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MEI, ME, EPP, EIRELI e SLU Direito Empresarial I Professor: Antonio Gilberto de Moura A Burocracia é necessária? • Antes de verificar a necessidade ou não da burocracia é necessário defini-la e levantar possíveis vantagens e desvantagens que a mesma possa trazer para o desenvolvimento da sociedade. • Popularmente a burocracia é entendida como uma estruturação emperrada, comum nas instituições públicas e também verificada nas instituições privadas, que acaba por dificultar o uso lógico dos recursos produtivos. Por este aspecto a burocracia é algo a ser combatido a todo custo. • Mas burocracia foi um termo cunhado pelo sociólogo, cientista política e economista Max Weber (1864-1920) que a definiu como a estruturação formal de uma organização, permitindo racionalizar as atividades humanas para a realização de objetivos comuns no longo prazo. Nestes outros termos, mais do que útil a burocracia é necessária. 2 Teorias da Administração • Administração Científica Taylorismo): ênfase nas tarefas, buscava a racionalização do trabalho no nível operacional, ou seja, o foco era no empregado. • Teoria Burocrática (Weber): com ênfase na estrutura, buscava a racionalização organizacional e a organização formal (baseada em regras e normas). • Teoria Clássica (Fayol): também com ênfase na estrutura, contudo, o foco estava no gerente (visão de cima para baixo), defendendo o planejamento como uma das principais funções principais do administrador (profissionalização do papel do gerente). • Teoria das Relações Humanas: ênfase nas pessoas, defendendo um enfoque na organização informal, na comunicação, liderança, motivação e dinâmicas de grupo. • Teoria Estruturalista: ênfase tanto na estrutura como no ambiente. Abordagem plural que observa a organização, tanto no seu aspecto formal quanto informal, e também o ambiente e como a organização interage e aprende com ele. • Teoria Neoclássica: ênfase na estrutura, sustenta-se na prática da Administração, na reafirmação dos princípios da Teoria Clássica e gerais da Administração, porém de forma redimensionada. • Teoria Comportamental: ênfase nas pessoas (enfoque behavorista). Apresenta uma visão do comportamento inserido no contexto organizacional. • Teoria Contingencial: ênfase no ambiente e na tecnologia. Defende tanto que não há uma melhor maneira de organizar, como também que uma forma de organizar pode não ser eficaz da mesma forma em todas as situações. 3 Tipos de sociedades e autoridades segundo Weber • Tradicional: também chamada de feudal, ou patrimonial, em que a aceitação da autoridade se baseia na crença de que o que explica a legitimidade é a tradição e os costumes. Em suma, os subordinados aceitam como legítimas as ordens superiores que emanam dos costumes e hábitos tradicionais ou de fatos históricos imemoriais; • Carismática: em que a aceitação advém da lealdade e confiança nas qualidades normais de quem governa. Em presença de um líder ou chefe que personifique um carisma invulgar ou excepcional, qualquer subordinado aceitará a legitimidade da sua autoridade. • Racional-legal ou burocrática: em que a aceitação da autoridade se baseia na legalidade das leis e regulamentos. Esta autoridade pressupõe um tipo de dominação legal que vai buscar a sua legitimidade no caráter prescritivo e normativo da lei. 4 Características da burocracia • caráter legal das normas; • caráter formal das comunicações; • a impessoalidade no relacionamento; • a divisão do trabalho; • hierarquização de autoridade; • rotinas e procedimentos; • competência técnica e mérito; • especialização da administração; • profissionalização; • previsibilidade do funcionamento. 5 Crítica ao modelo burocrático • Enfoque na previsibilidade e estabilidade sem levar em consideração as alterações no cenário externo, a qualificação dos membros da organização e a tecnologia e seus avanços. Uma postura altamente técnica e mecanicista, com foco na estrutura e seu conjunto de cargos e funções em detrimento da análise do comportamento pessoal das pessoas. • Vantagens: consistência e eficiência • Desvantagens: excesso de rigidez e possível lentidão na execução dos processos. 