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Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica no Brasil

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FARMÁCIA CLÍNICA 
DIRECIONADA À 
PRESCRIÇÃO 
FARMACÊUTICA 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
ATENÇÃO BÁSICA A SAÚDE- FARMÁCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
FARMACÊUTICO E O USO DE MEDICAMENTOS .................................................... 7 
 
 
3 
AS CONSEQUÊNCIAS DO USO INADEQUADO DE MEDICAMENTOS ................. 16 
A HISTÓRIA DA FARMÁCIA CLÍNICA E DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA ............. 21 
O SURGIMENTO DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA ................................................. 24 
A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO NA PRÁTICA DA 
ATENÇÃO FARMACÊUTICA .................................................................................... 29 
ELEMENTOS PRESENTES NA REALIDADE DO PROFISSIONAL 
FARMACÊUTICO ...................................................................................................... 29 
O FARMACÊUTICO NA PRÁTICA DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA ...................... 31 
INTRODUÇÃO À FARMÁCIA CLÍNICA E ATENÇÃO FARMACÊUTICA ................. 35 
PANORAMA HISTÓRICO DA PROFISSÃO FARMACÊUTICA A PARTIR DO 
SÉCULO XX .............................................................................................................. 37 
ANÁLISE DO PERÍODO DE TRANSIÇÃO................................................................ 42 
ATENÇÃO FARMACÊUTICA NO BRASIL ................................................................ 47 
ATENÇÃO FARMACÊUTICA – O PACIENTE COMO FOCO ................................... 51 
ATENÇÃO FARMACÊUTICA – RESPONSABILIDADES ......................................... 53 
A ATENÇÃO FARMACÊUTICA – RESULTADOS .................................................... 59 
PROBLEMAS RELACIONADOS A MEDICAMENTOS ............................................. 60 
SEGUIMENTO FARMACOTERAPÊUTICO .............................................................. 62 
Problemas de Saúde ................................................................................................. 78 
Medicamentos ........................................................................................................... 78 
Avaliação ................................................................................................................... 79 
Intervenção Farmacêutica ......................................................................................... 79 
Os medicamentos ..................................................................................................... 80 
Descrição de reações adversas. ............................................................................... 91 
Tratamento não medicamentoso para hipertensão ................................................... 91 
 
 
4 
TRATAMENTO MEDICAMENTOSO ......................................................................... 92 
Inibidores Adrenérgicos ............................................................................................. 93 
Vasodilatadores Diretos ............................................................................................ 94 
Antagonistas dos Canais de Cálcio ........................................................................... 94 
ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE DIABÉTICO....................................... 95 
ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE DISLIPIDÊMICO ............................. 101 
ATENÇÃO FARMACÊUTICA AO PACIENTE ASMÁTICO ..................................... 105 
ATENÇÃO FARMACÊUTICA À PACIENTE GESTANTE ....................................... 115 
Propriedades físico-químicas dos fármacos ............................................................ 118 
Características da placenta ..................................................................................... 119 
Fase de desenvolvimento embrionário em que se administra o fármaco ................ 119 
Classes farmacológicas utilizadas durante a gestação ........................................... 120 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 122 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
UM PANORAMA GERAL DA SAÚDE E DOS MEDICAMENTOS NO BRASIL 
 
A situação da saúde no Brasil é a resultante de uma série de fatores, cujo 
impacto sobre a mesma é considerável: educação, segurança, previdência social, 
infraestrutura, conjuntura econômica. Os organismos internacionais que monitoram 
esse campo desenvolveram indicadores destinados a medir o estado de saúde da 
população de um país. Entre esses indicadores, ressalta-se a expectativa de vida 
dos habitantes ao nascer e a mortalidade infantil. 
Embora ocupe uma posição inferior à dos países desenvolvidos e de muitas 
nações em desenvolvimento, o Brasil apresenta uma esperança de vida e uma 
mortalidade infantil que se aproximam das dos países de elevado desenvolvimento. 
O sistema público de saúde nacional, o SUS, responsável pelo atendimento 
médico a 180 milhões de pessoas, merece considerável parcela de crédito para esse 
sucesso. 
O Sistema Único de Saúde cobre todos os residentes do país, isto é, cerca de 
180 milhões de pessoas, sendo uma das maiores estruturas públicas de saúde 
existentes no mundo. Foi criado em 1990, depois que a Constituição de 1988 
legislou que toda a população brasileira fosse atendida gratuitamente por um 
sistema de saúde público, regido pelos princípios da universalidade, equidade e 
integralidade. 
Um componente crítico do sistema de saúde é o medicamento. Alguns 
tratamentos continuados – hemofilia, AIDS, diabetes, hipertensão, transplantes – 
custam dezenas de milhares de reais por ano por paciente, valores muito superiores 
à capacidade de pagamento de qualquer indivíduo e com os quais a sociedade arca 
por intermédio do sistema público de saúde. 
Os medicamentos, suprimentos médico-hospitalares e os demais insumos de 
saúde, representam parcela importante do atendimento médico. Correspondem à 
cerca de 20% dos gastos totais em saúde. É o segundo item dos custos, atrás das 
despesas com mão-de-obra. No orçamento de saúde da União, cerca de 3 bilhões 
de reais em R$ 25 bilhões, ou seja, 12% da verba são destinados à aquisição de 
medicamentos. 
Atuam no País cerca de 350 laboratórios farmacêuticos, dos quais 50 
multinacionais, os quais respondem por 70% do faturamento. Existem 45 mil 
 
 
6 
farmácias, das quais 3.500 pertencem a redes. As farmácias e drogarias vendem 
82% dos medicamentos consumidos no País. Os laboratórios fabricantes pouco 
vendem diretamente para as farmácias e hospitais. Comercializam seus produtos 
por intermédio de 1.500 distribuidores atacadistas. 
Os medicamentos no Brasil podem ser classificados em éticos (que somente 
podem ser vendidos com prescrição médica), como os antibióticos e de balcão (over 
thecounter – OTC), como, por exemplo, o paracetamol. Além destes, a população 
também consome plantas medicinais, adquiridas inclusive de feirantes. 
Mais de 30 mil apresentações de medicamentos são registradas no mundo, 
das quais 20 mil no Brasil. A ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 
autoriza o uso de medicamentos no País. Cerca de 8 mil apresentações são 
regularmente comercializadas no Brasil, das quais 6 mil são produtos éticos. As 
apresentações são formulações baseadas em aproximadamente 1.500 fármacos. 
Os medicamentos são de três tipos: de marca, cobertos pela patente detida 
pelo laboratório descobridor, similar e genérico. Esse último custa até 40% menos 
que o de marca. Cerca de 40 laboratórios produzem mais de 300 genéricos. Estima-
se que os genéricos absorverão entre 30% e 40% do mercado. 
Alguns medicamentos não são incluídos na corrente comercial por serem 
fornecidos gratuitamente pelos governos: federal e de alguns Estados. São 
destinados a programas sociais e aos portadores de enfermidades prolongadas e
dispendiosas: AIDS, hemofilia e diabetes. Os governos federal e estaduais operam 
16 laboratórios que fabricam medicamentos destinados aos programas sociais. Seu 
custo é menor do que o dos laboratórios privados, já que não enfrentam despesas 
de marketing que respondem por 40% dos custos dos medicamentos comerciais. 
São fornecidos a hospitais públicos e a secretarias estaduais e municipais de saúde. 
Os mais conhecidos são o Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto 
Butantan e a Fundação para o Remédio Popular – FURP. 
Assim, conclui-se que em um país de intensos contrastes e desigualdades 
profundas, é arriscado procurar sintetizar a atuação do sistema de saúde, avaliar o 
modelo e julgar os resultados obtidos. O Brasil possui duas classes de habitantes: os 
que têm planos privados de saúde e os que somente dispõem do sistema público, o 
SUS. Extrair médias aritméticas de indicadores de mortalidade infantil e de 
expectativa de vida desses dois povos pode levar a conclusões estatísticas 
viesadas. Válidas ou não, as médias dos indicadores revelam que o Brasil realizou 
 
 
7 
progressos consideráveis e continuados nos últimos 50 anos na área da saúde. 
Considerando os parcos recursos aplicados globalmente na saúde do País, 10 vezes 
inferiores aos dos países de maior desenvolvimento; e considerando que o SUS, que 
atende 180 milhões de pessoas, é o maior sistema do mundo ocidental, e, portanto, 
pelo seu gigantismo, o mais difícil de ser administrado. Os resultados obtidos são 
surpreendentemente exitosos. 
Pairam elevados riscos no futuro, pois como o País vem obtendo resultados 
expressivos na economia, emprego, segurança, educação, infraestrutura, no 
saneamento e como todas essas áreas influenciam na saúde, é possível que os 
progressos na área médica, partilhados por uma população em contínua expansão, 
não se sustentem. 
Desde que livre de patologias mentais, que são a burocracia, o suborno e a 
tomada subjetiva de decisões, e concentrando-se nas ações médicas mais eficientes 
sob o aspecto custo-benefício, como a higiene, a prevenção, o saneamento básico e 
a atenção primária, o País poderá atingir em breve os patamares de saúde 
alcançados pelas nações com as quais procura ombrear. 
 
