Buscar

Fraude à Execução - TCC - Sumula 375 STJ - Doutrina - Processo Civil - Autora Livia Fornaciari Marcos - ASPECTOS DO INTITUTO SUMULAR NO NCPC E BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA SÚMULA 375 STJ - PÓS DAMASIO DE JESUS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 75 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 75 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 75 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

INSTITUTO DAMÁSIO DE DIREITO – IDD FACULDADE IBMEC SP 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LÍVIA FORNACIARI MARCOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ASPECTOS DO INTITUTO 
SUMULAR NO NCPC 
E BREVES CONSIDERAÇÕES 
ACERCA DA SÚMULA 375 STJ 
FRENTE AO RESP: 956943 PR 
2007/0124251-8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo – SP 
2020 
i 
 
 
 
 
 
 
INSTITUTO DAMÁSIO DE 
DIREITO – IDD FACULDADE 
IBMEC SP 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LÍVIA FORNACIARI MARCOS 
 
 
 
ASPECTOS DO INTITUTO 
SUMULAR NO NCPC 
E BREVES CONSIDERAÇÕES 
ACERCA DA SÚMULA 375 STJ 
FRENTE AO RESP: 956943 PR 
2007/0124251-8 
 
 
 
 
 
 
 Monografia apresentada ao 
Instituto Damásio de Direito 
– IDD da Faculdade IBMEC 
SP, como exigência parcial 
para obtenção do título de 
Especialista em Direito 
processual civil, sob 
orientação do professor 
Ronny Max Machado. 
 
 
São Paulo – SP 
2020 
ii 
 
 
 
 
 
 
LÍVIA FORNACIARI MARCOS 
 
ASPECTOS DO INTITUTO SUMULAR NO NCPC E BREVES CONSIDERAÇÕES 
ACERCA DA SÚMULA 375 STJ FRENTE AO RESP: 956943 PR 2007/0124251-8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
 
Esta monografia apresentada no 
final do Curso de Pós-
Graduação Lato Sensu em 
(Nome do Curso), no Instituto 
de Damásio de Direito da 
Faculdade IBMEC SP, foi 
considerada suficiente como 
requisito parcial para obtenção 
do Certificado de Conclusão. O 
examinado foi aprovado com a 
nota . 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo, 31 de março de 2020. 
iii 
 
 
 
TERMO DE RESPONSABILIDADE 
 
 
Eu, Lívia Fornaciari Marcos, acadêmica do curso de Direito Processual Civil, orientado 
pelo professor Ronny Max Machado, declaro para os devidos fins, que o Trabalho de 
Conclusão de Curso atende as normas técnicas e científicas exigidas na elaboração de 
textos, previstas no Manual para Elaboração de Trabalhos Acadêmicos. As citações e 
paráfrases dos autores estão indicadas e apresentam a origem da idéia do autor com as 
respectivas obras e anos de publicação. Caso não apresente estas indicações, ou seja, 
caracterize crime de plágio, estou ciente das implicações legais decorrentes deste 
procedimento. 
 
O Código Penal em vigor, no Título que trata dos Crimes Contra a 
Propriedade Intelectual, dispõe sobre o crime de violação de direito 
autoral – artigo 184 – que traz o seguinte teor: Violar direito 
autoral: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. 
E os seus parágrafos 1º e 2º, consignam, respectivamente: 
§1º Se a violação consistir em reprodução, por qualquer meio, 
com intuito de lucro, de obra intelectual, no todo ou em parte, sem 
autorização expressa do autor ou de quem o represente, (...): Pena – 
reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, (...). 
§2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem 
vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, 
empresta, troca ou tem em depósito, com intuito de lucro, original 
ou cópia de obra intelectual, (...), produzidos ou reproduzidos com 
violação de direito autoral. (Lei n.º 9.610, de 19.02.98, que altera, 
atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais, publicada 
no D.O.U. de 20.02.98, Seção I, pág. 3). 
 
Declaro, ainda, minha inteira responsabilidade sobre o texto apresentado no trabalho 
acadêmico desenvolvido. 
 
Paulínia, SP, 31 de março de 2020. 
 
Assinatura do Acadêmico(a) 
iv 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho cuida de revisão bibliográfica a respeito dos aspectos do instituto sumular 
do Superior Tribunal de Justiça, abordando a origem e a pré-existência de semelhante 
mecanismo de precedentes na Inglaterra e na Alemanha, e apontando as modificações que o 
Brasil logrou fazer ao adotar o efeito vinculativo das súmulas. Ato contínuo, discorre sobre as 
características do instituto em si, de seu tratamento no Código de Processo Civil e no 
Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, levantando em conta alguns aspectos 
falhosos constantes de seu texto normativo. Ainda, expõe os elementos jurídicos 
consideráveis do instituto, lidando com o ativismo judicial praticado pelo STJ na atividade 
sumular, e uma análise do comportamento do princípio da legalidade, inafastabilidade da 
jurisdição e do efeito ergma omnes, versus interpartes, frente ao intituto sumular. Adiante, 
inaugura uma discussão específica sobre a Súmula 375 do Superior Tribunal de Justiça, que 
dispõe sobre fraude à execução e resulta, porém, na inlcusão de direitos e deveres no instituto 
de fraude, em pleno exercício de ativismo judicial. Ainda sobre essa Súmula, tece 
comentários acerca do julgamento do Recurso Especial STJ - REsp: 956943 PR 
2007/0124251-8, afetado pelo procedimento do recurso repetitivo, cujos votos apreciam 
entendimento divergente da Súmula, todavia cedem à sua aplicação por diversas razões, em 
evidente contradição. Por fim, elabora breves considerações acerca do risco da existência do 
instituto sumular no Brasil, bem como os possíveis riscos pendentes de sua inexistência. 
 
Palavras-chave: Súmula STJ; Súmula 375 STJ; REsp: 956943 PR 
2007/0124251-8; Divergência de entendimento sumulado; Ativismo judicial; 
Riscos do entendimento sumulado e do não sumulado; Apropriação cultural: 
commow law e musterverfahren; Distinguishing; Súmula e princípios 
fundamentais; 
v 
 
 
 
 
SOMMARIO 
 
Il presente lavoro si occupa di una revisione bibliografica relativa agli aspetti dell'istituto di 
sintesi della Corte di giustizia superiore, affrontando l'origine e la preesistenza del 
meccanismo simile di precedenti in Inghilterra e Germania, e sottolineando i cambiamenti 
che il Brasile è riuscito a fare quando ha adottato l'effetto vincolante delle panoramiche. 
Continuando ad agire, discute delle caratteristiche dell'istituto stesso, del suo trattamento del 
codice di procedura civile e dei regolamenti interni della Corte di giustizia superiore, tenendo 
conto di alcuni aspetti spesso imperfetti del suo testo normativo. Tuttavia, espone i notevoli 
elementi giuridici dell'istituto, che si occupano dell'attivismo giudiziario praticato dallo STJ 
nell'attività sommaria, e un'analisi del comportamento del principio di legalità, incapacità 
della giurisdizione e dell'effetto ergma omnes, rispetto agli interpartes, di fronte al titolo di 
sintesi. In seguito, inaugura una discussione specifica sul precedente 375 della Corte di 
giustizia superiore, che prevede l'esecuzione di frodi e risultati, tuttavia, nell'inclusione di 
diritti e doveri nei confronti dell'istituto di frode, nel pieno esercizio dell'attivismo 
giudiziario. Nonostante questo sommario, commenta la sentenza del ricorso speciale STJ - 
REsp: 956943 PR 2007 / 0124251-8, influenzata dalla procedura dell'appello ripetitivo, i cui 
voti apprezzano la comprensione divergente del sommario, ma rifiutano la sua applicazione 
per diversi motivi, in contraddizione evidente. Infine, elabora brevi considerazioni sul rischio 
dell'esistenza dell'istituto di sintesi in Brasile, nonché sui possibili rischi in attesa della sua 
inesistenza. 
 
 
Parole chiave: Riepilogo STJ; Precedente 375 STJ; REsp: 956943 PR 2007 / 
0124251-8; Divergenza di comprensione sintetica; Attivismo giudiziario; Rischi 
di comprensione sintetizzata e non riepilogativa; Appropriazione culturale: legge 
del potere e musterverfahren; distinguendo; Riepilogo e principi fondamentali; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
vi 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 1 
1. INSTITUTO SUMULAR NO BRASIL ...................................................................................... 3 
1.1. SURGIMENTO DO INSTITUTO ................................................................................3 
1.2. DIREITO COMPARADO E O INSTITUTO SUMULAR ........................................ 6 
2. SÚMULA ..................................................................................................................................... 13 
2.1. O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ......................................................................... 13 
2.2. REGIMENTO INTERNO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ................ 18 
2.2.1. Estrutura interna do Superior Tribunal de Justiça ...................................................... 19 
2.2.2. Competência para proposição e elaboração de Súmula ............................................. 20 
2.2.3. Votação de Súmula ....................................................................................................... 22 
2.2.4. Revisão de enunciado sumulado ................................................................................. 25 
3. ELEMENTOS LEGISLATIVOS CONSIDERÁVEIS ............................................................ 28 
3.1. ATIVIDADE LEGISLATIVA NO BRASIL E ATIVISMO JUDICIAL ................ 28 
3.2. PRINCIPIO DA LEGALIDADE ................................................................................ 33 
3.3. ALCANCE ERGA OMNES E NÃO INTERPARTES ............................................. 35 
3.4. INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO ............................................................... 37 
4. SUMULA 375 STJ: CASO CONCRETO ................................................................................. 41 
4.1. COMANDO DE PRINCÍPIO, REGRA OU NORMA? ........................................... 43 
4.2. DIVERGÊNCIA DE ENTENDIMENTO: REsp: 956943 PR 2007/0124251-8 ........... 48 
5. RISCOS ........................................................................................................................................ 56 
5.1. PRECEDENTES NÃO SUMULADOS ...................................................................... 56 
5.2. PRECEDENTES SUMULADOS ................................................................................ 57 
CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 61 
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................. 63 
 
