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¹ Acadêmico do curso de ciências econômicas da UEM. ² Acadêmico do curso de ciências econômicas da UEM. ³ Profa. do departamento de Economia da UEM. IDEOLOGIA NEOLIBERAL E SUA IMPLEMENTAÇÃO NO MUNDO Jefferson Rodrigues da Silva¹ Eduardo Henrique N. Lima² Rosalina Lima Izepão³ RESUMO O presente artigo pretende de maneira simples explicar o surgimento do sistema neoliberal econômico e sua implementação nos países da Grã-Bretanha de Margareth Thatcher e aos Estados Unidos de Ronald Reagan. Mostrará os métodos aplicados e seus resultados. O texto irá apontar cada sistema de determinado estado e suas principais ideologias. Palavras-chave: Neoliberalismo; Margareth Thatcher; Economia; Ronald Reagan. ABSTRACT This article aims to explain in a simple way the emergence of the economic neoliberal system and its implementation in the countries of Great Britain by Margareth Thatcher and the United States by Ronald Reagan. It will show the applied methods and their results. The text will point out each system of a particular state and its main ideologies. Keywords: Neoliberalism; Margaret Thatcher; Economy; Ronald Reagan. 1 INTRODUÇÃO Nesse artigo a primeira seção iremos abordar o neoliberalismo do Governo de Margareth Thatcher influenciada pelas ideias de Hayek e lidando com o desafio de modificar a estrutura institucional de um país dotado de instituições eficazes – além de ser uma das maiores potências militares e econômicas do planeta – mudou o paradigma do pensamento econômico vigente. Segunda seção abordaremos a implementação do neoliberalismo no Governo de Ronald Reagan. Refletindo-se nas contradições contidas no próprio modelo neoliberal e no Consenso de Washington, que se transformou no paradigma liberal seguido pelos países da América latina para sua inserção na economia mundial e combate ao crônico problema de inflação. 1 5 Ainda haviam vários países pertencentes ao bloco soviético que, embora já apresentassem sinais de decadência econômica, ainda inspiravam cientistas sociais de orientação marxista ou socialistas em países desenvolvidos e em desenvolvimento. 6 Tal foi o caso do governo socialista do francês François Miterrand, que em 1981 tentou implantar um modelo econômico mais socialista do que social democrata, tento que retroceder já em 1983 7 O efeito positivo destas receitas sobre as contas públicas desapareceu após o ciclo de privatizações 8 “Se observarmos a regularidade e a frequência com que os aspirantes ao monopólio obtêm ao auxílio do Estado para tornar efetivo o seu controle, nos convenceremos de que o monopólio não é em absoluto inevitável. ” (Hayek, 1944, p.66) 2 MARGARETH THATCHER (DAMA DE FERRO) Margareth Thatcher, odiada pela esquerda e alçada à condição de mito pela direta, foi umas das personalidades mais influentes do século XX Ela foi a primeira – e até hoje – mulher a chefiar o governo do Reino Unido, reeleita primeira-ministra em três mandatos consecutivos de 1979-1990, chegando a ganhar o apelido de “Dama de Ferro”. O apelido “Dama de Ferro” foi dado pela imprensa soviética nos anos 1970, para caracterizar sua forte oposição aos regimes comunistas, ela conduziu a política doméstica com a mesma personalidade intransigente, provocando tanto admiração quanto repudio entre os ingleses. 2.1 O ressurgimento do pensamento liberal inglês. No começo dos 80, o mundo presenciou um ressurgimento liberal, uma reação contraria aos excessos das políticas keynesianas. Tais politicas tinha acelerado o nível da taxa de inflação nos países desenvolvidos. No front político o movimento liberal4 foi aderido pelas grandes potências econômicas na época Reino- Unido (Thatcher) e Estados Unidos (Reagan). No front econômico eles se inspiraram nas ideias de Hayek e Friedman para o ressurgimento do liberalismo. Simonsen (1994, p.280), ele resumiu os objetivos de política econômica do liberalismo na década de 80 que foram: (i) combater a inflação; (ii) fortalecer a cooperação internacional; e (iii) reduzir o tamanho do Estado. Em suas palavras esse autor detalha sobre esses tópicos: O combate à inflação seria conseguido