FARMACÊUTICO E O USO DE MEDICAMENTOS 
 
O USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS 
 
Há uso racional de medicamentos, de acordo com a Organização Mundial da 
Saúde - OMS (Nairobi, Quênia, 1985), quando "pacientes recebem medicamentos 
apropriados para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas 
necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para 
a comunidade". 
Como exemplo de uso inapropriado de medicamentos, tem-se: o uso de 
muitos medicamentos por paciente (polimedicação); o uso inapropriado de 
antimicrobianos, frequentemente em posologias inadequadas ou para infecções não 
bacterianas; o uso excessivo de injetáveis, quando há disponibilidade de formas 
farmacêuticas orais mais apropriadas; a prescrição em desacordo com diretrizes 
clínicas; a automedicação feita de forma inapropriada, frequentemente com 
medicamentos vendidos sob prescrição. 
De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS (2002) – há doze 
 
 
8 
intervenções para a promoção do uso racional de medicamentos: 
- Comitê nacional estabelecido de forma multidisciplinar para 
coordenar as políticas do uso racional. No Brasil, criado por meio da Portaria GM n° 
1555, de 27 de junho de 2007, o Comitê Nacional para a Promoção do Uso Racional 
de Medicamentos tem por objetivo principal identificar e propor estratégias e 
mecanismos de articulação, de monitoramento e de avaliação direcionadas à 
promoção do uso racional de medicamentos, de acordo com os princípios e 
diretrizes do Sistema Único de Saúde – SUS; 
- Diretrizes clínicas; 
- Lista de medicamentos essenciais – a OMS definem medicamentos 
essenciais como os que satisfazem às necessidades prioritárias de saúde da 
população, sendo selecionada de acordo com a sua pertinência para a saúde 
pública, a existência de evidências sobre sua eficácia, segurança e sua eficácia 
comparada aos custos. Além disso, enfatiza que devem estar disponíveis nos 
sistemas de saúde em quantidades suficientes, nas formas farmacêuticas 
apropriadas, com garantia da qualidade e informação adequada, ao preço que os 
pacientes e a comunidade possam pagar; 
Entre as diretrizes da política nacional de medicamentos, está a adoção da 
Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENAME – que deverá servir de 
base ao desenvolvimento tecnológico e científico, à produção de medicamentos no 
País e às novas listas construídas nos níveis estadual e municipal de atenção à 
saúde. Essa relação, elaborada com base no quadro nosológico do País, é o 
fundamento para orientação da prescrição e do abastecimento da rede do Sistema 
Único de Saúde (SUS), com vistas ao aperfeiçoamento de questões administrativas 
e de redução de custos, instrumentalizando o processo de descentralização. 
Abrange um elenco de medicamentos necessários ao tratamento e controle das 
enfermidades prioritárias em saúde pública nos diversos níveis de atenção no País; 
- Comitês de Farmacoterapia baseados em problemas nos cursos de 
graduação; 
- Educação médica continuada em serviço como requisito para 
registro profissional; 
- Supervisão, auditoria e feedback; 
- Informação fidedigna e isenta sobre medicamentos; 
- Educação dos usuários sobre medicamentos 
 
 
9 
- Não permissão a incentivos perversos; 
- Regulamentação e fiscalização apropriadas; 
- Gasto governamental suficiente para assegurar disponibilidade de 
medicamentos e infraestrutura; 
Ainda, como medidas regulatórias que apoiam o uso racional de 
medicamentos, têm-se: 
 
- Registro de medicamentos mediante evidências de que sejam 
seguros, eficazes e de boa qualidade; 
- Revisão da classificação de medicamentos sob prescrição; incluindo 
a limitação de certos medicamentos a serem disponibilizados apenas sob prescrição 
e não como venda livre; 
- Estabelecimento de padrões educacionais para os profissionais de 
saúde, com fortalecimento de cumprimento dos códigos de conduta, em cooperação 
com entidades profissionais e universidades; 
- Registro de profissionais de saúde: médicos, enfermeiros e demais 
profissionais, assegurando que tenham a necessária competência para a prática 
relacionada a diagnóstico, prescrição, administração e dispensação; 
- Licenciamento de estabelecimentos farmacêuticos: farmácias, 
distribuidoras, assegurando que cumpram todos os padrões de funcionamento e de 
dispensação; 
- Monitorização e regulação da promoção de medicamentos, 
assegurando informação ética e sem vieses; 
- Todos os materiais promocionais devem ser isentos, fidedignos, 
com informações balanceadas e atualizadas. 
Portanto, o uso racional de medicamentos pode ser definido como o processo 
que compreende a prescrição apropriada, a disponibilidade oportuna e a preços 
acessíveis, a dispensação em condições adequadas, bem como o consumo nas 
doses indicadas, nos intervalos definidos e no período de tempo indicado de 
medicamentos eficazes, seguros e de qualidade. 
Tal definição denota que a promoção do uso racional de medicamentos 
depende de medidas educativas que envolvem os profissionais que atuam na área 
da saúde, particularmente os prescritores e dispensadores, bem como os usuários 
de medicamentos. 
 
 
10 
Nesse contexto, cabe ressaltar a premência da adequação dos currículos dos 
cursos de graduação e pós-graduação de profissionais da área de saúde, uma vez 
que as discussões sobre essa necessidade delongam-se demasiadamente, 
carecendo de aplicação prática que reflita na melhoria das condições de saúde da 
população. 
Não há como negar que a população, hoje, apresenta problemas no acesso 
aos serviços de saúde e aos produtos farmacêuticos indispensáveis. Os recursos 
concedidos pelo governo para o financiamento
da assistência farmacêutica são 
insuficientes e utilizados sem que se tenha ideia de sua efetividade. 
Concomitantemente, o caráter simbólico dos fármacos e seu entendimento 
simplesmente como mercadoria, consequência da produção capitalista, faz da sua 
utilização sem critério um problema de saúde pública. 
A incorporação de novas tecnologias torna os produtos farmacêuticos 
complexos, caros e frequentemente perigosos; no entanto, constituem o recurso 
terapêutico mais empregado. 
De acordo com a publicação “Cómo Investigar el uso de los medicamentos 
por parte de los consumidores”, dos autores Anita Hardon, Catherine Hodgkin e 
Daphne Fresle, disponível no site da Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS 
(www.opas.org.br), nos países em desenvolvimento, os gastos com medicamentos 
podem alcançar de 30 a 40% do gasto sanitário. Grande parte desse gasto 
corresponde a compras individuais de medicamentos para a automedicação e, raras 
vezes, para prescrição médica. 
Segundo o mesmo artigo, os problemas comuns do uso inapropriado de 
medicamentos são: 
- Não utilizar o medicamento do modo que indica o prescritor 
Esse é um problema que os agentes de saúde tentam diminuir e que têm sido 
tema de numerosos estudos sobre o uso de medicamentos. As pessoas tendem a 
esquecer dos detalhes do assessoramento que recebem, ou não compram todos os 
medicamentos que lhe foram os administram em doses inadequadas. 
Um estudo realizado por Homedes e Ugalde, em 1993, identificou quatro tipos 
de pacientes que solicitam aconselhamento médico, mas não o seguem: 
 
 
 
 
 
11 
 
1. Os pacientes motivados que não conhecem ou esquecem a totalidade, 
ou uma parte, das recomendações; 
2. Os pacientes bem informados, mas insuficientemente motivados para 
seguir as instruções; 
3. Os pacientes que não podem seguir as recomendações porque são 
pobres, não possuem acesso aos medicamentos ou por outras causas externas; 
4. Os pacientes que trocam de opinião e por diferentes razões decidem 
não seguir as recomendações. 
Automedicação com medicamentos de venda sob prescrição (venda com 
receita médica) 
 
Em muitos países, as pessoas podem comprar livremente medicamentos que, 
por lei, poderiam ser vendidos apenas com receita médica. 
A automedicação com medicamentos de venda com receita é um problema 
especialmente em países em desenvolvimento, nos quais as farmácias vendem 
medicamentos sem exigir a receita, bem como os comércios não autorizados e os 
pequenos armazéns. Algumas vezes, as pessoas inclusive se automedicam com 
fármacos de venda com receita por conselhos de curandeiros tradicionais. As 
pessoas guardam em casa os medicamentos que sobram e os retorna a utilizar ou 
doa os mesmos a vizinhos e à família. Essa prática também é observada em países 
em que a venda de medicamentos está mais bem controlada. A possibilidade de 
comprar medicamentos pela internet faz com que os medicamentos disponíveis 
somente com receita médica em um país possam ser comprados de outro onde o 
controle é prescritos. Algumas vezes, os pacientes deixam de administrar os 
medicamentos indicados ou menos rigoroso. A imigração e a maior mobilidade das 
pessoas permitem que mais indivíduos comprem medicamentos do local onde é 
mais fácil realizar essa compra, ou obtenha os medicamentos de familiares e 
amigos. Por exemplo: imigrantes acostumados a adquirir livremente “medicamentos 
de venda com receita” em seu país de origem podem obter dos amigos ou familiares 
que o visitam. 
 
- Uso inadequado de antibióticos 
Os antibióticos são medicamentos importantes, mas são prescritos em 
 
 
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excesso e as pessoas se automedicam, realizando um uso abusivo dessa classe 
para o tratamento de transtornos menores, como diarreia, resfriado e tosse. Quando 
os antibióticos são utilizados com demasiada frequência e em doses inferiores às 
recomendadas, as bactérias tornam-se resistentes. Esse problema preocupa 
seriamente os responsáveis pelas políticas de saúde pública. A consequência é o 
fracasso do tratamento quando os pacientes com infecções graves tomam 
antibióticos. As pessoas compram doses inferiores às recomendadas porque não 
podem custear o tratamento completo ou porque não sabem que é necessário 
completar o tratamento. 
Inclusive em países industrializados, em que a venda de medicamentos é 
mais bem controlada, a inobservância ao tratamento prescrito é um problema 
frequente. As pessoas que não sabem que é preciso completar o tratamento deixam 
de administrar os antibióticos quando cessam os sintomas, enquanto que outras 
administram doses maiores que as indicadas por acreditarem que assim serão 
curadas mais rapidamente. 
 
- Uso excessivo de injetáveis 
Em muitos países, os agentes de saúde e os pacientes acreditam que as 
injeções são mais eficazes que os comprimidos. Essa crença não somente gera 
gastos desnecessários (em muitos casos os comprimidos são a modalidade 
terapêutica mais barata), como também leva a riscos desnecessários para a saúde 
nos lugares em que as injeções são administradas em condições inadequadas de 
higiene, ou com seringas e agulhas que são utilizadas mais de uma vez e sem 
esterilizar. 
 
