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ESPECIAL SEXO, AMOR & RELACIONAMENTOS - Inveja, Minha Inveja - REVISTA PSICOLOGIA, N 045 - Copia

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REVISTA DE PSICOLOGIA - ESPECIAL 
INVEJA, 
MINH 
APESAR DE FREQUENTEMENTE 
NEGADA, A INVEJA É UM 
SENTIMENTO QUE SURGE 
DESDE A INFÂNCIA E QUE 
DEVERÁ SER ELABORADA 
DURANTE A MATURAÇÃO 
DO INDIVÍDUO. 
Fernanda Nascimento* 
ASOCIEDADE QUE SE APRESENTA NOS DIAS ATUAIS P A R E C E SER BASEADA APENAS NO 
T E R , NO FAZER E NO ADQUIRIR. 
O SER HUMANO P A R E C E V IVER 
UM MOMENTO ONDE A POSSE DAS 
COISAS É MAIS IMPORTANTE E 
ESTIMULADA PERANTE A GRANDE 
MAIORIA DAS PESSOAS DO QUE 
CONQUISTAS E DESEJOS INTERNOS. 
MUITOS RELACIONAMENTOS 
PODEM FUNCIONAR NESTA BASE, 
ONDE A PERCEPÇÃO DO OUTRO 
PODE ESTAR VINCULADA AO QUE 
E L E PROPORCIONA EM TERMOS 
DE APARÊNCIA E NÁO EM SUAS 
VERDADEIRAS CONTRIBUIÇÕES 
EMOCIONAIS. 
Enquanto a busca por um corpo perfeito se anun-
cia na caminhada de muitos, através de dietas, acade-
mias e ingestão de medicamentos que prometem grandes 
milagres, cada vez mais a importância com as emoções 
e com a saúde mental vai se perdendo. A grande ironia 
é que o impulso para adquirir um belo corpo, uma conta 
bancária recheada e a posse de muitos produtos estão 
em algo associado aos desejos inconscientes e como se 
reage a eles. 
Ao mesmo tempo em que a sociedade aceita certos 
padrões, atitudes e assuntos, tende a ser hipócrita quan-
do são mencionadas as malignidades comuns aos seres 
humanos. A maioria das pessoas tenta se ausentar de 
observações dessa natureza. Os indivíduos, de modo ge-
ral, têm grande resistência quando a psicanálise afirma 
que o mal está em todos e que a hostilidade, a vingança, 
a tortura e a inveja pertencem ao homem. 
A PROSPERIDADE ALHEIA 
Um desses sentimentos, por exemplo, é o da inveja. 
A frase de Nelson Rodrigues, "Amigos verdadeiros não 
são aqueles que te acompanham nos momentos ruins 
de sua vida e sim aqueles que suportam o seu sucesso", 
exemplifica o quanto a inveja está ao redor e pertence 
quase que à rotina, muito mais do que se imagina. 
A proposta aqui é refletir se realmente as pessoas 
se incomodam com a prosperidade alheia. E caso seja 
afirmativo, qual seria a reação subsequente? Talvez 
mais interessante fosse causar movimento na própria 
vida ao invés de invejar o seu colega ao lado. Será possí-
vel controlar esse sentimento que todos conhecem, mas 
que poucos admitem têlo? O que faremos então? Inte-
ressante é perceber que as pessoas vivenciam a inveja e 
falam dela, mas utilizam outros nomes, já que a inveja é 
tida como sentimento repulsivo — o máximo que podem 
admitir é ter inveja boa, e o interessante é que esse ter-
mo (inveja boa), além de ser incorreto, não existe. 
Portanto a fofoca, que é uma ferramenta para 
depreciar além de tencionar o controle ilusório do seu 
alvo, e o ciúme — sentimento onde se idealiza eliminar 
a pessoa que supostamente pode estar ameaçando o re-
lacionamento — são diferentes nomes para se referir à 
presença da mascarada inveja. 
Saber que a sociedade tende a aceitar melhor a 
fofoca e o ciúme e condena a sua manifestação pura não 
evita a atuação do invejoso. Reprimir nunca é a solução. 
A violência das manifestações varia muito — desde uma 
simples tentativa de destruir o outro com palavras, cau-
sando intrigas, até a destruição de fato. 