1 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O ordenamento jurídico brasileiro concebeu o Código de Processo Civil de 2015 
com um novo instituto normativo vinculante, qual seja, o instituto da Súmula do Superior 
Tribunal de Justiça. O instituto sumular não é novidade no sistema brasileiro, posto que já 
existente desde 1960, quando criado pelo Supremo Tribunal Federal de forma paralela, sem 
implementação nas leis, pois visava a ser uma maneira de acelarar o procedimento decisório e 
conferir maior uniformidade às decisões do País. Mais tarde, com o advento do Código de 
Processo Civil de 1973, o instituto sumular foi inserido no art. 479, cujas súmulas seriam 
tidas como diretrizes decisórias para toda a classe jurídica, sem efeito obrigatório. 
Atualmente, porém, o Código de Processo Civil de 2015 estabelece em ser art. 
927, IV, que os juízes e tribunais observarão os enunciados de Súmula, que não mais se 
comportam como mero entendimento, pois se revestem de caráter obrigatório, uma vez que 
todos os juízes e tribunais são obrigados a julgar conforme o que da Súmula emana acerca da 
matéria sob judice. Nesse tocante, tem-se que o instituto em voga convalida pleno ativismo 
judicial praticado pelo Superior Tribunal de Justiça, incorrendo, consequentemente, em 
evidente verticalização e hierarquização do sistema judiciário brasileiro. 
A problemática existente no instituto não reside na Súmula com conteúdo 
interpretativo, caracterizada como mero princípio ou regra, mas, sim, na hipótese de a 
Súmula, verdadeiramente, criar um direito e uma obrigação. Quando cria direito e obrigação, 
o enunciado passa a ser classificado como Súmula normativa e, sendo assim, confere direta 
afronta ao princípio da legalidade e do devido processo legislativo, sobretudo quando 
observado seu efeito erga omnes, que obriga a todos e não somente as partes do caso 
paradigma. 
Visando ao aprofundamento do tema, traz-se à baila a Súmula 375 do STJ, 
responsável por atribuir ao instituto da fraude à execução a exigência da presença de 
requisitos subjetivos, não previstos, porém, no Código de Processo Civil de 1973, nem no 
Código de Processo Civil de 2015 (atual). Nesse aspecto, referido enunciado sumular 
representa exatamente a hipótese de conteúdo normativo, pois não se trata de regra que 
estabelece subsunção, nem de princípio, para ponderação. Isso porque a Súmula 375 do STJ 
dispõe que a fraude à execução somente será reconhecida se houver registro da penhora na 
matrícula do imóvel, ou se comprovada a má-fé do terceiro adquirente, ao contrário da 
legislação processual e civil, que prevêm diversas hipóteses, sendo todas elas fundadas em 
requisitos estritamente objetivos. 
2 
 
 
 
Na contamão da Súmula 375 do STJ figura o Recurso Especial STJ - REsp: 956943 
PR 2007/0124251-8, cujo acórdão é extremamente contraditório. Do julgamento do Recurso 
Especial afetado pelo rito dos recursos repetitivos, toma-se que, em que pese tenha-se 
aplicado a Súmula ao caso, a maioria dos Ministros não concorda com o comando que 
provém dela, por diversas razões. Todavia, ainda que não concordes, com exceção da 
primeira relatora, todos os demais ministros votaram por aplicar a Súmula ao caso concreto, 
com o objetivo expresso de manter o entendimento outrora firmado. 
Desse modo, há que se considerar, finalmente, os benefícios e os malefícios 
existentes no instituto sumular, principalmente aqueles oriundos de súmulas de conteúdo 
normativo, como é o caso da Súmula 375 do Superior Tribunal de Justiça. 
 
3 
 
 
 
1. INSTITUTO SUMULAR NO BRASIL 
 
1.1. SURGIMENTO DO INSTITUTO 
 
No Brasil, o instituto sumular foi criado na década de 1960 pelo Supremo 
Tribunal Federal como forma de pacificação de sua jurisprudência, através da Comissão de 
Jurisprudência composta pelos Ministros Gonçalvez de Oliveira, Pedro Chaves e Victor 
Nunes Leal, sendo este último, o mentor do instituto. Neste momento da história, referido 
Tribunal alterou seu regimento interno para admitir e dispor a súmula, o processo de escolha 
dos temas, discussão técnico-jurídica, aprovação, publicação para conhecimento de todos e 
vigência. 
O advento do enunciado sumular foi muito criticado e até que sua criação fosse 
aprovada, muitas tentativas de implementação ocorreram na historia. Nesse tocante, José 
Tarcízio de Almeida Melo, remete a Haroldo Valadão, jurista que apresentou, em 1961, 
anteprojeto de lei que se transformaria na Lei de Aplicação das Normas Jurídicas. Segundo o 
autor, Valadão propunha que, “uma vez afixada interpretação da lei federal pelo Tribunal 
Pleno, em três acórdãos, por maioria absoluta, torná-la-ia pública, na forma e nos termos 
determinados no Regimento, em resolução que os tribunais e os juízes deveriam observar 
enquanto não modificada segundo o mesmo processo, ou por disposição constitucional ou 
legal superveniente”. Essa tentativa não prosperou. 
Ainda na década de 1960, por ocasião da elaboração do Anteprojeto do Código de 
Processo Civil, em 1964, Alfredo Buzaid propôs, em seu art. 518, que a decisão tomada pela 
maioria dos membros efetivos que integravam o tribunal seria obrigatória. Acrescentou, no 
art. 519, que o presidente do tribunal, em obediência ao que ficou decidido, baixaria um 
“assento”, o que seria, em essencia, um rol de assentos, isto é, um rol de sumulas. Entretanto, 
quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicado, o assento teria força de lei em todo o 
território nacional. A corrente que reputava inconstitucionais súmulas com caráter obrigatório 
foi vencedora. Assim, a Lei n° 5.869, de 11de janeiro de 1973, que instituiu o Código de 
Processo Civil, sucumbiu à supremacia absoluta da lei, já inserida no texto constitucional (art. 
5º, II), permitindo a sumula apenas como conteudo informativo, sem força vinculante. Assim, 
o Código de Processo Civil de 1973 dispunha em seu art. 479. “O julgamento, tomado pelo 
voto da maioria absoluta dos membros que integram o tribunal, será objeto de súmula e 
constituirá precedente na uniformização da jurisprudência”. E prosseguia: “Parágrafo único. 
Os regimentos internos disporão sobre a publicação no órgão oficial das súmulas de 
jurisprudência predominante”. 
4 
 
 
 
Note-se que o texto legal constante do Código de Processo Civil de 1973, 
dispunha a súmula como mero enunciado elucidativo e orientador, porquanto deveria refletir 
a corrente majoritária do entendimento adotado pelos ministros dos tribunais superiores, não 
obrigando, todavia, o juiz a quo decidir conforme aquele enunciado. A doutrina entende que 
essa espécie sumular funcionou, na prática, como bussola de precedentes, auxiliando o 
advogado na exaustiva pesquisa jurisprudencial (SOUZA, 2012). 
Visando à celeridade processual, bem como à uniformização jurisprudencial, 
verifica-se que o instituto sumular foi ampliado e passou a abarcar, com o CPC de 1973, o 
Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior Eleitoral e o Tribunal Superior do Trabalho, 
sendo assim, todos os mencionados tribunais puderam exarar enunciados em sumulas. 
Importante destacar, contudo, que o Superior Tribunal de Justiça é oriundo da 
Constituição Federal apenas do ano de 1988, portanto, posterior ao Código de Processo Civil 
de 1973, sendo que sua implementação decorreu do enceramento do Tribunal Federal de 
Recursos, e da divisão da competência que antes era total do Supremo Tribunal Federal
1
, 
conforme relatado pelo site do Superior Tribunal de Justiça, in verbis 
Desde os anos 30, já se discutia a sobrecarga processual do Supremo 
Tribunal Federal (STF). A criação do TFR na década de 40, em certo 
sentido, foi uma resposta a essa situação. A partir dos anos 60, acentuou-se 
o debate, no que passou a ser chamada como “crise do Supremo”. (...) A 
limitação ao ingresso de recursos extraordinários foi a solução encontrada 
naquele momento, com a adoção progressiva de óbices ao cabimento do 
recurso. Conforme a ministra Eliana Calmon, o STF encontrava-se 
impotente no atendimento às demandas e restringiu tanto o cabimento do 
extraordinário, que teve, ao final, que fazer concessões: “O regimento 
interno da Corte, por seu turno, criou tantos obstáculos que adotou-se, por 
final, o instituto da ‘Arguição de Relevância’, espécie de salvação das 
demandas que, atropeladas pelos óbices, na prática, tinham grande 
expressão social, pelo alcance qualitativo ou quantitativo”.
2
 
 
Com efeito, em que pese a existencia das sumulas desde 1973 com o advento 
daquele Código de Processo Civil, no ano de 2004 a competencia do Supremo Tribunal 
Federal para elaboração de sumulas foi ampliada pela Emenda Constitucional 45, cujos 
enunciados da Corte Máxima do país denominaram-se sumulas vinculantes, pois dotam-se de 
observância obrigatória em todos os tribunais. 
Gilmar Mendes, ministro do STF, declara que considerando a ampla competência 
que tem o Supremo Tribunal Federal, as súmulas vinculantes podem abranger questões atuais 
 