- Uso excessivo de medicamentos relativamente seguros 
Em muitos países, as pessoas acreditam que “há uma pílula para cada 
doença”. Antes da aparição de qualquer transtorno leve, imediatamente administra 
medicamentos. Em numerosos países, as vitaminas e os analgésicos, como os 
complexos polivitamínicos, ácido acetilsalicílico e paracetamol são os fármacos 
(relativamente seguros) mais utilizados. Essa prática não é segura. A aspirina pode 
provocar hemorragia gástrica e o paracetamol, em quantidades excessivas, pode 
provocar a morte. 
 
 
 
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- Uso arriscado de ervas medicinais 
- Nos países em desenvolvimento, a automedicação com ervas 
medicinais é habitual. Em muitos destes países, há programas que verificam a 
segurança e a eficácia dessas ervas, e algumas são selecionadas para fazer parte 
dos programas nacionais de saúde. Nos países industrializados, também está 
crescendo a utilização de ervas medicinais. As pessoas acreditam 
que são “mais naturais” que os produtos farmacêuticos. Algumas ervas 
medicinais são potentes e sua segurança não é tão evidente como se acredita. Além 
disso, podem ser perigosas se administradas junto a produtos farmacêuticos. Por 
exemplo, a erva antidepressiva hipérico (Erva de São João) não pode ser utilizada 
com inibidores seletivos da recaptação de serotonina. 
- Uso de combinações não essenciais de medicamentos 
Quando apresentam tosse ou estão resfriadas, as pessoas tendem a tomar 
toda a classe de medicamentos para tosse e resfriado, que contém mais de um 
princípio ativo. Algumas vezes esses medicamentos, inclusive, contêm substâncias 
de ações contrárias: uma que suprime a tosse e outra que a estimula. Esses 
remédios não curam e constituem um gasto desnecessário. 
 
- Uso de medicamentos caros desnecessariamente 
Em muitos países, as pessoas escolhem os medicamentos por sua marca 
comercial. Os produtos de marcas registradas frequentemente são mais caros que o 
medicamento genérico que contém o mesmo princípio ativo. Além disso, as pessoas 
não sabem que os medicamentos com diferentes nomes comerciais podem conter 
exatamente a mesma substância. O preço dos medicamentos é um elemento 
importante para os consumidores. 
 
FATORES QUE INFLUENCIAM NO USO DE MEDICAMENTOS 
 
Além disso, a mesma publicação do site da Organização Pan-Americana de 
Saúde ainda cita os diferentes fatores que influenciam no uso de medicamentos: 
 A família – as crenças individuais influenciam no modo pelo qual os 
medicamentos são utilizados, e essas crenças podem ter sido moldadas por 
integrantes da família. Além disso, outros fatores são importantes nesse nível: 
 Percepção da necessidade de tomar medicamentos – os dados sugerem que 
 
 
14 
as pessoas
têm perdido a confiança na capacidade do organismo em 
combater doenças sem a “ajuda” dos medicamentos, inclusive quando se 
tratam de transtornos de resolução espontânea, como o resfriado e a diarreia. 
As pessoas administram medicamentos não somente para tratar os sintomas 
de uma doença, mas por acreditarem que os medicamentos são necessários 
para permanecer saudáveis; 
 Ideias sobre eficácia e segurança – as pessoas utilizam os medicamentos de 
acordo com suas próprias ideias de eficácia e segurança que, de acordo com 
estudos antropológicos, dependem de alguns fatores, como: cor e forma do 
medicamento; método de administração; “compatibilidade” entre o 
medicamento e a pessoa que o utiliza; o fato de que o medicamento tenha 
sido eficaz no passado; um medicamento novo (que acreditam ser mais 
eficazes); 
 Desconhecimento que leva à politerapia – frequentemente as pessoas 
desconhecem as causas de um transtorno e também qual o tratamento mais 
eficaz. Em consequência, tendem a utilizar distintos tratamentos 
simultaneamente, muitas vezes combinando medicamentos tradicionais e 
modernos. Se a doença é grave, é possível que consultem diferentes 
prestadores de serviço de saúde, tradicionais e modernos; 
 Papel da família em relação ao consumo de medicamentos – o uso de 
medicamentos não depende somente das ideias da pessoa sobre os 
medicamentos, mas também de seu papel na família com relação à compra 
de medicamentos, sua administração e decisão de uso; 
 Preço dos medicamentos – o preço é um fator importante que determina o 
uso de medicamentos nos países em desenvolvimento, mas isso também 
ocorre em países industrializados, entre os pacientes que não contam com a 
cobertura de algum seguro médico; 
 Níveis de alfabetização dos consumidores – a alfabetização determina o grau 
de acesso à informação escrita sobre os medicamentos, como bulas ou 
cartazes educativos com mensagens escritas; 
 O “poder” dos medicamentos – nas famílias, o uso do medicamento depende 
também da eficácia terapêutica. Os analgésicos possuem grande aceitação 
porque aliviam a dor; os xaropes para tosse porque eliminam a tosse; os 
 
 
15 
antibióticos porque curam infecções. 
 A comunidade – é o contexto imediato em que indivíduos e 
famílias enfrentam seus problemas de saúde. As pessoas falam sobre os 
tratamentos; acreditam e reforçam os padrões culturais do uso dos 
medicamentos e dependem das fontes locais de abastecimento. Os fatores 
que influenciam sobre o uso de medicamentos na comunidade são: 
 padrões culturais sobre o uso do medicamento; 
 
 sistema de abastecimento de medicamentos; 
 
 canais de informação. 
 
 As instituições de saúde – entre elas, os centros de saúde e os 
hospitais públicos e6 privados influenciam sobre o uso de medicamentos: 
 
 consulta aos agentes de saúde; 
 
 qualidade da prescrição; 
 
 qualidade da consulta; 
 
 qualidade da dispensação; 
 
 regularidade do abastecimento; 
 
 preço dos medicamentos. 
 
 O planejamento nacional – na maioria das economias em 
desenvolvimento e transição, o gasto com medicamentos ocupa o 
segundo lugar no gasto governamental em saúde, depois do gasto em 
pessoal. Sobre o uso de medicamentos por parte dos consumidores, 
influenciam as políticas governamentais de abastecimento de 
medicamentos essenciais por meio do setor público e de 
regulamentação da dispensação e promoção no setor privado. 
 
 
16 
 
 O planejamento internacional – onde também há fatores que influenciam no uso 
de medicamentos, entre eles: 
 
 
 regulamentação do comércio internacional e acesso aos 
medicamentos; 
 ajuda externa; 
 organização internacional de defesa do consumidor; 
 internet. 
 
AS CONSEQUÊNCIAS DO USO INADEQUADO DE MEDICAMENTOS 
 
Desde a época da Segunda Guerra Mundial, com a produção industrial de 
fármacos em larga escala e a difusão sem limites da sociedade capitalista de 
consumo, aprofundou-se a distância entre os significados dos termos saúde e 
doença, e o produto farmacêutico passou a ser o meio quase imediato de se 
alcançar o bem-estar ou de se superar os problemas sanitários da sociedade 
moderna. 
Assim, consolida-se o papel do fármaco como bem de consumo e se esquece 
da sua finalidade de ser bem social. Segundo a Sociedade Brasileira de Vigilância 
de Medicamentos (2001, p.56):(...) as consequências e o papel dominante que os 
medicamentos adquiriram na sociedade e especialmente nos sistemas de saúde 
abrangem necessariamente aspectos ideológicos. O medicamento é elemento que 
está em relação com a natureza dos sistemas de saúde e muitas vezes contribuem 
para a sobrevivência deles. O sistema de saúde se mantém com o medicamento e 
este subsiste, se reproduz e se amplia graças a ele. 
De alto custo e perigoso, o consumo irracional de produtos farmacêuticos é 
um fenômeno extenso que se multiplica com rapidez em todo o mundo. 
São numerosos os estudos que descrevem os problemas sanitários em razão 
da utilização inadequada de fármacos. 
Para Peretta e Ciccia (2000, p.23): (...) aproximadamente 50% da população 
que toma remédios o faz de maneira incorreta, e 5% das internações hospitalares se 
devem à falta de cumprimento de terapêuticas farmacológicas. 
 
 
17 
De acordo com o Banco Mundial, cita Machado dos Santos (2002, p. 357): 
(...) somente 1/5 da população é consumidora regular de medicamentos (...) apenas 
15% da população brasileira, com renda acima de dez salários mínimos, consomem 
48% do mercado total; 51% da população com renda abaixo de quatro salários 
mínimos consomem somente 16% desse mercado (...). Essas distorções quanto ao 
acesso e consumo de fármacos trazem consigo diversos agravantes. Uma das 
principais pode ser demonstrada por meio de um documento publicado em 1997, 
pela OMS, no qual se estimava que 52 milhões de pessoas pudessem morrer no 
mundo naquele ano. Dessas, 42 milhões morreriam em países em desenvolvimento, 
1/3 seria de crianças menores que 5 anos e 10 milhões por causa de infecção 
respiratória aguda, diarreia, tuberculose e malária. 
A ideia de que mais de 60% dos tratamentos podem ser inúteis ou perigosos, 
em uma época em quem há renda restrita na maior parte da população e limites dos 
orçamentos públicos, é preocupação das mais alarmantes. 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (WORLD HEALTH 
ORGANIZATION, 2002), durante as últimas décadas demonstrou-se por muitos 
estudos que a morbidade e mortalidade causada por produtos farmacêuticos estão 
entre os principais problemas de saúde, fato que começa a ser reconhecido pelos 
profissionais de saúde e pelo público. Estima-se que as reações adversas a 
fármacos estão entre a 4ª e a 6ª maiores causas de mortalidade nos EUA. Elas 
provocam morte em milhares de pacientes a cada ano e muitos outros têm 
sofrimento decorrente de reações adversas. 
De acordo com o disposto no livro “Ciências Farmacêuticas, Farmácia Clínica 
e Atenção Farmacêutica”, os eventos adversos relacionados a medicamentos podem 
levar a importantes agravos à saúde dos pacientes, como relevantes repercussões 
econômicas e sociais, sendo considerado atualmente um importante problema de 
saúde pública. Dentre eles, os erros de medicação são ocorrências comuns e podem 
assumir dimensões clinicamente significativas e impor custos relevantes ao sistema 
de saúde. Em 1999, nos Estados Unidos, o informe do CommitteeonQualityof Health 
Care in America destacou que os erros de medicação acarretam mais de 7.000 
mortes por ano. 
Segundo o mesmo livro, existem controvérsias quanto à terminologia dos 
efeitos negativos do uso dos medicamentos, prejudicando a realização de estudos e 
a comparação entre eles. Entre os conceitos considerados como mais importantes 
 