MELANIE KLEIN E A PRIMEIRA INVEJA 
Segundo Elisabeth Roudinesco, em seu Dicioná-
rio de Psicanálise, Melanie Klein introduz pela primeira 
vez o termo inveja em 1924, atribuindo esse sentimento 
a desejos inconscientes de destruição ao objeto no qual 
há relacionamento. A primeira manifestação da inveja, 
já no nascimento, seria, portanto, contra o seio materno. 
Quando o bebé nasce, ele é expulso de um paraíso onde 
não sentia fome, dor, sede ou qualquer vicissitude. O 
aparelho psíquico dele ainda não pode perceber a exis-
tência de si mesmo e muito menos de um outro. As suas 
primeiras relações, na grande maioria da população, são 
com sua mãe, que lhe oferece o seio para aplacar a fome 
e sanar tal desconforto. 
Tem-se, portanto, uma relação de total dependên-
cia, na qual o bebé sobreviverá apenas se a mãe ofer-
tar seu leite e carinho. Esse é o protótipo das primeiras 
relações, que influenciará o adulto em maior ou menor 
grau nas suas relações futuras. No imaginário do bebé, 
a mãe, conforme vai se constituindo como um ser se-
parado dele, possui a totalidade das coisas. O bebé tem 
a fantasia de que a mãe contém a completude que ele 
sentia no útero e, ao mesmo tempo, ele se percebe in-
completo. A corrida iniciase, o bebé quer retornar à 
sensação de perfeição e o alvo será o seu único objeto 
de relação: a mãe. 
O sentimento que nasce no bebé diante dessa 
ilusão de "tudo ou nada" é a inveja. Invejar é querer 
destruir o que o outro tem, de forma a acabar com a 
relação de dependência. Portanto, quando o bebé sente 
fome e a mãe não está lá no exato momento de sua fome, 
o seio pode ser recebido com mordidas e beliscões. Essa 
reação, segundo Melanie Klein, demonstra a existência 
da inveja primária. 
No ínterim entre a espera e o momento de saciar 
sua fome, o bebé começa a fantasiar sobre a inveja e 
através do seu pensamento mágico acredita que pode e 
está destruindo o seio (continente do tudo). 
A inveja primária, então, é inerente ao ser huma-
no, e esses registros são arquivados no inconsciente de 
todos. Quando há inferência, a palavra inconsciente é 
uma alusão de desejos que não podem ser controlados e 
nem percebidos. A existência deles só podem ser obser-
vados através das reações. 
Todavia, a todo momento em que o ser humano é 
colocado frente a algo ou alguém a quem acredita que 
possui mais do que si, a inveja pode ser acionada. Não se 
inveja apenas a prosperidade, mas também as capacida-
des contidas no outro. 
Sempre se inveja o que é bom, já que se trata de 
uma imitação do primeiro modelo mãe/bebê. Como dito 
acima, não existe inveja boa, já que esse termo está sem-
pre relacionado à destruição, a tentar esvaziar as capa-
cidades do outro, a esgotar suas conquistas. Suportar o 
sucesso de alguém é estar em constante encontro com 
os próprios sentimentos invejosos. A grande maioria dos 
bebés enfrenta esse conflito, suporta a inveja e continua 
o seu desenvolvimento. 
NO ADULTO 
Para Melanie Klein, a sequência maturacional 
e emocional somente pode ser conquistada de forma 
satisfatória caso o bebé sustente pequenas doses de 
inveja sem provocar destruições, mesmo que imagi-
nárias, no seio ou em outro objeto com o qual esteja 
se relacionando. Quando se fala em objeto, nesse tex-
to, referese a uma palavra técnica em psicanálise 
que significa tudo, seja uma pessoa ou uma coisa que 
fazem parte da relação. Importante compreender é 
que as destruições em fantasia, e obviamente não na 
realidade, ainda sim são inveja. 
No entanto, lidar com a inveja não é algo tão sim-
ples. Esse sentimento dispara a ansiedade, e se para um 
adulto contê-la é difícil, imaginem para um bebé que 
ainda não tem completa noção da realidade e se depara 
com um meio assustador e desconhecido. 
