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FINANÇAS CORPORATIVAS E MERCADO DE CAPITAIS AULA 1 Prof. Luiz Itamar Rosa 2 CONVERSA INICIAL Olá! Na aula de hoje, vamos estudar os Princípios da Administração Financeiras, ou seja, os elementos que compõem as finanças corporativas, suas funções, sua história e sua abrangência. Além disso, iremos mostrar as oportunidades do profissional da área de finanças. Será mostrado também o funcionamento do mercado financeiro e do mercado de capitais, e por último serão expostas algumas hipóteses e teorias que sustentam os mercados de capitais e são de fundamental importância na administração financeira das empresas. Boa aula! CONTEXTUALIZANDO Considerada por Gitman (2010, p. 3) como “a arte e a ciência de administrar o dinheiro”, o termo finanças ou administração financeira é amplo e dinâmico, afetando diretamente a vida das pessoas e das organizações. Há muitas áreas e oportunidades de carreira nesse campo. Gitman (2010, p. 3) também destaca que o termo finanças está relacionado a processos, às instituições, aos mercados e aos instrumentos envolvidos na transferência de dinheiro entre pessoas, empresas e órgãos governamentais. Seleme (2010, p.16) destaca a importância da administração financeira, a qual permite que o gestor obtenha informações precisas e bem delineadas para solucionar problemas de ordem financeira e operacional da empresa. Como toda ciência, as finanças corporativas incorporam em seu escopo as grandes evoluções do mundo contemporâneo. Segundo Assaf Neto (2014), as finanças das empresas vêm apresentando ao longo do tempo um processo consistente de evolução conceitual e técnica. O mesmo autor menciona que até a crise econômica de 1929–1930 existia uma predominância dos aspectos externos das empresas, conhecidas como abordagem tradicional. A função financeira até então estava centralizada na captação de recursos, sendo a principal preocupação do administrador financeiro a captação de recursos junto aos fornecedores de capital (acionistas, banqueiros e poupadores). Posteriormente a esse período e influenciado por Taylor, Fayol e Ford, as diversas atividades de natureza repetitiva e sistemática que caracterizavam a 3 administração financeira sofreram fortes modificações e as empresas passaram a direcionar seus esforços para os aspectos internos, voltados ao aperfeiçoamento e ao desenvolvimento de sua estrutura organizacional. Na década de 1940 até meados de 1950, Assaf Neto (2014, p. 4) menciona que as finanças voltaram a focar as decisões externas das empresas, estudando o ponto de vista de um emprestador (aplicador) de recursos, sem atribuir maior destaque para as decisões internas da organização. Na década de 1950, contudo, a ênfase passou a ser os investimentos empresariais e a geração de riqueza. Nesse contexto, as finanças corporativas passaram a preocupar-se tanto com a alocação mais eficiente de recursos como com a seleção mais adequada de suas fontes de financiamentos. Nessa década surgiram dois importantes conceitos financeiros: o retorno do investimento e o custo de capital, com destaque para a interdependência das decisões financeiras. O uso de computadores, na década de 1960, permitiu que a área de finanças aprimorasse as informações e sugerisse modelos mais sofisticados para a tomada de decisões (Assaf Neto, 2014). Os trabalhos de Franco Modigliani e Merton Miller, apresentados em 1958 e 1961, foram os precursores da moderna teoria de finanças, na qual os autores abordam a irrelevância da estrutura de capital e dividendos frente ao valor de mercado da empresa. A partir da década de 1990, a grande evolução da teoria de finanças priorizou outro importante segmento de estudo: gestão de risco. O mercado financeiro desenvolveu metodologias e sofisticados modelos de avaliação de risco que foram absorvidos pelas empresas em seu processo de decisão (Assaf Neto, 2014, p. 5). Além da gestão de risco, a década de 1990 também priorizou a formulação de estratégias financeiras voltadas à criação de valor econômico. Dentro desse contexto, Seleme (2010, p. 24) ilustra o quão dinâmico é o ambiente no qual as organizações estão inseridas, citando alguns fatos importantes pelo qual o mundo passou nos últimos 30 anos: • a revolução tecnológica; • a interdependência global; • a reestruturação produtiva; • o surgimento de organizações de natureza pública e social de caráter não governamental; 4 • a circulação do capital financeiro com maior desenvoltura; • o crescimento das atividades criminosas; • as novas formas de organização da sociedade; • a crise de paradigmas; • a expansão do terrorismo; • a eclosão de inúmeros focos de luta armada no planeta. Esses eventos, aliados a um panorama em que as distâncias espaciais não representam mais barreiras para as influências de caráter político, econômico, social ou cultural de um determinado grupo, permitiram um fenômeno denominado globalização, o qual passou a ser discutido a partir da década de 1990. Seleme (2010, p. 27) caracteriza a amplitude dos estudos em finanças sob duas óticas: 1. Ótica ampla: quando o campo de estudos financeiros se preocupa com: • as instituições financeiras; • os mercados financeiros e como estes funcionam dentro do sistema financeiro (nacional e internacional). 2. Ótica restrita: nesta ótica as finanças estudam: • o planejamento financeiro; • a gestão de ativos; • a captação de fundos por empresas e instituições financeiras. Para Assaf Neto (2014, p. 3), a aplicação de métodos de avaliação e conteúdo conceitual dessa ciência tem assumido um papel bem mais abrangente, elevando a sua importância para as empresas. O administrador financeiro, por outro lado, passou a ser exigido, identificando uma necessidade de especialização e atualização cada vez maiores. O ensino e a prática da administração financeira estão cada vez mais desafiadores, pois as empresas já não são mais o que eram há uma ou duas décadas atrás, quando quem tinha diferenciais competitivos, como custos, preço e qualidade, garantia sua sobrevivência frente à concorrência. 5 TEMA 1 – ELEMENTOS DE FINANÇAS CORPORATIVAS A relevância da função de administração financeira, para Seleme (2010), depende da complexidade das operações e do tamanho da organização: quanto mais complexa e maior for a organização, provavelmente maiores responsabilidades serão atribuídas ao setor financeiro. 1.1 Funções da área financeira Segundo Rossetti et al. (2008), há grande convergência entre os autores no que se refere à dinâmica das decisões financeiras. A gestão financeira tem a função de: • Elaborar o planejamento financeiro no sentido de evidenciar as necessidades tanto de financiamento como de investimentos para que a empresa consiga atingir os seus objetivos. • Realizar a gestão de ativos: cuidar dos investimentos no sentido de obter o melhor resultado considerando o risco e o retorno. • Realizar a gestão do passivo: verificar a melhor estrutura de capital no sentido de minimizar o custo dos financiamentos. • Realizar a gestão de dividendos: decisões que envolvem fundamentalmente a distribuição do lucro líquido (resultado do exercício) entre dividendos e reinvestimentos. Resumidamente, Rossetti et al. (2008) complementam que, para atuar, a empresa capta recursos junto a acionistas e instituições financeiras, o que gera um custo financeiro para remunerá-los. Em contrapartida, a empresa investe esses recursos na expectativa de obter retornos suficientes para remunerar o capital emprestado. A base para essa remuneração é o lucro obtido. A Figura 1 ilustra esse raciocínio. 6 Figura 1 – O processo decisório no campo econômico-financeiro Fonte: Rossetti et al., 2008, p. 51. 1.2 Áreas de atuação e oportunidades do profissional em administraçãofinanceira Várias são as oportunidades de carreiras que existem na administração financeira. As nomenclaturas de cargos usadas variam consideravelmente. Seleme (2010) descreve algumas dessas funções: • Analista financeiro: dá aconselhamento financeiro e faz análise de desempenho e de atividades afim, com a utilização e avaliação de informação econômica, financeira, estatística, entre outras. • Analista de orçamento de capital: avalia e recomenda a implantação de ativos necessários para uma organização, sempre com o cuidado de manter o equilíbrio entre as entradas e saídas de recursos da organização. • Gerente de projetos financeiros: profissional ligado diretamente à atividade de elaboração de projetos de financiamento e/ou investimento para as organizações, tendo como função principal a avaliação do custo- benefício das transações. 7 • Gerente de caixa: controla e coordena as transações de curto prazo da empresa, como saldos de caixa, cobranças, investimentos, empréstimos, transferências e relacionamento com bancos. • Analista de crédito: administra a política de concessão de crédito para terceiros por meio de análise e avaliação do solicitante. Além de conceder crédito, o analista também controla o recebimento destes. Ross et al. (2009) enfatizam que nas grandes empresas a área financeira geralmente é atribuída a um alto dirigente, tal como o vice-presidente de finanças ou diretor financeiro, mais alguns executivos de escalões inferiores. Para os autores, a tarefa mais importante de um administrador financeiro é a de criar valor nas atividades de investimento, financiamento e gestão de liquidez da empresa. Para Seleme (2010), a atividade dos profissionais de finanças no Brasil tem se tornado cada vez mais complexa. Com a abertura de mercado ocorrida na década de 1990, o Brasil tem participado mais intensamente do comércio internacional, obrigando suas organizações a se ajustarem a essa nova realidade. Dessa forma, os profissionais da área financeira começaram a sair de suas funções básicas e passaram a participar da organização de forma mais ampla para torná-la mais competitiva. Para atender às novas demandas da conjuntura econômica e financeira, o profissional de finanças, além de ter domínio de suas funções básicas e técnicas, passou a ser um analista de todo o seu meio. Seleme (2010) conclui que o principal parâmetro para o exercício das profissões ligadas à área financeira é a necessidade de o profissional estar atentos a questões sociais, culturais, demográficas, políticas, legislativas e econômicas, a fim de que suas decisões sejam tomadas com base em múltiplos critérios, com intuito de reduzir a margem de erro e maximizar os resultados da organização. A Figura 2 ilustra essa necessidade de conhecimento amplo do gestor financeiro. 