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Curso Operações de manutenção da paz e policiamento internacional - Módulo 1 
SENASP/MJ - Última atualização em 03/05/2010 
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Curso Operações de manutenção da paz e 
policiamento internacional 
Créditos: 
 
Eduarda Hamann é advogada e Doutora em Relações Internacionais pela PUC-Rio, com 
especialização em política e segurança internacionais. Presta consultoria sobre operações de paz e 
sobre o Sistema das Nações Unidas para os projetos do Viva Rio no Haiti. 
 
Fabiano Dias Monteiro é Mestre em Sociologia e candidato ao título de Doutor em Ciências 
Humanas pelo PPGSA/UFRJ. 
 
Jana Tabak é jornalista, Mestre e candidata ao título de Doutor em Relações Internacionais pela PUC-
Rio, com interesse em segurança internacional e questões relativas a "Operações de Paz". 
 
Vinicius Ribeiro é graduado em Relações Internacionais pela PUC-Rio, com interesse em "Operações 
de Paz" e em "Juventude e Violência Armada". 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Apresentação 
 
O Brasil participa de missões internacionais desde a primeira vez em que a ONU 
decidiu enviar observadores militares e tropas para o território de outros países (em 
1948). Na década de 1990, as missões da ONU aumentaram em número e têm seus 
objetivos em muito ampliados – desde então, a América Latina se destaca como “sub-
região” que busca responder aos novos desafios. 
 
Quando países latino-americanos enviam tropas ou policiais para missões da ONU, têm 
preferência por participar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti 
(MINUSTAH - http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/minustah/ ), por 
razões geopolíticas: dos 6.093 militares latino-americanos que participam das 15 
missões da ONU, 4.107 fazem parte da MINUSTAH (67,4% da missão) (dados de 
dezembro de 2009). A MINUSTAH também é relevante quando se envia policiais - dos 
170 policiais latino-americanos atualmente envolvidos com as missões da ONU, 83 
oficiais (quase metade) estão em uma única missão, a MINUSTAH (dados de dezembro 
de 2009). 
 
Apesar da expressiva participação de tropas latino-americanas na MINUSTAH, o 
mesmo não acontece com policiais: os 83 latino-americanos da MINUSTAH 
correspondem a apenas 4% dos 2.066 oficiais que integram o quadro de policiais da 
missão. O Brasil tem apenas 3 policiais nesta missão, de um total de 12 que hoje 
integram as missões da ONU (3 no Sudão e 6 no Timor Leste). 
 
Tendo isso em vista, o presente curso, oferecido pelo Viva Rio em parceria com a 
Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), tem o objetivo de ser o 
primeiro curso fundamental sobre operações de paz e policiamento internacional 
integralmente em português, e aberto tanto para civis como para policiais (civis, 
militares, federais e rodoviários, bem como os bombeiros) que não necessariamente 
venham a ser selecionados pelo governo para participar de missões. Busca-se, portanto, 
atender à crescente demanda por informação qualificada sobre o maior envolvimento do 
Brasil nas relações internacionais, gerando maior engajamento de grupos da sociedade 
brasileira nos debates que envolvam as operações de paz. 
 
 
Haiti 
Fonte: http://pt.wikipedia.org 
 
 
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Ao final deste curso, você deverá ser capaz de: 
 
♦ Compreender as dinâmicas e identificar os principais atores dos conflitos 
armados contemporâneos; 
 
♦ Analisar os principais pontos do Sistema das Nações Unidas, com destaque 
para o funcionamento do Secretariado, da Assembléia Geral e do Conselho 
de Segurança em suas tarefas relacionadas às missões de manutenção da paz, 
assim como o histórico, princípios e estrutura das missões de paz da ONU, tanto 
nos primórdios como em suas tarefas do pós-Guerra Fria; 
 
♦ Enumerar as características das missões de manutenção da paz 
multidimensionais, bem como os limites e as oportunidades de cooperação entre 
os diferentes atores no terreno (militares, policiais e civis); 
 
♦ Reconhecer a importância dos Direitos Humanos e Direito Internacional 
Humanitário, aplicados ao contexto de uma missão de paz, assim como noções 
sobre relações de gênero e proteção às crianças; 
 
♦ Ampliar o conhecimento a partir de temas relacionados à prática do 
policiamento internacional, como resolução pacífica de conflitos, policiamento 
comunitário, controle de multidões, etc. 
 
♦ Compreender a dinâmica política interna do Haiti e a estrutura da MINUSTAH 
no passado, no presente bem como as principais tendências para o futuro. 
 
 
Este curso está dividido nos seguintes módulos: 
 
Módulo 1 – Operações de Manutenção de Paz 
 
Módulo 2 – Os Temas Transversais de Operações de Paz Multidimensionais 
 
Módulo 3 – Policiamento Internacional 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Módulo 1 
Operações de Manutenção da Paz 
 
Apresentação 
 
Este trecho do Samba-Enredo da Portela, de 2005, expressa bem os propósitos e 
princípios da Organização das Nações Unidas. 
 
“Um mundo sem fome 
 Sem dor e sem guerra 
 Quem viver verá 
 O manto da paz cobrindo a terra 
 O que há de ser será.” 
(Samba – Enredo da Portela/ 2005) 
 
Mas, por que para um mundo em paz, ainda são necessárias várias ações? 
 
Algumas das pistas que respondem esta pergunta residem no contexto histórico e 
político. Por isto neste módulo você irá estudar este contexto, bem como as operações 
de manutenção da Paz, estratégia para superar os limites e desafios do mundo em que 
vivemos. 
 
 
Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de: 
 
♦ Contextualizar-se a partir dos principais pontos da Política Internacional no Pós-
Guerra Fria; 
 
♦ Compreender os conceitos e modelos aplicados no caso Haiti para Resolução de 
Conflitos e Peacebuilding; 
 
♦ Analisar os principais pontos do Sistema das Nações Unidas; 
 
♦ Reconhecer a importância das operações multidimensionais e os desafios da 
MINUSTAH (http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/minustah/); 
 
♦ Identificar os principais atores no terreno. 
 
 
 
 
 
 
http://www.un.org/en/peacekeeping/missions/minustah/�
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O conteúdo deste módulo está dividido em 5 aulas: 
 
Aula 1 - Política Internacional no pós- Guerra Fria 
 
Aula 2 - Resolução de conflitos e peacebuilding: conceitos e modelos aplicados ao caso 
do Haiti 
 
Aula 3 - Sistema das Nações Unidas 
 
Aula 4 - Operações multidimensionais e os desafios da MINUSTAH 
 
Aula 5 - Os principais atores no terreno 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 1 
Política Internacional no Pós-Guerra Fria 
 
 
 
 
Esta aula tem por objetivo explorar as dinâmicas da política internacional dos 
últimos 20 anos, de modo a auxiliar a compreensão do contexto onde se inserem as 
operações de manutenção da paz e as necessidades/dificuldades para policiamento 
internacional nesse tipo de missão. 
 
Assim, você estudará os elementos referentes ao fim da Guerra Fria e suas 
conseqüências para a política e para a segurança internacionais, com destaque às 
principais tendências da década de 1990 e do início do século XXI. 
 
Terá a oportunidade de exercitar a reflexão sobre as novas ameaças e o otimismo do 
imediato pós-Guerra Fria, e os reflexos que isso tem sobre a estrutura de segurança da 
ONU, principalmente, no que se referem às operações de manutenção de paz aprovadas 
pelo Conselho de Segurança,dando ênfase à mudança de tendência entre o imediato 
pós-Guerra Fria e o início do século XXI. 
 
Também estudará as principais diferenças entre os “conflitos armados 
convencionais” e os “conflitos armados contemporâneos” (ou “Novas Guerras”), 
de natureza intra-estatal. 
 
 
As relações internacionais e o princípio da soberania estatal 
 
Reflita sobre o significado da expressio “relações internacionais”. 
 
As relações internacionais referem-se, literalmente, a relações entre nações. 
 
Apesar disso, este campo de estudo foca-se em um ambiente integrado por “Estados”, 
já que na maioria dos casos as nações se organizam politicamente sob a forma de 
“Estados”. 
 
Estados - no âmbito da política internacional, países são denominados Estados. Neste 
curso adotaremos esta mesma nomenclatura. 
 
A Soberania é o princípio que organiza o sistema internacional e permite o mínimo de 
ordem entre os Estados. Junto à soberania está a não-intervenção. 
 
 
 
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Importante! 
Apesar de não haver uma autoridade mundial que crie leis e que as execute, com poder 
de sanção (como há no campo doméstico), os Estados mantêm um mínimo de ordem 
por causa do princípio da soberania e da não-intervenção. 
 
A soberania tem um componente interno e um componente externo. 
 
Apesar de o conceito de soberania ser questionado, os Estados mais poderosos 
geralmente voltam a ele para garantir o cumprimento de seus interesses. Então, fique 
com esta noção de soberania pois ela vai lhe ajudar a compreender alguns 
conceitos dentro do Sistema ONU. 
 
Componente interno - implica no controle, pelo Estado soberano, de três elementos: 
governo, território e população. Esse componente confere ao Estado o monopólio do 
uso legítimo da força. 
 
Componente Externo - funciona como uma barreira (de fora para dentro) e indica que 
o Estado tem jurisdição exclusiva sobre o que acontece dentro de suas fronteiras, com 
direito a independência política e integridade territorial. Por outras palavras, trata-se de 
uma entidade política que, por causa da soberania, tem pretensões a poder absoluto, 
definindo seus interesses e seu comportamento como lhe convém. 
 