1
 Disponível em: < http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Institucional/Historia/Surge-o-STJ>. Sem data de 
publicação. Acesso em 11/01/2020. 
2
 Disponível em: < http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Institucional/Historia/A-crise-do-Supremo>. Sem data de 
publicação. Acesso em 11/01/2020. 
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Institucional/Historia/Surge-o-STJ
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Institucional/Historia/A-crise-do-Supremo
5 
 
 
 
sobre interpretação de normas constitucionais isoladas ou em face de normas 
infraconstitucionais que poderão ser federais, estaduais ou municipais. Assim, embora seja 
possível que trate apenas de interpretação da própria Constituição, todos os tribunais judiciais 
e administrativos estão submetidos às súmulas da Corte (MENDES, 2008, p. 966). 
Outro notável requisito para edição da súmula vinculante é a preexistência de 
reiteradas decisões sobre matéria constitucional. Essa ideia, ainda conforme o aludido autor, 
pressupõe a maturidade da questão controvertida através da reiteração das decisões, vedando 
que seja baseada em decisão isolada. De outra forma, é necessário que ela seja espelho da 
jurisprudência da Corte (MENDES. 2008, p. 967). 
Ainda, Gilmar Mendes identifica que os requisitos acima acabam por definir o 
conteúdo das súmulas vinculantes, em regra, formuladas a partir de questões processuais de 
massa ou homogêneas, de matéria previdenciária, administrativa, tributária e processual, 
suscetíveis de uniformização e padronização (MENDES, 2008, p. 967). 
Essencialmente, a ideia de súmula como uniformização de jurisprudência é 
acompanhada de um objetivo máximo e urgente, que atualmente é reforçado pelo instituto 
dos precedentes pelo julgamento de recursos repetitivos e da afetação de repercussão geral, 
existentes no STJ e STF, respectivamente. O objetivo precípuo dos institutos é reduzir a fila 
de processos que aguardam julgamento. Isso porque a sistematização em pequenos trechos 
escritos da atual interpretação conferida à determinada norma, tem potencial de acelerar o 
processo decisório no Tribunal, bem como de evitar que demandas com mesmo pedido e 
causa de pedir sejam julgadas pelo mesmo tribunal repetidas vezes. 
Com efeito, os tribunais de instância extraordinária enfrentam extenso acervo de 
processos aguardando julgamento, consistindo uma tarefa hercúlia o trabalho a ser 
desenvolvido para zerar a fila em aguardo, mais o acervo novo que ingressa nos tribunais 
todos os anos. 
Nesse sentido, verifica-se a nota divulgada pelo Superior Tribunal de Justiça, no 
final do ano de 2019, que aponta a redução do acervo de processos pendentes de julgamento, 
entretanto, segundo a nota, trecho abaixo transcrito, tal dado se dá, principalmente, pelo 
reflexo do trabalho do Núcleo de Adminissibilidade e Recursos Repetitivos, o chamado 
“NARER”, in verbis: 
 
“Segundo o balanço apresentado, o STJ recebeu ao longo do ano 
372.750 novos processos, 34 mil a mais do que em 2018. Nesse 
mesmo período, o total de distribuídos aos gabinetes caiu de 252.903 
6 
 
 
 
em 2018 para 222.268 em 2019 – reflexo do trabalho do Núcleo de 
Admissibilidade e Recursos Repetitivos (Narer), que filtra os recursos 
para evitar a distribuição daqueles que contenham vícios processuais 
insanáveis (os processos sem condições de tramitar são remetidos ao 
presidente para decisão). 
(...) Outro número destacado pelo ministro Noronha na apresentação 
dos dados é o total de processos em tramitação. Ele disse que existem 
atualmente 270.570 processos no acervo, número 7,8% inferior ao 
registrado em dezembro de 2018 (293.375) – o que confirma a 
tendência de redução do estoque processual. O total era de 370 mil 
em 2016 e 330 mil no final de 2017. Ao todo, houve uma redução de 
100 mil processos em quatro anos”.
3
 
 
Infere-se, portanto, que foi possível a redução do acervo principalmente em razão 
do processo de adminissibilidade recursal, cujos requisitos enrigecidos possuem o condão de 
filtrar o acesso às instancias superiores, mediante afilado exame de preenchimento de 
requisitos, abarcando, na prática, breve exame meritório. 
Diz-se exame meritório porquanto, ainda que o tribunal de 2º grau dê 
prosseguimento ao recurso para o STJ, neste tribunal ainda ocorre outra verificação dos 
pressupostos recursais, no chamado Núcleo de Adminissibilidade e Recursos Repetitivos 
(NARER), cuja especialidade é a verificação e denegação do prosseguimento do recurso. 
Todos os procedimentos são aferiveise combativeis por recursos, seja Agravo de Instrumento 
ou Agravo Interno. 
 
1.2. DIREITO COMPARADO E O INSTITUTO SUMULAR 
 
Os institutos da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, da Súmula Vinculante e 
Súmula comum do Supremo Tribunal Federal, do Incidente de resolução de demandas 
repetitivas e da Improcedência liminar do pedido, constituem, em suma, um sistema de 
otimização do acesso à justiça e de uniformização processual. 
 
3
 STJ. Superior Tribunal de Justiça. Institucional. Noticiais.Apesar da demanda crescente, STJ reduz em 7,8% o 
número de processos em tramitação. Disponível em: 
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Apesar-da-demanda-crescente--STJ-reduz-
em-7-8--o-numero-de-processos-em-tramitacao.aspx. Publicado em 18/12/2019. Acesso em 11/01/2020. 
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Apesar-da-demanda-crescente--STJ-reduz-em-7-8--o-numero-de-processos-em-tramitacao.aspx
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Apesar-da-demanda-crescente--STJ-reduz-em-7-8--o-numero-de-processos-em-tramitacao.aspx
7 
 
 
 
Cediço que a estrutura do processo judicial brasileiro prestigia a coisa julgada 
inter-partes com ação judicial individual, porquanto, tendo o processo diferentes partes, a 
cada uma será garantida a análise substancial do casum. Contudo, com o decorrer dos anos, 
verificou-se que enquanto se aprimorava a efetividade jurisdicional, inclusive com o 
desmembramento do Supremo Tribunal Federal e criação do Superior Tribunal de Justiça, em 
1988, uma mesma questão era submetida diversas vezes à análise do judiciário, apenas 
porque se referia a pessoas diferentes, gerando retardamento no judiciário, ensejando 
julgamentos demorados e sobrecarga de trabalho (MARINONI, et all, 2017, p. 864). 
Imagine-se, por exemplo, uma questão de responsabilidade civil ambiental ou 
uma questão tributária, cuja demanda é pulverizada em vários tribunais do país, com 
exigência de análise individual do caso. Veja que proferir a mesma decisão para diversas 
ações judiciais idênticas, apenas com alteração das partes, é, em verdade, retrabalho. Desse 
modo, viu-se no direito comparado a solução da saturação do judiciário por demandas 
semelhantes (MARINONI, et all, 2017, p. 865). 
O sistema jurídico de precedentes é conhecido principalmente pela origem 
inglesa, todavia, ao contrário do que muito se aventa sobre o commow law, ele é dotado de 
sistematização, sim. Em suma, por volta de 1187, o rei Henry II, da Inglaterra, conhecido por 
suas sábias decisões dentro e fora de seu reino, encomendou a um de seus renomados juízes 
(Glanvill) a escritura de um livro que condensasse os costumes judiciais dos casos julgados 
nas Cortes Reais. Assim feito, referido livro disseminou entre as colônias e reinos, de modo 
que seu conhecimento passou a ser recomendado a todos os territórios sob a ordem do reino 
inglês (VIEIRA, 2007, p. 30). 
Posteriormente, no século XII, criou-se o habito de relatar em livros os casos 
submetidos a julgamento, sendo que as decisões passaram a ser escritas. Os casos mais 
importantes eram postos a julgamento pelo órgão colegiado (Câmara Exchequer), e a decisão 
exarada pelo órgão colegiado servia de parecer para os demais reinos. Até esse momento, a 
sistematização dos julgados não constituía norma jurídica tampouco possuía observância 
cogente, mas apenas decisões que serviam de parâmetro para novos casos semelhantes. E é 
por essa razão que se diz “direito costumeiro”, porque a decisão vinculava apenas como 
forma de precedente e costume, não consubstanciando, todavia, como lei no sentido estrito 
(VIEIRA, 2007, p. 30). 
Somente no século XIX a monarquia e o Parlamento inglês declararam a 
obrigatoriedade dos precedentes escritos, que passaram a ser vinculantes por comando de lei 
8 
 
 
 
e ordem real, devendo a população e os juízes respeitarem não só os precedentes, mas 
também a hierarquia das Cortes Judiciais da Inglaterra (VIEIRA, 2007, p. 31). 
Atualmente o direito inglês possui o Group Litigation Order (Ordem de Litígio 
em Grupo), criado em 1998, que tem a finalidade de permitir que demandas semelhantes (não 
necessariamente idênticas) tenham tramitação conjunta, valendo-se de técnica parecida com a 
ação de classe, a fim de dar-lhes um tratamento eficiente e efetivo. Por Luiz Guilherme 
Marinoni (et all), a essência desse mecanismo é a sua ênfase na eficiência da gestão de 
processos, de modo que ele é pensado, sobretudo, no interesse do próprio Poder Judiciário. A 
solicitação para que uma causa possa tramitar sob esse regime especial depende de prévia 
consulta à Law Society’s Multi Party Information Service e de uma autorização específica do 
tribunal ao qual a causa está vinculada (Lord Chief Justice ou Vice - Chancellor, dependendo 
do caso). Pode abranger tanto questões de fato como de direito comuns a um grupo e pode ser 
provocada pelo interessado ou, de ofício, pelo juiz envolvido. É então designado um tribunal 
que terá a atribuição de examinar a questão comum, resolvendo a matéria em relação aos 
interessados que assim postularem (MARINONI, et all, 2017, p. 866). 
Nesse mesmo sentido, MARINONI, menciona o direito alemão, elencando o 
chamado Musterverfahren, introduzido por uma lei de reforma da Justiça Administrativa 
alemã, em 1999. O termo “Musterverfahren” significa “procedimento padrão” e foi 
idealizado na Alemanha para regular um caso específico e já existente à época de sua criação. 
Referida crise no judiciário ocorreu pela insatisfação de 17.000 investidores que pleiteavam 
cerca de 150 milhões de euros a título de indenização, por intermédio de 900 escritórios de 
advocacia distintos, em virtude de terem sido induzidos a utilizar informações falsas na oferta 
pública de ações da Deutsche Telekom feita em 1999 e 2001, que os fez perder dinheiro 
(STADLER, 2010, p. 100). 
Consoante publicado pela revista oficial do Senado Federal Brasileiro, Revista de 
Informação Legislativa, no Musterverfahren alemão o procedimento é subdividido em fases 
(GONÇALVES e DUTRA, 2015, p. 193)
4
. 
 
