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GOVERNANÇA CORPORATIVA Giancarlo Giacomelli Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147 G721 Governança Corporativa [recurso eletrônico] / Giancarlo Giacomelli... [et al.] ; [revisão técnica: Gisele Lozada]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. Editado também como livro impresso em 2017. ISBN 978-85-9502-169-3 1. Governança. 2. Administração pública. I. Giacomelli, Giancarlo. CDU 336.773 A empresa como sistema e seu ambiente Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as características da organização que justificam seu enten- dimento como um sistema integrado. � Avaliar como a gestão por processos pode colaborar para o controle e a tomada de decisões mais assertiva. � Reconhecer os principais mecanismos de controle interno, suas con- tribuições para a gestão e a governança corporativa. Introdução Organizações são arranjos humanos complexos em busca de objetivos e resultados. Porém, nem sempre os objetivos são compartilhados ou en- tendidos de maneira similar entre todas as partes que compõem o sistema organizacional. Algumas lideranças podem ter objetivos conflitantes com os da organização e utilizar os recursos da organização em busca destes objetivos. A governança se apresenta como uma poderosa ferramenta para assegurar que os objetivos das principais partes interessadas – sócios e investidores – não sejam preteridos frente a objetivos de curto prazo. Neste texto você vai estudar a empresa como um sistema e suas inter-relações com o ambiente, identificando como os controles podem ser úteis para a dinâmica organizacional e servir como uma fonte de informação crucial para as práticas de governança. A empresa como um sistema integrado A origem dos processos A economia, no período pré-Revolução Industrial, era basicamente agrária e artesanal. A produção dos escassos bens manufaturados, como roupas e calçados, era feita quase manualmente, por um único indivíduo, ou contando com os membros da família e poucos aprendizes. Esse modelo de produção, no qual uma pessoa era responsável por todo o processo, era demasiadamente lento e improdutivo: um artesão podia levar mais de um dia na produção de um único par de sapatos. Isso tornava os produtos extremamente caros, de forma que apenas a nobreza possuía acesso à maioria dos bens manufaturados. Com o advento da Revolução Industrial, essa dinâmica de produção come- çou a mudar. Os artesãos perceberam que, se dividissem o trabalho em partes menores, poderiam delegar essas tarefas aos aprendizes, que, ao se especiali- zarem numa atividade, aprimoravam o seu fazer, conseguindo realizá-la cada vez com mais qualidade e rapidez. Assim, uma pessoa se especializava em cortar o couro, outra em pregar a sola, outra em dar o acabamento, e assim por diante. Essa especialização nas atividades trouxe à tona um grande potencial de produtividade até então oculto. De repente, um artesão que produzia 1 ou 2 sapatos por dia tinha agora um atelier produzindo 20 ou 30 sapatos, com o apoio de 3 ou 4 aprendizes. Adam Smith foi um dos primeiros autores a perceber, na década de 1750, o que ocorria na incipiente sociedade de mercado há algumas décadas: “[...] a divisão do trabalho, reduzindo a atividade de cada pessoa a alguma ope- ração simples e fazendo dela o único emprego de sua vida, necessariamente aumenta muito a destreza do operário” (SMITH, 2006). Com a publicação do clássico “A riqueza das nações”, na década de 1770, Smith contribuiu para a disseminação e o entendimento do potencial gerador de prosperidade da economia de mercado. A empresa não era mais um arranjo de um homem só; ela passou a ter especializações dentro de todas as suas atividades. O mesmo conceito de divisão do trabalho utilizado nas linhas de montagem passou a ser integrado às atividades administrativas. Henry Fayol, um dos principais autores da teoria clássica da administração, consolidou o conceito de departamentalização no final do século XIX. A teoria clássica defendia que a criação de setores especializados – financeiro, A empresa como sistema e seu ambiente58 comercial, suprimentos, produção, recursos humanos – daria mais eficiência para a organização. Este arranjo é efetivo e persiste ainda hoje na prática. Podemos fazer um paralelo entre o artesão pré-Revolução Industrial e um microempreendedor