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O silêncio na psicanálise(1)

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Resumo
1
 
O silêncio na psicanálise
2
 
 
 O que é o silêncio? Pode ser o vácuo - a falta total de sons; pode ser quando a boca 
se cala e o corpo fala; pode ser como dito no filme O enigma de Kaspar Hauser cheio de 
gritos ensurdecedores... O silêncio está repleto de significados, e muda de „sons‟ toda vez 
que o contexto é diferente. Na psicanálise o silêncio também vai ter um significado que 
difere dos comumente citados. O silêncio na psicanálise é um livro que traz a todos os 
interessados na área, um novo vislumbre de algo importantíssimo que acontece no setting 
terapêutico e, que revela nuances que a própria palavra falada às vezes é incapaz de 
revelar. 
 Este resumo foi construído por partes, apenas alguns textos do livro foram 
selecionados. É como se estivéssemos oferecendo ao leitor apenas a entrada de um grande 
jantar. Aquele que quiser saboreá-lo em toda sua completude, como bom gourmet, deverá 
prová-lo inteiro, do sumário ao índice remissivo. Cada tópico deste trabalho trará o título, 
autor e página, visando assim, facilitar ao leitor situar-se na obra. O livro é extremamente 
interessante, contém textos que trouxeram, na época de publicação, formas inéditas de se 
trabalhar com o silêncio, de entender o silêncio. Para nós da Psicologia, principalmente 
aqueles que se interessam pela psicanálise, esta é uma obra que deve ser utilizada em nossa 
prática tanto para reflexão quanto como ferramenta de pesquisa e aprendizado contínuo. 
 
 Apresentação – J. –D. Nasio (p. 7-13). 
O silêncio está sempre presente numa sessão de análise, e 
seus efeitos são tão decisivos quanto os de uma palavra 
efetivamente pronunciada. (J. –D. Nasio). 
 
 
1 Resumo apresentado pela acadêmica Milena Carla Campello Jorge do 2º período do Curso de Bacharelado 
em Psicologia da Faculdade do Pantanal [FAPAN], em cumprimento as exigências da disciplina de Teorias 
da Personalidade I, ministrada pela Professora Mestre Aline Braga. Cáceres – MT, Dezembro de 2010. 
2 NASIO, J. –D.; [sob a direção de]. O silêncio na psicanálise. Tradução Martha Prada e Silva. – Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010. 
 
 O silêncio constitui um fato analítico de primeira importância. É ele que melhor 
exprime a densa e compacta estrutura do nosso inconsciente. Apesar da célebre fala de 
Lacan, de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, isso, de maneira alguma 
quer dizer que ele é formado de palavras e sons. Ele nasce através da língua, mas não é 
uma. 
A estrutura da realidade psíquica – o inconsciente – é uma estrutura muda, sem 
ressonância. Quando o analista se cala, ele não apenas realiza uma intervenção técnica 
adequada como também ajuda a mostrar o silêncio da psique. O próprio autor salienta o 
inconsciente é antes de tudo um discurso sem palavras. 
Nasio diz que o silêncio ainda carrega toda uma significação que, na maioria das 
vezes, não reflete realmente o significado desta palavra quando utilizada em psicanálise. 
Lacan já havia proposto um termo que vem abarcar melhor o significado de silêncio 
quando utilizado no universo psicanalítico. A expressão semblante
3
 do objeto a, segundo o 
autor, designa perfeitamente o duplo sentido psicanalítico que a palavra silêncio deveria 
ter. Fazer silêncio hora ou outra durante a sessão equivale a mostrar o inconsciente 
pulsional e convocá-lo novamente. 
Há poucas contribuições psicanalíticas sobre o silêncio. O autor salienta que a 
intenção deste livro é corroborar com um campo tão pouco desvendado e tão importante. 
Faz uma breve referência aos textos que serão apresentados no livro, declarando que o 
livro será uma espécie de dossiê, pois reúne as mais importantes contribuições pós-
freudianas sobre o tema e alguns excertos das obras de Freud e Lacan. Acredita que, a 
participação de diversos analistas de várias correntes de pensamento que constam no livro, 
permitirá ao leitor seguir os avanços mais atuais da pesquisa sobre o silêncio, esse lugar 
originário da palavra. 
 
