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MANUAL DE INTRODUÇÃO A ECONOMIA (Ed0335) Curso: Administração Pública Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino á Distância Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à Distância (CED) e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é passível a processos judiciais. Elaborado Por: dr. Khalilahmad Mussa Bahadur Licenciado em Economia e Gestão Revisado por : Dra. Filomena Simoni Camurai Licenciada em Economia e Gestão Pôs- Graduada em Ciências Politicas Relações Internacionais e Governação Mestrada em Gestão e Administração de Empresas Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino à Distância-CED Rua Correira de Brito No 613-Ponta-Gêa· Moçambique-Beira Telefone: 23 32 64 05 Cel: 82 50 18 44 0 Fax: 23 32 64 06 E-mail: ced @ ucm.ac.mz Website: www. ucm.ac.mz Agradecimentos A Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino à Distância e o autor do presente manual, gostaria de agradecer a colaboração de todos que contribuíram para a elaboração deste manual. 5 Índice Visão geral 8 Objectivos da cadeira .................................................................................................... 8 Habilidades de estudo .................................................................................................... 9 Precisa de apoio? ......................................................................................................... 10 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ............................................................................ 11 Avaliação .................................................................................................................... 11 PARTE I: CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA 13 1. A Relação da Economia Com as Demais Ciências .............................................. 14 2. Sistema Económico ............................................................................................ 16 3. Agentes Económicos .......................................................................................... 17 4. Tipos de Economia ............................................................................................. 18 5. Bens e Serviços .................................................................................................. 21 Actividades de aprendizagem 23 PARTE II: EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÓMICO 24 1. Economia Medieval Ou Economia Da Idade Média............................................ 25 2. Mercantilismo .................................................................................................... 26 3. Escola Fisiocrata ................................................................................................ 27 4. Escola Clássica................................................................................................... 29 5. Escola Marxista .................................................................................................. 34 6. Escola Neoclássica ............................................................................................. 35 7. Escola Keynesiana ............................................................................................. 36 Actividades de Aprendizagem 42 PARTE III: MICROECONOMIA 43 1. Procura e Oferta ................................................................................................. 44 1.1. Lei da Procura .......................................................................................... 44 1.2. Lei da Oferta ............................................................................................ 47 2. Elasticidade ........................................................................................................ 51 3. Teoria do consumidor ......................................................................................... 52 3.1. Curvas de Indiferença............................................................................... 54 4. Teoria do Produtor ............................................................................................. 57 4.1. A Função de Produção ............................................................................. 58 4.2. Factores de Produção Fixos e Variáveis: O Curto Prazo e o Longo Prazo 58 4.3. Economia ou Retornos de Escala .............................................................. 62 6 4.4. Teoria de Custos de produção................................................................... 63 4.5. Linha de Isocusto ou Curva de Igual Custo............................................... 65 4.6. O Equilíbrio do Produtor .......................................................................... 66 5. Estrutura De Mercado ........................................................................................ 67 5.1. Concorrência perfeita .................................................................................. 