Buscar

ArtigoICBom

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

Rev Med (São Paulo). 2012 abr.-jun.;91(2):128-36. 
128
Iniciação científica – contexto e aspectos práticos
Undergraduate research mentorship - context and practicalities
Luiz Fernando Ferraz da Silva
INTRODUÇÃO
O médico, desde a graduação, está envolto a uma grande quantidade de informações, 
não apenas nas aulas, mas através dos mais dife-
rentes meios incluindo bibliotecas físicas e virtuais 
e conteúdos eletrônicos de diversas fontes. Muitas 
vezes o que se lhes disponibiliza é apresentado como 
tendo base científica, mas sabidamente isto não 
necessariamente ocorre. Surge então um fenômeno 
cada vez mais comum desde o fim dos anos 80, onde 
a quantidade de informação deixa de ser um fator li-
mitante e passa a ser até excessiva, desviando o foco 
para a qualidade das informações disponíveis. Neste 
contexto torna-se imperativo que o médico conheça o 
método científico e saiba utilizar estes conceitos como 
ferramenta na análise das informações disponíveis 
incluindo trabalhos publicados, livros, materiais im-
pressos e apresentados em diferentes esferas.
Embora a necessidade e relevância deste pro-
cesso tenha se evidenciado nas três últimas décadas, 
o envolvimento de alunos de graduação em pesquisa 
já é mais antigo no país e no mundo. Os Estados Uni-
dos e a França foram pioneiros na institucionalização 
de programas de treinamento científico durante a 
graduação em medicina e estudo recentes já quantifi-
caram diferentes impactos positivos como satisfação 
com a experiência de fazer ciência, perspectiva de 
maior dedicação à pesquisa, aumento da motivação 
para as atividades gerais do curso de graduação e 
interesse pela carreira acadêmica.
Professor do Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP.
Endereço para correspondência: Luiz Fernando Ferraz da Silva. Av. Dr. Arnaldo, 455 – 1º Andar – Sala 1155 – São 
Paulo, SP, CEP: 01246-903. e-mail: burns@usp.br
Assim surgiu a iniciação científica, que atual-
mente pode ser definida como a vivência prática do 
processo de fazer pesquisa sob orientação de um 
pesquisador qualificado tendo como objetivo conhe-
cer os princípios do método científico e despertar a 
vocação científica incentivando talentos potenciais 
entre estudantes de graduação universitária.
No Brasil, os primeiros relatos de participação 
de alunos de graduação em projetos de pesquisa 
datam da década de 1940 através dos chamados 
alunos ajudantes. Porém, por cerca de 10 anos o 
processo ocorreu de forma não institucionalizada 
o que sempre dificultou o aumento da escala de 
participação. Em 1951 foi criado o Conselho Nacional 
de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq) o que abriu 
a oportunidade de apoio financeiro a pesquisadores 
através de bolsa, incluindo alunos de graduação. 
Porém, o número era restrito e a obtenção do auxílio 
dependia muito do orientador sendo as bolsas 
distribuídas de forma pouco ordenada. Porém, em 
1988 o processo deu uma grande guinada com 
a criação do Programa Institucional de Bolsas de 
Iniciação Científica (PIBIC) pelo CNPq, que passa 
a conceder bolsas para alunos de graduação 
desenvolvendo atividades de pesquisa. O sucesso 
do programa foi imediato e replicado pelas agências 
estaduais de fomento, como a FAPESP (Fundação 
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), 
FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado 
129
Silva LFF. Iniciação científica: contexto e aspectos práticos.
do Rio de Janeiro), FAPEMIG (Fundação de Amparo 
à Pesquisa do Estado de Minas Gerais), entre outras. 
Apenas para se ter idéia da dimensão alcançada pela 
iniciação científica no país, o estudo mais recente 
disponível sobre o tema mostra que o programa está 
presente em 80% das instituições públicas de ensino 
superior e em 71% das instituições privadas de ensino 
superior, embora a institucionalização com definição 
específica de carga horária, grade de orientadores 
e estratégias de divulgação ainda não estejam bem 
estabelecidas em todas elas.
Estudos sobre o impacto da iniciação científica 
no Brasil são escassos, mas os atualmente disponíveis 
mostraram que, em geral, todos os estudantes que 
fizeram iniciação científica têm melhor desempenho 
nas seleções para a pós-graduação, terminam mais 
rápido a titulação, possuem um treinamento mais 
coletivo e com espírito de equipe e detêm maior 
facilidade de falar em público e de se adaptar às 
atividades didáticas futuras.
Do ponto de vista de interpretação do aluno 
um estudo nacional mostrou que dentre os cerca 
de 78% dos alunos que fizeram iniciação científica 
apenas 25% consideraram que ela teve participação 
ampla em sua formação – diferente do observado 
em experiências internacionais onde esses níveis 
chegam a 80%, e 20% disseram que a iniciação 
científica teve pouca ou nenhuma participação em 
sua formação.
Ao se comparar estes dados com os 
internacionais citados percebemos que algumas 
dificuldades podem influir nesta percepção. As duas 
maiores delas segundo estudos são a escassez de 
verbas – que limita o número de bolsas e financiamento 
de projetos – e a falta de institucionalização, que acaba 
sendo crítica especialmente nos cursos realizados 
em tempo integral como a medicina. Diferente de 
cursos em tempo parcial onde normalmente o aluno 
tem meio período diário para execução de atividades 
extra-curriculares opcionais, o aluno de medicina não 
tem esta possibilidade, restando-lhes os períodos 
noturnos e intervalos entre aulas. Neste sentido a 
institucionalização pode contribuir abrindo espaços 
específicos para a realização destas atividades. 