No início é o silêncio (1926) – Theodor Reik (p. 17-23). 
 Um dos pacientes de Theodor Reik chamou a psicanálise de situação impossível. 
Isto porque, após a consulta preliminar, o psicanalista explica ao paciente que deverá dizer 
 
3 Semblante é o simulacro visível do mutismo invisível da estrutura psíquica (objeto a) – termo proposto por 
Lacan. 
tudo que lhe vier a mente, mesmo até as coisas que parecerem absurdas ou insignificantes. 
O problema é que falar tudo o que vem a mente às vezes é impossível, dada a convenção 
social que existe e na qual estamos inseridos. É complicado falar ao analista pensamentos 
ofensivos ou de caráter sexual que o paciente pode [fato que realmente acontece] para com 
o mesmo. O paciente sabe que esses pensamentos devem ser tratados como todos os outros 
e que ele é tão pouco responsável por eles como o é pela cor dos cabelos ou dos olhos que 
possui. 
 É uma situação realmente difícil, mas que o paciente deve aprender a lidar. Porém 
nem adianta dizer-lhe que tornar possível o que aparentemente é impossível é uma das 
principais tarefas da análise. Tudo o que se pode esperar é que o paciente consiga 
encontrar coragem em si mesmo para o que Reik diz acima. E o resto? O resto é silêncio. 
 Parece ser impossível acreditar na cura pela palavra. Que grandes problemas, 
doenças histéricas e afins, possam se dissipar somente com a utilização de „palavras‟. 
Porém essas mesmas pessoas que dizem ser difícil acreditar nisso, quando crianças criam 
na magia de palavras mágicas que abriam montanhas ou ainda criam em fórmulas mágicas 
de um feiticeiro que transformavam homens em animais e tantos outros exemplos citados 
pelo autor. Pessoas acreditam fervorosamente em discursos de chefes de estado, se 
enternecem com as palavras de poetas e acreditam na absolvição quando se confessam com 
um sacerdote. Tudo isso são palavras. P-a-l-a-v-r-a-s. Porém não se podem atribuir apenas 
à palavra os bons resultados da psicanálise. Seria mais justo e mais preciso dizer que a 
psicanálise prova o poder das palavras e o poder do silêncio. 
 Geralmente quando se fala em silêncio, na psicanálise, trata-se ocasionalmente do 
silêncio do paciente. Todavia o autor fala sobre o silêncio do psicanalista, sua importância, 
seu sentido oculto. Quando estamos conversando, em sociedade, evita-se o silêncio. Se um 
dos interlocutores deixa de falar, o outro fala. Parece que muitos de nós temos medo do 
silêncio. O analista não. Ele não tem medo do silêncio. E, seu silêncio pode ter sentidos 
diversos. Na maioria dos casos o paciente aceita o silêncio como algo benéfico e calmante, 
pois interpreta pré-conscientemente como um sinal de atenção tranqüila. Esse silêncio 
parece pedir-lhe que fale a vontade, esquecendo de todas as inibições. 
 A entrada do paciente na análise é a saída dele do silêncio. O paciente pode ter 
falado sobre tudo com todos os que o rodeiam, contudo há muita coisa que guarda com ele, 
que oculta, e o que está oculto aparecerá na situação analítica. 
 O que está recalcado no paciente uma hora aparece na análise em forma de silêncio. 
O autor compara esse silêncio do material recalcado à um local, no Oceano Pacífico, 
chamado Zona do Silêncio. Um local onde muitos navios sucumbiram porque não se ouve 
som nenhum, e que parece situar-se no vácuo. A psicanálise consegue penetrar nesse 
domínio onde o silêncio impera no paciente. Em sua zona do silêncio. Apesar da 
resistência superficial, aos poucos, o paciente vai se ajustar a essa situação nova e insólita. 
 Vagarosamente o silêncio do psicanalista muda de significado para o paciente. Este 
fala sobre coisas dispersas, de maneira a evitar aquela que quer vir à tona. Daí se instaura o 
silêncio e nem adianta pedir ajuda ao psicanalista. Uma paciente de Reik disse a ele: 
façamos silênciosobre outra coisa. 
 As palavras têm um valor diferente quando pensamos do que quando as 
pronunciamos. A palavra falada tem um efeito retroativo sobre quem fala. E o silêncio do 
analista acaba por intensificar essa reação. O analista assiste potências que lutam entre si, 
as que querem se exprimir e, outras, que querem levar ao silêncio. 
 O silêncio do analista age de maneira encorajadora para o paciente, porque muitas 
vezes o próprio paciente se assusta com aquilo que falou e, o silêncio daquele, acaba sendo 
tão eficaz do que qualquer palavra. Por isso esse silêncio ocupa lugar de grande 
importância e se torna uma intervenção certeira quando utilizada no momento certo. O 
analista, através da terceira orelha escuta o que a fala contínua do paciente esconde. Ou o 
que, através do silêncio ruidoso, quer ser manifesto. 
 
