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A pesca como fonte de renda no litoral

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A pesca como fonte de renda no litoral catarinense 
Autores: Elaine Patricia da Rosa, Gustavo Navarini Valandro, Nubia Pazinato, Simone Selbach. 
Curso de graduação: Geografia Licenciatura.
Centro/Campus: Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Centro de Ciências Humanas/Francisco Beltrão, PR.
Objetivos
Analisar por meio de estudos bibliográficos como a atividade pesqueira se desenvolve atualmente no Litoral Catarinense, a fim de entender as formas de obtenção de renda por meio da pesca artesanal e industrial.
Entender de que forma o estado interfere, direta ou indiretamente, nesse ramo, tanto na pesca artesanal como industrial.  
Material e Métodos
A pesquisa foi desenvolvida através das seguintes etapas:
1) Leituras de artigos e materiais que versassem sobre a atividade pesqueira no litoral catarinense; 
2) Realização de um trabalho de campo no centro histórico de Florianópolis – Santa Catarina, em que observamos os elementos históricos do desenvolvimento urbano e como a atividade pesqueira se desenvolveu junto a esse crescimento.
Florianópolis: história e desenvolvimento urbano
	Florianópolis se localiza no estado de Santa Catarina, era ocupada por indígenas que praticavam a agricultura e pesca como forma de sobrevivência. Quando os primeiros portugueses chegaram se deu inicio o processo de escravidão, fazendo com que no século XVII diversas tribos começassem a se extinguir, fruto da escravidão e baixa resistência contra as doenças europeias.
	Em 1675 Francisco Dias Velho chega na Ilha, a atividade econômica então passa a girar em torno do pescado da baleia. Surgem os primeiros mercados. paradoxalmente ao desenvolvimento da atividade pesqueira se dá inicio ao desenvolvimento do meio urbano, que se expande diariamente fruto do adensamento populacional, que exige novas habitações, incorporando novas áreas ao perímetro urbano, deste modo a especulação imobiliária vem sido mantida.
Caracterização da pesca no litoral catarinense
	O estado de Santa Catarina possui um litoral com 531 km de extensão, mas apesar da pequena faixa litorânea o estado catarinense se destaca por ser o maior produtor nacional de pescados. 
	Segundo dados de 2004 da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – EPRAGRI, “existem cerca de 25 mil pescadores artesanais em exercício no Estado”, sendo que estes são responsáveis por 30% da produção, os restantes 70% são realizados pelas indústrias, nas quais se destaca a empresa Costa&Silva
Fonte: www.dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2014/08/conheca-os-quatro-peixes-em-alta-do-litoral-catarinense-e-seus-usos-na-cozinha-4580287.html acesso em 09/11/2017.
	Assim como os agentes sociais são modeladores do espaço, o Estado também o modela, o reorganiza, o consome, o produz, estabelece leis de uso da terra, é um proprietário fundiário, controla fluxos e atua na organização urbana da cidade, “refletindo a dinâmica da sociedade da qual faz parte e é constituinte” (CORRÊA, 1999, p.24), para que assim “a estrutura dos gastos públicos ‘posam se orientar’ para servir melhor e mais barato às empresas modernas (SANTOS, apud MARTINS, 2006. p.107). 
Estado e pesca
	O Estado interfere na atividade pesqueira, seja ela no ramo industrial como artesanal, contribuindo em grande escala para o desenvolvimento da pesca industrial, que confere rentabilidade econômica para o país. A pesca artesanal não é subsidiada, pois a atividade pesqueira está subordinada aos interesses monopolistas do desenvolvimento capitalista. Assim o Estado contribui para a manutenção do status quo, pois contribuiu para a reprodução das condições de vida das diversas classes sociais.
	Percebe-se que o debate dialético entre pesca artesanal e industrial perpassa o debate do campo político, histórico, cultural e econômico refletindo interesses e necessidades, que por sua vez explicam a situação atual em que os pescadores artesanais se encontram, portanto é fundamental compreender como ocorre a atividade de pesca artesanal a fim de analisar como o Estado e a pesca industrial interferem nesta.
	Neste debate, denota-se que pesca artesanal e industrial recebem diferentes estímulos governamentais. 
	Na ilha de Santa Catarina, onde está situada a capital Florianópolis, é indispensável que seja dito a respeito sobre um ato de intervenção direta do estado, onde gerou grandes consequências às pessoas que viviam da pesca artesanal no local onde é hoje a área central da Cidade. Nesse local, conhecido como baía norte, onde está situada hoje a rodoviária da cidade, no passado era uma área de ocupação das águas do mar, tendo por natureza um ecossistema de mangue muito rico e que servia de postos de trabalhos para muitos pescadores que retiravam da pesca artesanal sua única fonte de renda.