8 Figura 2 – Demandas das sociedades modernas para os gestores financeiros (GF) Fonte: Rossetti et al., 2008, p. 23. Gitman (2010) também destaca a importância de uma capacitação ampla do conhecimento do gestor financeiro, pois a globalização fez com que as empresas fossem obrigadas a ter um maior relacionamento com outros países. Essas mudanças ampliaram a necessidade de contar com administradores financeiros capazes de gerenciar fluxo de caixa em diferentes moedas e protegê- lo dos riscos que decorrem naturalmente das transações internacionais. Gitman (2010) conclui que embora essas mudanças aumentem a complexidade da função de administração financeira, podem levar a uma carreira de maior realização e maiores recompensas. 1.3 Administração financeira nas empresas Seleme (2010) destaca que não tem como falar dos profissionais de finanças sem se reportar ao contexto das empresas. Para tanto, é fundamental 9 entendermos o conceito de empresa. De acordo com Bueno (2007), trata-se de negócio, associação para explorar uma atividade econômica, associação mercantil. Frente a isso, a empresa tem um único fim: a otimização de resultados. Essas empresas são classificadas basicamente em três tipos: • Empresas Privadas: tem como principal característica o fato de seus proprietários serem pessoas físicas e/ou empresas particulares. • Empresas Públicas: diferenciam-se basicamente pelo fato de que o poder (federal, estadual ou municipal) é o proprietário. • Empresas Mistas: são aquelas cujos proprietários são compostos por empresas privadas e por empresas públicas. A característica comum a esses três tipos de empresa é que todas atuam com o intuito de obter resultados positivos. O que diferencia uma empresa privada de uma empresa pública é que a privada busca auferir lucros para o bem do proprietário, enquanto a pública busca atender à população em geral. Já a empresa mista tende a atender aos anseios tanto dos proprietários privados como dos públicos. Outras características importantes a serem consideradas nas empresas brasileiras são o número de sócios e a opção tributária. A Figura 3 ilustra essas características: Figura 3 – Características das empresas brasileiras Tipo de empresa Nº de sócios Opções tributárias Microempreendedor Individual 1 titular Simples Nacional Empresário Individual 1 titular Simples Nacional, Lucro Real ou Presumido Eireli 1 titular Simples Nacional, Lucro Real ou Presumido Sociedade Limitada 2 ou mais sócios Simples Nacional, Lucro Real ou Presumido Sociedade Anônima 2 ou mais acionistas Lucro Real Fonte: Adaptada de Sebrae, 2017. 10 Dos tipos de empresas que podem ser abertas no Brasil, merecem destaque: • Microempreendedor Individual – MEI: é a pessoa que trabalha por conta própria e que se legaliza como pequeno empresário com faturamento anual de até R$ 81.000,00, não podendo ter participação em outra empresa como sócio ou titular. • Empresário Individual: esta sociedade é exercida em nome próprio da atividade empresarial, no qual se integralizam bens próprios para a exploração do negócio. Diferente da Eireli, a atividade individual é ilimitada, sendo assim, o empresário responde de forma ilimitada pelas dívidas contraídas pela empresa, com todos seus bens pessoais, incluindo do cônjuge (dependendo do regime de casamento). • Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – Eireli: formada por um único sócio, cujo capital mínimo não poderá ser inferior a 100 vezes o maior salário mínimo vigente no país. O titular não responderá com seus bens pessoais pelas dívidas da empresa, e no nome empresarial deverá constar Eireli após sua denominação social. • Sociedade Limitada: composta por dois ou mais sócios que contribuem em moeda ou bens para a composição do capital social da empresa. Cada sócio tem sua responsabilidade limitada a sua composição no capital social. • Sociedade Anônima – S.A.: empresa jurídica de direito privado, possui seu capital dividido em partes iguais denominadas de ações, as quais podem ser negociadas em bolsas de valores. Suas ações podem ser adquiridas pelo público em geral, que se torna sócio da empresa sem que faça parte do contrato social. TEMA 2 – MERCADO FINANCEIRO: PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIO/FORMAS DE NEGOCIAÇÃO 2.1 Mercado financeiro Para entender melhor o mercado financeiro é fundamental a compreensão dos principais títulos negociados pelas empresas de capital aberto. 11 Segundo Ross et al. (2009), as empresas de capital aberto (sociedades anônimas) oferecem dois tipos básicos de títulos aos investidores: • Títulos de dívidas, que são obrigações contratuais de devolução de empréstimos feitos à empresa. • Títulos de propriedade, que são ações da empresa (ordinárias e preferenciais) que representam direitos não contratuais aos fluxos de caixa residuais da empresa. Os títulos de dívida e de propriedade que são ofertados ao público pela empresa passam a ser transacionais, ou seja, comercializáveis nos mercados financeiros. Mercado financeiro é definidopor Seleme (2010, p. 42) como um ambiente em que existe o relacionamento entre elementos que possuem fundos (poupadores) e os que são deficitários (tomadores). Esse ambiente possui normas e regras a fim de que haja credibilidade para uma relação sem sobressaltos. Essas normas e regras são determinadas e fiscalizadas por elementos que recebem a denominação de intermediários financeiros (autoridades monetárias e agentes financeiros), os quais estão representados na Figura 4. Figura 4 – Fluxos de recursos na intermediação financeira Fonte: Ferreira, 2014, p. 22. 12 Seleme (2010) esclarece que no mercado financeiro as sobras de recursos dessa intermediação são utilizadas para financiar as atividades empresariais e os novos projetos. O autor conclui que os bancos emprestam o dinheiro poupado para custear investimentos. Para os bancos realizarem essa transação eles cobram uma taxa do tomador, denominada spread, a qual é utilizada para cobrir o custo operacional e o risco do emprestador. Quanto maior o risco de não receber o dinheiro emprestado, maior será essa taxa. Ross et al. (2009) complementam que os mercados financeiros são compostos por: • Mercados monetários: são os mercados de títulos de dívidas que vencem no curto prazo (geralmente menos de um ano). • Mercados de capitais: são mercados de dívidas a longo prazo (com prazo de vencimento superior a um ano). Neste mercado também são consideradas as ações. Além dos mercados monetários e mercados de capitais, Seleme (2010) destaca dois outros importantes mercados que fazem parte do segmento do mercado financeiro: o mercado de crédito e o mercado de câmbio. • Mercado de crédito: mercado em que atuam diversas instituições financeiras e não financeiras prestando serviços de intermediação financeira de recursos de curto e médio prazo para agentes deficitários. Os recursos disponibilizados pelas instituições financeiras são provenientes de: o depósitos captados por elas; o repasses de linhas de crédito; o recursos próprios. O Banco Central (Bacen) é responsável pelo controle, normatização e fiscalização deste mercado. • Mercado de câmbio: para melhor entender este mercado é importante que fique claro o que é câmbio. Câmbio é a operação de troca de moeda de um país pela moeda de outro. Um turista que queira viajar para o exterior precisa de moeda estrangeira. Para isso, ele se dirige a um agente autorizado pelo Bacen para efetuar a operação. Os agentes autorizados pelo Bacen para realizar operações de câmbio são: bancos, 13 caixas econômicas, corretoras, distribuidoras, agências de turismo e meios de hospedagem. Silva (2003) destaca ainda que o mercado monetário e o de capitais podem se inter-relacionar e atuar lado a lado. O autor cita o exemplo da Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) como uma localização física onde se realizam transações de ações. Numa agência do Banco do Brasil, por exemplo, pode se realizar uma aquisição de ações do próprio banco, ao mesmo tempo em que uma empresa também pode obter um empréstimo para capital de giro. Silva (2003, p. 40) também destaca a complexidade do mercado financeiro como um todo e menciona ainda que “o contexto geral da economia, com grau de maturidade, é uma condição fundamental para o funcionamento da intermediação financeira”. Em cada um dos mercados, diversos ativos são transacionados. Cada um desses ativos tem características próprias, capazes de os diferenciarem entre si. A Figura 4 ilustra essa estrutura e classificação desses ativos financeiros: Figura 4 – Estrutura e classificação de ativos financeiros Fonte: Silva, 2003, p. 41. 