Um caso de mutismo psicogênico (1927) – Sophie Morgenstern (p. 41-57). 
 O artigo de Sophie Morgenstern apresenta um valor histórico, por ter sido o 
primeiro trabalho psicanalítico conhecido na França, na qual a psicanalista utilizou o 
desenho como método de análise e, que mostrou claramente, como o silêncio conseguiu 
induzir uma nova forma de escuta analítica da criança em forma de desenho. 
 A autora relata que o paciente em questão deixou de falar durante algumas 
semanas, após uma mudança de domicílio. Quando foi levado para consulta, fazia um ano 
que não falava com seu pai e quatro meses que não pronunciava nenhuma palavra. 
 A primeira consulta de Jacques R. foi tão difícil que decidiu-se mantê-lo no 
Patronato em observação. Quando a psicanalista o viu pela primeira vez ele estava ansioso 
e dobrado sobre si mesmo. Após descartar se tratar de uma possível esquizofrenia 
constatou-se, por muitos motivos, minuciosamente descritos pela autora em seu texto, que 
seu mutismo baseava-se no conflito psicológico entre ele e seus pais. 
 O menino parecia apreciar música e gostava de desenhar. No primeiro contato com 
ele a psicanalista impressionou-se com os desenhos feitos pelo paciente. Um menino 
olhando para um homem, com horror, era presença em todos os desenhos. Percebendo 
então, que o único meio de expressão de Jacques era o desenho, Sophie M. decidiu 
empregá-lo para o tratamento. Ele desenhava e ela o interpretava pedindo ao menino que 
acenasse com a cabeça se ela estava certa ou não. Foi assim, com o auxílio dos desenhos, 
que a analista conseguiu fazer com que seus conflitos inconscientes dele fossem expressos. 
 Cenas de horror eram habituais nos desenhos. Através deles, a autora pôde perceber 
que Jacques se desembaraçava de uma grande parte de suas angústias, porém continuava 
mudo. A psicanalista tentou por várias vezes forçá-lo a falar, mas não adiantava, pois, com 
gestos, dizia que as palavras não queriam sair. E quando indagado por ela o que o impedia 
de falar, desenhou um homem com uma faca na mão. Depois dessa sessão ele revelou 
quase completamente seu conflito. 
 A cada desenho feito pelo menino, ficava mais evidente que, predominava neles, 
cenas de castração. A psicanalista disse ao menino, após repetidamente ter desenhado 
nítidas cenas de castração, que não havia porque temer esse tipo de punição, que ninguém 
lhe cortaria nenhum membro, pois jamais se faz isso com crianças, e que, também, logo se 
livraria de seus maus hábitos [como tocar-se], desde que não pensasse mais nisso. Porém, 
mesmo depois dele ter revelado de maneira tão expressiva o que lhe causava horror, ele 
ainda continuava sem falar. 
 As sessões foram suspensas por um tempo, para ver se a falta destas faria surtir 
algum efeito no menino. Mas nada que Sophie M. fizesse o tirava do mutismo. Após a 
retomada as sessões, ele voltou a desenhar conteúdos em que a castração era nítida, e 
também, desenhos que exprimiam grande mágoa por ter sido separado de sua mãe. Os 
desenhos, exprimindo angústia crescente, temores atrozes e acumulação de objetos na 
mesma folha, demonstravam profunda inquietude. O horror expresso na fisionomia do 
menino do desenho simbolizava seu próprio medo de castração [por exemplo, quando ele 
desenhou por muitas vezes um menino com a barriga esburacada]. Desenhos com cenas 
disfarçadas de coito e a importância que Jacques dá ao duplo pênis do cirurgião, em um 
desenho, impressionam ainda mais. 
No ponto de vista psicanalítico o desenho é muito intuitivo e também nos dá a 
explicação do que Jacques quer simbolizar, a castração e principalmente a punição pelo 
onanismo. Em outros desenhos cortam-lhe os braços, pois suas mãos estavam sujas –
[onanismo] - são más porque fazem sujeiras disse Jacques. Cabeças cortadas aparecem 