 
As guerras do século XX e breve histórico sobre a Guerra Fria 
 
O século XX foi um período dinâmico para a política internacional – e um século 
em que a soberania de vários Estados foi violada com frequência. Foi também o século 
mais sangrento da História: a Segunda Guerra 
(http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/segunda_guerra.htm), por 
exemplo, registrou mais de 55 milhões de mortes. 
 
É sabido que o fim das guerras dá origem a uma nova ordem política, a ser desenhada 
de acordo com os valores e os interesses dos Estados vencedores. Isso aconteceu após a 
Primeira Guerra (1914-1918) (http://www.suapesquisa.com/primeiraguerra), com o 
Tratado de Versailles (1919) (http://pt.worldwar-two.net/acontecimentos/27), que deu 
origem à Liga das Nações . Um dos fundamentos da Liga das Nações era criar 
mecanismos para que os Estados resolvessem suas controvérsias através da estrutura da 
própria Liga. Não deu certo e, apesar das contribuições no tratamento de minorias e na 
supervisão do cumprimento de tratados de demarcação territorial, a Liga das Nações 
não funcionou como previsto e não conseguiu evitar a Segunda Guerra (1939-1945). 
 
Ainda durante a Segunda Guerra, a partir de 1942, os aliados começam a desenhar 
aquela que viria a ser a Nova Ordem Mundial, em caso de vitória. Várias 
negociações acontecem entre os três principais aliados (Estados Unidos, União 
Soviética e Grã-Bretanha) e às vezes incluíam também a China. Durante três anos, ao 
mesmo tempo em que faziam a guerra, os aliados também construíam as bases da paz. 
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/segunda_guerra.htm�
http://www.suapesquisa.com/primeiraguerra�
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Um dos resultados é a sucessora da Liga das Nações, desenhada a partir dos erros e dos 
acertos da última: a Organização das Nações Unidas (ONU) (http://www.onu-
brasil.org.br/conheca_onu.php) é criada em outubro de 1945, quando 50 Estados 
assinam a Carta (http://www.onu-brasil.org.br/doc1.php). 
 
Aquela que hoje chamamos de “Guerra Fria” 
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Fria) começa a tomar forma mais concreta no final 
dos anos 1940. A nova ordem passa a refletir uma divisão política e ideológica do 
mundo entre os Estados Unidos (EUA) e a União Soviética (URSS) – dois Estados que, 
ao entrarem na guerra, conseguem reverter o balanço e o então equilíbrio da mesma e, 
em 1945, surgem como os grandes vitoriosos. 
 
Nunca houve uma declaração formal da “Guerra Fria”, mas as consequências em 
várias partes do mundo mostram que foi uma guerra real – uma guerra “quente”. A 
Europa é dividida por um recém-criado muro em Berlim e vira um “tampão” entre o 
bloco ocidental, liderado pelos EUA, e o bloco socialista, liderado pela URSS. O 
aspecto “frio” da guerra se mantinha apenas entre os grandes. Entre eles foi uma “guerra 
fria” salvo por ocasião da Crise dos Mísseis (Cuba, 1962), quando estiveram perto de 
uma ameaça nuclear frontal. 
 
No mundo em desenvolvimento e no mundo subdesenvolvido, principalmente nas 
décadas de 1960 e 1970, as duas superpotências viam-se diante de confrontos 
indiretos (“proxy wars”) através dos muitos confrontos travados nos territórios de 
suas zonas de influência. Na década de 1980, as superpotências dão sinais de dissuasão 
e, mais que isso, de “coexistência pacífica”. A mudança na liderança política dentro de 
cada superpotência em meados dos anos 1980 faz com que uma porta se abra em 
relação a um futuro diferente. 
 
Hoje, alguns historiadores assumem que a perestroika 
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Perestroika) e a glasnost 
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Glasnost) de Gorbachev foram o pontapé inicial do fim da 
Guerra Fria – mecanismos que, dentro do sistema soviético, deram mais autonomia para 
as então repúblicas soviéticas e impulsionaram uma mudança maior, talvez não-
intencional, no sentido da desmantelação da própria URSS (Vedulka Kubálková 2001). 
Outros argumentam que o fim da Guerra Fria aconteceu com a vitória do capitalismo 
sobre o socialismo/comunismo, o que faz com que os EUA sejam automaticamente os 
“vencedores” da Guerra Fria (John Gaddis 1991). 
 
Sendo considerados “vencedores” de uma guerra, os EUA teriam, portanto, o 
“direito” de impor uma nova ordem, de acordo com seus valores e interesses. É o 
que acontece no imediato pós-Guerra Fria. 
 
A Política Internacional no pós-Guerra Fria 
 
Independente da versão que você sustente para o fim da Guerra Fria, o que verá em 
seguida é um otimismo típico de fim de guerra, com um retorno ao multilateralismo 
para resolver questões internacionais. 
http://www.onu-brasil.org.br/conheca_onu.php�
http://www.onu-brasil.org.br/conheca_onu.php�
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Fria�
http://pt.wikipedia.org/wiki/Glasnost�
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O Conselho de Segurança da ONU (CS) voltou a funcionar. Usa-se “voltou a 
funcionar” porque durante a Guerra Fria, o direito de veto dos membros permanentes 
(exercido às vezes pelos EUA, outras vezes pela URSS) acabou fazendo com que o CS 
ficasse “congelado”. Toda vez que tentavam aprovar alguma resolução que interferisse 
na zona de influência norte-americana, os EUA vetavam. O mesmo ocorria para a zona 
de influência do bloco soviético. 
 
Importante! 
A nova fase nas relações internacionais tem fortes impactos sobretudo nas áreas de 
economia e segurança. No âmbito da segurança, a ONU assume uma mudança na 
natureza dos conflitos armados – reconhece que a maioria dos conflitos acontecenão 
mais entre Estados, mas sim dentro dos Estados. 
 
Essa constatação, apesar de se remeter ao imediato pós-Segunda Guerra de acordo com 
alguns pesquisadores (Holsti, Wallensteen e outros), só é reconhecida pela ONU nos 
anos 1990. Isso deixa a ONU em uma situação delicada porque é uma organização 
inter-governamental por natureza (só Estados podem ser membros) e porque contém, 
em sua Carta, dispositivos que proíbem o seu envolvimento em questões domésticas de 
seus membros. A única exceção a tal princípio de não-intervenção seria quando 
autorizada pelo CS, em caso de ameaça ou ruptura da paz (http://www.onu-
brasil.org.br/doc4.php). 
 
Nos anos 1990 ganham força e visibilidade os atores não-estatais como integrantes do 
sistema internacional. Apesar de já existirem há pelo menos 150 anos, os atores não-
estatais (organizações não-governamentais, empresas multinacionais, etc.) ganham 
espaço a partir de meados da década de 1980 e principalmente com o fim da Guerra 
Fria. 
 
Os principais fatores para a ascensão e maior reconhecimento dos atores não-
estatais enquanto atores políticos estão relacionados ao avanço da tecnologia no 
setor de transportes e na comunicação. Melhores meios de transportes, com preços 
mais acessíveis, fazem com que as distâncias físicas entre membros ou ativistas seja 
“diminuída”, o que facilita encontros, mobilizações, etc. No âmbito da comunicação, a 
tecnologia da informação tem um impacto ainda maior, o que é fortalecido neste início 
de século XXI: os meios de comunicação virtual (email e internet) facilitam a criação de 
redes e fortalecem os posicionamentos dos atores não-estatais. Ainda assim, os Estados 
se mantêm como os principais atores do sistema internacional, mas já não são mais os 
únicos. 
 
No que se referem às operações de manutenção de paz, o que se vê no imediato 
pós-Guerra Fria é o aumento no número de missões aprovadas e também a 
ampliação nos objetivos, bem como na estrutura, nos recursos e na capacidade 
material. Para lidar com conflitos intra-estatais, a ONU precisa redesenhar seus 
remédios – as missões passam a ter mais componentes policiais e civis, e têm mandatos 
diferentes das missões convencionais, incluindo atividades como monitoramento de 
eleições, promoção de direitos humanos, entre outros. 
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Em suma, o que se verifica no último século é o avançar de mecanismos políticos 
para a resolução pacífica de conflitos entre Estados – sendo estes os principais atores 
do sistema internacional. Com o fim da Guerra Fria, novos atores e novas ameaças são 
incorporados na agenda do Sistema ONU, com impactos diretos e indiretos para o 
exercício da soberania, para a estrutura da ONU e para a implementação das missões de 
manutenção da paz. 
 
Para saber mais sobre o que você estudou nessa aula, acesse os links: 
 
♦ Comitê Internacional da Cruz vermelha http://www.icrc.org/por 
 
♦ História do Direito Internacional Humanitário - 
http://www.icrc.org/web/por/sitepor0.nsf/htmlall/section_ihl_in_brief 
 
♦ HOBSBAWM, Eric. “Era dos Extremos - o breve século XX: 1914-1991”. - 
http://jus-operandi.blogspot.com/2007/11/era-dos-extremos-o-breve-sculo-xx-
1914.html 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.icrc.org/por�
http://www.icrc.org/web/por/sitepor0.nsf/htmlall/section_ihl_in_brief�
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Aula 2 
Revolução de conflitos e peacebuilding: conceitos e modelos 
aplicados ao caso Haiti 
 
 
Esta aula apresenta um panorama sobre os principais conceitos e modelos de 
“Resolução de Conflitos”, os diferentes níveis de análise e as possibilidades de 
aplicação prática no caso do Haiti. Especial atenção é conferida aos mecanismos de 
peacekeeping (“manutenção da paz”) e peacebuilding (“construção da paz”) enquanto 
proposta para se lidar com os conflitos contemporâneos, em busca de uma “paz 
duradoura”. 
 