67 5.2. Concorrência monopolística: ....................................................................... 67 5.3. Oligopólio: .................................................................................................. 67 5.4. Monopólio: .................................................................................................. 68 5.5. Monopsônio: ............................................................................................... 68 5.6. Oligopsônio: ................................................................................................ 68 Actividades de Aprendizagem 70 PARTE IV: MACROECONOMIA 74 1. Sistemas de Contas Nacionais ............................................................................ 78 2. Princípios De Teoria Monetária .......................................................................... 82 2.1. Tipos De Moeda ....................................................................................... 83 2.2. Política Monetária .................................................................................... 83 2.3. FUNÇÕES DO BANCO CENTRAL ....................................................... 89 3. Noções De Comércio Internacional .................................................................... 94 3.1. Os Determinantes Do Comércio Internacional .......................................... 94 3.2. Taxa De Câmbio ...................................................................................... 98 3.3. Balança De Pagamentos ........................................................................... 99 3.4. O Papel Da Organização Mundial Do Comércio (OMC) ........................ 101 4. O Sector Público Nas Correntes Do Pensamento Económico ............................ 103 4.1. Por que regular? ..................................................................................... 107 4.2. Política Fiscal......................................................................................... 111 Atividades de Aprendizagem 120 PARTE V: DESENVOLVIMENTO 122 5.1. As Ideias de Amartya Sem ..................................................................... 125 5.2. Os três valores do desenvolvimento........................................................ 125 5.3. Os três objectivos de desenvolvimento ................................................... 126 5.4. Níveis de desenvolvimento entre os países subdesenvolvidos .................127 5.5. O índice do desenvolvimento Humano ................................................... 128 6. Descentralização E Pobreza .............................................................................. 129 6.1. Descentralização .................................................................................... 129 6.2. Pobreza .................................................................................................. 130 6.3. Índice de pobreza Humana em Moçambique .......................................... 134 7. Recursos Naturais ............................................................................................ 136 7.1. Recursos Renováveis ............................................................................. 137 7.2. Recursos Não Renováveis ...................................................................... 139 7 8. Incentivos Económicos para protecção ambiental ............................................. 141 8.1. Incentivos económicos ........................................................................... 141 Actividades de Aprendizagem 149 REFERÊNCIA 150 8 Visão geral Bem-vindo ao módulo de Fundamentos de Economia. Objectivos da cadeira Quando terminar o presente modulo – o cursante será capaz de: Explicar os conceitos fundamentais da economia; Explicar sobre a evolução da economia; Analisar os desafios persistentes que surgem o tempo todo; Conhecer as principais Escolas do Pensamento Económico: clássica, marxista, neoclássica e keynesiana; Caracterizar a economia em níveis micro e macro; Conhecer o funcionamento do sistema monetário; Descrever os determinantes do comércio internacional, seus ganhadores e perdedores, bem como os argumentos a favor da restrição ao comércio; Saber as fundamentos da regulação na economia, os mecanismos de intervenção do sector público e o papel desempenhado pelo Estado na actualidade; Saber classificar os recursos naturais 9 Habilidades de estudo Durante a formação, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficazes e por isso é importante saber como estudar. Apresento algumas sugestões para que possa maximizar o tempo dedicado aos estudos: Antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento? Preciso de um intervalo de 30 em 30 minutos/de hora a hora/de duas em duas horas/sem interrupção? É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. É preferível saber bem algumas partes da matéria do que saber pouco sobre muitas partes. Deve evitar-se estudar muitas horas seguidas antes das avaliações, porque, devido à falta de tempo e consequentes ansiedade e insegurança, começa a ter-se dificuldades de