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DESCRIÇÃO A importância da produção científica para o desenvolvimento da sociedade e para impulsionar a inovação no Brasil. PROPÓSITO Compreender o quanto a produção científica é fundamental para o desenvolvimento da nação estimula o crescimento de divulgadores científicos e pesquisadores em nosso país. OBJETIVOS MÓDULO 1 Definir produção científica e sua importância para a sociedade MÓDULO 2 Associar a pesquisa com a produção científica MÓDULO 3 Descrever a construção de um projeto de pesquisa INTRODUÇÃO Neste estudo, iremos analisar a importância da produção científica e sua relação com o desenvolvimento da sociedade. Buscaremos ainda compreender os meios pelos quais os trabalhos científicos são divulgados e como os eventos científicos são importantes para a democratização da ciência. Além disso, explicaremos como se dá a construção de um projeto de pesquisa, passo a passo, e você será estimulado a construir o seu próprio projeto. Vamos juntos? MÓDULO 1 Definir produção científica e sua importância para a sociedade CONCEITO DE PESQUISA Provavelmente, esta semana você já abriu seu navegador na internet, foi até uma página de busca e fez algumas pesquisas sobre um assunto que estava estudando. Ir em busca de informação é o que move a humanidade desde sempre e é responsável pelo seu desenvolvimento e crescimento. Foto: Shutterstock.com Consultas em sites de busca são ações comuns nos dias de hoje. A investigação, a busca e o levantamento de dados fazem parte da humanidade desde os primeiros registros de sua ação no planeta. São marcas da curiosidade humana sobre o ambiente que a cerca. A princípio, sem sistematizar qualquer metodologia, podemos indicar que os seres humanos são pesquisadores naturais e que todo conhecimento adquirido até hoje vem por conta da tríade: Imagem: Shutterstock.com Esta tríade pode ser entendida como Pesquisa. Vamos compreender como se dá essa tríade e, em seguida, sistematizar metodologicamente o processo que chamamos de pesquisa. CURIOSIDADE A curiosidade é algo complexo. Existem muitos fatores que nos mantêm curiosos e isso nos torna informadores naturais. A curiosidade epistêmica e perceptual são os dois tipos principais de curiosidade, vamos conhecê-las? CURIOSIDADE EPISTÊMICA Vem de um lugar de desejo, em oposição a um lugar de necessidade. Este é o tipo de curiosidade que tem impulsionado inventores e cientistas a fazer um trabalho tão brilhante. Muitas vezes, está associada à antecipação de recompensa, o que não significa necessariamente ganho financeiro. A curiosidade epistêmica está relacionada à pesquisa científica e os dados que serão posteriormente levantados para alguma aplicação na sociedade. A busca de emoções é um tipo de curiosidade epistêmica. Você é um viciado em adrenalina? Então, você pode muito bem ser impulsionado por esta curiosidade! CURIOSIDADE PERCEPTUAL É o tipo de curiosidade que sentimos quando precisamos acalmar nossa mente. Quando estamos curiosos para descobrir o que aconteceu em um certo momento de nossa realidade, isso é curiosidade perceptiva. Ela não tem outra recompensa a não ser se movimentar e chegar ao fundo de um problema ou questão. Outro exemplo de curiosidade perceptiva é a sensibilidade à depreciação, que permite a resolução de problemas e a erradicação de lacunas do conhecimento. Nessa situação, “preencher” a lacuna ou adquirir tal compreensão oferece alívio. Isso motiva a curiosidade. A curiosidade perceptual não necessariamente traz boa sensação, mas as pessoas que a experimentam trabalham incansavelmente para resolver problemas. Ela está intimamente ligada à ansiedade e à tensão, mas mantém o sujeito alerta! Por mais que estejamos aqui sistematizando tipos de curiosidade, sabemos que eles se misturam no processo curioso do humano, podendo se alternar ou atuar simultaneamente sobre um dado requerido. Imagem: Shutterstock.com Representações da curiosidade. INVESTIGAÇÃO Investigar é buscar caminhos. É um impulso ativo, quase orgânico, que o indivíduo tem para encontrar respostas. Investigar é o ato e não a conclusão. Na tríade da pesquisa, a investigação pode ser considerada o momento de maior gasto energético, que gera as maiores movimentações de um processo de pesquisa. Na investigação, ocorrem o encontro e o levantamento de dados e, por ser um momento ativo, há a necessidade de um julgamento rápido sobre os dados levantados, para que se compreenda se a investigação pode prosseguir. EXEMPLO Vamos avaliar dois exemplos do processo de investigação. Imagem: Shutterstock.com O primeiro: famoso em filmes de suspense, um detetive é contratado para investigar o desaparecimento de algumas obras de arte de um museu. O detetive inicialmente promove um levantamento prévio de dados que podem impulsionar sua investigação. Dados sobre o museu, sobre as obras de arte, os potenciais interessados, entre outros dados que podem auxiliá-lo a resolver a demanda. Em seguida, o detetive investiga e levanta dados a partir do que descobriu com o primeiro levantamento. Faz então entrevistas, arguições, coleta dados inéditos e, enfim, correlaciona tais dados. Como segundo exemplo do processo investigativo, vamos tratar da pesquisa científica, que iremos conceituar posteriormente. Na pesquisa científica, a investigação também procura caminhos para levantar dados. Tais caminhos apresentam uma sequência organizada e metódica de passos, que se configura em uma metodologia. Se, por acaso, você trabalhasse com um grupo de insetos bioindicadores de qualidade da água e precisasse analisar a composição entomológica de um corpo d’água de certa região, você precisaria seguir passos de investigação preestabelecidos ou então criar uma sequência de passos coerentes para promover este levantamento. Por exemplo, levantar dados sobre análises anteriores da composição entomológica do local, observar dados físico-químicos do ambiente, buscar a melhor forma de coleta, aplicar a melhor forma de triagem e identificação de morfotipos, entre outros passos que viriam em uma sequência lógica de investigação. Perceba que, nos dois modelos apresentados, o princípio ativo e de gasto energético que a investigação promove é o mesmo. Mudam a forma e a sistematização dos modelos investigativos. ANÁLISE A análise dos dados coletados na investigação talvez seja o passo mais minucioso e demorado no processo de pesquisa. A análise configura-se a partir de ensino e treinamento. Analisar é uma habilidade altamente complexa. É olhar através das informações mais superficiais que um dado pode trazer e captar as nuances mais implícitas de uma informação. A análise correlaciona os dados, cria pontes lógicas entre eles, culminando em respostas, sejam elas conclusivas ou não. Algumas definições nos remetem à lógica aristotélica da análise: um desmembramento dos dados mais complexos em partes menores que constituem esses dados para um entendimento mais aprofundado e preciso da informação global. EXEMPLO Na pesquisa sobre a entomofauna de um corpo aquático, após a coleta dos espécimes, precisamos fazer a identificação dos indivíduos. Essa identificação ocorre a partir da separação e da análise minuciosa das suas estruturas morfológicas, comparando os dados observados com os dados já registrados pela literatura. A partir da comparação, podemos inferir informações mais precisas sobre a identificação dos indivíduos analisados. A análise correlaciona os dados, cria pontes lógicas entre eles, culminando em respostas. Como exercício, pense na pesquisa que você realizou esta semana ao buscar informações em algum site de busca. Você exerceu a curiosidade ao lançar o termo procurado no campo “pesquisa”? Você investigou os dados que foram levantados após a busca? Você analisou os melhores dados para que sua opinião e/ou conhecimento se formasse? Imagem: Shutterstock.com. Pelo senso comum, você é um pesquisador, mas não se engane! Esse termonão servirá para qualificá- lo como um pesquisador nas áreas da Ciência e da Saúde. IMPORTÂNCIA DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA PARA A SOCIEDADE Em uma escala entre 0 e 5 para medir a importância da produção científica em sua vida, qual nota você daria? Essa pergunta parece muito ampla, você provavelmente perguntaria: Quais produções? Sobre quais objetos de pesquisa estamos falando? VAMOS REFAZER A PERGUNTA Em uma escala entre 0 e 5, qual nota você daria para a importância da produção científica acerca de doenças virais, como a COVID-19, em sua vida? Neste caso, é bem provável que você aferisse notas entre 4 e 5, correto? javascript:void(0) AGORA, OUTRA PERGUNTA Em uma escala entre 0 e 5, qual nota você daria para a importância da produção científica acerca da evolução de baratas (isso mesmo, baratas!) em sua vida? Caso você não tenha passado mal só de ler o termo "baratas", é bem possível que a nota de relevância tenha sido baixa. Mas, por acaso, se uma produção científica não é relevante para você, isso desqualifica a pesquisa realizada? Claro que não. Primeiro, porque há a subjetividade envolvida quando damos uma nota de relevância para uma pesquisa — o autor que vos escreve acha muito relevante a pesquisa com baratas, por exemplo. Além disso, nem sempre uma pesquisa apresenta somente um objetivo. Existem objetivos específicos que servirão de base para um conhecimento muito mais amplo e que levará, indiretamente, um avanço na sociedade. Esta sociedade em que vivemos é uma sociedade do conhecimento e você sabe que o conhecimento é um recurso cada vez mais importante na vida em sociedade. Isso porque, ele ultrapassa até mesmo os padrões anteriores que estabeleciam outros bens como prioridade. Quanto maior o conhecimento de uma sociedade, maiores os caminhos que podem ser trilhados por ela. Um estudo da ONU realizado em 2019 mostrou que cerca de 4 bilhões de pessoas usam a internet hoje no mundo. Isso demonstra um crescimento estrondoso das relações