Conceitos relacionados a “Resolução de Conflitos” 
 
A evolução da área de Resolução de Conflitos ganhou impulso a partir da segunda 
metade do século XX e, embora tenha grande ligação com a área de Relações 
Internacionais, o diálogo entre elas não aconteceu de imediato. Teóricos de Relações 
Internacionais marginalizaram durante muito tempo os estudiosos de Resolução de 
Conflitos por não os considerarem aptos a tratar dos fenômenos típicos da relação entre 
Estados, e restringindo-os às análise de conflitos de outros níveis, como de natureza 
interpessoal, por exemplo (Miall et al., 2005). O diálogo entre as duas áreas foi 
aumentando gradativamente na medida em que foram encontrando respaldo e 
reconhecimento mútuo das possibilidades de aplicação das suas diferentes teorias, 
leituras e análises aos problemas de Segurança Internacional enfrentados 
cotidianamente. 
 
A palavra “conflito” normalmente é vista como algo negativo e destrutivo. Com 
certeza, tende a lembrá-lo o leitor de grandes atrocidades envolvendo exércitos e mortes 
em larga escala. No entanto, conflitos ocorrem o tempo todo, em diferentes níveis e 
entre diferentes grupos, não necessariamente de modo violento ou causando dano 
físico aos envolvidos. 
 
Conflitos fazem parte da natureza da interação social entre os seres humanos, na 
medida em que cada um de nós possui interesses particulares que nem sempre estão 
alinhados aos interesses daqueles que nos rodeiam. Quando duas pessoas divergem 
sobre o mesmo assunto, com base em suas crenças e percepções de mundo, existe aí 
uma situação clássica de “conflito de interesses” – que não necessariamente envolve 
violência. 
 
Assim, conflitos são mais comuns do que a maioria das pessoas percebe, já que 
tendem a classificá-los de modo negativo por considerar apenas as imagens negativas 
que evocam. O que é possível destacar é que apenas uma pequena parcela dos conflitos 
evoluem para formas mais agressivas, incluindo aqui o uso da violência entre partes 
agressoras e oprimidas. 
 
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Um dos teóricos fundadores, e um dos mais celebrados, dos estudos sobre Resolução 
de Conflitos foi Johan Galtung (http://www.comitepaz.org.br/Galtung.htm), 
criador dos primeiros modelos de análise das causas de conflitos. Galtung 
desempenhou um papel fundamental para a área, desde os seus primórdios até as 
tentativas contemporâneas de revisar e adequar os mecanismos tradicionais aos novos 
conflitos. 
 
Para analisar um conflito, é importante que se observe três elementos: 
 
♦ Contradição - os diferentes atores envolvidos e seus interesses; 
 
♦ Atitude - as percepções que as partes têm umas das outras – positivas ou 
negativas; 
 
♦ Comportamento - variando entre a disposição de cooperar e o agir de forma 
hostil. 
 
Estes elementos estão ligados entre si, podendo variar com o tempo, tanto na direção 
de uma combinação de fatores que favoreça a resolução, quanto que culmine com a 
escalada das tensões e a possibilidade de agressão. (Miall et al., 2005) 
 
Diversos mecanismos podem ser aplicados na tentativa de diminuir as tensões numa 
situação de conflito, sendo a intervenção de uma terceira parte a mais comum delas. 
Esta idéia foi muito utilizada durante a Guerra Fria e as primeiras Operações de Paz 
empreendidas pela ONU – o peacekeeping (“manutenção da paz”) Tradicional – 
visavam criar um ambiente favorável à resolução do conflito utilizando forças da ONU 
para estabelecer uma zona de não-agressão onde as diferenças entre os Estados 
poderiam ser resolvidas. 
 
Importante! 
 
As Operações de Paz, de modo amplo, estão ligadas à teoria de Resolução de 
Conflitos, constituindo-se como mecanismos importantes para diminuir a tensão entre 
Estados, para pôr fim a agressõesjá existentes e para construir um ambiente estável que 
impeça a retomada do conflito violento – como o Peacebuilding que será estudado 
adiante. 
 
A mudança ocorrida com o fim da Guerra Fria fez com que viessem à tona uma 
série de conflitos antes marginalizados no interesse dos Estados. As chamadas 
“Novas Guerras” que antes não eram o foco das atenções da comunidade internacional – 
embora já existissem – passaram a ser alvo das análises diante da diferente natureza dos 
conflitos tradicionais entre Estados. 
 
A natureza do conflito mudou tanto em escala quanto na forma, deixando de envolver 
apenas os elementos militares tradicionais (como no embate entre exércitos rivais) para 
envolver um número crescente de outros atores, como gangues, facções criminosas e 
rebeldes lutando contra o próprio Estado. Essa mudança foi especialmente violenta e 
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problemática para civis, na medida em que o uso indiscriminado de diferentes formas de 
agressão pelos novos atores armados aumentou o número de vítimas não-combatentes. 
Assim, as formas convencionais de resolução de conflito, baseadas na premissa de que 
as partes envolvidas são Estados e de que existem canais possíveis para resolver as 
animosidades entre eles, perderam parte da força e eficácia. Novas abordagens surgiram 
para tentar compreender as causas dos conflitos contemporâneos, seus múltiplos atores e 
interesses envolvidos, bem como as alternativas à negociação tradicional para resolvê-
los. 
 
Neste sentido, as transformações ocorridas com as teorias de resolução de conflitos 
encontraram reflexo na evolução da prática do peacekeeping no começo da década de 
1990, com a multiplicação de Operações de Paz ao redor do globo envolvidas em 
contextos de “Novas Guerras”. A tentativa da ONU de diversificar sua atuação, com a 
ampliação de mandatos e intenções diante de novos cenários, foi marcada por avanços e 
retrocessos, pelo aumento de missões enviadas e pela estrutura ineficiente de apoio. 
 
Peacebuilding e Resolução de Conflitos 
 
Para enfrentar os desafios encontrados nos conflitos contemporâneos, é necessário 
compreender que os interesses e as partes envolvidas estão além da dinâmica tradicional 
de disputa entre Estados. As “Novas Guerras” trazem a violência para dentro do Estado, 
muitas vezes com atores que contestam a estrutura política e econômica vigente com 
agressões à própria figura do Estado. Suas causas são mais complexas e difíceis de 
serem mitigadas, uma vez que a multiplicidade de interesses cria um ambiente no qual a 
resolução do conflito passa pela necessidade de abordar todas as suas facetas, onde as 
respostas unicamente militares não são necessariamente as mais eficazes. 
 
As atuais situações de violência não são resolvidas com a simples assinatura de acordos 
de não-agressão ou cessar-fogo, muitas vezes porque as partes sequer se dispõem a 
realizar os mesmos. A interposição de forças mostra-se ineficaz porque as formas de 
violência e os atores fogem às táticas militares tradicionais, normalmente envolvendo 
abordagens de guerrilha, ataques-surpresa, entre outros. Técnicas de negociação 
também podem não surtir efeito por não encontrarem interlocutores válidos entre as 
diferentes facções envolvidas no conflito. 
 
Refletindo sobre a questão... 
 
Como, portanto, resolver esse problema? 
 
Para sair da espiral de violência com tantas raízes diferentes, é preciso compreender que 
os conflitos contemporâneos precisam de respostas múltiplas e robustas. Reduzir o 
número de armas disponíveis, por exemplo, num determinado contexto não é suficiente, 
porque o ódio entre as partes pode continuar vigorando. É imperativo também garantir a 
segurança de civis, diminuir as possibilidades de agressão entre as partes envolvidas, 
reduzir a disponibilidade de mecanismos de violência (com programas de controle de 
armas, por exemplo), diminuir as desigualdades políticas, sociais e econômicas e – 
principalmente – contribuir para a criação de um ambiente onde a paz duradoura possa 
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vigorar, onde as feridas de uma sociedade dilacerada pelo conflito possam ser curadas 
ou reduzidas, onde haja diálogo e possibilidade de interação entre as partes num 
ambiente em que existam formas de resolução de conflitos que não se resumem à 
violência que antes vigorava. 
 
Em casos como o do Haiti – onde a convulsão social e o descontentamento popular com 
as mudanças políticas, junto com a desigualdade sócio-econômica da maioria da 
população são combustíveis para a eclosão da violência – as missões desempenham 
múltiplas formas de abordar os condicionantes da violência. A “construção da Paz” 
(peacebuilding) sustenta que a natureza dos conflitos contemporâneos não é apenas 
militar e que, portanto, as respostas devem incluir novas abordagens para lidar com as 
desigualdades, como a reconstrução econômica e social, de modo a promover o 
desenvolvimento e a inclusão ativa da população – enquanto mantêm a segurança e 
impedem ou reduzem a violência armada. 
 
As missões de paz complexas ou multidimensionais, como é o caso da MINUSTAH, 
atentam para a necessidade de diversificação das abordagens para garantir a estabilidade 
que permita a transição do Estado rumo à auto-sustentação. Baseiam-se na idéia de que 
a Paz é muito mais do que ausência de violência ou guerra, olhando-se para uma cultura 
ampla que permite a superação de divergências por meios que não evoquem apenas o 
uso da força ou a violência para resolver controvérsias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 3 
Sistema das Nações Unidas 
 
 
Nesta aula, você estudará sobre o processo de criação da Organização das Nações 
Unidas (ONU), do seu funcionamento e de sua estrutura. Nesse sentido, será 
abordado as principais modificações do “Sistema ONU” desde a sua criação até os dias 
atuais. Você analisará também a Carta da ONU e os procedimentos e formas de atuação 
dos principais órgãos, agências especializadas, programas e fundos do Sistema ONU. É 
importante que você saiba que por ser um curso sobre Operações de Paz, será dado 
destaque aos órgãos que mais se envolvem com tal questão, isto é, o Conselho de 
Segurança o Secretariado e a Assembléia Geral. 
 
