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Resenha capítulo 5 e 6 livro Livro O Povo Brasileiro, Por Darcy Ribeiro

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Resenha capítulo 5
Capítulo 5 – “Brasil Crioulo”
“Brasil Crioulo” é dos mais belos capítulos, até o momento. E rico: de informações, de participações, de críticas.  Fala dos 12 milhões de escravos trazidos da África, dos quais metade morreu, e dos seis milhões restantes. que fizeram a fortuna da aristocracia do açúcar, a riqueza (em todos os sentidos) do Brasil colonial, a beleza da cultura que, como ele diz, foi tão forte que conseguiu impor valores num processo de mestiçagem.
A frase: "Negro era como carvão; um saco de carvão acabou, você compra outro...", como diz Darcy Ribeiro mostra como o documentário põe em perspectiva a região cultural que ele chama de crioula - Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Maranhão, região fortemente marcada pela presença negra. Fala de sua abundância e decadência. 
Clementina não só nos dá sua receita de feijão, como canta, assim como Nelson Sargento e Cartola. Mãe Estela, Mãe Filhinha, o Babalaô Agenor Miranda da Rocha e Roberto Pinho dão seus depoimentos. Trechos de filmes, fotos e tradições entremeiam exemplos de uma cultura que se transformou e tomou conta dos mais diversos Brasis.
Ao final, na voz de Chico Buarque, uma análise dura e até polêmica:
“Nenhum povo que passasse por tudo isso como sua rotina de vida através de séculos sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós, brasileiros, somos por igual a mão perversa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos. E a gente insensível e brutal que também somos”. Contrastando, a resposta tranquila de Mãe Estela: tudo isso “foi a forma de fazer os Orixás brilharem no novo mundo”!
Agora, partindo para análise crítica, o documentário não mostra as revoltas, principalmente dos negros, elas não são apresentadas e se são, é de forma muito velada; dá à impressão que tudo ocorreu da forma mais natural possível, os portugueses vieram para o Brasil não conseguiram escravizar os índios, trouxeram os negros africanos para eles sim escravizá-los aqui. Em nenhum momento no filme se falou na revolta dos quilombolas, por exemplo. 
A cultura brasileira apresentada no documentário tem uma conotação de ser uma cultura de retalhos. São pequenos traços das diferentes culturas, que são significados e fundidos para se formar a cultura brasileira numa fusão cultural dos índios com os portugueses e os negros. O documentário tem uma importância substancial no que se diz respeito à divulgação de como o Brasil foi formado, mesmo de maneira ingênua às vezes, e como se deu as nossas origens indígenas e africanas.
Resenha capítulo 6
Capítulo 6 – “Brasil Sertanejo”
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. A frase de Euclides da Cunha poderia bem ser a abertura deste capítulo 6 que, no entanto, é também muito bem iniciado por Guimarães Rosa. Rosa que permeará, junto com Roger Bastide, Josué de Castro e falas ao vivo de Paulo Vanzolini, Antônio Risério, Hermano Vianna e Ariano Suassuna, esta belíssima visão do Nordeste. Ou dos Nordestes: da cana, do gado, dos cangaceiros se opondo à violência dos coronéis, do sebastianismo, da riqueza das culturas, da terra rachada, dos animais mortos, da alegria do povo.
O eito de terra mais hostil ao ser humano. A sua beleza é terrível e grandiosa, estranha e forte, no dizer de Ariano Suassuna. O sertão nos deu Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e o próprio Suassuna. Nos deu o baião e Luís Gonzaga. Nos deu Nelson Pereira dos Santos e nos deu Euclides da Cunha a narrar o maior fenômeno nele ocorrido. Estão presentes no sexto capítulo do vídeo, Darcy, Chico Buarque, de novo, lendo Darcy, Paulo Vanzolini, Antônio Risério, como comentadores, músicas de Luís Gonzaga e cenas de Vidas Secas, de Raízes e Rezas, Casa de Farinha e de Memórias do Cangaço.  O vídeo é completado com leituras do narrador, de textos de Guimarães Rosa, Roger Bastide, Josué de Castro, Capistrano de Abreu e de Graciliano Ramos. 
O sexto capítulo é dedicado ao Brasil mais sofrido, mas que “endoidou de ficar bom”, nos diz Darcy, ao falar do cultivo de frutas, no São Francisco. O sertão brasileiro tem origem na criação do gado, no nordeste, que vive situações extremadas. A caatinga é a natureza mais hostil que existe para o ser humano, o lugar mais difícil de se viver. Sem chuvas e quando chove ela é irregular e pouca. A terra não a absorve, pois é um chão de argilas secas em solo raso e pedregoso. Sua vegetação é a espinhenta caatinga. Surgiu num surto de interiorização, com a criação de gado, criação esta impossível, junto aos canaviais. O gado foi então levado para as terras imprestáveis, sem água, um boi em cada dois alqueires de terra. Mas havia um pouco de água e a teimosia humana insistiu em ali ficar. O boi era mercadoria boa, nos diz Darcy, que como os escravos não precisa de transporte. Ele se auto transportava. E deste sertão se fez cria de gado e de gente, de uma gente diferente, o sertanejo.
Mas quando e onde havia água, a paisagem se engalanava. Ameríndios, brancos e mestiços, de São Paulo e da Bahia foram alargando nossas fronteiras agrícolas, sob a permanente ameaça do sol. Ali se criou um homem forte, resignado e prático, preparado para a luta. Estamos no século XVIII e começando pelo Piauí. Entramos no ciclo da pecuária extensiva, com as marcas do couro, do latifúndio, do misticismo e do coronel, este de faca e de fuzil.