atual. Suponha que este microempreendedor trabalhe sozinho. Então, além de produzir os seus produtos, é ele o responsável por realizar os serviços bancários, comprar as matérias-primas, comprar as em- balagens, limpar a sua loja ou espaço de trabalho, embalar e despachar seus produtos – caso venda pela internet –, recolher os impostos, e mais uma série de atribuições. Como o tempo é limitado – o dia seguirá tendo 24 horas para o empreendedor –, o potencial de crescimento de seu negócio será também limitado, e chegará um ponto em que ele não conseguirá crescer mais sem a contratação de novos colaboradores. Quanto mais o seu negócio cresce, maior a necessidade de pessoas. Um bom exemplo disso é o Walmart, uma rede de varejo com atuação em diversos países do mundo. O Walmart é reconhecido por sua eficiência logística e seus preços baixos: oferece produtos dos mais diversos tipos, de alimentos a roupas e materiais de escritório, para milhões de pessoas, gerando praticidade e tornando a vida dessas pessoas mais agradável. Para isso, em 2016, o Walmart contava com 2 milhões e 100 mil colaboradores diretos, sem contar fornecedores e parceiros. É praticamente quatro vezes a população de Miami, por exemplo. Como organizar todas as pessoas em um mesmo propósito e equalizar os diferentes interesses? Foi para resolver esse desafio que as empresas começaram a se organizar como um sistema, formado por diversas partes – departamentos, pessoas e processos – que precisam atuar de forma integrada, trabalhando em prol de um objetivo comum e maior. Foram criados áreas e departamentos, para os quais foram delegadas funções, atribuídas tanto aos grupos como para cada indivíduo deles integrante. Com isso, uma grande rede de relacionamen- tos foi se formando, incluindo tanto o ambiente interno como o externo das organizações. Esta rede envolve colaboradores, gestores, fornecedores, clientes e muitos outros agentes, cada um deles possuindo interesses específicos e desempenhando um determinado papel no cenário. 59A empresa como sistema e seu ambiente Dessa forma, cada pessoa dentro da empresa passa a ter uma função que vai além do seu cargo: é fundamentalmente uma razão de estarem ali, todos eles; desde o funcionário que foi recém contratado para uma tarefa simples e manual (como um repositor de prateleiras, no exemplo de um supermercado), até o executivo chefe (CEO). Todos recebem atribuições e metas, que precisam ser previstas e monitoradas. Afinal, essas tarefas representam interesses e ob- jetivos que necessitam estar alinhados, garantindo a prevalência do interesse da organização ao invés dos objetivos individuais das pessoas ou departamentos. Como resultado, o avanço nas práticas de departamentalização e controle administrativos levaram ao surgimento do gerenciamento de processos. Gerenciamento de processos Inicialmente é importante estabelecer a diferença entre gestão de processos e gestão por processos, conforme as definições de Ferreira (2013): Gestão de processos: “[...] conjunto de ações sistemáticas, baseadas em mé- todos, técnicas e ferramentas de análise, modelação e controle, que permitem manter estável a rotina e implantar melhorias na qualidade dos processos. [...] esforço de estabelecer sistemas de trabalho submetidos a descrições, mensurações e controles das atividades em função do que foi planejado.” (FERREIRA, 2013, p. 18, 21). Ouseja, conforme o autor, a gestão de pro- cessos consiste em monitorar os processos para manter a conformidade e os resultados pretendidos. Gestão por processos: é “[...] gerir a organização considerando a interação entre os processos e entre esses e o ambiente.” (FERREIRA, 2013, p. 22). Para tanto, as organizações passaram a ser orientadas (ou estruturadas) por pro- cessos, sendo as estruturas organizacionais pensadas, desenhadas e aplicadas com base nos processos estratégicos das empresas. Ainda conforme Ferreira (2013, p. 20), “a lógica é a dinâmica da organização em prol de resultados efetivos e não mais a visão compartimentada de uma abordagem funcional.”, na qual as organizações constituem unidades funcionais verticalizadas, isoladas e organizadas de forma hierárquica, operando com pouquíssima interação. Apesar das diferenças entre os conceitos de gestão de processos e ges- tão por processos, o autor evidencia a existência de um forte vínculo entre os mesmos, uma