14 2.2 Sistema Financeiro Nacional – SFN O mercado financeiro é regulado e operacionalizado pelo chamado Sistema Financeiro Nacional – SFN. O SFN é definido por Ferreira (2014, p. 21) como “um conjunto de órgãos que regulamentam, fiscalizam e executam as operações necessárias à circulação da moeda e do crédito na economia”. O SFN visa, primordialmente, zelar pela integridade e confiabilidade das operações financeiras e de seus registros, ou seja, o sistema tem o intuito de assegurar que o processo de intermediação financeira transcorra em segurança e funcione como um dos motores da economia. Ferreira (2014) destaca o SFN é de fato bastante confiável e bem estruturado. Contudo, apresenta elevado grau de complexidade. A Figura 5 ilustra os dois subsistemas SFN, que são o subsistema normativo e o subsistema operativo: Figura 5 – Composição do Sistema Financeiro Nacional Fonte: Ferreira, 2014, p. 26. Segundo Ferreira (2014), o Sistema Normativo é constituído pelas autoridades monetárias vinculadas ao Conselho Monetário Nacional (CMN), que regulamentam, através de normatizações, o funcionamento do SFN de acordo com a política monetária do governo. Fazem parte do subsistema normativo: CMN, Banco Central e Comissão de Valores Mobiliários. 15 • Conselho Monetário Nacional (CMN): instituído em 1964 pela Lei n. 4.595, é o órgão máximo de deliberações do SFN. Ferreira (2014) destaca as principais atribuições do SFN: o constituir as diretrizes gerais das políticas monetária, cambial, orçamentária e creditícia; o regulamentar as condições de constituição, funcionamento e fiscalização das instituições financeiras, inclusive de aplicações de recursos; o disciplinar os instrumentos de política monetária e cambial. O CMN tem como presidente o Ministro da Fazenda. O órgão também é formado por mais dois membros, o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, e o presidente do Banco Central. • Banco Central do Brasil (Bacen): Silva (2003) relata que o Bacen é o executor da Política Monetária, ou seja, cumpre e faz cumprir as normas expedidas pelo CMN, intervindo diretamente nas instituições que operam no sistema financeiro. São de sua competência: o emissão de papel-moeda; o recebimento de compulsório dos bancos comerciais; o realização de operações de redesconto e empréstimos às instituições financeiras; o realização das operações de compra e venda de títulos públicos federais; o fiscalização das instituições financeiras, dentre outras atividades. • Comissão de Valores Mobiliários (CVM): criada em 1976, a CVM é uma autarquia federal que, segundo Silva (2003), disciplina o mercado de ações e debêntures, assegurando funcionamento das Bolsas de Valores e demais instituições auxiliares. Ferreira (2014) destaca também as demais atribuições da CVM: o estimular a aplicação em poupança e sua aplicação em valores mobiliários; o assegurar o funcionamento da Bolsa de Valores e de balcão; o proteger os titulares de valores mobiliários contra emissões irregulares que venham a prejudicar o mercado financeiro; o fiscalizar a emissão, o registro, a distribuição e a negociação de títulos emitidos pelas sociedades anônimas de capital aberto. 16 Ferreira (2014) define o Subsistema Operativo como o setor do SFN que realiza as intermediações financeiras, tendo por fim viabilizar o financiamento dos entes econômicos superavitários a partir de excedentes de recursos dos entes econômicos superavitários com o diferencial de juros (chamado de spread) que remunera os intermediários financeiros. Silva (2003) destaca ainda que o Subsistema Operativo é composto pelas instituições financeiras (bancárias e não bancárias) e por agentes especiais que pertencem também ao sistema normativo. Instituições Financeiras (bancárias e não bancárias) são aquelas que efetivamente realizam o processo de intermediação financeira buscando obter a remuneração (spread), que é a diferença entre a taxa de juros recebida e a taxa de juros paga aos poupadores. Ferreira (2014) destaca as instituições financeiras pertencentes ao Subsistema Operativo: • Bancos Comerciais: são os bancos de uso cotidiano, aqueles que oferecem serviços básicos, comoconta-corrente, poupança, fundos de investimentos, cartões de crédito, empréstimos e canais de pagamento de contas em geral. Prestam serviços à sociedade por meio de agências e postos de atendimento, além dos canais eletrônicos (internet banking, call centers e caixas eletrônicos). • Bancos de Investimentos: são instituições privadas que disponibilizam financiamentos de longo prazo para a atividade produtiva, bem como atuam na administração de recursos de terceiros (investimentos dos entes econômicos superavitários). • Bancos Múltiplos: são conhecidas por essa denominação pois operam com várias carteiras, uma delas obrigatoriamente sendo a carteira comercial ou a de investimento. Podem atuar nas seguintes carteiras: crédito imobiliário, arrendamento mercantil e de crédito, carteira de financiamento e investimento. Podem captar recursos por depósitos à vista por meio de contas-correntes. • Financeiras: são instituições privadas que financiam o consumo pela aquisição de bens e serviços, além de atender à necessidade de recursos de curto prazo das empresas – o capital de giro –, o que representa empréstimos a taxas de juros mais elevadas. 17 • Bancos de Desenvolvimento: têm a função de financiar projetos e programas empresariais que promovam o desenvolvimento econômico e social, viabilizando a disponibilidade de recursos de longo prazo, ou seja, em consonância com o tempo mais dilatado de maturação desses projetos, normalmente com subsídios que tornam as taxas de juros mais reduzidas e aumentam a viabilidade econômico-financeiro dos empreendimentos. • Bolsa de Valores: são sociedades anônimas ou associações civis com o objetivo de viabilizar o encontro de seus membros e a realização entre eles, em um mercado aberto e livre, de transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários. • Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo: é o conjunto de instituições que, por meio dos processos de intermediação financeira, viabilizam as aquisições de imóveis (que dificilmente podem ser comprados à vista, pois seus valores são vultosos), o que atende à política habitacional do país, bem como contribui com a movimentação dos recursos e ajuda no crescimento econômico. As instituições que fazem parte deste sistema são as Caixas Econômicas, as Sociedade de Crédito Imobiliário e as Associações de Poupança e empréstimo. • Agentes Especiais: por sua importância e abrangência, também pertencem ao sistema normativo, ainda que se dediquem mais à prática da intermediação financeira. Ferreira (2014) destaca esses agentes especiais: o Banco do Brasil (BB): uma das mais antigas instituições do país, o BB é um dos principais bancos ligados ao governo e participa do processo de intermediação financeira, além de permanecer como centralizador dos depósitos compulsórios (instrumento de controle de liquidez da moeda). o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES): Banco de desenvolvimento que concede crédito pela perspectiva de fortalecer o setor empresarial nacional, mas também se situa no sistema normativo, pois suas operações de crédito têm grande relevância na política creditícia do governo brasileiro. 18 Saiba mais Para informações mais detalhadas sobre o Mercado Financeiro, acesse o site do Banco Central do Brasil (Bacen): <http://www.bcb.gov.br/pt-br/#!/n/SFN>. 2.3 Mercado Primário e Secundário Quanto à emissão e comercialização dos títulos, Silva (2003) classifica os mercados em: • Primários: são os mercados que lidam com títulos recém-emitidos, isto é, são responsáveis pela emissão desses títulos. Silva (2003) também destaca que o mercado primário é aquele que efetivamente transfere fundos dos agentes econômicos com situação superavitária para os agentes com situação deficitária. Para Weston e Brigham (2000, p. 94), mercados primários “são os mercados nos quais as empresas levantam capital emitindo novos títulos”. Ross et al. (2009) mencionam que o mercado primário é utilizado quando governo e empresas fazem a venda inicial de títulos. As empresas fazem dois tipos de vendas de títulos de dívidas e ações no mercado primário: oferta pública e colocações fechadas. A maior parte dos títulos de dívidas e ações de empresas ofertada ao público chega ao mercado com a intermediação de um grupo de bancos de investimentos. • Secundários: após sua venda original, os títulos de dívidas e ações são negociados nos mercados secundários, que compreendem as bolsas de valores e os mercados de balcão (mercados em que são negociadas ações e outros ativos, geralmente de empresas de menor porte e não sujeitas aos procedimentos especiais de negociação). Silva (2003) destaca que o mercado secundário tem a função de dar liquidez aos haveres financeiros, isto é, aos títulos. Enquanto um bem físico (um automóvel, por exemplo) se deprecia com o passar o tempo, um título do mercado secundário não perde seu valor nem seu status. Seguramente, se não houvesse o mercado secundário, aquela pessoa que adquirisse um título (haver financeiro) teria que retê-lo até o vencimento. Para Weston e Brigham (2000, p. 94), mercados secundários “são os mercados nos quais os títulos e outros ativos financeiros são 19 transacionados entre os investidores depois que foram emitidos pelas empresas”. Há dois tipos de mercado secundário: os Mercados de Bolsa e os Mercados de Balcão. • Mercado de Bolsa: é o mercado em que se compram e vendem ações. Nele os clientes (compradores e vendedores) e as instituições do sistema de distribuição de títulos e valores mobiliários viabilizam a negociação com títulos e valores mobiliários. • Mercado de Balcão: o Mercado de Balcão é considerado um mercado virtual, pois não tem um local físico onde se vão realizar os negócios com ações e títulos. As negociações são realizadas pessoalmente ou por telefone pelos corretores. TEMA 3 – HIPÓTESE DE MERCADOS EFICIENTES - HME Para Famá et al. (2008), um dos assuntos mais importantes dentro da teoria de finanças é a Hipótese de Mercados Eficientes (HME). De acordo com essa hipótese, o mercado seria considerado eficiente se refletisse rapidamente qualquer informação disponível nos preços dos ativos, impossibilitando ganhos anormais. Isto significaria que a posse de informações sobre esse mercado não alteraria o retorno esperado. Esse conceito foi proposto por Famá (1970), e os trabalhos realizados nas décadas de 1970 e 1980 tentavam comprová-lo. Os resultados obtidos por Famá (1965) corroboram o modelo Martingale, pois mudanças significativas nos preços diários tendem a ser seguidas por grandes mudanças, cujos sinais são imprevisíveis – o que sugere que informações importantes não podem ser avaliadas imediatamente, mas que o ajustamento inicial dos preços no primeiro dia da informação é imparcial, o que é suficiente para esse modelo. Assaf Neto (2014) reitera que, em finanças, um mercado é entendido como eficiente quando todas as novas informações recebidas promovem imediata repercussão sobre os preços dos ativos. Por exemplo, se o governo prometer elevar a taxa de juros de referência da economia em 0,5%, o mercado eficiente “precifica” essa informação. Quando a decisão de aumento dos juros for tomada, pouca repercussão deve ocorrer sobre os preços dos ativos, pois o mercado foi incorporando essa expectativa ao longo do tempo. 