também nos desenhos e isso, nada mais é, do que outro símbolo de castração. Apesar de 
todos os esforços, nada era capaz de fazê-lo romper o silêncio. 
O menino passa a urinar na cama e em outro dia faz necessidades nas calças e suja 
tudo. É um momento muito dramático. Desenha um urinol e outros objetos esparsos em 
volta e ele adormecido na cama, fica claro que era o desenho de um sonho que tivera. 
Depois disso passa a repetir os desenhos com suas misérias. 
O pequeno paciente passa a demonstrar que tinha grande interesse pelas questões de 
excreção. A maioria das crianças tem interesse pela função de excreção, porque está 
intimamente ligada à maneira pela qual as crianças vêm ao mundo. Provavelmente ele se 
aproximou dessas questões, em parte, pela história de Chapeuzinho Vermelho, que 
simboliza o nascimento. 
 Ainda num outro desenho Jacques representa o resto de seus conflitos inconscientes 
quando desenha um homem urinando num vaso e um rapazinho com as partes cortadas ao 
lado. A psicanalista estava convencida de que era ele e seu pai retratado no desenho. 
Depois que esse conflito inconsciente passou para a camada consciente, desapareceu toda a 
angústia que o obcecava e perdeu todo o medo que o impedia de falar. 
 Após ter voltado a falar, Sophie M. pediu a ele que interpretasse os desenhos e 
assim, pôde obter a confirmação de sua hipótese sobre a origem se sua neurose e, sobre a 
significação de seu mutismo. O menino começou a tratar seu pai mais amigavelmente e 
demonstrava alegria em vê-lo. Todos da família ficavam muito felizes quando ele os 
visitava. 
Toda a vida do menino se desenrola num mundo imaginário. Desde que se livrou de 
sua angústia seus desenhos mudaram. Segundo Freud o recalque provoca sublimação e, 
em Jacques, a atividade criativa foi despertada e contribuiu para enriquecer seus desenhos. 
Tentou, a pedido da psicanalista, redesenhar alguns de seus desenhos, porém disse 
não conseguir, pois não se lembrava. Nos primeiros desenhos as cenas de angústias eram 
evidentes, cenas cheias de horror, que se passavam à noite, às escuras. Mas quando voltou 
a falar, as cenas retratadas eram durante o dia e, as pessoas possuíam expressões tranqüilas. 
Sophie M. descobriu que o início da neurose de Jacques remonta a um período em 
que teve a mãe inteiramente para si, prazer que a visita do pai impedia, pelos menos 
parcialmente. Temia o pai mais a noite do que de dia, por ser a hora em que o pai o privava 
da mãe e o impedia de se tocar. 
Essa história está repleta de acontecimentos banais, mas muito conhecidos na 
prática psicanalítica. O complexo de Édipo e a castração levaram o menino ao mutismo e a 
uma atitude de hostilidade para com o pai. 
A autora salientou que a análise não estava completa, pois não se chegou à 
reconstituição do trauma primordial. Entretanto, o inconsciente de Jacques encontrou uma 
solução para o problema que o atormentava, realizando-o nos desenhos simbólicos, dando 
assim, provas de que havia sentidos ocultos em suas relações com os pais. Essa foi a 
primeira vez que Sophie M. conheceu conflitos em seu estado primordial, representados 
pelos desenhos da criança que foram inspirados pelo inconsciente. 
Há nos desenhos todos os mecanismos psicológicos citados por Freud: a 
condensação;a identificação; a transposição de baixo para cima; a sobredeterminação e a 
transferência para com a analista – papel principal na cura do doente. A análise infantil é 
de curta duração – menor do que dos adultos. Ana Freud tem razão em dizer que o 
caminho da criança neurótica não é o mesmo do adulto doente. Na criança a neurose é 
atual, no adulto ela está construída sobre fortes bases falsas e se demora mais para 
desconstruir tudo isso e chegar às camadas onde estão os conflitos. 
 