Embora isto seja claro, ainda não é aplicado pela 
maioria das escolas médicas no país.
Atualmente na Faculdade de Medicina da 
Universidade de São Paulo (FMUSP) estes são dois 
impedimentos que se não foram completamente 
superados, foram bastante minimizados. A Faculdade 
conta hoje com número considerável de bolsas do 
programa PIBIC além de um número considerável 
de bolsas de Iniciação Científica da FAPESP, de 
forma que, segundo os dados disponíveis, poucos 
são os alunos que num intervalo de dois anos de 
atividade não conseguem aplicar ou solicitar uma 
bolsa (sem excluir aqueles que não podem requerer 
por impedimentos regimentais dos programas). Do 
ponto de vista da institucionalização, a FMUSP 
também deu largos passos com o estabelecimento 
das disciplinas optativas de “Introdução à Pesquisa 
Científica em Medicina” e disciplinas correlatas 
que permitem aos alunos utilizar as áreas verdes 
do currículo e desenvolver atividades de pesquisa 
como disciplinas optativas. A Faculdade e o Hospital 
das Clínicas contam ainda com 62 laboratórios de 
investigação médica e outros laboratórios vinculados 
que recebem alunos de iniciação científica orientados 
por docentes e pesquisadores do complexo. Com 
toda esta estrutura a FMUSP vem cada vez mais, 
valorizando as atividades de iniciação científica na 
formação de seus alunos.
Perguntas frequentes sobre iniciação científica
Considerando todo este leque de possibilidades 
e alternativas, é natural que os alunos, em especial os 
mais jovens, tenham uma série de dúvidas a respeito 
a iniciação científica em termos de por que fazer, 
o que esperar, direitos e deveres, que laboratório 
escolher, relevância para a formação, importância 
curricular entre outros. Neste sentido, selecionamos 
algumas das perguntas mais freqüentes sobre 
iniciação científica que não tem a pretensão de 
dirimir todas as dúvidas e angústias relacionadas 
ao processo, mas que pode ser um bom ponto de 
partida para aqueles que estão com intenção de “se 
aventurar em busca do desconhecido na ciência”. 
Então vamos a elas:
Qual a função da iniciação científica?
A função básica da iniciação científica é 
colocar o aluno de graduação em contato com o 
método científico, isto é, com as diferentesetapas do 
processo de pesquisa, desde a primeira idéia para 
um trabalho até os detalhes finais de divulgação dos 
resultados obtidos. Além disso, uma vez que o aluno 
tenha estas noções básicas do método científico, ele 
torna-se mais crítico ao fazer a leitura de um artigo 
científico, sabendo apontar os pontos fortes e pontos 
fracos dos trabalhos publicados, o que agrega um 
conhecimento muito importante, que é a seleção do 
que se vai ler ou estudar.
Além disso, o desbravamento de um tema 
e seu estudo mais detalhado fornece ao aluno em 
formação um excelente exemplo de descoberta e 
busca, fazendo com que ele passe a perder o medo 
do desconhecido, virtude que será extremamente 
importante em momentos posteriores da formação 
130
Rev Med (São Paulo). 2012 abr.-jun.;91(2):128-36.
e do exercício profissional.
Um objetivo adicional é possibilitar ao aluno o 
conhecimento de uma nova vertente de atuação, a 
de pesquisador, que poderá ser ou não adotada por 
ele posteriormente em outras fases de vida.
Como é feito um projeto de iniciação científica?
Um projeto de iniciação científica pode ter par-
ticularidades, mas, via de regra, segue um modelo 
geral único com passos semelhantes independente 
do tema e da área de estudo. Para exemplificar o 
passo a passo de um projeto científico, vamos utilizar 
um exemplo e a partir daí pensar no desenvolvimento 
passo a passo do projeto. Imagine que você fará 
iniciação científica junto ao grupo de pesquisa em 
patologia de autópsias da faculdade.
Seleção das oportunidades de pesquisa:a) 
normalmente esta etapa é feita em conjunto com o 
orientador. Uma idéia original pode sair de qualquer 
ponto, mas é especialmente natural quando alguém já 
conhece bem a fundo determinado tema, isto porque 
geralmente esta pessoa acompanha as pesquisas 
relacionadas e conhece o que vem sendo produzido 
em determinada área bem como os chamados 
“vazios de conhecimento”, isto é, perguntas que 
ainda não estão respondidas sobre o tema, e que 
podem ser bom alvo de pesquisa. Portanto, converse 
com o seu orientador, ele poderá dar boas dicas de 
oportunidades de pesquisa na área dele.
Exemplificando: No nosso exemplo, utilizar o 
material de autópsia como ferramenta de pesquisa 
é bastante interessante, pois o número de autópsias 
vem caindo em todo o mundo e o Hospital das 
Clínicas e o Serviço de Verificação de Óbitos da 
Capital (sediado no prédio da FMUSP) formam 
em conjunto o maior centro mundial de realização 
de autópsias em indivíduos falecidos por causas 
naturais. Porém, isto ainda é muito genérico. 
