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Atividade 1 
CARNE x PRODUÇÃO EM MASSA
O que o consumo da carne tem a ver com as linhas de montagem de produção em massa? As linhas de montagem foram uma ideia de Henry Ford. Elas permitiram a produção em massa de automóveis e logo foram copiadas para outras indústrias, tanto de bens como de serviços. A difusão do conceito das linhas de montagem permitiu a existência da sociedade de consumo em massa como a conhecemos hoje. O que pouco se comenta é o fato de que Henry Ford teve a ideia da linha de montagem ao visitar uma espécie de linha de "desmontagem". Explicando melhor: segundo consta em sua autobiografia "My Life and Work" (1922), Henry Ford teve essa ideia ao visitar um matadouro em Chicago. 
As linhas de desmontagem dos matadouros e frigoríficos foram inventadas por Gustavus Swift e Philip Armour, de acordo com o livro "Work and Community in the Jungle: Chicago's Packinghouse Workers 1894-1922". Swift e Armour foram os verdadeiros pioneiros da produção em massa. Nesses frigoríficos, os animais eram suspensos de cabeça para baixo por uma corrente que corria presa a uma calha, passando de um funcionário para o outro. Cada funcionário executava uma tarefa específica no desmembramento da carcaça (atordoamento, corte da cabeça, sangramento, escaldamento, retirada do couro, corte dos membros, remoção das vísceras, lavagem, serração etc.). 
Ford percebeu a eficiência deste procedimento e reverteu o processo de desmontagem (fragmentação de um animal), criando a linha de produção móvel. Por meio dela, uma carcaça de automóvel passaria de funcionário a funcionário, sendo uma ou mais peças integradas em cada etapa, até se obter o produto final. O que talvez não tenha ocorrido ao Ford, ou quem sabe ele simplesmente não deu muita importância ao fato, é que, ao passo que os animais eram desmontados, por meio daquele processo, o mesmo acontecia com o ser humano que dele participava. Uma das coisas básicas que deve acontecer em um frigorífico (linha de desmontagem) é tratar o animal como um objeto inerte e inconsciente. Da mesma forma, o empregado da linha de desmontagem ou montagem é tratado como um objeto inconsciente, cujas necessidades emocionais e criativas são ignoradas. 
A introdução da linha de montagem teve um efeito rápido e perturbador nas pessoas. A padronização do trabalho e a divisão de tarefas na elaboração do produto final se tornaram fundamentais à produção. O resultado foi um aumento na alienação dos trabalhadores em relação ao produto que produziam. Essa automação do trabalho humano tolheu das pessoas o senso de realização. Para as pessoas que trabalham em frigoríficos, a aniquilação do ser é dupla: não apenas elas têm que se conformar em executar a mesma operação tediosa por horas a fio, como também têm que enxergar o animal como "carne", coisa que a sociedade já faz, mas com a diferença que esses funcionários veem o animal vivo e por inteiro, pelo menos nos estágios iniciais do processo. Esses funcionários têm toda a probabilidade de se alienarem de seus próprios corpos, à medida que precisam isolar a imagem da carne da imagem do corpo do animal vivo, o qual é parecido com o corpo humano, em muitos aspectos. Isso pode ser um dos motivos pelos quais a rotatividade de emprego é grande entre os trabalhadores de frigoríficos. 
Henry Ford transformou o trabalho humano, introduzindo a noção de produtividade ao processo, mas retirando dos empregados a sensação de estarem sendo produtivos. Ao invés de serem considerados como seres humanos integrais, os funcionários passaram a ser considerados um acessório do processo produtivo, responsáveis por uma tarefa, função ou especialidade isolada. Tudo o que se deseja dos funcionários em uma empresa é o lucro que se possa obter deles, assim como tudo que se deseja de um animal no matadouro é o lucro que se possa obter de sua carne. O que os funcionários pensam, sentem ou sofrem não é levado em conta, da mesma forma que o que os animais sentem e sofrem também não é considerado.
 A metáfora acaba ficando evidente quando as pessoas usam certas expressões para comunicar o cotidiano das relações entre empresa e empregados. O "corte de cabeças" é usado para designar a eliminação de postos de trabalho. A expressão "tirar o meu couro" é usada para explicar o trabalho desgastante. Outros preferem dizer "tirar o meu sangue". Muitas pessoas reclamam: "o chefe está no meu pescoço". Recrutadores são chamados de "headhunters". As baias ou cubículos dos escritórios imitam as cocheiras das fazendas-fábrica de criação intensiva, onde os seres são privados de contato entre si e com o mundo exterior. O ciclo se fecha. O matadouro se torna um símbolo da “desumanização” dos trabalhadores, que é consequência de um sistema produtivo derivado dos matadouros. Por trás disso tudo, está o vício pelo qual um ser humano encara todas as coisas - natureza, seres sensíveis como os animais e seres criativos e inteligentes como os humanos - como meros objetos para o seu abuso egocêntrico. 
Texto de autor desconhecido, baseado em The Sexual Politicas of Meat: A Feminist-Vegetarian Critical Theory, de Carol J. Adams, disponível em: http://www.portalverde.com.br/alimentacao/carne/carne.txt. Acesso em 23.05.2006. 
PERGUNTAS:
1. Será que foi uma vantagem a difusão do conceito das linhas de montagem ao permitir a existência da sociedade de consumo em massa que conhecemos hoje?
2. É possível perceber alguma vantagem para a sociedade (em todos os tempos) trazida pelas linhas de desmontagem dos matadouros?
3. É possível enxergar alguma vantagem para a sociedade no processo criado pelo Ford “linha de produção móvel”? E diante desse processo existe alguma vantagem em ser tratado como um objeto inconsciente?
4. É possível perceber alguma vantagem na padronização do trabalho e na divisão de tarefas na elaboração do produto final? E ainda com relação a esse processo, existe alguma vantagem no que se refere a anulação da personalidade individual “alienação” por tolher das pessoas o senso de realização?
5. É possível perceber alguma vantagem quando o Ford transforma o trabalho humano, introduzindo a noção de produtividade no processo, mas retira destes a sensação de estarem sendo produtivos? 
6. É possível enxergar alguma vantagem em considerado as pessoas como apenas um acessório do processo produtivo (o que pensam, sentem ou sofrem não é levado em conta, parecido com o que sentem e sofrem os animais) visando apenas o lucro das operações?
7. Você concorda com o autor do texto? Justifique sua resposta.
8. O que você faria para reverter esta situação em uma organização? 
9. Faça uma pesquisa na Internet, procurando por termos como “empowerment”, “rotação de tarefas”, “enriquecimento do trabalho”, “alargamento do trabalho” etc. Você acredita que essas técnicas ou processos, utilizados nas organizações modernas para evitar a “robotização” dos trabalhadores, são eficazes? Justifique sua resposta.
OBS. PODERÁ SER REALIZADA EM DUPLA E ENTREGUE ATÉ 31/03/2021.

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