 
18 
atualmente tem-se: 
 acidentes com medicamentos são todos os incidentes, problemas 
ou insucessos, inesperados ou previsíveis, produzidos ou não por erro, 
consequência
ou não de imperícia, imprudência ou negligência, que ocorrem durante 
o processo de utilização dos medicamentos. Englobam toda a sequência de 
procedimentos técnicos ou administrativos e podem ou não estar relacionados a 
danos ao paciente. É um termo amplo que engloba os conceitos de eventos 
adversos, reações adversas e erros de medicação; 
 eventos adversos são definidos como danos leves ou graves 
causados pelo uso de um medicamento (ou pela falta de uso, quando este é 
necessário). Esses eventos são classificados como evitáveis e inevitáveis, segundo 
o American Societyof Health – System Pharmacists (1998). A presença do dano 
deve ser enfatizada aqui como condição necessária para a caracterização de um 
evento adverso; reação adversa, segundo a Organização Mundial da Saúde, é 
qualquer efeito prejudicial ou indesejado que se apresenta após a administração de 
medicamentos em doses normalmente utilizadas no homem para profilaxia, 
diagnóstico ou tratamento de uma doença, ou com o objetivo de modificar uma 
função biológica; 
 erro de medicação, segundo o National Coordinating Council for 
Medication Error Reportingand Prevention (1998, 2001), é qualquer evento evitável 
que pode, de fato ou potencialmente, levar ao uso inadequado de medicamento 
independente do risco de lesar ou não o paciente e do fato de o medicamento se 
encontrar sob controle dos profissionais de saúde, do paciente ou do consumidor. 
 
CAUSAS DE ERROS DE MEDICAÇÃO 
 
Um estudo avaliou falhas no sistema de utilização de medicamentos que 
causaram eventos adversos e demonstrou que 22% delas foram causadas por 
conhecimento insuficiente sobre medicamentos por parte da equipe da saúde. Dos 
erros de medicação, 50% ocorreram na transcrição e administração, 39% na 
prescrição médica e 11% na dispensação (LEAPE et al., 1995). Cohen (1999) 
classificou as causas de erros em seis grandes categorias, descritas abaixo: 
– Falhas de Comunicação 
- Problemas relacionados à prescrição médica 
 
 
19 
 
Prescrições ilegíveis ou pouco legíveis, ambíguas, incompletas e confusas 
podem levar a erros. Os zeros, os pontos e os números decimais nas prescrições 
aumentam a possibilidade de erros. O uso de U ou UI, representando unidades, 
pode ser confundido com o número zero e levar à administração de insulina ou 
heparina em doses dez vezes maiores que a prescrita. 
A legislação brasileira determina que “somente será aviada a receita que 
estiver escrita por extenso e de modo legível, observados a nomenclatura e o 
sistema de pesos e medidas oficiais”, garantindo à farmácia o direito de não 
dispensar os medicamentos de prescrições onde existam dúvidas causadas pela 
caligrafia (BRASIL, 1973, p.5). 
 
- Prescrições Orais 
 
Os nomes dos medicamentos podem ser parecidos quando verbalizados, 
originando erros por falha de interpretação. Por isso, as prescrições orais devem ser 
evitadas e restritas a situações de emergência. Quando absolutamente necessárias, 
devem ser feitas em linguagem clara e pausada, sendo uma norma de segurança 
fazer com que a pessoa que está recebendo a prescrição verbal repita o que está 
ouvindo. 
 
- Semelhança de Nomes dos Medicamentos 
 
A confusão entre medicamentos com nomes semelhantes, tanto em relação à 
grafia quanto à sonoridade, pode levar os profissionais de saúde a enganos, 
resultando em problemas para os pacientes. 
A escolha dos nomes dos medicamentos não é baseada em preocupações 
futuras de possíveis erros, tendo um forte componente de lógica comercial. Diante 
disso, não são raros os erros relacionados à similaridade de nomes de 
medicamentos quando escritos ou pronunciados. 
 
- Identificação do Paciente 
Pacientes com nomes semelhantes, homônimos, doentes confusos que 
respondem inconscientemente o que lhes é perguntado, mudanças de leitos e 
 
 
20 
deambulação podem gerar problemas de administração de medicamentos a 
pacientes errados. Uma das medidas para diminuir esse tipo de problema é a 
prescrição conter de forma legível o nome completo do de medicamentos. 
 
1 – Sistemas Inadequados de Dispensação de Medicamentos 
2 - Erros de Cálculos das Doses 
 
Existem dois tipos de erros por cálculos de dose, sendo o primeiro aquele em 
que o médico não dispõe, não solicita ou deixa de levar em conta, para os cálculos 
da dose, informações importantes sobre o paciente, como função renal ou hepática, 
peso e idade. O outro é aquele em que houve erro no cálculo matemático 
propriamente dito. 
Os erros nos cálculos de doses dos medicamentos são mais comuns em 
pediatria e com medicamentos utilizados por via intravenosa. 
 
3- Problemas Relacionados à Rotulagem e Embalagem dos Medicamentos 
 
As embalagens e rótulos dos medicamentos são desenhados segundo as 
normas estabelecidas por instituições governamentais. As empresas e farmácias 
hospitalares que reembalam os medicamentos também têm grande responsabilidade 
em prover informações claras nas rotulagens dos seus produtos. 
 
4 – Erros na Administração 
 
A administração de medicamentos é geralmente a última oportunidade de se 
evitar um erro. Alguns aspectos importantes para que sejam evitados são: dupla 
checagem das diluições e dos cálculos de dose, atenção aos erros de comunicação 
da prescrição, cuidado com as prescrições verbais, identificação segura do paciente, 
bem como a orientação deste sobre seu tratamento medicamentoso. 
 
5 – Educação do Paciente 
 
O aconselhamento ao paciente é uma importante medida de prevenção de 
erros, e os profissionais de saúde devem estar preparados e motivados para essa 
 
 
21 
atividade. São essenciais que os pacientes recebam informações seguras e claras 
sobre os medicamentos, seus efeitos terapêuticos e reações adversas, os horários e 
a via de administração. 
Segundo Carlos Cezar Flores Vidotti e Rogério Hoeller, em publicação 
realizada em 2006 na revista Farmacoterapêutica (Conselho Federal de Farmácia - 
CFF e Centro Brasileiro de Informações sobre Medicamentos – CEBRIM), o 
exercício profissional do farmacêutico na farmácia comunitária no Brasil é 
desafiador, injusto e indigno, embora seja este um dos locais que mais caracterizam 
a profissão. Mesmo considerando, hoje, décadas de mudança no discurso de 
entidades farmacêuticas em favor da valorização do farmacêutico, o avanço da 
atuação desse profissional em atenção primária e na promoção do uso correto de 
medicamentos segue a passos lentos, talvez em velocidade insuficiente para 
acompanhar as profundas mudanças que têm ocorrido na sociedade global e, em 
especial, na sociedade brasileira. 
Ainda assim, cabe ao farmacêutico, como profissional especialista em 
medicamentos, executar ações de modo a identificar, prevenir e resolver os 
problemas relacionados ao uso do medicamento, de modo a garantir a saúde do 
paciente. 
 
A HISTÓRIA DA FARMÁCIA CLÍNICA E DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA 
 
 
A PRÁTICA DA FARMÁCIA COMO PROFISSÃO 
 
De acordo com os professores Tarcísio José Palhano e José Aleixo Prates e 
Silva - no livro Ciências Farmacêuticas Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica - a 
prática da farmácia, enquanto profissão, tem ocorrido a olhos vistos em nosso País 
desde o Império. A primeira legislação federal de que se tem registro é o Decreto n° 
20.377, ato do presidente Getúlio Vargas, em seu Governo Provisório, no ano de 
1931, com o qual a farmácia é consignada como estabelecimento profissional do 
farmacêutico. 
Contudo, no mesmo ano, sob pressão de leigos, a natureza profissional da 
farmácia era descaracterizada, posto que o Decreto n° 20.627 já estabelecia a 
possibilidade de o farmacêutico participar de sociedade com leigos, com um mínimo 
 
 
22 
de 30% do capital da empresa, preservando sua responsabilidade técnica pelo 
estabelecimento, uma discrepância sanitária acolhida por farmacêuticos da época 
como uma conquista da categoria. 
 