O couro era onipresente: de couro era a porta das cabanas, o leito no chão duro, o lugar de guardar roupa, a bainha da faca, o mocó de carregar comida, a esteira onde se arrastava terra para a construção de açudes, e a roupa para adentrar ao mato, e muito mais. Formou-se uma civilização em torno do couro. O espírito do sertanejo tinha uma espécie de ligação direta com o mundo medieval, uma cultura de arcaísmos. A poesia popular, manifesta pelo cordel reflete este mergulho na Idade Média. No espírito cultivavam o ascetismo (devia ser difícil), o milenarismo e até o sebastianismo. Viviam um cristianismo português, de larga profundidade. Um rei voltaria com seus cavaleiros para salvar o seu povo. este espírito era a sua resistência, para esta insurreição da terra, contra a presença nela do homem. E quando os pássaros abandonavam a área, a seca estava anunciada. Era o prenúncio de desgraças mil.
A seca acabava com tudo, homens e animais. Aos homens cabia a fuga do sertão e assim levas de gente foram abrindo novas frentes agrícolas ou povoar as cidades, se empregando em tarefas que não exigiam classificação, na construção civil e na indústria.
O coronel era o senhor absoluto. Dono da vida e da morte. Formava um aparelho para estatal. Zelava pela lei, mas também impunha a sua própria lei. Aos desafios, a morte de alguém da família, a desonra de uma moça, era respondida com a violência. Antônio Risério, comenta esta situação citando Guimarães Rosa, que mesmo Deus, quando vier, que venha armado, porque bala é apenas pedacinho de metal. O coronelismo gerou a sua antítese, o cangaço. O enfrentamento ao coronel tinha os seus símbolos: cabelo comprido, a estrela de Salomão no peito, os dedos cheios de anéis e as cartucheiras. 
A sua religião era puro misticismo e superstição (Os padres não enfrentaram a dureza do sertão?). Era cheia de demônios, de malditos, de lobisomens. A religião era tão trágica, tão machucada de espinhos e tão torturada pelo sol, quanto a própria paisagem. Esta religião se expressa no padre Cícero de Juazeiro, na santidade de Jaguaripe, no misticismo de Pedra Bonita, em Pernambuco e na personificação maior em torno de Antônio Conselheiro e a tragédia de Canudos.
Premido pela seca, o sertanejo se fez força de trabalho, sem preparo, amargando situações difíceis nas cidades, onde se prolongou o seu sofrimento do sertão. Ou então se embrenhou no Brasil profundo, sempre fugindo da seca e sempre sonhando em voltar. Hoje ele é encontrado no Brasil inteiro e o transporte e os meios de unificação também vão unificando culturas. Comoheranças culturais nos deixaram o couro, a carne de sol, o baião e os trios nordestinos, com o tradicional acordeão, o triângulo e zabumba. por falar em música nos deixaram Luís Gonzaga e Dominguinhos, recém falecido. Ah sim. Lula também veio do sertão, num pau de arara.
havendo as mínimas condições, isto é, havendo um mínimo de água, o sertanejo não abandona o sertão, ou então fica doida para nele voltar.
O sertão nordestino e o nele viver é maior lição que o sertanejo deixou, para nossa geração ávida de consumo e que tudo encontra em shoppings. Quem viveu as agruras do sertão, está apto a viver em qualquer lugar do mundo, acostumado que está em lidar com as dificuldades. Com as modernas tecnologias é possível levar água ao sertão, hoje um dos melhores lugares do mundo para produzir frutas, como nos demonstram as culturas das margens do Rio São Francisco.
O vídeo encerra com citação de Guimarães Rosa. O sertão está em qualquer parte, o sertão está dentro da gente e o final só poderia ser mesmo, com Luís Gonzaga e a Asa Branca.
Trechos de filmes diversos – de Vidas Secas a Deus e o Diabo na Terra do Sol – entremeiam imagens raras, fotos, filmagens em diferentes estados, cantos como os de Luiz Gonzaga e sua sanfona, os inevitáveis e coloridos forrós. E, pairando em meio a tudo isso, as gentes de um Brasil que na verdade é forte, por mais que tentem domá-lo, vendê-lo, destruí-lo. Vale ver!
No documentário sobre mais esta região cultural do Brasil, Darcy Ribeiro comenta: "Qualquer vaqueiro sabe, de experiência própria, quanto contrastam as facilidades disponíveis para socorrer a um touro empestado com as dificuldades que encontra para medicar um filho enfermo".
Agora, partindo para análise crítica, a imagem que o documentário apresenta é a imagem de um Brasil constituído através da mistura, mistura essa que é tratada no documentário com uma aparência muito harmoniosa, entretanto, sabemos que a formação do Brasil é composta desse encontro entre povos, mas esses encontros por várias vezes foram marcados por conflitos, essa relação conflituosa é de fundamental importância quando se fala da formação do povo brasileiro. A imagem que o documentário apresenta é a imagem de um Brasil constituído através da mistura, mistura essa que é tratada no filme com uma aparência muito harmoniosa, entretanto, sabemos que a formação do Brasil é composta desse encontro entre povos, mas esses encontros por várias vezes foram marcados por conflitos, essa relação conflituosa é de fundamental importância quando se fala da formação do povo brasileiro.