Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA II | ENDOCRINOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Patologias Hipofisárias Anatomia: localizada na base do crânio, na sela túrcica, tem uma íntima relação com o quiasma óptico, seio cavernoso e seio esfenoidal (nervos e pares cranianos, artéria carótida…). Eixo hipotálamo-hipofisário: Hipotálamo: - Hormônios liberadores (-RH) e inibidores (-IH) - TRH, CRH, Somastatina (GHIH), GnRH, Dopamina (PIH) - Núcleo paraventricular e núcleo supra-óptico: ocitocina e arginina-vasopressina Hipófise: sinaliza, após a ação do hipotálamo, para múltiplos alvos. - Adenohipófise: TSH, ACTH, GH, FSH, LH, prolactina - Neurohipófise: OCT e AVP (ADH Hormônios: ADENOHIPÓFISE ACTH - Hormônio Adrenocorticotrófico: estimula o córtex da suprarrenal → responsável pela produção do cortisol, aldosterona e androgênios. - CRH: secreção em ciclo circadiano → liberação às 8 da manhã, que então estimula o ACTH e consequentemente, a produção de cortisol. TSH - Tireotropina: estímulo trófico à glândula e também estimula todas as etapas da síntese dos hormônios tireoidianos (captação de iodo, síntese de tireoglobulina, organificação…) FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA II | ENDOCRINOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A GH - Hormônio do Crescimento: estimula o crescimento linear (ossos), de massa muscular, cartilagens… No fígado estimula a liberação da IGF-1 (fator de crescimento semelhante a insulina). Também diminui a sensibilidade a insulina, aumenta a lipólise e a síntese proteica. Prolactina: hormônio que estimula a lactação, e seu excesso leva a galactorréia e o hipogonadismo e infertilidade. Sua secreção é inibida pela dopamina (muito fortemente) e estimulada pelo TRH (fracamente). - Muitas vezes, por compressão da haste, por exemplo, há baixa no estimulo da dopamina na hipófise, aumentando a liberação e secreção da prolactina. Gonadotrofinas: LH e FSH: - Homens: - LH: estimula produção de testosterona - FSH: estimula crescimento testicular - LH/FSH: ambos estimulam a espermatogênese. - LH estimula as células de Leydig a produzirem testosterona, desenvolvendo os caracteres sexuais primários e secundários - FSH (e a testosterona indiretamente) estimula as células de Sertoli - Mulheres: - FSH: estimula o desenvolvimento do folículo - LH: estimula a produção de estrógeno/progesterona; estimula a ovulação NEUROHIPÓFISE Ocitocina: age na contração uterina durante o parto (usado na indução) e estimula a ejeção de leite Arginina Vasopressina (AVP/ADH): nos rins agem sobre os túbulos distais e coletores estimulando a reabsorção de água livre (através das aquaporinas). Agem também na osmorregulação e na regulação do volume de fluido extracelular. Avaliação e Diagnóstico das Massas Selares Adenomas Hipofisários (90%) - Incidentalomas: achados por acidente, devido ao maior acesso aos exames de imagem - Microadenoma <10mm - Macroadenoma >10mm - Outros: craniofaringioma, gliomas, linfomas, cisto de bolsa de Rathke… - Tumores malignos são raros nesta região Sintomatologia: Efeito de massa: - Suprasselar (para cima) → compressão do quiasma óptico, gerando hemianopsia bitemporal → não enxerga os campos temporais de ambos os olhos. - Parasselar (para o lado)→ invasão do seio cavernoso comprimindo pares cranianos - III (oculomotor): ptose palpebral - V (trigêmeo): dor trigeminal → muito raro - VI (abducente): diplopia Alterações Hormonais: - Deficiências hormonais: nessa ordem = GH (nanismo) → gonadotrofinas → TSH → ACTH - Hipersecreção hormonal - Adenomas hipersecretores: adenomegalia, doença de cushing - Lesão/compressão de haste: hiperprolactinemia (também pode ser causada por prolactinoma) FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA II | ENDOCRINOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Exames complementares: importante saber se a massa selar é funcionante ou não, ou seja, secreta hormônio ou