entre indivíduos e estreita o laço entre as sociedades, expondo as diferenças entre as culturas e aumentando a incorporação de hábitos sociais de outros locais. Imagem: Shutterstock.com. A internet estreita o laço entre as pessoas? javascript:void(0) Perceba que esse tipo de laço não necessariamente une a população, mas acaba fragmentando-a quando a capacidade analítica das informações é substituída pelo rápido processamento de uma notícia. O papel da ciência na sociedade cada vez mais fragmentada e digital e seu significado para a política e a sociedade civil provavelmente serão redefinidos. Não é papel da ciência oferecer uma verdade universal ou uma representação objetiva do mundo, mas sim, oferecer interpretações metodologicamente verificáveis e questionar certezas e desencadear reflexões. Cabe historicizar que, no final dos anos 1960 e início dos 1970, uma doutrina econômica e política estabeleceu o conhecimento científico como o principal motor de inovação e crescimento. Isso rompe com a visão do pós-guerra, da ciência com um objetivo altruísta, desenvolvendo conhecimentos considerados como um bem público. À época, a produção científica passou a atender em grande parte os interesses do capital. Essa situação produziu grandes modificações e impôs um redesenho da pesquisa de interação, inovação, economia e sociedade. Pesquisas políticas, reformas universitárias, mudanças na regulação da produção de conhecimento na era digital, mutação nas formas de modelos de legitimação e avaliação e expertise acadêmica foram essenciais. Da mesma forma, a análise da responsabilidade social sobre o impacto e os usos das tecnociências e a mediação científica ou tecnológica foram e continuam sendo essenciais para se pensar em inovação. A produção científica, no formato que vigora hoje, acaba modelando um tipo de sociedade que precisa sempre produzir e inovar. A análise da responsabilidade social sobre o impacto e os usos das tecnociências e a mediação científica ou tecnológica são essenciais para se pensar a inovação. A sociedade hoje se move graças aos dados fornecidos pela produção científica, que tem como compromisso inovar, transformar e economicamente aumentar o fluxo de informações. Lembre-se que o conhecimento hoje é capital, ou seja, a maior moeda de troca que podemos ter. Foto: Shutterstock.com A PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL AS AGÊNCIAS DE FOMENTO NO BRASIL O especialista Luiz Rafael da Silva explica quais são as agências de fomento e como atuam. Quando falamos da relação pesquisa X ciência, a definição básica de pesquisa ganha uma estruturação sistematizada de três passos que mostram a responsabilidade na coleta e divulgação dos dados, além do compromisso em informar soluções à sociedade. Portanto, a pesquisa se transforma em pesquisa científica quando segue uma linha de trabalho metódica e baseada em testes de hipóteses. Toda pesquisa científica leva a uma produção de dados e informações. No Brasil, a produção de dados é intensa e exitosa, mesmo com a série de contratempos os quais vamos relatar ao longo deste item. COMENTÁRIO Talvez você não saiba, mas, segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em uma análise feita pela Web of Science Group, o Brasil ficou em 13º lugar no mundo em relação à produção de artigos de pesquisa científica entre 2013 e 2018, atrás de países como a Índia (10º) e Coreia do Sul (12º) e à frente da Rússia (15º) e África do Sul (21º). Mesmo com uma série de contratempos, sejam econômicos, sejam administrativos, nosso país se manteve muito consistente em sua posição, o que indica uma cultura de produção já introjetada pelas instituições de pesquisa, ainda que o conhecimento científico tenha tão pouca divulgação na sociedade. Produtividade científica de diversos países no período entre 2013 e 2018. Extraido de: Web of science group, CAPES, 2013-2018, pág 06. Em outra pesquisa realizada pelo Pew Research Center, com base na análise de dados publicados e em entrevistas para um levantamento da opinião pública sobre Ciência e Produção Científica no Brasil, observa-se que a população tem uma visão muito deturpada sobre a produção científica e a qualidade da pesquisa no Brasil. Para se ter uma ideia, somente 6% da população confia nos tratamentos médicos realizados em nosso país e os tem como um dos melhores do mundo. A avaliação sobre educação e divulgação científica, além da prática de STEAM no país, são consideradas por 92% da população como setores que apresentam produtividade abaixo da média. Esses dados revelam uma compreensão errônea da sociedade em relação à pesquisa científica, mas também expõem a fragilidade da divulgação dos avanços e das produções realizadas no Brasil. SAIBA MAIS STEAM é um acrônimo em inglês para as disciplinas Science, Technology, Engineering, Arts e Mathematics . É uma metodologia integrada e baseada em projetos que tem o objetivo de formar pessoas com diversos conhecimentos, desenvolver valores juntamente com os conteúdos abordados e preparar alunos e cidadãos para os desafios do futuro. Procure tanto em sites de notícias quanto nos programas telejornalísticos as seções direcionadas à produção científica. Ou elas inexistem ou têm pouquíssimo espaço. Isso revela, e muito, o quanto ainda precisamos crescer na divulgação das pesquisas científicas. Há, portanto, um campo vasto de trabalho para cientistas e futuros cientistas: transformar a cultura dos brasileiros, colocar a educação e a ciência como pilares da construção do país. Além disso, mostrar a ciência com uma linguagem acessível e de fácil entendimento, uma vez que um dos maiores complicadores para a popularização da ciência é a linguagem em que é divulgada. Imagem: Shutterstock.com A ciência enfrenta o problema da fragilidade da divulgação de seus avanços e suas produções para a população. PRODUÇÃO CIENTÍFICA NA ÁREA DA SAÚDE Foto: Shutterstock.com Hoje, temosem nosso planeta uma população de cerca de 7,8 bilhões de habitantes. É um número gigantesco e que impressiona, mesmo que isso represente apenas 0,01% de toda a vida existente por aqui. Foto: Shutterstock.com Agora, vamos fazer uma comparação com o ano de 1900. Quantos humanos existiam nesse período? Cerca de 1 bilhão e 650 milhões de pessoas. Impressionante? Mesmo sendo um número considerável, conseguiu perceber o quanto crescemos em apenas 100 anos? Mais 100 anos atrás, em 1800, temos o número de 978 milhões de habitantes. Gradativamente, quase que de modo exponencial, estamos crescendo e crescendo muito. Isso se dá em consequência dos avanços na produção de conhecimento na área da Saúde. Quanto mais avançam as pesquisas científicas, mais processos de cura são disponibilizados para doenças antes não tratáveis. A produção científica na área da Saúde tem influência impulsionante sobre a população. Crescimento da população mundial entre os anos de 1800 e 2005. Elaborado por: Eduardo Heberle , Wikipedia.org, Licença (CC BY-SA 4.0) Talvez a forma mais familiar de pesquisa em Saúde seja o ensaio clínico, no qual os pacientes se voluntariam para participar de estudos para testar a eficácia e a segurança de novas intervenções médicas. No entanto, é cada vez maior a pesquisa em saúde baseada em informações. Grande parte da pesquisa envolve a análise de dados e amostras biológicas que foram inicialmente coletadas para fins de diagnóstico e tratamento ou como parte de outros projetos de pesquisa — e agora estão sendo usados para novos fins de pesquisa. Foto: Shutterstock.com Este uso secundário de dados é uma abordagem de pesquisa comum em campos como epidemiologia, pesquisa de serviços de saúde e pesquisa de saúde pública, que inclui análise de padrões de ocorrências, determinantes e história natural de doenças, avaliação de intervenções e serviços de saúde, vigilância da segurança de medicamentos, e alguns estudos genéticos e sociais. Ou seja, a pesquisa na área de Saúde oferta dados que alimentam a produção científica em uma série de campos que promovem a melhora da qualidade de vida na sociedade. A pesquisa em Saúde pode fornecer informações importantes sobre tendências de doenças e fatores de risco, resultados de tratamentos ou intervenções de saúde pública, habilidades funcionais, padrões de atendimento e custos e uso de cuidados de saúde. As diferentes abordagens de pesquisa fornecem percepções complementares. Os ensaios clínicos podem fornecer informações importantes sobre a eficácia e os efeitos adversos das intervenções médicas, controlando as variáveis que podem impactar os resultados do estudo, mas o feedback da experiência clínica do mundo real também é crucial para comparar e melhorar o uso de medicamentos, vacinas, dispositivos médicos e diagnósticos. EXEMPLO Podemos citar como exemplo a aprovação da Food and Drug Administration (FDA) de um medicamento para indicação específica, baseada em uma série de ensaios clínicos controlados, frequentemente com algumas centenas ou milhares de voluntários, mas, após aprovação, pode ser usado por milhões de pessoas em muitos contextos diferentes. Outro exemplo são os ensaios e as testagens feitos com vacinas. No período da pandemia de COVID-19, o número de pesquisas e produção de dados na área da Saúde foi intensificado e forneceu dados relevantes para as agências de regulação em saúde, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), para que elas pudessem avaliar a aquisição e aplicação de vacinas em território nacional. Foto: Shutterstock.com Coletivamente, essas formas de pesquisa em Saúde levaram a descobertas, ao desenvolvimento de novas terapias e a uma melhoria notável nos cuidados de saúde e na saúde pública. Com isso, economistas descobriram que a pesquisa médica pode ter enorme impacto na saúde humana e longevidade e que o aumento resultante da produtividade da população contribui muito para a economia nacional, além dos benefícios individuais de uma saúde melhor. Logo, se o empreendimento de