No Musterverfahren, ao contrário, o legislador germânico estabeleceu 
critérios mais objetivos. Explica Astrid Stadler (STADLER, 2010, p. 101) 
que: (i) deve ser feito um requerimento em uma das ações individuais 
ajuizadas de submissão ao processo-modelo, que é anunciado em edital; (ii) 
nos quatro meses seguintes devem ser formulados outros nove 
requerimentos de submissão, totalizando dez ao todo; (iii) os pedidos são 
submetidos ao Tribunal Regional, que escolhe um autor-modelo, 
 
4
 Disponível em: https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/52/208/ril_v52_n208_p189.pdf. 
https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/52/208/ril_v52_n208_p189.pdf
9 
 
 
 
suspendendo-se os outros processos; (iv) os autores dos processos pendentes 
são “partes convidadas”, o acórdão-modelo reveste-se de autoridade da 
coisa julgada e as outras causas continuam no primeiro grau de jurisdição, 
terminando com acordo ou sendo sentenciadas (GONÇALVES e DUTRA, 
2015, p. 193). 
 
A aplicação da decisão do caso piloto selecionado pela Corte alemã no 
mecanismo de Musterverfahren exige a observância de alguns requisitos e de estrito juízo de 
admissibilidade, sendo que no início do procedimento realiza-se uma cisão no julgamento da 
causa, de modo a destacar as questões comuns e proferir a decisão em segunda instância 
apenas em relação a estas. As novas demandas propostas com a mesma matéria de direito e 
de fato, serão apreciadas por seu juízo natural, responsável por aplicar a solução da questão 
comum. 
Como se nota, em que pese o sistema alemão se aproximar muito do recém-criado 
Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas no Brasil, posto que este se inspirou 
naquele, ainda assim, guardam-se semelhançasquanto à obrigatoriedade de aplicação em 
escala daquela decisão. A seleção de um caso-piloto para fixação do entendimento permite 
que o operador do direito tenha ferramentas para dimensionar as semelhanças e as diferenças 
do seu caso atual em relação ao caso paradigma, de modo que, apesar da coercibilidade 
existente no instituto, é possível fazer o distinguishing, isto é, a distinção e o destacamento 
das diferenças entre os casos, ensejando inaplicabilidade do precedente. 
Contudo, doutrinadores criticam esses mecanismos de julgamento em massa, 
arrazoando que há o risco de o operador da norma cometer distorção na interpretação da 
ementa, assim como há o risco de a própria ementa ser precária. Andreia Costa Vieira, 
citando Richar Ward, descreve: 
 
Não é tudo o que é dito ou escrito pelo juiz em sua decisão que se torna 
ratio. Uma decisão, em regra, contém três elementos: i) fatos narrados, que 
são a base da livre convicção de um juiz; ii) princípios de direito positivo 
aplicáveis aos fatos em julgamento, e iii) a decisão que se baseia nos dois 
primeiros elementos (VIEIRA, 2017, p. 33). 
 
Segundo a autora, o elemento que mais interessa às partes do litígio é a própria 
decisão, o comando procedência/improcedência, com efeitos diretos sobre seu cotidiano, 
tanto no sentido patrimonial, quanto no sentido de liberdade, em se tratando de ação penal. 
Ao passo que, contrapondo-se ao interesse das partes, o que mais importa para a doutrina e os 
juristas é a ratio que ali reside, isto é, todo o arrazoamento de direito que conduziu à decisão 
final (VIEIRA, 2017, p. 33). 
10 
 
 
 
Contudo, frequentemente, a ratio não está bem delimitada no caso concreto, e é 
confundida com o obiter dictum. O obiter dictum constitui qualquer razão de direito utilizada 
para formar o raciocínio da decisão (exemplos, analogias), que, embora possui notória 
importância no litigio, são supérfluas para a formação da ratio (VIEIRA, 2017, p. 34). 
O desafio do instituto dos precedentes é identificar no caso concreto o que perfaz 
raio decidendi e o que compõe a obiter dictum, de modo a acertar na reaplicação da decisão. 
Nas palavras de Andreia Costa Vieira, citando Cracknell: 
 
Nem sempre é fácil encontrar a ratio em um caso relatado da Common Law, 
tanto no seu sistema original britânico como nos seus sistemas importados 
norte-americano, canadense, sul-africano, australiano e outros. A ratio pode 
consistir em alguns parágrafos ou de dezenas de páginas e será todo o 
arrazoado de direito que vinculará, conjuntamente com a sua base fática, 
pois é nesta que um caso se distingue de outro. Não necessariamente estará 
em texto contínuo. Além disso, dificilmente os juízes identificam a ratio em 
seus julgados quando a elaboram. Entendem que essa é a tarefa do 
intérprete. Em muitos casos, obter dictum foi transformado em ratio por 
errônea interpretação, mas se perpetuou como common law. Assim, 
infelizmente, muitos obter dicta tornaram-se “o direito” (VIEIRA, 2017, p. 
34). 
 
O desafio de identificar a ratio decidendi e a obiter dictum, presente em cada 
decisão, é solucionado pelo distinction, isto é, distinção do caso atual para o caso concreto. 
Pela distinção, ao juiz é permitido deixar de aplicar o precedente no caso 
concreto, considerando que o caso ora em julgamento é distinto daquele que formou o 
precedente. Nesse ponto reside a necessidade de o precedente ter sido firmado em vários 
casos (afetação) e de trazer consigo boa parte do arrazoado (ratio), posto que, em assim 
sendo, sua margem de aplicabilidade será otimizada e ampla, uma vez que a 
representatividade será mais abstrata possível (VIEIRA, 2017, p. 35). 
O sistema de precedente brasileiro guarda várias semelhanças com as figuras 
mencionadas. Todavia, só se presta para a solução da mesma questão de direito, não sendo 
admitido para questões de fato comuns – o que, segundo Marinoni, e Arenhart poderia ter 
viabilizado, acaso previsto, a possibilidade de adequação do processo civil brasileiro ao 
tratamento da “complex litigation” (MARINONI, et all, 2017, p. 866). 
No ano de 2004 foi realizada a Emenda Constitucional nº 45 que incluiu o art. 
103-A na Constituição Federal brasileira que incluiu o instituto da Súmula Vinculante no 
Brasil e estabelece: 
 
11 
 
 
 
Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante 
decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre 
matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na 
imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do 
Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas 
federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou 
cancelamento, na forma estabelecida em lei 
 
Entretanto, a análise dos enunciados de Súmula vinculante demonstra que o 
comado neles contido se assemelha muito mais com o comando positivo ou negativo do 
decisium, do que ao ratio decidendi impostado no caso paradigma. Portanto, nas palavras de 
Andreia Costa Vieira, em que pese o ordenamento jurídico conferir às sumulas vinculantes o 
título de “precedentes”, em verdade, não o são, pois precedentes não são comando, e, sim, 
razões (VIEIRA, 2017, p. 36). 
A autora pondera a possibilidade de que essa dissimulação do instituto de 
precedentes adotado seja intencional, já que não bastasse ser incluído na Constituição Federal 
em 2004, o Novo Código de Processo Civil, datado de 2015, com vigência a partir de 18 de 
março de 2016, dispôs em seu art. 927 a ampliação do instituto, com vinculação a todas as 
esferas, onde se lê: 
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: 
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de 
constitucionalidade; 
II - os enunciados de súmula vinculante; 
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução 
de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e 
especial repetitivos; 
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria 
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria 
infraconstitucional; 
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem 
vinculados. 
§ 1º Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, § 
1º , quando decidirem com fundamento neste artigo. 
§ 2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em 
julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas 
e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir 
para a rediscussão da tese. 
12 
 
 
 
§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo 
Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de 
julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da 
alteração no interesse social e no da segurança jurídica. 
§ 4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou 
de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade 
de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da 
segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia. 
§ 5º Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por 
questão jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede 
mundial de computadores. 
 