vez que “a organização orientada por processos precisa, necessariamente, de processos bem monitorados, caso contrário inviabiliza a possibilidade de tê-los funcionando eficientemente em rede ou de forma sistêmica” (FERREIRA, 2013, p. 22). A empresa como sistema e seu ambiente60 Os processos são os componentes da operação de uma empresa. A pers- pectiva de processos é uma forma de olhar a organização de maneira sistêmica e de enxergar o negócio da empresa como um todo, incluindo aí processos administrativos e de gestão, e traduzir este todo em etapas que possam ser verificáveis, para avaliação e melhoria. Dessa forma, a empresa é vista como um sistema. Segundo Slack et al. (2013), “[...] uma perspectiva de processos significa entender as empresas em todos os seus processos individuais. É apenas uma maneira de modelar organizações, mas que é particularmente útil [...]”. Se uma empresa adota uma perspectiva de processo, ela entende que todas as partes do negócio podem ser vistas como processos e que todos os processos podem ser gerenciados usando os princípios de gerenciamento de operações. É importante entender que a perspectiva de processo não é a única forma de descrever os negócios ou qualquer tipo de organização. Uma organização poderia ser representada como uma estrutura organizacional convencional, que mostra as relações equilibradas entre vários departamentos ou grupos de recursos. Mas até mesmo uma pequena experiência em qualquer organização mostra que raramente a estrutura organizacional representa completamente a organização. De forma alternativa, uma organização poderia ser descrita pelo modo como toma decisões – como equilibra critérios conflitantes, compara riscos, decide as ações e aprende com seus erros. Também é possível concentrar-se em sua cultura – os valores compartilhados, a ideologia, o padrão de pensamento e os rituais diários – ou em suas relações de poder – como é governada, como busca consensos (ou pelo menos reconciliação), e assim por diante. Mesmo com tantas características e possibilidades de análise, a organi- zação corresponde a um conjunto de processos interconectados que devem contribuir para o atingimento das metas estratégicas da empresa. Assim, a perspectiva de processos analisa as empresas como um conjunto de processos relacionados. Muitos destes processos estarão dentro da função de operações e contribuirão diretamente para a produção de seus produtos e serviços. Outros estarão nas funções de suporte ao negócio, mas ainda será necessário gerenciá- los, usando princípios semelhantes aos que pertencem à função de operações. Assim, a visão por processos interpreta a empresa como um sistema in- tegrado, no qual todas as atividades estão inter-relacionadas. Quando essas atividades são cumpridas, a empresa interage de forma orgânica com o seu ambiente, seja ele interno, compreendendo, por exemplo, as relações entre áreas e departamentos, ou externo, abrangendo clientes, fornecedores, parceiros e demais partes interessadas. 61A empresa como sistema e seu ambiente Dentre as diferentes metodologias empregadas no gerenciamento de processos, destaca-se o BPM – Business Process Management, abordagem que corresponde a uma das principais referências no gerenciamento de projetos. Leia o livro “Guia para o gerenciamento de processos de negócio corpo comum de conhecimento ABPMP BPM CBOK v. 3.0” (ASSOCIATION OF BUSINESS PROCESS MANAGEMENT PROFESSIONALS, 2013). A gestão por processos como facilitadora do controle e da tomada de decisão Este formato empresarial com muitos funcionários e processos, que predominou por décadas, exigia grandes estruturas administrativas de apoio, promovendo movimentos de departamentalização das organizações. Foram criadas as áreas administrativas para tratar de todos os processos burocráticos e gerenciais da organização, a área financeira para a gestão dos custos, os gerentes de operação para manter a produção de acordo com a demanda, o departamento comercial para realizar as vendas, e assim por diante. Contudo, esta departamentalização, em muitos casos, tornou-se excessiva, inchando a estrutura e dificultando o controle e a operação do negócio. Com o passar do tempo e o amadurecimento das práticas de gestão, essas estruturas começaram a passar por uma nova transformação, tornando-se menores, ou mais eficientes. Ou seja, a mesma estrutura