Podemos então ser mais específicos e definir estudar 
a correlação entre exames de imagem realizados 
em cadáveres e comparar estes achados com os 
resultados da autópsia convencional. Mas ainda 
assim temos um projeto muito grande e genérico. Um 
desafio cientificamente relevante e mais factível é, 
por exemplo, avaliar a correlação entre a tomografia 
post-mortem de fígado em pacientes falecidos com 
doenças hepáticas e os achados da autópsia, para 
avaliar em quantos casos os achados de autópsia 
poderiam ser identificados apenas com a tomografia 
ou com a tomografia guiando uma biópsia por agulha 
evitando assim um procedimento mais invasivo.
Levantamento bibliográfico:b) com uma 
idéia em mente é fundamental que o graduando 
conheça mais a fundo o tema e detalhes dele. 
Pode-se começar a estudá-lo em um bom livro, que 
geralmente traz todo o conhecimento consolidado 
sobre determinado tema. Porém, quando pensamos 
na velocidade de desenvolvimento da ciência e no 
número de informações novas produzidas a cada dia, 
fica claro que o conhecimento presente nos livros em 
geral está desatualizado já na data da publicação. 
Nesta fase entram os artigos científicos, publicados 
em revistas ou periódicos médicos. A plataforma 
mais utilizada para buscar artigos e identificar 
aqueles potencialmente interessantes é o PubMed 
(www.pubmed.gov) que está ligado à base de dados 
Medline, a maior base de informações científicas da 
área médica do planeta. Neste portal é possível ter 
acesso a um sem número de publicações e artigos. 
A busca é bastante simples, realizada através de 
palavras chave. Ao buscar por uma ou mais palavras 
chave um grande número de artigos será apresentado 
e aí vem o grande desafio: destes artigos todos quais 
devo ler?
Este é um dos grandes desafios atuais: 
frente à grande quantidade de informação, torna-se 
fundamental selecionar as mais importantes e ter uma 
visão crítica. Geralmente o título pode ser indicativo 
de que um determinado artigo serve (ou não) para o 
seu propósito de estudo. A seguir é importante ler com 
mais atenção o resumo do artigo e por fim o artigo por 
inteiro para se identificar se ele é metodologicamente 
correto, se tem informações relevantes para aquilo 
que você pretende estudar, entre outros. Uma dica 
importante – ler o tópico “método” de um artigo pode 
parecer enfadonho no início, mas você perceberá que 
ele tem duas grandes funções para você: 1) descobrir 
que uma mesma coisa pode ser investigada usando 
métodos diferentes, e 2) saber reconhecer se aquele 
projeto foi executado corretamente.
Voltando ao nosso exemplo, no levantamento 
bibliográfico seria interessante ter artigos que 
falassem de tomografia de fígado, correlação de 
achados de tomografia com biópsias de fígado em 
indivíduos vivos, uso de tomografias em autópsias, 
achados de doenças hepáticas em autópsias. Note 
que nenhum artigo abrangerá todos os aspectos do 
que você irá pesquisar (se isso acontecer, cuidado, 
seu trabalho pode não ser tão original assim!). Desta 
forma, busque ter um número considerável de artigos 
que sejam complementares e que lhe dê boa base 
sobre o tema que será estudado.
Dica: as unidades da USP em conjunto assinam 
a maior parte das revistas da área de saúde. Ao estar 
num computador da rede da universidade o acesso é 
gratuito e imediato às versões eletrônicas dos artigos. 
A USP disponibiliza ainda gratuitamente a todos os 
alunos e professores uma conexão VPN (do inglês 
131
Silva LFF. Iniciação científica: contexto e aspectos práticos.
Virtual Private Network) que de forma simplista, faz 
com que o seu computador doméstico ou laptop seja 
reconhecido como parte da rede da USP permitindo 
que você acesse de casa todos os artigos como se 
estivesse na biblioteca da faculdade. Para maiores 
informações acesse o site www.vpn.usp.br/.
Escrever o projeto:c) O Projeto é o seu plano 
de pesquisa. Ele é um documento estruturado que 
traz, da forma mais detalhada possível, informações 
sobre o planejamento de sua pesquisa. Ele deve 
conter:
1. Introdução: Feita com base no seu 
levantamento bibliográfico, deve fornecer ao leitor de 
forma clara e objetiva as informações básicas sobre 
o tema que você irá pesquisar. No nosso exemplo, é 
importante falar sobre a tomografia computadorizada 
e sua importância como ferramenta diagnóstica na 
medicina atual, sobre a autópsia e sua relevância 
para identificação das causas de óbito e no controle 
de qualidade, sobre as principais doenças hepáticas 
e sua relevância em termos de saúde pública;
2. Objetivo: O objetivo pode ser traçado em 
itens primários e secundários, ou mais comumente 
como uma pergunta de pesquisa ou hipótese 
diagnóstica. O objetivo deve ser curto e muito claro, 
restringindo-se ao que você irá pesquisar. Não tente 
abraçar o mundo!;
3. Método: Nesta seção deve se detalhada 
toda a metodologia a ser utilizada no seu trabalho, 
do número de pacientes ou animais até a análise 
estatística. O principal objetivo desta seção é que 
qualquer outro pesquisador que queira reproduzir o 
seu trabalho consiga fazer exatamente da mesma 
forma para comparar os dados ou aplicar esta 
estratégia em estudos com outros objetivos, portanto, 
seja bastante detalhistae claro. Todos os processos 
devem ser descritos, de preferência apresentando 
as referências bibliográficas quando forem utilizados 
processos já descritos e consagrados na literatura. 