Com efeito, em que pese ser utilizado o termo “observarão”, o mesmo deve ser 
interpretado como “estarão vinculados”, não havendo liberdade de escolha para o magistrado 
se aquela matéria já tiver sido resolvida pelas Cortes superiores. Segundo Andreia Costa 
Vieira, o texto legal do at. 927 importa dois elementos do Common Law, qual seja, i) 
vinculação por si só, e ii) organização dos precedentes por matéria jurídica. 
Segundo a autora, o primeiro elemento diz respeito à noção de obrigatoriedade já 
implantada pela Súmula vinculante, agora expandida para outros tribunais e decisões,tornando as súmulas obrigatórias até para o Supremo Tribunal Federal. Já o segundo 
elemento diz respeito à estrutura da aplicação de precedentes, sendo que o Brasil inverteu a 
ordem originada no direito inglês para constar: primeiro cria-se a Súmula e somente depois se 
aplica aos julgamentos. Ao passo que no Common Law primeiramente julga-se, aplicando-se 
aos casos, e somente depois ocorre a sistematização (VIEIRA, 2017, p. 36). 
Não obstante a vinculação dos juízes aos precedentes, bem como aos enunciados 
sumulados, o ordenamento jurídico brasileiro no âmbito cível estabelece que a sentença deve 
possuir relatório, fundamentos e dispositivo, não podendo ser superficial, sem correlação com 
o caso concreto ou indicar conceitos indeterminados, sem explicar o motivo, consoante art. 
489, Código de Processo Civil. 
Diante disso, nota-se que o sistema de precedentes adotado pelo Brasil reflete 
clara apropriação cultural do sistema Common Law (Inglaterra), contendo, por sua vez, 
enunciados mandatórios, e não meros arrazoados direcionadores (como é no sistema inglês). 
Ainda, é possível aferir que o instituto do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, 
idealizado na Alemanha através do Musterverfahren, também tem forte presença no contexto 
normativo atual brasileiro, com o objetivo precípuo de otimizar a esteira de processos nos 
tribunais. 
13 
 
 
 
2. SÚMULA 
 
 
2.1. O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
 
O Código de Processo Civil implementado pela lei nº 13.105, de 16 de março de 
2015, é lastreado em princípios processuais assim dispostos em vários artigos, convindo 
mencionar, o art. 8º, que segue transcrito: 
Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e 
às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da 
pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a 
legalidade, a publicidade e a eficiência. 
 
Desse comando legal importa tecer, nas palavras de Marinoni, que “o juiz deve 
fidelidade ao direito, isto é, à ordem jurídica”. Isto, pois no exercício do seu míster o juiz 
deve observar não somente a legalidade, mas também a juridicidade existente nos comandos. 
Diz-se que a legalidade é a norma fria, não interpretada, ao passo que a juridicidade diz 
respeito aos elementos não textuais da ordem juridica, conformada pelos significados que lhe 
são outorgados nas Cortes Supremas. Ou seja, a juridicidade se perfaz pela aplicação da 
norma, no seu efeito social, e pelo mecanismo utilizado para sua aplicação (MARINONI, et 
all, 2017, p. 25). 
Visando atingir a juridicidade da norma, o Código de Processo Civil dispôs que 
os Tribunais, isto é, qualquer tribunal, e não somente o Superior Tribunal de Justiça e 
Supremo Tribunal Federal, tem o dever de dar unidade ao direito exarado e interpretado por 
si. Isso importa dizer que a juridicidade deverá obrigatoriamente ser materializada. 
 
Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la 
estável, íntegra e coerente. 
 
Nesse contexto, o legislador do novo Código de Processo Civil entendeu que não 
basta apenas uniformizar a juridicidade existente, isto é, o direito interpretado e aplicado, 
tendo os tribunais também o dever de mante-la íntegra e coerente, permeando o instituto com 
a segurança juridica (MARINONI, et all, 2017, p. 26). 
Depreende do texto normativo que qualquer tribunal será responsável por exarar 
suas súmulas, todavia, deve-se observar a clara distinção existente na ordem jurídica 
brasileira; porquanto os Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais (segunda 
14 
 
 
 
instância) são incumbidos de controlar a interpretação do fato concreto, da prova produzida e 
do direito aplicável ao caso concreto e fomentar o debate a respeito das possíveis soluções 
interpretativas a partir da jurisprudencia elaborada pelas Cortes Supremas. Ao passo que as 
Cortes Supremas, no Brasil, Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça 
(terceira instância ou instância extraordinária), possuem função de interpretar o direito a 
partir do caso concreto e dar a ultima palavra a respeito de como deve ser entendido o direito 
constitucional e o direito federal (MARINONI, et all, 2017, p. 900). 
Diante da competencia de cada instância, classificada por matéria fática ou de 
direito, que é o que distingue a segunda instância da instância extraordinária, 
respectivamente, note-se que a fim de uniformizar a jurisprudência os Tribunais de Justiça e 
Regionais Federais têm para si o mecanismo de instauração de Incidente de Resolução de 
Demandas Repetitivas, o qual permite a abrangência de qualquer tipo de matéria - consoante 
fulcro no art. 977, do Código de Processo Civil, in verbis: O pedido de instauração do 
incidente será dirigido ao presidente de tribunal: I - pelo juiz ou relator, por ofício; II - pelas 
partes, por petição; III - pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, por petição. 
O art. 926 do Código de Processo Civil trata indistintamente a jurisprudência, 
entretanto, segundo MARINONI, et all, existem diferenças entre jurisprudencia, Súmula e 
precedentes. 
Trata-se de equívoco que deve ser dissipado a fim de obviar o risco de 
degenerarmos a problemática e democrática juridicidade em um apodítico e 
autoritário legalismo. Jurisprudência, precedentes e súmulas são conceitos 
que não podem ser confundidos – ainda mais porque o legislador procurou 
ressignificar os conceitos de jurisprudência e de súmulas e introduzir o de 
precedentes no novo Código. Apenas o Supremo Tribunal Federal e o 
Superior Tribunal de Justiça formam precedentes. Os Tribunais Regionais 
Federais e os Tribunais de Justiça dão lugar à jurisprudência. As súmulas 
podem colaborar tanto na interpretação como na aplicação do direito para as 
Cortes Supremas e para as Cortes de Justiça – e, portanto, podem emanar de 
quaisquer dessas Cortes (MARINONI, et all, 2017, p. 901). 
 
Assim, conforme o autor, o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de 
Justiça são competentes para formar precedentes; enquanto os Tribunais de Justiça e os 
Regionais Federais são competentes para formar jurisprudência; ao passo que todos são 
competentes para formular súmulas (NERY JUNIOR, 2016, p. 2093). 
Na tradição jurídica, a jurisprudencia é obtida da interpretação da lei pelas Cortes 
para solução de casos cuja multiplicidade e reiteração são capazes de servir de parâmetro de 
controle e uniformidade, não servindo, contudo, a qualquer autoridade vinculante. Todavia, 
segundo o autor, o códex processual de 2015 altera o significado do termo “jurisprudência”, 
15 
 
 
 
passando a dispensar, no âmbito do incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR), 
por exemplo, a reiteração das decisões, pois basta apenas um julgado em IRDR para que a 
interpretação e o decisium sejam vinculantes (MARINONI, et all, 2017, 901). 
No mesmo sentido, na tradição jurídica as súmulas eram tidas como um 
mecanismo eficaz de ordenação e compendiamento da interpretação de determinada norma, 
de modo que se prestava, sobretudo, a facilitar a tarefa dos juízes. Inicialmente, frise-se, o 
principal destinatário eram os proprios juízes e órgãos judiciais. Bastando, para tanto, que 
estivesse redigida de forma abstrata, sem qualquer alusão ao caso concreto que a ensejou. 
Todavia, a nova norma processual alterou seus parâmetros. 
 
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: 
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria 
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria 
infraconstitucional; 
 
A alteração da importância processual dos enunciados sumulares, tida sobretudo 
pela obrigatoriedade de aplicação decorrente do comando “observação” presente no art. 927, 
supra transcrito, faz reconhecer que as súmulas não mais servem apenas aos juízes e órgãos 
judiciários, passando a importar a todo o sistema de justiça e também à sociedadecivil. 
Sabidamente, por essa razão se previu nessa nova “modalidade” sumular que os enunciados 
deverão conter as circunstâncias fáticas que motivaram suas criações, com fulcro no que 
estabelece o art. 926, §2º, do Código de Processo Civil (MARINONI, et all, 2017, p. 902). 
Permeando-se de tamanha importância na sociedade, o instituto sumular deve se 
valer de segurança jurídica, de modo que se mantenha estável, cognocível e confiável. 
 
A segurança jurídica não é um fim em si mesmo: a interpretação judicial do 
direito deve ser segura (cognoscível, estável e confiável) a fim de que seja 
possível a cabal realização dos princípios da liberdade e da igualdade. 
Tampouco a coerência é um fim em si mesmo: a coerência – junto com a 
universabilidade – constitui um postulado que visa a aferir a racionalidade 
do resultado interpretativo. E a racionalidade é um componente essencial do 
direito. O sistema jurídico deve ser seguro e as normas que o compõem 
devem ser coerentes (deve existir uma conexão de sentido que denote um 
suporte circular, complexo e gradual entre as normas: deve haver 
consistência e completude no plano formal e dependência recíproca e 
comunidade de elementos no plano substancial) (MARINONI, et all, 2017, 
p. 902). 
 
Frente ao princípio da igualdade e da seguraça jurídica, MARINONI, et all, 
leciona: 
16 
 
 
 
 
Do ponto de vista da administração da Justiça Civil, não é possível respeitar 
quem não se respeita. Verificado o respeito aos próprios precedentes, é 
possível exigir o respeito dos outros. E é exatamente por essa razão que logo 
na sequência o legislador institui o chamado stare decisis vertical (art. 927, 
CPC): isto é, a necessidade de que o Poder Judiciário seja visto como uma 
unidade, isto é, tendo apenas uma única face para a pessoa que espera 
justiça. A necessidade de stare decisis horizontal decorre do princípio da 
segurança jurídica, notadamente da necessidade de estabilidade do sistema 
jurídico (MARINONI, et all, 2017, p. 903). 
 