pesquisa for impedido ou menos robusto, interesses sociais importantes serão afetados. ATENÇÃO Este é o caso não tão recente do Brasil. Segundo dados dos indicadores do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), entre os anos de 2012 e 2015, o investimento na pesquisa e produtividade na área de Ciências e Saúde teve um aumento de gastos de 1,13% para 1,34% do PIB Nacional. Esta crescente foi interrompida no ano de 2016 e gradativamente vem caindo, o que resulta em perdas irreparáveis. Somente no ano de 2021, o MCTIC sofreu um corte de 34% de sua verba para o ano. As pesquisas e a produtividade na área da Saúde trazem benefícios individuais e coletivos e possibilitam maior aquisição de qualidade de vida pela população humana, além de democratizar cada vez mais o acesso básico às medidas sanitárias. Portanto, investir na Saúde é preciso. E você, como pretende colaborar com isso? Irá produzir? Divulgar? Investir? Lembre-se que você tem uma função social e um papel relevante em todo este processo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A DEMOCRATIZAÇÃO DA CIÊNCIA É IMPORTANTE PARA DESENVOLVER NA SOCIEDADE O SENTIMENTO DE QUE, COM OS PROCESSOS DE PESQUISA, A QUALIDADE DE VIDA IRÁ AUMENTAR. NO BRASIL, A PERCEPÇÃO DA IMPORTÂNCIA DA PESQUISA AINDA É BAIXA E A CIÊNCIA NÃO É COLOCADA COMO PRIORIDADE. DE QUE MANEIRA PODEMOS INCENTIVAR A RAMIFICAÇÃO DO CONCEITO CIENTÍFICO NO BRASIL? A) Colocando a ciência em um patamar elitista, erudito e formal, para a compreensão de sua importância. B) Modificando a opinião popular a partir da divulgação de dados questionáveis, mas que atendam à demanda da sociedade. C) Demonstrando a importância da ciência com uma linguagem acessível e popular, de fácil entendimento. D) Abordando somente assuntos de interesse em saúde pois apresentam uma relevância maior para a população. E) Colocando as informações científicas em revistas indexadas, de acesso de toda comunidade acadêmica. 2. DURANTE O PERÍODO DA PANDEMIA DA COVID-19, FOI POSSÍVEL PERCEBER A CORRIDA DE LABORATÓRIOS PÚBLICOS E PRIVADOS EM BUSCA DE UMA VACINA QUE PUDESSE PROTEGER A POPULAÇÃO. ESSA CORRIDA POSSIBILITOU QUE EM MENOS DE UM ANO SURGISSEM VACINAS QUE TINHAM A CAPACIDADE DE IMUNIZAR BOA PARTE DA HUMANIDADE. INFELIZMENTE, ESSA CORRIDA NÃO ACONTECEU ENTRE AS DÉCADAS DE 1910 E 1920 EM QUE MAIS DE 40 MILHÕES DE PESSOAS MORRERAM POR CONTA DA GRIPE CAUSADA PELO VÍRUS INFLUENZA. DE QUE MODO O AUMENTO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA COLABOROU PARA O AVANÇO NA PRODUÇÃO DE VACINAS? A) A produção científica possibilitou que laboratórios produzissem insumos de maneira mais rápida, sem necessariamente descobrir novos métodos para vacinação, permitindo o diagnóstico rápido. B) Com o aumento das pesquisas, a quantidade de dados divulgados e compartilhados cresceu, aumentando o conhecimento científico e possibilitando novas técnicas de vacinação. C) Na verdade, o número relativo de mortos no passado comparado com os mortos na pandemia da COVID-19 não reflete avanço significativo por conta do aumento da produção científica. D) As vacinas produzidas recentemente utilizam os mesmos princípios metodológicos de antes, o que demonstra pouca influência da produção científica. O número menor de mortes tem relação com o processo de seleção natural. E) Entre 1910 e 1920, a Medicina no Brasil já estava avançada com a criação da Fiocruz e do Instituto Butantan, o que garantiu que poucos brasileiros sofressem com a pandemia nesta época. GABARITO 1. A democratização da ciência é importante para desenvolver na sociedade o sentimento de que, com os processos de pesquisa, a qualidade de vida irá aumentar. No Brasil, a percepção da importância da pesquisa ainda é baixa e a ciência não é colocada como prioridade. De que maneira podemos incentivar a ramificação do conceito científico no Brasil? A alternativa "C " está correta. Um dos maiores complicadores para a popularizaçãoda ciência é a linguagem em que é divulgada. Muitos ainda não têm acesso a serviços básicos e demonstram pouco entendimento de termos técnicos. Por conta disso, a ciência precisa rever suas formas de divulgação para que sua ramificação aumente. 2. Durante o período da pandemia da COVID-19, foi possível perceber a corrida de laboratórios públicos e privados em busca de uma vacina que pudesse proteger a população. Essa corrida possibilitou que em menos de um ano surgissem vacinas que tinham a capacidade de imunizar boa parte da humanidade. Infelizmente, essa corrida não aconteceu entre as décadas de 1910 e 1920 em que mais de 40 milhões de pessoas morreram por conta da gripe causada pelo vírus Influenza. De que modo o aumento da produção científica colaborou para o avanço na produção de vacinas? A alternativa "B " está correta. Ao longo do tempo, com as novas pesquisas e produções científicas, novas técnicas de vacinação foram desenvolvidas. Técnicas mais modernas, menos danosas e com efetividade maior começaram a ser criadas a partir das pesquisas desenvolvidas e divulgadas. MÓDULO 2 Associar a pesquisa com a produção científica AFINAL, O QUE É PESQUISA CIENTÍFICA? A melhor forma de entender como se faz pesquisa científica é acompanhar os passos da pesquisa, a importância de cada um dos componentes da pesquisa científica e como se dá a construção da divulgação dos resultados. Por isso, neste módulo, vamos abordar um exemplo simples de pesquisa e pontuaremos os passos de sua construção. Toda pesquisa se inicia de um incômodo, uma perturbação no que se considera natural. É um movimento que vem como resposta a uma disfunção do que se considera rotina ou realidade. Uma alteração ambiental, uma nova doença, uma reação diferente à aplicação de um medicamento, todos esses exemplos modificam a rotina e desestabilizam conceitos antes estáveis. Imagem: Shutterstock.com. VAMOS ANALISAR A SEGUINTE SITUAÇÃO-PROBLEMA: Residentes de duas comunidades localizadas em um certo município começaram a perceber alterações na cor e no sabor da água que chegava a suas casas. A água estava barrenta e com um odor estranho. Veja que aqui temos o distúrbio. A comunidade não esperava receber água de má qualidade em casa e muito menos ter que consumir esta água diariamente. Toda pesquisa é instigada pelo incômodo, mas nem todos sabem pesquisar. Não há como garantir que residentes dessas comunidades realizem um processo de busca para saber o que está acontecendo, e é aí que os profissionais da área de pesquisa e saúde entram. São eles que vão seguir os passos para encontrar caminhos que atendam à demanda das comunidades por água de qualidade. Foto: Shutterstock.com Alteração da qualidade da água. Imagine que você é um desses profissionais e tente vivenciar a narrativa a seguir. A primeira coisa que a pesquisa científica exige é a elaboração dos objetivos necessários para a sua realização. Onde queremos chegar? Quais são as demandas que iremos atender? Como fazer para que a comunidade saiba o que aconteceu com a água de abastecimento de suas casas? Esses são questionamentos que nortearão a criação de seus objetivos. ATIVIDADE DE REFLEXÃO DISCURSIVA REFLITA E ESCREVA. QUAL VOCÊ ACHA QUE DEVERIA SER O OBJETIVO DA PESQUISA? RESPOSTA Optamos por definir o seguinte objetivo: “Analisar os fatores físico-químicos que ocasionaram a alteração da qualidade da água de abastecimento em duas comunidades locais”. Já que um dos objetivos foi criado, vamos agora levantar hipóteses para que isso tenha acontecido — mas, antes de fazer esse levantamento, que tal conhecer um pouco mais da região? Fazer um breve levantamento de dados que possam ajudar a entender o problema é importante, para que as suas hipóteses levantadas tenham consistência e possam ser testadas futuramente. Quando não se conhece bem o problema que causa o impulsionamento da pesquisa, as hipóteses levantadas podem nos afastar das reais soluções. javascript:void(0) Imagem: Shutterstock.com Compreendendo que as comunidades são abastecidas por três rios, que cortam outras comunidades adjacentes, uma delas com alta atividade industrial, podemos começar a levantar hipóteses. Você sabe o que é hipótese? Uma hipótese é uma proposição preditiva específica, clara e testável sobre o possível resultado de um estudo de pesquisa científica com base em uma propriedade particular de uma população ou de dados. Especificar as hipóteses de pesquisa é uma das etapas mais importantes no planejamento de uma pesquisa científica. O pesquisador, geralmente, declara uma expectativa a priori sobre os resultados do estudo em uma ou mais hipóteses de pesquisa antes de conduzi-lo, e elas funcionarão como um norte para a avaliação de resultados. ATIVIDADE DE REFLEXÃO DISCURSIVA REFLITA E ESCREVA. QUAL HIPÓTESE VOCÊ ELABORARIA? RESPOSTA Optamos por trabalhar com a hipótese de que os rios, ao passarem pela comunidade com alta atividade industrial, têm recebido muita poluição dos dejetos e rejeitos e, com isso, a água que tem chegado às comunidades estudadas está com o odor ruim e a coloração atípica. Portanto, os fatores físico-químicos são provenientes dessas indústrias. Agora que uma hipótese foi gerada, está na hora de testar essa hipótese por meio de uma metodologia. Esse teste precisa seguir procedimentos operacionais muito bem detalhados e com fundamentação. Temos aqui a metodologia que será abordada. O método dá a possibilidade de promover experimentos e levantar dados que vão colaborar para responder o seu questionamento inicial. Foto: Shutterstock.com Não iremos detalhar muito a metodologia do exemplo que estamos apresentando, mas podemos sugerir: O uso de coletas da fauna local para analisar bioindicadores da qualidade da água em diversos pontos do rio. javascript:void(0) Uma análise físico-química de amostras de água coletada dos três rios. Observar registros anteriores de poluição naquela região e outras pesquisas que tenham sido feitas por ali. Para cada sugestão do método existem passos que