não. LABORATORIAL: Microadenomas (<10mm): - Não é necessário avaliar hipopituitarismo - Avaliar prolactina: pode secretar prolactina - Avaliar Cushing ou Acromegalia: se sinais ou sintomas sugestivos Macroadenomas (>10mm): - Avaliar: prolactina (prolactinoma/compressão da haste), TSH/T4L, ACTH/Cortisol, FSH/LH, Estrógeno, Testosterona, IGF-1 - OBS: TSH biologicamente inativo é comum no hipotireoidismo central e pode estar baixo, normal ou elevado (incluir T4 sempre para fazer diagnóstico diferencial) - Hipercortisolismo: se há cortisol elevado deve-se repetir e adicionar ACTH - ou: cortisol pós dexametasona (inibe a secreção), cortisol livre (salivar, urinário - U24h) - IGF-1 elevado: GH basal e pós estímulo IMAGEM: A ressonância magnética é a melhor técnica para avaliação da região selar, usando o contraste paramagnético gadolínio. - Adenomas: tem sinal menor que o restante do parênquima em T1 (mais branca e brilhante). Os microadenomas são bem evidenciáveis em até 85% dos casos. - Limitações: claustrofobia, implantes metálicos e insuficiência renal (há maior risco de fibrose sistêmica nefrogênica causada pelo contraste) A tomografia computadorizada deve ser utilizada apenas se a RM não for possível Hiperprolactinemia: é a alteração mais comum do eixo hipotálamo-hipofisário e tem predomínio no sexo feminino, em mulheres entre 25-34 anos a incidência anual é de 24/100000. Suas causas são: Fisiológica: gravidez, amamentação, estresse, manipulação da mama (estímulo aréola e mamilo), exercícios intensos Farmacológica: causa mais frequente → fazer inventário dos medicamentos | não há uma mudança significativa, tirando quando Risperidona Patológica: prolactinomas, compressão da haste, tumores hipotalâmicos Outros: lesões da parede torácica, crise convulsiva, cirrose hepática, hipotireoidismo, doença de Addison. Etiologia da hiperprolactinemia no laboratório: - 500ng/mL: provável macroprolactinoma - 250ng/mL: sugestivo de prolactinoma - 100 a 200ng/mL: microprolactinoma - <100ng/mL: sugere pseudoprolactinoma (compressão da haste hipofisária) FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA II | ENDOCRINOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Quadro Clínico: Galactorréia: ⅓ das mulheres acometidas tem galactorréia idiopática, ou seja, sem aumento da prolactina Hipogonadismo Hipogonadotrófico: baixo funcionamento das gônadas por inibição da secreção de GnRH - Redução de FSH e LH → redução de estrógeno e progesterona → amenorréia, infertilidade, redução da libido, dispareunia (por ressecamento), impotência OBS: Macroprolactinomas: - Extensão infrasselar: rinorréio liquórica → lesar o assoalho da sela túrcica - Extensão suprasselar: compressão de quiasma óptico Avaliação: - Exames: B-HCG, Prolactina, TSH (investigar hipertireoidismo primário), IGF-1 (30-40% dos tumores secretores de GH também secretam prolactina), ACTH, LH, FSH (saber se há comprometimento de algum eixo) - Investigar uso de drogas ilícitas (maconha e cocaína) - Avaliar uso de fármacos implicados - Avaliar insuficiência renal (reduz o clearance da PRL), cirrose hepática, lesões da parede torácica (queimaduras, herpes zoster), piercing mamário - Macroprolactina: forma de alto peso molecular e com baixa bioatividade (paciente com hiperprolactinemia, mas assintomático) - Avaliar: exercício extenuante, estresse físico ou emocional, refeições hiperproteicas → leva a estimulo hipotalâmico que estimulam a produção de prolactina - RNM: recomendada se PRL > 100 ng/mL (300 se em uso de Risperidona - simula macroadenoma) Tratamento: Terapia medicamentosa com agonistas dopaminérgicos: é o tratamento de primeira linha uma vez que a dopamina faz a inibição da síntese e secreção da Prolactina reduza a massa tumoral em 70% dos casos, pode levar até 3 anos. Efeitos adversos: - BCP > CAB - Náusea, vômitos, cefaléia, tonturas, alteração de humor → dar medicamento à noite e com alimentos gera menos efeitos indesejáveis - BCP: iniciar com 1,25 mg MID - CAB: insuficiência de válvulas cardíacas: raros nas doses recomendadas - Interrupção das drogas: a taxa derecidiva entre 10 a 40% em diversos estudos Tratamento Cirúrgico: cirurgia transesfenoidal FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA II | ENDOCRINOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Acromegalia: decorrente da produção excessiva de GH na fase adulta → aumento de IGF-1 - Receptor do GH tem predomínio no fígado e em cartilagens → crescimento acentuado em áreas como orelhas, nariz... - Feições grosseiras, crescimento de extremidades e órgãos - Elevada mortalidade: redução de 10 anos na expectativa de vida → organomegalias Epidemiologia: doença rara, com incidência anual (europa) de 3 a 4 novos casos por milhão, e no Brasil há cerca de 1000 casos. A hipersecreção de GH na adolescência leva ao gigantismo (ainda há placas de crescimento nos ossos longos), enquanto na vida adulta leva à acromegalia. Etiologia: a maioria absoluta decorre de adenomas hipofisários (98%). - 80% macroadenomas - 30-40% tumores também secretam prolactina - Acromegalia familiar: isolada, parte de NEM tipo 1 → síndromes com vários tumores endócrinos - Complexo de Carney: autossômico dominante → mixomas, manchas cutâneas, tumores adrenais, testiculares e hipofisários (dos quais 21% são somatotropinomas - secretam GH) - Síndrome de McCune-Albright: displasia fibrosa poliostótica, manchas café com leite, endocrinopatias hiperfuncionantes (nem sempre acromegalia). Manifestações Clínicas: - Aumento de extremidades como mãos e pés - Modificações da fisionomia: alargamento do nariz, aumento dos lábios, crescimento da mandíbula com prognatismo, proeminência frontal e zigomática. - Visceromegalias: língua, fígado, coração, baço, rins, tireóide - Cardiomegalia com Hipertrofia de VE → ICC + aumento de mortalidade Diagnóstico: - O GH basal tem limitações (não é muito comum dosar): tem secreção pulsátil, ou seja, pessoas normais podem ter picos de GH e acromegálicos podem ter valores normais. Além disso, altos níveis de GH podem ser encontrados em outras patologias. - GH ao acaso <0,4 mcg/L + IGF-1 normal para a idade exclui a possibilidade de acromegalia - GH no teste oral de tolerância à Glicose: mesmo exame utilizado para diabetes → 75g de glicose anidra com dosagem de GH de 30 em 30 minutos por 2h (PADRÃO OURO). Em indivíduos saudáveis há a supressão do GH para < 0,4 mcg/L. - Se GH e IGF-1 estão indubitavelmente elevados, não é necessário realizar esse exame - Critério de Exclusão: GH < 0,4 mcg/L + IGF-1 normal para a idade - Critério de Confirmação: GH > 0,4 mcg/L + IGF-1 aumentado Tratamento: - Cirurgia Transesfenoidal: Possibilidade de ressecção total do tumor, e melhores resultados quando o GH < 20 mcg/L , ou seja, em tumores menores. Promove cura em 91% dos microadenomas e as complicações são raras com cirurgiões experientes, mas pode ocorrer: rinoliquorreia, meningite, sinusite, diabetes insipidus transitório ou permanente, pan-hipopituitarismo e recidiva tumoral - Tratamento Medicamentoso: - Análogos de Somatostatina: Octreotide, Lanreotide → redução do GH/IGF, e redução tumoral em 50% dos casos FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA II | ENDOCRINOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A - Agonistas Dopaminérgicos: BCP, CAB → efeito paradoxal ainda não explicado (inibem a secreção de GH na acromegalia) - Antagonista do Receptor de GH: Pegvisomanto → bloqueia a síntese de IGF-1. Não reduz massa tumoral, tem uso restrito à alguns casos e é muito caro. - Radioterapia: utilizada no caso de insucesso com a CTE ou fármacos e tem resultado a longo prazo (anos) Diabetes Insipidus: Característica: excreção de volume excessivo de urina diluída, em adultos mais que 3 litros por dia ou 40ml/kg/dia e crianças mais de 100ml/kg/dia - Osmolaridade Urinária (Uosm) <300mOsm/L (poliúria hipotônica) - Se a deficiência é na síntese do hormônio o