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL LÍVIA FORNACIARI MARCOS ASPECTOS DO INTITUTO SUMULAR NO NCPC E BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA SÚMULA 375 STJ FRENTE AO RESP: 956943 PR 2007/0124251-8 São Paulo – SP 2020 i INSTITUTO DAMÁSIO DE DIREITO – IDD FACULDADE IBMEC SP CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL LÍVIA FORNACIARI MARCOS ASPECTOS DO INTITUTO SUMULAR NO NCPC E BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA SÚMULA 375 STJ FRENTE AO RESP: 956943 PR 2007/0124251-8 Monografia apresentada ao Instituto Damásio de Direito – IDD da Faculdade IBMEC SP, como exigência parcial para obtenção do título de Especialista em Direito processual civil, sob orientação do professor Ronny Max Machado. São Paulo – SP 2020 ii LÍVIA FORNACIARI MARCOS ASPECTOS DO INTITUTO SUMULAR NO NCPC E BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA SÚMULA 375 STJ FRENTE AO RESP: 956943 PR 2007/0124251-8 TERMO DE APROVAÇÃO Esta monografia apresentada no final do Curso de Pós- Graduação Lato Sensu em (Nome do Curso), no Instituto de Damásio de Direito da Faculdade IBMEC SP, foi considerada suficiente como requisito parcial para obtenção do Certificado de Conclusão. O examinado foi aprovado com a nota . São Paulo, 31 de março de 2020. iii TERMO DE RESPONSABILIDADE Eu, Lívia Fornaciari Marcos, acadêmica do curso de Direito Processual Civil, orientado pelo professor Ronny Max Machado, declaro para os devidos fins, que o Trabalho de Conclusão de Curso atende as normas técnicas e científicas exigidas na elaboração de textos, previstas no Manual para Elaboração de Trabalhos Acadêmicos. As citações e paráfrases dos autores estão indicadas e apresentam a origem da idéia do autor com as respectivas obras e anos de publicação. Caso não apresente estas indicações, ou seja, caracterize crime de plágio, estou ciente das implicações legais decorrentes deste procedimento. O Código Penal em vigor, no Título que trata dos Crimes Contra a Propriedade Intelectual, dispõe sobre o crime de violação de direito autoral – artigo 184 – que traz o seguinte teor: Violar direito autoral: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. E os seus parágrafos 1º e 2º, consignam, respectivamente: §1º Se a violação consistir em reprodução, por qualquer meio, com intuito de lucro, de obra intelectual, no todo ou em parte, sem autorização expressa do autor ou de quem o represente, (...): Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, (...). §2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, empresta, troca ou tem em depósito, com intuito de lucro, original ou cópia de obra intelectual, (...), produzidos ou reproduzidos com violação de direito autoral. (Lei n.º 9.610, de 19.02.98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais, publicada no D.O.U. de 20.02.98, Seção I, pág. 3). Declaro, ainda, minha inteira responsabilidade sobre o texto apresentado no trabalho acadêmico desenvolvido. Paulínia, SP, 31 de março de 2020. Assinatura do Acadêmico(a) iv RESUMO O presente trabalho cuida de revisão bibliográfica a respeito dos aspectos do instituto sumular do Superior Tribunal de Justiça, abordando a origem e a pré-existência de semelhante mecanismo de precedentes na Inglaterra e na Alemanha, e apontando as modificações que o Brasil logrou fazer ao adotar o efeito vinculativo das súmulas. Ato contínuo, discorre sobre as características do instituto em si, de seu tratamento no Código de Processo Civil e no Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, levantando em conta alguns aspectos falhosos constantes de seu texto normativo. Ainda, expõe os elementos jurídicos consideráveis do instituto, lidando com o ativismo judicial praticado pelo STJ na atividade sumular, e uma análise do comportamento do princípio da legalidade, inafastabilidade da jurisdição e do efeito ergma omnes, versus interpartes, frente ao intituto sumular. Adiante, inaugura uma discussão específica sobre a Súmula 375 do Superior Tribunal de Justiça, que dispõe sobre fraude à execução e resulta, porém, na inlcusão de direitos e deveres no instituto de fraude, em pleno exercício de ativismo judicial. Ainda sobre essa Súmula, tece comentários acerca do julgamento do Recurso Especial STJ - REsp: 956943 PR 2007/0124251-8, afetado pelo procedimento do recurso repetitivo, cujos votos apreciam entendimento divergente da Súmula, todavia cedem à sua aplicação por diversas razões, em evidente contradição. Por fim, elabora breves considerações acerca do risco da existência do instituto sumular no Brasil, bem como os possíveis riscos pendentes de sua inexistência. Palavras-chave: Súmula STJ; Súmula 375 STJ; REsp: 956943 PR 2007/0124251-8; Divergência de entendimento sumulado; Ativismo judicial; Riscos do entendimento sumulado e do não sumulado; Apropriação cultural: commow law e musterverfahren; Distinguishing; Súmula e princípios fundamentais; v SOMMARIO Il presente lavoro si occupa di una revisione bibliografica relativa agli aspetti dell'istituto di sintesi della Corte di giustizia superiore, affrontando l'origine e la preesistenza del meccanismo simile di precedenti in Inghilterra e Germania, e sottolineando i cambiamenti che il Brasile è riuscito a fare quando ha adottato l'effetto vincolante delle panoramiche. Continuando ad agire, discute delle caratteristiche dell'istituto stesso, del suo trattamento del codice di procedura civile e dei regolamenti interni della Corte di giustizia superiore, tenendo conto di alcuni aspetti spesso imperfetti del suo testo normativo. Tuttavia, espone i notevoli elementi giuridici dell'istituto, che si occupano dell'attivismo giudiziario praticato dallo STJ nell'attività sommaria, e un'analisi del comportamento del principio di legalità, incapacità della giurisdizione e dell'effetto ergma omnes, rispetto agli interpartes, di fronte al titolo di sintesi. In seguito, inaugura una discussione specifica sul precedente 375 della Corte di giustizia superiore, che prevede l'esecuzione di frodi e risultati, tuttavia, nell'inclusione di diritti e doveri nei confronti dell'istituto di frode, nel pieno esercizio dell'attivismo giudiziario. Nonostante questo sommario, commenta la sentenza del ricorso speciale STJ - REsp: 956943 PR 2007 / 0124251-8, influenzata dalla procedura dell'appello ripetitivo, i cui voti apprezzano la comprensione divergente del sommario, ma rifiutano la sua applicazione per diversi motivi, in contraddizione evidente. Infine, elabora brevi considerazioni sul rischio dell'esistenza dell'istituto di sintesi in Brasile, nonché sui possibili rischi in attesa della sua inesistenza. Parole chiave: Riepilogo STJ; Precedente 375 STJ; REsp: 956943 PR 2007 / 0124251-8; Divergenza di comprensione sintetica; Attivismo giudiziario; Rischi di comprensione sintetizzata e non riepilogativa; Appropriazione culturale: legge del potere e musterverfahren; distinguendo; Riepilogo e principi fondamentali; vi SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 1 1. INSTITUTO SUMULAR NO BRASIL ...................................................................................... 3 1.1. SURGIMENTO DO INSTITUTO ................................................................................3 1.2. DIREITO COMPARADO E O INSTITUTO SUMULAR ........................................ 6 2. SÚMULA ..................................................................................................................................... 13 2.1. O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ......................................................................... 13 2.2. REGIMENTO INTERNO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ................ 18 2.2.1. Estrutura interna do Superior Tribunal de Justiça ...................................................... 19 2.2.2. Competência para proposição e elaboração de Súmula ............................................. 20 2.2.3. Votação de Súmula ....................................................................................................... 22 2.2.4. Revisão de enunciado sumulado ................................................................................. 25 3. ELEMENTOS LEGISLATIVOS CONSIDERÁVEIS ............................................................ 28 3.1. ATIVIDADE LEGISLATIVA NO BRASIL E ATIVISMO JUDICIAL ................ 28 3.2. PRINCIPIO DA LEGALIDADE ................................................................................ 33 3.3. ALCANCE ERGA OMNES E NÃO INTERPARTES ............................................. 35 3.4. INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO ............................................................... 37 4. SUMULA 375 STJ: CASO CONCRETO ................................................................................. 41 4.1. COMANDO DE PRINCÍPIO, REGRA OU NORMA? ........................................... 43 4.2. DIVERGÊNCIA DE ENTENDIMENTO: REsp: 956943 PR 2007/0124251-8 ........... 48 5. RISCOS ........................................................................................................................................ 56 5.1. PRECEDENTES NÃO SUMULADOS ...................................................................... 