No nosso exemplo, precisaremos colocar o número 
de pacientes, critérios de inclusão (ter doença 
hepática) e exclusão (pacientes transplantados) do 
estudo, método de realização da tomografia (incluindo 
a marca e tipo do tomógrafo e características da 
aquisição de imagem), método de realização da 
autópsia, análise dos dados e testes estatísticos a 
serem utilizados para avaliação da correlação entre 
os dados de tomografia e autópsia;
4. Cronograma: Um cronograma é fundamental 
para descrever as diferentes etapas, seu fluxo 
de trabalho e em quanto tempo espera-se atingir 
os objetivos propostos. Isto é fundamental para a 
avaliação pelas diversas instituições pelas quais os 
projetos passam, incluindo as comissões científicas 
dos departamentos, comissão de ética e agências 
de fomento. O cronograma deverá conter os passos 
mais importantes de seu projeto.
Dica: Ao tentar escrever seu primeiro projeto, 
não se assuste! Isto é sempre desafiador. É uma 
grande quantidade de informação nova e ainda não 
se domina muito bem toda a metodologia, de forma 
que a ajuda do seu orientador será fundamental para 
isso. Você verá que, quando tiver que repetir estas 
etapas no seu relatório ou mesmo escrever um novo 
projeto, você terá mais prática. Como tudo na vida isto 
é um processo contínuo de aprendizado. Lembre-se, 
todo grande pesquisador um dia teve dificuldades 
para escrever seu primeiro projeto!
Execução do trabalhod) : Esta será a fase 
que lhe tomará realmente bastante tempo. Nela 
todo o projeto será executado, isto é, tudo o que foi 
descrito na metodologia será posto em prática. Aqui 
cada atividade depende obviamente do tipo de proje-
to. Você certamente aprenderá muito sobre técnicas 
específicas utilizadas no seu trabalho. Isto será muito 
importante, mas lembre-se, sua função não é apenas 
dominar uma técnica ou procedimento, é conhecer 
o método científico, portanto, não se restrinja à apli-
cação da técnica – escrever o projeto e discutir os 
resultados é fundamental.
No nosso exemplo teremos que selecionar os 
pacientes que chegarem ao serviço de autópsias com 
suspeita de doenças hepáticas, realizar e analisar 
a tomografia abdominal e ver se há alterações no 
fígado. Realizar a autópsia e examinar macroscopica-
mente e microscopicamente o fígado, sistematizar os 
dados que serão obtidos e tabulados de cada caso e 
depois fazer a análise estatística destes dados vendo 
quais informações têm correlação ou não.
Análise dos dados: Uma vez aplicada a 
metodologia e obtidos os dados é preciso analisá-
los criticamente, isto é, compreender o que eles 
significam no contexto da doença ou do processo 
estudado. O resultado não é apenas uma sopa de 
números e tabelas, mas sim uma apresentação 
sistematizada e ordenada de informações que 
permitem a compreensão das novas informações 
geradas como parte de um contexto maior. Nesta 
fase, novamente seu orientador será fundamental 
para tirar dúvidas e esclarecer quais informações são 
realmente relevantes e quais são as secundárias.
 Divulgação dos resultadose) : Com todas 
as informações em mãos, chega a última parte 
do projeto, a divulgação dos resultados, ela pode 
ser feita de diferentes formas (não mutuamente 
132
Rev Med (São Paulo). 2012 abr.-jun.;91(2):128-36.
excludentes, ao contrário) a saber:
Artigo científicoa. : é a mais importante forma 
de divulgação da ciência. A partir deste momento 
o resultado da sua pesquisa contribuirá para 
incrementar o conhecimento científico como mais um 
tijolo no muro. O artigo tem um formato específico 
como você deve ter observado no levantamento 
bibliográfico: Introdução, objetivo, método, resultados 
e discussão;
Relatóriosb. : Geralmente necessários para 
agências de fomento que pagam bolsas. Ele segue 
o mesmo formato do artigo, mas geralmente não tem 
limitação de espaço e você pode ser bem detalhado. 
Não seja simplista, venda o seu peixe!;
Apresentação em eventosc. : geralmente 
uma versão mais curta do trabalho, apresentado 
de forma objetiva e concisa em uma apresentação 
oral curta (até 10 minutos) ou painel (5 minutos). O 
grande atrativo deste formato é a possibilidade de 
discussão em tempo real com outros pesquisadores 
da mesma área, o que favorece a troca de idéias e 
o crescimento científico de todos os envolvidos. Às 
vezes, um comentário ou observação de alguém que 
enxerga seu trabalho “de fora” é fundamental para lhe 
dar uma idéia nova ou então apontar um ponto fraco 
do seu trabalho que você não havia percebido.
O que esperar da iniciação científica?
Ao decidir fazer iniciação científica tenha claro 
que você desenvolverá um projeto voltado para o 
reconhecimento e aplicação do método científico. 
Pode ser que no seu projeto, o atendimento a 
pacientes seja uma parte do método – especialmente 
em trabalho clínicos com informações prospectivas, 
mas, diferente da graduação, o atendimento ao 
paciente não deve ser o fim, mas sim o meio. Se 
você está se propondo a fazer iniciação científica 
para ter contato com pacientes, existem muitas outras 
atividades que podem ser desenvolvidas de forma 
mais eficiente com este fim como ligas acadêmicas 
e projetos de extensão. Obviamente, muitas ligas e 
projetos de extensão têm iniciação científica com uma 
de suas possibilidades, mas neste caso, buscando 
a aplicação do método científico como parte de 
suas atividades, adicionalmente à sua atividade 
assistencial.