“Z” – Jacques Hassoun (p. 94-103). 
Tempo ameaçado de ruptura, o silêncio é uma espera que 
negaceia com a morte. (Jacques Hassoun). 
 
 Jacques Hassoun, em seu texto, fala sobre uma moça a qual ele codinomina “Z” 
que, por ser asmática, o som de sua respiração tinha um chiado com o som „Z‟. 
 Conta ele que enquanto criança sua paciente havia visto, por várias vezes, pela 
fresta da porta do banheiro, a mãe tentando se suicidar e, elas se viam através do espelho, e 
se encontravam uma na outra, pelo olhar. Com a morte sempre presente, em suspensão, e 
sempre sendo contrariada, era uma morte que não conseguia „vingar‟. 
 A moça, quando bebê, tivera o corpo marcado por uma doença - uma doença de 
pele - e que seu pai a fotografava para mostrar a seus alunos. Quando cresceu, o problema 
de pele deslocou-se para uma patologia respiratória, a asma. Desta forma, voltou a ter uma 
pele de bebê, mas havia algo em seu interior absolutamente dramático. Algo conseguiu sair 
de dentro dela, e era seu sofrimento em forma de masoquismo que chicoteava o pouco 
narcisismo que restava em si, e que, aos poucos, ia morrendo. 
 Guardava um segredo desde a infância e apenas depois de muitos anos de análise 
conseguiu colocar para fora, „evacuar‟, não mais reter. A vida dela era toda uma 
encenação, pois quando criança tinha sido proibida de falar o que via e o olhar ocupava o 
primeiro lugar entre ela e a mãe. 
 Era através do olhar que a paciente conseguia saber o que o analista estava lendo no 
momento. Perscrutava com o olhar o consultório todo, sua mesa, suas estantes. Pelo olhar 
sabia se ele havia comparecido ou não, aos seminários de Lacan. Ela rompia o silêncio 
apenas para dizer o que via/não via. 
 Seu pedido de análise não fora impelido pela asma, mas sim pelo fato de nunca ter 
podido ser feliz em suas paixões, sua vida era repleta de histórias impossíveis e cheia de 
sofrimento o qual nunca cansava de encenar. E esse sofrimento passava pelo seu corpo 
também. O prazer que sentia necessitava estar atrelado ao sofrimento. 
Seu corpo vergastado causava horror em seus parceiros e sentia um prazer 
indescritível em vê-los fugindo horrorizados pela visão do corpo dela, marcado de 
chicotadas, queimaduras, vergalhões. Nunca conseguiu despertar nos parceiros o sadismo. 
Ela era uma criança que pedia castigo
4
. Apenas depois de muitos anos é que pôde falar 
sobre isso para o analista. Adorava ficar em silêncio no divã, durante a sessão, imaginando 
o que o analista estaria pensando, provavelmente perturbado diante de um corpo em 
silêncio. Um corpo que tentava a morte impossível. Exultava por saber ter exposto a 
miséria de seu corpo sofredor ao olhar do analista. 
 O „Z‟ de asma juntava-se ao „Z‟ de eczema. Depois de um tempo passou a acreditar 
que esse som [„Z‟] era algo que vinha romper seu silêncio retomando cada pedaço da 
história de sua infância que havia silenciado, disfarçado, dissimulado. Esse disfarce, essa 
dissimulação que regia o mundo dos adultos é que fazia com que as crianças tivessem que 
guardar segredos, infelizmente segredos que, na maioria das vezes, pesam sobre elas. 
 Nasceu de uma gravidez muito desejada e o desejo de seu pai pelo seu corpo 
purulento enquanto bebê ela atualizava no olhar de outros homens. Aparentemente o que 
pode-se perceber é que o Complexo de Édipo não se dissolveu, pois as coisas na vida da 
paciente se repetiam constantemente, remetendo-se ao olhar do seu pai sobre seu corpo e 
de sua mãe em seus olhos, enquanto a olhava na porta do banheiro. 
 A pulsão de morte ancorou-se no Ego, como poderia ser. E com isso, a pulsão de 
vida ficou como que suspensa. Vida sem morte e o par prazer/desprazer, que não 
temperavam sua vida, se fundamentavam em uma única pulsão: a pulsão de morte. Em sua 
vida, o amor era impossível. O princípio do prazer somente existia quando se cruzavam 
pulsão de vida com pulsão de morte e, desta forma, ela conseguia manter um laço contínuo 
com a pulsão de morte. 
Apenas quando conseguiu subjetivar seu sofrimento é que pôde sair do labirinto em 
que se encontrava desde pequena. Assim, aos poucos, o sintoma [a asma] desapareceu 
juntamente com os outros sintomas, e as pulsões se desuniram. O silêncio foi rompido e, 
enfim, a moça conseguiu começar a viver. 
O autor salienta que precisamos aprender a romper o silêncio. Só assim, falando, é 
que podemos viver sem estarmos presos as pulsões. 
 