56 5.2. PRECEDENTES SUMULADOS ................................................................................ 57 CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 61 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................. 63 1 INTRODUÇÃO O ordenamento jurídico brasileiro concebeu o Código de Processo Civil de 2015 com um novo instituto normativo vinculante, qual seja, o instituto da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. O instituto sumular não é novidade no sistema brasileiro, posto que já existente desde 1960, quando criado pelo Supremo Tribunal Federal de forma paralela, sem implementação nas leis, pois visava a ser uma maneira de acelarar o procedimento decisório e conferir maior uniformidade às decisões do País. Mais tarde, com o advento do Código de Processo Civil de 1973, o instituto sumular foi inserido no art. 479, cujas súmulas seriam tidas como diretrizes decisórias para toda a classe jurídica, sem efeito obrigatório. Atualmente, porém, o Código de Processo Civil de 2015 estabelece em ser art. 927, IV, que os juízes e tribunais observarão os enunciados de Súmula, que não mais se comportam como mero entendimento, pois se revestem de caráter obrigatório, uma vez que todos os juízes e tribunais são obrigados a julgar conforme o que da Súmula emana acerca da matéria sob judice. Nesse tocante, tem-se que o instituto em voga convalida pleno ativismo judicial praticado pelo Superior Tribunal de Justiça, incorrendo, consequentemente, em evidente verticalização e hierarquização do sistema judiciário brasileiro. A problemática existente no instituto não reside na Súmula com conteúdo interpretativo, caracterizada como mero princípio ou regra, mas, sim, na hipótese de a Súmula, verdadeiramente, criar um direito e uma obrigação. Quando cria direito e obrigação, o enunciado passa a ser classificado como Súmula normativa e, sendo assim, confere direta afronta ao princípio da legalidade e do devido processo legislativo, sobretudo quando observado seu efeito erga omnes, que obriga a todos e não somente as partes do caso paradigma. Visando ao aprofundamento do tema, traz-se à baila a Súmula 375 do STJ, responsável por atribuir ao instituto da fraude à execução a exigência da presença de requisitos subjetivos, não previstos, porém, no Código de Processo Civil de 1973, nem no Código de Processo Civil de 2015 (atual). Nesse aspecto, referido enunciado sumular representa exatamente a hipótese de conteúdo normativo, pois não se trata de regra que estabelece subsunção, nem de princípio, para ponderação. Isso porque a Súmula 375 do STJ dispõe que a fraude à execução somente será reconhecida se houver registro da penhora na matrícula do imóvel, ou se comprovada a má-fé do terceiro adquirente, ao contrário da legislação processual e civil, que prevêm diversas hipóteses, sendo todas elas fundadas em requisitos estritamente objetivos. 2 Na contamão da Súmula 375 do STJ figura o Recurso Especial STJ - REsp: 956943 PR 2007/0124251-8, cujo acórdão é extremamente contraditório. Do julgamento do Recurso Especial afetado pelo rito dos recursos repetitivos, toma-se que, em que pese tenha-se aplicado a Súmula ao caso, a maioria dos Ministros não concorda com o comando que provém dela, por diversas razões. Todavia, ainda que não concordes, com exceção da primeira relatora, todos os demais ministros votaram por aplicar a Súmula ao caso concreto, com o objetivo expresso de manter o entendimento outrora firmado. Desse modo, há que se considerar, finalmente, os benefícios e os malefícios existentes no instituto sumular, principalmente aqueles oriundos de súmulas de conteúdo normativo, como é o caso da Súmula 375 do Superior Tribunal de Justiça. 3 1. INSTITUTO SUMULAR NO BRASIL 1.1. SURGIMENTO DO INSTITUTO No Brasil, o instituto sumular foi criado na década de 1960 pelo Supremo Tribunal Federal como forma de pacificação de sua jurisprudência, através da Comissão de Jurisprudência composta pelos Ministros Gonçalvez de Oliveira, Pedro Chaves e Victor Nunes Leal, sendo este último, o mentor do instituto. Neste momento da história, referido Tribunal alterou seu regimento interno para admitir e dispor a súmula, o processo de escolha dos temas, discussão técnico-jurídica, aprovação, publicação para conhecimento de todos e vigência. O advento do enunciado sumular foi muito criticado e até que sua criação fosse aprovada, muitas tentativas de implementação ocorreram na historia. Nesse tocante, José Tarcízio de Almeida Melo, remete a Haroldo Valadão, jurista que apresentou, em 1961, anteprojeto de lei que se transformaria na Lei de Aplicação das Normas Jurídicas. Segundo o autor, Valadão propunha que, “uma vez afixada interpretação da lei federal pelo Tribunal Pleno, em três acórdãos, por maioria absoluta, torná-la-ia pública, na forma e nos termos determinados no Regimento, em resolução que os tribunais e os juízes deveriam observar enquanto não modificada segundo o mesmo processo, ou por disposição constitucional ou legal superveniente”. Essa tentativa não prosperou. Ainda na década de 1960, por ocasião da elaboração do Anteprojeto do Código de Processo Civil, em 1964, Alfredo Buzaid propôs, em seu art. 518, que a decisão tomada pela maioria dos membros efetivos que integravam o tribunal seria obrigatória. Acrescentou, no art. 519, que o presidente do tribunal, em obediência ao que ficou decidido, baixaria um “assento”, o que seria, em essencia, um rol de assentos, isto é, um rol de sumulas. Entretanto, quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicado, o assento teria força de lei em todo o território nacional. A corrente que reputava inconstitucionais súmulas com caráter obrigatório foi vencedora. Assim, a Lei n° 5.869, de 11de janeiro de 1973, que instituiu o Código de Processo Civil, sucumbiu à supremacia absoluta da lei, já inserida no texto constitucional (art. 5º, II), permitindo a sumula apenas como conteudo informativo, sem força vinculante. Assim, o Código de Processo Civil de 1973 dispunha em seu art. 479. “O julgamento, tomado pelo voto da maioria absoluta dos membros que integram o tribunal, será objeto de súmula e constituirá precedente na uniformização da jurisprudência”. E prosseguia: “Parágrafo único. Os regimentos internos disporão sobre a publicação no órgão oficial das súmulas de jurisprudência predominante”. 4 Note-se que o texto legal constante do Código de Processo Civil de 1973, dispunha a súmula como mero enunciado elucidativo e orientador, porquanto deveria refletir a corrente majoritária do entendimento adotado pelos ministros dos tribunais superiores, não obrigando, todavia, o juiz a quo decidir conforme aquele enunciado. A doutrina entende que essa espécie sumular funcionou, na prática, como bussola de precedentes, auxiliando o advogado na exaustiva pesquisa jurisprudencial (SOUZA, 2012). Visando à celeridade processual, bem como à uniformização jurisprudencial, verifica-se que o instituto sumular foi ampliado e passou a abarcar, com o CPC de 1973, o Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior Eleitoral e o Tribunal Superior do Trabalho, sendo assim, todos os mencionados tribunais puderam exarar enunciados em sumulas. Importante destacar, contudo, que o Superior Tribunal de Justiça é oriundo da Constituição Federal apenas do ano de 1988, portanto, posterior ao Código de Processo Civil de 1973, sendo que sua implementação decorreu do enceramento do Tribunal Federal de Recursos, e da divisão da competência que antes era total do Supremo Tribunal Federal 1 , conforme relatado pelo site do Superior Tribunal de Justiça, in verbis Desde os anos 30, já se discutia a sobrecarga processual do Supremo Tribunal Federal (STF). A criação do TFR na década de 40, em certo sentido, foi uma resposta a essa situação. A partir dos anos 60, acentuou-se o debate, no que passou a ser chamada como “crise do Supremo”. (...) A limitação ao ingresso de recursos extraordinários foi a solução encontrada naquele momento, com a adoção progressiva de óbices ao cabimento do recurso. Conforme a ministra Eliana Calmon, o STF encontrava-se impotente no atendimento às demandas e restringiu tanto o cabimento do extraordinário, que teve, ao final, que fazer concessões: “O regimento interno da Corte, por seu turno, criou tantos obstáculos que adotou-se, por final, o instituto da ‘Arguição de Relevância’, espécie de salvação das demandas que, atropeladas pelos óbices, na prática, tinham grande expressão social, pelo alcance qualitativo ou quantitativo”. 2 Com efeito, em que pese a existencia das sumulas desde 1973 com o advento daquele Código de Processo Civil, no ano de 2004 a competencia do Supremo Tribunal Federal para elaboração de sumulas foi ampliada pela Emenda Constitucional 45, cujos enunciados da Corte Máxima do país denominaram-se sumulas vinculantes, pois dotam-se de observância obrigatória em todos os tribunais. Gilmar Mendes, ministro do STF, declara que considerando a ampla competência que tem o Supremo Tribunal Federal, as súmulas vinculantes podem abranger questões atuais 1 Disponível em: < http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Institucional/Historia/Surge-o-STJ>. Sem data de publicação. Acesso em 11/01/2020. 