Ao decidir fazer iniciação científica espere 
estudar bastante determinado tema (qualquer que 
seja ele), aprender uma ou mais técnicas que serão 
usadas na sua metodologia (técnica aqui inclui tudo 
– análise de prontuário, atividade de laboratório, 
análise de imagem em computador – e depende 
das características do seu projeto), e aprender a ler 
criticamente um artigo científico sabendo interpretá-lo 
e identificar pontos fortes e fracos contextualizando 
estas informações dentro da base de conhecimentos 
que você possui.
Que tipos de projeto de iniciação científica 
existem?
Os estudos científicos podem ser divididos de 
acordo com diferentes critérios. Os mais comuns 
estão relacionados aos diferentes modelos de estudo 
e que não vou entrar em detalhes neste artigo uma 
vez que farão parte de toda uma disciplina nuclear 
do curso médico. Vou apresentar aqui uma visão 
mais simplista que pode ser descrita como “a divisão 
dos estudos do ponto de vista do aluno que procura 
iniciação científica”.
Dos sujeitos dos trabalhos
Trabalhos experimentais: são os projetos a) 
que tem uma grande quantidade de trabalho de 
bancada. São trabalhos desenvolvidos em animais 
de experimentação (camundongos, ratos, coelhos, 
porcos, etc.). Geralmente incluem a realização de 
algum experimento com o animal (treinamento, ex-
posição a um produto ou substância, procedimento 
cirúrgico, etc.), o sacrifício deste animal, e a análise 
de dados, órgãos, fluidos e tecidos.
Trabalhos com humanos: são todos aque-b) 
les que envolvem, de alguma forma seres humanos, 
direta ou indiretamente através de informações e/ou 
materiais oriundos destes indivíduos e armazenados 
no hospital.
Das atividades desenvolvidas
Procedimentos: Procedimentos nos a) 
projetos de iniciação científica podem ser diversos. Os 
mais invasivos geralmente são realizados em animais 
(como cirurgias ou coleta direta de materiais) enquanto 
outros podem ser desenvolvidos em humanos como 
exames de imagem, provas de função pulmonar, 
eletrocardiogramas e eletroencefalogramas, etc.
Trabalho de bancada: O trabalho de b) 
bancada laboratorial pode ser extremamente 
interessante, especialmente por ser uma atividade 
que você não teráoportunidade de aprender no curso 
de medicina. Ele inclui atividades práticas do tipo 
extração de material genético e outras técnicas de 
biologia molecular, técnicas de exames bioquímicos, 
preparo de soluções, culturas de células entre muitos 
outros. Estes são apenas alguns exemplos. Para 
quem tem curiosidade de conhecer uma técnica 
laboratorial e como ela é realizada, pode ser bastante 
interessante.
Levantamento de dados: feitos em c) 
prontuários de pacientes ou em bancos de dados 
133
Silva LFF. Iniciação científica: contexto e aspectos práticos.
pré-existentes. Neste processo geralmente o 
aluno faz um levantamento de pacientes com uma 
determinada doença ou característica e colhe dados 
relevantes dos prontuários para montagem de um 
banco de dados com informações para correlação. 
Outra forma de levantamento de dados é a realização 
de entrevistas diretamente com o paciente ou com 
familiares destes.
Análises de imagem: bastante comuns na d) 
patologia, radiologia e medicina nuclear. Atualmente 
os computadores têm ajudado bastante a realização 
destas análises para identificação e contagem / afe-
rição de diferentes parâmetros como quantidade de 
determinado constituinte tecidual, dimensões de um 
órgão, entre outros.
Como se vê as possibilidades são muitas, su-
ficientes para atender à heterogeneidade de alunos 
que temos na FMUSP. Escolha as coisas com as 
quais você mais se identifica e acha interessante 
ou aquelas que têm curiosidade em aprender, este 
sempre é o melhor caminho!
Como escolher um orientador? E o que esperar 
do meu orientador?
O orientador é parte fundamental do projeto 
de iniciação científica porque é ele que deve ajudar 
o graduando nos primeiros passos dos diferentes 
processos descritos anteriormente. Neste processo 
o tempo necessário não é pequeno de forma que é 
importante que o orientador de fato seja uma pessoa 
com disponibilidade para apoio a estas atividades. 
Disponibilidade aqui não quer dizer exclusividade ou 
que seu orientador fará somente isso, mas que seja 
possível conversar, sentar e discutir os diferentes 
passos do projeto e ir resolvendo suas dúvidas e 
angústias.
Dica: Não escolha seu orientador pela formação 
básica (médico, biólogo, biomédico, etc.) ou pela po-
sição institucional (assistente, docente, titular), isso 
não necessariamente garante um bom orientador, dê 
preferência as características dele de bom pesquisa-
dor, de disponibilidade e de interesse na relação com 
alunos de graduação. As dicas da questão seguinte 
também podem ser adotadas neste item.
Tenha sempre uma relação saudável com seu 
orientador, deixe-o a par de quaisquer problemas 
e dificuldades. Às vezes mesmo algo que parece 
muito complicado ou insolúvel em termos científicos, 
pode ser mais facilmente trabalhado com o apoio 
de alguém mais experiente, e lembre-se, seu orien-
tador não é apenas alguém que pode te ajudar no 
projeto científico, mas também com outras questões 
relacionadas à sua evolução na faculdade e muitas 
vezes, fora dela!