20 Em um mercado eficiente, o valor de um ativo é reflexo do consenso dos participantes com relação a seu desempenho esperado. Na hipótese de eficiência, o preço de um ativo qualquer é formado com base nas diversas informações publicamente disponíveis aos investidores, sendo as decisões de compra e venda tomadas com base em suas interpretações dos fatos relevantes. Saraiva Junior e Ikeda (2003) destacam que a Hipótese dos Mercados Eficientes tem se mostrado uma das mais influentes teoriasno campo das finanças, sendo base para inúmeros modelos de precificação de ativos, com aplicações que vão desde modelos tradicionais utilizados em finanças corporativas até avançadas teorias utilizadas na identificação do preço “justo” de derivativos financeiros. Um dos pilares da HME é a possibilidade da arbitragem como mecanismo de correção de possíveis desvios que o mercado possa sofrer de sua forma eficiente. Pela teoria clássica dos mercados eficientes, mesmo em um ambiente caracterizado pela presença de alguns investidores não totalmente racionais, a possibilidade de arbitragem anularia o efeito destes sobre os preços dos ativos negociados, trazendo-os de volta ao seu valor fundamental. 3.1 Operacionalização das formas de eficiência de mercado Para Camargo e Barbosa (2014), na operacionalização das formas de eficiência de mercado Roberts (1967) e Famá (1970) dividiram os testes com base em três conjuntos de informação: 1. informações passadas (preço históricos); 2. informações publicamente disponíveis; 3. todo o conjunto de informação (informações passadas, públicas e privadas). As três formas de eficiência são: • Forma Fraca (Weak Form): a HME, na sua forma fraca, indica que o mercado incorpora completamente as informações sobre os preços passados dos títulos. Ou seja, retornos anormais não podem ser obtidos baseados nas expectativas de que os preços passados são bons sinalizadores dos preços futuros. Segundo Famá (1970), o pressuposto fundamental dessa forma de eficiência é o de que os retornos esperados em condições de equilíbrio 21 são formados a partir do conjunto de informações disponíveis, que está completamente refletido nos preços. Isso exclui a possibilidade de existirem estratégias de negociação baseadas simplesmente em informações passadas que promovam ganhos anormais ou retornos que excedam o equilíbrio. • Forma Semiforte (Semi-Strong Form): a HME, na sua forma semiforte, indica que os preços refletem não apenas o histórico do comportamento de preços como também todas as informações disponíveis publicamente (demonstrativos financeiros e outras publicações periódicas e não periódicas). Nenhum investidor consegue obter retornos extraordinários baseado em informações públicas, pois os preços se ajustam rapidamente às novas informações divulgadas. Segundo French e Roll (1986), informações públicas são aquelas que se tornam conhecidas ao mesmo tempo que afetam os preços, ou seja, que afetam os preços antes que alguém possa negociar com elas, enquanto as informações privadas são o oposto, afetando os preços somente por meio da negociação. • Forma Forte (Strong Form): a HME, na sua forma forte, indica que os preços refletem todas as informações existentes no mercado (históricas, públicas e privadas). Assim, um insider (pessoa que tem acesso a informações privilegiadas) de posse de informações privadas, não conseguiria auferir retornos extraordinários, pois o ajuste dos preços no mercado é instantâneo. Os estudos da forma forte são feitos com investidores que têm acesso a informações privadas, tais como fundos de pensão e seus administradores. Seus testes exigem a avaliação do acesso desses investidores a informações privadas pela mensuração de retornos anormais em mais de um período de tempo (Famá, 1991). TEMA 4 – TEORIA DA AGÊNCIA E ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO Assaf Neto (2014) destaca que as grandes companhias costumam ter milhares de acionistas, muitas vezes estabelecidos em diferentes e longínquos locais. Não há como exigir que esses acionistas se envolvam diretamente na administração dos negócios da empresa, ou que assumam certas responsabilidades administrativas e se obriguem ainda a estarem sempre 22 presentes nas reuniões. Essa função de gestão das empresas foi delegada aos administradores profissionais, determinando assim, nas modernas empresas, uma clara separação entre propriedade e administração. O autor ainda destaca que os objetivos de uma empresa devem ser estabelecidos pelos seus proprietários (acionistas), e que a principal responsabilidade dos administradores é a buscar as metas traçadas pelos acionistas. Contudo, em ambiente de gestão executiva e controle de capital separado, comum nas grades empresas, podem ocorrer problemas de convivência entre acionistas e administradores, revelando-se o conhecido conflito de agência, conhecida também por Teoria da Agência. 4.1 Teoria da Agência Desenvolvida por Jensen e Meckling em 1976, a Teoria da Agência é uma importante contribuição para explicar a relação contratual presente entre os principais (empresa) e os agentes (administradores). Assaf Neto (2014) destaca que o fundamento da teoria de agência decorre da celebração de um contrato (relacionamento de agência) em que o principal contrata outra pessoa, o agente, para desenvolver determinados serviços que envolvam decisões e delegação de autoridade ao agente. Nessa relação de agência, o principal espera que o agente tome decisões que atendam a seus interesses. O principal procura sempre maximizar suas funções de utilidade. No entanto, as visões de negócios e riscos dos agentes nem sempre são coincidentes, podendo assumir diferentes objetivos e atitudes perante as diversas decisões empresariais. Ocorrendo pontos de discordância ou objetivos divergentes entre as partes (principal e agente), tem-se o que se denomina conflito de agentes. Assaf Neto (2014, p. 37), menciona que uma conclusão importante do mencionado trabalho de Jensen e Meckling é que sempre que as partes – principal e agentes – atuem no sentido de maximizar suas utilidades pessoais, tem-se um potencial problema de conflito de agentes. O agente dificilmente irá atender plenamente ao interesse do principal. O conflito de agentes não ocorre somente entre proprietários e administradores acionistas e credores. Assaf Neto (2014) destaca que uma empresa é formada por inúmeras partes com diferentes direitos: acionistas (minoritários e controladores), instituições financeiras credoras, fornecedores, 23 credores por debêntures, administradores, funcionários, clientes, governos, sociedade na qual está inserida. Até pouco tempo atrás, esses agentes, conhecidos como stakeholders, possuíam os mesmos objetivos com relação à empresa. No entanto, verificou-se que os interesses são distintos e conflituosos, gerando desacordo entre os diversos grupos. O desafio que surge é o de conciliar a atuação dos controladores com os objetivos dos indivíduos. Esses objetivos podem surgir entre todos os stakeholders e gerar custos a empresa, além de poder prejudicar o referencial de preços de suas ações no mercado. Brealey e Myers (2008) apontam também um agravante aos conflitos de agentes, oriundo da falta das mesmas informações para os diversos grupos de agentes. Para os autores, os administradores, acionistas e credores possuem informações diferentes sobre a situação efetiva da empresa, criando as assimetrias de informações entre os agentes. A maior preocupação dos investidores (acionistas e credores) concentra-se em eventuais surpresas negativas sobre a empresa com as quais possam se defrontar ao longo do tempo. 