pela implantação, pelos bancos centrais, de rígida disciplina monetária, o que basicamente foi conseguido, tanto nos EUA quanto na Europa ocidental e no Japão. No campo tributário, a ordem era simplificar impostos, reduzindo as alíquotas progressivas do imposto de renda, que desestimulavam a iniciativa e o trabalho individuais. Assim, a incidência máxima do imposto de renda sobre a pessoa física foi reduzida para 32% nos EUA e para 40% na Inglaterra. Os controles do governo sobre a atividade econômica deviam ser reduzidos drasticamente, por um amplo progresso de desregulamentação. Isso significa a supressão 2 4 Ou “neoliberal”, como alguns economistas e pensadores de esquerda preferem. do controle de preços, de câmbio e de movimentos de capitais, entre outros. As despesas sociais passaram a ser mais cuidadosamente disciplinadas, como em tese deveria também acontecer com os gastos militares. As empresas estatais passaram a ser caricaturas como dinossauros administrados, cabides de empregos para apaniguados políticos, incapazes de oferecer qualquer resistência à pressão dos sindicatos. Iniciou-se, assim amplo programa de privatização, detonado na Inglaterra por Margareth Thatcher e muito bem adaptado na Espanha socialista de Felipe Gonzalez, e no chile sob o regime de Pinochet e adotado, já na década de 90, pelo México e pela Argentina. Finalmente procurou-se enfrentar o poder dos sindicatos, impedindo-os de jogar a inflação contra a ameaça de desemprego. (Simonsen, 1994, p.280). Na Inglaterra e nos Estados Unidos, o ressurgimento do liberalismo ocorreu dentro de um contexto de fortes embates ideológicos5. No âmbito dos países mencionados nesse artigo, a retomada do pensamento liberal servia como uma espécie de revanche dos republicanos contra os democratas e dos conservadores contra os liberais. Nos governos sociais democratas da Europa, serviu como um reparo aos excessos Keynesianos6. Todavia, é um tanto é um curioso perceber que os países que mais promoveram o surgimento liberal (Estados unidos e na Inglaterra) e que serviram como exemplos para críticas dirigidas às bases da política econômica keynesiana, não lograram obter uma condição razoável de equilíbrio orçamentário. O grupo econômico americano promoveu reduções tributarias bastante agudas e, ao mesmo intensificou despesas militares com isso levou um aumento no déficit orçamentário a partir de 1981. Enquanto isso do outro lado do Atlântico, Thatcher obteve superávits em sua gestão. Mas eles não foram decorrentes da maior eficiência obtida por uma melhor coordenação promovida pelo setor privado em mercados mais competitivos e livres, tal como pregava Hayek. Na verdade, foram as receitas das vendas dos ativos das estais privatizadas que melhoraram as contas públicas britânicas7. Influenciadas pelas ideias kayekianas e dotada de forte senso de estar servindo a interesses da elite britânica, representada pelo Partido Conservador, Thatcher empreendeu reformas profundas que se pautaram pela desregulamentação do setor financeiro, pelo combate aos monopólios estatais (por meio das privatizações)8, por medidas de flexibilização do mercado de trabalho e pelas posições contrarias ao socialismo. 3 5 Ainda haviam vários países pertencentes ao bloco soviético que, embora já apresentassem sinais de decadência econômica, ainda inspiravam cientistas sociais de orientação marxista ou socialistas em países desenvolvidos e em desenvolvimento. 6 Tal foi o caso do governo socialista do francês François Miterrand, que em 1981 tentou implantar um modelo econômico mais socialista do que social democrata, tento que retroceder já em 1983 7 O efeito positivo destas receitas sobre as contas públicas desapareceu após o ciclo de privatizações 8 “Se observarmos a regularidade e a frequência com que os aspirantes ao monopólio obtêm ao auxílio do Estado para tornar efetivo o seu controle, nos convenceremos de que o monopólio não é em absoluto inevitável. ” (Hayek, 1944, p.66) 2.3 Redução nos gastos do governo O objetivo de reduzir os gastos do governo foi atingindo em termos relativos, mas não finalizados completamente. A proporção do Produto Nacional