Buscar

10-anos-da-lei-nº-11 638-07 pdf

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

5REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE
RBC n.º 228
Na Contabilidade brasileira, há o antes e o depois da Lei n.º 11.638. Publicada no Diário Oficial 
da União, no dia 28 de dezembro de 2007, para vigência poucos dias depois, a Lei causou 
impacto de porte histórico ao abrir as fronteiras da contabilidade nacional para a adoção 
das normas internacionais – International Financial Reporting Standards (IFRS). Ao encerrar 
a primeira década de vigência, há um longo aprendizado e resultados para se comemorar.
Por Maristela Girotto
Nem tudo foi fácil no início, 
mas as normas IFRS começaram a 
ser plenamente adotadas no Bra-
sil nas demonstrações contábeis 
individuais e consolidadas, divul-
gadas a partir do exercício social 
encerrado em 31 de dezembro 
de 2010. A informação contábil 
mudou para se ajustar à lingua-
gem dos relatórios das empresas 
que operam globalmente e, con-
cordam todos aqueles a quem se 
pergunta, interpretar os relatórios 
das companhias brasileiras deixou 
de ser um mistério.
Para saber se foram atingidas 
todas as expectativas que existiam 
naquele apagar das luzes de 2007, 
quando a Lei foi publicada, a RBC 
ouviu algumas das maiores auto-
ridades acadêmicas da área contá-
bil e profissionais com grande pro-
priedade, em alguns segmentos do 
mercado, para falar do assunto.
A seguir, os professores da Uni-
versidade de São Paulo (USP) Nelson 
Carvalho e Eliseu Martins; o supe-
rintendente de Normas Contábeis e 
de Auditoria da Comissão de Valo-
res Mobiliários (CVM), José Carlos 
Bezerra; o presidente da Associação 
Brasileira das Companhias Abertas 
(Abrasca) no período de 2007 a 
2016, Antonio Duarte Carvalho de 
Castro; e o contador e empresário 
Manuel Domingues e Pinho fazem 
um balanço, com o registro dos fa-
tos, desses dez anos da convergên-
cia trazida pela Lei n.º 11.638. 
REpoRtagEm
Contabilidade brasileira comemora 
os 10 anos da Lei n.º 11.638
6 Contabilidade brasileira comemora os 10 anos da Lei nº 11.638
RBC n.º 228
Professor da Faculdade de Eco-
nomia, Administração e Contabili-
dade da Universidade de São Paulo 
(FEA/USP), vice-coordenador de Re-
lações Internacionais do Comitê de 
Pronunciamentos Contábeis (CPC) 
e presidente do Conselho de Ad-
ministração da Petrobras, Nelson 
Carvalho acredita que os resulta-
dos trazidos pela Lei n.º 11.638 são 
muito bons. Para ele, instalou-se 
“uma nova perspectiva na conta-
bilidade societária brasileira, con-
firmando a previsão inicial de que 
as demonstrações contábeis passa-
riam – e de fato passaram – a ser 
vistas com um olhar mais prospec-
tivo, de visão de futuro, e deixan-
do para trás o olhar pretérito que 
predominava antes da Lei”.
Carvalho aponta também como 
resultado positivo a capacitação pro-
fissional. “O treinamento de conta-
dores, no Brasil, se intensificou enor-
memente, para enfrentar os novos 
conceitos trazidos pela Lei n.º 11.638, 
como, por exemplo, a prevalência 
da essência sobre a forma e a dimi-
nuição do método de precificação 
de transações pelo Custo Histórico, 
até então prevalecente, abrangen-
do agora outras métricas, particular-
mente, a do Valor Justo”, explica. 
O professor comemora o fato de 
a educação contábil estar mudando 
e passando a abordar, nos currícu-
los escolares, os conceitos das nor-
mas internacionais trazidas ao or-
denamento contábil nacional pelos 
Pronunciamentos do Comitê de Pro-
nunciamentos Contábeis, que são 
transformados em mandatórios pelo 
Conselho Federal de Contabilidade.