4.2 Assimetria de Informação Para Assaf Neto (2014), a assimetria de informação é identificada quando um agente econômico detém informações desconhecidas pelo outro agente, o que conferindo a este uma posição de desvantagem na transição. São informações relevantes mantidas por um ou mais agentes (investidor, tomador de recursos, acionistas, comprador etc.) e não disponíveis no mercado. Assaf Neto (2014, p. 39) complementa que “a assimetria informacional limita a capacidade dos agentes econômicos de tomarem as melhores decisões. Uma relação se estabelece em equilíbrio quando as informações estiverem igualmente disponíveis, em extensão e qualidade, para todos os agentes”.Apesar de uma companhia aberta divulgar periodicamente inúmeras informações de seu negócio, ser monitorada de perto por diversos órgãos reguladores (CVM e Bacen) e ainda ter todos seus resultados auditados por empresas independentes, as principais decisões dos investidores estão centradas nos projetos futuros das empresas e não nas decisões tomadas no 24 passado. Para Assaf Neto (2014), este talvez seja o elemento essencial da assimetria informacional entre os agentes participantes de uma transação. O investidor de mercado não possui as mesmas informações relevantes acessadas pela administração interna da empresa, estabelecendo uma relação assimétrica. Não há como os acionistas potenciais terem acesso a todas as informações da companhia, suas intenções, estratégias e expectativas. Assaf Neto (2014) destaca que a presença de assimetria de informação gera o problema de “seleção adversa”, na qual o investidor (comprador), por não ter acesso às mesmas informações dos demais agentes, avalia com desconfiança o investimento, atribuindo um maior risco à decisão, o que se reflete em menor preço ofertado (desvalorização do ativo). O autor conclui que se todos os agentes tivessem acesso às informações simétricas, ou seja, todos tivessem à disposição as mesmas informações, os problemas de agentes seriam minimizados. Todos saberiam dos fatos e as expectativas dos grupos se tornariam mais homogêneas. Para atenuar os problemas de assimetria de informação e os conflitos gerados pela Teoria da Agência, recomenda-se a elaboração de uma governança corporativa, que nada mais é que a regulamentação da maneira como a empresa é dirigida, administrada ou controlada. TEMA 5 – MODELO DE PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS (CAPM) Segundo Prates (2014), o modelo de precificação de ativos financeiros, conhecido pela sigla CAPM (oriunda do termo em inglês Capital Asset Pricing Model), permite determinar o retorno esperado de um ativo levando em consideração o seu risco sistemático (ou não diversificável). O risco não diversificável é também conhecido por risco sistêmico ou sistemático, pois contempla aspectos inerentes a todo o sistema que envolve a precificação de um determinado ativo. No CAPM o risco sistemático é representado pelo coeficiente β. No contexto corporativo, o CAPM pode ser utilizado para calcular o custo de capital próprio, através da reta característica. Uma vez que o custo de capital de uma empresa é composto por uma parcela de capital de terceiros e outra de capital próprio, o CAPM entra no sentido de estimar o custo do capital próprio, ou seja, o retorno que os acionistas esperam obter por terem injetado dinheiro na companhia. 25 A fórmula de cálculo do CAPM pode ser expressa da seguinte forma: Taxa de Retorno Requerida = Taxa de Juros Livre de Risco + Prêmio pelo Risco Ou, em termos matemáticos: CAPM: Rf + β. (Rm-Rf) Onde: • Rf: Taxa de retorno livre de risco; • β (Beta): risco sistemático da ação; • Rm: Taxa de retorno esperada; • Rm-Rf: Taxa de prêmio relativa ao risco de mercado. Assaf Neto (2014) destaca que o CAPM é bastante utilizado nas várias operações do mercado de capitais, participando do processo de avaliação de tomada de decisões em condições de risco. Por meio desse modelo é possível também apurar a taxa de retorno requerida pelos investidores. O autor também menciona que o coeficiente beta, medida obtida do modelo, indica o incremento necessário no retorno de um ativo, de forma a remunerar adequadamente seu risco sistemático. Saiba mais Para conhecer mais profundamente o CAPM acesse: <http://www.adminconcursos.com.br/2014/05/capital-asset-pricing-model- capm.html/,2014>. 5.1 Premissas do modelo CAPM Como em todo os modelos financeiros, são definidas algumas hipóteses para seu desenvolvimento. As mais importantes hipóteses do modelo CAPM citadas por Assaf Neto (2014) são: • assume-se grande eficiência informativa do mercado, atingindo igualmente a todos os investidores; • os ativos assumem o comportamento de uma distribuição normal; 26 • os investidores, de maneira geral, são avessos ao risco. As decisões de investimentos são tomadas com base no retorno esperado e desvio- padrão; • não há impostos, taxas custos de transação ou quaisquer outras restrições para os investimentos no mercado; • todos os investidores apresentam a mesma percepção com relação ao desempenho dos ativos, formando carteiras eficientes com base em idênticas expectativas; • existe uma taxa de juros de mercado definida como livre de riscos. Prates (2014) conclui que o CAPM faz parte do conjunto teórico das finanças denominado finanças tradicionais e tem como uma de suas desvantagens a quantidade de premissas que devem ser assumidas para que o modelo se torne confiável. TROCANDO IDEIAS A extensa variedade de eventos mostrada nesta aula reflete a amplitude da área das finanças. Entender de finanças não somente prepara o estudante para seguir uma carreira, mas também lhe dá condições para tomar decisões como investidor. Independente de quanto você tem para investir, o conhecimento de finanças pode ajudá-lo a decidir em que tipo de investimento financeiro investir seu dinheiro, quando deve ser investido e como os recursos devem ser distribuídos em diferentes investimentos. NA PRÁTICA Muitos dos princípios de administração financeira são aplicáveis à sua vida pessoal: em transações de compra e venda, obtenção de um empréstimo, ao poupar e investir para atingir objetivos financeiros. Sobre o conteúdo visto nas aulas, reflita e responda à seguinte questão: por que finanças é uma área importante para você, como estudante? FINALIZANDO Para entender de finanças corporativas, vimos nesta aula aspectos relacionados aos princípios que as norteiam, destacando: 27 • as funções da área financeira; • as áreas de atuação e oportunidades para o profissional de administração financeira; • como a administração financeira pode ser aplicada em diversos tipos de empresas; • como funciona o mercado financeiro e a definição de Mercado Primário e Mercado Secundário; • a composição e as funções dos principais órgãos do Sistema Financeiro Nacional; • o entendimento de hipóteses e teorias que sustentam o mercado financeiro, como é o caso da Hipótese de Mercados Eficientes, da Teoria da Agência e da Assimetria de Informação; • a metodologia para determinar o valor de um ativo, o CAPM. 28 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014. BREALEY, R. A.; MYERS, S. C.; ALLEN, F. Princípios de finanças corporativas. 8. ed. São Paulo: McGraw Hill, 2008. BUENO, F. S. Dicionário da língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: FTD, 2007. CAMARGO, M. A., BARBOSA, F. V. Teoria e evidência da eficiência informacional do mercado de capitais brasileiro. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, n. 1, jan./mar. 2003. FAMÁ, E. F. Efficient capital markets: a review of theory and empirical work. The Journal of Finance, Chicago, v. 25, n. 2, p. 383-417, maio 1970. ______. The behavior of stock market prices. The Journal of Business, Chicago, v. 38, n. 1, p. 34-105, jan. 1965. ______. Efficient capital markets II. The Journal of Finance, Chicago, v. 46, n. 5, p. 1575-1617, dez. 1991. FAMÁ, R. et al. Hipótese de Mercados Eficientes e Finanças Comportamentais – as discussões persistem. FACEF Pesquisa, São Paulo, v. 11, n. 1, 2008. FERREIRA, M. A. Sistema Financeiro Nacional: uma abordagem introdutória dos mecanismos das instituições financeiras. Curitiba: InterSaberes, 2014. FRENCH, K. R.; ROLL, R. Stock returns variances: the arrival of information and the reaction of traders. Journal of Financial Economics, Amsterdam, v. 17, n. 1, p. 5-26, set. 1986. GITMAN, L. J. Princípios de Administração Financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson,2010. PRATES, W. R. Capital Asset Pricing Model – CAPM. AdminConcursos, 2 maio 2014. Disponível em: <http://www.adminconcursos.com.br/2014/05/capital- asset-pricing-model-capm.html>. Acesso em: 23 nov. 2017. ROBERTS, H. Statistical versus clinical prediction of the stock market. Chicago, 1967. Palestra proferida em Conference of Securities Price Analysis. ROSS, S. et al. Administração Financeira: Corporate Finance. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 29 ROSSETTI, J. P. et al. Finanças Corporativas: Teoria e Prática Empresarial no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2008 SARAIVA JUNIOR, T.; IKEDA, R. H. Mercados eficientes e arbitragem: um estudo sob o enfoque das finanças comportamentais. Revista Contabilidade & Finanças, São Paulo, v. 15, n. 34, p. 97-107, jan./abr. 2004. SEBRAE – SERVIÇOS BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICROS E PEQUENAS EMPRESAS. Os diferentes tipos de empresa. Blog SEBRAE, Empreendedorismo, 11 fev. 2015. Disponível em: <http://blog.pr.sebrae.com.br/empreendedorismo/os-diferentes-tipos-de- empresas>. Acesso em: 24 nov. 2017. SELEME, R. B. Diretrizes e Práticas da Gestão Financeira e Orientações Tributárias. 