2 Disponível em: < http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Institucional/Historia/A-crise-do-Supremo>. Sem data de publicação. Acesso em 11/01/2020. http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Institucional/Historia/Surge-o-STJ http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Institucional/Historia/A-crise-do-Supremo 5 sobre interpretação de normas constitucionais isoladas ou em face de normas infraconstitucionais que poderão ser federais, estaduais ou municipais. Assim, embora seja possível que trate apenas de interpretação da própria Constituição, todos os tribunais judiciais e administrativos estão submetidos às súmulas da Corte (MENDES, 2008, p. 966). Outro notável requisito para edição da súmula vinculante é a preexistência de reiteradas decisões sobre matéria constitucional. Essa ideia, ainda conforme o aludido autor, pressupõe a maturidade da questão controvertida através da reiteração das decisões, vedando que seja baseada em decisão isolada. De outra forma, é necessário que ela seja espelho da jurisprudência da Corte (MENDES. 2008, p. 967). Ainda, Gilmar Mendes identifica que os requisitos acima acabam por definir o conteúdo das súmulas vinculantes, em regra, formuladas a partir de questões processuais de massa ou homogêneas, de matéria previdenciária, administrativa, tributária e processual, suscetíveis de uniformização e padronização (MENDES, 2008, p. 967). Essencialmente, a ideia de súmula como uniformização de jurisprudência é acompanhada de um objetivo máximo e urgente, que atualmente é reforçado pelo instituto dos precedentes pelo julgamento de recursos repetitivos e da afetação de repercussão geral, existentes no STJ e STF, respectivamente. O objetivo precípuo dos institutos é reduzir a fila de processos que aguardam julgamento. Isso porque a sistematização em pequenos trechos escritos da atual interpretação conferida à determinada norma, tem potencial de acelerar o processo decisório no Tribunal, bem como de evitar que demandas com mesmo pedido e causa de pedir sejam julgadas pelo mesmo tribunal repetidas vezes. Com efeito, os tribunais de instância extraordinária enfrentam extenso acervo de processos aguardando julgamento, consistindo uma tarefa hercúlia o trabalho a ser desenvolvido para zerar a fila em aguardo, mais o acervo novo que ingressa nos tribunais todos os anos. Nesse sentido, verifica-se a nota divulgada pelo Superior Tribunal de Justiça, no final do ano de 2019, que aponta a redução do acervo de processos pendentes de julgamento, entretanto, segundo a nota, trecho abaixo transcrito, tal dado se dá, principalmente, pelo reflexo do trabalho do Núcleo de Adminissibilidade e Recursos Repetitivos, o chamado “NARER”, in verbis: “Segundo o balanço apresentado, o STJ recebeu ao longo do ano 372.750 novos processos, 34 mil a mais do que em 2018. Nesse mesmo período, o total de distribuídos aos gabinetes caiu de 252.903 6 em 2018 para 222.268 em 2019 – reflexo do trabalho do Núcleo de Admissibilidade e Recursos Repetitivos (Narer), que filtra os recursos para evitar a distribuição daqueles que contenham vícios processuais insanáveis (os processos sem condições de tramitar são remetidos ao presidente para decisão). (...) Outro número destacado pelo ministro Noronha na apresentação dos dados é o total de processos em tramitação. Ele disse que existem atualmente 270.570 processos no acervo, número 7,8% inferior ao registrado em dezembro de 2018 (293.375) – o que confirma a tendência de redução do estoque processual. O total era de 370 mil em 2016 e 330 mil no final de 2017. Ao todo, houve uma redução de 100 mil processos em quatro anos”. 3 Infere-se, portanto, que foi possível a redução do acervo principalmente em razão do processo de adminissibilidade recursal, cujos requisitos enrigecidos possuem o condão de filtrar o acesso às instancias superiores, mediante afilado exame de preenchimento de requisitos, abarcando, na prática, breve exame meritório. Diz-se exame meritório porquanto, ainda que o tribunal de 2º grau dê prosseguimento ao recurso para o STJ, neste tribunal ainda ocorre outra verificação dos pressupostos recursais, no chamado Núcleo de Adminissibilidade e Recursos Repetitivos (NARER), cuja especialidade é a verificação e denegação do prosseguimento do recurso. Todos os procedimentos são aferiveise combativeis por recursos, seja Agravo de Instrumento ou Agravo Interno. 1.2. DIREITO COMPARADO E O INSTITUTO SUMULAR Os institutos da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, da Súmula Vinculante e Súmula comum do Supremo Tribunal Federal, do Incidente de resolução de demandas repetitivas e da Improcedência liminar do pedido, constituem, em suma, um sistema de otimização do acesso à justiça e de uniformização processual. 3 STJ. Superior Tribunal de Justiça. Institucional. Noticiais.Apesar da demanda crescente, STJ reduz em 7,8% o número de processos em tramitação. Disponível em: http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Apesar-da-demanda-crescente--STJ-reduz- em-7-8--o-numero-de-processos-em-tramitacao.aspx. Publicado em 18/12/2019. Acesso em 11/01/2020. http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Apesar-da-demanda-crescente--STJ-reduz-em-7-8--o-numero-de-processos-em-tramitacao.aspx http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Apesar-da-demanda-crescente--STJ-reduz-em-7-8--o-numero-de-processos-em-tramitacao.aspx 7 Cediço que a estrutura do processo judicial brasileiro prestigia a coisa julgada inter-partes com ação judicial individual, porquanto, tendo o processo diferentes partes, a cada uma será garantida a análise substancial do casum. Contudo, com o decorrer dos anos, verificou-se que enquanto se aprimorava a efetividade jurisdicional, inclusive com o desmembramento do Supremo Tribunal Federal e criação do Superior Tribunal de Justiça, em 1988, uma mesma questão era submetida diversas vezes à análise do judiciário, apenas porque se referia a pessoas diferentes, gerando retardamento no judiciário, ensejando julgamentos demorados e sobrecarga de trabalho (MARINONI, et all, 2017, p. 864). Imagine-se, por exemplo, uma questão de responsabilidade civil ambiental ou uma questão tributária, cuja demanda é pulverizada em vários tribunais do país, com exigência de análise individual do caso. Veja que proferir a mesma decisão para diversas ações judiciais idênticas, apenas com alteração das partes, é, em verdade, retrabalho. Desse modo, viu-se no direito comparado a solução da saturação do judiciário por demandas semelhantes (MARINONI, et all, 2017, p. 865). O sistema jurídico de precedentes é conhecido principalmente pela origem inglesa, todavia, ao contrário do que muito se aventa sobre o commow law, ele é dotado de sistematização, sim. Em suma, por volta de 1187, o rei Henry II, da Inglaterra, conhecido por suas sábias decisões dentro e fora de seu reino, encomendou a um de seus renomados juízes (Glanvill) a escritura de um livro que condensasse os costumes judiciais dos casos julgados nas Cortes Reais. Assim feito, referido livro disseminou entre as colônias e reinos, de modo que seu conhecimento passou a ser recomendado a todos os territórios sob a ordem do reino inglês (VIEIRA, 2007, p. 30). Posteriormente, no século XII, criou-se o habito de relatar em livros os casos submetidos a julgamento, sendo que as decisões passaram a ser escritas. Os casos mais importantes eram postos a julgamento pelo órgão colegiado (Câmara Exchequer), e a decisão exarada pelo órgão colegiado servia de parecer para os demais reinos. Até esse momento, a sistematização dos julgados não constituía norma jurídica tampouco possuía observância cogente, mas apenas decisões que serviam de parâmetro para novos casos semelhantes. E é por essa razão que se diz “direito costumeiro”, porque a decisão vinculava apenas como forma de precedente e costume, não consubstanciando, todavia, como lei no sentido estrito (VIEIRA, 2007, p. 30). Somente no século XIX a monarquia e o Parlamento inglês declararam a obrigatoriedade dos precedentes escritos, que passaram a ser vinculantes por comando de lei 8 e ordem real, devendo a população e os juízes respeitarem não só os precedentes, mas também a hierarquia das Cortes Judiciais da Inglaterra (VIEIRA, 2007, p. 31). Atualmente o direito inglês possui o Group Litigation Order (Ordem de Litígio em Grupo), criado em 1998, que tem a finalidade de permitir que demandas semelhantes (não necessariamente idênticas) tenham tramitação conjunta, valendo-se de técnica parecida com a ação de classe, a fim de dar-lhes um tratamento eficiente e efetivo. Por Luiz Guilherme Marinoni (et all), a essência desse mecanismo é a sua ênfase na eficiência da gestão de processos, de modo que ele é pensado, sobretudo, no interesse do próprio Poder Judiciário. A solicitação para que uma causa possa tramitar sob esse regime especial depende de prévia consulta à Law Society’s Multi Party Information Service e de uma autorização específica do tribunal ao qual a causa está vinculada (Lord Chief Justice ou Vice - Chancellor, dependendo do caso). Pode abranger tanto questões de fato como de direito comuns a um grupo e pode ser provocada pelo interessado ou, de ofício, pelo juiz envolvido. É então designado um tribunal que terá a atribuição de examinar a questão comum, resolvendo a matéria em relação aos