Como escolher um laboratório para fazer iniciação 
científica?
Primeiro, lembre-se que você não precisa ter 
uma opinião formada sobre uma área específica para 
desenvolver um trabalho de iniciação científica. Como 
o método é mais importante que o tema em si, bons 
trabalhos de iniciação científica podem ser desenvol-
vidos em qualquer área, mas, obviamente, ter afini-
dade com o tema e com o trabalho desempenhado 
ajuda muito o desenvolvimento do projeto. Para tanto 
creio que três aspectos são importantes:
1. laboratórios que recebem vários alunos de 
iniciação científica geralmente já estão acostumados 
com o processo e com tudo o que está envolvido no 
trabalho de orientação a alunos de graduação, de 
forma que você possivelmente entrará num grupo 
que já conhece os potenciais e limitações de jovens 
pesquisadores como você. Mas lembre-se, isto de 
forma alguma desabona outros laboratórios;
2. a opinião dos veteranos sempre ajuda! Por 
terem vivido ou estarem vivendo a experiência da 
iniciação científica em diferentes laboratórios, eles 
poderão dar dicas valiosas sobre laboratórios onde 
se sentem bem acolhidos ou não, onde recebem mais 
atenção ou não e assim por diante. A propaganda é 
a alma do negócio e não existe opinião melhor que 
a do usuário/consumidor!;
3. Experimente! Ninguém é obrigado a saber 
por antecipação se gosta do ambiente ou do trabalho 
desenvolvido em um laboratório. Ao se interessar por 
algum, converse com os responsáveis e peça para 
acompanhar um pouco as atividades do laboratório. 
Geralmente 2 a 3 meses são suficientes para conhe-
cer as pessoas, as linhas de pesquisa, as principais 
técnicas utilizadas e sobretudo para você perceber se 
você se enquadra neste grupo. Nenhum laboratório 
achará isso ruim e isto é uma boa oportunidade de 
conhecer bem a pesquisa e os métodos utilizados 
antes de assumir a responsabilidade de tocar um 
projeto.
Preciso fazer iniciação científica na área de 
especialidade que quero fazer depois?
Definitivamente não! Lembre-se, o objetivo da 
iniciação científica é conhecer e aplicar o método 
científico. Nesta fase da formação isto pouco ou nada 
tem a ver com a especialidade que você quer seguir. 
Fazer pesquisa é considerado bastante importante, 
mas não em uma área específica. Portanto, não se 
134
Rev Med (São Paulo). 2012 abr.-jun.;91(2):128-36.
preocupe em esperar decidir uma área para fazer 
iniciação científica.
Quais as obrigações do aluno de iniciação 
científica?
O projeto de iniciação científica é uma respon-
sabilidade grande. Ao escrever seu projeto, você 
se compromete na execução de um trabalho num 
determinado tempo e na apresentação e divulgação 
de seus resultados pelos diferentes meios já descri-
tos. A maior parte dos projetos de iniciação científica 
são pequenos projetos dentro de grandes linhas de 
pesquisa dos laboratórios. Em geral estes projetos 
podem estar vinculados a teses de mestrado ou dou-
torado, ou ainda a grandes projetos temáticos finan-
ciados, de forma que o conhecimento ali produzido 
pode ser fundamental não apenas para incrementar 
a ciência como um todo, mas também para que o 
próprio laboratório desenvolva outras pesquisas 
como desdobramento do seu projeto.
Ao se comprometer com uma determinada 
carga horária ou com prazos, cumpra-os. Todos 
entendem que a iniciação científica é uma atividade 
adicional, funcionando como atividade optativa no 
atual currículo da faculdade de medicina, em meio a 
diversas outras atividades curriculares, portanto, seja 
realista ao informar ao seu orientador sobre o tempo 
que pretende empregar nas atividades de iniciação 
científica (períodos por semana e tempo ao longo 
da faculdade) – isto será importante para definir a 
magnitude do seu projeto afinal, quanto maior a 
disponibilidade de tempo mais complexo pode ser 
o projeto.
Se no ínterim surgirem problemas de tempo ou 
andamento, sempre converse com seu orientador de 
forma clara sem receio de retaliações. Ao contrário, 
isto demonstrará sua responsabilidade para com 
o projeto e o laboratório caso encontre dificuldades.
O método científico deve ser aplicado de forma 
rigorosa, portanto, cuidado ao realizar experimentos 
controlados ou a coletar dados. Estes processos 
devem ser feitos de forma sistemática. Sempre que 
você tiver dúvidas não hesite em perguntar ou dis-
cutir posteriormente com seu orientador. Por vezes, 
uma dúvida não solucionada pode levar a um erro 
experimental e a resultados incongruentes de difícil 
interpretação. Lembre-se em pesquisa não se pode 
apelar para o “jeitinho”.
Iniciação com bolsa ou sem bolsa?
Diversas instituições oferecem bolsas a alunos 
de graduação para realização de projetos de iniciação 
científica. Em nosso meio as principais são a FAPESP 
mantida pelogoverno estadual, o CNPq mantido pelo 
governo federal e a própria Universidade de São Pau-
lo. As bolsas têm valores variáveis de acordo com a 
agência de fomento e duração de um ano podendo 
ser prorrogada por mais tempo em caso de ampliação 
do projeto ou de realização de novo projeto.