6 Empreendedorismo e desburocratização no Brasil • Em 1979 inicia-se um processo de desburocratização no Brasil, sendo criado o Ministério da Desburocratização, sob comando do Ministro Hélio Beltrão. • Neste contexto surge leis como a Lei de Pequenas Causas (Lei 7.244/1984, que levou à Lei dos Juizados Especiais – Lei 9.099/1995) e também o primeiro Estatuto da Microempresa (Lei 7.256/1984), que trazia para os microempresários alguns benefícios tributários, administrativos, trabalhistas, previdenciários, creditícios e de desenvolvimento empresarial, e cuja vigência perdurou por quase uma década. • O art. 170 da CF/88 colocou como princípio da atividade econômica no seu inciso IX: “tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País”. • A CF/88 estabeleceu em seu art. 179 que “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei”. • Em 1994 foi editada a Lei 8.864/1994, que ficou conhecida como Estatuto de Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte que trouxe, como grande inovação, a criação da figura da empresa de pequeno porte, cujo intuito era tornar mais lento e gradual o caminho do pequeno empreendedor do regime jurídico-empresarial simplificado para o regime jurídico-empresarial geral. • Em 1996 foi editada a Lei 9.317/1996, que instituiu o SIMPLES, que concedeu a prerrogativa ao pequeno empreendedor optante na possibilidade de pagamento de diversos tributos mediante recolhimento único mensal. • Em 1999 a Lei 9.841/1999 revoga as leis anteriores instituindo o novo Estatuto da ME e EPP. • O Código Civil de 2002 colocou em seu art. 970 “a lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes”. • A EC 42/2003 (Reforma Tributária) determinou que a definição de tratamento favorecido e simplificado para as MEs e EPPs fosse feita por lei complementar (art. 146, III, d, da CF/88). • Assim, em 2006, foi editada a LC 123/2006, chamada de Lei Geral das Micro e pequenas empresas, que passou a ser o novo Estatuto da MEs e EPPs. 7 Normas gerais relativas ao tratamento diferenciado e favorecido na LC 123 • Art. 1º [...] especialmente no que se refere: I - à apuração e recolhimento dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante regime único de arrecadação, inclusive obrigações acessórias; II - ao cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive obrigações acessórias; III - ao acesso a crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas aquisições de bens e serviços pelos Poderes Públicos, à tecnologia, ao associativismo e às regras de inclusão. IV - ao cadastro nacional único de contribuintes a que se refere o inciso IV do parágrafo único do art. 146, in fine, da Constituição Federal. 8 Definições • A LC 123/2006 instituiu três figuras distintas no cenário jurídico brasileiro: 1. O pequeno empresário ou microempreendedor individual (MEI); 2. As microempresas (ME); 3. As empresas de pequeno porte (EPP). • O Estatuto traz: – “Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de EmpresasMercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00; e II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00.” – “Art. 68 - Considera-se pequeno empresário, para efeito de aplicação do disposto nos arts. 970 e 1.179 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), o empresário individual caracterizado como microempresa na forma desta Lei Complementar que aufira receita bruta anual até o limite previsto no § 1º do art. 18-A”. – “Art. 18-A [...] § 1o Para os efeitos desta Lei Complementar, considera-se MEI o empresário individual que se enquadre na definição do art. 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, ou o empreendedor que exerça as atividades de industrialização, comercialização e prestação de serviços no âmbito rural, que tenha auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 81.000,00, que seja optante pelo Simples Nacional e que não esteja impedido de optar pela sistemática prevista neste artigo.” 