adquiriu a capacidade de gerenciar uma operação muito maior. Mais recentemente, com o avanço nas tecnologias digitais e a consolidação de relações políticas de comércio internacional mais amigáveis, transparentes e explícitas, surgiu também uma tendência de expansão dos negócios, gerando novos desafios de governança. Isso promoveu o distanciamento dos sócios ou acionistas da operação do negócio, que passou a ser gerido por profissionais contratados para esse fim. Como reflexo, surgiu a necessidade da criação de instrumentos que lhes permitissem determinado grau de compreensão e interferência no negócio. A empresa como sistema e seu ambiente62 Como constatou Avalos (2009), o distanciamento gradual ocorrido entre a propriedade das empresas e sua gestão, cria questões adicionais a serem consideradas, uma vez que os pro- prietários perdem parcialmente o acesso às informações que teriam se par- ticipassem diretamente desta gestão. A estrutura organizacional deve ser adequada constantemente a estes câmbios que ocorrem, de tal forma a suprir os usuários, das informações que eles precisam, de forma fiel e imediata, tal que permitam em tempo a tomada de decisões de investimento adequadas. A partir do momento em que as empresas passam do estágio de controle apenas no âmbito contábil (“quando a estrutura organizacional da empresa se caracterizava pela coincidência entre propriedade e administração, era apenas necessária a implementação de sistema de controle interno no âmbito contábil com o objetivo de proteger os ativos de perdas derivadas de erros intencionados” AICPA, 1973), para operações de maior complexidade, foi necessário a introdução de novas técnicas de direção e implementação de sistemas de controle interno com o objetivo principal de proteger os ativos contra perdas derivadas de erros, intencionais ou não, no processamento das transações e a utilização dos ativos correspondentes. Neste ponto, surge a necessidade de implementar um sistema de controle interno que, além do âmbito financeiro-contábil, abrangesse também a gestão e a direção de tal forma que permita “proporcionar uma segurança razoável, na obtenção dos objetivos específicos da entidade” (AICPA, 1988). Os novos arranjos organizacionais trouxeram novos desafios de gestão, que levaram as organizações a buscar instrumentos que permitissem o crescimento do negócio sem a perda do seu controle. Assim, Avalos (2009) conclui que [...] os problemas de controle interno encontram-se, na empresa moderna, em todos os seus segmentos: vendas, fabricação, desenvolvimento, compras, tesourariae recursos humanos, etc. O exercício de um adequado controle sobre cada uma dessas áreas assume fundamental importância para que se atinjam os resultados mais favoráveis com menores desperdícios. É impossível conceber uma empresa que não disponha de controles que possam garantir a continuidade do fluxo de suas operações e informações proposto. 63A empresa como sistema e seu ambiente É neste ponto que se encontram a gestão por processos e a melhoria organi- zacional, já que a simples existência de controles internos não é uma garantia do bom desempenho da empresa. Os ganhos apenas serão alcançados quando o monitoramento dos indicadores de processos for traduzido em informações úteis para a tomada de decisão. Por meio desses indicadores, os gestores podem avaliar se determinada atividade – e até mesmo determinado setor da empresa – tornou-se obsoleta, ou pode ser otimizada, e identificar quais as contribuições que cada departamento dá aos objetivos centrais do negócio. Além da drástica redução de desperdícios, a gestão por processos, combi- nada com a utilização de indicadores claros, torna a tomada de decisões mais assertiva, reduzindo o grau de subjetividade presente nas principais discussões do negócio. Com isso, a gestão por processos, apoiada pelos controles internos, exerce um papel fundamental na preservação dos objetivos estratégicos da organização. Por meio de processos claramente definidos, é possível implantar indicadores de desempenho; estes indicadores serão uma das principais fontes de informação para os diretores e o conselho de administração. Com isso, estabelece-se uma relação de retroalimentação entre a estratégia e a operação do negócio. Dessa forma, a gestão por processos e os controles internos colaboram para o alinhamento de objetivos