Breve histórico acerca do processo de criação das Nações Unidas 
 
Após o fim da Segunda Guerra, havia um sentimento generalizado acerca da 
necessidade de se criar mecanismos capazes de garantir uma relação mais harmoniosa 
entre os Estados e, assim, evitar a recorrência de novas tragédias. Neste contexto – mais 
especificamente em 1945 - a ONU foi estabelecida com o objetivo de contribuir para 
manutenção da paz e da segurança internacionais, além de promover progresso social, 
melhores padrões de vida e direitos humanos. Hoje, tal instituição é formada por 192 
Estados soberanos que estão unidos em torno da Carta da ONU (http://www.onu-
brasil.org.br/documentos_carta.php). 
 
Liga das Nações: A precursora da ONU 
 
A precursora da ONU é a Liga das Nações, organização concebida em circunstâncias 
similares durante a Primeira Guerra e estabelecida, em 1919, por meio do Tratado de 
Versalhes com o objetivo de “promover a cooperação internacional e alcançar a paz e a 
segurança”. No entanto, a Liga das Nações interrompeu suas atividades diante do 
fracasso de evitar uma nova guerra mundial. Em 1945, representantes de 50 Estados se 
reuniram em São Francisco (Estados Unidos), em uma Conferência especificamente 
organizada para estabelecer a Carta das Nações Unidas. A Carta é o documento 
constitutivo da organização, estabelecendo as obrigações e os direitos dos Estados-membros, além de sua estrutura e procedimentos. No dia 24 de outubro deste mesmo 
ano (1945), a ONU passou a existir oficialmente mediante a ratificação da Carta pela 
maioria dos Estados, inclusive pela China, França, União Soviética (hoje Rússia), Reino 
Unido e Estados Unidos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Já no preâmbulo da Carta ficam claros os ideais e os propósitos das Nações Unidas. A 
leitura do documento vale a pena. 
 
Preâmbulo da Carta das Nações Unidas 
Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gerações vindouras do 
flagelo da guerra, que, por duas vezes no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos 
indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na 
dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direitos dos homens e das 
mulheres, assim como das nações grandes e pequenas (...) 
 
(...) e para tais fins praticar a tolerância e viver em paz uns com os outros, como 
bons vizinhos, unir nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais, 
garantir, pela aceitação de princípios e a instituição de métodos, que a força armada 
não será usada a não ser no interesse comum, e empregar um mecanismo 
internacional para promover o progresso econômico e social de todos os povos. 
 
Resolvemos conjugar nossos esforços para a consecução desses objetivos. Em vista 
disso, nossos respectivos governos, por intermédio de representantes reunidos na cidade 
de São Francisco, depois de exibirem seus plenos poderes, que foram achados em boa e 
devida forma, concordaram com a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por 
meio dela, uma organização internacional que será conhecida pelo nome de 
‘Organização das Nações Unidas’. 
Fonte: http://www.onubrasil.org.br/documentos_carta.php 
 
Assista ao vídeo “A ONU é seu mundo” 
(http://www.youtube.com/watch?v=Ln9NtMjmt-o). 
 
Veja aqui em resumo, os objetivos das Nações Unidas, segundo a Carta. 
 
• Promover a cooperação entre os Estados para manter a paz e a estabilidade 
internacionais; 
• Contribuir para relações harmoniosas entre os Estados-membros; 
• Cooperar para resolver problemas econômicos, sociais, culturais e humanitários 
em todo o mundo. 
 
Vale ressaltar que a ONU não está autorizada a intervir nos assuntos domésticos 
(internos) dos Estados-membros, a não ser que o Conselho de Segurança assim o 
decida (Carta da ONU, art. 2º, VII). 
 
Em contrapartida, os Estados signatários da Carta da ONU se comprometem com certos 
princípios que são eles: 
 
Agir de boa-fé e com boa-vontade no sentido de alcançar os objetivos da ONU; 
Respeitar a soberania dos Estados-membros; 
Evitar o uso ou a ameaça de uso da força; 
Resolver pacificamente os conflitos, sem ameaça à paz e a segurança internacional. 
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As Nações Unidas atuam em campos distintos. Apesar de a instituição ser bastante 
conhecida por suas atividades relativas às Operações de Manutenção da Paz e à 
Assistência Humanitária, a ONU tem várias outras formas de influenciar o 
comportamento dos Estados e de alcançar os objetivos acima mencionados. Neste 
sentido, vale mencionar a elaboração de projetos na área de desenvolvimento 
sustentável, meio-ambiente, proteção de refugiados, promoção dos Direitos Humanos, 
desarmamento e não-proliferação, entre outros. 
 
São seis os principais órgãos da ONU. 
 
• Assembléia Geral 
• Secretariado; 
• Conselho de Segurança; 
• Corte Internacional de Justiça; 
• Conselho Econômico e Social; 
• Conselho de Tutela; 
 
Além destes principais órgãos da ONU, citados na página anterior, o grupo de 
organizações vinculadas à ONU – ou, simplesmente, o “Sistema ONU” - é formado 
por 15 agências especializadas (por exemplo, UNESCO e Organização Mundial da 
Saúde), além de diversos programas específicos (como UNICEF e PNUD ), cada 
qual com orçamentos e mandatos distintos. 
 
Como funcionam estes órgãos 
 
Dentre os seis órgãos principais, há três que merecem destaque por sua forte relação 
com o processo de negociação, decisão e envio de missões de manutenção da paz: 
Assembléia Geral, Secretariado e Conselho de Segurança. 
 
Assembléia Geral 
 
A Assembléia Geral (AG) é o principal órgão de debates e deliberação do Sistema 
ONU. TODOS os Estados-membros mandam representantes e cada Estado tem direito a 
um voto. Em 2010, há 192 membros. As reuniões ordinárias ocorriam uma vez por ano, 
durante três meses; agora acontecem de maneira quase permanente, durante todo o ano. 
Reuniões especiais ou de urgência podem ocorrer a pedido do Conselho de Segurança. 
 
Principais funções da assembléia 
 
• Discutir e fazer recomendações sobre todos os assuntos em pauta na ONU; 
• Discutir questões relativas a conflitos armados – com a exceção daqueles na 
pauta do Conselho de Segurança; 
• Discutir formas e meios para melhorar as condições de vida de crianças, jovens e 
de mulheres; 
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• Abordar assuntos relativos ao desenvolvimento sustentável, meio ambiente e 
aos direitos humanos; 
• Decidir acerca das contribuições dos Estados-Membros e como estas devem ser 
gastas; 
• Eleger os novos Secretários-Gerais da Organização. 
 
Secretariado e Secretario Geral 
 
O Secretariado é o órgão administrativo da ONU, composto por funcionários 
internacionais que trabalham no dia-a-dia de Nova Iorque (onde se localiza a sua sede) e 
espalhados por todo o mundo. O Secretariado é chefiado pelo Secretário-Geral – cargo 
ocupado, desde 2007, pelo diplomata sul-coreano Sr. Ban Ki Moon. O Secretário Geral 
é eleito pela Assembléia Geral (após recomendações do Conselho de Segurança) para 
cumprir um mandato de 5 anos, podendo ser reeleito. Dentro do Secretariado 
encontram-se os vários departamentos especializados, entre os quais o Departamento 
de Operações de Manutenção da Paz (“DPKO”, na sigla em inglês), responsável por 
coordenar operações como a que a ONU tem hoje no Haiti. 
 
Conselho de Segurança 
 
O Conselho de Segurança da ONU é o órgão diretamente responsável pela manutenção 
da paz e da segurança internacionais, de acordo com a Carta da ONU. É formado por 15 
membros: 5 permanentes e 10 eleitos pela AG com mandato de dois anos. Os 5 
permanentes (P5) são os Estados vitoriosos na Segunda Guerra: Estados Unidos, Rússia, 
Reino Unido, França e China. 
 
No Conselho de Segurança, cada Estado tem um voto, mas as decisões mais importantes 
não podem ter o veto dos membros permanentes (ou seja, pode ser voto afirmativo ou 
abstenção). Na prática, qualquer um destes 5 Estados tem o poder de vetar uma decisão 
do Conselho de Segurança. 
 
Quando uma ameaça à paz ou à estabilidade internacional é levada ao Conselho de 
Segurança, ele deve agir conforme o previsto na Carta da ONU e de acordo com a 
gravidade da ameaça: 
 
Agir conforme Capítulo VI e buscar um acordo por meios pacíficos. Em alguns casos, 
envio de tropas para manter a paz. 
 
Quando um acordo não é possível ou a paz já foi rompida, o Conselho de 
Segurança pode agir conforme o capítulo VII e determinar o envio de uma Força 
de Paz para impor a cessação das hostilidades. 
 
Com base no capítulo VII, o Conselho de Segurança pode autorizar sanções 
econômicas, diplomáticas e de comunicação, entre outras. 
 
Atualmente, fala-se também nas operações de manutenção da paz “robustas” – essas 
envolvem o uso da força no nível tático com o consentimento das autoridades locais 
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e/ou das principais partes do conflito (Capstone Doctrine, 2008, p.19). Esta questão 
será maisbem abordada na próxima aula, que trata especificamente das Operações de 
Manutenção da Paz. 
 
 
Para saber mais sobre o tema dessa aula, acesse os links: 
 
♦ GAREIS, S.B.; VARWICK, J. (2005). The United Nations: An Introduction 
(http://www.un.org/cyberschoolbus/unintro/unintro.asp). Nova York: Palgrave 
Macmillan. 
 