“Também a interação e o diá-
logo com profissionais de outros 
ramos do conhecimento se apro-
fundaram. Por exemplo, com os 
operadores do Direito, ficou mais 
exigente o debate sobre avaliações 
de riscos de perda Provável, Possí-
vel ou Remota nas contingências 
nas quais a empresa é ré; com os 
profissionais de finanças, a intera-
ção se dá por uma maior necessi-
dade de entendimento, por parte 
dos contadores, de mecanismos e 
métodos de avaliação de ativos e 
negócios (valuation) e as premissas 
subjacentes a tal processo. Já com 
os profissionais de engenharia, o di-
álogo se intensifica quando o con-
tador é chamado a adotar uma de-
preciação dos ativos imobilizados 
mais consentânea com a vida útil 
esperada desses ativos (“deprecia-
ção econômica”), ao invés do en-
gessamento pré-existente de taxas 
de depreciação apenas admitidas 
como dedutíveis pela legislação tri-
butária”, explica Carvalho.
Na opinião do professor, são mui-
tos e bastante satisfatórios os passos 
dados rumo a uma Contabilidade me-
lhor, mais informativa e, compreensi-
velmente, mais difícil de se praticar.
Demonstrações com visão de futuro
Foto: Divulgação
7REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE
RBC n.º 228
Expectativas se traduziram em 
resultados efetivos – ou quase todas
Outra autoridade obrigatória de 
ouvir quando se escreve sobre con-
tabilidade, o professor Eliseu Mar-
tins acredita que, das expectativas 
que havia quando a Lei foi edita-
da, “quase tudo se traduziu em re-
sultado efetivo, pelo menos para as 
grandes e médias empresas e a par-
te mais inteligente das pequenas”.
Professor da FEA/USP, ex-diretor 
da CVM e do Banco Central, Martins 
elenca os dois grandes objetivos da 
Lei n.º 11.638, com o complemento 
da Lei n.º 11.941/2009: a) produzir 
a neutralidade tributária com relação 
às novas normas contábeis, de forma 
que, quando estas sejam introduzidas 
ou modificadas, não ocorra qualquer 
incremento ou redução dos tributos 
federais; e b) modificar a Lei das S/A 
[6.404/1976], que tinha dispositivos 
que impediam a adoção das normas 
internacionais de contabilidade. 
“Adicionalmente, obrigou-se a 
CVM a seguir essas normas inter-
nacionais e, com a total e louvá-
vel adesão do CFC, isso foi esten-
dido às demais sociedades – com a 
exceção das microempresas e em-
presas de pequeno porte, o que é 
muito justo”, analisa o professor. 
Quanto à neutralidade tributária, 
outra parte fundamental do proces-
so, Martins afirma que a Receita Fe-
deral vem cumprindo totalmente a 
disposição legal e “é de se louvar 
e cumprimentar todo o esforço no 
sentido de manter essa filosofia”. 
Com isso, na avaliação do pro-
fessor, conseguiu-se atingir o fun-
damental, ou seja, a Contabilida-
de passou a ser um instrumento 
de gestão mais eficiente e uma co-
municação mais útil com o credor 
e com o investidor. “Agora, a Con-
tabilidade tem podido cumprir seu 
mais nobre objetivo”, acrescenta. 
Mas ele concorda que nem 
tudo foi exatamente simples nes-
ses dez anos, e a adoção das nor-
mas internacionais à contabilidade 
individual das empresas promoveu 
a necessidade de uma série de re-
gistros e controles para permitir a 
neutralidade tributária. “Por outro 
lado, não temos o trabalho de duas 
contabilidades, como outros países 
têm, sendo uma para os balanços 
individuais e outra para os consoli-
dados, ou mesmo para os balanços 
individuais quando exigidas as no-
vas normas”, argumenta ele, suge-
rindo: “O que se poderia ter, talvez, 
é uma sistematização mais simplifi-
cada para essa conciliação entre fis-
co e contabilidade”. Porém, o pro-
fessor recorda que foi “certo uso 
inadequado de outras formas que 
obrigou a Receita a utilizar a meto-
dologia que vem sendo utilizada”. 