Bruto britânico alocada pelo estado caiu cerca de 41% em 1978 para cerca de 39% em 1989 (Treasury 1989). Dentro de um contexto essa queda ocorreu de um crescimento econômico substancial. Em termos reais, os gastos estatais de fato subiram de cerca de 137 bilhões de libras em 1979 para 153 bilhões em 1989, a preços de 1989 – teve um aumento significativo de 11%. Os gastos com bem-estar, constituem mais da metade de todos os gastos estatais, seguem um padrão semelhante. O total combinado de gastos com seguro social, educação, Serviço Nacional de Saúde (NHS), serviços sociais pessoais e moradia subsidiada subiu de cerca de 75 bilhões de libras para 89 bilhões a preços de 1989. A proporção do PIB, o total caiu de 23 para 21%. Entretanto esses dados podem levar a conclusões equivocadas. Os gastos com educação e serviços sociais pessoais subiram ligeiramente, em um pouco mais de um terço. Estes aumentos relativos foram causados pelas mudanças demográficas e a elevação do desemprego. A queda mais espetacular foi a do programa relativamente sem importância de moradias populares – de 7,4 para 2,1 bilhões de libras durante o período, sendo que estão programadas outras reduções substanciais. Os cômputos nacionais consideram o resultado de venda bens como gastos negativos. Desde 1979, mais de 1,2 milhão de casas populares foram vendidas aos moradores, pelo plano “Direito de compra”, com descontos de até 75% do valor avaliado. Em 1989 os rendimentos de capital reduziram o total de gastos com habitação em mais de 2,5 bilhões de libras. Embora os gastos com serviços tenham se mantido, havia graves problemas de insuficiência de fundos. Em 1987, a preocupação com o NHS (Serviço Nacional de Saúde) atingiu o ápice. Uma declaração conjunta sem precedentes, feita pelos 4 4 Ou “neoliberal”, como alguns economistas e pensadores de esquerda preferem. presidentes de todos os Royal Colleges, afirmou que os serviços “que chegaram ao ponto de colapso”, alegação reiterada pelo ex-chefe médico do Departamento de Saúde e Previdência Social (DHSS). Com isso houve uma desigualdade cada vez maior na área da saúde. Uma revisão feita em 1979 do Black Report conclui-, “de modo geral, a taxa de mortalidade declinou mais depressa nas classes ocupacionais mais altas do que nas baixas, contribuindo assim para aumentar o abismo entre ambos. De fato, em alguns aspectos a saúde das classes ocupacionais mais baixas deteriorou, em contraste com a melhora na população geral. O impacto das mudanças nos gastos públicos foi o de ampliar as desigualdades de cobertura. Houve um aumento na miséria dos grupos mais pobres: o número de famílias sem casa dobrou durante a década, chegando a mais de 200.000 para mais de um milhão (Layard 1987), e o número dos que vivem à beira, ou abaixo do nível de assistência público como último recurso aumentou de 6 para 9,4 (DHSS 1988). O sistema de seguro nacional para desempregados sofreu um colapso sob o impacto do desemprego de longo prazo. Além disso as mudanças na estrutura dos benefícios retiraram as coberturas por acréscimo de filhos, de modo que o impacto das reformas repousa, em grau considerável, sobre a estrutura doméstica. Estas mudanças se realizaram num contexto de modificações substancias no padrão da distribuição de renda. No ano de 1976, o quinto inferior de todos os domicílios (classificados segundo a renda de mercado ganha e não ganha, sem levar em consideração o efeito dos impostos e benefícios governamentais) ficava com 0,8% do total das rendas, enquanto que o quinto superior ficou com 44,4%. No ano de 1986, a parcela tomada pelo quinto inferior tinha caído para 0,3% e a do quinto superior subiu para 50,7% do total de rendas. O impacto da intervenção do Estado, através da taxação direta e indireta e dos benefícios em dinheiro e espécie, foi o de mitigar, mas não reverter, a tendência a uma maior desigualdade. De modo geral, o efeito dessas mudanças do governo nos gastos públicos foi o de destinar uma proporção maior dos recursos para os mais ricos, de modo que a defasagem aumenta ainda mais. 5 5 Ainda haviam vários países pertencentes ao bloco soviético que, embora já apresentassem sinais de decadência econômica, ainda inspiravam cientistas sociais de orientação marxista ou socialistas em países desenvolvidos e em desenvolvimento. 