1. ed. Curitiba: Ibpex, 2010. SILVA, J. P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003. WESTON, J. F.; BRIGHAM, E. F. Fundamentos da Administração Financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Makron Books, 2000. FINANÇAS CORPORATIVAS E MERCADO DE CAPITAIS AULA 2 Prof. Luiz Itamar Rosa CONVERSA INICIAL Olá, seja bem-vindo(a) à segunda aula de Finanças Corporativas e Mercado de Capitais, em que vamos estudar como as empresas se planejam para tomar decisões de investimentos de capital, ou seja, como as empresas buscam recursos no mercado para atender os planejamentos estratégicos, normalmente de médio e longo prazo, Serão explorados ainda como as organizações mensuram seus fluxos de caixa incrementais associados as propostas de investimentos e também como avaliam a atratividade econômica do empreendimento se comparado com o custo do dinheiro (próprio ou de terceiros). CONTEXTUALIZANDO Para Neto (2014), as decisões de investimentos de uma empresa envolvem a elaboração, avaliação e seleção de propostas de aplicações de capital que são efetuadas com o objetivo de produzir determinado retorno aos proprietários de ativos. O autor ainda enfatiza que todo o processo de decisões financeiras requer uma compreensão dos princípios de formação e utilização das taxas de juros de mercado, as quais são utilizadas pelos indivíduos, em geral, visando adequar as necessidades temporais de consumo, e também pelas organizações como forma de ajuste de seus padrões temporais de investimento. TEMA 1 – DECISÕES DE INVESTIMENTOS E DIMENSIONAMENTO DOS FLUXOS DE CAIXA 1.1 Decisões de investimentos As decisões de investimentos, segundo Neto (2014), envolvem a elaboração, avaliação e seleção de propostas de aplicações de capital efetuadas com o objetivo normalmente de médio e longo prazos, de produzir determinado retorno aos proprietários de ativos (bens e direitos). Neto (2014) ainda identifica várias decisões empresariais que se incorporam a um processo de investimento de capital, citando, entre outras, as 3 decisões de substituição de ativos, de ampliação de capacidade produtiva, de lançamentos de novos produtos etc. Weston e Brigham (2004) destacam a importância de as empresas estarem preparadas para não somente financiar o capital de giro (obtenção de recursos corretes para financiar estoques, clientes etc.), mas também se planejarem para investimentos envolvendo ativos imobilizados (máquinas, equipamentos etc.). As decisões que envolvem este tipo de investimentos também são conhecidas como Orçamento de Capital. Para Weston e Brigham (2004, Pg. 524), orçamento de capital “é o processo de planejar gastos sobre ativos, cujos fluxos de caixa estendam-se além de um ano”. Os autores destacam ainda que os resultados das decisões tomadas no processo de elaboração do orçamento de capital continuam por muitos anos. Por exemplo, a compra de um ativo com vida útil de dez anos “amarra” a empresa por um período de dez anos, pois como a expansão dos ativos está fundamentalmente relacionada com as vendas futuras esperadas, uma decisão de adquirir um ativo imobilizado que se espera que dure dez anos, envolve uma projeção implícita de vendas de dez anos. Um erro na projeção das necessidades de ativos pode ter sérias consequências. Se a empresa investe demais em ativos, ela incorre desnecessariamente em pesadas despesas. Entretanto, se ela não gasta o suficiente em ativos imobilizados, podem surgir dois problemas: • Primeiramente, seu equipamento pode não ser eficiente o bastante para capacitá-la a produzir com competitividade. • Em segundo lugar, se ela tem capacidade inadequada, poderá perder uma parte de sua fatia de mercado para as empresas rivais, e a reconquista dos clientes perdidos exige pesadas despesas de vendas e reduções de preço, ambas, custosas. Weston e Brigham (2004) destacam também que o timing na elaboração do orçamento de capital é importante, pois uma empresa que projeta suas necessidades de ativos de capital a tempo terá oportunidade de adquirir e instalar os ativos antes que estes sejam necessários, ou seja se as vendas aumentarem em função de demanda de mercado, a empresa já estará preparada. Assaf Neto (2014) destaca que uma decisão de investimento é tomada segundo um critério racional. Envolve mensurar os fluxos de caixa incrementais 4 associados com as propostas de investimentos e avaliar sua atratividade econômica pela comparação com o custo do dinheiro. Uma proposta de investimento apresenta-se atraente quando seu retorno for superior às taxas de remuneração requeridas pelos proprietários do capital. 1.1.1 Seleção de projetos Para Assaf Neto (2014), um processo de avaliação e seleção de alternativas de investimentos de capital envolve os seguintes aspectos básicos de estudo: a. dimensionamento dos fluxos de caixa de cada proposta de investimento gerada; b. avaliação econômica dos fluxos de caixa com base na aplicação de técnicas de análise de investimentos; c. definição da taxa de retorno exigida pelos proprietários de capital (credores e acionistas) e sua aplicação para o critério de aceitação de projetos de investimentos; d. introdução do risco no processo de avaliação de investimento. O autor ainda menciona que as propostas de investimentos de capital de uma empresa podem ser enquadradas segundo suas diversas origens, isto é, de acordo com os motivos internos que determinam seus estudos. Apesar das técnicas de avaliação econômicas assumirem consistências com as diferentes decisões de investimentos, é interessante, para uma compreensão mais ampla deste segmento de estudo, a identificação dos diferentes tipos de investimentos que ocorrem no âmbito de uma empresa. Sendo assim, as propostas de investimentos, segundo suas fontes geradoras, podem ser classificadas nas seguintes modalidades: • Ampliação (expansão) do volume de atividade: esta proposta de investimento é justificada quando a capacidade máxima de produção e venda de uma empresa for insuficiente para atender à demanda efetiva (atual ou projetada) de seus produtos. As aplicações de capital nessa situação são processadas em máquinas, equipamentos e instalações, ou, ainda, na aquisição de outra empresa. • Reposição e modernização de ativos fixo: esta modalidade ocorre quando as empresas já atingiram um certo grau de crescimento e 5 amadurecimento em suas atividades, demandando, por isso, substituição de ativos fixos obsoletos ou desgastados pelo uso. A necessidade de avaliações periódicas do estado físico de um bem produtivo é de grande importância para uma empresa, evitandoassim sérios transtornos no funcionamento normal da atividade da empresa (por exemplo, interrupções mais frequentes no processo de produção, elevação do nível de rejeição dos produtos fabricados por avarias apresentadas etc.), além da oneração, em função do crescimento mais proporcional dos custos, o lucro da empresa. • Arrendamento ou aquisição: refere-se àquelas aquisições decisões de investimento que uma empresa deve tomar ao considerar a utilização de determinados bens fixos sob a forma de arrendamento (sem que a empresa apresente um direito legal de propriedade sobre os mesmos) ou adquiri-lo plenamente. Para avaliar esta modalidade é necessário um processo comparativo, no qual são confrontados os desembolsos e os benefícios, que ocorrerão ao longo do tempo de uso dos ativos fixos, provenientes desses processos de decisão. • Expansão dos produtos ou mercados existentes: Weston e Brigham (2004), consideram como investimentos também os gastos para aumentar a produção existentes ou para expandir os pontos-de-venda ou as instalações de distribuição em mercados que estão sendo servidos atualmente. Para os autores, essas decisões são mais complexas porque exigem uma projeção explícita do crescimento na demanda. • Expansão em novos produtos ou mercados: Weston e Brigham (2004), destacam também esses gastos que são necessários para confeccionar um novo produto ou para a expansão em uma área geográfica não servida atualmente. Esses projetos envolvem decisões estratégicas que poderiam alterar a natureza fundamental do negócio e normalmente exigem o dispêndio de grandes somas de dinheiro por longos períodos. • Projetos de segurança e/ou ambientais: nesta categoria estão os gastos necessários para atender as demandas governamentais, acordos trabalhistas ou termos de apólice de seguros. Esses Dispêndios segundo Weston e Brigham (2004), são frequentemente chamados de investimentos compulsórios ou projetos que não produzem receitas. 6 • Outras origens: Assaf Neto (2004) destaca que nessa categoria são incluídas todas as demais modalidades de propostas de investimentos não enquadradas nas classificações anteriores, principalmente aquelas oriundas de serviços externos de assessoria, pesquisa e desenvolvimento, publicidade, etc. Esses investimentos visam à geração de determinados benefícios futuros provenientes de maior eficiência e controle das operações da empresa, definição de mais adequado planejamento estratégico, incremento das vendas etc. De forma mais ampla Assaf Neto (2014) acrescenta que as origens das propostas de investimentos devem partir das formulações estratégicas e competitivas das empresas, permitindo que se antecipem às novidades tecnológicas e de mercado futuras. Uma decisão de longo prazo, em que se inserem preocupações com a continuidade e competitividade das empresas. 1.1.2 Tipos de alternativas de investimentos As alternativas de investimentos dizem respeito às diferentes situações com que se pode defrontar uma empresa no momento de tomar suas decisões. Essas situações segundo Assaf Neto (2014), ocorrem sempre que se apresentar à empresa uma quantidade de propostas maior do que aquela que ela estiver disposta (ou em condições físicas ou orçamentárias) a aceitar, podendo -se criar, dessa maneira, várias inter-relações entre as mesmas. Em outras palavras, o que se objetiva afeta identificar por meio deste estudo é como um projeto de investimento de capital afeta (ou é afetado por) outras eventuais propostas. As principais alternativas de investimento são classificadas por Rossetti et al. (2008) da seguinte forma: • Alternativas mutualmente excludentes: são as alternativas que possuem a mesma função, sendo concorrentes entre si. A aceitação de uma alternativa exclui automaticamente a possibilidade de aceitação das alternativas concorrentes. Exemplo: uma empresa deseja comprar computadores para informatizar o processo de desenvolvimento de novos produtos. Existem três fabricantes. A empresa, após escolha de um dos fabricantes para fornecer o equipamento, irá excluir as alternativas concorrentes. 