Nessa questão da neutralidade 
tributária, no entanto, ele acredita 
que é possível se avançar para um 
meio termo com custos bem meno-
res para as empresas. “Muitos dos 
ajustes exigidos são, para mim, des-
necessários, como, por exemplo, o 
caso do ajuste a valor presente”, diz 
Martins, citando ainda que a meto-
dologia também poderia ser mais 
simplificada. “Mas é a experiência 
que vai se acumulando que vai mos-
trando os caminhos”, pondera.
Outro aspecto importante, se-
gundo o professor, é que “essa sis-
temática vem criando um sistema 
de controle e uma trilha de audito-
ria que tem sido utilizada por mui-
tas empresas para a melhoria da 
sua gestão gerencial”.
Foto: FACPC/Divulgação
8 Contabilidade brasileira comemora os 10 anos da Lei nº 11.638
RBC n.º 228
Mas quando questionadoso-
bre se, hoje, é realidade a separa-
ção entre contabilidade societária 
e tributária, servindo a Contabilida-
de como instrumento de decisão e 
controle e não mais apenas como 
um braço do fisco dentro da em-
presa, Martins não é muito otimis-
ta. “Eu diria que isso é verdade, mas 
para aquelas empresas e aqueles 
profissionais que realmente querem 
isso. Infelizmente, há muita gente 
ainda que não se aproveita dessa 
enorme oportunidade de dignificar 
o papel da Contabilidade”, analisa.
Para o professor, isso ocorre, às 
vezes, pelo “infeliz mundo da infor-
malidade” que permanece em al-
guns setores – aparentemente de-
crescente, mas ainda forte. “Como 
os dados contábeis, nesse caso, nada 
significam para o gestor, ele não in-
veste na sua utilização gerencial”, 
lamenta. Para Martins, isso ocorre, 
muitas vezes, porque o profissional 
da contabilidade não se aplica em 
ensinar ao empresário o quanto ele 
poderia ter a mais de informação – e 
informação de qualidade. 
“Pelo acúmulo de utilização, no 
passado, do uso apenas fiscal, fica di-
fícil mudar de postura, mas isso vem 
mudando, mesmo que lentamente”, 
afirma o professor, prevendo espe-
rançoso: “Com as novas gerações re-
cebendo a devida formação acadê-
mica, deveremos ter, no futuro, uma 
grande melhoria desse quadro”. 
As oportunidades estão aber-
tas, por outro lado, na opinião de 
Martins, aos profissionais que re-
almente pensam à frente e que-
rem ser úteis para o incremento 
da produção da riqueza nacio-
nal, se interessam por isso e en-
sinam seus usuários sobre o po-
tencial informativo. “É totalmente 
visível que essa separação só tem 
aumentado a importância do tra-
balho da Contabilidade e do seu 
profissional”, diz. E, utilizando um 
bordão que ficou famoso em anos 
recentes no Brasil, o professor afir-
ma que “jamais na história deste 
país se viu tanto esse profissional 
ser requisitado, consultado e ser 
chamado a participar mais forte-
mente da gestão, a conhecer me-
lhor a empresa e a contribuir com 
seu genuíno potencial”.
pontos fortes X pontos fracos
Em entrevista concedida à RBC (publicada na edição n.º 204/2013, acesse aqui.), Eliseu Mar-
tins listou alguns pontos fortes e fracos do processo de convergência ao padrão IFRS: “os pon-
tos fortes estão por conta da total implementação pelas companhias abertas e pela vasta maio-
ria das sociedades de grande porte. Porém, a aplicação às pequenas e médias empresas ainda 
carece de uma boa melhoria. Um ponto forte é uma grande gama representada pela nata da 
profissão ter sido capaz de se adaptar bastante rapidamente; mas ponto fraco é, ainda, a exis-
tência de um perfil muito fiscalista por parte de certa outra faixa. Outro ponto forte é o apoio 
do CFC a todo o processo, inclusive com a adoção do Pronunciamento para Pequenas e Médias 
Empresas; e ponto fraco é o Banco Central, que foi a primeira entidade a adotar as normas in-
ternacionais em suas próprias demonstrações financeiras desde 2006, ainda não permitir que 
as instituições financeiras as apliquem nas demonstrações individuais”. 