precisam ser realizados e muitos desses passos estão em pesquisas anteriores já publicadas. Com isso, observamos que um bom levantamento bibliográfico ajuda a embasar a metodologia escolhida. Após a aplicação do teste sobre a hipótese gerada, precisamos observar os dados coletados, organizar e analisá-los. A partir da análise, teremos dados mais refinados que nos ajudarão a compreender a relação entre o teste e a hipótese que levantamos. Essas análises nos conduzirão a uma conclusão. Essa conclusão pode ser parcial ou até mesmo final, dependendo da aplicabilidade da sua pesquisa e dos resultados obtidos. Será que os resultados ajudarão as comunidades a resolver seus problemas em relação à qualidade da água? Não saberemos, pois criamos aqui apenas uma situação-problema para mostrar sinteticamente os passos que devem ser realizados em uma pesquisa científica. INSTITUIÇÕES DE PESQUISA NO BRASIL Tudo o que você usa, vê e consome é fruto de pesquisas que foram realizadas no Brasil e no mundo. Por aqui, a alta produção de pesquisas, vinculada a uma alta publicação de artigos, faz do Brasil uma grande referência de inovação e conhecimento científico. Muito disso se deve às diversas instituições de pesquisa espalhadas pelo nosso país. Vamos citar aqui algumas instituições que, historicamente, têm colaborado muito para o progresso da ciência no Brasil. Foto: Shutterstock.com INSTITUTO DE PESQUISA JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO Foto: Shutterstock.com O Jardim Botânico inicia essa lista por ser a primeira instituição de pesquisa do Brasil. Criada em 1808 por D. João VI, desde então mantém alta produtividade nos setores agronômicos, desenvolvendo novas técnicas de cultivo. Além de ser um ponto turístico do Rio de Janeiro, o Jardim Botânico guarda coleções históricas científicas e atua também na área da educação ambiental e divulgação científica. Oferece ainda programasde pós-graduação lato e stricto sensu , que conta com diversas linhas de pesquisa. MUSEU NACIONAL DA QUINTA DA BOA VISTA — RIO DE JANEIRO Considerada a primeira instituição científica do Brasil, fundada em 1818 por D. João VI, o Museu Nacional tem seu local de destaque. Além de guardar um acervo histórico significativo, é uma das principais instituições de pesquisa sobre a biodiversidade brasileira — um grande percentual de artigos publicados por ano sobre esse tema parte do Museu. O Museu Nacional conta com sete departamentos de pesquisa que se ramificam em laboratórios, cada um com diversas linhas de pesquisa. Hoje, é considerado um centro de referência em pesquisa e seus projetos são financiados por instituições de fomento. Os programas de pós-graduação são considerados de alta qualificação em diversas áreas de conhecimento. Infelizmente, no final de 2018, um incêndio destruiu quase a totalidade do acervo do Museu Nacional, obrigando laboratórios de pesquisa se transferirem para o horto botânico. Mesmo assim, a instituição resiste: o Museu está sendo restaurado para retornar em grande estilo. Foto: Halley Pacheco de Oliveira / Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0 Museu Nacional antes do incêndio de 2018. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ) — RIO DE JANEIRO A Fiocruz é uma das maiores referências em pesquisa científica no Brasil. A instituição abarca desde trabalhos de biologia molecular, passando pelas áreas de saúde pública, Medicina Tropical, Genética, Entomologia, entre outros departamentos que a transformam em um local de profusão de trabalhos de inovação. Além disso, a Fiocruz é uma das principais produtoras de vacinas de toda a América Latina — foi um dos pilares no combate à COVID-19 no Brasil. O surgimento da Fiocruz tem íntima relação com o crescimento da Medicina Tropical em nosso país. Ela surge a partir do Instituto de Manguinhos, criado em 1899, que tinha como líder o pesquisador Oswaldo Cruz. A atuação sempre aliada com o governo federal para o combate de uma série de epidemias e endemias no país transformou o Instituto no principal nome no combate às doenças tropicais no Brasil. Fonte: Horabrasil.com.br Sede da Fundação Oswaldo Cruz. Em 1954, a Fiocruz abrigou a criação da Escola Nacional de Saúde Pública, formando diversos agentes de saúde, criando cursos e aplicações variáveis que impulsionaram as pesquisas na área da saúde em território brasileiro. Mesmo passando por alguns obstáculos, sejam políticos, econômicos e sociais ao longo do tempo, a Fiocruz se consolidou mundialmente como a mais destacada instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina. Hoje, desenvolve mais de mil projetos de pesquisa, além de abrigar 32 programas de pós-graduação stricto sensu . Esses números nos dão a noção da importância da instituição para a ciência. INSTITUTO BUTANTAN — SÃO PAULO A origem do Instituto Butantan remonta a epidemia de peste bubônica no Brasil, em 1899. Seu primeiro diretor foi o famoso pesquisador Vital Brazil. O Instituto é o principal produtor de soros e vacinas no Brasil e assume o protagonismo nas campanhas federais de vacinação. Além disso, a produção científica é garantida pela Escola Superior Instituto Butantan, que apresenta cursos lato e stricto sensu . Desenvolve dez linhas de pesquisa que estão incluídas no Centro de Desenvolvimento Científico (CDC) da instituição, o que o coloca entre um dos maiores centros de pesquisa no mundo. Foto: Shutterstock.com Instituto Butantan. A PARTICIPAÇÃO DA FIOCRUZ E BUTANTAN NO COMBATE À COVID-19 O especialista Luiz Rafael da Silva explica sobre a colaboração da Fiocruz e do Butantan no combate à COVID-19, durante a pandemia. SAIBA MAIS Existem diversas instituições de pesquisa no Brasil ligadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC) que também colaboram para o crescimento de nosso país na área de inovação e tecnologia. Podemos destacar o IMPA (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada), o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e a AEB (Agência Espacial Brasileira). UNIVERSIDADES Não há por que especificar alguma universidade como centro de produção de pesquisa no Brasil. Todas as instituições universitárias são, por excelência, centros de produção e colaboram anualmente com um grande volume de trabalhos e produções nas variadas áreas das ciências — na universidade, não se desassociam o ensino, a pesquisa e a extensão. Se você estiver em uma universidade, saiba que ela faz parte desse conglomerado nacional de pesquisa. Caso você se interesse pela pesquisa científica, procure se informar com seus professores e coordenadores, eles indicarão laboratórios e linhas de pesquisa em que você poderá atuar. PAPEL DOS EVENTOS CIENTÍFICOS NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA Suponha que você, em uma pesquisa científica, tenha encontrado resultados impressionantes a partir de uma coleta de dados. Certamente, você gostaria de divulgar estes resultados, pois o conhecimento não pode ficar retido. O conhecimento precisa ser divulgado ao máximo número de pessoas. Por conta disso, as melhores oportunidades para expor descobertas, trocar informações e conhecer novas pesquisas em andamento estão nos eventos científicos. Evento científico é uma atividade que congrega diversos pesquisadores de uma ou mais áreas do conhecimento, para que troquem informações sobre pesquisas que estão em andamento ou que já foram concluídas. Além disso, pesquisadores podem divulgar novos projetos e buscar captar investimento. Ou seja, evento científico é uma oportunidade de compartilhamento dos avanços e inovações da ciência. Em um evento científico você pode ter a oportunidade de conhecer pesquisadores que são referência em sua área, dialogar com eles e ainda participar de discussões importantes que possivelmente nortearão os passos da ciência no futuro. Foto: Shutterstock.com Evento científico: oportunidade de diálogo entre os pesquisadores. Eventos científicos são uma das formas mais eficazes de comunicação entre pesquisadores da mesma área, até mesmo em nível internacional. É por conta disso que o número de eventos internacionais vem crescendo a cada ano. Atualmente, as plataformas virtuais, como ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), também possibilitam congressos remotamente, o que tem aumentado a participação pública de indivíduos de diversos países. Agora, como um novo objetivo, os eventos têm a meta de alcançar outros públicos que não os especialistas em certas áreas, mas curiosos e interessados por conhecer algo novo. Com isso, há uma grande oportunidade para a ciência se ramificar pela sociedade. Historicamente, os eventos científicos têm colaborado para o crescimento da divulgação científica e também para a popularização e democratização da ciência. Em eventos científicos realizados há séculos, tivemos descobertas fantásticas que até os dias atuais são pilares na Biologia, por exemplo. Por isso, há a necessidade de investimento público e privado, para que os eventos científicos aumentem em número, tamanho e possibilidade de captação. Congresso, simpósio, colóquio são diferentes tipos de eventos científicos que variam em amplitude, captação, intenção, quantidade de áreas de conhecimento, entre outras características. Vejamos alguns detalhes sobre cada um, clicando abaixo: CONGRESSO É um evento que apresenta caráter abrangente. Há uma quantidade maior de áreas abordadas e diversas linhas de pesquisa apresentadas. O congresso congrega uma série de atividades diferentes, podendo ter mesas redondas, exposição de pôsteres, seminários, debates, entre outras formas de divulgação científica. No congresso, realizado em caráter nacional ou internacional, tem-se a oportunidade de encontrar pesquisadores de diversos campos e localidades. Este modelo de evento também apresenta rigor, para que os trabalhos já apresentem resultados, mesmo que prévios. SIMPÓSIO Organizado por comunidades científicas para discutirum assunto específico, o