A respeito da segurança jurídica oriunda dos enunciados sumulares, o códex 
processual também traz implícita a ideia de estabilidade vertical e horizontal dos julgamentos, 
isso porque causas iguais devem ser julgadas igualmente, remetendo ao direito fundamental 
de igualdade previsto na CF – “Art. 5º CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de 
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. 
(caput art. 5º, CF) –, bem como remetendo ao princípio processual da “paridade de 
tratamento” dispondo que o mesmo direito e oportunidade dados a uma das partes, será 
concedido à outra parte – “Art. 7º CPC É assegurada às partes paridade de tratamento em 
relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos 
deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo 
contraditório” - Assim, enquanto a Constituição Federal trata do direito fundamental inerente 
ao Homem, o Código de Processo Civil dispõe do direito procesual inerente a qualquer parte 
cuja demanda esteja sob judice do Estado. 
Em vista disso, o Código de Processo Civil de 2015 previu que a alteração de 
entendimento sumulado, bem como a revogação de sumulas, deverá obedecer determinado no 
art. 927, §§ 2º, 3º e 4º, in verbis: 
 
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: 
 
§ 4º A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou 
de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade 
de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da 
segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia. 
 
Depreende-se do parágrafo 4º que visando à segurança jurídica, a proteção da 
confiança e à isonomia, a modificação de enunciado sumular deverá observar fundamentação 
específica e adequada, de modo a fornecer respaldo, coerência e legitimidade ao novo 
entendimento, uma vez que, devido ao efeito vinculativo, o enunciado obriga a todos, tanto 
17 
 
 
 
juízes e tribunais, quanto advogados, população, entes administrativos e a Administração 
Pública e para atingir o objetivo vinculante deve ser legítimo e plenamente compreendido. 
§ 2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em 
julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas 
e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir 
para a rediscussão da tese. 
 
A alteração de entendimento outrora firmado consubstancia-se pela doutrina no 
chamado overruling - superação, anulação de entendimento - podendo ser total ou parcial. 
Nesse tocante, na hipótese de ocorrer revisão sobre determinada matéria sumulada, a fim de 
conferir-lhe legitimidade a alteração de entendimento, o tribunal abrirá discussão em 
audiências públicas com a participação de pessoas, órgãos e entidades com o fito de 
contribuir com o amadurecimento acerda do tema. Muito embora a legislação não se refira a 
esse procedimento como forma de conferir legitimidade à revisão, é evidente que a adoção da 
abertuda do debate à população jurídica, demonstra certa democracia - qualificada e juridica 
– de modo a arrazoar e legitimar a decisão de revisão. 
 
§ 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo 
Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de 
julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da 
alteração no interesse social e no da segurança jurídica. 
 
O Código de Processo Civil se refere à mudança de entendimento de forma 
extremamente cautelosa, porquanto a regra geral prevista no art. 926 é a manutenção, 
estabilidade, integridade e coerência dos enunciados. Ao passo que a revisão da Súmula 
contraria todo o sistema de precedentes, já que afeta decisões anteriores e, consequentemente, 
o direito adquirido e o próprio senso de justiça. 
Visando a reduzir os efeitos negativos da alteração de entendimento da Corte, o 
legislador previu que a revisão de Súmula poderá ter seus efeitos modulados, sem especificar, 
contudo, quais são as modulações possíveis. Nesse bojo, encontra-se a modulação temporal, 
no qual o enunciado revisto possui efeito ex nunc, portanto, do presente ao futuro, não 
retroagindo ao passado, de modo a respeitar as decisões já transitadas em julgado. Com 
relação ao efeito modulado
5
, traz-se à baila a disposição da Lei 9.868/1999, que dispõe: 
 
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo 
em vista razões de segurança jurídica e excepcional interesse social, poderá 
 
5
 Disponível em: < https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-modulacao-de-efeitos-nas-
decisoes-de-inconstitucionalidade-a-producao-de-efeitos-juridicos-de-normas-inconstitucionais-e-o-sistema-de-
controle-de-constitucionalidade-brasileiro/>. 
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-modulacao-de-efeitos-nas-decisoes-de-inconstitucionalidade-a-producao-de-efeitos-juridicos-de-normas-inconstitucionais-e-o-sistema-de-controle-de-constitucionalidade-brasileiro/
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-modulacao-de-efeitos-nas-decisoes-de-inconstitucionalidade-a-producao-de-efeitos-juridicos-de-normas-inconstitucionais-e-o-sistema-de-controle-de-constitucionalidade-brasileiro/
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-modulacao-de-efeitos-nas-decisoes-de-inconstitucionalidade-a-producao-de-efeitos-juridicos-de-normas-inconstitucionais-e-o-sistema-de-controle-de-constitucionalidade-brasileiro/
18 
 
 
 
o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, 
restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha 
eficácia a partir do seu trânsito em julgado oude outro momento que 
venha a ser fixado (grifo). 
 
Em que pese o CPC não especificar um rol exemplificativo de modulação de 
efeitos aplicáveis à revisão de Súmula, é possível emprestar a disposição constante da Lei da 
ADIn
6
 e ADCon
7
, que prevê que os efeitos podem ser restringidos a determinada situação, ou 
a ser eficaz a partir de determinado momento incerto e não sabido, ou a um momento 
determinado. Independente do estilo de modulação adotado, é fato que o efeito é sempre ex 
nunc, de modo a observar o interesse jurídico. 
 
 
2.2. REGIMENTO INTERNO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
 
O Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça dispõe sobre o instituto 
sumular na Seção I, do Capítulo IV, concentrando o tema principalmente entre os artigos 
121-A e 127. 
Referido Regimento Interno, atualizado até a Emenda Regimental nº 35, edição 
de 08 de maio de 2019, já passado pela adequação ao Código de Processo Civil de 2015, não 
exaure a materia procedimental quanto à criação de súmula, porquanto aborda apenas o 
mecanismo primário de proposição de súmula. Assim é possível observar que a 
regulamentação da matéria é, por derradeiro, um tanto precária. 
O capítulo é aberto com o comando de vinculação aos precedentes qualificados a 
que os juízes e tribunais estão obrigados, dispondo que por precendente qualificado entende-
se acórdão proferido em julgamento de incidente de assunção de competência e em recurso 
especial repetitivo, além de enunciados de súmulas do STJ, in verbis: 
Art. 121-A. Os acórdãos proferidos em julgamento de incidente de assunção 
de competência e de recursos especiais repetitivos bem como os enunciados 
de súmulas do Superior Tribunal de Justiça constituem, segundo o art. 927 
do Código de Processo Civil, precedentes qualificados de estrita observância 
pelos Juízes e Tribunais. (Incluído pela Emenda Regimental n. 24, de 2016). 
 
Seguindo adiante no regimento, verifica-se que trata especificamente dos 
enunciados sumulares, sendo que o caput do art. 122 dispõe que a súmula será o reflexo da 
 
6
 Ação Direta De Inconstitucionalidade 
7
 Ação Declaratória De Constitucionalidade 
19 
 
 
 
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça compediado em enunciados. O parágrafo 
primeiro do mesmo artigo distingue dois tipos de precendentes: um correspondente às 
súmulas, estabelecendo que serão oriundas dos enunciados obtidos por decisões com quórum 
qualificado. O outro corresponde ao comando negativo, silente, omissivo, presente no texto 
do regimento, que indica que, ainda que preenchidos os requisitos de votação qualificada, 
referido enunciado poderá ou não ser compendiado em súmula. 
Com efeito, notório é que o preenchimento dos requisitos não atua como regra 
para que determinado precedente seja transformado em súmula, posto que sua elaboração 
constitui faculdade do Tribunal. 
 
2.2.1. Estrutura interna do Superior Tribunal de Justiça 
 
Inauguralmente, cumpre elucidar que o Superior Tribunal de Justiça é composto 
por Turmas, Seções, Corte Especial e Plenário, e, pertinente ressaltar, que essa estrutura 
prevalece desde sua fundação e sua primeira edição do Regimento Interno, publicada em 22 
de junho de 1989, tendo alterado, nesse lapso temporal, apenas a quantidade de membros 
integrantes de cada órgão fracionário. 
O art. 9º, e o parágrafo 4º do art. 2º, do Regimento Interno do Superior Tribunal 
de Justiça estabelecem que cada Turma é competente para o julgamento de matéria 
específica. No total, há seis Turmas recursais no Superior Tribunal de Justiça, sendo que cada 
uma delas é composta por cinco Ministros. A sessão de julgamento da respectiva Turma é 
presidida pelo seu Ministro mais antigo. Já as Seções são compostas por duas Turmas cada. 
Assim, havendo seis Turmas recursais, existem três Seções. Por consequencia da formação, 
cada Seção é integrada por dez Ministros, sendo que o mais antigo daquela Seção é que 
preside as sessões de julgamento, com fundamento no art. 2º, parágrafo 4º, do Regimento 
Interno do Superior Tribunal de Justiça. 
Em que pese a Seção ser integrada por dez Ministros, importante destacar que o 
Presidente não profere voto, por isso, via de regra, inexiste possibilidade de empate na 
votação, uma vez que o resultado da decisão deveria ser sempre ímpar. Todavia, estando 
ausente algum membro, é possível que a votação finde empatada, hipótese em que o 
Presidente proferirá o voto de minerva, com fulcro no art. 21, inciso VI, do Regimento 
Interno. 
Nesse tocante, o art. 8º do seu Regimento Interno dispõe que, enquanto as Turmas 
20 
 
 
 
e Seções têm competência especializada em virtude da matéria, a Corte Especial não está 
sujeita a especialização, haja vista ser composta pelos quinze Ministros mais antigos da Casa 
e é presidida pelo Presidente do Tribunal, conforme ditado pelo parágrafo 2º, do art. 2º, do 
Regimento. Desse modo, a vasta experiência dos Ministros que a compõe faz da Corte 
Especial um órgão habilitado a qualquer julgamento, bem como apto a dirimir qualquer 
divergência jurisprudencial. 
Por fim, o Plenário da Corte é composto por todos os Ministros da Casa e possui 
competência prevalecente administrativa, consoante art. 10, do Regimento Interno. 
 