e a preservação dos interesses da organiza- ção, fazendo com que as decisões sejam tomadas pensando na empresa em primeiro lugar, permitindo seu melhor desempenho. A gestão por processos lida com o eventual distanciamento entre os objetivos individuais e globais, de certa forma natural nas organizações departamentalizadas, e também com o distanciamento entre propriedade e gestão, de onde deriva o potencial risco de concorrência de interesses. A implantação sistemática desse modelo de gestão e tomada de decisões acaba consolidando uma cultura de assertividade que permeia toda a or- ganização, desde o nível estratégico até o operacional. A estrutura passa a demandar informações sólidas para a tomada de decisões embasadas, o que torna a ação da governança mais necessária, consistente e coerente com os objetivos do negócio. A empresa como sistema e seu ambiente64 Conflito de agentes Fatores como a crescente internacionalização das atividades empresariais têm pro- movido uma maior dispersão da propriedade e, portanto, uma nítida separação desta com a direção da empresa. Essa contraposição de interesses cria o chamado “conflito de agentes”, definido pela disparidade de acesso às informações do negócio existente entre os proprietários, dispersos e, por isso, débeis, e os administradores, possuidores de total acesso a informações privilegiadas. Essa situação transforma o proprietário na parte fraca e o administrador na parte forte do negócio. Enquanto os administradores estão mais preocupados em maximizar os resultados das avaliações de gestão dos períodos correspondentes à sua atuação, os investidores acionistas estão preocupados com o longo prazo e desejam que as condições de benefícios sejam mantidas ao longo do tempo (AVALOS, 2009). Os principais mecanismos de controle interno O manual de boas práticas de governança corporativa do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – aborda a importância dos controles internos no seu capítulo “Gerenciamento de riscos, controles internos e con- formidade (compliance)”. De acordo com o Intituto Brasileiro de Governança Corporativa (2015): Os agentes de governança têm responsabilidade em assegurar que toda a or- ganização esteja em conformidade com os seus princípios e valores, refletidos em políticas, procedimentos e normas internas, e com as leis e os dispositivos regulatórios a que esteja submetida. A efetividade desse processo constitui o sistema de conformidade (compliance) da organização. 65A empresa como sistema e seu ambiente O que significa compliance? O termo “compliance” tem origem no verbo em inglês to comply, que significa agir de acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou um pedido, ou seja, estar em compliance é estar em conformidade com leis e regulamentos externos e internos. Portanto, manter a empresa em conformidade significa atender às normas dos órgãos reguladores, de acordo com as atividades desenvolvidas pela sua empresa, bem como obedecer aos regulamentos internos, principalmente aqueles inerentes ao seu controle interno. Saiba mais sobre compliance lendo o artigo “O que é compliance e como o profissional da área deve atuar?” (LIRA, 2013). Para estabelecer esse controle interno, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2015) propõe algumas práticas, entre elas: � Ações relacionadas a gerenciamento de riscos, controles internos e sistema de conformidade (compliance) devem estar fundamentadas no uso de critérios éticos refletidos no código de conduta da organização. � O cumprimento de leis, regulamentos e normas externas e internas deve ser garantido por um processo de acompanhamento da conformidade (compliance) de todas as atividades da organização. � Além da identificação de riscos, a diretoria deve ser capaz de aferir a probabilidade de sua ocorrência e a exposição financeira consolidada a esses riscos, incluindo os aspectos intangíveis, implementando medidas para prevenção ou mitigação dos principais riscos a que a organização está sujeita. � O comitê de auditoria, por meio do plano de trabalho da auditoria interna, deve verificar e confirmar a aderência pela diretoria à política de riscos e conformidade (compliance) aprovada pelo conselho. � O sistema de controles internos não deve focar-se exclusivamente em monitorar fatos passados, mas também contemplar visão prospectiva na antecipação