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Laís Sena – Medicina FTC 2020.2 Análogos do GLP-1 As incretinas são uma família de substâncias produzida pelo pâncreas e pelo intestino e regulam o metabolismo da glicose. São elas: a insulina, glucagon, amilina, GLP-1 (glucagon-like peptide-1) e GIP (glucose- dependent insulinotropic poplypeptide). O GLP-1 funciona como hormônio e o estímulo para a sua liberação pelo intestino é a alimentação. Ele age: No cérebro: para gerar a sensação de saciedade; Nas ilhotas pancreáticas a fim de estimular a biossíntese de insulina, a proliferação de células beta e reduzindo a apoptose de células beta. Esse efeito no pâncreas resulta em uma maior secreção de insulina e menor de glucagon. No fígado: diminuição da produção de glicose. No músculo: o armazenamento da glicose na forma de glicogênio. Há aumento de sensibilidade à insulina nos tecidos Após a liberação do GLP-1 na corrente sanguínea, ele passa por uma etapa de degradação regulada pela enzima DPP-4 (dipeptidil peptidase 4). Dessa forma, quanto mais essa enzima estiver ativa, menor será o efeito do GLP-1 no pâncreas. Os análogos do GLP-1, portanto, são estruturas similares em função ao GLP-1, usados como hipoglicemiantes exercendo as funções acima citadas. Os dois principais representantes desse tipo de medicamentos são: Exenetida: Aplicada por via subcutânea duas vezes ao dia; Liraglutida: Aplicada por via subcutânea apenas uma vez ao dia. Algumas observações sobre os análogos de GLP-1: (1). Usuários de insulina: os incretinomiméticos (fármacos que simulam a ação das incretinas) não substituem o uso de insulina. São utilizados em uso combinado, de forma que a dose de insulina usualmente diminui (de forma gradual para não ter um pico hiperglicêmico) quando há essa combinação. (2). Sulfoniureias: Quando usado em conjuntos com os análogos de GLP-1 é necessário reduzir a dose do hipoglicemiante oral para evitar crises hipoglicêmicas. (3). Efeito colateral: As náuseas são bastante comuns no início do tratamento e quando há aumento de dose. Acredita-se que esse efeito esteja relacionado com o retardo do esvaziamento gástrico (é uma forma de resposta a sensação de saciedade). Com o passar do tempo, a êmese passa a ser menos intensa e menos frequente. (4). Os incretinomimeticos podem alterar a dinâmica de absorção de outros medicamentos justamente por conta do retardo do esvaziamento gástrico (algumas substâncias são muito sensíveis ao pH estomacal e por isso se degradariam mais rápido ou o fármaco só é absorvido no intestino e assim sua absorção é retardada). Dessa forma, é interessante recomendar que o paciente tome o medicamento oral pelo menos 1 hora antes de aplicar a injeção. Sulfoniureias É uma classe cujo representantes principais são: Glibenclamida, Glicazida e Glimepirida, os quais são hipoglicemiantes das sulfoniureias de 2ª geração. Eles são até 100x Farmacologia Existe uma classe de hipoglicemiantes orais que inibe a DPP-4 Laís Sena – Medicina FTC 2020.2 mais potentes do que os da 1ª geração (que não são mais utilizados) e tem muito menos efeitos adversos. Os efeitos adversos dessa classe são, basicamente, a hipoglicemia. As sulfoniureias são secretagogos, isto é, estimulam a secreção da insulina. Isso ocorre através do bloqueio do canal de potássio pela molécula do fármaco, o que leva a uma despolarização das células beta pancreáticas e abrindo os canais de cálcio dependentes de voltagem gerando um influxo maior de cálcio e aumento da mobilidade vesicular promovendo maior liberação de insulina. A glibenclamida foi a primeira sulfoniureia de segunda geração e provoca cerca de 20- 30% de hipoglicemia. A glimepirida, por conta das modificações estruturais realizadas, conseguiu manter a efetividade reduzindo os eventos de hipoglicemia para apenas 2-4%. A absorção das sulfoniureias pelo TGI é prejudicada se o medicamento for administrado com algum alimento ou se o paciente estiver com hipoglicemia no momento da aplicação. Portanto, é importante, fazer essa observação para o paciente. Biguanidas Representada pela Metformina. É a droga de primeira escolha em pacientes com DM2, associada a exercícios físicos e mudanças de hábitos alimentares. É disponibilizada pelo SUS e sua ação é anti-hiperglicemiante. Ela pode ser utilizada isoladamente, para primeira escolha do tratamento, ou em