9 Distinção do MEI • O Microempreendedor Individual (MEI) se distingue do pequeno empreendedor e também da microempresa. Todo MEI é um pequeno empreendedor e também uma microempresa, mas nem todo pequeno empreendedor é um MEI e nem toda microempresa é um MEI: – Pode existir um pequeno empreendedor individual com receita bruta acima de R$81 mil; – Qualquer sociedade, empresária ou simples, mesmo com receita bruta abaixo de R$81 mil, não constitui um MEI. 10 Requisitos para o MEI • Pessoa natural; • Receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 81.000,00; • Optante pelo Simples Nacional; • Não impedido de ser MEI. Segundo o caput do art. 3º do Estatuto, podem ser enquadrados como MEI: – o empresário individual; – a EIRELI; – a sociedade empresária devidamente registrada no Registro de Empresas Mercantis; – a sociedade simples devidamente registrada no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. 11 Benefício tributário do MEI • Conforme caput do art. 18-A do Estatuto, o MEI pode optar pelo recolhimento dos impostos e contribuições abrangidos pelo Simples Nacional em valores fixos mensais, independentemente da receita bruta por ele auferida no mês. Na seguinte forma regulamentada pelo Comitê Gestor: a) R$ 45,65 a título de contribuição para a Seguridade Social, relativa à pessoa do empresário, na qualidade de contribuinte individual; b) R$ 1,00 caso seja contribuinte do ICMS; c) R$ 5,00 caso seja contribuinte do ISS; 12 Benefício escritural do MEI • O art. 1.179, § 2.º, do Código Civil isenta o MEI de qualquer obrigação escritural: “Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. [...] § 2 o É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o art. 970.” 13 Benefício do MEI quanto aos custos da abertura e funcionamento da empresa • O § 3.º do art. 4.º do Estatuto estabelece que, “ressalvado o disposto nesta Lei Complementar, ficam reduzidos a 0 (zero) todos os custos, inclusive prévios, relativos à abertura, à inscrição, ao registro, ao funcionamento, ao alvará, à licença, ao cadastro, às alterações e procedimentos de baixa e encerramento e aos demais itens relativos ao Microempreendedor Individual, incluindo os valores referentes a taxas, a emolumentos e a demais contribuições relativas aos órgãos de registro, de licenciamento, sindicais, de regulamentação, de anotação de responsabilidade técnica, de vistoria e de fiscalização do exercício de profissões regulamentadas” 14 Atividades Permitidas ao MEI • Resoluções do CGSN (Comitê Gestor do Simples Nacional) listam quais atividades que podem ser desenvolvidas pelo MEI. • Esta lista pode ser verificada no portal do empreendedor: https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt- br/empreendedor/quero-ser-mei/atividades-permitidas • O MEI pode contratar no máximo 1 empregado e não pode participar como sócio, administrador ou titular de outra empresa. 15 https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-br/empreendedor/quero-ser-mei/atividades-permitidas Ano-calendário X exercício contábil • Embora seja comum adotar-se o ano civil (1º de janeiro a 31 de dezembro) como exercício contábil das empresas, nada impede que outra referência seja adotada, o começo e o término do exercício são fixados no ato constitutivo da pessoa jurídica. Assim, por exemplo, pode-se estabelecer que o exercício inicia-se em 1º de abril e termina em 31 de março, quando se fará o inventário e o balanço patrimonial. O Estatuto, ao colocar ano-calendário, despreza os exercícios contábeis e se atém ao ano civil. Dessa forma, independentemente do exercício contábil estabelecido no estatuto, atentar-se-á ao período entre 1º de janeiro a 31 de dezembro (ano-calendário). • O Estatuto dispõe que “no caso de início de atividade no próprio ano-calendário, o limite a que se refere o caput deste artigo será proporcional ao número de meses em que a microempresa ou a empresa de pequeno porte houver exercido atividade, inclusive as frações de meses” (art. 3.º, § 2.º), 16 Pessoa Jurídica excluídas do regime da LC 123/2006 • O Estatuto, no seu art. 3.º, § 4.