	Em meados da década 1960, a baía norte foi aterrada para a construção da avenida Beira-mar norte, a qual tinha como objetivo construir mais pontes para ligar a ilha de Santa Catarina ao continente, visando assim substituir o antigo sistema de transporte feito por balsas e dar suporte a demanda da ponte Hercílio Luz, inaugurada em 1926. Tendo isso em vista, em 1975 foi construída a Ponte Governador Colombo Machado Salles, posteriormente, no ano de 1981 foi inaugurado o terminal rodoviário de Florianópolis, localizado logo após a passagem da ponte, em pleno centro de Florianópolis. Por fim, em 1991, foi construída a Ponte Pedro Ivo Santos, para facilitar no acesso e dar mais fluidez ao transito na entrada e saída da ilha. 
Um ousado empreendimento que ocasionou em várias consequências sociais e ambientais:
o fim de todo um ecossistema que havia nessa região da ilha; 
o fim da fonte de trabalho e renda para muitos que viviam da pesca artesanal nesse lugar; 
3) a poluição desenfreada, com desaguamento de redes de esgoto, na baía norte (o local hoje é conhecido por possuir as águas mais poluídas da ilha). 
Fonte: www.skyscrapercity.com, acesso em 09/11/2017.
	A jornalista Patrícia Krieger pesquisa desde 2012 a história da transformação da Vila Caldeirão em Jurerê Tradicional e Jurerê Internacional. 
	Até os anos 80, havia cinco ranchos de pesca à beira da praia do Caldeirão, e o empresário Luiz Almir Salvi, foi um dos principais responsáveis pela transformação da região.
	Sendo que, o último rancho de pescadores artesanais de Jurerê Tradicional, no norte de Florianópolis (SC), foi demolido no dia 29/10/2015. (SILVA. 2015). 
	Antes de serem privatizadas, as terras do Jurerê Internacional, eram habitadas por famílias de origem açoriana que viviam de criação de gado, pesca e plantação. (KRIEGER, 2014).
	Após a privatização, estes moradores da região foram retirados da beira-mar e realocados para outros lugares mais afastados da praia. (KRIEGER, 2014, p. 10). 
	A versão contada pelos donos da Imobiliária Jurerê é a de que os moradores foram relocados aos poucos, com pagamentos pela compra da casa ou em troca de casas de alvenaria mais distantes do mar. Assim também os ranchos de pescadores foram sendo demolidos, em troca de dinheiro ou permutas. (KRIEGER, 2014, p. 7). 
	O acesso à cidade urbanizada só foi possível, para aqueles que pudessem pagar por ela, ou que tivessem um razoável poder de influência dentro da máquina pública. (KRIEGER, 2014, p. 11). 
	As relações de poder se estabeleciam no âmbito urbano por um lado, em torno do privilégio dado às elites no direcionamento dos recursos públicos e na construção de bairros de elite, e do outro pela exclusão que atingia constantemente a população urbana mais pobre. (KRIEGER, 2014, p. 11).
Os impactos socioambientais causados pela pesca artesanal e pela pesca industrial
	O desenvolvimento das populações em todo o mundo, tem ligação direta com rios, mares, lagos e oceanos, devido as águas serem utilizadas como meio de locomoção de um lugar para outro, para o consumo humano e pela sua imensa oferta de alimentos que podem ser obtidos através da pesca.
	Em 1950 que a pesca passa a se tornar um problema ambiental, devido a industrializaçãoda atividade, no que também ficou conhecido como “pesca predatória”. 
	A pesca predatória consiste em retirada de peixes e outros animais marinhos em massa, praticada por navios de grande porte que utilizam sonares de busca que localizam com precisão cardumes de peixes. Alguns navios contam com linha de produção, processamento e embalagem de peixes. (DUTRA, 2017). 
	segundo o artigo 8º, alínea a da Lei nº 11.959/09, classifica como pesca artesanal “aquela praticada diretamente por pescador profissional, de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com meios de produção próprios ou mediante contrato de parceria, podendo utilizar embarcações de pequeno porte”. (BRASIL, 2009).
	No que diz respeito a legislação vigente, o Art. 31 e seguintes da Lei 11.959/09, (Política Nacional do Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca) em seu capítulo VII diz que:
Art. 31. A fiscalização da atividade pesqueira abrangerá as fases de pesca, desembarque, conservação, transporte, processamento, armazenamento e comercialização dos recursos pesqueiros, bem como o monitoramento ambiental dos ecossistemas aquáticos. 
Art. 32. A autoridade competente poderá determinar a utilização de mapa de bordo e dispositivo de rastreamento por satélite, de forma automática e em tempo real, da posição geográfica e da profundidade do local de pesca da embarcação, nos termos de regulamento específico.
Art. 33. As condutas e atividades lesivas aos recursos pesqueiros e ao meio ambiente serão punidas na forma da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e de seu regulamento.
 Art. 53 - A fiscalização da pesca será exercida por funcionários, devidamente credenciados, os quais, no exercício dessa função, são equiparados aos agentes de segurança pública. 