O SURGIMENTO DA FARMÁCIA CLÍNICA MODERNA
Conforme citado por Marcelo PolacowBisson em seu livro Farmácia Clínica – 
Atenção Farmacêutica, a história da Farmácia Clínica moderna começa com o final 
da Segunda Guerra Mundial em um ambiente de grande desenvolvimento, com o 
lançamento de diversos fármacos e a introdução de uma tecnologia farmacêutica 
capaz de uma produção em larga escala. 
Com a indústria farmacêutica em amplo desenvolvimento e as atividades de 
manipulação magistral diminuindo sensivelmente, os farmacêuticos começam a 
repensar o currículo dos cursos de Farmácia, principalmente nos Estados Unidos, 
com um direcionamento para as atividades clínicas. O eixo da profissão começa a 
mudar da manipulação para a assistência aos usuários de medicamentos. 
O termo “Farmácia Clínica” adquiriu popularidade a partir da segunda metade 
da década de 1960. Entretanto, em 1921, J.C. Krantz já afirmava que os 
farmacêuticos deveriam ser capacitados por meio de programas práticos para 
fornecer “serviços clínicos”. 
A Farmácia Clínica surgiu no ambiente hospitalar, onde existe supervisão 
contínua do paciente. 
É importante ressaltar que a preocupação com o usuário de medicamentos 
começa a ganhar força na década de 1960, com o uso indiscriminado da talidomida 
e as consequências nefastas que isso provocou, tornando imprescindível a avaliação 
clínica de novas drogas e o acompanhamento do uso em larga escala dos 
medicamentos comercializados. Começam a surgir nessa ocasião ciências como a 
farmacoepidemiologia e a farmacovigilância, que por meio do acompanhamento 
sistemático do uso começa a melhorar a segurança do usuário de medicamentos. 
No entanto, essa mudança não foi sentida no Brasil, uma vez que o modelo 
adotado no país na década de 1960 contemplava a formação pelas habilitações nas 
áreas de análises clínicas, industrial ou de alimentos. As disciplinas clínicas, como a 
farmacologia clínica, farmacoterapia e semiologia, simplesmente inexistiam na 
prática, enquanto disciplinas como química orgânica, química analítica e físico-
 
 
23 
química dominavam o ciclo básico. Essa situação perdurou até as décadas de 1970 
e 1980, quando farmacêuticos de hospitais-escola começaram a introduzir novas 
ferramentas de dispensação, como a dose unitária e as atividades clínicas, em suas 
rotinas de trabalho. 
Na década de 1970, o farmacêutico praticamente desapareceu das farmácias 
e drogarias brasileiras, persistindo o hábito negativo e antiético de “assinar”, ou seja, 
ser o responsável técnico do estabelecimento, sem prestar a devida assistência. A 
população ficava sem receber a atenção clínica do farmacêutico e à mercê do 
mercantilismo de alguns proprietários de farmácia. 
Em 1988, em Nova Deli (Índia), reuniu-se um grupo consultivo da 
Organização Mundial da Saúde – OMS – para discutir o papel do farmacêutico no 
sistema de saúde, cujo relatório representa um marco importante na reorientação da 
atuação do farmacêutico, que deixa de ser centrada no medicamento e passa a ser 
voltada aos usuários. 
Nesta década de 1980, também começam a surgir nos cursos de farmácia de 
algumas universidades brasileiras as disciplinas de farmácia hospitalar, farmácia 
clínica e farmacoterapia, gerando o início das atividades clínicas também fora dos 
hospitais. 
Em 1993, em Tókio, a Federação Farmacêutica Internacional (FIP) editou o 
documento “Boas Práticas de Farmácia: Normas de Qualidade dos Serviços 
Farmacêuticos”, endossado pela OMS. O documento, conhecido como a 
“Declaração de Tókio” expressa: “a missão da prática farmacêutica é dispensar 
medicamentos e outros produtos e serviços para o cuidado à saúde, e ajudar as 
pessoas e a sociedade a utilizá-los da melhor maneira possível”. Nesse documento 
também está explícito que o paciente e a comunidade são os principais beneficiários 
das atividades do farmacêutico. 
Em 1994, a Assembleia Mundial da Saúde aprovou a resolução WHA 47.12, 
que trata do apoio provido pelos farmacêuticos à Estratégia Revisada da OMS sobre 
Medicamentos, onde é solicitada a “promoção em parceria com outros profissionais 
da saúde, do conceito de atenção farmacêutica como uma maneira para alcançar o 
uso racional de medicamentos e de participar ativamente na prevenção de doenças 
e na promoção à saúde”. 
O grupo consultivo da OMS, reunido em 1997, em Vancouver, ao analisar a 
necessidade de serviços farmacêuticos nos sistemas de saúde, em termos mundiais, 
 
 
24 
identificou papéis considerados essenciais, expressos como o “farmacêutico sete 
estrelas”, no documento, preparando o farmacêutico do futuro, como: 
1. provedor de cuidados; 
2. ser capaz de tomar decisões; 
3. comunicador; 
4. líder; 
5. gerente; 
6. aprendiz permanente; 
7. educador. 
 
De acordo com o relatório, os farmacêuticos devem possuir conhecimentos, 
atitudes, habilidades e comportamentos específicos para o desempenho efetivo 
desses papéis. 
 
O SURGIMENTO DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA 
 
Assim, é somente na década de 1990 que o farmacêutico começa seu retorno 
às origens e reencontra sua vocação assistencial e clínica nos hospitais, farmácias e 
drogarias, enquanto começa a encontrar espaço também na indústria farmacêutica 
em departamentos de pesquisa clínica, serviço de atendimento ao cliente (SAC) e 
farmacovigilância. Surge nessa época a atenção farmacêutica. Hoje considerada a 
principal atividade do farmacêutico em farmácia clínica, ela se baseia no processo 
de anamnese/análise/orientação/seguimento e utiliza conhecimentos de 
farmacoterapia, patologia, semiologia, interpretação de dados laboratoriais e 
relações humanas. 
No Brasil, o processo de promoção da Atenção Farmacêutica iniciou-se em 
2000 por meio de uma consulta de experiências e reflexões sobre Atenção 
Farmacêutica no site da OPAS/OMS, que deu origem à proposta de Consenso 
Brasileiro de Atenção Farmacêutica. Nesse documento, a Atenção Farmacêutica foi 
incorporada à Assistência Farmacêutica, e com A proposta de consenso foi 
amplamente divulgada e discutida nos eventos subsequentes: oficina de trabalho em 
2001, duas reuniões complementares em 2002, no I Fórum isso tem-se levado em 
conta, para a promoção e formação de profissionais para essa prática, o modelo de 
atenção e os princípios do SUS, conforme proposto na oficina de trabalho e nas 
 
 
25 
reuniões complementares, que tem sido desenvolvida com a perspectiva de 
integralizar as ações de saúde. 
Nacional de Atenção Farmacêutica em 2003, na I Conferência Nacional de 
Política de Medicamentos e Assistência Farmacêutica em 2003, e no II Fórum 
Nacional de Atenção Farmacêutica em 2004, que contribuíram com a elaboração de 
diversas estratégias e definições de responsabilidades. 
Nessa década, começa a despontar na América do Norte e logo chega ao 
Brasil um movimento chamado “medicina baseada em evidências”, em que os 
protocolos clínicos são extremamente valorizados e a busca por melhores condutas 
terapêuticas passam a ser determinante no acompanhamento clínico de um 
paciente. O farmacêutico passa a ser peça- chave nesse processo devido aos seus 
vastos conhecimentos farmacoterapêuticos. 
Em 2001, o Conselho Federal de Farmácia, em conformidade com as 
recomendações internacionais, e considerando o quadro traçado no mercado 
farmacêutico brasileiro e da profissão farmacêutica, dentro de suas atribuições de 
zelar pela saúde pública, editou a Resolução n° 357, que aprova o regulamento 
técnico das Boas Práticas de Farmácia para o Brasil. Este, entre muitos outros 
tópicos, determina aos farmacêuticos: “promover ações de informação e educação 
sanitária” (Art. 2°, inciso VII)”; “... explicar clara e detalhadamente ao paciente o 
benefício do tratamento, conferindo-se a sua perfeita compreensão,. ” (Art. 31). 
Com a introdução do perfil generalista nos cursos de Farmácia a partir de 
2002, começou a crescer a preocupação com as atividades clínicas a serem 
desenvolvidas pelo farmacêutico, e disciplinas
como farmácia clínica, farmacoterapia 
e atenção farmacêutica passam a fazer parte, pouco a pouco, do currículo de várias 
faculdades de farmácia. 
A Atenção Farmacêutica constitui uma nova filosofia de exercício profissional 
farmacêutico, já que está regulamentada pela Lei 8080/1990 que, em seu capítulo I, 
artigo 6°, parágrafo 1º, declara que “estão incluídas, no campo de atuação do SUS, 
a execução de ações de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica”. 
Não existe, porém, uma concepção concreta da prática de tal conceito (SILVA & 
PRANDO, 2004). 
Isso então permite a cada farmacêutico certa flexibilidade para adaptar a 
provisão da Atenção Farmacêutica à sua realidade, seus próprios recursos e 
habilidades, procurando sempre uma farmacoterapia racional, segura e custo efetivo 
 
 
26 
para o cuidado do paciente (SILVA & PRANDO, 2004). 
Além disso, a variabilidade enorme de patologias, unida à ampla 
disponibilidade terapêutica, oferece múltiplas possibilidades de abordagem e 
resolução de um mesmo caso. 
 
A FARMACOEPIDEMIOLOGIA E A FARMACOVIGILÂNCIA 
 
Existem duas áreas que se relacionam diretamente com a Farmácia Clínica e 
com a Atenção Farmacêutica: a Farmacoepidemiologia e a Farmacovigilância. 
Associando-se o conhecimento proveniente da Farmacologia Clínica e da 
Epidemiologia, surge a Farmacoepidemiologia, que pode ser definida como a 
aplicação do conhecimento, métodos e raciocínio para estudar os efeitos tanto 
benéficos como adversos, bem como o uso de medicamentos em populações 
humanas. Possui como objetivo descrever, explicar, predizer e controlar os efeitos e 
usos de tratamentos farmacológicos em populações definidas no tempo e espaço 
(STROM, 2000). 
Nos tempos atuais, em decorrência da crescente demanda por novos 
fármacos concebidos muitas vezes sob intensa pressão comercial, a 
Farmacoepidemiologia, com suas contribuições, passa a ter importância estratégica 
na operação de sistemas de saúde em quase todos os países do mundo. 
A Farmacoepidemiologia propõe-se como uma forma de abordagem capaz de 
ultrapassar as limitações usualmente observadas nos estudos das ações dos 
fármacos. Para isso, essa ciência organiza-se em dois grandes grupos de ações: a 
Farmacovigilância e os Estudos de Utilização de Medicamentos. 
A Farmacovigilância, segundo Laporte e Tognoni (1993), é a “identificação e 
avaliação dos efeitos, agudos ou crônicos, do risco do uso dos tratamentos 
farmacológicos no conjunto da população ou em grupos de pacientes expostos a 
tratamentos específicos”. 
Mais recentemente, a organização Mundial da Saúde apresenta a 
Farmacovigilância como sendo a ciência e as atividades relativas à detecção, 
determinação, compreensão e prevenção de eventos adversos ou qualquer outro 
possível problema relacionado a medicamentos. Ressalta, ainda, que a 
abrangência da Farmacovigilância deve ser ampliada para incluir a segurança de 
toda tecnologia relativa à saúde, incluindo medicamentos, vacinas, produtos do 
 