 
♦ HERZ, M.; HOFFMANN, A.R. (2004). Organizações Internacionais: 
História e Práticas 
(http://publique.rdc.pucrio.br/contextointernacional/media/Resenha_vol27n1.pd)
. Rio de Janeiro: Editora Campus. 
 
 
♦ Organização das Nações Unidas, “About the UN” 
(http://www.un.org/aboutun/untoday/index.html ). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Aula 4 
Operações de Manutenção da Paz 
 
 
Nesta aula, você estudará um breve histórico das missões de manutenção da paz da 
ONU, desde o início até os dias atuais, destacando os princípios que norteiam a criação 
e o envio de uma Missão bem como a estrutura das mesmas. Acompanhará um breve 
panorama evolutivo das missões nas chamadas “gerações” de acordo com as 
sucessivas transformações em seus mandatos em função da mudança nas demandas dos 
conflitos. Dessa forma, chegará às hoje denominadas “missões multidimensionais” 
– como é o caso da MINUSTAH – a missão da ONU no Haiti – cujos objetivos e 
número de atores envolvidos são mais complexos e ambiciosos que as missões que a 
própria ONU já enviara ao Haiti nos anos 1990. 
 
As primeiras tentativas de “peacekeeping” (“manutenção da paz”): A Liga das 
Nações (1919) 
 
Tentativas de se compreender o fenômeno da guerra entre os Estados fazem parte do 
processo de nascimento da própria área de Relações Internacionais, em função dos 
horrores vivenciados pelos Estados europeus com a devastação da Primeira Guerra 
(1914-1918). Neste sentido, a criação da Liga das Nações (1919) tenta superar os 
mecanismos tradicionais da diplomacia secreta e da prática do “equilíbrio de poder”, 
que vigoraram na política européia até a Primeira Guerra Mundial. Seu objetivo era o 
de garantir que um fenômeno tão destrutivo quanto a guerra jamais voltasse a 
ocorrer, a partir da idéia de “segurança coletiva”. 
 
Sistemas de Segurança Coletiva baseiam-se em três princípios: 
 
♦ A certeza da reação; 
 
♦ A amplitude dos instrumentais utilizáveis para contenção das ameaças; 
 
♦ A capacidade de inclusão de todos os atores (ou os mais significativos) de 
interesse para manutenção da segurança (Bellamy et al., 2004, p.66). 
 
A efetividade deste sistema está ligada à obrigação e disposição de todos os membros 
de reagirem a qualquer ameaça ou agressão feita a um dos membros, responsabilizando-
se de modo coletivo pela segurança de seus aliados (Armstrong, 1982, p. 35). Como se 
verá adiante, embora este comprometimento dos membros fosse fundamental para a 
criação de uma ferramenta capaz de conter um conflito de proporções semelhantes à 
Primeira Guerra, em diversos momentos de sua história a Liga falhou ao responder 
às ameaças que se apresentaram durante a sua existência. 
 
A capacidade de resposta do sistema está diretamente relacionada aos mecanismos 
que este tem para lidar com ameaças à paz, variando de simples instrumentos de 
negociação a sanções econômicas e respostas militares. Além disso, para que 
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funcionem, é preciso identificar um caráter de obrigatoriedade para estas ferramentas. 
Isto não existia no caso da Liga das Nações. Suas decisões – mesmo as do Conselho 
(seu órgão máximo, e aquele incumbido de tratar de ameaças à paz) – tinham 
caráter apenas recomendatório. Ou seja, não obrigavam os Estados a seguirem suas 
decisões. (Armstrong, 1982, p.26). 
 
Por fim, o critério de inclusão e participação de todos os atores relevantes à segurança e 
estabilidade internacionais é fundamental para que, em caso de alguma crise – por 
Estados de fora ou de dentro do sistema de Segurança Coletiva – a capacidade de ação 
seja garantida e tenha o maior alcance possível. Mais uma vez a Liga falhou. Ainda que 
tenha nascido como uma organização que buscava a manutenção da segurança para 
além dos Estados europeus, não contava com todos os Estados, deixando de fora atores 
importantes – como o Japão e a Alemanha (que se retiraram na década de 1930 e, anos 
mais tarde, foram pivôs da Segunda Guerra) e os Estados Unidos (na época já uma 
potência) (Bellamy et al., 2004, p. 67). 
 
Importante! 
 
Na prática, a Liga das Nações buscou transcender os mecanismos de resolução de 
conflitos que existiam entre as potências continentais européias até o final do 
século XIX, já que estes se mostraram ineficientes e, da mesma forma como a 
Organização das Nações Unidas (ONU) viria a fazer anos mais tarde, a Liga se 
envolveu em atividades de peacekeeping – embora o termo só tenha sido cunhado 
décadas depois – com a supervisão de negociações importantes para a estabilidade 
continental européia (conflito na Albânia em 1921, e conflito entre Grécia e Bulgária, 
em 1925) (Bellamy et al., 2004, p. 69). 
 
Características para o fracasso da Liga das nações 
 
Uma das características marcantes para o fracasso da Liga foi o mecanismo de 
votação das decisões do Conselho, que só aprovava resoluções diante da unanimidade 
de seus membros, fossem eles permanentes ou não-permanentes. Na década de 1930, 
com a ascensão dos governos de extrema-direita na Alemanha e na Itália, e com as 
crescentes investidas japonesas na península coreana e na China continental, a Liga 
provou ser pouco eficiente para conter atitudes que representavam sérias ameaças a paz 
e estabilidade internacionais. Bom exemplo é a incapacidade da Liga de agir quando da 
invasão da Manchúria pelo Japão (1931), e a tomada da Abissínia, hoje Etiópia, pela 
Itália (1935). 
 
Com os percalços sofridos durante a década de 1930, que permitiu a escalada das ações 
hostis dos Estados que viriam a constituir as potências do “Eixo” durante a Segunda 
Guerra, a Liga teve o mesmo fim que os mecanismos que tanto criticava na diplomacia 
tradicional européia. Embora não tenha impedido uma nova guerra, a Liga foi 
precursora de importantes iniciativas de mediação e tentativas de resolução de 
conflitos (dentro de suas limitações e dos interesses das potências que a compunham) 
que viriam a se desenvolver alguns anos depois com a criação da ONU, especialmente 
as primeiras iniciativas de peacekeeping tradicional. 
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A ONU (1945) e as atividades contemporâneas de peacekeeping 
O período da Guerra Fria (1945 - 1989) 
 
A tentativa de limitar a eclosão de um conflito armado da mesma magnitude do começo 
do século XX, pela Liga das Nações, não obteve o sucesso esperado. A Segunda Guerra 
(1939-1945) provou ser ainda mais destrutiva que a antecessora. As perdas foram 
maiores que as da Primeira Guerra e o advento do potencial nuclear – bem como as 
conseqüências sinistras da possibilidade de seus usos militares – escancarou a 
necessidade de um instrumento capaz de evitar conflitos (Fetherston, 1994, p. 1). 
 
As reflexões que culminaram com a criação da ONU através da Conferência de São 
Francisco (1945) ressaltaram que uma nova organização que prezasse pela garantia da 
paz e da estabilidade internacionais não poderia cometer os mesmos erros de sua 
predecessora. A mais significativa mudança foi, sem dúvida, a inclusão do caráter 
mandatório das decisões tomadas pelo Conselho de Segurança que passou a dispor de 
instrumentos efetivos para obrigar os Estados-membros a cumprir suas resoluções e 
determinações. 
 
Conselho de segurança - O Conselho de Segurança é o órgão máximo da ONU para 
lidar com as questões de SegurançaInternacional, definindo a maioria das questões 
sobre o tema, e o único capaz de lançar mão dos dispositivos legais presentes na Carta 
da Organização em seus capítulos VI e VII para solucionar as ameaças à estabilidade 
internacional, quer por meio de soluções diplomáticas (Cap. VI) e negociadas ou até 
mesmo uso da força (Cap. VII). (Fetherston, 1994). 
 
Até o final da década de 1980, a dinâmica da Guerra Fria pautou não apenas o 
equilíbrio de forças e a estabilidade do sistema com base na rivalidade entre EUA e 
URSS, como também influenciou todas as questões concernentes à Segurança 
Internacional (Fetherston, 1994). Tais circunstâncias impuseram limites à atuação da 
ONU enquanto fórum capaz de lidar com ameaças à segurança, uma vez que o principal 
espaço de discussão e negociação para resolução de crises, o Conselho de Segurança, 
virou palco para a rivalidade entre os dois principais membros – EUA e URSS – cujo 
poder de vetar resoluções impedia a tomada de decisões que fossem contrárias a seus 
interesses ou a de seus aliados (Fetherston, 1994, p.18) 
 
Embora tenha partido de bases mais inclusivas e com mecanismos teoricamente mais 
eficazes para conter ameaças a paz e segurança internacionais (Capítulos VI (Solução 
Pacífica de Controvérsias) e VII (Ação Relativa a Ameaças à Paz, Ruptura da Paz e 
Atos de Agressão) da Carta da ONU), não houve menção direta na Carta a qualquer 
atividade de peacekeeping (Miall et al., 2005). Embora a ONU disponha de marco legal 
que autoriza a aplicação de medidas mais duras – inclusive de caráter militar caso as 
tentativas anteriores não tenham efeito – não há nenhuma menção às práticas de 
peacekeeping. Tais atividades, mesmo não previstas na Carta, começaram a ser 
desenvolvidas em 1956 com a primeira missão de peacekeeping tradicional, a chamada 
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Força de Emergência das Nações Unidas I (United Nations Emergency Force I - UNEF 
I), no Suez. (Fetherston, 1994; Bellamy et al., 2004). 
 