4 N.A. Inferi aqui que essa necessidade que a paciente sentia, de ser castigada, era por ter visto a mãe 
cortando os pulsos. 
Crônica psicanalítica de um silêncio – J. –D. Nasio (p. 204-214). 
 Nasio vai tratar neste texto sobre como o silêncio pode se diferenciar em si mesmo. 
As várias formas do silêncio. Ele destaca três silêncios. O primeiro, o silêncio da escuta 
que demonstra atenção e ouvidos que querem ouvir. O segundo, o silêncio que pontua a 
fala do analisando e, por fim, o terceiro, o silêncio de transferência, que é o silêncio para o 
qual a escuta deve se abrir. 
 A crônica em questão é um relato que abrange um período de 18 horas, de um dia 
para o outro, marcado por algumas ações da rotina do autor. Nasio diz que, ao terminar a 
sessão naquele dia, despede-se de sua última paciente, entra no consultório e volta 
rapidamente para pegar as correspondências e, encontra a paciente que acabara de atender, 
sentada no patamar da escada, chorando. Ele preferiu voltar sem despertar a atenção dela. 
No momento em que ele volta, tem a impressão que lhe diz que ele não viu alguém 
chorando, viu olhos chorando. 
 A paciente em questão é Laure, uma jovem que procurou há dois anos a análise 
logo depois de sua irmã ter se suicidado. Os sintomas demonstravam um luto por fazer. Na 
mesma noite do ocorrido, Nasio comenta numa reunião um texto de Freud. Um texto que 
fala sobre a organização simbólica que dá suporte a anatomia da lesão no corpo das 
histéricas. 
 Ao admitir-se que se tem uma anatomia da histeria – que é uma anatomia feita de 
idéias – se aceita então, que a lesão provocadora da paralisia nas histéricas é uma lesão nas 
idéias, uma anomalia entre elas. Tal idéia particular, porque particularmente investida de 
afeto, não consegue integrar-se no conjunto das idéias. 
 E toda essa comunicação acerca da histeria fez com que o autor se perguntasse: 
com que material histérico Laure estaria modulando seu corpo psíquico? E seria essa 
indagação que o levaria a fazer considerações certeiras no caso da paciente em questão. 
 Na mente da histérica uma boneca de pano habita – a representação simbólica de 
seu corpo – e é deste ser imaginário que ela se impregna. Sendo assim, a histérica não 
poderá sofrer nenhum trauma que a boneca imaginária de sua infância não tenha sofrido, 
pelo menos aproximadamente. Foi desta maneira que o autor chegou à preposição de que 
na boneca de Laure, foi percebido algum traço, alguma marca singular, significativa, que 
carregava efetivamente alguma idéia, idéia essa que logo é explicitada pelo autor na 
crônica em questão. 
 Na manhã seguinte o analista estava lá, em sua poltrona, impregnado pelas 
conclusões tiradas do texto de Freud, que, diante de um sintoma seria necessário voltar-se 
para as bonecas originárias e seus significantes que estiveram presentes na formação dos 