6 Tal foi o caso do governo socialista do francês François Miterrand, que em 1981 tentou implantar um modelo econômico mais socialista do que social democrata, tento que retroceder já em 1983 7 O efeito positivo destas receitas sobre as contas públicas desapareceu após o ciclo de privatizações 8 “Se observarmos a regularidade e a frequência com que os aspirantes ao monopólio obtêm ao auxílio do Estado para tornar efetivo o seu controle, nos convenceremos de que o monopólio não é em absoluto inevitável. ” (Hayek, 1944, p.66) 2.3 Privatizações A venda dos bens, muitas vezes com descontos substancias, se tornou uma importante fonte de renda para o Estado britânico. Desde o ano de 1979, esta renda chegou a mais de 17 bilhões de libras, a preços do ano de 1989. O planejamento dos gastos abordado nesse quesito foi gerado uma renda de pelo menos 5 bilhões de libras nós três anos seguintes (Treasury 1989). Exceto na área de vendas de moradias populares, a política de privatização atuou com cautela quanto aos serviços previdenciários. Havia projetos menores para a estimulação do controle privado pela desregulamentação dos alugueis, pagando as mensalidades escolares de alunos brilhantes provenientes da classe trabalhadora (verba que cobre menos de 1% do total de alunos das escolas secundarias, e é redirecionada às escolas para alunos da “classe média decadente”, e não da origem operaria – Salter et al. 1987) e para desregulamentar uma série de serviços, incluindo o transporte de ônibus e dos serviços oftálmicos e ópticos. Houve também aumentos substancias nas tarifas das receitas médicas do NHS e em outras despesas, como os serviços sociais municipais, serviços dentários e em alugueis em moradias populares. Mudanças nos contratos com os médicos do NHS em 1980 facilitou o exercício das clinicas particulares em regime de meio período. A proporção de pessoas que optaram por consultarem sob esse esquema subiu de 45% para 85%. Essas novas regras criaram uma poderosa força em favor da ampliação da medicina privada. Essas mudanças afetaram certas minorias particulares, ou são triviais em relação ao volume de serviços de bem-estar social estatais. A políticas de pensões e aposentadorias também estavam sendo planejas para expandir-se ao setor privado. Naquele momento a pensão estatal se consistiam de duas partes – um piso fixo e um suplemento relacionado com o salário, destinado a elevar gradativamente os pagamentos em relação às contribuições, a fim de pagar 6 4 Ou “neoliberal”, como alguns economistas e pensadores de esquerda preferem. benefícios adicionais plenos no próximo século. Os empregadores poderiam optar por retirar os empregados do esquema de pensões estatais, desde que oferecessem um esquema alternativo de benefícios. As pensões ocupacionais se expandiram na década de 50 e início da de 60 sob um regime tributário favorável, mas na última década não iriam cobrir mais que cerca de 60% da força de trabalho. A lei da Previdência Social do ano de 1986 estimulava a transferência das pensões estatais para esquemas privados, através de uma combinação de cortes no esquema estatal (que prejudicaram especialmente as mulheres e as viúvas), subsídios de contribuição e desregulamentação do fornecimento de benefícios. Até o final do século estas mudanças reduziriam os benefícios a cerca de metade do nível planejado. Estimava- se que cerca de metade das pessoas não cobertas pelos planos particulares optariam por esses esquemas, embora a mudança foi mais atraente para os jovens trabalhadores. Há quatro pontos a notar quanto à ampliação do setor privado. Primeiro, o crescimento das dotações particulares para as áreas de bem-estar, excetuando a moradia e as pensões. Segundo, praticamente todas as ampliações do setor privado envolveram um aumento dos subsídios estatais, à medida que o estado retirava as dotações diretas, e frequentemente envolveram também um aumento da atividade estatal de regulação. As privatizações não se consistiam