 
27 
sangue, biotecnologia, fitoterápicos e a medicina tradicional. 
A Farmacovigilância, também conhecida como “ensaios pós-comercialização” 
ou “Fase IV”, tem como um de seus principais objetivos a detecção precoce de 
reações adversas, especialmente as desconhecidas. 
É necessário promover a Farmacovigilância, após o registro de um novo 
medicamento, possibilitando assim que o perfil de segurança dos medicamentos 
seja sempre atualizado, considerando que o desenvolvimento de um medicamento 
não termina no momento em que o fabricante recebe uma autorização de 
comercialização (STROM, 2000). 
A Atenção Farmacêutica é uma das entradas do sistema de 
Farmacovigilância, ao identificar e avaliar problemas/riscos relacionados à 
segurança, efetividade e desvios de qualidade de medicamentos, por meio do 
acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico ou outros componentes da 
Atenção Farmacêutica. Isso inclui a documentação e a avaliação dos resultados, 
gerando notificações e novos dados para o sistema por meio de estudos 
complementares. 
Na medida em que o Sistema de Farmacovigilância retroalimenta a Atenção 
Farmacêutica, por meio de alertas e informes técnicos, informações sobre 
medicamentos e intercâmbio de informações, potencializa as ações clínicas 
individuais (acompanhamento/seguimento, dispensação, educação...), outras 
atividades de Atenção e Assistência Farmacêutica como o processo de seleção de 
medicamentos, a produção de protocolos clínicos com prática baseada em 
evidências, integrada nas ações interdisciplinares e multiprofissionais, entre outras. 
Dessa forma, obtém-se a melhora da capacidade de avaliação da relação 
benefício/risco, otimizando os resultados da terapêutica e contribuindo para a 
melhoria da qualidade de vida e adequação ao arsenal terapêutico. 
 
A FARMÁCIA COMO ESTABELECIMENTO DE SAÚDE 
 
Na condição de estabelecimento que integra os sistemas de saúde, a 
farmácia apresenta vantagens, tais como: fácil acesso a um profissional de saúde; 
condições adequadas para a participação em campanhas sanitárias (vacinação, p. 
ex.); redução de gastos com tratamentos, por possibilitar a intervenção primária e 
encaminhamento à assistência médica; aumento na observância à terapêutica 
 
 
28 
farmacológica prescrita, com consequente melhora na qualidade de vida do usuário. 
Porém, um dos fatores que hoje descaracteriza as farmácias quanto à 
assistência à saúde é que se criou na mente do consumidor, que na maioria dos 
estabelecimentos farmacêuticos preponderam os interesses comerciais. Para que a 
população volte a ter confiança na farmácia e a reconheça como estabelecimento de 
saúde, é necessário que se ofereça um atendimento diferenciado, onde o 
farmacêutico, devidamente habilitado e qualificado, seja capaz de oferecer 
orientações e informações sobre medicamentos e estar realmente envolvido na 
busca de soluções aos pacientes (SCHENKEL, 1991). 
A atual expansão das drogarias contribuiu para afastar os farmacêuticos das 
farmácias, os estabelecimentos transformaram-se em locais de negócios. No Brasil, 
o conceito de medicamentos ainda não passa de uma mercadoria qualquer. As 
farmácias e drogarias (principalmente) transformaram-se em mercearias e estão 
mais sujeitas às regras do mercado que as regras sanitárias. Nelas comete-se a 
alvitante e irresponsável ”empurroterapia”, em que o balconista do estabelecimento 
oferece qualquer medicamento ao paciente à revelia de prescrição médica e da 
dispensação do farmacêutico, atendendo exclusivamente aos apelos do negócio e 
do lucro (SANTOS, 2000). 
A verdadeira vocação da farmácia é a de ser um estabelecimento de consulta 
farmacêutica e não mais um mero ponto de dispensação. Ela é um lugar em que as 
pessoas buscam cada vez mais informações sobre saúde com vistas a melhorar a 
qualidade de vida (SANTOS, 2002). 
 
DESAFIOS DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO 
 
Como citado anteriormente, a atividade de manipular medicamentos sofreu 
forte impacto com a industrialização. A ameaça de mudanças de paradigmas gerou, 
também, oportunidades na orientação sobre o uso correto de medicamentos e outras 
atividades de promoção à saúde. Porém, o ensino farmacêutico, em sua maioria, 
não foi adaptado à nova realidade da farmácia, o que tem acarretado choque entre 
valores éticos, dos farmacêuticos e mercantis, das indústrias e do comércio. 
Para transformar os desafios em oportunidades, os farmacêuticos precisam 
atualizar- se e assumir atitude proativa na busca de soluções para problemas que 
lhes são colocados no ambiente de trabalho. 
 
 
29 
 
A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO NA PRÁTICA DA 
ATENÇÃO FARMACÊUTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FONTE: Disponível em> <www.cefarma.com.br>. 
 
“O papel do Farmacêutico no mundo é tão nobre quão vital. O Farmacêutico 
representa o órgão de ligação entre a medicina e a humanidade sofredora. É o
atento guardião do arsenal de armas com que o Médico dá combate às doenças. É 
quem atende às requisições a qualquer hora do dia ou da noite. O lema do 
Farmacêutico é o mesmo do soldado: servir. 
Um serve à pátria; outro serve à humanidade, sem nenhuma discriminação de 
cor ou raça. O Farmacêutico é um verdadeiro cidadão do mundo. Porque por 
maiores que sejam a vaidade e o orgulho dos homens, a doença os abate - e é 
então que o Farmacêutico os vê. O orgulho humano pode enganar todas as 
criaturas: não engana ao Farmacêutico. O Farmacêutico sorri filosoficamente no 
fundo do seu laboratório, ao aviar uma receita, porque diante das drogas que 
manipula não há distinção nenhuma entre o fígado de um Rothschild e o do pobre 
negro da roça que vem comprar 50 centavos de maná e sene.” Monteiro Lobato 
 
ELEMENTOS PRESENTES NA REALIDADE DO PROFISSIONAL 
FARMACÊUTICO 
http://www.cefarma.com.br/
http://www.cefarma.com.br/
 
 
30 
 
De acordo com a Proposta do Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica 
(Atenção Farmacêutica no Brasil: Trilhando Caminhos – 2001-2002), no que se 
refere ao contexto da prática farmacêutica no Brasil, alguns elementos foram 
identificados e explicitam aspectos fundamentais da realidade, traduzida, entre 
outras, pelas seguintes considerações: 
- crise de identidade profissional do farmacêutico e, em 
consequência, falta de reconhecimento social e sua pouca inserção na equipe 
multiprofissional de saúde, não representando um referencial como profissional de 
saúde na farmácia. Porém, existe uma busca de conhecimento como ferramenta 
para interferir no processo de melhoria da qualidade de vida da população e para 
que haja valorização do profissional farmacêutico no País; 
- deficiência na formação, excessivamente tecnicista, com incipiente 
formação na área clínica. Descompasso entre a formação dos farmacêuticos e as 
demandas dos serviços de atenção à saúde, tanto públicos quanto privados e nos 
diferentes níveis, bem como daquelas referentes ao setor produtivo de 
medicamentos e insumos necessários ao âmbito da saúde. Falta de diretrizes e 
escassez de oportunidades de educação continuada; 
- dissociação entre os interesses econômicos e os da saúde coletiva, 
com predomínio dos primeiros, resultando na caracterização da farmácia como 
estabelecimento comercial e do medicamento como um bem de consumo, 
desvinculados do processo de atenção à saúde; 
- prática profissional desconectada das políticas de saúde e de 
medicamentos, com priorização das atividades administrativas em detrimento da 
educação em saúde e da orientação sobre o uso de medicamentos; 
- iniquidade no acesso aos medicamentos, embora exista um 
compromisso crescente dos gestores, farmacêuticos e de outros profissionais da 
saúde com a garantia de acesso da população às ações de atenção à saúde, 
incluindo-se a Assistência Farmacêutica, tanto no setor público quanto privado; 
- embora existam definições legais referentes à Assistência 
Farmacêutica e à política de medicamentos, há problemas referentes à sua efetiva 
implementação, incluindo-se a definição de mecanismos e instrumentos para a sua 
organização, avaliação e possíveis redirecionamentos. 
- falta de integração e unidade entre as entidades representativas da 
 
 
31 
categoria farmacêutica e outros segmentos da sociedade em torno das políticas de 
saúde. 
O FARMACÊUTICO NA PRÁTICA DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA 
 
É acentuado o crescimento do uso de medicamentos em nível mundial, visto 
que a terapia medicamentosa é a forma mais frequente de intervenção médica em 
qualquer ambiente. Há certa pressão da sociedade para que ocorra a prescrição do 
medicamento (“medicamento = cura!”). Muitos pacientes exigem do profissional 
médico a prescrição, pois o medicamento, para eles, é considerado a cura dos seus 
sintomas, de seu problema de saúde, da sua doença. 
Com isso, grande atenção tem sido dedicada atualmente pelos órgãos 
governamentais a fim de realizar a avaliação do custo econômico da 
morbidade/mortalidade relacionada ao medicamento. 
É esse o ponto de atuação do farmacêutico na prática da Atenção 
Farmacêutica: contribuir para a redução da morbidade/mortalidade relacionada ao 
uso de fármacos. 
A importância dessa atuação fica explícita ao verificar-se que apenas o 
diagnóstico correto, a prescrição adequada e a dispensação exata não são garantia 
do sucesso da farmacoterapia. O seu sucesso depende também de outras variáveis, 
como, por exemplo: 
 adesão do paciente ao tratamento; 
 características individuais de cada paciente (genética); 
 qualidade do medicamento (qualificação dos fornecedores); 
 eventos adversos: 
 interações medicamentosas; 
 interações alimentares, 
 iatogenia (eventos não esperados) ; 
 efeitos colaterais, também denominados reações adversas, que 
apesar de serem eventos esperados, os pacientes, muitas vezes, não têm 
conhecimento; 
 conhecimento sobre o medicamento e a doença; 
 demora na resolução do problema, motivo pelo qual os pacientes 
devem ser orientados quanto aos fármacos que não respondem prontamente 
(antidepressivos, por exemplo); 
 
 
32 
 muitas vezes, sem a orientação, a pessoa acredita que a 
farmacoterapia não é efetiva e interrompe o uso do medicamento; 
 carência de recursos para a aquisição de medicamentos; 
 resolução do problema aparentemente rápida, como, por 
exemplo, no uso de antibióticos em que o paciente interrompe o uso em período 
inferior ao estipulado por acreditar que se encontra “curado”, já que não apresenta 
mais os sintomas; 
 tratamentos prolongados, como com antidiabéticos e anti-
hipertensivos; 
 falta de adaptação ao regime posológico; 
 falta de credibilidade na informação repassada ou no profissional. 
 