de riscos. A diretoria deve assegurar-se de que o sistema de controles internos estimule os órgãos da organização a adotar atitudes preventivas, prospectivas e proativas na minimização e antecipação de riscos. A empresa como sistema e seu ambiente66 As diretrizes do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2015) estão alinhadas com um movimento que o mundo corporativo vivenciou na segunda metade do século XX, com a disseminação das práticas de gestão pela qualidade. Certificações como a ISO (International Organization for Standardization), que previam a implementação de práticas padronizadas de gestão e processos, se popularizaram, fazendo com que as empresas se desta- cassem pelas suas rotinas de controle, contribuindo de maneira significativa para o amadurecimento da gestão de governança que começava a se consolidar como modelo de gestão. Para conhecer mais sobre as boas práticas de governança, você pode acessar a íntegra do “Código de melhores práticas de governança corporativa” (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2015). Isso facilitou a mudança na concepção da finalidade e aplicação dos con- troles internos. Conforme Avalos (2009), os novos modelos de controle interno desenvolvidos definem uma nova corrente de pensamento que amplia os conceitos sobre as organizações, incluindo cada vez mais uma maior participação de diretores, gerentes e pessoal em geral. Esses modelos foram desenvolvidos para servirem de suporte para o êxito da organização, desde que devidamente aplicados pelo pessoal envolvido. Por isso, o pessoal deve conhecê-los cabalmente e entendê-los perfeitamente, o que implica a correta preparação de diretores, gerentes chefes e o restante do pessoal, assim como os auditores internos e externos. Outro pontoimportante deriva da crescente internacionalização dos negócios, da qual surgiu a necessidade de padronização de controles por meio de mecanismos e regulamentações internacionais que permitissem orientar a implementação das práticas de governança em diferentes organizações. As empresas passaram a buscar recomendações unificadas, permitindo que seus controles estivessem adequados aos padrões internacionais de auditoria, atendendo às demandas do cenário globalizado. 67A empresa como sistema e seu ambiente Neste contexto, destacam-se as recomendações oferecidas pela COSO (Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission), organização privada criada nos EUA em 1985 para prevenir e evitar fraudes nos procedimentos e processos internos das empresas. Suas recomendações dizem respeito aos controles internos, bem como seu cumprimento e obser- vância, e são amplamente praticadas e tidas como referência no Brasil e na maioria dos países do mundo. Essa organização emitiu o relatório COSO (do inglês COSO report), um parecer norteador das práticas de controle, com as principais finalidades de estabelecer uma definição comum de controle interno que responda às necessidades das diferentes partes interessadas e de oferecer um modelo básico para que as empresas possam avaliar seus sistemas de controles internos independentemente de seu tamanho ou segmento. Controle interno segundo o relatório COSO Conforme consta no relatório COSO, o controle interno é um processo que envolve um conjunto de ações estruturadas e coordenadas dirigidas para a obtenção de um fim. Ou seja, o controle nunca é um fim em si mesmo. O controle interno, portanto, deve estar integrado a todas as operações da empresa, sendo inadequado defini-lo como um adendo a tais operações. Esta é a principal característica desse modelo, bem como a diferença fundamental da antiga perspectiva, que via o controle interno como uma carga burocrá- tica inevitável imposta pelos organismos reguladores ou por burocratas com excesso de zelo. Além disso, o controle interno é efetuado por pessoas, e não pelos ma- nuais de procedimento. As pessoas em cada nível da organização detêm a responsabilidade de realizar o controle interno. O grau de segurança dado pelos sistemas de controle interno não pode ser total, mas relativo, tendo em vista as limitações inerentes tanto às pessoas que os implementam quanto ao próprio sistema implementado. O controle interno é composto de cinco elementos interligados entre si, que são decorrentes do estilo gerencial e estão, por isso, integrados no processo de direção. São