Questionado se, hoje, depois de dez anos de vigência da Lei n.º 11.638, faria atualizações nes-
ses pontos fortes e fracos, ele diz: “Reafirmo tudo”. 
Segundo o professor, quanto à postura do Banco Central, nada, infelizmente, mudou de verdade.
“Ocorre que, com exceção da CVM, que tem como bandeira a qualidade da informação contá-
bil, as demais agências reguladoras normalmente são responsáveis pelo acompanhamento da saú-
de de seus regulados, e por isso passam, às vezes, a se considerar como o objetivo da Contabilidade 
dessas empresas: propiciar informações para esse regulador. Com isso, resistem às inovações que 
querem generalizar a utilidade das informações contábeis, principalmente para credores – e como 
os bancos têm credores, não? – e investidores. As agências não aceitam aquilo que muda alguma 
coisa se a tradição, o banco de dados e o conhecimento se adaptaram ou mesmo precisam de ou-
tro tipo de informação”, critica Martins.
Porém, segundo ele, há total solução para isso: “O maior exemplo é o caso da Agência Nacio-
nal de Energia Elétrica (Aneel). Para esta agência, por exemplo, certos ativos das reguladas preci-
sam ser considerados como imobilizados, e não como classificados hoje contabilmente, com valo-
http://rbc.cfc.org.br/index.php/rbc/article/view/1102/814
9REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE
RBC n.º 228
Para José Carlos Bezerra, supe-
rintendente de Normas Contábeis 
e de Auditoria da Comissão de Va-
lores Mobiliários (CVM), o maior 
impacto da Lei n.º 11.638 foi, sem 
dúvida, a melhoria da qualidade 
da informação contábil prestada 
aos seus usuários, o que vem sen-
do percebido pela autarquia, pou-
co a pouco, no exercício do seu 
mandato legal – que inclui zelar 
pela qualidade das divulgações 
feitas pelas companhias abertas, 
das quais se cobra cuidado, bom 
senso e responsabilidade dos en-
volvidos na elaboração, divulga-
ção e revisão dessas informações.
Até chegar a esse ponto, Bezer-
ra lembra que foi necessário vencer 
um primeiro e difícil desafio, a mu-
dança de cultura. “Nos primeiros 
anos, as principais dificuldades es-
tavam centradas na necessária mu-
dança cultural e de postura dos di-
versos agentes que interagem com 
esse ambiente”, recorda, afirman-
do ainda que, com o passar dos 
anos, “ainda que persistindo al-
gumas posturas ligadas ao antigo 
ambiente, as dificuldades se vol-
taram para questões relacionadas 
à interpretação e à aplicação das 
normas e, nesse ponto, os desafios 
são ainda maiores”.
O superintendente da CVM con-
corda que hoje ainda não se pode 
dizer que está consumada e gene-
ralizada a mudança de cultura e de 
res baseados em sua reposição, ou então, com correção por um índice de preços que a lei impede 
seja utilizado na Contabilidade. Assim, o que a Aneel fez? O mesmo que a Receita Federal do Bra-
sil: neutralidade! As empresas de energia produzem as informações segundo as Normas Brasileiras 
de Contabilidade para o mercado em geral, e produzem outros balanço e resultado para a Agên-
cia. Trata-se do denominado Balanço Regulatório. Pronto, resolvido! Parabéns enormes à Aneel”.
Para Martins, o mesmo poderia ser feito pelo Banco Central, pela Susep – “esta agência tem, 
de fato, feito um grande esforço para adotar praticamente tudo, mas há exceções ainda” – e ou-
tras agências.
Em resumo, o professor defende que “é sempre preciso maximizar a satisfação da necessidade 
pelas informações contábeis dos maiores interessados – credores, investidores, empregados, etc.; e, 
quando for para atender a um usuário específico, que haja demonstrações especiais para ele, como 
é o caso da Receita Federal, da Aneel, e que deveria se generalizar para as demais, quando as nor-
mas internacionais não lhes servem bem”.