interessados que assim postularem (MARINONI, et all, 2017, p. 866). Nesse mesmo sentido, MARINONI, menciona o direito alemão, elencando o chamado Musterverfahren, introduzido por uma lei de reforma da Justiça Administrativa alemã, em 1999. O termo “Musterverfahren” significa “procedimento padrão” e foi idealizado na Alemanha para regular um caso específico e já existente à época de sua criação. Referida crise no judiciário ocorreu pela insatisfação de 17.000 investidores que pleiteavam cerca de 150 milhões de euros a título de indenização, por intermédio de 900 escritórios de advocacia distintos, em virtude de terem sido induzidos a utilizar informações falsas na oferta pública de ações da Deutsche Telekom feita em 1999 e 2001, que os fez perder dinheiro (STADLER, 2010, p. 100). Consoante publicado pela revista oficial do Senado Federal Brasileiro, Revista de Informação Legislativa, no Musterverfahren alemão o procedimento é subdividido em fases (GONÇALVES e DUTRA, 2015, p. 193) 4 . No Musterverfahren, ao contrário, o legislador germânico estabeleceu critérios mais objetivos. Explica Astrid Stadler (STADLER, 2010, p. 101) que: (i) deve ser feito um requerimento em uma das ações individuais ajuizadas de submissão ao processo-modelo, que é anunciado em edital; (ii) nos quatro meses seguintes devem ser formulados outros nove requerimentos de submissão, totalizando dez ao todo; (iii) os pedidos são submetidos ao Tribunal Regional, que escolhe um autor-modelo, 4 Disponível em: https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/52/208/ril_v52_n208_p189.pdf. https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/52/208/ril_v52_n208_p189.pdf 9 suspendendo-se os outros processos; (iv) os autores dos processos pendentes são “partes convidadas”, o acórdão-modelo reveste-se de autoridade da coisa julgada e as outras causas continuam no primeiro grau de jurisdição, terminando com acordo ou sendo sentenciadas (GONÇALVES e DUTRA, 2015, p. 193). A aplicação da decisão do caso piloto selecionado pela Corte alemã no mecanismo de Musterverfahren exige a observância de alguns requisitos e de estrito juízo de admissibilidade, sendo que no início do procedimento realiza-se uma cisão no julgamento da causa, de modo a destacar as questões comuns e proferir a decisão em segunda instância apenas em relação a estas. As novas demandas propostas com a mesma matéria de direito e de fato, serão apreciadas por seu juízo natural, responsável por aplicar a solução da questão comum. Como se nota, em que pese o sistema alemão se aproximar muito do recém-criado Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas no Brasil, posto que este se inspirou naquele, ainda assim, guardam-se semelhançasquanto à obrigatoriedade de aplicação em escala daquela decisão. A seleção de um caso-piloto para fixação do entendimento permite que o operador do direito tenha ferramentas para dimensionar as semelhanças e as diferenças do seu caso atual em relação ao caso paradigma, de modo que, apesar da coercibilidade existente no instituto, é possível fazer o distinguishing, isto é, a distinção e o destacamento das diferenças entre os casos, ensejando inaplicabilidade do precedente. Contudo, doutrinadores criticam esses mecanismos de julgamento em massa, arrazoando que há o risco de o operador da norma cometer distorção na interpretação da ementa, assim como há o risco de a própria ementa ser precária. Andreia Costa Vieira, citando Richar Ward, descreve: Não é tudo o que é dito ou escrito pelo juiz em sua decisão que se torna ratio. Uma decisão, em regra, contém três elementos: i) fatos narrados, que são a base da livre convicção de um juiz; ii) princípios de direito positivo aplicáveis aos fatos em julgamento, e iii) a decisão que se baseia nos dois primeiros elementos (VIEIRA, 2017, p. 33). Segundo a autora, o elemento que mais interessa às partes do litígio é a própria decisão, o comando procedência/improcedência, com efeitos diretos sobre seu cotidiano, tanto no sentido patrimonial, quanto no sentido de liberdade, em se tratando de ação penal. Ao passo que, contrapondo-se ao interesse das partes, o que mais importa para a doutrina e os juristas é a ratio que ali reside, isto é, todo o arrazoamento de direito que conduziu à decisão final (VIEIRA, 2017, p. 33). 10 Contudo, frequentemente, a ratio não está bem delimitada no caso concreto, e é confundida com o obiter dictum. O obiter dictum constitui qualquer razão de direito utilizada para formar o raciocínio da decisão (exemplos, analogias), que, embora possui notória importância no litigio, são supérfluas para a formação da ratio (VIEIRA, 2017, p. 34). O desafio do instituto dos precedentes é identificar no caso concreto o que perfaz raio decidendi e o que compõe a obiter dictum, de modo a acertar na reaplicação da decisão. Nas palavras de Andreia Costa Vieira, citando Cracknell: Nem sempre é fácil encontrar a ratio em um caso relatado da Common Law, tanto no seu sistema original britânico como nos seus sistemas importados norte-americano, canadense, sul-africano, australiano e outros. A ratio pode consistir em alguns parágrafos ou de dezenas de páginas e será todo o arrazoado de direito que vinculará, conjuntamente com a sua base fática, pois é nesta que um caso se distingue de outro. Não necessariamente estará em texto contínuo. Além disso, dificilmente os juízes identificam a ratio em seus julgados quando a elaboram. Entendem que essa é a tarefa do intérprete. Em muitos casos, obter dictum foi transformado em ratio por errônea interpretação, mas se perpetuou como common law. Assim, infelizmente, muitos obter dicta tornaram-se “o direito” (VIEIRA, 2017, p. 34). O desafio de identificar a ratio decidendi e a obiter dictum, presente em cada decisão, é solucionado pelo distinction, isto é, distinção do caso atual para o caso concreto. Pela distinção, ao juiz é permitido deixar de aplicar o precedente no caso concreto, considerando que o caso ora em julgamento é distinto daquele que formou o precedente. Nesse ponto reside a necessidade de o precedente ter sido firmado em vários casos (afetação) e de trazer consigo boa parte do arrazoado (ratio), posto que, em assim sendo, sua margem de aplicabilidade será otimizada e ampla, uma vez que a representatividade será mais abstrata possível (VIEIRA, 2017, p. 35). O sistema de precedente brasileiro guarda várias semelhanças com as figuras mencionadas. Todavia, só se presta para a solução da mesma questão de direito, não sendo admitido para questões de fato comuns – o que, segundo Marinoni, e Arenhart poderia ter viabilizado, acaso previsto, a possibilidade de adequação do processo civil brasileiro ao tratamento da “complex litigation” (MARINONI, et all, 2017, p. 866). No ano de 2004 foi realizada a Emenda Constitucional nº 45 que incluiu o art. 103-A na Constituição Federal brasileira que incluiu o instituto da Súmula Vinculante no Brasil e estabelece: 11 Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei Entretanto, a análise dos enunciados de Súmula vinculante demonstra que o comado neles contido se assemelha muito mais com o comando positivo ou negativo do decisium, do que ao ratio decidendi impostado no caso paradigma. Portanto, nas palavras de Andreia Costa Vieira, em que pese o ordenamento jurídico conferir às sumulas vinculantes o título de “precedentes”, em verdade, não o são, pois precedentes não são comando, e, sim, razões (VIEIRA, 2017, p. 36). A autora pondera a possibilidade de que essa dissimulação do instituto de precedentes adotado seja intencional, já que não bastasse ser incluído na Constituição Federal em 2004, o Novo Código de Processo Civil, datado de 2015, com vigência a partir de 18 de março de 2016, dispôs em seu art. 927 a ampliação do instituto, com vinculação a todas as esferas, onde se lê: Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; II - os enunciados de súmula vinculante; III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados. § 1º Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, § 1º , quando decidirem com fundamento neste artigo. § 2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese. 12 § 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica. § 4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia. § 5º Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por questão jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede mundial de computadores. Com efeito, em que pese ser utilizado o termo “observarão”, o mesmo deve ser interpretado como “estarão vinculados”, não havendo liberdade de escolha para o magistrado se aquela matéria já tiver sido resolvida pelas Cortes superiores. Segundo Andreia Costa Vieira, o texto legal do at. 927 importa dois elementos do Common Law, qual seja, i) vinculação por si só, e ii) organização dos precedentes por matéria jurídica. Segundo a autora, o primeiro elemento diz respeito à noção de obrigatoriedade já implantada pela Súmula vinculante, agora expandida para outros tribunais e decisões,tornando as súmulas obrigatórias até para o Supremo Tribunal Federal. Já o segundo elemento diz respeito à estrutura da aplicação de precedentes, sendo que o Brasil inverteu a ordem originada no direito inglês para constar: primeiro cria-se a Súmula e somente depois se aplica aos julgamentos. Ao passo que no Common Law primeiramente julga-se, aplicando-se aos casos, e somente depois ocorre a sistematização (VIEIRA, 2017, p. 36). Não obstante a vinculação dos juízes aos precedentes, bem como aos enunciados sumulados, o ordenamento jurídico brasileiro no âmbito cível estabelece que a sentença deve possuir relatório, fundamentos e dispositivo, não podendo ser superficial, sem correlação com o caso concreto ou indicar conceitos indeterminados, sem explicar o motivo, consoante art. 489, Código de Processo Civil. Diante disso, nota-se que o sistema de precedentes adotado pelo Brasil reflete clara apropriação cultural do sistema Common Law (Inglaterra), contendo, por sua vez, enunciados mandatórios, e não meros arrazoados direcionadores (como é no sistema inglês). Ainda, é possível aferir que o instituto do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, idealizado na Alemanha através do Musterverfahren, também tem forte presença no contexto normativo atual brasileiro, com o objetivo precípuo de otimizar a esteira de processos nos tribunais. 