Considerando que, na maioria das variáveis citadas acima, pode ocorrer 
intervenção do profissional farmacêutico, este torna-se, sim, uma peça-chave no 
tratamento farmacoterapêutico do paciente, sendo um dos responsáveis pelo 
sucesso do mesmo. 
A atenção primária previne as populações contra doenças, livrando o cidadão 
da internação hospitalar, barateando os custos. O farmacêutico, além de prestar 
orientação sobre as doenças, ajudando a preveni-las, vai informar sobre os 
medicamentos com vistas a racionalizar o seu uso e evitar erros na terapêutica. As 
ações farmacêuticas significam segurança para a população, especialmente para 
quem toma medicamentos (SANTOS, 2002). 
O processo de globalização afirma que o farmacêutico ainda é o único 
profissional de saúde em contato contínuo com a população. Com a falsificação de 
medicamentos e a implantação da política de genéricos no Brasil, a procura pelo 
profissional farmacêutico para o esclarecimento dessas e outras dúvidas da 
população encontra-se em franco crescimento. Dessa forma, o farmacêutico deve 
estar devidamente habilitado e qualificado para prestar a Atenção às comunidades, 
orientando quanto ao uso racional de medicamentos (LYRA JR., 2000). 
Para a realização da Atenção Farmacêutica, o profissional farmacêutico 
deverá possuir as seguintes características: 
 capacidade de atender o paciente e atuar diretamente junto ao 
mesmo; 
 
 
33 
 capacidade de identificar, resolver e prevenir os problemas 
relacionados aos medicamentos (PRM’s); 
 enfoque na saúde e bem-estar do paciente; 
 responsabilidade por atender às necessidades do paciente; 
 possuir como foco os resultados mensuráveis, resultados 
clínicos. 
O farmacêutico pode, com esse direcionamento clínico, melhorar os 
resultados farmacoterapêuticos, seja por intermédio de aconselhamento, de 
programas educativos e motivacionais, ou até da elaboração de protocolos clínicos, 
baseados em evidências comprovadas com o estabelecimento de melhores regimes 
terapêuticos e monitoração desses procedimentos. 
No código de ética da profissão farmacêutica, regulamentado pela Resolução 
do Conselho Federal de Farmácia
nº 417, de 29 de setembro de 2004, encontra-se 
uma grande preocupação com o lado assistencial do farmacêutico. Ele estabelece 
como princípios e deveres do farmacêutico o exercício da assistência farmacêutica e 
o fornecimento de informações ao usuário dos serviços, além da necessidade de 
contribuir para a promoção da saúde individual e coletiva, principalmente no campo 
da prevenção. 
Na atenção farmacêutica, o farmacêutico deve sentir-se responsável pela 
conquista dos resultados esperados para cada paciente. A oferta da Atenção 
Farmacêutica representa uma maturidade da farmácia como profissão e uma 
evolução natural das atividades maduras da farmácia clínica e dos farmacêuticos. 
Muitas associações profissionais consideram que a Atenção Farmacêutica é 
fundamental para os objetivos da profissão no que consiste em ajudar as pessoas a 
fazerem melhor uso dos medicamentos. Esse conceito unificado transcende a todos 
os tipos de pacientes e a todas as categorias de farmacêuticos e organizações 
(CLAUMANN, 2003). 
O farmacêutico pode trabalhar com pacientes individualmente, em grupos ou 
com famílias, mas independentemente de qual o grupo, o profissional deve sempre 
incentivar o paciente a desenvolver hábitos saudáveis de vida a fim de melhorar os 
resultados terapêuticos, trabalhando em conjunto, preferencialmente, com os demais 
membros da equipe multidisciplinar de saúde. 
O farmacêutico que deseja trabalhar em contato com pacientes, realizando a 
Atenção Farmacêutica, deve possuir uma série de conhecimentos e habilidades que 
 
 
34 
serão discutidas, porém a grande dificuldade será transportar os conceitos e as 
ferramentas teóricas para o dia a dia do profissional, passando pela mudança 
cultural dos próprios farmacêuticos, pela valorização da profissão perante a 
sociedade e, principalmente, os administradores de saúde e órgãos governamentais. 
Seja como curador das antigas civilizações, boticário de séculos recentes ou 
o farmacêutico atual, algo une-os e mantém-se intacto: a disposição para cuidar de 
seus pacientes no momento em que eles se fragilizam por uma dor ou uma doença. 
(CLAUMANN, 2003) 
Muito além de ser um simples dispensador de remédios, o farmacêutico está 
envolvido no processo de pesquisa de novas drogas, no estudo de efeitos colaterais 
e de reações adversas dos medicamentos já existentes, na fabricação de 
cosméticos, na medicação de doentes hospitalares, na fiscalização sanitária e em 
outras atividades que asseguram a qualidade de vida (CLAUMANN, 2003). 
Arcar com tamanha responsabilidade não é tão simples como possa parecer. 
Mais que boa vontade e alguns anos de estudos universitários, um bom 
farmacêutico necessita estar a par dos avanços medicinais, das novidades da sua 
área e das mudanças da sociedade (POLAKIEWICZ, 2002). 
A informação, assessoramento e orientação ao paciente, prestados pelo 
farmacêutico, fazem com que se aplique na prática um resgate da verdadeira função 
do farmacêutico (COSTA, 2001). 
A Atenção Farmacêutica é viável e praticável por farmacêuticos de todas as 
áreas. A oferta dela não se limita aos farmacêuticos com residência ou outras 
especializações. Também não se limita aos que desenvolveram atividades 
acadêmicas ou de ensino. A Atenção Farmacêutica não é uma questão de títulos 
formais ou de lugares de trabalho, mas de relações pessoais, diretas, profissionais e 
responsáveis com o paciente que assegurem o uso adequado dos medicamentos e 
melhore sua qualidade de vida (CLAUMANN, 2003). 
Torna-se imprescindível ter em conta que o farmacêutico não tem a exclusiva 
autoridade no assunto relacionado ao uso de medicamentos. O conceito de Atenção 
Farmacêutica não diminui a função nem a responsabilidade de outros profissionais 
de saúde. Também não implica usurpação da autoridade por parte dos 
farmacêuticos. As ações que complementares (CLAUMANN, 2003). 
Dentre as dificuldades enfrentadas pelos farmacêuticos na implantação da 
Atenção Farmacêutica, ressalta-se que, na maioria das vezes, o farmacêutico da 
 
 
35 
farmácia pública ou hospitalar tem uma gama enorme de tarefas burocráticas que o 
afasta do paciente e, assim como ocorreu em outros países, o farmacêutico 
brasileiro precisa melhorar seu tempo, diminuindo as tarefas administrativas e 
aumentando as atividades clínicas (BISSON, p.7.2003). 
Está comprovado que o trabalho do farmacêutico aumenta a adesão do 
paciente aos regimes farmacoterapêuticos, diminui custos nos sistemas de saúde ao 
monitorar reações adversas e interações medicamentosas e melhora a qualidade de 
vida dos pacientes. 
Não se pode esquecer que o farmacêutico é o parceiro privilegiado do 
sistema de saúde, da indústria farmacêutica e do consumidor. O farmacêutico é o 
único profissional que conhece todos os aspectos dos medicamentos. Portanto, 
pode dar uma informação privilegiada às pessoas que o procuram na farmácia 
(CLAUMANN, 2003). 
A farmácia é uma instituição de acesso fácil e gratuito, onde o usuário, muitas 
vezes, procura em primeiro lugar o conselho amigo, desinteressado, mas seguro do 
farmacêutico (ZUBIOLI, 2000). 
 