Para finalizar, ele deixa um recado: “Não desanimemos, quem sabe ainda vejamos isso em breve”.
Desafios mudaram com o tempo
Foto: FACPC/Divulgação
10 Contabilidade brasileira comemora os 10 anos da Lei nº 11.638
RBC n.º 228
O consultor Antonio Duarte Car-
valho de Castro era presidente da 
Associação Brasileira das Compa-
nhias Abertas (Abrasca) quando a 
Lei foi publicada, em 2007. Ele per-
maneceu à frente da entidade até 
2016. No Seminário Internacional 
do Comitê de Pronunciamentos 
Contábeis (CPC), realizado no dia 
7 de novembro deste ano, em São 
Paulo, ele foi homenageado pelo 
seu trabalho. Na ocasião, ele lem-
brou a publicação da Lei n.º 11.638 
e dos desafios que ela trouxe às 
companhias abertas brasileiras.
“Eu era presidente da Abrasca 
à época, e a nossa expectativa era 
que a Lei fosse viger no início de 
2008. No entanto, ela foi aprovada 
e publicada ao final de 2007. Pos-
teriormente, houve ajuste no pro-
cesso de transição, conforme com-
Velocidade da mudança das interpretações 
contábeis do IFRS surpreende
Foto: FACPC/Divulgação
postura por parte dos profissionais 
da contabilidade, expectativa que 
havia quando a Lei foi publicada, 
uma vez que as normas IFRS apre-sentam aspectos subjetivos.
“Temos muito espaço para me-
lhoria e mudanças culturais e de 
postura. Ainda é comum a leitura e 
interpretação de uma norma base-
ada em princípios como se fosse ba-
seada em regras”, informa Bezerra.
Nesse sentido, o superintenden-
te cita que, já em 2011, a CVM edi-
tou o Parecer de Orientação n.º 37, 
por meio do qual expressou o enten-
dimento de que “(...) o normatizador 
contábil reconhece expressamente 
que as normas contábeis devem ser 
subordinadas aos princípios da re-
presentação verdadeira e apropriada 
(true and fair view) e da primazia da 
essência sobre a forma. Ou seja, não 
apenas os efeitos econômicos devem 
prevalecer sobre a forma, indepen-
dentemente do tratamento jurídico, 
como é imperioso, no novo ordena-
mento contábil, que a representa-
ção da realidade econômica seja ver-
dadeira e apropriada. Tão imperioso 
que, mesmo no caso de conflito com 
as normas emitidas, a preponderân-
cia deve ser da representação ade-
quada. Estes são os pilares centrais 
desse novo ordenamento.”
Embora essa orientação tenha 
sido divulgada pela CVM em 2011, 
segundo Bezerra, não é incomum, 
mesmo nos dias atuais, a necessida-
de de esse entendimento ter de ser 
relembrado aos envolvidos na ela-
boração, divulgação e revisão das 
demonstrações contábeis.
Apesar dos desafios persisten-
tes, ele chama a atenção para as 
“recompensas” que a Lei n.º 11.638 
trouxe à Contabilidade brasileira. 
“Em minha opinião, a maior recom-
pensa foi a ampliação da importân-
cia do profissional da contabilidade 
como um provedor de informação 
realmente útil aos diversos interes-
sados na evolução patrimonial e fi-
nanceira das entidades”, cita ele, 
complementado: “No contexto do 
mercado de valores mobiliários, as 
demonstrações contábeis afigu-
ram-se como uma das principais 
fontes de informações econômico-
financeiras para o mercado e, con-
sequentemente, para a CVM, for-
necendo informações essenciais a 
respeito da evolução patrimonial e 
financeira das companhias abertas.
11REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE
RBC n.º 228
plemento da Medida Provisória 
499/2008, que criou o Regime Tri-
butário de Transição (RTT), estabele-
cendo prazo de até três anos para a 
adoção das normas IFRS pelas com-
panhias. As nossas expectativas se 
confirmaram plenamente no que 
diz respeito à neutralidade tributá-
ria”, lembra ele, atualmente mem-
bro da diretoria da Abrasca.