eles: A empresa como sistema e seu ambiente68 1. entorno do controle; 2. avaliação de riscos; 3. atividades de controle; 4. informação e comunicação; 5. supervisão. Pensando na relação da empresa com seu ambiente, surge a necessidade de dar especial atenção ao elemento do entorno do controle. Por entorno, ou ambiente do controle, podemos entender o conjunto de atividades, circuns- tâncias e condutas que demarcam as ações de uma entidade do ponto de vista do controle interno. O ambiente do controle é uma consequência das atitudes assumidas pela direção e pela gerência, que são refletidas no restante dos empregados. Ele demonstra a importância do controle interno e sua incidência sobre as atividades e seus resultados. Os principais elementos que constituem o ambiente do controle são: � a integridade e os valores éticos; � a competência profissional; � a atmosfera de confiança mútua; � a filosofia e o estilo da direção; � a estrutura, o plano organizacional, os regulamentos e os manuais de procedimentos; � a delegação de autoridade e designação de recursos humanos; � o conselho de administração, o comitê de auditoria, etc. Todos estes fatores, e mais alguns, dependendo do contexto e segmento da empresa, irão influenciar os processos de controles internos e os resultados do negócio. Os elementos constituintes dos controles internos estão diretamente ligados aos requisitos de governança, que permitem a criação da referida atmosfera de confiança, apoiada pelas práticas de transparência e compliance exigidas pelos modelos de governança. O mesmo vale para a existência dos conselhos e das estruturas organi- zacionais. Sem a existência de controles das atividades administrativas e operacionais, abre-se uma lacuna de gestão que inviabiliza a implantação da governança. 69A empresa como sistema e seu ambiente 1. A Revolução Industrial foi um marco nos arranjos de produção, alterando drasticamente a forma como os bens eram produzidos. Sobre este período, é correto afirmar que: a) foi marcado pela falta de especialização nas atividades – cada trabalhador produzia todas as etapas de um produto, do início ao fim. b) a industrialização provocou um aumento nos preços dos bens que eram ofertados à população. c) na prática, houve pouca alteração nas rotinas de produção, sendo a principal mudança a inserção de algumas máquinas que substituíam o trabalho manual. d) as fábricas começaram a ser vistas como um sistema, em que cada funcionário ficava responsável por uma parte do processo, o que tornou a produção mais rápida e, consequentemente, mais barata. e) um traço característico foi a redução no número de vagas de emprego e tamanho das empresas. 2. Existem ligeiras diferenças nas abordagens de “gestão de processos” e “gestão por processos”. Grosso modo, poderíamos resumir que a gestão de processos tem um foco nas tarefas e atividades executadas na organização, e a gestão por processos tem uma visão mais sistêmica, que não olha só para a atividade, mas adapta as estruturas organizacionais para melhor atender estes processos. No entanto, ambas têm vínculos, como: a) a organização por processos elimina a necessidade de monitoramento das atividades organizacionais. b) a gestão por processos exerce impacto limitado às atividades operacionais do negócio; assim, as atividades estratégicas não fazem parte da gestão por processos. c) quando falamos de gestão de processos, devemos ter claro que se trata dos processos operacionais de fabricação. Os demais processos, como as atividades administrativas e financeiras, não podem ser tratados da mesma forma. d) a organização orientada por processos precisa, necessariamente, de processos bem monitorados, caso contrário inviabiliza a possibilidade de tê-los funcionando eficientemente de forma sistêmica. e) a gestão por processos garante uma visão sistêmica, porém não promove impactos sobre custos ou lucratividade da organização. 