simplesmente na retração do Estado ou na liberação da livre empresa. Ela é melhor compreendida como um redirecionamento da intervenção do Estado –a busca dos objetivos de bem-estar por outros meios. Terceiro lugar, o processo de quase privatização, que permite que as instituições como escolas e hospitais saiam do regime de planejamento estatal operem como entidades autodirigidas subsidiadas pelo estado, é outro aspecto do redirecionamento do Estado. E em quarto lugar, o setor privado costuma atender os grupos de renda mais elevada: por exemplo, no ano de 1986, 23% dos profissionais e executivos estavam cobertos pelo seguro particular, contra 2% dos trabalhadores manuais (CSO 1989: 132). 7 5 Ainda haviam vários países pertencentes ao bloco soviético que, embora já apresentassem sinais de decadência econômica, ainda inspiravam cientistas sociais de orientação marxista ou socialistas em países desenvolvidos e em desenvolvimento. 6 Tal foi o caso do governo socialista do francês François Miterrand, que em 1981 tentou implantar um modelo econômico mais socialista do que social democrata, tento que retroceder já em 1983 7 O efeito positivo destas receitas sobre as contas públicas desapareceu após o ciclo de privatizações 8 “Se observarmos a regularidade e a frequência com que os aspirantes ao monopólio obtêm ao auxílio do Estado para tornar efetivo o seu controle, nos convenceremos de que o monopólio não é em absoluto inevitável. ” (Hayek, 1944, p.66) 3 Ronald Reagan Ronald Reagan (1911-2004) foi um político norte-americano. Foi governador da Califórnia e presidente dos Estados Unidos durante dois mandatos. Ingressou na política tornou-se membro do Partido Democrata, mas passou para o Partido Republicano, em 1962, pois não aprovava as ideias esquerdistas que os democratas estavam adotando. Em 1966, foi eleito governador da Califórnia pelo Partido Republicano. Governou a Califórnia entre os anos de 1967 e 1974. Foi o presidente mais velho da história, com 69 anos. Foi eleito em 1980 e reeleito em 1984, permanecendo no poder por oito anos. O desenvolvimento econômico interno ocorrido durante seu primeiro governo garantiu-lhe popularidade e permitiu que se reelegesse em 1984. Intensificou uma política de corte de gastos públicos, principalmente na área de bem-estar social e de desregulamentação da economia, favorecendo o desemprego e a concentração da renda pelos mais ricos dentro dos princípios do neoliberalismo. 3.1 A política econômica do governo Reagan Ao contrário de seus antecessores republicanos, Eisenhower, Nixon e Ford, Ronald Reagan não era uma figura do establishment (estabelecimento) político norte americano. Reagan era um integrante do “movimento conservador” que havia surgido nos anos de 1950. Durante sua campanha eleitoral Reagan dizia que o principal problema econômico enfrentado pela economia americana era a elevada taxa de inflação. Para Brownlee (2006), o problema da inflação trouxe importantes consequências políticas. O que a grande Inflação fez politicamente era criar condições que permitissem um movimento antigovernamental que tivesse vindo a reunir 8 4 Ou “neoliberal”, como alguns economistas e pensadores de esquerda preferem. força apenas desde o início dos anos de 1960 para assumir o controle do governo federal na eleição de 1980. (BOWNLEE, 2006: 143) No contexto econômico, as correntes chamadas de neoliberais ganharam espaço em diversos países na década de 80. Além de atribuir a inflação alta à emissão de moeda pelos Bancos Centrais, como os monetaristas desde os anos antes (FRIEDMAN, 1982), os neoliberais apontavam impostos elevados e regulamentação das atividades econômicas como os responsáveis pela estagnação prolongada da economia (SLOAN, 2007). As propostas de Reagan para a recuperação econômica baseavam-se nas políticas de supply-side (economia ao lado da oferta) que era uma ruptura do modelo de inspiração keynesiana de regulação da economia pelo controle da demanda efetiva. Tratava-se de apostar no crescimento pelos incentivos à oferta, à produção e ao investimento, por meio de corte nos impostos, redução das regulações e interferência do