O advento das primeiras operações de peacekeeping é creditado aos esforços do então 
Secretário Geral da ONU, Dag Hammarskjöld 
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Dag_Hammarskj%C3%B6ld) , e ao diplomata canadense 
Lester Pearson (http://en.wikipedia.org/wiki/Lester_B._Pearson) que, através da 
Diplomacia Preventiva, buscaram assegurar à ONU um espaço de participação na 
segurança internacional diante do cenário de crescente deterioração nas relações entre 
EUA e URSS. 
 
Num ambiente polarizado e limitante de respostas ousadas para as crises internacionais, 
as primeiras operações de peacekeeping foram missões de observação, com o propósito 
de monitorar eventos percebidos como potencial ameaça à estabilidade e reportar suas 
conclusões à ONU, ou para monitorar o cumprimento de acordos de cessar-fogo 
assinados sob os auspícios da ONU. Ainda que se encaixem na classificação de 
peacekeeping tradicional, principalmente por serem uma interposição entre as forças 
adversárias, não trouxeram contribuição significativa para a criação de um arcabouço 
que serviria como referencial para a atividade de peacekeeping, o que só viria a ocorrer 
em 1956, com a Crise de Suez e o estabelecimento da primeira operação de larga escala 
e com número significativo de componentes, a UNEF I. 
 
Para compreender melhor a dinâmica que possibilitou o nascimento da primeira ,missão 
é preciso atentar à Resolução aprovada pela Assembléia Geral da ONU, em 1950, 
conhecida como “Uniting for Peace”( Resolução A/RES/377/A) . Embora o papel de 
grande relevância nas questões de Segurança Internacional fosse reservado ao Conselho 
de Segurança, a crescente hostilidade e os impasses no referido órgão levavam a 
Assembléia Geral a atuar caso o Conselho não pudesse desempenhar seus papéis 
(Fetherston, 1994). 
 
Além da autorização dada para a atuação da UNEF I na crise de Suez, a Resolução 
“Uniting for Peace” foi também utilizada para outro caso bastante emblemático de 
peacekeeping da Guerra Fria, com a autorização para a criação da “Organização das 
Nações Unidas no Congo” (ONUC), uma missão desenvolvida para atender a crise do 
Congo (1960-1964). 
 
A ONUC teve um impacto importante nas investidas de peacekeeping posteriores, 
até o final da Guerra Fria, tanto por caracterizar a resistência das potências do 
Conselho de Segurança (notadamente a França e a URSS), como pela dimensão que 
tomou diante da escalada do conflito, o que demonstrou a incapacidade da ONU de 
calcular os resultados de suas iniciativas, gerando um pesado ônus financeiro e político 
para o desenvolvimento de atividades de peacekeeping posteriores. 
 
Uma característica importante das iniciativas de peacekeeping durante a Guerra 
Fria foi a quase totalidade de mandatos baseados nos princípios de peacekeeping 
tradicional, sobretudo porque se baseavam no respeito à soberania dos Estados 
(Bellamy et al., 2004, p. 96; Miall et al., 2005), de maneira a não configurar 
http://en.wikipedia.org/wiki/Lester_B._Pearson�
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interferência em seus assuntos internos, principalmente por dependerem do 
consentimentos dos Estados envolvidos. A única exceção a esta tendência do período de 
1945-1989 foi a intervenção autorizada pelas Nações Unidas com base no Capítulo VII 
durante a Guerra da Coréia (Fetherston, 1994). 
Podemos dividir o período da Guerra Fria em cinco etapas na evolução das 
práticas de peacekeeping do período, sendo eles: 
 
1º Período Nascente (1945-1956) - caracterizado pelo estabelecimento das primeiras 
operações; 
 
2º Período Assertivo (1956-67) - caracterizado pelo crescente envolvimento da ONU e 
da multiplicação das missões, tendo como caso mais emblemático a ONUC; 
 
3º Período Dormente (1967-73) - durante este período, nenhuma missão foi 
estabelecida, devido ao recrudescimento da rivalidade entre os EUA e a URSS; 
 
4º Período Ressurgente (1973-78) - há uma lenta retomada das operações, 
concentradas na região do Oriente Médio, 
 
5º PeríodoManutenção (1978-88) - de novo, nenhuma operação é criada, apenas 
mandatos anteriores são renovados, até a “explosão” no número de missões a partir de 
1988. (Featherson, 1992, pp. 17-18). 
 
Com mandatos simples e basicamente de interposição, as operações de peacekeeping 
Tradicional empreendidas durante a Guerra Fria variavam muito pouco em 
termos de componentes, tendo participação quase exclusiva de militares com 
armamento leve (em algumas situações até insuficientes para os ambientes em que se 
encontravam). Somente com o fim da Guerra Fria e a multiplicação de missões, a partir 
de 1988, houve uma ampliação dos mandatos das operações e, com estas, a 
diversificação dos componentes para responder às novas demandas de peacekeeping. 
 
O pós-Guerra Fria (1991 - dias atuais) 
 
O fim da Guerra Fria marcou um período de profundas transformações na prática do 
peacekeeping, principalmente entre os anos de 1988 e 1993, com uma “tripla mudança” 
no caráter das operações. 
 
⇒ Em primeiro lugar, houve uma mudança quantitativa, com a multiplicação de 
operações de peacekeeping: nunca antes a ONU envolveu-se em tantos conflitos 
ao mesmo tempo quanto entre os primeiros anos do pós-Guerra Fria. 
 
⇒ Em segundo lugar, houve uma mudança qualitativa, na medida em que a 
prática do peacekeeping a partir deste período passa a desenvolver atividades 
que até então não eram comuns, como a distribuição de ajuda humanitária, em 
escala muito maior do que todos os esforços anteriores da organização. 
 
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⇒ Por fim, houve uma mudança normativa, com o crescente questionamento dos 
Estados-membros da ONU sobre os rumos que as Operações de Paz deveriamtomar a partir do fim da Guerra-Fria – mudança que se caracterizou pela 
discussão das possibilidades de intervenção que questionavam os limites da 
Soberania dos Estados. (Bellamy et al., 2004, pp.75-76). 
 
O aumento na aprovação de novas missões foi influenciado também pelo chamado 
“Efeito CNN”: uma manifestação da mídia que trouxe “aos lares” ocidentais o 
sofrimento de milhares de vítimas de conflitos armados, o que está associado a um 
processo de globalização dos conceitos de direitos humanos no começo da década de 
1990 (Donelly, 2003), aumentando o sentimento de que algo deveria ser feito para 
conter as atrocidades que chegavam “tão perto” e que incomodavam tanto. (Bellamy et 
al., 2004, p.78; 189). 
 
Para tentar aparelhar melhor a própria ONU diante das transformações pelas quais 
passava a prática do peacekeeping, o então Secretário Geral Boutros Boutros-Ghali 
sugeriu a criação de um painel de especialistas para diagnosticar a capacidade da ONU 
de se envolver com resolução de conflitos da forma como vinha fazendo. O resultado, 
registrado na “Agenda para a Paz” (1992), mostrou que a estrutura utilizada até 
então era ineficiente para dar conta de esforços simultâneos em locais distintos, 
diante de condições políticas e materiais peculiares (Johnstone et al., 2005). 
 
Boutros Boutros-Ghali - Intelectual egípcio, nascido em 1922, no Cairo. Profissional 
de Grande prestígio Internacional, foi secretário-geral da Organização das Nações 
Unidas de 1992 a 1996 
 
Mas, como provaram os fracassos das missões na Somália e na Bósnia, a quantidade de 
operações de peacekeeping em que a ONU se envolveu no começo da década de 1990 
contrariava a sua capacidade de administrar tantas crises complexas ao mesmo tempo. A 
estrutura que sustentava as operações era antiquada, os mandatos eram limitados e não 
houve evolução efetiva na parte administrativa da organização, que autorizou missões 
com mandatos amplos demais sem lhes dar autorização suficiente para utilizar a força 
quando necessário. Paralelo a isso, a ambigüidade das intervenções – ainda permeadas 
pela velha lógica da violação da Soberania – levou a casos de omissão, como o de 
Ruanda (1994). (Kuperman, 2001) 
 
Como conseqüência das crises, a ONU atravessou um período de descrença, com 
drástica e rápida redução no número de componentes envolvidos. Boa parte do 
apoio para a condução das missões (sobretudo de potências ocidentais) foi retirado em 
função da desaprovação crescente da opinião pública dos Estados-membros diante da 
morte de seus soldados “em guerras que não eram as suas”, principalmente pela 
incapacidade demonstrada pela ONU em conduzir as Operações de Paz de modo 
eficiente. 
 
Ainda estudando sobre a descrença em relação a ONU, foi somente em 1999/2000 que 
houve uma retomada, ainda que tímida, das operações de peacekeeping empreendidas 
pela ONU, com a autorização de quatro missões importantes: UNTAET (Timor Leste – 
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que posteriormente seria enquadrada como “Administração Transitória”), MONUC 
(Congo), UNAMSIL (Serra Leoa, com participação de civis) e UNMIK (Kosovo, com 
expressiva participação de civis – aprox. 1.000). (Bellamy et al., 2004, p. 85; 141; 238). 
 
A retomada das operações de peacekeeping na mudança do século, no entanto, foi 
marcada por características peculiares. Em primeiro lugar, marcou a consolidação da 
convergência das agendas de desenvolvimento e segurança (Duffield, 2001), com a 
argumentação de que a criação de um ambiente estável e livre de conflitos estaria 
fortemente atrelada a condições mínimas de bem-estar social e econômico – sem as 
quais o conflito poderia se manter. 
 