INTRODUÇÃO À FARMÁCIA CLÍNICA E ATENÇÃO FARMACÊUTICA 
 
Conforme Witzel, no livro Ciências Farmacêuticas Farmácia Clínica e Atenção 
Farmacêutica (2008), seguem abaixo as considerações referentes à introdução da 
Atenção Farmacêutica. 
Nos últimos anos e, especialmente ao longo do século XX, em todos os 
países, os sistemas de assistência sanitária passaram e ainda estão passando por 
transformações sem precedentes. Isso afetou tanto o próprio conceito de saúde, 
como a estrutura e organização colocada em prática pelos serviços de saúde em 
sua luta contra a enfermidade e suas consequências. Tanto os profissionais que 
prestam serviço de saúde quanto os indivíduos beneficiários diretos dos serviços 
prestados estão examinando de maneira crítica suas necessidades, expectativas, 
valores e critérios éticos. Concretamente, os profissionais da assistência sanitária 
põem em dúvida sua função e suas responsabilidades tradicionais, e os limites 
profissionais que estavam antes claramente delimitados estão cada vez mais 
obscuros. 
Além disso, os conhecimentos e as tecnologias médicas e farmacológicas 
 
 
36 
disponíveis para atuar tanto na prevenção quanto na terapêutica e reabilitação das 
enfermidades têm evoluído substancialmente, de forma que se dispõe atualmente de 
amplas possibilidades para superar as enfermidades e suas consequências. 
O tratamento farmacológico constitui a forma mais frequente de intervenção 
médica em assistência sanitária. Conforme Hepler; Graiger – Rousseaux (1995), 
cerca de dois terços das consultas médicas nos Estados Unidos resultam em 
renovação ou em nova prescrição de medicamentos. O uso do medicamento tem 
crescido dramaticamente com o aumento da vida média da população, o aumento da 
prevalência de doenças crônicas e a ampliação da variedade de medicamentos 
efetivos. 
Segundo Hepler; Graiger – Rosseaux (1995) “o propósito de toda terapia 
medicamentosa deve ser o de aperfeiçoar a duração e a qualidade de vida das 
pessoas. A disponibilidade de produtos farmacêuticos seguros e efetivos tem 
melhorado o gerenciamento tanto de doenças agudas quanto crônicas no alcance 
desses objetivos. [...] O medicamento é provavelmente a modalidade terapêutica 
mais estudada na atualidade [...] e a terapia medicamentosa tem uma forte base 
científica [...]. Contudo, apesar do extenso conhecimento científico, uma ampla 
literatura mostra que frequentemente há falhas no controle dos riscos associados à 
farmacoterapia”. 
As funções do profissional farmacêutico na área assistencial estão passando 
por uma vigorosa e rápida expansão em todas as dimensões, e a profissão está 
tentando reorientar-se para satisfazer às necessidades que têm sido introduzidas 
nos sistemas de saúde atuais. 
Na década de 1960, os farmacêuticos tinham três escolhas básicas
a fazer ao 
optarem por atuar na área assistencial: farmácia comunitária, farmácia hospitalar e 
docência. Em 1990, as escolhas possíveis ampliaram-se principalmente nos países 
desenvolvidos, incluindo atendimento domiciliar, cuidados geriátricos, 
gerenciamento, especialidades clínicas diversas, pesquisa, entre outras. 
Essa ampliação de opções esteve diretamente relacionada aos grandes 
movimentos ocorridos nesse século, que promoveram a redefinição do papel do 
profissional farmacêutico que, apesar de relacionado ao medicamento, vem 
passando por alterações significativas em diferentes locais. Há, atualmente, uma 
tendência mundial em se fortalecer as atividades do farmacêutico junto ao paciente, 
visando ao atendimento farmacêutico mais efetivo. 
 
 
37 
As discussões, no âmbito internacional, sobre a definição da missão, do papel 
e funções do profissional farmacêutico intensificaram-se nas últimas décadas do 
século XX, especialmente nos Estados Unidos e Europa, e mais recentemente têm 
produzido reflexões críticas na América Latina, que vem buscando também 
reorientar a prática farmacêutica, levando em consideração as características de 
cada país e dos sistemas de saúde vigentes. 
No Brasil, a discussão acerca dos termos Farmácia Clínica, Assistência e 
Atenção Farmacêutica estão ocorrendo com grande intensidade. Esse movimento 
vem ganhando o centro das discussões entre pesquisadores, formuladores de 
políticas e profissionais. Contudo, o entendimento conceitual de cada um desses 
termos e sua inter-relação ainda parece obscuro para a grande maioria dos agentes 
envolvidos. Por esse motivo, faz-se necessário entender os aspectos conceituais e 
filosóficos que foram construídos ao longo da própria profissão farmacêutica e que 
não podem ser compreendidos sem uma breve retrospectiva histórica. 
 
PANORAMA HISTÓRICO DA PROFISSÃO FARMACÊUTICA A PARTIR DO 
SÉCULO XX 
 
Segundo Hepler; Strand (1990), a profissão farmacêutica experimentou 
significante crescimento e desenvolvimento nos últimos anos. No século XX, a 
farmácia passou por três grandes períodos: o tradicional, o de transição e o de 
cuidado do paciente, que está atualmente em desenvolvimento. Nesses três 
estágios, podem-se identificar diferentes conceitos relativos à 1função e deveres do 
farmacêutico. 
 
ETAPA TRADICIONAL 
 
A farmácia, no início do século XX, estava associada à figura do Boticário, 
que preparava e comercializava produtos medicinais. Segundo Hepler; Strand 
(1990): “[. ] Durante esta fase tradicional as principais funções do farmacêutico eram 
a obtenção, o preparo e a avaliação dos produtos medicamentosos. Seu dever 
primário era garantir que os fármacos que ele comercializava fossem puros, não 
adulterados, e preparados segundo a arte, embora ele apresentasse um dever 
secundário de prover recomendações aos indivíduos que o procuravam em busca de 
 
 
38 
fármacos de não prescrição [ ].” 
Esse papel começou a ser adulterado quando a preparação de medicamentos 
passou a ser desempenhada gradualmente pela indústria farmacêutica. Conforme 
relatou Alvarez (1993) “[. ] Os grandes avanços científicos e tecnológicos que 
permitiram a elaboração industrial de medicamentos produziram uma dissociação 
entre a preparação universitária do farmacêutico e suas ações, especialmente nas 
farmácias comunitárias. Os farmacêuticos começaram a sentir-se frustrados porque 
grandes partes dos conhecimentos adquiridos na graduação acabavam sendo 
perdidos, pois já não eram aplicados de forma permanente. A literatura norte-
americana começou a mencionar que os farmacêuticos estavam se convertendo em 
meros dispensadores de produtos pré-fabricados, além de se distanciar da equipe 
da saúde e do paciente [...].” 
A partir dessas inquietudes, nasceu um movimento profissional que, 
questionando sua formação e atitudes, determinou como poderiam ser corrigidos os 
problemas que estavam sendo detectados. Assim, ao final da década de 1960, 
começa a se falar de uma nova disciplina, a Farmácia Clínica, que permitia 
novamente aos farmacêuticos participar da equipe de saúde, contribuindo com seus 
conhecimentos para melhorar o cuidado dos pacientes (ALVAREZ, 1993). 
Nesse momento, portanto, iniciava-se o período de transição profissional. 
 
ETAPA DE TRANSIÇÃO 
 
Esse período de transição foi de rápida expansão das funções do 
farmacêutico e do aumento da diversidade profissional. Os farmacêuticos passaram 
não somente a exercer novas funções, mas também começaram a inovar funções, 
trazendo contribuições inéditas à literatura. 
 
DEFINIÇÕES DA FARMÁCIA CLÍNICA 
 
Conforme Witzel (2008), inicialmente foram propostas diferentes definições 
para a Farmácia Clínica, como, por exemplo, farmácia orientada de forma 
equivalente ao medicamento e ao indivíduo que a recebe; farmácia realizada ao lado 
do paciente. 
O conceito de Farmácia Clínica está imbuído pela filosofia de que o 
 
 
39 
farmacêutico deve utilizar seu conhecimento profissional para promover o uso 
seguro e apropriado de medicamentos nos e pelos pacientes, em trabalho conjunto 
com outros profissionais da área da saúde. Esse conceito é confirmado pela 
literatura desde a década de 1960, com ampla documentação de diversos tipos de 
serviços e atividades clínicas. Os primeiros relatos descreviam o papel do 
farmacêutico na resolução de erros de medicação ou reações adversas a 
medicamentos, detecção de interações entre medicamentos ou entre medicamentos 
e exames laboratoriais, detecção de incompatibilidade entre misturas intravenosas e 
doenças induzidas por medicamentos. 
O termo “Farmácia Clínica” adquiriu popularidade a partir da segunda metade 
da década de 1960. Entretanto, em 1921, J.C. Krantz já afirmava que os 
farmacêuticos deveriam ser capacitados para fornecer serviços clínicos. 
A Farmácia Clínica, conforme já mencionado, surgiu no ambiente hospitalar, 
onde existe supervisão contínua do paciente. Até a época da Segunda Guerra 
Mundial, o farmacêutico hospitalar era o profissional especializado na produção de 
medicamentos necessários ao atendimento dos pacientes. O desenvolvimento da 
indústria farmacêutica, a partir das décadas de 1940 e 50, levou a uma 
transformação da profissão farmacêutica no hospital, e a ênfase do trabalho do 
farmacêutico hospitalar passou da manipulação e produção de medicamentos ao 
fornecimento de informações sobre os mesmos. 
Ainda como consequência do desenvolvimento da indústria farmacêutica, que 
trouxe um grande aumento do número de fármacos sintéticos disponíveis no 
mercado, verificou-se um aumento na frequência de problemas relacionados ao uso 
de medicamentos. A Farmácia Clínica surgiu com a finalidade de reduzir a 
ocorrência de tais problemas, por meio do acompanhamento dos pacientes. 
Diversas definições foram elaboradas com o objetivo de caracterizar a 
Farmácia Clínica. A definição a seguir foi estruturada por Robert Miller, em 1968: “A 
Farmácia Clínica é a área do currículo farmacêutico que lida com a atenção ao 
paciente com ênfase na farmacoterapia. A Farmácia Clínica procura desenvolver 
uma atitude orientada ao paciente. A aquisição de novos conhecimentos é 
consequência do desenvolvimento de habilidades de comunicação interprofissional e 
com o paciente”. 
Segundo a ASHP (American Society of Hospital Pharmacists – Sociedade 
Americana de Farmacêuticos de Hospitais), a Farmácia Clínica pode ser definida 
 
 
40 
como “a ciência da saúde cuja responsabilidade é assegurar, mediante a aplicação 
de conhecimentos e funções relacionadas ao cuidado dos pacientes, que o uso de 
medicamentos seja seguro e apropriado; necessita, portanto, de educação 
especializada e treinamento estruturado, além da coleta e interpretação de dados, 
da motivação pelo paciente e de interações multiprofissionais”. 
Embora tenham sido formulados vários conceitos sobre Farmácia Clínica, em 
essência sempre houve mais

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