Segundo Antonio de Castro, as 
previsões que existiam, quando a 
Lei foi publicada, se traduziram em 
resultados efetivos e a Lei foi o ins-
trumento que deu a partida para a 
aplicação do IFRS no Brasil. “Hoje 
todas as companhias abertas, bem 
como as fechadas de grande porte, 
são obrigadas a reportar seus resul-
tados em IFRS”, afirma.
Entre os benefícios trazidos 
pela Lei para as empresas que pla-
nejavam abertura de capital ou 
busca de investimento no exterior, 
ele cita que a adoção de um padrão 
contábil internacional permitiu que 
o investidor estrangeiro pudesse 
fazer a leitura das Demonstrações 
Financeiras das companhias brasi-
leiras mais facilmente, já que es-
tas se tornaram compatíveis com a 
contabilidade internacional.
Já em relação aos principais 
desafios trazidos pela internacio-
nalização da contabilidade bra-
sileira, Antonio de Castro desta-
ca que, transcorridos dez anos da 
promulgação da Lei, a velocidade 
de mudança das interpretações 
contábeis do IFRS surpreende, por 
ter se mostrado, significativamen-
te, mais lenta que o inicialmente 
esperado. “Tal demora, e o alto 
nível de complexidade, resulta em 
considerável dificuldade no pro-
cesso de aprendizado das atuais 
e das novas gerações de contado-
res”, relata o diretor da Abrasca.
No exercício da profissão, a 
adaptação às novas exigências 
da Lei n.º 11.638 foi a principal 
dificuldade encontrada pelo em-
presário da área contábil Manuel 
Domingues e Pinho. Diretor-presi-
dente da Domingues e Pinho Con-
tadores (DPC), firma que fundou, 
no Rio de Janeiro, em 1984, ele 
afirma que houve dificuldades, 
o ponto de vista de uma empresa 
de contabilidade
mas também benefícios, que me-
recem ser comemorados. Confi-
ra, na entrevista a seguir, como 
o empresário, que comanda um 
dos maiores escritórios de conta-
bilidade do País, avalia o transcur-
so desses dez anos.
RBC – Quando a Lei entrou em 
vigor, em 2008, quais foram as 
principais dificuldades encontra-
das pela sua empresa?
Domingues e Pinho – A princi-
pal dificuldade das empresas foi se 
adaptar às novas exigências. É im-
portante lembrar que, na época, a 
própria Receita Federal ainda não 
havia se manifestado em relação à 
tributação dos novos registros con-
tábeis, principalmente de receitas 
“tal demora, e o alto nível de complexidade, resulta em considerável dificuldade no 
processo de aprendizado das atuais e das novas 
gerações de contadores”
12 Contabilidade brasileira comemora os 10 anos da Lei nº 11.638
RBC n.º 228
mensuradas. A insegurança jurídi-
ca levada ao ambiente empresarial 
foi muito forte. Além disso, foram 
criados o Regime Transitório de Tri-
butação (RTT) e o Controle Fiscal 
Contábil de Transição (FCONT), que 
obrigaram muitos empresários a in-
vestir quantias consideráveis para o 
controle dessas novas obrigações 
acessórias, mitigando, assim, riscos 
fiscais futuros.
RBC – Em que medida a harmo-
nização da contabilidade do País 
com a “linguagem universal” dos 
negócios alterou ou facilitou a 
execução dos serviços prestados 
pela sua empresa aos clientes?
Domingues e Pinho – A conver-
gência das normas brasileiras para 
um padrão internacional foi, sem 
dúvida, um marco para a área con-
tábil no Brasil, não só por contri-
buir para uma maior valorização 
do profissional da contabilidade, 
mas, principalmente, por benefi-
ciar os empresários que planeja-
vam a abertura de capital ou a bus-
ca de investimento no exterior para 
se tornar multinacional. É impor-
tante lembrar que, antes da transi-
ção para as normas internacionais, 
a preocupação dos profissionais 
era preparar a contabilidade para 
as respostas ao fisco. O principal 
objetivo das informações contá-
beis, em muitas empresas, era dei-
xado de lado. Sabemos que ainda 
temos muito que avançar, pois, por 
exemplo, os Estados Unidos ainda 
não convergiram para as normas 
do IFRS, mas podemos verificar, 
quando lemos uma nota explica-
tiva, o quanto evoluímos em rela-
ção às informações para a toma-
da de decisão dos acionistas, dos 
sócios e de todos os usuários das 
informações contábeis.