7 • Alternativas dependentes: as alternativas dependentes são as que dependem entre si de tal forma que não podem ser analisadas isoladamente. Exemplo: uma hidrelétrica não pode ser analisada sem a linha de transmissão que irá interligá-las à malha de distribuição de energia. • Alternativas independentes: as alternativas independentes são aquelas que se distinguem entre si de tal modo que a aceitação de uma delas não elimina a aceitação das outras. Exemplo: uma empresa está cogitando investir 1 milhão de reais e se depara com três alternativas de investimentos: • Investir na compra de novos equipamentos; • Fazer propaganda institucional da empresa; • Construir um refeitório para os empregados. A escolha de uma das alternativas não impede a empresa de implementar também as outras. • Investimentos com restrição orçamentária: Assaf Neto (2014) destaca que muitas vezes, duas ou mais propostas de investimentos independentes não podem ser simultaneamente implementadas por causa de condições de restrição orçamentária impostas pela empresa ou, ainda, na situação de os custos de maiores captações atingirem valores incompatíveis com os retornos produzidos pela alocação desses recursos. Nessas condições, mesmo que os vários investimentos colocados à disposição da empresa sejam definidos como independentes, a limitação orçamentária poderá inviabilizar a aceitação de todos, restringindo-se a decisão somente a um (ou alguns) deles. • Investimentos com dependência estatística: Para Assaf Neto (2014), os investimentos com dependência estatística são os que se caracteriza por apresentarem variações conjuntas em seus resultados ao longo do tempo. Eventuais aumentos (ou reduções) nos benefícios de caixa de um investimento são acompanhados de variações dos outros. Exemplo: a produção de iates ou a de carros de luxo podem ser classificadas originalmente como independentes economicamente. No entanto, o desempenho dessas duas alternativas está associado aos 8 mesmos eventos externos (os negócios são dirigidos para o mesmo segmento de mercado), sendo por isso considerados dependentes. 1.1.3 Tipos de decisão sobre investimentos Existem dois tipos de decisão de investimentos descritos por Rossetti et al. (2008): 1. Aceitar/Rejeitar: exige simplesmente a aplicação de critérios de avaliação e a comparação do retorno calculado com um padrão mínimo aceitável pela empresa. Uma decisão aceitar/rejeitar é também utilizada na avaliação de projetos mutuamente excludente. 2. Classificação: as alternativas são avaliadas segundo um critério predeterminado, como, por exemplo, o VPL (Valor Presente Líquido)1. Saiba mais Para conhecer mais sobre decisões de investimento acesse: <http://www.clubedospoupadores.com/investimentos/decisoes- investimento.html>. 1.2 Dimensionamento dos fluxos de caixa Assaf Neto (2014) considera o dimensionamento dos fluxos previstos de caixa como um dos aspectos mais importantes de uma decisão de investimento. O autor destaca que a confiabilidade sobre os resultados de determinados investimentos é, em grande parte, dependente do acerto com que seus fluxos de entradas e saídas de caixa foram projetados. Em todo o processo de decisão de investimento, é fundamental o conhecimento não só de seus benefícios futuros esperados, expressos em termos de fluxos de caixas, mas também de sua distribuição ao longo da vida prevista do projeto. Para Assaf Neto (2014) o conceito de fluxo de caixa, conforme é conhecido, não coincide normalmente com o resultado contábil da empresa, apurado pelo regime de competência. Enquanto o fluxo de caixa é mesurado de 1 Para Samanez (2010, pg.188) o método do Valor Presentelíquido (VPL) tem por finalidade calcular, em termos e valor presente, o impacto dos eventos futuros associados a uma alternativa de investimento, ou seja, ele mede o valor presente dos fluxos de caixa gerados pelo projeto ao longo de sua vida útil. 9 acordo com as efetivas movimentações de todas as entradas e saídas de fundos da empresa, o lucro contábil é mensurado por competência, não incorporando em seus cálculos determinados dispêndios não desembolsáveis (depreciação, por exemplo) e algumas saídas de caixa que não se constituem rigorosamente em despesas (amortização de principal de dívidas, por exemplo). O autor conclui que no dimensionamento dos fluxos de caixa, devem ser estimadas todas as movimentações operacionais efetivas de caixa – até mesmo o Imposto de Renda – associadas a cada alternativa de investimentos em consideração. Gitman (2010), classifica os fluxos de caixa associados a projetos de investimentos em: • Fluxo de caixa convencional: consiste em uma saída inicial, seguida por uma série de entradas. Por exemplo, uma empresa pode gastar $ 10.000 hoje e esperar receber por isso entradas anuais e iguais de caixa (uma anuidade) de $ 2.000 ao ano pelos próximos oito anos, como mostra a linha de tempo da Figura 1 Figura 1 – Fluxo de caixa convencional Fonte: Gitman, 2010, p. 329. • Fluxo de caixa não convencional: é aquele onde há uma saída inicial, seguida de uma série de entradas e saídas. Por exemplo, a compra de uma máquina pode exigir saída de caixa inicial de $ 20.000 e gerar entradas de capital de $ 5.000 ao ano por quatro anos. No quinto ano após a compra, pode ser necessária uma saída de $ 8.000 para reformar a máquina, que gerará, então, entrada de $ 5.000 ao ano por mais cinco 10 anos. Esse padrão não convencional encontra-se representado na linha de tempo da Figura 2. Figura 2 – Fluxo de caixa não convencional Fonte: Gitman, 2010, p. 329. Neto (2014) enfatiza que todo o projeto de investimento deve ser avaliado em termos de fluxo de caixa, em vez de ser com base nos lucros. Essa escolha tem uma razão de ser, uma vez que é por meio dos resultados de caixa que a empresa assume efetiva capacidade de pagamento e reaplicação dos benefícios gerados na decisão de investimentos. Em outras palavras, é mediante os fluxos de caixa, e não dos lucros, que se mede o potencial efetivo da empresa em implementar suas decisões financeiras fundamentais (investimento, financiamento e distribuição de dividendos). Saiba mais Para conhecer mais sobre fluxo de caixa acesse: <https://www.treasy.com.br/blog/projecao-de-fluxo-de-caixa>. TEMA 2 – Custo de capital de terceiros 2.1 Custo de capital Para Gitman (2010), o custo de capital é a taxa de retorno esperada que uma empresa precisa obter nos projetos em que investe, para manter o valor de mercado de sua ação. Também pode ser considerada a taxa interna de retorno exigida pelos fornecedores de capital no mercado, para que seus fundos sejam 11 atraídos para a empresa. Se o risco for mantido constante os projetos com a taxa de retorno superior ao custo de capital elevarão o valor da empresa, e aqueles com taxa de retorno inferior reduzirão esse valor. Assaf Neto (2014) complementa que o custo total de capital de uma empresa é tradicionalmente obtido mediante o cálculo da média dos custos de captação, ponderada pela participação da cada fonte de fundos na estrutura de capital de longo prazo. Nessa determinação, os investidores de capital próprio (acionistas) devem exigir uma remuneração maior que os credores (capital de terceiros), baseados em dois importantes argumentos. O primeiro demonstra que o retorno do capital do proprietário está vinculado ao desempenho esperado da empresa, são os lucros que efetivamente remuneram o investimento. Assaf Neto (2014) destaca que no caso das dívidas, existe uma obrigação contratual previamente estabelecida de devolução do principal emprestado, acrescido dos respectivos encargos financeiros, independente do sucesso financeiro alcançado pela empresa no período. Existe ainda um segundo aspecto de natureza fiscal, envolvendo a dedutibilidade dos encargos financeiros no cálculo da provisão para imposto de renda. Essa vantagem não existe na distribuição de lucros aos acionistas, os quais são definidos após a respectiva provisão tributária, fazendo com que o custo de capital reduza pela economia do Imposto de Renda. Gitman (2010) enfatiza que o custo de capital é um conceito dinâmico, afetado por diversos fatores econômicos gerais e específicos da empresa. Para identificar a estrutura básica do custo de capital é adotado algumas premissas quanto ao risco e ao Imposto de Renda. 1. Presumimos que o risco econômico - risco de que a empresa não seja capaz de cobrir seus custos operacionais - seja constante. Essa premissa implica que a aceitação de um determinado projeto não afeta a capacidade da empresa de arcar com o custo operacional. 2. Presumimos que o risco financeiro -risco de que a empresa seja capaz de saldar suas obrigações financeiras (juros, aluguéis, dividendos preferenciais) – seja constante. Essa premissa implica que os projetos serão financiados de tal maneira que a capacidade da empresa de horar seus custos de financiamento seja constante. Como exemplo temos os passivos jurídicos inesperados sobre os custos de capital (passivos trabalhistas, fiscais, etc.). 12 3. Os custos relevantes são aqueles apurados após o Imposto de Renda. Em outras palavras, o custo de capital é medido depois do Imposto de Renda. Essa premissa condiz com o contexto pós-Imposto de Renda adotado na tomada de decisões de orçamento de capital. O custo de capital, segundo Gitman (2010), é estimado em um momento específico. Reflete o custo futuro médio esperado dos fundos de longo prazo. Embora as empresas costumem levantar dinheiro em lotes, o custo de capital deve refletir a inter-relação das atividades de financiamento. Por exemplo, se uma empresa levantar fundos de terceiros (empréstimos) agora, é provável que algum tipo de capital próprio, como ações ordinárias (aquelas que tem direito a voto nas assembleias da empresa), tenha que ser usado da próxima vez que necessitar de recursos. A maioria das empresas procura manter um mix ideal de capital de terceiros e de capital próprio. 