diabetes insipidus é classificado como neurogênico, se o problema é na diminuição da sensibilidade renal, o DI é classificado como nefrogênico. - Excessiva degradação na gravidez → vasopressinase placentário = raro Arginina-Vasopressina (Hormônio Antidiurético): É sintetizado no hipotálamo e carreado a neuro-hipófise pela neurofisina 2. Tem como o estímulo para secreção o aumento da osmolalidade plasmática (VN = 285-295mOsm/kg). - Equilíbrio: entrada de água (sede) x excreção renal de água (AVP) - Age nos receptores V1 (contração do músculo liso vascular),V2 ( nos rins, aumento da permeabilidade dos ductos coletores através das aquaporinas) e V3 (na hipófise, liberação do ACTH potencializando os efeitos do CRH) Sintomas: poliúria, polidipsia, nictúria, hiperosmolaridade plasmática (se o acesso a água for interrompido) Comumente ocorre pós cirurgia transesfenoidal (ou TCE grave) - Trifásico: DI → antidiurese (7 e 12 dia pós lesão craniana grave) → DI ( transitório ou permanente) Laboratório: - Urina diluída: Uosm <300mOsm/Kg ou Den <1010 - Osm Plasmática normal ou aumentada, com Na normal ou aumentado - Ácido úrico elevado → alguns receptores de vasopressina aumentam a retenção de ácido úrico Avaliação radiológica: na ressonância magnética avalia-se lesões ou tumores hipotalâmicos ou hipofisários, apertado sinal hiperintenso da neuro-hipófise em 80% dos casos Diagnóstico: - Deve-se excluir a polidipsia primária, que é um distúrbio psiquiátrico em que a alta ingestão hídrica intencional sem nictúria. Na e Posm elevados com ingesta hídrica e restrita exclui PP - AVP plasmática basal e resposta ao DDAVP ( desmopressina) - AVP basal baixa + Uosm 1 ou 2h pós DDAV > 50% do basal: DI central - AVP basal elevada + ausência de resposta ao DDAVP: DI nefrogênico - Teste de privação hídrica: O paciente interrompe a ingestão de líquidos as 20 horas e a partir das 8 horas do dia seguinte são feitas dosagens a cada hora de Uosm, Na sérico e Posm. o paciente é pesado após a eliminação de cada litro de urina. o sami deve ser interrompido que a perda ponderal for maior de 3%, se houver estabilização da Uosm em duas amostras consecutivas, Posm >360mOsm kg ou Na >150mEq/L - Após o teste deve ser dosado AVP, dar DDAVP, 40mcg nasal, liberar líquidos e medir Uosm horária (por 7 horas). Observação: Posm = 2x{(NA+K)} + glicemia/18 FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA II | ENDOCRINOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Tratamento: - DI Central: DDAVP → desmopressiva (análogo de AVP com menor efeito pressor) e Spray Nasal 10mcg por puff (também disponível VO e EV) - DI Nefrogênico: - Diuréticos tiazídicos: natriurese primária → concentração do volume extracelular → diminuição da filtração glomerular → aumento da reabsorção de água e sódio no túbulo proximal. É necessário uma dieta hipossódica. SIADH: Síndrome de secreção inapropriada do ADH: excesso de produção de vasopressina com retenção hídrica e hiponatremia. Pode ser causada por neoplasias como CA pulmonar de pequenas células, distúrbio do sistema nervoso central (neoplasias, hemorragia subaracnóidea, TCE, meningite) ou medicamentos (causa mais frequente - carbamazepina, desmopressina, nicotina, oxitocinas, opióides, tricíclicos, omeprazol...). - Diagnóstico: - Na <135mEq/L - Na (u) > 100mEq/L - Posm <275mOsm/Kg - Ac úrico <4mg/dL (efeito do ADH) - Deve-se excluir doenças causadoras de hiponatremia (tireóide, adrenal, rim, diuréticos) - Ganho de peso: retenção hídrica - Ou seja, sempre pensar nessa patologia em pacientes com hiponatremia, Osm (u) e Na(u) aumentados e HipoPosm e sem hipotensão (vasoconstrição do ADH) - Tratamento: deve ser eliminar a causa básica e restringir a ingestão de líquidos. - Furosemida: monitorizar Na - Uréia: aumenta a osmolaridade - Deve-se aumentar a excreção de H20 - Demeclociclina → inibe a ação do adh nos túbulos - Antagonistas do receptor de ADH: conivaptan, tolvaptan, satavaptan
Compartilhar