º, determina que não poderá se beneficiar do tratamento jurídico diferenciado a pessoa jurídica: I – de cujo capital participe outra pessoa jurídica; II – que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de pessoa jurídica com sede no exterior; III – de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como empresário ou seja sócia de outra empresa que receba tratamento jurídico diferenciado nos termos desta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; IV – cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de outra empresa não beneficiada por esta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; V – cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica com fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; VI – constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo; VII – que participe do capital de outra pessoa jurídica; VIII – que exerça atividade de banco comercial, de investimentos e de desenvolvimento, de caixa econômica, de sociedade de crédito, financiamento e investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou de distribuidora de títulos, valores mobiliários e câmbio, de empresa de arrendamento mercantil, de seguros privados e de capitalização ou de previdência complementar; IX – resultante ou remanescente de cisão ou qualquer outra forma de desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos 5 (cinco) anos-calendário anteriores; X – constituída sob a forma de sociedade por ações; XI – cujos titulares ou sócios guardem, cumulativamente, com o contratante do serviço, relação de pessoalidade, subordinação e habitualidade. • Ou seja, o intuito da Lei é realmente beneficiar somente os pequenos empreendimentos, já que as pessoas jurídicas listadas pressupõe um empreendimento mais organizado. 17 Gerenciamento das políticas de tratamento diferenciado 1) Comitê Gestor do SIMPLES NACIONAL, vinculado ao Ministério da Economia, composto por quatro representantes da Secretaria da Receita Federal do Brasil, como representantes da União, dois dos Estados e do Distrito Federal e dois dos municípios, para tratar dos aspectos tributários;2) Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, com a participação dos órgãos federais competentes e das entidades vinculadas ao setor; 3) Comitê para Gestão da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios, vinculado ao Ministério da Economia, composto por representantes da União, dos Estados e do Distrito Federal, dos Municípios e demais órgãos de apoio e de registro empresarial, na forma definida pelo Poder Executivo, para tratar do processo de registro e de legalização de empresários e de pessoas jurídicas. 18 Nome empresarial • O art. 72 do Estatuto (LC 123/2006) previa que as MEs e EPPs, nos termos da legislação civil, deveriam acrescentar à sua firma ou denominação as expressões “Microempresa” ou “Empresa de Pequeno Porte”, ou suas respectivas abreviações, “ME” ou “EPP”, conforme o caso, sendo facultativa a inclusão do objeto da sociedade. Mas este artigo foi revogado pela LC 155/2016 e, portanto, não podem mais ser utilizadas tais designações, sendo o nome empresarial formado conforme as regras gerais. 19 Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) • Na busca por limitar a responsabilidade do empreendedor e possibilitar o desenvolvimento da empresa por apenas uma pessoa, a Lei 12.441/2011 criou a figura da pessoa jurídica EIRELI (Empresa Individual de responsabilidade Limitada – inciso VI do art. 44 e art. 980-A do CC). A criação da EIRELI tinha como finalidade tentar acabar com a figura do “sócio fictício” na criação de Sociedades Limitadas, mas padeceu dos seguintes problemas: – O capital social deve ser inteiramente integralizado e ser de no mínimo 100 salários mínimos (caput do art. 980-A do CC); – A EIRELI deve ser composta por somente uma pessoa natural que seja titular da totalidade do capital social (caput e §2º do art. 980-A do CC); – A pessoa natural poderá figurar em apenas uma EIRELI (§2º do art. 980-A do CC); 20 Sociedade Limitada Unipessoal (SLU) • No intuito de resolver as amarras da EIRELI o artigo 7º, da Lei 13.874, de 2019, Lei da Liberdade Econômica, criou a figura da Sociedade Limitada Unipessoal (SLU), incluindo os parágrafos 1º e 2º, ao artigo 1052 do Código Civil. • O único sócio responde somente até o valor do capital social, que não tem valor mínimo e não necessita ser integralizado no momento da constituição da sociedade. 21
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