concentração e de memorização para organizar toda a informação estudada. Para isso torna-se necessário que: Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que 10 está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado desconhece; Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra situação, o material impresso, lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza, alguns erros de natureza frásica, prováveis erros ortográficos, falta de clareza conteudística, etc). Nestes casos, contacte o tutor, via telefone, e-mail e se estiver próximo do tutor, contacteo pessoalmente. Os tutores tem por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor, usando para o efeito os mecanismos apresentados acima. Todos os tutores tem por obrigação facilitar a interacção, em caso de problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for de natureza geral. Contacte a direcção do CED, pelo número 825018440. Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de expediente. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode apresentar duvidas, tratar questões administrativas, entre outras. O estudo em grupo, com os colegas é uma forma a ter em conta, busque apoio com os colegas, discutam juntos, apoiemse mutuamente, reflictam sobre estratégias de 11 superação, mas produza de forma independente o seu próprio saber e desenvolva suas competências. Tarefas (avaliação e auto- avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do período presencial. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor\docentes. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito) palavras de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autoriais devem marcar a realização dos trabalhos. Avaliação Você será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com base no chamado regulamento de avaliação. Os trabalhos de campo por ti desenvolvidos, durante o estudo individual, concorrem para os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira. Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões presenciais, eles representam 60%, o que adicionado aos 40% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima 12 de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar 3 (três) trabalhos, 2 (dois) teste e 1 (um) exame. Não estão previstas quaisquer avaliação oral. Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizadas como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual. Consulte-os.13 PARTE I: CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM Ao finalizar esta Unidade você deverá ser capaz de: Identificar todos os discursos dentro das escolas de pensamento económico existentes; Relacionar a economia com as demais ciências; Entender o funcionamento da economia tendo em conta o modo de produção; e Discutir os permanentes desafios que surgem o tempo todo. Distinguir entre Economia Positiva e Economia Normativa No Século XIX, Alfred Marshall disse que a Economia procura estudar os negócios comuns da vida da humanidade. Por negócios comuns, podemos entender as cenas comuns da vida económica. Etimologicamente, a palavra “economia” vem dos termos gregos oikós (casa) e nomos (norma, lei). Pode ser compreendida como “administração da casa”, pois, administrar uma casa é algo bastante comum na vida das pessoas. Portanto, é interessante essa aproximação do mundo da casa com o mundo da economia. A economia pode ser definida como ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem utilizar os recursos produtivos escassos, na produção de bens e 14 serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, com a finalidade de satisfazer às necessidades humanas. A ciência económica se ocupa das questões relativas a satisfação das necessidades dos indivíduos e da sociedade. A necessidade humana envolve a sensação da falta de alguma coisa unida ao desejo de satisfazê-la. Acreditamos que todas as pessoas sentem necessidade de adquirir certos bens, sentem desejo tanto por alimentos, água e ar. Da mesma forma que uma família precisa satisfazer suas necessidades uma sociedade também precisa fazer o mesmo como transporte, ordem pública. Aliás, precisa definir o que produzir, para quem produzir, quando produzir e quanto produzir para satisfazer as necessidades. Em linhas gerais, a sociedade precisa gerências bem seus recursos que são escassos. A outra ideia por patente na definição da economia é que os recursos são escassos, isto é, os recursos económicos como o trabalho, capital e terra são limitados em todas as sociedades, portanto, as sociedades devem usa-las eficientemente, a fim de produzir bens com valor. A escassez é um problema da sociedade, já que os recursos são escassos, as quantidades de bens e serviços que podem ser produzidas são escassas. Sem a escassez não haveria necessidade de estudar a economia. 1. A Relação da Economia Com as Demais Ciências Com a Biologia: quem exerce a actividade económica gera serviço, objecto das ciências biológicas. O trabalho gera recursos económicos para a alimentação e sobrevivência humana. 