3. A evolução do mercado mundial, possível por uma série de fatores, como ambientes políticos estáveis, avanço nas tecnologias de informação e digitalização dos processos, permite que as empresas se tornem sistemas A empresa como sistema e seu ambiente70 mais complexos, viabilizando um distanciamento gradual entre a propriedade das empresas e sua gestão. Isso permite que um proprietário chinês tenha uma empresa em São Paulo na qual só trabalhem brasileiros, por exemplo. Sobre os desafios de governança que esse modelo apresenta, qual das alternativas abaixo está correta? a) Devido à maior complexidade dos negócios, os controles internos integrantes das práticas de governança são capazes de promover a proteção dos ativos da organização apenas contra perdas derivadas de ações intencionais. b) A contraposição de interesses entre as partes é conhecida como conflito de agentes e se caracteriza pelas diferentes necessidades existentes entre a empresa e os clientes. c) Um dos benefícios centrais das práticas de governança é equalizar os interesses de administradores e direção ou investidores acionistas. d) As práticas de governança se concentram principalmente nas questões contábeis do negócio. e) Com o aumento no tamanho das organizações e a dispersão da propriedade, surgiu a necessidade de controle interno além do âmbito financeiro-contábil, passando a incluir a gestão do negócio. Com isso, os controles internos substituíram de maneira satisfatória as práticas de governança. 4. O IBGC, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, é uma das mais atuantes entidades promotoras da governança no país. No seu manual de boas práticas, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2015) afirma: “Os agentes de governança têm responsabilidade em assegurar que toda a organização esteja em conformidade com os seus princípios e valores, refletidos em políticas, procedimentos e normas internas, e com as leis e os dispositivos regulatórios a que esteja submetida.” Como é chamado o sistema constituído a partir da efetividade desse processo? a) Plano de auditorias externas. b) Rol de atribuições do conselho fiscal. c) Sistema de conformidade (compliance) da organização. d) Rol de atribuições do conselho de administração. e) Relação de direitos dos acionistas minoritários. 5. O relatório COSO consiste em um parecer norteador das práticas de controle interno, utilizado como modelo de referência por organizações de diversos países com a intenção de prevenir e evitar fraudes nos procedimentos e processos internos das empresas. Partindo de suas recomendações, é verdadeiro afirmar que: a) o controle interno é considerado um fim em si mesmo. b) o controle interno é visto como uma carga burocrática inevitável imposta pelos organismos reguladores. c) a responsabilidade pelos 71A empresa como sistema e seu ambiente controles é atribuída aos manuais de procedimentos que orientam os controles internos. d) o grau de segurança viabilizado pelo sistema de controle é total e absoluto. e) o controle interno é composto por cinco elementos interligados, entre os quais está o entorno (ou ambiente) do controle. ASSOCIATION OF BUSINESS PROCESS MANAGEMENT PROFESSIONALS. Guia para o gerenciamento de processos de negócio corpo comum de conhecimento ABPMP BPM CBOK v. 3.0. [S.l.]: ABPMP, 2013. Disponível em: <http://c.ymcdn.com/sites/www.abpmp. org/resource/resmgr/Docs/ABPMP_CBOK_Guide__Portuguese.pdf>. Acesso em: 16 out. 2017. AVALOS, J. M. A. Auditoria e gestão de riscos. São Paulo: Saraiva, 2009. FERREIRA, A. R. Gestão de processos: módulo 3. Brasília: ENAP / DDG, 2013. Apostila do Programa de Desenvolvimento de Gerentes Operacionais – DGO. INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Código de melhores práticas de governança corporativa. 5. ed. [S.l.]: IBCG, 2015. Disponível em: <http://www.ibgc.org. br/index.php/publicacoes/codigo-das-melhores-praticas>. Acesso em: 16 out. 2017. LIRA, M. P. O que é compliance e como o profissional da área deve atuar? JusBrasil, 2013. Disponível em: <https://michaellira.jusbrasil.com.br/artigos/112396364/o-que- -e-compliance-e-como-o-profissional-da-area-deve-atuar>. Acesso em: 16 out. 2017. SLACK, N. et al. Gerenciamento de operações e processos: princípios e práticas de impacto estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2013. SMITH, A. A riqueza das nações: das causas do aprimoramento das forças produtivas do trabalho e a ordem segundo a qual sua produção é naturalmente distribuída entre as diversas categorias do povo. Curitiba: Juruá, 2006. A empresa como sistema e seu ambiente72 http://c.ymcdn.com/sites/www.abpmp. http://www.ibgc.org/ https://michaellira.jusbrasil.com.br/artigos/112396364/o-que- Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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