2.2.2. Competência para proposição e elaboração de Súmula 
 
Visto isto, retoma-se o procedimento de proposição e elaboração de Súmula. 
Adota-se, para tanto, uma abordagem progressiva do tema, desprezando-se a ordem dos 
artigos, pois como será possível verificar, o texto regimental não possui evolução lógica do 
assunto, sendo que um assunto (proposição de súmula, por exemplo) fica esparso do inicio ao 
final da seção. 
Nesse interim, inicia-se com o art. 126, penúltimo artigo da seção, que dispõe o 
seguinte: 
Art. 126. Qualquer Ministro poderá propor, na Turma, a remessa do feito à 
Corte Especial, ou à Seção, para o fim de ser compendiada em súmula a 
jurisprudência do Tribunal, quando verifi car que as Turmas não divergem 
na interpretação do direito. 
 
Consoante o transcrito acima, verifica-se que qualquer Ministro é habilitado à 
proposição de Súmula perante a sua respectiva Turma com a imediata remessa do feito à 
Seção. A Seção, por sua vez, verificando que a matéria é comum a outra Seção, remeterá o 
feito à Corte Especial, conforme disposção do parágrafo 3º, do art. 122, Regimento Interno do 
Superior Tribunal de Justiça. Todavia, para que o feito seja remetido para a Corte Especial 
não é imprescindível que a matéria seja comum a diversas Seções, bastando, para tanto, que o 
Ministro proponente faça a remessa, conforme inferência do art. 126, transcrito supra. 
Outrossim, o Regimento Interno da Corte de Justiça distingue o ato de 
propositura de Súmula, do ato de inclusão de Súmula na pauta para deliberação. Isso porque o 
parágrafo 2º do art. 122, estabelece que a inclusão de matéria na súmula, será deliberada pela 
Corte Especial ou pela Seção. Pelo contexto utilizado, entende-se que a inclusão, em verdade, 
21 
 
 
 
refere-se à votação e à aprovação do compendiamento do enunciado na Súmula do tribunal. 
Contudo, como se nota, a redação não é clara o suficiente. 
Em outras palavras, a competência para incluir matéria para ser submetida à 
votação para conversão ou não em Súmula, é tanto da Corte Especial ou como da Seção, a 
depender do órgão originário ao qual a matéria em julgamento estiver afetada. Isto é, se a 
matéria estiver sob competência da Seção, obrigatoriamente será remetida à Corte Especial, 
todavia, se a matéria estiver sob competência da Turma, poderá ser submetida tanto à Seção 
(órgão imediato), como à Corte Especial (per saltum), não havendo, em regra, hierarquia 
entre os órgãos. A corroborar: 
 
Art. 14. As Turmas remeterão os feitos de sua competência à Seção de que 
são integrantes: 
I - quando algum dos Ministros propuser revisão da jurisprudênciaassentada 
em Súmula pela Seção; 
II - quando convier pronunciamento da Seção, em razão da relevância da 
questão, e para prevenir divergência entre as Turmas da mesma Seção; 
III - nos incidentes de assunção de competência. 
(Redação dada pela Emenda Regimental n. 24, de 2016) 
 
O que determina onde será proposta a votação de Súmula é a controvérsia ou a 
pacificação do tema, porquanto tendo as Turmas entendimento consonante sobre determinada 
matéria, sua respectiva Seção é suficiente para elaborar Súmula; ao passo que havendo 
divergência de entendimento entre Turmas e, consequentemente, entre Seções, faz-se 
estritamente necessário o submetimento da matéria ao Órgão Especial, para uniformização da 
interpretação e possível prolação de Súmula, veja-se: 
 
Art. 126. Qualquer Ministro poderá propor, na Turma, a remessa do feito à 
Corte Especial, ou à Seção, para o fim de ser compendiada em súmula a 
jurisprudência do Tribunal, quando verificar que as Turmas não divergem na 
interpretação do direito. 
 
Todavia, para que a votação seja submetida à Corte Especial, não é 
imprescindivel que haja divergência de entendimento entre os órgãos fracionários, bastando, 
para tanto, que a matéria seja comum às Seções, com fulcro no art. 122, do Regimento 
Interno, parágrafo 3º, “in verbis”: 
 
§ 3º Se a Seção entender que a matéria a ser sumulada é comum às Seções, 
remeterá o feito à Corte Especial. 
 
Não obstante, além de os Ministros proporem o compendiamento da 
22 
 
 
 
jurisprudência do Tribunal em Súmula, a propositura também poderá ocorrer pela Comissão 
de Jurisprudência da Corte, em face do Órgão Especial e da Seção competente para a 
respectiva matéria, sendo que, em face desta última, somente na hipótese em que identificar 
entendimento uníssono entre as Turmas do Tribunal. 
 
Art. 126, § 3º. A Comissão de Jurisprudência poderá, também, propor à 
Corte Especial ou à Seção que seja compendiada em súmula a 
jurisprudência do Tribunal, quando verificar que as Turmas não divergem na 
interpretação do direito. 
 
2.2.3. Votação de Súmula 
 
Ato contínuo, após definido o órgão de afetação para decisão sobre o 
compendiamento em Súmula, passa-se à forma de votação da matéria, e, como já dito no 
início desse capítulo, o regimento interno do Superior Tribunal de Justiça não exaure o 
procedimento de votação de súmula, elaboração de relatórios e votos, ordem de votação, 
abertura de vista, ou qualquer outro mecanismo comumente previsto em outras seções do 
Regimento. 
Nesse tocante, verifica-se que o procedimento de elaboração de súmula é pouco 
explorado quando comparado ao procedimento de julgamento de recurso especial repetitivo, 
por exemplo, já que são instituitos diretamente relacionados, uma vez que a seção de recurso 
especial repetitivo é contemplada pelo artigo 256-A até 156-X (ou seja, 24 artigos, mais seus 
respectivos parágrafos e incisos) e pelo art. 257-A até 257-E (5 artigos, mais parágrafos e 
incisos) totalizando, 29 artigos; ao passo que a seção que trata da súmula é composta pelos 
artigos 121 a 127 (ou seja, 7 artigos, mais parágrafos e incisos). 
Além de a quantidade de artigos destinados ao procedimento sumular ser inferior 
à do recurso repetitivo, percebe-se que a exploração material do tema é também defasada. 
Nesse sentido, não obstante a notória existência de lacunas, o Regimento Interno não 
estabelece norma para aplicação complementar ou subsidiária, de modo que a finalidade do 
regimento queda-se inatingida, já que, invés de padronizar o procedimento e, assim, eliminar 
qualquer discutibilidade, deixa a cargo dos seus membros a deliberação pontual de eventual 
controvérsia. 
Sobre a forma de votação de súmula, tem-se: 
 
Art. 122. A jurisprudência firmada pelo Tribunal será compendiada na 
Súmula do Superior Tribunal de Justiça. 
23 
 
 
 
§ 1º Poderão ser inscritos na súmula os enunciados correspondentes às 
decisões firmadas por unanimidade dos membros componentes da Corte 
Especial ou da Seção, em um caso, por maioria absoluta em pelo menos dois 
julgamentos concordantes. (Redação dada pela Emenda Regimental n. 24, 
de 2016). 
Com efeito, o artigo 122 abre o tema de votação de súmula dispondo, em 
essência, que, para estar habilitado a ser compendiado em súmula do Superior Tribunal de 
Justiça, o enunciado deve ter votação qualificada. Todavia, a redação desse dispositivo é 
extremamente dúbia e precária, podendo-se aferir no mínimo seis interpretações distintas, 
quais sejam: 
i. O enunciado firmado na Corte Especial somente será 
convertido em súmula se obtiver votação unânime dos membros da Corte Especial: Infere-se 
que a votação unânime é o máximo reflexo do entendimento linear e pacífico da Corte, não 
restando margem para dúvida sobre a legitimidade daquela interpretação. Isto, pois, a Corte 
Especial é composta pelos quinze Ministros mais antigos da Casa, e, em sendo assim, a 
decisão por ela proferida, sobretudo quando se tratar de votação unânime, tem total presunção 
de legitimidade e corretude. 
ii. O enunciado firmado na Seção somente será consolidado em 
súmula se obtiver votação favorável da maioria absoluta, em dois julgamentos concordantes. 
Infere-se que a decisão por maioria absoluta reflete, na verdade, que houve voto vencido. 
Nesse sentido, porém, apesar de prevalecer o entendimento majoritário, não há parâmetros 
para aferir se este é exatamente o correto, posto que se o minoritário errado fosse, deveria ser 
tratado como interpretação contrária à lei, e não como voto vencido. Ora, se todas as 
interpretações originam da mesma norma, não há que falar em certo e errado, mas, sim, em 
conveniencia e discricionariedade para determinado entendimento. 
iii. Se o enunciado for oriundo de apenas um caso afetado, a 
votação deverá unânime, tanto na Corte Especial como na Seção: Essa premissa é dotada de 
lógica jurídica posto que a conversão de enunciado em súmula tem o objetivo de refletir o 
entendimento da corte, e, quando baseado em apenas um caso afetado, paradigma, significa 
dizer que, embora a questão seja abrangente, o espaço amostral é pequeno, ou seja, apenas 
um caso. Portanto, em sendo pequeno o espaço amostral, obriga-se que a votação seja 
unânime, independente do órgão interno a que estiver submetida. 
iv. Se o enunciado for oriundo de dois casos afetados, a votação 
24 
 