simpósio também pode receber pesquisadores convidados para ampliar o debate e movimentar a discussão. O simpósio se difere do congresso por congregar seus esforços de debate e divulgação em um determinado assunto. COLÓQUIO É um evento de menor porte e mais exclusivo que o simpósio, restringindo ainda mais a abrangência de um assunto. Tem por base buscar o diálogo entre alunos, professores e profissionais da área. Como exemplo, temos o Colóquio de Zoologia Cultural, que já está em sua quinta edição. Perceba que é um evento que reúne um grupo bem específico de pesquisadores, no caso indivíduos que estudam a influência da Zoologia na cultura e sociedade. SEMINÁRIO Evento organizado por grupos de estudos ou grupos de pesquisa que têm como função divulgar pesquisas em andamento por discussão oral. Os seminários costumam ocorrer em departamentos de pesquisa ou até mesmo internamente em laboratórios. Foto: Shutterstock.com Seminário de um grupo de pesquisa. JORNADA Evento de curta duração, organizado por grupos de pesquisa que intencionam divulgar resultados para discutir trabalhos futuros com a comunidade científica. As jornadas científicas costumam ser sediadas em universidades, para que estudantes de iniciação científica exponham seus trabalhos e discutam o desenvolvimento da pesquisa. PALESTRA Neste modelo de divulgação científica, o palestrante ou apresentador divulga para um público espectador o seu trabalho e os resultados de sua pesquisa. As palestras podem ser organizadas por instituições ou até mesmo por indivíduos. Atualmente, você pode ver e ouvir palestras remotamente pelo aplicativo do TED Talks, que distribui e divulga as pesquisas realizadas por seus palestrantes. APLICATIVO DO TED TALKS O aplicativo oficial da fundação privada sem fins lucrativos norte-americana de mesmo nome, que organiza eventos científicos sobre os mais variados assuntos e disponível gratuitamente. javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com TED Talks. FÓRUM É um encontro menos científico que coloca o público, seja ele especializado ou leigo, para participar das discussões que apresentam âmbito científico e social. ATENÇÃO Nas universidades, é possível encontrar uma série de eventos ocorrendo ao longo do ano. Entre em contato com sua instituição de ensino para saber quais eventos estão programados e tente participar, seja como pesquisador ou como ouvinte. Lembre-se que esses eventos científicos podem impulsionar sua produção. O QUE MOBILIZA O PESQUISADOR NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA? Ser pesquisador no Brasil não é algo fácil. Uma série de aspectos precisam ser elencados para procurarmos entender o que é necessário para que a pesquisa cresça e tenha lugar de destaque no cenário mundial. Primeiro, precisamos falar sobre a profissão de pesquisador científico no Brasil. Mesmo observando uma série de pessoas intituladas como pesquisadores em diversas mídias, na verdade, o que temos são pessoas que trabalham em algum laboratório ou alguma universidade, contratadas como técnicos ou professores que exercem a pesquisa. Ou seja, não temos pessoas dedicadas integralmente à pesquisa, a não ser os estudantes de graduação e pós-graduação que atuam como estagiários em laboratórios e financiados por bolsas de fomento. Consegue perceber o quanto isso expõe a fragilidade da pesquisa em nosso país? Se os estudiosos não podem se dedicar integralmente à pesquisa, isso diminui o potencial de produção e inovação. Desse modo, é necessário que se institucionalize a profissão de pesquisador científico. Uma outra questão envolve o investimento feito em pesquisas científicas no Brasil, seja pelo poder público, seja por empresas particulares. Se analisarmos o fluxo de investimentos na área de Biologia e Saúde, por exemplo, temos que a Biologia Molecular e a Bioquímica recebem o maior aporte de incentivo, enquanto a área de Biodiversidade não aparece entre as dez primeiras fomentadas. Isso acaba inviabilizando pesquisas em áreas tão importantes quanto as mais financiadas. Imagem: Shutterstock.com O investimento feito em pesquisas científicas no Brasil prioriza algumas áreas em detrimento de outras. Quando falamos de financiamento, destacam-se as agências públicas, ligadas diretamente ou não ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC). Qualquer tipo de corte no fluxo de verbas para este ministério impacta diretamente o fomento às pesquisas, que acabam fechando linhas de produção científica ainda que apresentem resultados exitosos. No Brasil, as principais agências de fomento à pesquisa são o CNPq, a CAPES e as FAPs estaduais, com destaque para a FAPESP e a FAPEMIG. CNPQ, A CAPES E AS FAPS ESTADUAIS, COM DESTAQUE PARA A FAPESP E A FAPEMIG Sobre as instituições citadas, temos: CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior FAPs - Fundação de Amparo à Pesquisa FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo FAPEMIG - Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com. Para que os investimentos em pesquisa científica aumentem, é necessária a pressão pública em apoio à pressão já exercida pela academia e pelos pesquisadores. Isso só irá ocorrer quando a ciência estiver mais democratizada e atingir todas as camadas sociais. O problema é que, para essa divulgação ocorrer, é necessário investimento — e, por conta disso, caímos em um ciclo entre falta de investimento e consequente baixa divulgação. A criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) foi uma forma de fazer a ciência ser distribuída em larga escala e ter acessibilidade. A SBPC é uma organização no modelo de entidade civil sem fins lucrativos que tem como papel cobrar das autoridades o devido valor que a ciência merece em nosso país. Ela promove uma série de eventos no Brasil, em parceria com instituições de ensino, para promover a divulgação científica em larga escala, atingindo muitas pessoas. Você, como parte integrante da sociedade, tem também esse papel de pressionar pela popularização e o progresso da ciência. A ciência conta com o seu apoio. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UMA INSTITUIÇÃO PRETENDE PLANEJAR UM EVENTO CIENTÍFICO PARA DISCUTIR A SITUAÇÃO DA AMAZÔNIA NO MUNDO. NESTE EVENTO, A ORGANIZAÇÃO PRETENDE COLOCAR PALESTRAS, MESAS REDONDAS, APRESENTAÇÃO DE PÔSTERES E DEBATES. ALÉM DISSO, A PROGRAMAÇÃO SERÁ DIVULGADA EM ÂMBITO NACIONAL. PORTANTO, A INSTITUIÇÃO IRÁ DESENVOLVER QUAL TIPO DE EVENTO? A) Congresso B) Simpósio C) Colóquio D) Seminário E) Jornada 2. ANUALMENTE, NOTA-SE UMA QUEDA NO NÚMERO DE NOVOS PESQUISADORES QUE INGRESSAM NAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS. ESSE PROBLEMA ESTÁ DIRETAMENTE LIGADO À DESVALORIZAÇÃO QUE A PESQUISA, A CIÊNCIA E OS PROFISSIONAIS SOFREM NO BRASIL. UMA DAS SOLUÇÕES PARA REVERTER ESTE QUADRO É: A) A profissionalização da função de pesquisador científico, com valorização do cargo e exclusividade de atribuições. B) Mais investimentos de iniciativas privadas, para que as pesquisas fiquem nessas instituições. C) O aumento de cursos na área de ciências da natureza, para aumentar o número de formandos e assim gerar um número maior de possíveis pesquisadores. D) Aumentar o valor das bolsas de pesquisa e fomento para possibilitar que o estudante e futuro pesquisador fique mais tempo sem precisar ter trabalho formal. E) Criar instituições de pesquisa, pois as que já temos estão saturadas de pesquisadores que não se renovam. GABARITO 1. Uma instituição pretende planejar um evento científico para discutir a situação da Amazônia no mundo. Neste evento, a organização pretende colocar palestras, mesas redondas, apresentação de pôsteres e debates. Além disso, a programação será divulgada em âmbito nacional. Portanto, a instituição irá desenvolver qual tipo de evento? A alternativa "A " está correta. Congressos são eventos que apresentam grande diversidade de exposiçõesde conteúdo, além de serem mais abrangentes e com uma amplitude de público. 2. Anualmente, nota-se uma queda no número de novos pesquisadores que ingressam nas instituições públicas. Esse problema está diretamente ligado à desvalorização que a pesquisa, a ciência e os profissionais sofrem no Brasil. Uma das soluções para reverter este quadro é: A alternativa "A " está correta. O maior problema da pesquisa no Brasil hoje é a falta de dedicação e de atribuição exclusiva para o pesquisador, pois ele tem que dividir o seu tempo para lecionar ou trabalhar como técnico em um laboratório. MÓDULO 3 Descrever a construção de um projeto de pesquisa QUE TAL CONSTRUIR UM PROJETO DE PESQUISA? Com que área você gostaria de trabalhar? Você está inserido em algum laboratório que já tem uma linha de pesquisa? A busca por uma linha de pesquisa é importante, para que você pratique a pesquisa a partir de um projeto. Na maior parte das vezes, como estagiário, você é inserido em algum projeto já existente, mas isso não indica que você nunca terá que construir um projeto de pesquisa. VOCÊ SABIA Para o ingresso em alguns programas de pós-graduação stricto sensu , como o mestrado, uma das etapas de classificação envolve a construção de um projeto. A partir do projeto apresentado, você será avaliado em diversos aspectos como coesão e coerência do texto, relevância do objeto de pesquisa e justificativa para que a pesquisa seja realizada. Além disso, a metodologia aplicada nas hipóteses levantadas por você também será observada pela banca de admissão. Esses processos de admissão são bem criteriosos e, por conta disso, você precisa treinar seu entendimento da pesquisa e, claro, a sua escrita. Por isso, ser estagiário em um laboratório ajudará muito, especialmente, se tiver a oportunidade de participar como colaborador de um projeto interno. Por conta disso, vamos aqui esmiuçar cada parte que deve ser apresentada em um projeto e como você deve escrevê-la. Treine tendo em mente alguma linha de pesquisa que você esteja interessado em trabalhar ou, se já está