13 2. SÚMULA 2.1. O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O Código de Processo Civil implementado pela lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, é lastreado em princípios processuais assim dispostos em vários artigos, convindo mencionar, o art. 8º, que segue transcrito: Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Desse comando legal importa tecer, nas palavras de Marinoni, que “o juiz deve fidelidade ao direito, isto é, à ordem jurídica”. Isto, pois no exercício do seu míster o juiz deve observar não somente a legalidade, mas também a juridicidade existente nos comandos. Diz-se que a legalidade é a norma fria, não interpretada, ao passo que a juridicidade diz respeito aos elementos não textuais da ordem juridica, conformada pelos significados que lhe são outorgados nas Cortes Supremas. Ou seja, a juridicidade se perfaz pela aplicação da norma, no seu efeito social, e pelo mecanismo utilizado para sua aplicação (MARINONI, et all, 2017, p. 25). Visando atingir a juridicidade da norma, o Código de Processo Civil dispôs que os Tribunais, isto é, qualquer tribunal, e não somente o Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal, tem o dever de dar unidade ao direito exarado e interpretado por si. Isso importa dizer que a juridicidade deverá obrigatoriamente ser materializada. Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente. Nesse contexto, o legislador do novo Código de Processo Civil entendeu que não basta apenas uniformizar a juridicidade existente, isto é, o direito interpretado e aplicado, tendo os tribunais também o dever de mante-la íntegra e coerente, permeando o instituto com a segurança juridica (MARINONI, et all, 2017, p. 26). Depreende do texto normativo que qualquer tribunal será responsável por exarar suas súmulas, todavia, deve-se observar a clara distinção existente na ordem jurídica brasileira; porquanto os Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais (segunda 14 instância) são incumbidos de controlar a interpretação do fato concreto, da prova produzida e do direito aplicável ao caso concreto e fomentar o debate a respeito das possíveis soluções interpretativas a partir da jurisprudencia elaborada pelas Cortes Supremas. Ao passo que as Cortes Supremas, no Brasil, Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça (terceira instância ou instância extraordinária), possuem função de interpretar o direito a partir do caso concreto e dar a ultima palavra a respeito de como deve ser entendido o direito constitucional e o direito federal (MARINONI, et all, 2017, p. 900). Diante da competencia de cada instância, classificada por matéria fática ou de direito, que é o que distingue a segunda instância da instância extraordinária, respectivamente, note-se que a fim de uniformizar a jurisprudência os Tribunais de Justiça e Regionais Federais têm para si o mecanismo de instauração de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, o qual permite a abrangência de qualquer tipo de matéria - consoante fulcro no art. 977, do Código de Processo Civil, in verbis: O pedido de instauração do incidente será dirigido ao presidente de tribunal: I - pelo juiz ou relator, por ofício; II - pelas partes, por petição; III - pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, por petição. O art. 926 do Código de Processo Civil trata indistintamente a jurisprudência, entretanto, segundo MARINONI, et all, existem diferenças entre jurisprudencia, Súmula e precedentes. Trata-se de equívoco que deve ser dissipado a fim de obviar o risco de degenerarmos a problemática e democrática juridicidade em um apodítico e autoritário legalismo. Jurisprudência, precedentes e súmulas são conceitos que não podem ser confundidos – ainda mais porque o legislador procurou ressignificar os conceitos de jurisprudência e de súmulas e introduzir o de precedentes no novo Código. Apenas o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça formam precedentes. Os Tribunais Regionais Federais e os Tribunais de Justiça dão lugar à jurisprudência. As súmulas podem colaborar tanto na interpretação como na aplicação do direito para as Cortes Supremas e para as Cortes de Justiça – e, portanto, podem emanar de quaisquer dessas Cortes (MARINONI, et all, 2017, p. 901). Assim, conforme o autor, o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça são competentes para formar precedentes; enquanto os Tribunais de Justiça e os Regionais Federais são competentes para formar jurisprudência; ao passo que todos são competentes para formular súmulas (NERY JUNIOR, 2016, p. 2093). Na tradição jurídica, a jurisprudencia é obtida da interpretação da lei pelas Cortes para solução de casos cuja multiplicidade e reiteração são capazes de servir de parâmetro de controle e uniformidade, não servindo, contudo, a qualquer autoridade vinculante. Todavia, segundo o autor, o códex processual de 2015 altera o significado do termo “jurisprudência”, 15 passando a dispensar, no âmbito do incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR), por exemplo, a reiteração das decisões, pois basta apenas um julgado em IRDR para que a interpretação e o decisium sejam vinculantes (MARINONI, et all, 2017, 901). No mesmo sentido, na tradição jurídica as súmulas eram tidas como um mecanismo eficaz de ordenação e compendiamento da interpretação de determinada norma, de modo que se prestava, sobretudo, a facilitar a tarefa dos juízes. Inicialmente, frise-se, o principal destinatário eram os proprios juízes e órgãos judiciais. Bastando, para tanto, que estivesse redigida de forma abstrata, sem qualquer alusão ao caso concreto que a ensejou. Todavia, a nova norma processual alterou seus parâmetros. Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; A alteração da importância processual dos enunciados sumulares, tida sobretudo pela obrigatoriedade de aplicação decorrente do comando “observação” presente no art. 927, supra transcrito, faz reconhecer que as súmulas não mais servem apenas aos juízes e órgãos judiciários, passando a importar a todo o sistema de justiça e também à sociedadecivil. Sabidamente, por essa razão se previu nessa nova “modalidade” sumular que os enunciados deverão conter as circunstâncias fáticas que motivaram suas criações, com fulcro no que estabelece o art. 926, §2º, do Código de Processo Civil (MARINONI, et all, 2017, p. 902). Permeando-se de tamanha importância na sociedade, o instituto sumular deve se valer de segurança jurídica, de modo que se mantenha estável, cognocível e confiável. A segurança jurídica não é um fim em si mesmo: a interpretação judicial do direito deve ser segura (cognoscível, estável e confiável) a fim de que seja possível a cabal realização dos princípios da liberdade e da igualdade. Tampouco a coerência é um fim em si mesmo: a coerência – junto com a universabilidade – constitui um postulado que visa a aferir a racionalidade do resultado interpretativo. E a racionalidade é um componente essencial do direito. O sistema jurídico deve ser seguro e as normas que o compõem devem ser coerentes (deve existir uma conexão de sentido que denote um suporte circular, complexo e gradual entre as normas: deve haver consistência e completude no plano formal e dependência recíproca e comunidade de elementos no plano substancial) (MARINONI, et all, 2017, p. 902). Frente ao princípio da igualdade e da seguraça jurídica, MARINONI, et all, leciona: 16 Do ponto de vista da administração da Justiça Civil, não é possível respeitar quem não se respeita. Verificado o respeito aos próprios precedentes, é possível exigir o respeito dos outros. E é exatamente por essa razão que logo na sequência o legislador institui o chamado stare decisis vertical (art. 927, CPC): isto é, a necessidade de que o Poder Judiciário seja visto como uma unidade, isto é, tendo apenas uma única face para a pessoa que espera justiça. A necessidade de stare decisis horizontal decorre do princípio da segurança jurídica, notadamente da necessidade de estabilidade do sistema jurídico (MARINONI, et all, 2017, p. 903). A respeito da segurança jurídica oriunda dos enunciados sumulares, o códex processual também traz implícita a ideia de