associação com sulfoniureias e inibidores de DPP-4, entre outras classes. O mecanismo de atuação da metformina envolve a diminuição da produção hepática de glicose e o aumento da sensibilidade do músculo de glicose. Embora seja usada a muito tempo, ainda não se tem um consenso geral acerca de todos os efeitos hipoglicemiantes desse fármaco. A proteínocinase dependente de AMP é uma molécula que fosforila um mediador intracelular, o IRS1/2, o qual tem como funções: (1). Aumentar a translocação de GLUT-4; (2). Aumentar transcrição de genes celulares envolvidos na reserva energética; (3). Aumento da captação da glicose; (4). Aumento da síntese de glicogênio nos tecidos; As outras funções do AMPk incluem: (1). Redução da síntese lipídica; (2). Diminuição da gliconeogênese. A metformina, portanto, ativa a AMPk e por consequência toda a sequência de eventos que auxiliam a tirar a glicose sanguínea, resultando em seu efeito hipoglicemiante. Alguns estudos têm demonstrado que a metformina apresenta alguns efeitos anti- tumorais através da inibição da ativação de Molécula comum às sulfoniureias A sulfoniureia atuam mimetizando a ação do ATP, bloqueando a abertura do canal de K+/ATP Laís Sena – Medicina FTC 2020.2 um fator de transcrição, o mTORC1, pelo AMPk. O mTORC1 é importante na síntese proteica, crescimento e proliferação celular, que é tudo que uma célula tumoral pratica em excesso. Glitazonas ou tiazolidinedionas (TZD) As glitazonas têm esse nome porque seus representantes são nomeados com o sufixo glitazona, por exemplo a pioglitazona. A rosiglitazona atualmente não é mais comercializada (desde 2005), por causa de alguns efeitos adversos que ela causava. Essa classe tem potente ação hipoglicemiante e precisam da insulina para ser efetiva. As TZD não afetam a secreção de insulina, porém intensificam a ação dela nos tecidos alvos. Não se usa glitazona em paciente com DM1 ou em pacientes com DM2 em estágio avançado quando suas células pancreáticas já estão falhando, visto que esse medicamento apenas intensifica a ação da insulina e não estimula a produção da insulina pelas células beta pancreáticas. As TZDs têm o pico de absorção, pós administração, cerca de 2 horas, porém o efeito hipoglicemiante máximo só é observado entre 6-12 semanas. Porque o efeito máximo só ocorre entre 6-12 semanas? Porque os receptores celulares das TZDs são os receptores nucleares. Nesses receptores, é necessário transcrição gênica, transdução, formação ou inibição da formação de proteínas, para que o efeito celular comece a aparecer e para que essa redução ou aumento de expressão proteica tenha relevância farmacológica. Os TZDs conseguem acessar o núcleo e modificar a expressão de genes através da interação com o receptor PPARγ. Esses receptores são transmembranais, porém quando o TZD interage com eles há a translocação deles para o núcleo. Quando chega na região nuclear, ele se complexa com o receptor retinóide x e este complexo é capaz de ativar fatores de transcrição, os quais modulados pelo complexo TZD-PPAR- retinóide vai afetar a expressão de genes envolvidos no metabolismo lipídico e no de açucares. A consequência da expressão desses genes é: (1). Aumento da sensibilidade tecidual a insulina; (2). Aumento do transporte de glicose para os tecidos; (3). Redução da produção hepática de glicose; (4). Redução da síntese de lipídios. Inibidores de α-glicosidase A acarbose é a representante da classe. É um polímero de glicose modificada e funciona como antagonista da α- glicosidase. A α-glicosidase é uma enzima digestiva que cliva polissacarídeos em monossacarídeos, ou seja, seu substrato são moléculas parecidas com o açúcar. R E L E M B R A N D O O efeito celular de um fármaco que tem como receptor um canal iônico é rápido. Há a estimulação desse canal, seguido de influxo iônico e imediatamente o efeito aparece, ou ocorre o bloqueio o canal, há redução da saída de íons (gerando acúmulo) e o efeito aparece. O receptor metabotrópico, faz uso de segundos mensageiros, é mais rápido que o receptor nuclear, porém, é mais lento que o receptor iônico. Moléculas antagonistas costumam ser parecidas com a do substrato. Parece um oligossacarídeo Laís Sena – Medicina FTC 2020.2 A acarbose, portanto, é atraída para a α- glicosidase. Contuso, a enzima não sonsegue clivar essa substância, porque ela provoca modificações na