inserido em alguma pesquisa, faça um projeto para ela. QUESTÃO NORTEADORA Todo projeto deve ser iniciado com uma questão, algo que precisa ser respondido. O termo norteador está aí para indicar que, quando a resposta for encontrada, sua pesquisa se encerrou. Por isso, a pergunta inicial precisa realmente expressar o que se quer encontrar. A questão norteadora não deve ser abrangente, ela precisa ser específica e é importante que dialogue com o contexto que a impulsionou. Foto: Shutterstock.com Essa questão precisa levar em consideração a narrativa do provável contexto que a gerou, portanto ela precisa vir acompanhada de uma situação-problema. Então, quando você for criar uma questão norteadora, pense bem na resposta que você quer encontrar, tente ser objetivo e direto em sua pergunta, leve em consideração todos os elementos envolvidos em sua pesquisa. Para exemplificarmos, vamos supor que um grupo de indivíduos que contraiu a COVID-19 manifestou, após a fase de remissão da doença, algumas sequelas, entre elas, problemas renais. Para criarmos um projeto de pesquisa que tente identificar a relação entre a COVID-19 e a insuficiência renal, precisamos de uma questão norteadora. Você poderia fazer a seguinte pergunta: “Qual a relação entre a COVID-19 e os problemas renais?” Ou outra: “Compreendendo que há indícios de pacientes em remissão da COVID-19 com o desenvolvimento de problemas renais como a insuficiência, de que maneira o ciclo etiológico do SARS-Cov 2 pode alterar a função e manutenção de células renais?”. Imagem: Shutterstock.com Entre essas duas perguntas, qual delas dá um caminho mais claro sobre o que precisa ser investigado para que você inicie sua pesquisa? Certamente, você respondeu que a segunda pergunta deixa este caminho mais claro. Quanto mais específica sua pergunta, mais chances seu projeto tem de ser exitoso, tanto por conta da previsibilidade de tempo quanto pela resposta também precisar ser mais específica. Além disso, é importante destacar que, antes de formular o problema, devemos analisar alguns aspectos: viabilidade, justificativa, relevância, novidade, exequibilidade e oportunidade. JUSTIFICATIVA DO PROJETO Se a questão norteadora está criada é porque há um motivo para a sua criação, e esse motivo é a justificativa do projeto. Nem sempre um projeto que para você é relevante será considerado relevante por outra pessoa ou para o avaliador de uma banca. Por conta disso, a escrita da sua justificativa não pode conter dados implícitos que são de fácil compreensão apenas para você. Uma justificativa precisa elucidar muito bem o motivo do projeto e destacar o quão ele é relevante para o impulsionamento da ciência e, principalmente, para a sociedade. Às vezes, é possível perceber, facilmente, a relevância de uma pesquisa, principalmente, na área da saúde, mas é preciso estar atento. EXEMPLO Se você fosse avaliar dois projetos, um que aborda o impacto do aumento do consumo de álcool no desenvolvimento de doenças cardiovasculares e outro que observa a composição faunística de um riacho no distrito de Penedo (Resende, Rio de Janeiro), qual deles você compreenderia com mais facilidade só lendo o título? Provavelmente, o primeiro teria a relevância mais bem compreendida, mas isso porque a aplicabilidade direta na saúde humana ganha destaque. Mas, o segundo projeto também tem muita relevância para a sociedade: o levantamento da composição faunística de um local nos dá ideia dos impactos antrópicos que aquele lugar está sofrendo e nos permite inferir projeções de perda de biodiversidade, que impacta diretamente na manifestação de doenças em seres humanos, principalmente, proveniente de parasitos. Viu como ambos os projetos podem ser relevantes? Só que o segundo projeto precisará de uma justificativa mais bem desenvolvida, para que seja compreendido e aceito. A partir da linha de pesquisa que você escolheu e da questão norteadora criada, tente didatizar ao máximo a explicação sobre a importância de seu projeto para a sociedade. Distribua para seus colegas, familiares e outros pares para aferir se eles conseguiram compreender a relevância de sua pesquisa. FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES Chegamos em um momento crucial do projeto de pesquisa, quando formulamos hipóteses que tentam responder à questão norteadora. Quando a criamos, já temos em mente as respostas que serão colocadas como hipóteses. Só que as hipóteses precisam abrir a possibilidade de testagem e verificação e, por isso, elas precisam ser factíveis e dialogar com a realidade. Claro que você pode colocar elementos fora do espectro analisado para auxiliar na sua hipótese, só que esses elementos deverão fazer parte dos testes. Para construir uma hipótese factível, você precisa ser específico em sua construção. Uma resposta abrangente não irá lhe ajudar e nem permitir uma testagem efetiva e correta. Vamos usar o mesmo exemplo sobre a relação entre COVID-19 e insuficiência renal: “Compreendendo que há indícios de pacientes em remissão da COVID-19 com o desenvolvimento de problemas renais como a insuficiência, de que maneira o ciclo etiológico do SARS-Cov 2 pode alterar a função e manutenção de células renais?”. Quais hipóteses você levantaria para responder a esta questão? Você poderia seguir dois caminhos, uma resposta simples, abrangente e que não te dará elementos como: "O vírus consegue se ligar a proteínas específicas celulares fazendo ciclo lítico nestas células." Ou então, seguir um caminho de maior especificidade, facilitando o desenvolvimento de uma metodologia que lhe permita fazer testagens mais significativas como: “O SARS-Cov 2 apresenta em sua proteína spike um ligante ao receptor de células nefríticas que, ao serem sinalizadas, permitem a entrada do vírus. No interior destas células, o RNA viral se liga a enzimas nucleares e potencializam a sua duplicação”. A segunda hipóteselevantada lhe mostra especificamente o que deve ser testado e o que se espera encontrar. Portanto, ao formular hipóteses, lembre-se que você deve formular algo que facilite seu trabalho e dê ferramentas para a resolução da questão norteadora. O QUE É O PRINCÍPIO DA FALSEABILIDADE? O especialista Luiz Rafael da Silva explica o princípio e sua importância na formulação das hipóteses. CRIAÇÃO DOS OBJETIVOS Chegamos então à formulação dos objetivos. São metas que dialogarão intimamente com a questão norteadora. O objetivo marcará seu ponto de chegada. Para o leitor de seu projeto, ele deve ser claro e factível. A ciência não trabalha com aspirações em que o caminho seja incerto. Os programas de pós- graduação não irão aceitar objetivos que não sejam alcançáveis no prazo do curso do estudante. Por isso, para que seu projeto seja aceito, é importante ter noção da temporalidade e isso implicitamente precisa estar inserido na descrição de um objetivo. Imagem: Shutterstock.com Objetivos mais didatizados também são mais bem aceitos, pois auxiliam no entendimento da proposta do projeto. Os objetivos são construídos com três elementos. O verbo que demonstra a complexidade deste objetivo e ainda a capacidade de mensuração e avaliação, os dados e as informações que irão balizar o desenvolvimento desta meta e a intencionalidade do objetivo. De certa forma, o objetivo é construído de acordo com o seguinte esquema. Imagem: Shutterstock.com Observando este modelo de construção, podemos sugerir o seguinte texto para a questão geradora que explicitada anteriormente: “Compreender a relação entre o vírus SARS-Cov 2 e os casos de destruição de células nefríticas, com base nos ciclos de replicação viral para desenvolver meios de recuperação de pacientes que demonstram sequelas da COVID-19”. Veja que os três elementos de construção estão abordados no objetivo exposto e dão um sentido lógico para o desenvolvimento de seu trabalho. Construir um projeto não é algo simples, mas pode ser muito bem desenvolvido com estudo e prática. Lembre-se: um bom projeto precisa demonstrar sua relevância e meios para que o problema levantado seja resolvido. Como um bom teste, escreva objetivos sobre alguma linha de pesquisa, mostre para outras pessoas e peça que digam a você o que elas entenderam daquilo. TIPOS DE PESQUISA E SUAS CARACTERÍSTICAS Agora, veremos os tipos de pesquisa que mais ocorrem nas áreas das Ciências da Natureza e da Saúde. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Muitos resultados de pesquisas são publicados em um ano e tais resultados se acumulam com os de anos anteriores. Por vezes, eles conversam entre si, corroborando os seus achados, mas, outras vezes, os resultados sobre um mesmo objeto de pesquisa podem demonstrar diferenças relevantes. Há, portanto, necessidade de coesão sobre um certo assunto e é nesse momento que a pesquisa bibliográfica se torna fundamental. O pesquisador deve se debruçar sobre os escritos do assunto, publicados mundialmente, e daí, começar a fazer correlações, questionar dados e compreender o contexto em que as pesquisas foram desenvolvidas. No levantamento bibliográfico, o pesquisador tem uma atividade de investigação intensa. Sua capacidade de busca por informações é acionada a cada momento e todo dado encontrado deve ser utilizado. Na pesquisa bibliográfica, o pesquisador deve retornar aos primeiros trabalhos relacionados ao tema e às pesquisas bibliográficas anteriores sobre o assunto. Então, começar a buscar o que já foi publicado e divulgado desde aquele tempo até os dias de hoje. A pesquisa bibliográfica, por ser temporal e indicar contextos sociais, também pode implicitamente demonstrar a intencionalidade do autor em sua pesquisa. EXEMPLO Um certo pesquisador encontra em uma coleção entomológica um espécime de mosquito que a princípio é desconhecido e não foi descrito. Para ter certeza, esse pesquisador deverá buscar nos artigos de referência sobre a família daquele espécime se ele já foi descrito ou não. Com isso, terá de ler artigos e publicações de