15 Com a Moral: a moral tem por objectivo o honesto, a economia tem por objectivo útil, isto é, a actividade humana em busca de prosperidade material. A honestidade com o crescimento económico. Com o Direito: o direito e a economia são ciências sociais, tendo como objectivo o homem. Com a Contabilidade: essa traz luz à economia, sobre inúmeros problemas que se interferem; ambas tratam de juros, empréstimos, bancos, bolsas. A contabilidade age sobre o ponto de vista técnico e a economia mostra as razões teóricas para as suas conclusões sobre determinado fato. Com a Geografia: essa se utiliza de matemática, física e biologia, as quais fornecem a economia inúmeros elementos. Com a História: a história também é uma ciência social. A história económica é o prefácio da economia política. Com a Sociologia: mostra os fenómenos económicos interdependentes com os sociais. Muitos autores consideram a economia política como um ramo da sociologia. Com a Matemática: cálculos gráficos Com a Lógica: uso da razão, raciocínio. 16 Com a Estatística: classifica, analisa, critica e interpreta dados relativos aos fatos económicos. Com a Administração: a administração é o processo de tomar e colocar em prática decisões sobre objectivos e utilização de recursos. 2. Sistema Económico As maneiras como as sociedades se organizam de modo a encontrara mecanismos de resolver as questões básicas da economia (o que produzir, para quem produzir, quando produzir e quanto produzir). As sociedades ao longo do tempo desenvolvem diferentes formas de realizar as suas actividades económicas. O sistema económico é o que caracteriza o espírito, a forma e a substância da actividade económica localizada no espaço e no tempo. Existe uma lógica geral pela qual a economia funciona e conjunto de princípios que regem o seu funcionamento. Os três tipos de sistemas económicos são: Sistema de Economia de Mercado ou descentralizado – é o sistema baseado no mecanismo de mercado que tem como objectivo principal alcançar o lucro máximo. Tem o seu fundamento na liberdade individual dos agentes económicos não sujeita a orientação ou o mero controlo estatal. Apesar da existência da política económica governamental o centro das decisões é a nível das empresas privada que decidem sobre as formas de concorrência, administra as quantidades e os preços dos bens produzidos. Os consumidores é que escolhem os produtos que são colocados a sua disposição no 17 mercado. Este sistema carece de qualquer mecanismo central, os preços são livres e há liberdades de escolha. Sistema de Direcção Central e Planificada – distingue-se pela propriedade estatal dos meios de produção e pela planificação centralizada da economia, tendo como objectivo fundamental a satisfação das necessidades da população, defendendo por isso uma política de redistribuição de rendimentos que reduzem as diferenças entre os indivíduos na sociedade. O estado através dos órgãos especializados administram a produção geral, determina os objectivos e prazos dentro dos quais elas devem concretizar, organizar os processos e métodos de produção controlando os mecanismos de distribuição e dimensionando o consumo. A planificação global tem em princípio o objectivo de racionalização máxima dos recursos disponíveis na economia. Sistemas Mistos – este sistema é uma combinação dos dois sistemas, com elementos de mercados e dirigismo. Nenhuma das sociedades contemporâneas encaixa a um dos sistemas extremos. Nunca houve uma economia 100% de mercado (embora a Inglaterra no século XIX se aproximasse). 3. Agentes Económicos Os agentes económicos são pessoas de natureza física ou jurídica que, através de suas acções, contribuem para o funcionamento do sistema económico, tanto capitalista quanto socialista. Podem ser: Empresas: agentes encarregados de produzir e comercializar bens e serviços, ligados por sistemas de informação e influenciados por um ambiente externo. A produção se dá pela 18 combinação dos factores produtivos adquiridos junto às famílias. As decisões da empresa são todas guiadas para o objectivo de conseguir o máximo de lucro e mais investimentos; Família: inclui todos os indivíduos e unidades familiares da economia e que, no papel de consumidores, adquirem os mais diversos tipos de bens e serviços, objectivando o atendimento de suas necessidades. Por outro lado, são as famílias os proprietários dos recursos produtivos e que fornecem às empresas os diversos factores de produção, tais como: trabalho, terra, capital e capacidade empresarial. Recebem em troca, como pagamento, salários, alugueis, juros e lucros, e é com essa renda que compram os bens e serviços produzidos pelas empresas. O que sempre as famílias buscam é a maximização da satisfação de suas necessidades; Governo: inclui todas as organizações que, directa ou indirectamente, estão sob o controle do Estado, nas suas esferas estaduais ou municipais. Por outra, o governo actua no sistema económico, produzindo bens e serviços, através, por exemplo, da EDM, Electricidade de Moçambique,etc. 4. Tipos de Economia A economia pode ser classificada quanto aos resultados, Economia Positiva e Economia Normativa. 