	Um estudo realizado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) em dezembro de 2008, atestou que mais de 75% da população de peixes do mundo está ameaçada devido à pesca predatória. Associado sobre pesca, deparamo-nos também com os problemas de poluição das águas e falta de políticas públicas efetivas de proteção e conservação o que representa grave ameaça a biodiversidade marinha (DUTRA, 2017).
	Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a pesca é a atividade que mais sofre com o impacto de problemas ambientais no Brasil, e a principal consequência é a redução em massa de diversas espécies de peixes e plantas aquáticas. (DUTRA, 2017).
	No quadro abaixo podemos identificar as principais diferenças entre os tipos de pescas, e os impactos causados por cada uma delas:
Conclusões 
	Ao longo da história de desenvolvimento da Ilha de Florianópolis e de todo o litoral catarinense a pesca sempre esteve presente como atividade econômica e, atualmente representa grande parte da renda do estado catarinense. Deste modo as populações desenvolveram métodos tradicionais de pescar, que envolvem tradições passadas de geração em geração. Já outro ramo da pesca se industrializou e a atividade vem se modernizando constantemente. A adoção de sofisticas técnicas na pesca industrial é resultado do apoio governamental que as grandes corporações de pesca industrial recebem.
	As vítimas diretas, além da sociedade pelo prejuízo ambiental, são os pescadores artesanais, cada vez mais enfrentando maiores dificuldades para conseguir o seu sustento. Para obter o equilíbrio entre a pesca profissional e a proteção dos recursos naturais marinhos, a fiscalização deve ser continua e feita de modo eficaz, e que ocorra a punição as irregularidades encontradas.
	A pesca em zonas costeiras é regulamentada por regras e leis, mas essas não são respeitadas ou precisam ser revistas. Há uma ausência da fiscalização por parte de nossas autoridades e órgãos responsáveis pela manutenção da pesca em nosso país. Nossas espécies marinhas estão desaparecendo gradativamente, juntamente com o aumento de embarcações ilegais em nossas costas que impedem a renovação de animais marinhos e acabam com o futuro dos pescadores artesanais, sociedades, e futuras gerações. 
	Diante da baixa produção, o abandono da atividade pesqueira é cada vez mais evidente, embora as causas da queda na produção não sejam exatamente as mesmas. 
	Mediante as dificuldades, os pescadores contam com o "seguro defeso", que tem contribuído para reduzir o abandono da atividade, pois garante uma renda mínima às famílias, principalmente nos anos de baixa produção
	A solução para o atual problema vivenciado, seria a pesca responsável e sustentável, dentro dos parâmetros previstos em lei, respeitando o tempo de reprodução das espécies e mantendo o habitat natural das mesmas, livre de poluição ou qualquer outro empecilho, garantindo assim uma estabilidade econômica e principalmente socioambiental.
Referências
ANDRADE, H. A. A produção da pesca industrial em Santa Catarina. Brazilian Juornal of Aquatic Science and Techonology – BJAST. Itajaí, 1998.
BRASIL, República Federativa. Lei 11.959 de 29 de junho de 2009. Política Nacional do Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca. Disponível em :<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/Lei/L11959.htm>. Acesso em 09 de out. 2017.
CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Afiliada. 1999.
DUTRA N. A. F., Pescadores artesanais, sociedade de risco e os impactos ambientais. Disponível em: <https://natashadutra.jusbrasil.com.br/artigos/501576437/pescadores-artesanais-sociedade-de-risco-e-os-impactos-ambientais>. Acesso em 09 de out. 2017.
KNOX, Winifre, TRIGUEIRO, Aline. A pesca artesanal, conflitos e novas configurações. Revista Espaço Diálogo e Desconexão – REDD. Araraquara, v.8, n.2. jan./jun. 2014 
KRIEGER, Patricia. Os donos de Jurerê: Disputas de terras no bairro mais caro de Florianópolis. 2014. 25 f. Trabalho de Conclusão de Curso - JORNALISMO UFSC, Florianópolis, 2014. 
MARTINS, César Augusto Ávila. Industria da pesca no Brasil: o uso do território por empresas de enlatamento de pescado. 241 f. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 2006.
MOREIRA, Ruy. Formação do espaço agrário brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990.
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática. 1980.
SILVA, Camila Rodrigues da. Ultimo rancho de pescadores artesanais de Jurere em Florianóplis é demolido. 31 out. 2015 In: Uol Noticiais. Disponível em <noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/10/31/ultimo-rancho-de-pescadores-de-jurere-em-florianopolis-e-demolido.htm>. Acesso em 09 out. 2017.
 
Sites
www.epagri.sc.gov.br, acesso em 04 out. 2017
www.guiafloripa.com.br, acesso em 04 out. 2017
www.pmf.sc.gov.br, acesso em 04 out. 2017
www.geografia7.com/pesca---tipos-e-impactos.html, acesso em 09 out. 2017

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