estabilidade vertical e horizontal dos julgamentos, isso porque causas iguais devem ser julgadas igualmente, remetendo ao direito fundamental de igualdade previsto na CF – “Art. 5º CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. (caput art. 5º, CF) –, bem como remetendo ao princípio processual da “paridade de tratamento” dispondo que o mesmo direito e oportunidade dados a uma das partes, será concedido à outra parte – “Art. 7º CPC É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório” - Assim, enquanto a Constituição Federal trata do direito fundamental inerente ao Homem, o Código de Processo Civil dispõe do direito procesual inerente a qualquer parte cuja demanda esteja sob judice do Estado. Em vista disso, o Código de Processo Civil de 2015 previu que a alteração de entendimento sumulado, bem como a revogação de sumulas, deverá obedecer determinado no art. 927, §§ 2º, 3º e 4º, in verbis: Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: § 4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia. Depreende-se do parágrafo 4º que visando à segurança jurídica, a proteção da confiança e à isonomia, a modificação de enunciado sumular deverá observar fundamentação específica e adequada, de modo a fornecer respaldo, coerência e legitimidade ao novo entendimento, uma vez que, devido ao efeito vinculativo, o enunciado obriga a todos, tanto 17 juízes e tribunais, quanto advogados, população, entes administrativos e a Administração Pública e para atingir o objetivo vinculante deve ser legítimo e plenamente compreendido. § 2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese. A alteração de entendimento outrora firmado consubstancia-se pela doutrina no chamado overruling - superação, anulação de entendimento - podendo ser total ou parcial. Nesse tocante, na hipótese de ocorrer revisão sobre determinada matéria sumulada, a fim de conferir-lhe legitimidade a alteração de entendimento, o tribunal abrirá discussão em audiências públicas com a participação de pessoas, órgãos e entidades com o fito de contribuir com o amadurecimento acerda do tema. Muito embora a legislação não se refira a esse procedimento como forma de conferir legitimidade à revisão, é evidente que a adoção da abertuda do debate à população jurídica, demonstra certa democracia - qualificada e juridica – de modo a arrazoar e legitimar a decisão de revisão. § 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica. O Código de Processo Civil se refere à mudança de entendimento de forma extremamente cautelosa, porquanto a regra geral prevista no art. 926 é a manutenção, estabilidade, integridade e coerência dos enunciados. Ao passo que a revisão da Súmula contraria todo o sistema de precedentes, já que afeta decisões anteriores e, consequentemente, o direito adquirido e o próprio senso de justiça. Visando a reduzir os efeitos negativos da alteração de entendimento da Corte, o legislador previu que a revisão de Súmula poderá ter seus efeitos modulados, sem especificar, contudo, quais são as modulações possíveis. Nesse bojo, encontra-se a modulação temporal, no qual o enunciado revisto possui efeito ex nunc, portanto, do presente ao futuro, não retroagindo ao passado, de modo a respeitar as decisões já transitadas em julgado. Com relação ao efeito modulado 5 , traz-se à baila a disposição da Lei 9.868/1999, que dispõe: Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica e excepcional interesse social, poderá 5 Disponível em: < https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-modulacao-de-efeitos-nas- decisoes-de-inconstitucionalidade-a-producao-de-efeitos-juridicos-de-normas-inconstitucionais-e-o-sistema-de- controle-de-constitucionalidade-brasileiro/>. https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-modulacao-de-efeitos-nas-decisoes-de-inconstitucionalidade-a-producao-de-efeitos-juridicos-de-normas-inconstitucionais-e-o-sistema-de-controle-de-constitucionalidade-brasileiro/ https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-modulacao-de-efeitos-nas-decisoes-de-inconstitucionalidade-a-producao-de-efeitos-juridicos-de-normas-inconstitucionais-e-o-sistema-de-controle-de-constitucionalidade-brasileiro/ https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-modulacao-de-efeitos-nas-decisoes-de-inconstitucionalidade-a-producao-de-efeitos-juridicos-de-normas-inconstitucionais-e-o-sistema-de-controle-de-constitucionalidade-brasileiro/ 18 o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir do seu trânsito em julgado oude outro momento que venha a ser fixado (grifo). Em que pese o CPC não especificar um rol exemplificativo de modulação de efeitos aplicáveis à revisão de Súmula, é possível emprestar a disposição constante da Lei da ADIn 6 e ADCon 7 , que prevê que os efeitos podem ser restringidos a determinada situação, ou a ser eficaz a partir de determinado momento incerto e não sabido, ou a um momento determinado. Independente do estilo de modulação adotado, é fato que o efeito é sempre ex nunc, de modo a observar o interesse jurídico. 2.2. REGIMENTO INTERNO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA O Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça dispõe sobre o instituto sumular na Seção I, do Capítulo IV, concentrando o tema principalmente entre os artigos 121-A e 127. Referido Regimento Interno, atualizado até a Emenda Regimental nº 35, edição de 08 de maio de 2019, já passado pela adequação ao Código de Processo Civil de 2015, não exaure a materia procedimental quanto à criação de súmula, porquanto aborda apenas o mecanismo primário de proposição de súmula. Assim é possível observar que a regulamentação da matéria é, por derradeiro, um tanto precária. O capítulo é aberto com o comando de vinculação aos precedentes qualificados a que os juízes e tribunais estão obrigados, dispondo que por precendente qualificado entende- se acórdão proferido em julgamento de incidente de assunção de competência e em recurso especial repetitivo, além de enunciados de súmulas do STJ, in verbis: Art. 121-A. Os acórdãos proferidos em julgamento de incidente de assunção de competência e de recursos especiais repetitivos bem como os enunciados de súmulas do Superior Tribunal de Justiça constituem, segundo o art. 927 do Código de Processo Civil, precedentes qualificados de estrita observância pelos Juízes e Tribunais. (Incluído pela Emenda Regimental n. 24, de 2016). Seguindo adiante no regimento, verifica-se que trata especificamente dos enunciados sumulares, sendo que o caput do art. 122 dispõe que a súmula será o reflexo da 6 Ação Direta De Inconstitucionalidade 7 Ação Declaratória De Constitucionalidade 19 jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça compediado em enunciados. O parágrafo primeiro do mesmo artigo distingue dois tipos de precendentes: um correspondente às súmulas, estabelecendo que serão oriundas dos enunciados obtidos por decisões com quórum qualificado. O outro corresponde ao comando negativo, silente, omissivo, presente no texto do regimento, que indica que, ainda que preenchidos os requisitos de votação qualificada, referido enunciado poderá ou não ser compendiado em súmula. Com efeito, notório é que o preenchimento dos requisitos não atua como regra para que determinado precedente seja transformado em súmula, posto que sua elaboração constitui faculdade do Tribunal. 2.2.1. Estrutura interna do Superior Tribunal de Justiça Inauguralmente, cumpre elucidar que o Superior Tribunal de Justiça é composto por Turmas, Seções, Corte Especial e Plenário, e, pertinente ressaltar, que essa estrutura prevalece desde sua fundação e sua primeira edição do Regimento Interno, publicada em 22 de junho de 1989, tendo alterado, nesse lapso temporal, apenas a quantidade de membros integrantes de cada órgão fracionário. O art. 9º, e o parágrafo 4º do art. 2º, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça estabelecem que cada Turma é competente para o julgamento de matéria específica. No total, há seis Turmas recursais no Superior Tribunal de Justiça, sendo que cada uma delas é composta por cinco Ministros. A sessão de julgamento da respectiva Turma é presidida pelo seu Ministro mais antigo. Já as Seções são compostas por duas Turmas cada. Assim, havendo seis Turmas recursais, existem três Seções. Por consequencia da formação, cada Seção é integrada por dez Ministros, sendo que o mais antigo daquela Seção é que preside as sessões de julgamento, com fundamento no art. 2º, parágrafo 4º, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. Em que pese a Seção ser integrada por dez Ministros, importante destacar que o Presidente não profere voto, por isso, via de regra, inexiste possibilidade de empate na votação, uma vez que o resultado da decisão deveria ser sempre ímpar. Todavia, estando ausente algum membro, é possível que a votação finde empatada, hipótese em que o Presidente proferirá o voto de minerva, com fulcro no art. 21, inciso VI, do Regimento Interno. Nesse tocante, o art. 8º do seu Regimento Interno dispõe que, enquanto as Turmas 20 e Seções têm competência especializada em virtude da matéria, a Corte Especial não está sujeita a especialização, haja vista ser composta pelos quinze Ministros mais antigos da Casa e é presidida pelo Presidente do Tribunal, conforme ditado pelo parágrafo 2º, do art. 2º, do Regimento. Desse modo, a vasta experiência dos Ministros que a compõe faz da Corte Especial um órgão habilitado a qualquer julgamento, bem como apto a dirimir qualquer divergência jurisprudencial. Por fim, o Plenário da Corte é composto por todos os Ministros da Casa e possui competência prevalecente administrativa, consoante art. 10, do Regimento Interno. 