sintomas. 
 Quando a analisanda, naquele dia, se instala no divã, o analista relembra,a si 
mesmo, o que lhe impressionara na véspera: ter visto olhos chorando. A própria analisanda 
começa a falar sobre o choro no patamar e logo Nasio deixa de lado suas elucubrações 
sobre a impressão que tivera. Volta-se para ela, em silêncio, escuta-a, e relembra as 
bonecas imaginárias. E se, talvez, os olhos de Laure remetessem aos olhos das bonecas 
imaginárias que a pequena Laure um dia houvesse amado? 
 O analista pergunta a ela sobre suas bonecas de infância e ela começa a falar, mas 
diz que se lembra mais de um boneco, na verdade uma criança pintada numa tela. Segundo 
ela uma criança triste, com grandes olhos tristes. A relação entre os olhos tristes do 
menino e os olhos de Laure [os olhos que o analista viu chorando] pareciam tão intrincados 
que ele lembrou a impressão do dia anterior. No momento em que o analista ia intervir, 
outra lembrança se pronunciou: os olhos da irmã de Laure, antes de se suicidar. 
 Desta forma, o autor constata, depois de algumas conjecturas silenciosas, que os 
olhos do menino pareciam um traço significante de uma personagem que poderia ter sido 
uma das causas da doença da irmã, e que a levou ao suicídio. 
 A paciente, continuando a relembrar sua infância começa a contar ao analista que 
uma empregada que tiveram em casa, sempre falava a ela que se não obedecesse, colocaria 
o menino do quadro em seu lugar. Reconstruindo sua infância, impelida pelo analista, 
lembra que este quadro ficava no quarto da irmã. [Como o quadro poderia ter relação com 
a morte da irmã?]. Relembrou também, naquele momento, que a empregada havia perdido 
sua filhinha num acidente de automóvel, e que ela, por ser a preferida da empregada, 
sempre sentia que substituiria a filha perdida. A analisanda falava de si mesma e da filha 
falecida da empregada, ambas presas à tristeza da criança impressa na tela. Porém, Nasio 
acreditava que ela, na verdade, evocava na sua lembrança, sua irmã morta. 
 Para Laure o quadro, algo simbólico, do imaginário, parecia estar na origem de uma 
morte real. Ao fazer essa constatação se cala, e nem ela, muito menos o analista, seriam os 
mesmos, após aquela reconstrução [e é aqui que se situou o silêncio da transferência]. No 
momento em que concluiu que os olhos tristes da criança no quadro estavam ligados à 
morte da sua irmã, ela modificou sua posição de sujeito. 
 Antes desse silêncio apenas rememorava, agora estava dentro do olhar de sua irmã, 
confundida com ele. Naquele momento é que se deu a relação transferencial, quando o 
desejo do analista e o desejo da analisanda se tornaram um só. É no olhar de ninguém que 
a transferência se realiza e que o inconsciente existe.

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