2.2 Custo de capital de terceiros Para Assaf Neto (2014) no estudo do custo de capital, é necessário inicialmente conhecer-se o custo de cada fonte (própria e de terceiros) selecionada pela empresa e, então mensura-se a partir desses valores a taxa de retorno desejada para as decisões de investimentos. Assaf Neto (2014) destaca que o custo de capital de terceiros é definido de acordo com os passivos onerosos identificados nos empréstimos e financiamentos mantidos pela empresa. Esse custo representa, em outras palavras, um custo explicito obtido pelo desconto que iguala, em determinado momento, os vários desembolsos previstos de capital e de juros, com o principal liberado pela empresa. O custo de capital de terceiros é representado por Ki e, diante da dedutibilidade fiscal permitida aos encargos financeiros, pode também ser apurada após a respectiva provisão para Imposto de Renda, reduzindo seu custo final. A expressão de cálculo apresenta-se: Ki (após IR) = Ki (antes IR) x (1 – IR) Sendo IR a alíquota de Imposto de Renda considerada para a decisão. Assaf Neto (2014) ilustra o cálculo do custo de capital de terceiros líquido com o seguinte exemplo: admita que um financiamento de $ 200.000,00 tomado 13 à taxa de 20% ao ano. Sendo de 34% a alíquota de Imposto de Renda da empresa, os juros de competência do período atingem: Despesas financeiras brutas: $ 200.000,00 x 20% = $ 40.000,00 Economia de IR: $ 40.000,00 x 34% = $ 13.600,00 Despesas Financeiras Líquidas do IR = $ 26.400,00Relacionando-se os encargos financeiros de competência do período com o passivo gerador dessas despesas, tem-se o custo de captação líquido do Imposto de Renda, ou seja: Ki = Despesas Financeiras = $ 26.400,00 = 13,2%.a.a. Passivo gerador das Desp. Financeiras = $ 200.000,00 Esse resultado, evidentemente, é idêntico ao apurado pela formulação anterior, ou seja: Ki = 20% x (1 – 0,34) = 13,2% a.a. Os resultados demonstram uma redução dos juros de 20% a.a. para 13,2%, determinando pelo benefício fiscal de poder deduzir-se os encargos financeiros do Imposto de Renda. Evidentemente, a efetiva dedução do Imposto de Renda do custo de capital de terceiros implica a hipótese de a empresa ser isenta desse tributo, como é o caso por exemplo, das sociedades cooperativas. Essas sociedades, diante da isenção fiscal que gozam na legislação brasileira, mantém iguais os custos dos empréstimos de financiamentos antes e após o Imposto de Renda. Ross et al. (2009) afirma que na presença de impostos de pessoa jurídica, o valor da empresa está diretamente relacionado a seu uso de capital de terceiros. Essa intuição básica o autor mostra no gráfico 1: 14 Gráfico 1 – Modelos de pizza para a estrutura de capital com imposto de pessoa jurídica Fonte: Ross et al., 2009, p. 332. Assaf Neto (2014) menciona que a economia de Imposto de Renda demonstrada depende de lucro tributável no exercício. Empresas que convivem com prejuízos no passado, mesmo que apresentem resultados positivos (lucros) no período, podem também deixar de deduzir esse benefício fiscal produzido pelos juros apropriados. O autor também destaca que o uso do capital de terceiros promove menor risco em relação ao capital próprio. Em verdade, na decisão de endividamento, o tomador assume um compromisso de desembolso financeiro em condições fixas e previamente estabelecidas, não ficando seu resgate, vinculado ao sucesso da aplicação desses recursos. Ao não resgatar sua dívida nas condições em que foi contratada, a empresa sujeita-se a ser acionada legalmente pelo credor, podendo inclusive ter sua falência requerida. TEMA 3 – CUSTO DE CAPITAL PRÓPRIO Quando uma empresa possui excesso de capital, ela pode, segundo, Ross et al. (2009), agir de duas formas alternativas. Por um lado, pode distribuí- los em dinheiro, sob forma de dividendos. Por outro lado, pode investir esse excedente de caixa num projeto, distribuindo os fluxos futuros do projeto como dividendo. 15 Os autores questionam que procedimento prefeririam os acionistas? Se um acionista puder reinvestir o dividendo num ativo financeiro (como uma ação ou uma obrigação), com o mesmo risco do projeto, os acionistas desejariam a alternativa com o maior retorno esperado. Em outras palavras, o projeto seria realizado somente se seu retorno esperado fosse superior ao de um ativo financeiro com risco comparável. A figura 3 ilustra esta situação. Figura 3 – Opções disponíveis a uma empresa com capital excedente Fonte: Ross et al. (2009, pg. 258) Para Ross et al. (2009) essa discussão leva a uma regra de decisão de investimentos muito simples: “A taxa de desconto de um projeto deve ser o retorno esperado de um ativo financeiro de risco comparável”. Para Assaf Neto (2014) o custo de capital próprio, representado por Ke, revela o retorno desejado pelos acionistas de uma empresa em suas decisões de aplicação de capital próprio. A determinação do custo do capital próprio envolve uma dificuldade prática, principalmente ao ser dimensionado para companhias com ações bastante pulverizadas no mercado. Nessas condições, a definição do custo de capital próprio não pode ser efetuada diretamente com os proprietários de capital, requerendo a aplicação de algum método direcionado a esse cálculo. 3.1 Métodos para determinação do custo de capital próprio Um dos procedimentos mais utilizados, segundo Assaf Neto (2014), é o método do fluxo de caixa descontado dos dividendos futuros esperados pelo mercado. A grande dificuldade na aplicação prática desse método é a estimativa 16 de valores futuros esperados de caixa, principalmente a taxa de crescimento dos dividendos para prazos indeterminados. Na utilização do método do fluxo de dividendos, é possível encontra-se no mercado projeções financeiras e de distribuição de lucros relativas às ações em avaliação, desenvolvidas por instituições especializadas nesta área de estudo. Essas organizações (bolsa de valores, instituições financeiras etc.) costumam publicar estimativas de crescimento dos lucros e outras informações financeiras bastante úteis para mensuração do custo de capital pelo fluxo de caixa descontado. Outro método de mensuração do capital próprio, descrito por Assaf Neto (2014) é derivado da aplicação do modelo de precificação de ativos (CAPM – do inglês capital asset pricing model). O CAPM estabelece uma relação linear entre o retorno de um ativo e o retorno de mercado. Os resultados do modelo demonstram forte sensibilidade com a taxa requerida de retorno (custo de capital), a qual deve comporta-se de forma condizente com o risco. Quanto mais elevado apresentar-se o risco da decisão, maior o retorno exigido pelos proprietários de capital; para níveis mais baixos de risco, é possível remunerar os investidores com taxas de retorno também mais reduzidas. Weston e Brigham (2000) destaca que o CAPM é um modelo baseado na preposição de que a taxa de retorno requerida de qualquer ação é igual à taxa de retorno isenta de risco, mais um prêmio de risco, em que o risco reflete a diversificação. Saiba mais Para conhecer mais sobre capital próprio e de terceiros acesse: <https://www.treasy.com.br/blog/custo-de-capital-capital-proprio-x-capital-de- terceiros>. TEMA 4 – CUSTO MÉDIO PONDERADO DE CAPITAL (WACC) De acordo com os custos de cada fonte de financiamento (própria ou de terceiros) da empresa, é importante que se determine seu custo total de capital principalmente para melhor orientar suas decisões financeiras. Para Assaf Neto (2014) o custo total de capital representa a taxa de atratividade da empresa, que indica a remuneração mínima que deve ser exigida na alocação de capital, de forma a maximizar seu valor de mercado. O cálculo 17 desse custo é processado pelo critério da média ponderada na seguinte equação cálculo descrita na Figura 4: Figura 4 – Equação de cálculo do custo médio ponderado de capital Fonte: Assaf Neto, 2014, p. 481. Onde: • WACC = custo médio ponderado de capital: também identificado na literatura financeira por Weighted Average Cost of Capital (WACC); • Kj = custo específico de cada fonte de financiamento (próprios e de terceiros); • Wj = participação relativa de cada fonte de capital no financiamento total. Para ilustrar o uso do cálculo do custo médio ponderado de capital, Assaf Neto (2014) cita como exemplo uma empresa que tenha apresentado a seguinte estrutura de capital e seus custos respectivos, conforme levantados dos seus relatórios contábeis: Quadro 1 – Estrutura de capital MONTANTE ($) PROPORÇÃO DE CADA FONTE CUSTO Capital ordinário 800.000 ações x $ 1,00: $ 800.000,00 40% 25% a.a. Capital preferencial 500.000 ações x $ 1,00: $ 500.000,00 25% 22% a.a. Financiamento $ 700.00,00 35% 18% a.a. (após IR) Total: $ 2.000.000,00 100% Fonte: Assaf Neto, 2014, p. 481. 18 Pelos valores enunciados, pode-se mensurar o custo total das fontes de capital da empresa da seguinte forma: • WACC = (25% X 0,40) + (22% X 0,25) + (18% X 0,35) • WACC = 10,0% + 5,5% + 6,3% • WACC = 21,8% Segundo autor, outra maneira de evidenciar a remuneração exigida pelos proprietários de capitais alocados pela empresa assume a seguinte forma de cálculo: Quadro 2 – Cálculo da remuneração Fonte de capital Remuneração exigida Capital ordinário $ 800.000,00 x 25% = $ 200.000,00 Capital preferencial $ 500.000,00
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