 
 
deverá ser, no mínimo, por maioria absoluta, no julgamento de ambos os casos, que deverão 
ser concordantes entre si: Ao contrário do item iii, a afetação de dois casos como espaço 
amostral permite que a decisão seja por voto da maioria absoluta, independente do órgão 
interno a que estiver submetida. Pois, cabe ponderar que proporcionalmente o número de 
votos é maior, já que oriundo de dois casos. 
v. Se o enunciado for oriundo de dois casos afetados, a votação 
deverá ser, no mínimo, por maioria absoluta, no julgamento de ambos os casos, que deverão 
ter resultados quantitativamente concordantes entre si, isto é, mesmo número de votos 
favoráveis e contrários: bastando, para tanto, o resultado de procedência ou improcedência: 
Depreende-se dessa interpretação que sendo o enunciado baseado em dois casos, o 
julgamento de ambos deve ter o mesmo resultado prático, independente do teor de cada voto. 
Ou seja, basta que os julgamentos possuam a mesma quantidade de votos favoráveis e 
contrários, não importando o relatório e o dispositivo do decisium. Sobre o parâmetro 
quantitativo dos resultados para ensejar o compendiamento do enunciado em Súmula, afirma-
se que possui característica formal, porquanto nele importa apenas o conteúdo objetivo da 
decisão isolada, bem como da decisão em conjunto com a dos demais Ministros, momento 
em que produz o efeito real de colegialidade da procedência ou improcedência. 
vi. Se o enunciado for oriundo de dois casos afetados, a votação 
deverá ser, no mínimo, por maioria absoluta, no julgamentode ambos os casos, que deverão 
ter resultados qualitativamente concordantes entre si: Ao contrário do item v, infere-se que 
para haver conversão de enunciado em súmula, os casos afetados para a elaboração do 
enunciado devem ser julgados exatamente da mesma maneira, sem variações qualitativas. Ou 
seja, em interpretação estrita, entende-se que não é permitido ao Ministro decidir de maneira 
diferente em cada caso, uma vez que para ser convertido em súmula, o ponto de partida é o 
“julgamento concordante”. Compreende-se que o teor dos dois votos de cada Ministro deve 
ser o mesmo, já que qualquer ocilação constitui óbice para o compendiamento da súmula. 
Nesse caso, o parâmetro qualitativo do resultado está diretamente relacionado com o teor 
subjetivo do decisium, afirmando-se a prevalência da característica material desse mecanismo 
de compendiamento de enunciado em Súmula. O privilegiamento da caracterísca material, em 
detrimento da formal, indica preocupação em preservar o conteúdo basal da decisão. 
Com efeito, há obscuridade na redação quanto ao quórum de votação para que o 
entendimento seja convertido em súmula, pois não esclarece se a variação deriva do Órgão a 
que é submetida ou da quantidade de casos afetados, gerando notória falta de padrão na 
25 
 
 
 
interpretação da norma e evidente insegurança jurídica. 
Não bastasse a obscuridade referente ao quórum, pende, ainda, obscuridade 
quanto ao termo “julgamento concordante”, que não é empregado em nenhum outro momento 
do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, impossibilitando que o aplicador da 
norma utilize a chamada “interpretação sistêmica”. 
Diante da ausência de conceito, elucida-se o termo “julgamento concordante”, por 
interpretação analógica do termo “voto concordante”, que, por sua vez, aparece diversas 
vezes no texto regimental. Depreende-se, asism, que “voto concordante” é aquele proferido 
em consonância ao voto paradigma, permitindo verificar, por comparação, que os meios e 
resultados obtidos por ambos é exatamente o mesmo. O Regimento Interno do Superior 
Tribunal de Justiça, por sua vez, não explica o significado de “voto concordante”, no entanto, 
o art. 162, parágrafo 7º, dá a entender que voto concordante é aquele que concorda sobre 
todas as questões. 
Em contrapartida, ainda que estimado o conceito de “voto concordante”, não é 
possível compreender integralmente o conceito de “julgamento concordante”, posto que 
existem potenciais variações entre dois julgamentos, podendo destoar na forma (quantidade) 
ou na matéria (qualidade). 
 
 
2.2.4. Revisão de enunciado sumulado 
 
Qualquer Ministro poderá propor revisão de enunciado sumulado e, 
consequentemente, a alteração ou revogação do entendimento outrora firmado. 
A propositura de revisão de Súmula será feita em face da respectiva Turma 
recursal tomando por fundamento o julgamento relacionado àquela matéria que por ora deu 
ensejo à arguição de dúvida, podendo o feito ser sobrestado, para fins de segurança jurídica. 
 
Art. 125. Os enunciados da súmula prevalecem e serão revistos na forma 
estabelecida neste Regimento Interno. 
§ 1º Qualquer dos Ministros poderá propor, em novos feitos, a revisão da 
jurisprudência compendiada na súmula, sobrestando-se o julgamento, se 
necessário. 
 
Na prática, o parágrafo primeiro alhures ocorre em meio aos votos dos Ministros 
do Superior Tribunal de Justiça em determinado julgamento, sendo que ao divergir do 
entendimento sumulado, e visando a negar sua aplicação, o então Ministro deverá indicar e 
26 
 
 
 
propor a revisão do entendimento. Após, os demais Ministros terão vista sobre a proposta e 
votarão a favor ou contra, tomando-se a decisão por maioria. 
 
§ 2º Se algum dos Ministros propuser revisão da jurisprudência 
compendiada na súmula, em julgamento perante a Turma, esta, se acolher a 
proposta, remeterá o feito ao julgamento da Corte Especial ou da Seção, 
dispensada a lavratura do acórdão, juntando-se, entretanto, a certidão de 
julgamento e tomando-se o parecer do Ministério Público Federal. 
 
O RISTJ dispõe que sendo acolhida a proposta de revisão de Súmula – ou 
precedente, jurisprudência, orientação -, o julgamento do caso paradigma poderá ser 
suspenso, sobretando-se o feito e abrindo-se prazo para que o Ministério Público Federal 
apresente parecer sobre a matéria. Na prática, além do MPF, outros órgãos também oferecem 
parecer, com fulcro no art. 927, §2º, do CPC, como, por exemplo, a OAB, a Defensoria 
Pública, Associações Cartorárias, Forum Permanente de Processualistas Civis, doutrinadores, 
etc. 
 
§ 3º A alteração ou o cancelamento do enunciado da súmula serão 
deliberados na Corte Especial ou nas Seções, conforme o caso, por maioria 
absoluta dos seus membros, com a presença de, no mínimo, dois terços de 
seus componentes. 
 
Visto isso, a votação para alteração ou cancelamento de sumula (overruling) é 
deliberada na Seção ou na Corte Espercial, conforme o caso – isto é, se a proposta de revisão 
foi realizada e aceita pela Turma, quem votará a revisão será a respectiva Seção; ao passo que 
se a proposta foi realizada e aceita na Seção, quem votará a revisão será a Corte Especial -. 
Onde o feito paradigma estiver e antes da remessa ao órgão que fará a revisão, serão 
proferidos os votos de todos os Ministros, sendo dispensada a lavratura de acórdão, bastando 
apenas a prolação dos votos. 
Após a coletânia dos votos, o feito será remetido ao órgão revisor que passará à 
votação da Súmula tendo como paradigma o caso apresentado. Entretanto, os votos de revisão 
da Súmula não se aterão aos elementos específicos do caso concreto, devendo conter opinião 
abstrata. 
A revisão será aprovada em votação única, com a aquiescência da maioria 
absoluta, mediante a presença de, no mínimo, dois terços dos respectivos componentes. 
Noutro sentido, importante destacar uma lacuna existente no RISTJ, uma vez que 
não estabelece a consequência da revisão da Súmula, seja por alteração seja por 
cancelamento. Questiona-se: 
27 
 
 
 
a) Se a Súmula for cancelada contrariando, porém, os votos do órgão originário, 
qual decisão será aplicada ao caso concreto? Isto é, ao caso concredto será aplicada a decisão 
do órgão originário ou a do órgão qualificado? 
b) Se a Súmula for alterada para adoção de entendimento diverso do órgão 
originário, esse entendimento será aplicado ao caso concreto? Se sim, os votos originários 
serão revistos para acatar o entendimento do órgão qualificado? 
Ora, se é dispensada a lavratura de acórdão do julgamento, não é possível inferir 
das hipóteses “a” e “b”se obrigatoriamente o órgão originário deverá reformar os votos, 
adaptá-los, ou mantê-los, não cabendo, disto, interpretação extensiva. 
 
28 
 
 
 
3. ELEMENTOS LEGISLATIVOS CONSIDERÁVEIS 
 
 
3.1. ATIVIDADE LEGISLATIVA NO BRASIL E ATIVISMO JUDICIAL 
 
A Constituição Federal previu uma sequência de atos que devem ser observados 
pelos órgãos legislativos para a realização das espécies normativas previstas no artigo 59 da 
CF: Emenda à Constituição, lei complementar, lei ordinária, lei delegada, medida provisória, 
decreto legislativo e resolução. Alexandre de Moraes define processo legislativo como 
 
Juridicamente, o conjunto coordenado de disposições que disciplinam 
o procedimento a ser obedecido pelos órgãos competentes na 
produção de leis e atos normativos que derivam diretamente da 
própria constituição, enquanto sociologicamente, o conjunto de 
fatores reais que impulsionam e direcionam os legisladores a 
exercitarem suas tarefas (MORAES, 2012, p. 671). 
 
A não observância dos atos procedimentais para elaboração legislativa acarreta a 
inconstitucionalidade formal da lei ou do ato normativo, possibilitando pleno controle de 
constitucionalidade tanto pelo método difuso como pelo concentrado (MORAES, 2012, p. 
671). 
Ainda segundo Alexandre de Moraes, o respeito ao

Outros materiais