Lembre-se que o graduando não pode receber 
mais de uma bolsa ao mesmo tempo, nem ter outra 
fonte de rendimento durante o período de recebi-
mento da bolsa.
A bolsa não é condição sine qua non para 
realização de iniciação científica, isto é, um trabalho 
de iniciação científica realizado sem bolsa é consi-
derado uma iniciação científica tanto quanto aquele 
realizado com bolsa. O aprendizado sobre o método 
científico e o mais importante. Mas, se ainda assim, 
você quiser um indicador mais objetivo de relevância 
de um trabalho (incluindo o de iniciação científica) 
não é a existência de bolsa associada, mas sim o 
resultado obtido em termos de divulgação da ciência, 
isto é, uma iniciação científica que rendeu artigos e 
apresentações em congresso pode ser considerada, 
por estes critérios, mais bem sucedida do que uma 
que não resultou nestes subprodutos independente 
de ter havido ou não bolsa em qualquer delas.
Independente da bolsa, a responsabilidade 
para com o laboratório e seu orientado é a mesma, 
mas lembre-se, ao receber uma bolsa, você tam-
bém terá que prestar contas à agencia de fomento 
financiadora. Isto geralmente é feito através de dois 
relatórios, um parcial (no meio do período) e um final. 
Algumas agências podem exigir ainda participação 
em algum evento científico.
Quanto tempo preciso empregar na iniciação 
científica?
A iniciação científica é uma atividade bastante 
valorizada na FMUSP e atualmente pode ser compu-
tada como atividade optativa dentro do currículo da 
Faculdade. O tempo a ser empregado na iniciação 
científica deve respeitar aos seus anseios bem como 
levar em conta outras atividades extra-curriculares 
que você planeja ou já desenvolve. Alguns alunos 
encaram a iniciação científica como sua única ati-
vidade extra-curricular, outros procuram dividir seu 
tempo entre diversas atividades incluindo a iniciação. 
Nenhuma das abordagens é incorreta, mas isto deve 
estar claro em sua organização e deve ser informa-
do ao seu orientador. Com base nisso ele poderá 
lhe auxiliar na montagem de um projeto que seja 
compatível com o seu tempo disponível para estas 
atividades. Considere a possibilidade de reservar pelo 
menos um período por semana para a realização do 
seu trabalho.
Este cuidado é ainda mais importante quando 
135
Silva LFF. Iniciação científica: contexto e aspectos práticos.
há uma bolsa de iniciação científica envolvida em que 
prestações de contas de atividades devem ser feitas 
para agências de fomento.
Quais os aspectos éticos envolvidos?
Toda a ciência é regida por uma série de pre-
ceitos éticos que evoluem com o tempo e são frutos 
do pensamento comum da comunidade científica 
num dado momento, portanto, não tente fazer hoje 
nada parecido com o que Edward Jenner fez do sé-
culo XVIII que colheu o fluido exsudado das feridas 
de vacas com varíola e injetou num menino que não 
morreu e se tornou imune à varíola humana. Com 
este experimento Jenner revolucionou a imunologia 
e a medicina, criou a vacina e a base para evitar bi-
lhões de mortes desde então, porém um experimento 
como este não seria aceito com naturalidade pela 
comunidade geral e científica.
Portanto, ao escrever seu projeto, ele deverá 
ser submetido a uma comissão de ética para avalia-
ção de projetos de pesquisa. A FMUSP e o HC têm 
uma destas comissões, a CAPPesq. Pareceristas 
lerão o seu projeto e vão avaliar se está de acordo 
com as normas estabelecidas ou se devem ser fei-
tas alterações. Em casos de seres humanos será 
necessário também que o paciente assine um termo 
específico de concordância chamado de Termo de 
Consentimento Livre e Esclarecido. No caso de ex-
perimentos animais, existem regras claras para evitar 
seu sofrimento tanto durante os experimentos quanto 
no momento do sacrifício. Estas regras devem ser 
sempre estritamente observadas.
Uma outra questão ética importante deve ser 
mencionada, especialmente na era dos documentos 
eletrônicos em que o chamado “Copy and Paste” 
virou moda. A cópia de parte de textos científicos, 
ou mesmo sua idéia central sem citar as devidas 
referências é créditos e considerado plágio, um dos 
pecados capitais em ciência. Obviamente informa-
ções de outros autores podem e devem ser citadas 
em sua introdução e discussão, mas sempre dando 
os devidos créditos. A idéia é o bem mais precioso 
em ciência, roubá-lo é um crime!
O mesmo raciocínio se aplica aos dados, o 
segundo bem maior de uma pesquisa, depois da 
idéia que a concebeu. Os dados devem sempre ser 
gerados e colhidos respeitando os preceitos do mé-
todo científico. Forjar ou maquiar dados é outro dos 
pecados capitais da ciência. Um resultado negativo 
real é sempre melhor que um resultado positivo 
maquiado.
Estes dois últimos aspectos são particularmen-
te importantes quando consideramos que o bem mais 
precioso de um pesquisador é a sua credibilidade. Um 
pesquisador sem credibilidade é como um carro de 
luxo sem motor: é, na prática, desprezível.