19 Figura 1: Tipos de economia Economia positiva parte da ciência económica que se interessa pela descrição, usando metodologia da teoria de certos aspectos como elas são e como se apresentam e ela divide-se em: Economia Descritiva: trata da identificação do fato económico. É a partir dos levantamentos descritivos sobre a conduta dos agentes económicos que se inicia o complexo de conhecimento sistematizado da realidade no campo da economia positiva. È a tarefa de levantamento e descrição dos fatos que se dedica a economia descritiva; é através dela que a realidade começa a ser submetida a um criterioso tratamento no sentido de que possam se analisados as relações básicas que se estabelecem entre os diversos agentes que compõem o quadro da actividade económica. Teoria Económica: a teoria económica é o compartimento central da economia, compete- lhe dar ordenamento lógico aos levantamentos sistematizados fornecidos pela economia descritiva, produzindo generalizações que sejam capazes de ligar aos fatos entre si, 20 desvendar cadeias de acções manifestadas e estabelecer relações que identifiquem os graus de dependência de um fenómeno em relação a outro. Surgiram então em decorrência conjunto de princípios, de teorias, de modelos e de leis fundamentadas nas descrições apresentadas. A teoria económica adopta duas posições distintas na apresentação e análise do fenómeno económico, estas posições são conhecidas como microeconomia e macroeconomia. A microeconomia é aquela parte da teoria económica que estuda o comportamento das unidades, tais como os consumidores, as indústrias e empresas, e suas inter-relações. A macroeconomia estuda o funcionamento da economia em seu conjunto. Seu propósito é obter uma visão simplificada da economia que, porém, ao mesmo tempo, permita conhecer e actuar sobre o nível da actividade económica de um determinado país ou de um conjunto de países. Economia Normativa não se preocupa com a realidade mas sim com as formas consideradas óptimas de servir. A preocupação é emitir o juízo de valor, propor novas situações de organização. Política Económica: os desenvolvimentos elaborados no compartimento da teoria económica, tem a finalidade de servir a política económica. Nesse terceiro compartimento é que serão utilizados os princípios, as teorias, os modelos e as leis. A utilização terá a finalidade de conduzir adequadamente a acção económica com vistas a objectivos pré-determinados. Quando empregamos a expressão política económica governamental estamos nos referindo as acções práticas desenvolvidas pelo governo com a finalidade de condicionar, balizar e conduzir o sistema económico no sentido de que sejam alcançados um ou mais objectivos politicamente estabelecidos. 21 5. Bens e Serviços Podemos dizer, de forma global, que bem é tudo aquilo que permite satisfazer às necessidades humanas. Os bens podem ser: Bens livres: aqueles cuja quantidade é ilimitada e podem ser obtidos sem nenhum esforço na natureza. Por exemplo: a luz solar, o ar, o mar. Esses bens não possuem preços. Bens económicos: são relativamente escassos, têm valor no mercado, e supõem a ocorrência de esforço humano para obtê-lo. Por exemplo: um carro, um computador etc. Os bens económicos são classificados em dois grupos: Bens materiais: como o próprio nome já diz são todos aqueles de natureza material, que podem ser armazenados e são tangíveis, tais como roupas, alimentos, livros, televisão etc. Bens imateriais ou serviços: consideramos aqui tudo que é intangível. Por exemplo, serviço de um médico, consultoria de um economista ou serviço de um advogado, que acabam no mesmo momento de produção e não podem ser armazenados. Os bens materiais classificam-se em: Bens de consumo: são aqueles usados directamente para a satisfação das necessidades humanas. Estes bens podem ser: de consumo durável, tais como: carros, móveis, electrodomésticos; e de consumo não durável, como, por exemplo, gasolina, alimentos, cigarro. 22 Bens de capital: são todos os bens utilizados no processo produtivo, ou seja, bens de capital, que permitem produzir outros bens. Por exemplo: equipamentos, computadores, edifícios, instalações etc. Tanto os bens de consumo quanto os bens de capital são classificados como: Bens finais: são bens acabados, pois já passaram por todas as etapas de transformação possíveis. Bens intermediários: consistem nos bens que ainda estão inacabados, que precisam ser transformados para atingir a sua finalidade principal. Por exemplo: aço, vidro e borracha usados na produção de carros. Os bens podem ser classificados, ainda, em: Bens públicos: são bens não exclusivos e não disputáveis. Referem-se ao conjunto de bens fornecidos pelo sector público, tais como: transporte, segurança e justiça. Bens privados: são bens exclusivos e disputáveis. São produzidos e possuídos privadamente, como, por exemplo: televisão, carro, computador etc. Podemos dizer então que bem é tudo o que tem utilidade para satisfazer uma necessidade ou suprir uma carência, enquanto o serviço implica numa actividade intangível que proporciona um benefício sem resultar na posse de algo. 23 Actividades de aprendizagem 1. O que entendes por economia? 