Estado na economia e o fim das políticas contracíclicas. Os incentivos ao investimento e à produção daí decorrente incentivariam a oferta e a recuperação da economia. Reagan em 1981 procurou cumprir as suas promessas de campanha e colocou em pratica o Economic Recovery Tax (ERTA), o maior corte de impostos da história dos Estados Unidos, prioridade política durante o seu primeiro ano de mandato. Entretanto, antes dos efeitos do ERTA aparecerem, os sinais de recessão e fazendo assim ter um aumento do déficit orçamentário se tornarem evidentes. No ano de 1982 foi aprovado no congresso, o Tax Equity and Fiscal Responsabilty Act (TEFRA) que previa uma elevação na taxa de impostos. No ano de 1981 houve aumento da recessão, a taxa de desemprego aumentou 10,7%, a receita diminuiu, o déficit orçamentário aumentou de US$ 73,8 bilhões em 1980 para US$ 207,8 bilhões no ano de 1983 e a inflação continuou elevada. A aprovação do governo Reagan caiu para 35% e o Partido Republicano perdeu 26 cadeiras nas eleições para o Congresso (SLOAN, 2007). Em 1981, o ERTA e o subsequente déficit orçamentário federal norte-americano não geravam apenas impactos negativos internos, mas tiveram um impacto profundo e não esperado em toda economia mundial. 9 5 Ainda haviam vários países pertencentes ao bloco soviético que, embora já apresentassem sinais de decadência econômica, ainda inspiravam cientistas sociais de orientação marxista ou socialistas em países desenvolvidos e em desenvolvimento. 6 Tal foi o caso do governo socialista do francês François Miterrand, que em 1981 tentou implantar um modelo econômico mais socialista do que social democrata, tento que retroceder já em 1983 7 O efeito positivo destas receitas sobre as contas públicas desapareceu após o ciclo de privatizações 8 “Se observarmos a regularidade e a frequência com que os aspirantes ao monopólio obtêm ao auxílio do Estado para tornar efetivo o seu controle, nos convenceremos de que o monopólio não é em absoluto inevitável. ” (Hayek, 1944, p.66) Em 1982 o clima político americano estava conturbado devido à recessão, ao aumento do desemprego e ao crescimento do déficit público. No mesmo ano, o Escritório de Analise Fiscal do Departamento do Tesouro implementou várias alterações fiscais, seguindo o que havia sido aprovado na lei norte-americana Tax equity and Fiscal Responsability Act (TEFRA), a qual foi desenhada para levantar US$ 98,3 bilhões em três anos e recuperar parte da receita de impostos perdida (SLOAN, 2007). Dois anos depois, em 84, o Congresso aprovou o Deficit Reduction Act (DEFRA), essa política tinha como objetivo alvo o fechamento de brechas existentes no sistema de arrecadação norte-americano, através das quais muitos conseguiam pagar taxas menores. Tanto o TEFRA quanto o DEFRA tinham como objetivo diminuir o déficit orçamentário gerado pelo ERTA em 1981. Até o ano de 1990, os programas DEFRA e TEFRA arrecadaram conjuntamente cerca de US$ 100 bilhões (SLOAN ,2007). O processo recessivo nos Estados Unidos teve início em julho de 1981 e terminou ao final de 1982. O gráfico 1 demonstra o acentuado aumento inflacionário durante a segunda metade da década de 1970 e seu declínio a partir do ano de 1981. Gráfico 1: Média anual da taxa de inflação nos EUA calculada a partir do índice de preços dos consumidores. Fonte: Bureau of Labor Statistics (BLS); 2013 10 4 Ou “neoliberal”, como alguns economistas e pensadores de esquerda preferem. Nesse meio tempo, com o dólar valorizado, a balança comercial dos Estados Unidos atingiu enormes déficits comerciais. Simonsen (1995) comenta que essa era a contrapartida da mistura “aperto monetário – expansão fiscal – taxas flutuantes de câmbio”. A maior parte do déficit público norte americano foi financiada pelo ingresso de capitais estrangeiros, sobretudo japoneses e alemães. O secretário do tesouro na época entrou em acordo com os ministros das finanças do Grupo dos Cinco (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Inglaterra e França) para promover uma queda gradual do dólar mediante a uma cooperação entre os bancos. Com isso a valorização do dólar de 1981 a 1985 desfez nos cinco