2.2.2. Competência para proposição e elaboração de Súmula Visto isto, retoma-se o procedimento de proposição e elaboração de Súmula. Adota-se, para tanto, uma abordagem progressiva do tema, desprezando-se a ordem dos artigos, pois como será possível verificar, o texto regimental não possui evolução lógica do assunto, sendo que um assunto (proposição de súmula, por exemplo) fica esparso do inicio ao final da seção. Nesse interim, inicia-se com o art. 126, penúltimo artigo da seção, que dispõe o seguinte: Art. 126. Qualquer Ministro poderá propor, na Turma, a remessa do feito à Corte Especial, ou à Seção, para o fim de ser compendiada em súmula a jurisprudência do Tribunal, quando verifi car que as Turmas não divergem na interpretação do direito. Consoante o transcrito acima, verifica-se que qualquer Ministro é habilitado à proposição de Súmula perante a sua respectiva Turma com a imediata remessa do feito à Seção. A Seção, por sua vez, verificando que a matéria é comum a outra Seção, remeterá o feito à Corte Especial, conforme disposção do parágrafo 3º, do art. 122, Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. Todavia, para que o feito seja remetido para a Corte Especial não é imprescindível que a matéria seja comum a diversas Seções, bastando, para tanto, que o Ministro proponente faça a remessa, conforme inferência do art. 126, transcrito supra. Outrossim, o Regimento Interno da Corte de Justiça distingue o ato de propositura de Súmula, do ato de inclusão de Súmula na pauta para deliberação. Isso porque o parágrafo 2º do art. 122, estabelece que a inclusão de matéria na súmula, será deliberada pela Corte Especial ou pela Seção. Pelo contexto utilizado, entende-se que a inclusão, em verdade, 21 refere-se à votação e à aprovação do compendiamento do enunciado na Súmula do tribunal. Contudo, como se nota, a redação não é clara o suficiente. Em outras palavras, a competência para incluir matéria para ser submetida à votação para conversão ou não em Súmula, é tanto da Corte Especial ou como da Seção, a depender do órgão originário ao qual a matéria em julgamento estiver afetada. Isto é, se a matéria estiver sob competência da Seção, obrigatoriamente será remetida à Corte Especial, todavia, se a matéria estiver sob competência da Turma, poderá ser submetida tanto à Seção (órgão imediato), como à Corte Especial (per saltum), não havendo, em regra, hierarquia entre os órgãos. A corroborar: Art. 14. As Turmas remeterão os feitos de sua competência à Seção de que são integrantes: I - quando algum dos Ministros propuser revisão da jurisprudênciaassentada em Súmula pela Seção; II - quando convier pronunciamento da Seção, em razão da relevância da questão, e para prevenir divergência entre as Turmas da mesma Seção; III - nos incidentes de assunção de competência. (Redação dada pela Emenda Regimental n. 24, de 2016) O que determina onde será proposta a votação de Súmula é a controvérsia ou a pacificação do tema, porquanto tendo as Turmas entendimento consonante sobre determinada matéria, sua respectiva Seção é suficiente para elaborar Súmula; ao passo que havendo divergência de entendimento entre Turmas e, consequentemente, entre Seções, faz-se estritamente necessário o submetimento da matéria ao Órgão Especial, para uniformização da interpretação e possível prolação de Súmula, veja-se: Art. 126. Qualquer Ministro poderá propor, na Turma, a remessa do feito à Corte Especial, ou à Seção, para o fim de ser compendiada em súmula a jurisprudência do Tribunal, quando verificar que as Turmas não divergem na interpretação do direito. Todavia, para que a votação seja submetida à Corte Especial, não é imprescindivel que haja divergência de entendimento entre os órgãos fracionários, bastando, para tanto, que a matéria seja comum às Seções, com fulcro no art. 122, do Regimento Interno, parágrafo 3º, “in verbis”: § 3º Se a Seção entender que a matéria a ser sumulada é comum às Seções, remeterá o feito à Corte Especial. Não obstante, além de os Ministros proporem o compendiamento da 22 jurisprudência do Tribunal em Súmula, a propositura também poderá ocorrer pela Comissão de Jurisprudência da Corte, em face do Órgão Especial e da Seção competente para a respectiva matéria, sendo que, em face desta última, somente na hipótese em que identificar entendimento uníssono entre as Turmas do Tribunal. Art. 126, § 3º. A Comissão de Jurisprudência poderá, também, propor à Corte Especial ou à Seção que seja compendiada em súmula a jurisprudência do Tribunal, quando verificar que as Turmas não divergem na interpretação do direito. 2.2.3. Votação de Súmula Ato contínuo, após definido o órgão de afetação para decisão sobre o compendiamento em Súmula, passa-se à forma de votação da matéria, e, como já dito no início desse capítulo, o regimento interno do Superior Tribunal de Justiça não exaure o procedimento de votação de súmula, elaboração de relatórios e votos, ordem de votação, abertura de vista, ou qualquer outro mecanismo comumente previsto em outras seções do Regimento. Nesse tocante, verifica-se que o procedimento de elaboração de súmula é pouco explorado quando comparado ao procedimento de julgamento de recurso especial repetitivo, por exemplo, já que são instituitos diretamente relacionados, uma vez que a seção de recurso especial repetitivo é contemplada pelo artigo 256-A até 156-X (ou seja, 24 artigos, mais seus respectivos parágrafos e incisos) e pelo art. 257-A até 257-E (5 artigos, mais parágrafos e incisos) totalizando, 29 artigos; ao passo que a seção que trata da súmula é composta pelos artigos 121 a 127 (ou seja, 7 artigos, mais parágrafos e incisos). Além de a quantidade de artigos destinados ao procedimento sumular ser inferior à do recurso repetitivo, percebe-se que a exploração material do tema é também defasada. Nesse sentido, não obstante a notória existência de lacunas, o Regimento Interno não estabelece norma para aplicação complementar ou subsidiária, de modo que a finalidade do regimento queda-se inatingida, já que, invés de padronizar o procedimento e, assim, eliminar qualquer discutibilidade, deixa a cargo dos seus membros a deliberação pontual de eventual controvérsia. Sobre a forma de votação de súmula, tem-se: Art. 122. A jurisprudência firmada pelo Tribunal será compendiada na Súmula do Superior Tribunal de Justiça. 23 § 1º Poderão ser inscritos na súmula os enunciados correspondentes às decisões firmadas por unanimidade dos membros componentes da Corte Especial ou da Seção, em um caso, por maioria absoluta em pelo menos dois julgamentos concordantes. (Redação dada pela Emenda Regimental n. 24, de 2016). Com efeito, o artigo 122 abre o tema de votação de súmula dispondo, em essência, que, para estar habilitado a ser compendiado em súmula do Superior Tribunal de Justiça, o enunciado deve ter votação qualificada. Todavia, a redação desse dispositivo é extremamente dúbia e precária, podendo-se aferir no mínimo seis interpretações distintas, quais sejam: i. O enunciado firmado na Corte Especial somente será convertido em súmula se obtiver votação unânime dos membros da Corte Especial: Infere-se que a votação unânime é o máximo reflexo do entendimento linear e pacífico da Corte, não restando margem para dúvida sobre a legitimidade daquela interpretação. Isto, pois, a Corte Especial é composta pelos quinze Ministros mais antigos da Casa, e, em sendo assim, a decisão por ela proferida, sobretudo quando se tratar de votação unânime, tem total presunção de legitimidade e corretude. ii. O enunciado firmado na Seção somente será consolidado em súmula se obtiver votação favorável da maioria absoluta, em dois julgamentos concordantes. Infere-se que a decisão por maioria absoluta reflete, na verdade, que houve voto vencido. Nesse sentido, porém, apesar de prevalecer o entendimento majoritário, não há parâmetros para aferir se este é exatamente o correto, posto que se o minoritário errado fosse, deveria ser tratado como interpretação contrária à lei, e não como voto vencido. Ora, se todas as interpretações originam da mesma norma, não há que falar em certo e errado, mas, sim, em conveniencia e discricionariedade para determinado entendimento. iii. Se o enunciado for oriundo de apenas um caso afetado, a votação deverá unânime, tanto na Corte Especial como na Seção: Essa premissa é dotada de lógica jurídica posto que a conversão de enunciado em súmula tem o objetivo de refletir o entendimento da corte, e, quando baseado em apenas um caso afetado, paradigma, significa dizer que, embora a questão seja abrangente, o espaço amostral é pequeno, ou seja, apenas um caso. Portanto, em sendo pequeno o espaço amostral, obriga-se que a votação seja unânime, independente do órgão interno a que estiver submetida. iv. Se o enunciado for oriundo de dois casos afetados, a votação 24 deverá ser, no mínimo, por maioria absoluta, no julgamento