Além disso, em função dos problemas enfrentados pelas missões da ONU no começo da 
década de 1990, muitas das novas atividades foram assumidas por organizações 
regionais ou, como nos casos de Kosovo e Timor Leste, sob a influência direta de 
atores-chave regionais (OTAN e Austrália, respectivamente) no envio e na manutenção 
das missões, contrário ao que ocorria antes. 
 
No ano 2000, por recomendação do então Secretário Geral Kofi Annan 
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Kofi_Annan) uma série de especialistas em peacekeeping, 
reunidos sob a coordenação do ex-diplomata argelino Lakdar Brahimi, lançaram um 
documento (Relatório Brahimi), cujo principal objetivo era mapear o “estado da arte” 
do peacekeeping da ONU, de modo semelhante ao proposto por Boutros-Ghali em 1992 
(Agenda para a Paz). (Johnstone et al., 2005). 
 
As missões do começo da década de 1990, embora tenham multiplicado a quantidade de 
envolvidos e diversificado seu campo de atuação – incluindo pela primeira vez (em 
larga escala) a participação de civis especialistas em reconstrução econômica, ajuda 
humanitária e state building (“construção de Estados”) – foram bem recebidas pela 
comunidade internacional como resposta aos conflitos do pós-Guerra Fria. 
 
A MINUSTAH (Haiti) 
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Miss%C3%A3o_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas_pa
ra_a_estabiliza%C3%A7%C3%A3o_no_Haiti) é um exemplo de missão de paz 
multidimensional (ou complexa), por envolver uma série de componentes que visam a 
garantia de segurança e estabilidade para promover melhores condições econômicas e 
políticas que tornem sustentável o desenvolvimento do Estado. Ao mesmo tempo, trata-
se de um produto das reflexões sobre os erros e acertos no gerenciamento de crises pela 
ONU – e, no caso da MINUSTAH, tem-se um claro exemplo de “boas práticas”, pelo 
que a missão vinha fazendo até final de 2009 e também graças à capacidade de 
adaptação após o terremoto no Haiti (em 12/01/2010). 
 
A partir deste momento, é possível perceber uma mudança maior nos “tipos de 
peacekeeping”. Com ambientes de crise mais complexos para serem resolvidos do que 
com a simples interposição de forças do peacekeeping tradicional¸ a multiplicação de 
componentes era questão de tempo. 
 
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É preciso deixar claro que as missões de peacekeeping tradicional não chegaram ao fim. 
O Conselho de Segurança prepara missões para a realidade de cada conflito e, alguns 
casos, como a missão no sul do Sudão (UNAMIS), é preciso monitorar um acordo de 
paz ou um cessar-fogo, característica típica das missões tradicionais. Hoje, porém, e de 
maneira inequívoca, essas missões convivem com um número cada vez maior de 
missões de manutenção de paz complexas ou multidimensionais. 
 
 
 
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Aula 5 
Os principais atores no terreno 
 
 
Nesta aula você estudará as características, as funções, os objetivos e as principais 
formas de atuação dos diferentes atores de uma missão de manutenção da paz 
multidimensional, o papel e as responsabilidades do componente militar e do 
componente policial, assim como o envolvimento cada vez maior de representantes de 
organizações da sociedade civil e de governos (eventos ou negociações entre 
embaixadas ou outras representações diplomáticas, impactos nos ministérios, no poder 
legislativo, etc.). Estudará ainda, com ênfase, o caráter internacional das tropas, 
dos policiais e dos civis da missão, com comentários referentes à necessidade de 
superar dificuldades encontradas diante das diferenças culturais, lingüísticas e políticas. 
Atenção especial deve conferida à relação entre os componentes de uma missão, e 
também entre a missão e os demais atores no terreno. 
 
Comentários Iniciais 
 
As missões de manutenção da paz multidimensionais são, por definição, missões 
que envolvem diferentes atores, que executam atividades em diferentes dimensões 
(militar, policial, diplomática/política, humanitária e de desenvolvimento). É 
preciso entendera lógica por trás da estrutura de uma missão desta natureza e, mais que 
isso, estar atento às dinâmicas políticas e possibilidades de interação entre os diversos 
atores no terreno (não só dentro da missão da ONU, mas também para além desta 
organização que, em um caso como o do Haiti, é apenas mais um ator no terreno). 
 
No Haiti, por exemplo, até o terremoto de 2010, o visitante mais atento iria encontrar as 
seguintes instituições politicamente ATIVAS: MINUSTAH, UN Country Team, Viva 
Rio, Médicos sem Fronteira, Embaixada do Brasil e de outras dezenas de Estados, 
ONGs locais, Organização dos Estados Americanos (OEA), Banco Mundial, 
empresas multinacionais, etc. 
 
Antes de prosseguir os seus estudos: 
 
Releia o parágrafo acima e, à medida que ler o nome de cada ator, tente imaginar as 
características do mesmo (natureza, composição e forma de ação). 
 
 
O papel dos militares 
 
É possível encontrar militares cumprindo três diferentes papéis em um contexto de pós-
conflito: 
 
 
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⇒ Militares que participam da própria missão de paz da ONU: são 
representantes dos seus governos e respondem a seus generais (mantêm a cadeia 
de comando), mas no alto da hierarquia encontra-se um civil da ONU. Esses 
militares, ao mesmo tempo, respondem a seus governos e à estrutura da ONU. 
 
⇒ Militares que são os representantes de outras organizações internacionais 
no terreno. No Afeganistão, por exemplo, a ONU tem poucos militares, porque 
se trata de uma missão política, e a maioria dos militares no terreno trabalham 
para a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). 
 
⇒ Militares que estão envolvidos no conflito armado, em nome de seus 
governos ou, em alguns casos, como resquícios de uma resistência ou de um 
exército destituído. Estes militares são geralmente percebidos como partes do 
conflito e não se confundem com os que estão sob a bandeira da ONU – na 
prática, porém, esta distinção nem sempre é evidente. 
 
Missão de paz da ONU - No Comando Geral de uma missão há também militares e 
policiais como funcionários da própria ONU e que, por isso, não respondem a seus 
governos. Um exemplo é o Force Commander – no Haiti, é um general brasileiro que é 
funcionário da ONU e que, apesar de ser brasileiro, não responde ao governo do Brasil 
 
Apesar de a ONU buscar legitimidade quando autoriza uma missão, nem sempre suas 
ações são percebidas como legítimas pela população ou governo locais. Isso faz com 
que os militares, mesmo atuando sob a bandeira da ONU, eventualmente não 
sejam percebidos como legítimos. O mesmo pode acontecer com civis – causando 
problemas ou mesmo tragédias, como a morte de Sérgio Vieira de Melo 
(http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9rgio_Vieira_de_Mello) e mais 21 pessoas na 
sede da ONU em Bagdá, em agosto de 2003. 
 
O papel dos policiais 
 
Os policiais têm possibilidades de inserção e atuação na mesma linha mas ao mesmo 
tempo diferentes das que têm os militares. Os policiais podem ser: 
 
⇒ Representantes da ONU em uma missão; 
 
 
⇒ Representantes de outra organização intergovernamental (a OTAN ou a 
OSCE – Organização para Cooperação e Segurança Européias –costumam ser 
um espaço para tanto, como ocorreu no Kosovo); 
 
⇒ Representantes do governo anfitrião. 
 
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Missão - a estrutura e a cadeia de comando dos militares é diferente da dos policiais 
quando sob autoridade da ONU, como se verifica nas missões no Timor Leste ou no 
Haiti. 
 
Sob a bandeira da ONU, os policiais são considerados civis (mesmo se forem 
policiais militares no país de origem) e têm suas patentes temporariamente 
“suspensas”. Suas atividades incluem patrulhamento, assessoria a reformas no setor de 
segurança do país anfitrião e outras atividades relacionadas a desarmamento, 
desmobilização e reintegração de ex-combatentes (DDR). 
 
Em contextos de pós-conflito, é comum verificar que a polícia do país anfitrião não 
tem recursos materiais e/ou humanos para cumprir suas tarefas. Assim, a polícia 
internacional (da ONU ou de outra organização intergovernamental) tem a função não 
só a de patrulhar as ruas junto com a polícia local, mas também de auxiliar na 
reconstrução de um sistema de segurança pública que esteja apto a desenvolver diversas 
tarefas, de maneira eficiente e sustentável. 
 
Os civis do Sistema ONU – agências, programas e fundos 
 
Nas missões de manutenção de paz da ONU, encontram-se basicamente três tipos de 
“civis da ONU”: 
 
1º tipo - é composto pelo chamado “UN Country Team”, composto por pessoas já 
residentes no país anfitrião, responsáveis pela tomada de decisão e implementação de 
projetos em nome da ONU, junto com o governo local. O chefe do “UN Country 
Team”, chamado de Coordenador Residente, é considerado o “embaixador” da ONU no 
país anfitrião. Basta ser membro da ONU para ter um “UN Country Team”, ou seja, eles 
não estão somente onde há situações de pós-conflito. Nas “missões multidimensionais”, 
há uma relação institucional direta entre o “UN Country Team” e a missão de paz da 
ONU. 
 
2º Tipo - engloba os que trabalham dentro da missão de paz, com tarefas 
exclusivamente relacionadas ao mandato. Na MINUSTAH, por exemplo, os civis lidam 
com reforma do setor de segurança, gênero, desarmamento, etc. 
 