anos seguintes. A inflação não se acelerou graças aos fatores destacados por Simonsen (1995); 1) política monetária bem controlada; 2) queda dos preços internacionais do petróleo e de outros produtos primários; 3) dado o tamanho do mercado norte-americano, muitos preços são fixados em dólar, independente das oscilações da moeda norte americana a outras moedas. Em 1984, período da campanha de reeleição de Reagan, o PNB (produto nacional bruto) crescia a 6,8% ao ano, e a inflação havia caído para 4,3%. Apesar do crash da bolsa em 1987 o boom continuava (GIBBS, 2004). Segundo Simonsen (1995) o trunfo do governo Reagan foi ter conseguido aumentar substancialmente o prestigio dos Estados Unidos como porto seguro do capitalismo, apesar de ter se transformado, em uma década, de maior credor em maior devedor internacional, perdendo ativos e acumulando passivos de trilhões de dólares. Segundo Gibbs (2004) os ganhos proporcionados pela política econômica do governo Reagan não foram distribuídos equitativamente. Pela primeira vez, desde a Grande Depressão o termo homeless (sem teto) aparecem nos Estados Unidos. A reestruturação das empresas pressionadas pela concorrência resultou numa febre de fusões e reengenharias. Segundo Gibbs (2004) foi caótico para as empresas e doloroso para trabalhadores de todos os níveis, mas no fim a economia norte americana ficou mais competitiva, com empresas mais inovadoras e ágeis para responder os impulsos do mercado, ainda que seus trabalhadores se sentissem menos seguros ou fossem menos fieis. 11 5 Ainda haviam vários países pertencentes ao bloco soviético que, embora já apresentassem sinais de decadência econômica, ainda inspiravam cientistas sociais de orientação marxista ou socialistas em países desenvolvidos e em desenvolvimento. 6 Tal foi o caso do governo socialista do francês François Miterrand, que em 1981 tentou implantar um modelo econômico mais socialista do que social democrata, tento que retroceder já em 1983 7 O efeito positivo destas receitas sobre as contas públicas desapareceu após o ciclo de privatizações 8 “Se observarmos a regularidade e a frequência com que os aspirantes ao monopólio obtêm ao auxílio do Estado para tornar efetivo o seu controle, nos convenceremos de que o monopólio não é em absoluto inevitável. ” (Hayek, 1944, p.66) 3.2 O consenso de Washington O “Consenso de Washington” é a expressão cunhada para resumir um decálogo de medidas política econômica consensuais entre as agências norte- americanas e agências internacionais na capital norte-americana. Seus dez pontos principais podem ser considerados como uma síntese das políticas defendida pelo neoliberalismo, que se configuraram como solução para a inflação crônica por que passavam os países latinos americanos na década de 80, a exemplo do México, Peru, Bolívia, Argentina, Venezuela, e Brasil. Este foi o último a aderir políticas liberais, na década de 90, coroadas pelo Plano Real em 1994 (governo de Fernando Henrique Cardoso). O decálogo do Consenso de Washington foi sintetizado por Ferraz et al (2002) em: 1. Disciplina Fiscal – caracterizada por um significativo superávit primário e por déficits operacionais de não mais de 2% do PIB. 2. Priorização dos gastos públicos, através de seu redirecionamento de áreas politicamente sensíveis que recebem mais recursos do que seria economicamente justificável – como a manutenção da máquina administrativa, a defesa ou os gastos como subsídios indiscriminados -, para setores com maior retorno econômico e/ ou com potencial para melhorar a distribuição de renda, tais como saúde, educação e infraestrutura. 3. Reforma fiscal, baseada na ampliação da base tributária e na redução de alíquotas marginais consideradas excessivamente elevadas. 4. Liberalização do financiamento, como vistas à formação de taxas de juros pelo mercado, ou como objetivo intermediário mais realistas e até mesmo mais conveniente no curto e médio prazo – para evitar taxas muito elevadas -, procurando o fim de juros privilegiados e visando a obtenção de uma taxa de juros real positiva e moderada. 12 4 Ou “neoliberal”, como alguns economistas e pensadores de esquerda preferem. 