de ambos os casos, que deverão ser concordantes entre si: Ao contrário do item iii, a afetação de dois casos como espaço amostral permite que a decisão seja por voto da maioria absoluta, independente do órgão interno a que estiver submetida. Pois, cabe ponderar que proporcionalmente o número de votos é maior, já que oriundo de dois casos. v. Se o enunciado for oriundo de dois casos afetados, a votação deverá ser, no mínimo, por maioria absoluta, no julgamento de ambos os casos, que deverão ter resultados quantitativamente concordantes entre si, isto é, mesmo número de votos favoráveis e contrários: bastando, para tanto, o resultado de procedência ou improcedência: Depreende-se dessa interpretação que sendo o enunciado baseado em dois casos, o julgamento de ambos deve ter o mesmo resultado prático, independente do teor de cada voto. Ou seja, basta que os julgamentos possuam a mesma quantidade de votos favoráveis e contrários, não importando o relatório e o dispositivo do decisium. Sobre o parâmetro quantitativo dos resultados para ensejar o compendiamento do enunciado em Súmula, afirma- se que possui característica formal, porquanto nele importa apenas o conteúdo objetivo da decisão isolada, bem como da decisão em conjunto com a dos demais Ministros, momento em que produz o efeito real de colegialidade da procedência ou improcedência. vi. Se o enunciado for oriundo de dois casos afetados, a votação deverá ser, no mínimo, por maioria absoluta, no julgamentode ambos os casos, que deverão ter resultados qualitativamente concordantes entre si: Ao contrário do item v, infere-se que para haver conversão de enunciado em súmula, os casos afetados para a elaboração do enunciado devem ser julgados exatamente da mesma maneira, sem variações qualitativas. Ou seja, em interpretação estrita, entende-se que não é permitido ao Ministro decidir de maneira diferente em cada caso, uma vez que para ser convertido em súmula, o ponto de partida é o “julgamento concordante”. Compreende-se que o teor dos dois votos de cada Ministro deve ser o mesmo, já que qualquer ocilação constitui óbice para o compendiamento da súmula. Nesse caso, o parâmetro qualitativo do resultado está diretamente relacionado com o teor subjetivo do decisium, afirmando-se a prevalência da característica material desse mecanismo de compendiamento de enunciado em Súmula. O privilegiamento da caracterísca material, em detrimento da formal, indica preocupação em preservar o conteúdo basal da decisão. Com efeito, há obscuridade na redação quanto ao quórum de votação para que o entendimento seja convertido em súmula, pois não esclarece se a variação deriva do Órgão a que é submetida ou da quantidade de casos afetados, gerando notória falta de padrão na 25 interpretação da norma e evidente insegurança jurídica. Não bastasse a obscuridade referente ao quórum, pende, ainda, obscuridade quanto ao termo “julgamento concordante”, que não é empregado em nenhum outro momento do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, impossibilitando que o aplicador da norma utilize a chamada “interpretação sistêmica”. Diante da ausência de conceito, elucida-se o termo “julgamento concordante”, por interpretação analógica do termo “voto concordante”, que, por sua vez, aparece diversas vezes no texto regimental. Depreende-se, asism, que “voto concordante” é aquele proferido em consonância ao voto paradigma, permitindo verificar, por comparação, que os meios e resultados obtidos por ambos é exatamente o mesmo. O Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, não explica o significado de “voto concordante”, no entanto, o art. 162, parágrafo 7º, dá a entender que voto concordante é aquele que concorda sobre todas as questões. Em contrapartida, ainda que estimado o conceito de “voto concordante”, não é possível compreender integralmente o conceito de “julgamento concordante”, posto que existem potenciais variações entre dois julgamentos, podendo destoar na forma (quantidade) ou na matéria (qualidade). 2.2.4. Revisão de enunciado sumulado Qualquer Ministro poderá propor revisão de enunciado sumulado e, consequentemente, a alteração ou revogação do entendimento outrora firmado. A propositura de revisão de Súmula será feita em face da respectiva Turma recursal tomando por fundamento o julgamento relacionado àquela matéria que por ora deu ensejo à arguição de dúvida, podendo o feito ser sobrestado, para fins de segurança jurídica. Art. 125. Os enunciados da súmula prevalecem e serão revistos na forma estabelecida neste Regimento Interno. § 1º Qualquer dos Ministros poderá propor, em novos feitos, a revisão da jurisprudência compendiada na súmula, sobrestando-se o julgamento, se necessário. Na prática, o parágrafo primeiro alhures ocorre em meio aos votos dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça em determinado julgamento, sendo que ao divergir do entendimento sumulado, e visando a negar sua aplicação, o então Ministro deverá indicar e 26 propor a revisão do entendimento. Após, os demais Ministros terão vista sobre a proposta e votarão a favor ou contra, tomando-se a decisão por maioria. § 2º Se algum dos Ministros propuser revisão da jurisprudência compendiada na súmula, em julgamento perante a Turma, esta, se acolher a proposta, remeterá o feito ao julgamento da Corte Especial ou da Seção, dispensada a lavratura do acórdão, juntando-se, entretanto, a certidão de julgamento e tomando-se o parecer do Ministério Público Federal. O RISTJ dispõe que sendo acolhida a proposta de revisão de Súmula – ou precedente, jurisprudência, orientação -, o julgamento do caso paradigma poderá ser suspenso, sobretando-se o feito e abrindo-se prazo para que o Ministério Público Federal apresente parecer sobre a matéria. Na prática, além do MPF, outros órgãos também oferecem parecer, com fulcro no art. 927, §2º, do CPC, como, por exemplo, a OAB, a Defensoria Pública, Associações Cartorárias, Forum Permanente de Processualistas Civis, doutrinadores, etc. § 3º A alteração ou o cancelamento do enunciado da súmula serão deliberados na Corte Especial ou nas Seções, conforme o caso, por maioria absoluta dos seus membros, com a presença de, no mínimo, dois terços de seus componentes. Visto isso, a votação para alteração ou cancelamento de sumula (overruling) é deliberada na Seção ou na Corte Espercial, conforme o caso – isto é, se a proposta de revisão foi realizada e aceita pela Turma, quem votará a revisão será a respectiva Seção; ao passo que se a proposta foi realizada e aceita na Seção, quem votará a revisão será a Corte Especial -. Onde o feito paradigma estiver e antes da remessa ao órgão que fará a revisão, serão proferidos os votos de todos os Ministros, sendo dispensada a lavratura de acórdão, bastando apenas a prolação dos votos. Após a coletânia dos votos, o feito será remetido ao órgão revisor que passará à votação da Súmula tendo como paradigma o caso apresentado. Entretanto, os votos de revisão da Súmula não se aterão aos elementos específicos do caso concreto, devendo conter opinião abstrata. A revisão será aprovada em votação única, com a aquiescência da maioria absoluta, mediante a presença de, no mínimo, dois terços dos respectivos componentes. Noutro sentido, importante destacar uma lacuna existente no RISTJ, uma vez que não estabelece a consequência da revisão da Súmula, seja por alteração seja por cancelamento. Questiona-se: 27 a) Se a Súmula for cancelada contrariando, porém, os votos do órgão originário, qual decisão será aplicada ao caso concreto? Isto é, ao caso concredto será aplicada a decisão do órgão originário ou a do órgão qualificado? b) Se a Súmula for alterada para adoção de entendimento diverso do órgão originário, esse entendimento será aplicado ao caso concreto? Se sim, os votos originários serão revistos para acatar o entendimento do órgão qualificado? Ora, se é dispensada a lavratura de acórdão do julgamento, não é possível inferir das hipóteses “a” e “b”se obrigatoriamente o órgão originário deverá reformar os votos, adaptá-los, ou mantê-los, não cabendo, disto, interpretação extensiva. 28 3. ELEMENTOS LEGISLATIVOS CONSIDERÁVEIS 3.1. ATIVIDADE LEGISLATIVA NO BRASIL E ATIVISMO JUDICIAL A Constituição Federal previu uma sequência de atos que devem ser observados pelos órgãos legislativos para a realização das espécies normativas previstas no artigo 59 da CF: Emenda à Constituição, lei complementar, lei ordinária, lei delegada, medida provisória, decreto legislativo e resolução. Alexandre de Moraes define processo legislativo como Juridicamente, o conjunto coordenado de disposições que disciplinam o procedimento a ser obedecido pelos órgãos competentes na produção de leis e atos normativos que derivam diretamente da própria constituição, enquanto sociologicamente, o conjunto de fatores reais que impulsionam e direcionam os legisladores a exercitarem suas tarefas (MORAES, 2012, p. 671). A não observância dos atos procedimentais para elaboração legislativa acarreta a inconstitucionalidade formal da lei ou do ato normativo, possibilitando pleno controle de constitucionalidade tanto pelo método difuso como pelo concentrado (MORAES, 2012, p. 671). Ainda segundo Alexandre de Moraes, o respeito ao
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