3º tipo - é composto por agências, programas e fundos do Sistema ONU que, no terreno 
do país anfitrião, agem sob um “guarda-chuva institucional” da ONU, com atividades 
paralelas e por vezes complementares às desempenhadas pelos civis que trabalham na 
missão de paz (http://www.un.org/aboutun/chart_en.pdf). Essas agências não são parte 
da missão, mas têm suas atividades a ela vinculadas. 
 
Buscando ampliar informações para que compreenda como funciona o “guarda-chuva 
institucional”, leia as informações a seguir. É provável que você identifique o trabalho 
de várias das agências, programas e fundos da ONU. Todos são “civis da ONU”. 
 
♦ Agências especializadas mais encontradas em contextos pós-conflito são: 
UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura); 
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OMS ou WHO (Organização Mundial de Saúde); OIT ou ILO (Organização 
Internacional do Trabalho); e FAO (Organização para Alimentação e 
Agricultura) 
 
♦ Programas e fundos que mais atuam neste tipo de contexto são: PNUD 
(Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento); UNICEF(Fundo das 
Nações Unidas para a Infância); ACNUR ou UNHCR(Alto Comissariado da 
ONU para Refugiados); PMA ou WFP (Programa Mundial de 
Alimentação); e UN-Habitat (Programa das Nações Unidas para 
Assentamentos Humanos). 
 
Há sub-divisões do Secretariado da ONU, também consideradas “civis da ONU”, e que 
têm funções nas missões de paz: DPKO (Departamento de Operações de Manutenção 
da Paz); OCHA (Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários); OHCHR 
(Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos); e UNODC (Escritório das 
Nações Unidas sobre Drogas e Crimes). 
 
Assim, vê-se o quão complexa é a estrutura dos civis da ONU no contexto de uma 
missão de paz. Existem articulações e coordenação política entre o UN Country Team 
(nas missões multidimensionais), os civis da missão de paz e os civis que trabalham 
para agências/programas/fundos no terreno. E este é apenas o componente civil; para 
entender a dinâmica completa, é preciso considerar também os componentes militares e 
policiais, acima mencionados. 
 
O envolvimento de outras organizações intergovernamentais 
 
Assim como a ONU, outras organizações intergovernamentais também têm mandato 
para lidar com questões relacionadas à segurança de seus membros.Veja a seguir uma 
lista (não taxativa) de organizações intergovernamentais que podem enviar 
representantes para locais aonde também são enviadas missões da ONU: OEA 
(Organização dos Estados Americanos); OTAN (Organização do Tratado do Atlântico 
Norte); OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa); UE (União 
Européia); e Banco Mundial. 
 
Banco Mundial - O Banco Mundial é uma instituição financeira que integra o “Sistema 
ONU” na qualidade de “agência especializada”. A despeito disso, tem autonomia 
quanto à decisão e implementação de projetos ainda que no mesmo local aonde são 
enviadas as missões de paz. Nas missões multidimensionais, há a tentativa de articular a 
visão do Banco com a da missão no terreno. 
 
Importante! 
 
Cada organização tem princípios e regras próprias a seu funcionamento; têm em comum 
o respeito à soberania e as articulações em alto nível político. 
 
O envolvimento de representantes civis de governos 
 
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Por sua natureza, as organizações internacionais representam governos. Porém, os 
funcionários dessas organizações, ainda que nascidos nos Estados X ou Y, nem sempre 
executam funções vinculadas à sua nacionalidade. Ou seja, os funcionários de 
organizações intergovernamentais não necessariamente representam seus governos, 
podendo representar a própria organização que, por sua vez, irá representar a “vontade 
coletiva” dos Estados. 
 
Não é tão complicado como talvez possa parecer. O ponto a ser ressaltado é simples: os 
representantes dos Estados são diferentes dos representantes das organizações, ainda 
que suas nacionalidades, por vezes, sejam as mesmas. 
 
Por exemplo: o Force Commander (comandante das forças) da MINUSTAH é um 
brasileiro. Neste cargo, porém, ele representa os interesses da ONU e não os do Brasil. 
É uma posição curiosa porque, de acordo com negociações não-escritas, o Force 
Commander deve ser brasileiro – então ele só está no cargo por causa de sua 
nacionalidade. Mas é considerado funcionário da ONU, então não representa os 
interesses do Brasil. 
 
Situação diferente é a do comandante das tropas brasileiras. Este, sim, representa o 
Brasil e está subordinado ao Force Commander, assim como o comandante das tropas 
uruguaias, argentinas, chilenas, etc. Outros exemplos são mais óbvios: o Embaixador do 
Brasil no Haiti também representa interesses brasileiros. 
 
Devido à afinidade decorrente da nacionalidade, pode-se dizer que há uma facilidade, 
ou quase uma tendência, à cooperação entre o Force Commander (funcionário militar 
da ONU), o Batalhão Brasileiro (militar) e a Embaixada do Brasil (diplomata). Ou seja, 
apesar de o Force Commander, que é brasileiro, responder aos interesses da ONU – o 
que pode vir a contrariar os interesses do Brasil –há maior possibilidade de cooperação 
pelo fato de ele ser brasileiro. 
 
Com isso, identifica-se misturas nacionais poderosas no terreno, ainda que nem todos os 
atores participem da estrutura institucional da missão de paz. 
 
O envolvimento de representantes de organizações da sociedade civil 
 
Por definição, as organizações da sociedade civil se diferenciam dos militares, policiais 
e diplomatas por não pertencerem a um governo, ou seja, não se identificam com 
interesses nacionais a priori. 
 
Em termos de área de atuação, a sociedade civil se organiza para defender temas como 
direitos humanos (sentido amplo) e questões ambientais. São espaços onde muitos 
Estados – os principais atores do sistema – não podem ou não querem agir com 
determinação e eficácia. A sociedade civil surge, num primeiro momento, para 
monitorar o comportamento do Estado e, depois, para ela mesma implementar projetos 
relacionados a tais áreas. 
 
Quanto às formas de atuação, tais organizações geralmente agem de três maneiras: 
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♦ Forma 1 - Produção de informações, relatórios, etc. 
♦ Forma 2 - Lobby ou ativismo; 
♦ Forma 3 - Trabalho de campo. 
 
Há ONGs que estão mais preocupadas com a produção de informações, como a Human 
Rights Watch (forma 1). Outras combinam duas formas de ação, como o Greenpeace 
(formas 1 e 2). Outras, ainda, combinam um pouco de cada, como o Viva Rio ou o 
Médicos sem Fronteiras. 
 
Em termos de financiamento, algumas destas ONGs podem receber verbas de governos 
– isso mais indica uma convergência de interesses e preocupações do que o seguimento 
dos interesses de tal Estado. Outras se recusam a receber financiamento de governos, 
como o Repórteres sem Fronteiras (RSF) 
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%B3rteres_sem_Fronteiras). 
 
 
 (http://www.rsf.org/) 
 
Importante! 
 
Hoje, estima-se que haja cerca de 40 mil ONGs internacionais. São milhares de 
instituições, com dezenas ou centenas de causas. Não se pode generalizar as ONGs, nem 
de maneira positiva nem negativa. A análise dos comportamentos, princípios e formas 
de atuação deve ser feitos em cada caso. 
 
Quando atuam em situações emergenciais ou de pós-conflito, as organizações da 
sociedade civil não necessariamente têm vinculação com a missão da ONU no terreno. 
Quando há interação, esta se dá por meio de projetos pontuais e não através de 
vinculação institucional junto ao “guarda-chuva” da missão. 
 
Os atores locais 
 
Depois de verificar algumas características de diferentes atores internacionais, pense 
nos atores já existentes no país anfitrião, ou seja, no país que recebe uma missão de paz 
em seu território. 
 
♦ Quem são os atores locais? 
 
♦ Quais suas principais características? 
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%B3rteres_sem_Fronteiras�
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♦ Que tipo de instituições interagem com os atores internacionais? 
 
♦ Qual a relevância de se incluir atores locais nas negociações internacionais? 
 
Você não irá aprofundar seus estudos na questão dos atores locais, pois os objetivos 
desta aula são demonstrar a diversidade no terreno e ressaltar os atores da 
“comunidade internacional” (já que você, em sua profissão, se vier a participar de 
uma missão de paz, será integrante da tal “comunidade internacional”). 
 
Cabe, portanto, apenas a observação de que entre os atores locais estão 
representantes do governo (presidente, primeiro-ministro, governadores, prefeitos, 
ministros, secretários, deputados, senadores, policiais, juízes etc). Além do governo, 
também estão no terreno ONGs locais, líderes comunitários, professores, líderes 
religiosos, integrantes da população civil, membros de gangues ou facções, etc. Assim, 
à complexa dinâmica entre todos os atores internacionais acima mencionados somam-se 
também os atores locais. 
 
Considerando que uma missão de paz é um remédio providenciado pela ONU para 
resolver ou mitigar conflitos armados, pode-se concluir que: 
 
O objetivo maior de uma missão de paz é terminar, chegar ao fim, é resolver o que 
estiver no mandato e se retirar do país anfitrião. Não é uma invasão, mas sim um 
convite. Não há data para término, mas há literalmente uma “missão” a ser cumprida e, 
uma vez cumprida, encerra-se a missão através da não-renovação do mandato pelo 
Conselho de Segurança. Ou seja, o objetivo maior é a “devolução da soberania” para o 
país anfitrião. 
 
Para que isso seja possível, é preciso envolver os atores locais nos processos de tomada 
de decisão e também na implementação dos projetos naquele Estado. Essa articulação 
com atores locais aumenta as chances de sustentabilidade de uma atividade, além de 
conferir mais legitimidade a qualquer ação. 
 
Para concluir este item, pense na seguinte expressão haitiana, na língua local (créole): 
 
“Tanbou prete pa janm fè bon dans”. 
(“Um tambor emprestado

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