α-glicosidase diferentes da que um polissacarídeo provoca. Essa alteração bloqueia a ação dessa enzima gerando redução da absorção intestinal de amido, dextrina e dissacarídeos. Desse modo, a acarbose retarda a absorção pós- prandial e deve ser administrada próximo da alimentação. Pode ser utilizada em pacientes com DM1 e DM2. Os efeitos causados são flatulência, diarreia e distensão abdominal, esses estão diretamente ligado ao mecanismo de ação do medicamento. Outro ponto importante é que esse fármaco, em pacientes que fazem uso apenas dele, raramente provoca hipoglicemia. Isso ocorre porque a acarbose não diminui os níveis glicêmicos de forma direta, ela apenas diminui a absorção. Se por acaso o paciente começar a ter uma redução da glicemia por uso de arcabose, o que vai acontecer endogenamente? Vai haver a liberação de glucagon e controle dos níveis glicêmicos, porque a arcabose não interfere nesse controle de liberação da glicose. O mecanismo de controle da glicose não vai estar modificado, apenas a oferta de glicose que vai ser absorvida. A arcabose gera emagrecimento? Em teoria, além de diminuir a absorção de carboidratos (o que por si só já induziria o paciente a reduzir o peso), a arcabose diminui o pico de insulina, o que seria o fator mais importante nesse emagrecimento. A insulina é anabólica, então quando você diminui os picos dela, diminui o mecanismo de formação de reserva nesse paciente. Contudo, um estudo publicado em 1997 demonstra que o uso a longo prazo da arcabose, resultou apenas em uma pequena redução de peso em pacientes com DM2, mas afirma que essa redução, provavelmente, não foi pelo uso do medicamento e sim pela mudança no estilo de vida. Gliptinas - Inibidores de DPP-4 As gliptinas são fármacos hipoglicemiantes que atuam inibindo competitivamente a enzima DPP-4 (dipeptidil peptidase 4), a qual é a responsável por clivar a GLP-1. A GLP-1, como dito antes, é o hormônio que auxilia na captação de glicose, na síntese e na secreção de insulina, entre outras coisas. Dessa forma, se houver redução do efeito da DPP-4, o efeito da GLP-1 vai ser otimizado. Pode ser usada em pacientes com DM1 e DM2. As gliptinas podem ser usadas em monoterapia, associada com outros hipoglicemiantes orais ou com a insulina. É importante salientar que se for usada em pacientes com DM1 autoimune, o medicamento pode até retardar o processo de falência, mas não evitar, porque o sistema imune será mais forte. Laís Sena – Medicina FTC 2020.2 Alguns pontos devem ser levados em consideração durante o processo de escolha: (1). O estado geral do paciente e as comorbidades presentes (complicações do diabetes ou outras complicações que não são necessariamente da hiperglicemia descontrolada); (2). Os valores da glicemia em jejum, pós- prandial e da HbA1c: demonstram se o esquema terapêutico está sendo efetivo ou não); (3). O peso e a idade do paciente: Pacientes DM2 obesos que não conseguem modificar os hábitos de vida, a intervenção tende a ser mais agressiva com uma combinação maior de hipoglicemiantes, entrada de análogos de GLP-1 via subcutânea, a entrada da insulinoterapia. No quesito idade, sabe-se que pacientes idosos tendem a ter mais complicações. (4). Interações medicamentosas, reações adversas e contraindicações: Analisar sempre a relação custo-benefício na utilização dos fármacos. Com relação a escolha do medicamento: (1). Mudança no estilo de vida associado com metformina: No paciente com DM2 apenas a monoterapia com metformina dificilmente funciona, aumentando a probabilidade desse paciente evoluir para complicações pela DM e falência pancreática. (2). Manifestações leves sem doença associada: Não usar secretagogos. A recomendação é que não se use hipoglicemiantes orais que estimulem a produção de insulina, porque nesse momento o paciente está com altos níveis de insulina no sangue e seu pâncreas já está sobrecarregado. A ideia inicial é aliviar o trabalho do pâncreas aumentando a sensibilidade dos tecidos, estimulando a captação da glicose. (3). Manifestações moderadas: metformina e outro hipoglicemiante (depende da função pancreática e da resistência à insulina). O paciente já tem algumas manifestações clínicas que chamam a atenção. O médico escolhe se vai usar o secretagogo ou não. (4). Manifestações graves: associar insulina.
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