Existem mecanismos internos que defendem o su-
jeito dessa ansiedade, e uma das formas encontradas 
pelo aparelho psíquico é expulsar esse mal angustiante 
de dentro e depositá-lo no meio ambiente. Quando isso 
ocorre, o meio externo passa a ser sentido como perse-
guidor O indivíduo observa, por exemplo, um grupo de 
pessoas conhecidas, e sente que esse grupo está falando 
mal dele. Essa sensação é proveniente da inveja, mas 
passa a ser depositada em caráter defensivo na realida-
de. Em verdade, esse grupo de pessoas não está comen-
tando sobre o sujeito, mas o sentimento interno de que o 
meio ambiente oferece perseguição é intenso a ponto de 
se acreditar nessa fantasia. 
Nota-se que se relacionar com um indivíduo por-
tador de grau considerável de inveja tornase bastante 
dificultoso, já que é comumente aceito buscar um círculo 
social de pessoas com afinidades de pensamentos e, fa-
cilmente, esse sujeito pode vir a ser alvo de inveja logo 
que represente algo admirável. 
O invejoso apresentará dificuldade em usufruirdas boas coisas da vida, de amigos que possam pro-
porcionar momentos agradáveis, e em sentir prazer 
por elas, valorizar pequenos feitos e realizações. 
Cabe lembrar que todas as movimentações desse 
sujeito estão para tentar eliminar a diferença que 
possa existir entre o eu e o outro. Já que não se tem 
posse de algo que se deseja, a tentativa será destruir, 
pois assim a equação se igualaria. 
Somente quando se percebe que a vida não é 
perfeita é que se pode aproveitar a realidade em si e 
usufruí-la, tendo gratidão pela vivência. Se o sujeito se 
fecha em si, afasta os outros e é incapaz de saber apro-
veitar os prazeres; podese estar de frente para a inveja. 
Exatamente da mesma forma que o bebé tenta encontrar 
a sua completude e acredita que a mãe está completa, a 
pessoa que cria a ilusão da perfeição — de casamento, 
de carreira profissional, de filhos, de empreendimentos 
perfeitos e plenos —, está fadada a não gozar a vida. 
Essa forma de pensar impede os prazeres, já que essa 
caminhada é impossível de ser realizada. 
A clínica psicanalítica tem por objetivo levar o in-
divíduo a se relacionar com a realidade e a aceita la. 
A ideia é trabalhar com o que se tem e realmente se 
pode. O filósofo grego Epicuro dizia que "As pessoas fe-
lizes lembram o passado com gratidão, alegramse com 
o presente e encaram o futuro sem medo." Seu objetivo 
era atingir a felicidade onde para ele seria a completa 
ausência de don 
Melanie Klein, em sua obra Inveja e Gratidão, 
apresenta a teoria de que somente a gratidão é que pode 
ajudar o indivíduo a suportar a inveja. Concluise, por-
tanto, que ser grato diante da realidade é sem dúvida 
estar mais perto da felicidade. 
* Fernanda Nascimento é uma professora responsável pela 
formação psicanalítica na Escola Paulista de Psicanálise 
(www.apsicanalise.com), onde administra grupos de estudos 
dos principais teóricos da psicanálise, como Sigmund 
Freud, Melanie Klein e Donald Winnicott. Também realizo 
atendimentos no Consultório Viva Terapias. Contato: 
fernandaterapias.wix.com/vivaterapias 
VIENTEQUA "SOMENTE QUANDO SE PERCEBE 
QUE A VIDA NÃO É PERFEITA É 
QUE SE PODE APROVEITAR A 
REALIDADE EM SI E USUFRUÍ-LA, 
TENDO GRATIDÃO PELA VIVÊNCIA." 
G R A N D E S T E M A S D O C O N H E C I M E N T O • 
f•& imSi tfici íil 
E S P E C I A L SEXO, AMOR & RELACIONAMENTOS 
§ A CONSTRUÇÃO 
§ DO VÍNCULO 
Q NO AMOR 
z Criar uma conexão com outras 
pessoas é a parte mais importante 
do desenvolvimento emocional 
X 
INFIDELIDADE, 
SEXO E FELICIDAD! 
Nas relações amorosas, quase 
nunca a traição é o que parece ser 
SOLTEIROS 
I POR OPÇÃO 
^ Cada vez mais as pessoas 
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