O que dizer de revistas científicas, indexação e 
índices de impacto
Revistas científicas definitivamente não são 
todas iguais. As revistas são categorizadas de 
acordo com diversos critérios. Simplificadamente vou 
apresentar dois deles:
1. Indexação – diz respeito à inclusão dos 
artigos de uma determinada revista numa determi-
nada base de dados. Existem atualmente diversas 
bases de dados, as mais comuns no nosso meio são 
o Medline que inclui as mais relevantes revistas na 
área de saúde do mundo e o SciELO, uma base de 
dados específica de trabalhos publicados na América 
Latina. O Medline é a base de dados utilizada pelo 
PubMed para listar artigos, assim, ao procurar artigos 
no PubMed, você estará acessando apenas revistas 
indexadas no Medline. Este tipo de indexação busca 
servir como um primeiro crivo, já que as revistas, 
para serem indexadas no Medline, precisam respei-
tar alguns critérios de periodicidade, corpo editorial, 
entre outros.
2. Fator de impacto – a publicação de um arti-
go é importante, mas mais importante é que ele seja 
lido e sirva como referência para outros trabalhos. É 
com base nisso que foi criado o fator de impacto de 
uma revista. Ele mede o quanto, em média, os artigos 
publicados naquela revista são citados por outros 
artigos em um determinado período (geralmente 5 
a 10 anos posteriores à publicação). Desta forma, 
revistas com alto nível de impacto são consideradas 
mais importantes do que aquelas com baixo índice 
de impacto. Apenas para situar, atualmente o fator 
de impacto (JCR/2011) da revista Science é de 
31.201, o da Nature é 36.280, o do New England 
Journal of Medicine é de 53.298. A revista nacional 
de maior fator de impacto é o Memórias do Instituto 
Oswaldo Cruz com 2.147 e a Clinics, revista científica 
do HC-FMUSP tem impacto de 2.958 (2ª colocada 
no país).
No momento de conclusão do seu trabalho, 
seu orientador saberá sugerir uma revista adequada 
levando em conta as características do trabalho, sua 
originalidade e seu potencial.
É importante para a residência?
Na Faculdade de Medicina e no Hospital das 
Clínicas da FMUSP a iniciação científica é conside-
136
Rev Med (São Paulo). 2012 abr.-jun.;91(2):128-36.
rada uma atividade muito importante pois cria bases 
relevantes para a compreensão das atualizações 
científicas que são disponibilizadas diariamente numa 
instituição universitária. Neste sentido é interessante 
que os residentes desta instituição tenham boa base 
científica.
Estas atividades são avaliadas no conjunto da 
análise curricular– constante da 3ª fase do processo 
seletivo. Mas um aspecto deve ser ressaltado, via 
de regra a área em que a iniciação foi realizada não 
é relevante (isto é, não precisa ter feito a iniciação 
científica na área para a qual você está prestando 
residência).
CONSIDeRaÇõeS FINaIS
Ao decidir fazer iniciação científica inicialmente 
alinhe suas expectativas e veja os temas e técnicas 
que mais lhe interessam. Busque um bom laboratório 
e um bom orientador. Lembre-se, nem sempre se 
acerta de primeira, portanto experimente, conheça os 
laboratórios e as pessoas. Uma vez definido, escreva 
seu projeto e execute-o da melhor forma possível, 
fazendo ciência ao mesmo tempo em que descobre 
as maravilhas e infortúnios envolvidos. Este é um 
processo que certamente será enriquecedor para 
a sua formação técnica e pessoal independente de 
você querer ou não fazer pesquisa no futuro!
ReFeRêNCIaS SUgeRIDaS
Bariani ICD. Estilos cognitivos de universitários e 
iniciação científica [Tese]. Campinas: Faculdade 
de Educação, Universidade Estadual de Campinas, 
Campinas; 1998.
Cardoso GP, et al. Iniciação científ ica em 
medicina: uma questão de interesse para todas as 
especialidades. Pulmão (RJ). 2004;13(1):8-12.
Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento 
– CNPq. Disponível em: http://www.cnpq.br.
Fava de Moraes F, et al. A iniciação científica – muitas 
vantagens e poucos riscos. São Paulo Perspect. 
2000;12(1):73-7.
Jacobs CD, et al. The value of medical student 
research: the experience at Stanford University 
School of Medicine. Med Educ. 1995;29:342-6.
Martinho TP. Scientific initiation in medical education. 
Med Teach. 2005;27(1):81-2.
Massi L, et al. Estudos sobre iniciação científica no 
Brasil: uma revisão. Cad Pesq. 2010;139(40):173-
97.
Brasil. Ministério da Educação. Instituto Nacional de 
Pesquisas e Estudos Educacionais Anísio Teixeira 
(INEP). Informativo do Inpe Online. 2005;3(98) [citado 
fev. 2012]. Disponível em: http://www/inep.gov.br/
informativo/informativo98.htm.
Montes GS. Da implantação de uma disciplina de 
iniciação científica ao currículo nuclear na graduação em 
medicina na USP. Rev Bras Cardiol. 2000;2(2):70-7.
Oliveira NA, et al. Iniciação científica na graduação: 
o que diz o estudante de medicina? Rev Bras Educ 
Med. 2008;12(3):309-14.
Pego-Fernandes PM, et al. Medical education beyond 
graduation: scientific initiation. Sao Paulo Med J. 
2010;128(3):117-8.
Tenório MP, et al. Iniciação científica no Brasil e nos 
cursos de medicina. Rev Assoc Med Bras. 2010;56(4) 
375-93.
Velho L, Velho P. A Iniciação Científica (IC) nos 
Estados Unidos: mecanismos instrumentos e recursos 
alocados. Educ Bras. (Brasília). 1998;20(41):11-47.

Outros materiais