5. Unificação da taxa de câmbio em níveis competitivos, como o fim de eliminar sistemas de taxa de câmbio múltiplos e assegurar o rápido crescimento das exportações. 6. Liberalização comercial, através da substituição de restrições quantitativas por tarifas de importação, que, por sua vez, deveriam ser reduzidas para um nível baixo “... de 10% ou, no máximo, perto de 20%. ” 7. Abolição das barreiras ao investimento externo direto. 8. Privatização. 9. Desregulamentação. 10. Garantia do direito de propriedade, através da melhoria do sistema judiciário. 13 5 Ainda haviam vários países pertencentes ao bloco soviético que, embora já apresentassem sinais de decadência econômica, ainda inspiravam cientistas sociais de orientação marxista ou socialistas em países desenvolvidos e em desenvolvimento. 6 Tal foi o caso do governo socialista do francês François Miterrand, que em 1981 tentou implantar um modelo econômico mais socialista do que social democrata, tento que retroceder já em 1983 7 O efeito positivo destas receitas sobre as contas públicas desapareceu após o ciclo de privatizações 8 “Se observarmos a regularidade e a frequência com que os aspirantes ao monopólio obtêm ao auxílio do Estado para tornar efetivo o seu controle, nos convenceremos de que o monopólio não é em absoluto inevitável. ” (Hayek, 1944, p.66) CONCLUSÃO Concluímos nesse artigo como a política econômica neoliberal foi introduzida nos dois países mais importantes do mundo entre os anos de 1980 e sua influência na américa latina. A vitória de Margareth Thatcher na Inglaterra, assegurou para esse país o pioneirismo na Europa na efetivação da receita neoliberal. A Inglaterra foi o primeiro país do centro do capitalismo a se empenhar na concretização do neoliberalismo. As ações da “Dama de ferro” foram: contração da emissão de moeda corrente, elevação da taxa de juros; redução dos impostos dobre os rendimentos altos; abolição do controle sobre fluxos financeiros; criação de níveis de desemprego massivos; imposição de uma legislação anti-sindical e lançamento de um amplo programa de privatização que atingiu a habitação publica entre outros. Ronald Reagan, marcou o início da pratica neoliberal nos Estados Unidos, a qual permaneceu durante toda a década de 1980. O monetarismo de Milton Friedman teve uma influência grande no começo, porém a sua rigidez doutrinal criou problemas. Por esse motivo foi substituído por formas menos dogmáticas, mas sempre originadas da doutrina do laissez faire, do princípio da não intervenção do Estado na economia. Medidas neoliberais implementadas por Ronald Reagan: elevação das taxas de juros e redução dos impostos dos ricos. No entanto, não acatou outra medida da cartilha neoliberal, o controle orçamentário. Gastou muito dinheiro numa corrida armamentista sem precedentes com a URSS, levando os Estados Unidos ao maior déficit público da sua história. 14 4 Ou “neoliberal”, como alguns economistas e pensadores de esquerda preferem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PASSOS, Marcelo de oliveira e CAVALIERI, Marco A Ribas. A força da liderança com ideias ou Thatcher, Hayek e o Brasil. Revista Economia & Tecnologia, Curitiba, v. 10, n 1, p. 99- 108, Jan/Mar 2014. SPÍNOLA, Vera. Neoliberalismo: considerações origem e história de um pensamento único. Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, ano 6, n 9, p. 104-114, Jan 2004. CORTEZ, Ana Claudia Salgado; CARVALHO, Carlos Eduardo; CUNHA, Patrícia H Fernandes. O período de 1981 a 1985 do governo Reagan e o processo de consolidação dos EUA como a principal potência mundial. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTORIA ECONÔMICA, 11.,2015, Vitoria. Resumos... Vitória: UFES, 2015 p. 1. HAYEK, F. A. O caminho da servidão. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1984. (Do original “Road to Serfdom”, publicado em 1944). SIMONSEN, M. H. Ensaios Analíticos. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1994. SIMONSEN, M. H. e CYSNE, R. P. Macroeconomia. São Paulo: Editora Atlas, 1995. GIBBS, Nancy. The All-American President. Em time magazine, June14, Vol. 163, No. 24, 2004.