diversas épocas, alguns até mesmo do século XVIII ou XIX. Ao coletar todos os dados necessários e conferir se o espécime representa o tipo de uma espécie nova, o pesquisador publicará sua descoberta citando todos os artigos que lhe deram base para essa descoberta. Isso é um tipo de levantamento e pesquisa bibliográfica. De outro modo, o pesquisador pode também criar um compilado de todas as informações já abordadas sobre um determinado assunto. Isso é de grande valia para a pesquisa científica, pois reduz o tempo de investigação que futuros pesquisadores teriam para encontrar respostas sobre o mesmo tema. PESQUISA EXPERIMENTAL Como o próprio nome diz, a pesquisa experimental leva em consideração a testagem de hipóteses a partir da experimentação. São pesquisas realizadas muito comumente na área das Ciências da Natureza e da Saúde e que usam de todos os passos do método científico. A pesquisa experimental tem algumas características típicas que precisam figurar no processo de produção científica, a saber: POSSIBILIDADE DE MANIPULAÇÃO DAS VARIÁVEIS Ao menos uma das variáveis precisa ser manipulada para a testagem. Algo que o autor da pesquisa pode modificar para esperar resultados distintos. A IMPLANTAÇÃO DE UM CONTROLE Em pesquisas experimentais, devem ser utilizados grupos controles que determinarão os padrões já esperados sem as modificações nas variáveis manipuláveis. Eles servem como parâmetro para comparação. OS DADOS DEVEM SER DISTRIBUÍDOS ALEATORIAMENTE Por mais que uma hipótese reflita a ideia de que se tem de resposta à questão norteadora, as testagens não podem ser intencionais e precisam de imparcialidade. Observe, por exemplo, as testagens realizadas em voluntários para o desenvolvimento de vacinas. Os voluntários e a maior parte da equipe de pesquisa não sabem qual voluntário vai utilizar o princípio ativo da vacina e qual utilizará o placebo. PESQUISA DE CAMPO A pesquisa de campo é definida como um método qualitativo de coleta de dados que visa observar, interagir e compreender as variáveis em um ambiente natural. Essas variáveis podem ser pessoas, fenômenos, animais, vegetais, fatores físico-químicos, entre outros. É uma pesquisa de coleta de dados e compilação a partir da observação e mensuração baseadas em algum tipo de referência. Quando observamos na TV os dados que aparecem, principalmente, em gráficos, indicando opiniões de pessoas, por exemplo, estamos vendo o resultado de uma pesquisa de campo. Pesquisa de campo sugere que o pesquisador “vá a campo”, ou seja, que ele vá buscar informações novas de fatores mutáveis. PESQUISA-AÇÃO Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, os projetos de pesquisa-ação consistem na resolução de um problema coletivo, com fins de aplicabilidade social. No delineamento dos projetos de pesquisa- ação, o pesquisador cumpre as principais etapas de uma pesquisa, desenvolve uma fase exploratória e realiza um seminário. Nesse caso, no que consiste o seminário: Evento organizado por grupos de estudos ou grupos de pesquisa que tem como função divulgar pesquisas em andamento por discussão oral. Tem porte regional, nacional e até mesmo internacional com duração de alguns dias, que costumam comportar diferentes mesas-redondas e comissões de debate. Reuniões de um determinado grupo científico, com a intenção de fomentar debates sobre um campo específico, com inúmeras mesas redondas. Reuniões com a intenção de informar sobre um tema, nas quais o palestrante é uma autoridade com amplo conhecimento sobre o objeto apresentado, podendo ser de carácter técnico ou científico. Encontro mais informal, normalmente, mais fechado a um grupo de pessoas especializadas, a fim de prestar esclarecimentos sobre um tópico ou com ciclo de palestras. ESTRUTURA DA INTRODUÇÃO DE UM PROJETO DE PESQUISA Você deve estar se questionando o motivo de tratarmos da introdução no último momento de nosso percurso. Saibaque assim é feito em qualquer descrição de projetos de pesquisa ou até mesmo em artigos científicos: pensamos sobre a introdução por último. Mas, logo o tópico que conduz a leitura de quem observa um projeto de pesquisa é o último a ser construído? Vamos analisar como se constrói uma introdução. A introdução a um artigo de pesquisa é onde são definidos o tópico e a abordagem para o leitor. É por ela que o leitor vai identificar até mesmo se o artigo ou o projeto terá validade. Portanto, uma introdução bem escrita deve chamar a atenção de quem está lendo. Então, atenção, ela precisa pontuar os seguintes passos: 1 DEMONSTRE O QUE SUA PESQUISA IRÁ TRATAR A introdução precisa captar a atenção do leitor logo de início e por isso você precisa expor sobre o que seu artigo ou projeto trata. Nessa parte, a objetividade e a clareza são fundamentais. Uma boa forma de começar uma introdução é incluir a questão norteadora, seja ela em forma de pergunta, seja ela como enredo para o seu trabalho. Esta parte não precisa ser profundamente impactante ou inovadora. Clareza, didatismo e relevância são mais importantes do que tentar cativar com apelos. O principal é orientar o leitor sobre as ideias do artigo. ABORDAR UM HISTÓRICO SOBRE O TEMA OU CITAR PESQUISAS RECENTES Neste momento, você deve utilizar dados da pesquisa bibliográfica para construir um cenário para o seu projeto. Historicizar o conteúdo demonstrará uma sequência lógica de fatos que culminará no seu trabalho. Isso vai auxiliar o leitor a entender a proposta de seu artigo com o arcabouço que você criou. 2 3 DEFINA O SEU PROBLEMA PARA O LEITOR O seu problema precisa ser descrito de forma detalhada, porque ele é um problema e porque é relevante e precisa ser resolvido. Este ponto é fundamental, pois dá consistência para o estudo que irá se seguir. Além disso, a situação-problema descrita tende a engajar o leitor em sua pesquisa. DEMONSTRE QUAL SERÁ A SUA FUNÇÃO NESTE PROJETO Ao escrever a introdução, você precisa demonstrar qual tipo de abordagem você fará sobre o problema, indicando brevemente as hipóteses levantadas e como você pretende testar tais hipóteses. 4 5 DÊ UMA VISÃO GERAL DA ESTRUTURA DO ARTIGO Para finalizar a construção de uma boa introdução, você precisa indicar quais serão os caminhos que o leitor irá percorrer ao ler seu trabalho. Esta indicação pode ser uma explicação breve das seções do projeto ou artigo, mas também pode ser uma visão geral e resumida do projeto. Agora que os passos da introdução foram abordados, você consegue entender o motivo desta seção ser construída por último? Veja que muitos dados colocados na introdução são os que compõem as outras seções de seu trabalho. Por isso, finalizar a escrita dessas seções antes da introdução indicará melhor o caminho traçado para construir essa abordagem de captação do leitor. Leia introduções em artigos diversos e tente reconhecer nelas os passos que foram descritos aqui. Treine seu olhar para esse reconhecimento e, assim, a construção desta seção ficará bem mais amigável. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UM ESTAGIÁRIO ESTÁ EM UMA LINHA DE PESQUISA EM QUE PRECISA INVESTIGAR O HISTÓRICO DE INFECÇÕES POR LEISHMANIA SP. EM HABITANTES DA AMÉRICA LATINA. SEU ORIENTADOR LHE MOSTRA ALGUMAS REVISTAS E SITES EM QUE ELE PODE FAZER O SEU PERCURSO PARA ESCREVER UM PROJETO. NESTE CASO, O ESTAGIÁRIO IRÁ FAZER UMA PESQUISA: A) Quantitativa B) Qualitativa C) Experimental D) Bibliográfica E) De campo 2. UM CANDIDATO A ESTUDANTE DE PÓS-GRADUAÇÃO ESTAVA COM DÚVIDAS NA MONTAGEM DO SEU PROJETO DE PESQUISA. A DÚVIDA ERA “COMO ESCREVER OS OBJETIVOS”. PARA QUE O PROJETO SEJA ACEITO EM UMA BANCA, ELE PRECISA SER: A) Claro, factível, didatizado e seguir uma sequência que demonstra o verbo da ação, a base para o desenvolvimento e a intencionalidade do objetivo. B) Direto e curto, não tomando muito o tempo do leitor, para que ele possa ler as outras seções do projeto. C) Prolixo, com termos científicos formais e que tenha grande abrangência, possibilitando diversos caminhos de resolução. D) Simples, didático e precisa considerar uma construção que seja abrangente, não especificando o objeto a ser estudado. E) Extenso, mas didatizado, com uma estrutura padrão em que não se demonstre a intencionalidade, para que o leitor descubra ao longo da leitura do projeto. GABARITO 1. Um estagiário está em uma linha de pesquisa em que precisa investigar o histórico de infecções por Leishmania sp. em habitantes da América Latina. Seu orientador lhe mostra algumas revistas e sites em que ele pode fazer o seu percurso para escrever um projeto. Neste caso, o estagiário irá fazer uma pesquisa: A alternativa "D " está correta. O processo de busca a partir de dados já publicados e a compactação e organização desses dados para posterior divulgação de uma síntese expressam uma pesquisa bibliográfica. 2. Um candidato a estudante de pós-graduação estava com dúvidas na montagem do seu projeto de pesquisa. A dúvida era “como escrever os objetivos”. Para que o projeto seja aceito em uma banca, ele precisa ser: A alternativa "A " está correta. O objetivo precisa demonstrar com clareza a intencionalidade do autor, abordando as bases em que o projeto será realizado. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa e a produção científica têm papel relevante para o impulsionamento e crescimento tecnológico e social de uma nação. Como vimos, no Brasil, mesmo estando entre os vinte primeiros colocados em produção científica no mundo, não contamos com muitos subsídios e investimentos em pesquisas nas diferentes áreas da ciência, o que impacta diretamente na formação de novos pesquisadores e, consequentemente, no desenvolvimento de nosso país. Aqui, analisamos o quanto os eventos científicos têm colaborado para a divulgação da ciência e o potencial que apresentam para aumentar a democratização do conhecimento. Observamos também os pontos principais de um projeto de pesquisa e as melhores maneiras de construí-lo. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. ANVISA. Missão. Consultado na internet em: 05 mai. 2021. AMIGO, I. In Brazil’s wealthiest state, scientists fear a budget plan could cripple research. Science, 2020. Consultado na internet em: 21 mar. 2021. CAPES. Research in Brazil: funding excellence: analysis prepared on behalf of capes by the web of science group. 1. ed. São Paulo, p. 1-42, 2019. EM DISCUSSÃO. Produção científica no Brasil: um salto no número de publicações. Jornal do Senado. (s.d.) Consultado na internet em: 12 mar. 2021. FONSECA, M. L. M. D. A institucionalização da pesquisa científica brasileira: os primeiros anos de atuação do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). Parcerias Estratégicas: Edição Especial, Brasília, v. 18, n. 36, p. 253-268, 2005. JÚNIOR, J. D. L. S. O desenvolvimento da política científica e tecnológica na Primeira República (1889-1930): uma análise a partir dos institutos de pesquisa paulistas e federais. Cadernos de História da Ciência, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 107-124, 2005. NATURE. The scientific events that shaped the decade. Publicado em: 2019. Consultado na internet em: 11 mar. 2021. PITTA, G. B. B; CASTRO, A. A. A pesquisa científica. Jornal Vascular Brasileiro, v. 5, n. 4, p. 243-244, 2005. Consultado na internet em: 2 mar. 2021. WEB OF SCIENCE GROUP. Research in Brazil: Funding excellence: Analysis prepared on behalf of CAPES by the Web of Science Group, 2013-2018. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos tratados neste conteúdo: Assista a palestras no aplicativo do TED Talks, onde há a divulgação de várias áreas do conhecimento! É um app muito enriquecedor. Assista no Youtube à animação Human population through time, do American Museum of Natural History, sobre o quanto a população cresceu ao longo dos anos. Consulte o aplicativo Menthor, desenvolvido pela PUC do Paraná, que ajuda a organizar as referências bibliográficas segundo as normasda ABNT. Será uma ferramenta essencial na construção do seu projeto. CONTEUDISTA Luiz Rafael Silva da Silva CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); DESCRIÇÃO A construção de modelos para divulgação científica e os avanços na área da saúde com o uso de mídias indexadas. PROPÓSITO Compreender a importância da divulgação científica para avanços em diversas realidades socioambientais a partir do impacto de artigos, notas e outras publicações dentro da ciência e, principalmente, na sociedade. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar os meios necessários à produção de um artigo científico MÓDULO 2 Descrever resumo e nota científica MÓDULO 3 Reconhecer a importância da metodologia em um trabalho científico INTRODUÇÃO Neste conteúdo, você vai conhecer o processo de escrita e confecção de meios de comunicação científica, como artigos, notas e resumos, observando seus impactos e sua importância para o desenvolvimento da ciência. Além disso, verá como analisar os meios de publicação e como alcançar comunicações de qualidade em meios de grande abrangência. Por fim, conhecerá os processos metodológicos necessários para que um trabalho científico seja elaborado e aceito para publicação. MÓDULO 1 Identificar os meios necessários à produção de um artigo científico O ARTIGO CIENTÍFICO Imagine-se descobrindo algo que pode mudar, em pequena ou larga escala, o direcionamento de uma sociedade. Uma descoberta que pode melhorar a qualidade da vida humana ou então nos alertar sobre possíveis fatores que podem impactar a humanidade no futuro. De que maneira você pode comunicar isso a ponto de ter alta credibilidade em seu achado e amplo espectro de alcance em sua divulgação? Você pode até imaginar meios para essa exposição, como um canal no YouTube, uma postagem no Instagram, podcasts ou a utilização de outras redes sociais. Mas quem vai validar sua descoberta a ponto de considerá-la real e relevante? Foto: Shutterstock.com Ter meios de comunicação com processos bem estabelecidos, mediados por profissionais qualificados, que aplicam a metodologia científica em suas avaliações, é importante para fazer valer a informação que você quer divulgar. Para isso, existem os meios de comunicação indexados, que divulgam artigos, notas e resumos, possibilitando a comunicação eficiente e relevante de seus dados. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) : ARTIGO CIENTÍFICO É PARTE DE UMA PUBLICAÇÃO COM AUTORIA DECLARADA, QUE APRESENTA E DISCUTE IDEIAS, MÉTODOS, TÉCNICAS, PROCESSOS E RESULTADOS NAS DIVERSAS ÁREAS DO CONHECIMENTO. (ABNT, 2003) Pela definição acima, observe que um artigo é uma publicação. O fato de ser publicado tem relação com a relevância por indexação. E COMO SE DÁ ESSE PROCESSO? Por uma perspectiva mais abrangente, indexar tem relação com organizar em índices, ou então em classificações. Por outro lado, há também o sentido de se registrar alguma mídia em uma biblioteca. Entretanto, para artigos científicos, indexar tem uma relação mais restrita e complexa. Revistas e publicações indexadas são mídias de grande rigor científico, com métodos de análise de artigos bem criteriosos situados em plataformas que congregam uma série de dados de outros artigos publicados. Imagem: Shutterstock.com javascript:void(0) Então, como sempre deve ser na ciência, a indexação tem compromisso com a qualidade e a precisão das informações. O fato de um artigo apresentar autoria declarada permite a promoção do autor, mas também o expõe a questionamentos. Quando alguém se declara autor de um artigo, torna-se responsável pelas informações que serão veiculadas, aumentando ainda mais a credibilidade do que se publica. A apresentação da discussão de ideias, métodos, técnicas e processos é o cerne desse documento. Ele se torna um ambiente propício para exposição, análise e debate de ideias. Na verdade, o artigo científico faz com que sua ideia tenha o potencial de alcançar todo o mundo acadêmico e, quem sabe, modificar padrões que vigoram em uma sociedade. De forma diferente, as revistas de divulgação científica apresentam linguagem simples e didática, levando ciência à comunidade leiga; são publicadas mensal ou bimestralmente e distribuídas em bancas de jornais e com acesso remoto. Há quem associe o termo ciência apenas às ciências naturais, mas todas as áreas do conhecimento são ciências. Portanto, em todas elas podem ser construídos artigos científicos. Associe sempre esses documentos à melhor forma de expressão, a partir de métodos consolidados, e com credibilidade das suas ideias. Imagem: Shutterstock.com, adaptado por Rodrigo Oliveira e Angelo Souza As oito áreas do conhecimento. ARTIGO CIENTÍFICO – BREVE HISTÓRICO Registrar ideias em um papel não é algo recente. Na verdade, quando houve o desenvolvimento do papel, já ocorreu o primeiro registro de ideias. Mas é claro que essa não é a origem de um artigo científico, que precisa de critérios para ser publicado. Assim, estabeleceremos critérios para voltar no tempo e observar qual foi o primeiro artigo a veicular nos moldes atuais. Um diário, mais precisamente um "diário dos sábios", foi a primeira revista com critério e rigor científico a ser publicada. Seu nome original é Journal des Sçavans e sua primeira edição foi publicada em 5 de janeiro de 1665, com apenas 12 páginas, mas com muita informação (SPINAK e PACKER, 2015). Essa revista continua sendo publicada até hoje com o nome Le Journal des Savants, tendo mais de 480 edições ao longo de todo esse tempo — com uma breve interrupção entre 1792 e 1816. Já imaginou quanta informação foi veiculada por ali? Imagem: Académie des inscriptions et belles-lettres/wikimedia Commons/domínio público. Imagem de um dos artigos publicados na primeira revista com registro oficial. Esse marco, fundamental para estabelecer um modo de comunicação que vigora até hoje, permitindo que as pessoas tenham acesso às ideias e novidades do campo das ciências, resultou em um número quase incontável de publicações com periodicidade diversa, que permeiam todo o campo da pesquisa científica. O QUE COMPÕE UM ARTIGO CIENTÍFICO? Para começar a pensar na escrita de um artigo científico, é preciso entender quais são os elementos que compõem esse tipo de documento. Aqui você não irá escrever um artigo científico, mas começará a ver quais são as principais necessidades para que esse texto seja então produzido. Inicialmente é necessário um padrão, uma escrita formal que seja reconhecida como um artigo científico. Mas, ao observar as revistas que publicam tais artigos, percebe-se que nem sempre os mesmos elementos constituem e compõem essa produção. Veja, por exemplo, as orientações da Revista Brasileira de Zoologia: MANUSCRITOS O texto deverá ser digitado em espaço duplo, com margens esquerda e direita de 3 cm, alinhado à esquerda e suas páginas devidamente numeradas. A página de rosto deve conter: 1) título do artigo, mencionando o(s) nome(s) da(s) categoria(s) superior(es) à(s) qual(is) o(s) animal(ais) pertence(m); 2) nome(s) do(s) autor(es) com endereço(s) completo(s), exclusivo para recebimento de correspondências, e com respectivos algarismos arábicos para remissões; 3) resumo em inglês, incluindo o título do artigo se o mesmo for em outro idioma; 4) palavras-chave em inglês, no máximo cinco, em ordem alfabética e diferentes daquelas utilizadas no título; 5) resumo e palavras-chave na mesma língua do artigo, ou em português se o artigo for em inglês, e equivalentes às do resumo em inglês. O conjunto de informações dos itens 1 a 5 não deve exceder a 3500 caracteres considerando- se espaços. Os nomes de gênero(s) e espécie(s) são os únicos do texto em itálico. A primeira citação de uma taxa no texto deve vir acompanhada do nome científico por extenso, com autor e data, e família. Citações bibliográficas devem ser feitas em caixa alta reduzida (Versalete) e da seguinte forma: Smith (1990), Smith (1990: 128), Lent & Jurberg
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