RBC – Quando a Lei foi publica-
da, comemorou-se a separação 
entre a Contabilidade Societária 
e a Contabilidade Tributária. Essa 
separação representou alteração 
relevante no dia a dia das empre-
sas de contabilidade?
Domingues e Pinho – Devemos 
lembrar que a grande maioria das 
empresas, no Brasil, é de micro e pe-
queno porte. De acordo com dados 
divulgados pelo Sebrae, em 2015, 
as micro e pequenas empresas re-
presentavam para a economia cer-
ca de 98,2% dos estabelecimentos 
privados no Brasil. E essas são, em 
maioria, contratantes de serviços de 
empresas de contabilidade. Consi-
derando o custo para as empresas 
de se adaptarem às novas normas, 
entendemos que a alteração repre-
sentou uma demanda relevante no 
dia a dia das empresas de contabi-
lidade, principalmente para as que 
atendem às pequenas e médias em-
presas enquadradas no CPC PME.
RBC – Dez anos depois da edição 
da Lei n.º 11.638, o Sr. conside-
ra que as normas contábeis con-
vergidas ao padrão internacional 
conseguiram trazer a devida uni-
Foto: Divulgação
13REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE
RBC n.º 228
formização dos critérios de apu-
ração dos resultados e avaliação 
patrimonial das empresas brasilei-
ras, para que pudessem ser ade-
quadamente mensurados pelos 
investidores e financiadores es-
trangeiros? Ainda falta algo rele-
vante a ser feito?
Domingues e Pinho – Verificamos 
nos nossos clientes estrangeiros a 
uniformização dos critérios em re-
lação à avaliação patrimonial. En-
tretanto,ainda verificamos gaps 
devido a algumas normas que 
não foram completamente con-
vergidas, diante das características 
econômicas do nosso país, como, 
por exemplo, a regra de reavalia-
ção patrimonial, entre outras. En-
tretanto, para nós, profissionais 
e empresários da área contábil, a 
convergência para o padrão inter-
nacional deve ser comemorada a 
cada dia. Mas muito ainda pode 
ser realizado. Ainda é necessária a 
capacitação de todos, com a exper-
tise nas normas internacionais. O 
CFC, na implementação da educa-
ção continuada para os profissio-
nais que atuam com companhias 
de capital aberto e de grande por-
te, marca mais um ponto para a 
evolução da nossa contabilidade.
RBC – Tendo em vista a rotina atual 
das empresas de contabilidade, o 
Sr. acha que hoje a Lei deveria ser 
alterada em algum ponto?
Domingues e Pinho – Entendo 
que tudo pode e deve ser altera-
do sempre para melhor. O Inter-
national Accounting 
Standards Board 
(Iasb), por meio de 
grupos de traba-
lhos e pesquisas, 
está avaliando di-
versas alte-
rações na 
legislação 
das nor-
mas IFRS. 
Temos um 
e x e m p l o 
que já estará 
em vigor em 2018, 
que é a forma de mensuração de 
receita. Em 2012, quando tive-
mos a divulgação do CPC 30, a 
classe contábil se deparou com a 
variável “mensuração” das recei-
tas. Hoje, vemos que em menos 
de seis anos já estão sendo alte-
rados diversos conceitos incluí-
dos na legislação contábil. Esse é 
um exemplo, mas temos diversos. 
A mudança é sempre bem-vinda. 
O que é necessário é a atuação 
dos profissionais em relação à 
capacitação e melhoria constan-
te na forma de disclosure das de-
monstrações contábeis.
“É importante lembrar que, antes da transição para as normas internacionais, a preocupação dos 
profissionais era preparar a contabilidade para 
as respostas ao fisco. o principal objetivo das 
informações contábeis, em muitas empresas, era 
deixado de lado.”

Continue navegando