2. Discuta sobre os sistemas económicos existentes. 3. Distinga bens livres dos económicos 24 PARTE II: EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÓMICO OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM Ao finalizar esta Unidade você deverá ser capaz de: Conhecer as principais Escolas do Pensamento Económico: clássica, marxista, neoclássica e keynesiana; Compreender o desenvolvimento da teoria económica; e Ter fundamentos para propor transformações e construir novos conhecimentos. 25 1. Economia Medieval Ou Economia Da Idade Média A Idade Média (500 a 1000 d.c) abriu uma nova era para a humanidade. Uma outra concepção de vida deu a largada com o cristianismo, que floresceu com a queda do Império Romano. Seus ensinamentos, a partir da legalização por um decreto do ano 311, assinado pelo Imperador Constantino, passaram a ser disseminados por toda a Europa. Foi nessa época, segundo Gastaldi (1999), que as igrejas e os mosteiros tornaram-se poderosos. A igreja tornou-se o maior agente de perpetuação da cultura de disseminação do saber e de desenvolvimento administrativo. Como o pensamento cristão condenava a acumulação de capital (riqueza) e a exploração do trabalho, a opção da igreja, então, foi pelo retorno à actividade rural. Diante dessa situação o que de fato aconteceu foi que a igreja, através de seus conventos e mosteiros, acabou tornando-se proprietária de grandes áreas de terra. A terra transformou-se na riqueza por excelência. Nasceu, assim, o regime feudal, caracterizado por propriedades nas quais os senhores e os trabalhadores viveram do produto da terra ou do solo. Neste período embora fosse o rei quem dirigia o Estado, ele não possuía influência ou poder de decisão nos feudos, onde a autoridade máxima era a do senhor da gleba (os proprietários ou arrendatários) e onde labutavam1 os servos (os trabalhadores). 1 Acto de fazer, trabalho árduo, penoso. 26 2. Mercantilismo Com a propagação do Novo Mundo (inclusive o Moçambique nas Américas), com o crescimento e o desenvolvimento das cidades, as fisionomias social, política e económica tão profundamente moldadas na Idade Medieval, sofrerem profundas transformações. Novos conceitos surgiram no campo do comércio e da produção. Na mesma proporção em que se enfraquecia o pensamentoreligioso, operava-se uma forte centralização política, ocorrendo a criação das nações modernas e das monarquias absolutas, germes do capitalismo. A prática mercantilista predominou até o início do século XVII, dando como base fundamental ao comércio o aumento das riquezas. Neste cenário ocorreu uma reacção contra os excessos do absolutismo e das regulamentações. Tivemos então a fase do mercantilismo2 em decorrência do crescimento do capitalismo comercial, representando, com o capitalismo industrializado no início do Século XVIII, a Economia. O mercantilismo foi um regime de nacionalismo económico que fazia da riqueza o principal fim do Estado. Assinalou, na história económica da humanidade, o início da evolução dos Estados modernos e das novas concepções sobre os fatos económicos, notadamente sobre a riqueza. A finalidade principal do Estado, no entender dos mercantilistas, era de se encontrar os meios necessários para que o respectivo país adquirisse a maior quantidade possível de 2 Uma das primeiras doutrinas económicas, muito usada até o final do Século XVIII. Não foi uma doutrina consistente e coerente, mas um conjunto de ideias económicas de cunho proteccionista, desenvolvidas em diversos países, as quais variavam um pouco em função dos interesses de cada Nação. 27 ouro e prata. Os mercantilistas pretendiam disciplinar a indústria e o comércio, de forma a favorecer as exportações em detrimento das importações, ou seja, procuravam manter a balança comercial favorável. 3. Escola Fisiocrata “Fisiocrata” vem de “fisiocracia”, que significa “poder da natureza”. Os fisiocratas não acreditavam que uma nação pudesse se desenvolver mediante, apenas, o acúmulo de metais preciosos e estímulos directos ao comércio; acreditavam ser necessário também o investimento em produção. Não na produção industrial (ou comercial), mas na produção agrícola, pois somente nessa eram possíveis a geração e a ampliação de excedentes. O objecto da investigação dos fisiocratas é o sistema económico em seu conjunto, sendo este conjunto regido por uma ordem natural, à semelhança da ordem que rege a natureza física. Na Escola Fisiocrata tivemos um grupo de economistas franceses do Século XVIII que combateu as ideias mercantilistas e formulou, pela primeira vez, uma Teoria do Liberalismo Económico. As teses do liberalismo económico foram criadas para combater o mercantilismo. A Teoria Liberal pressupõe a emancipação da economia de qualquer dogma externo a ela mesma, no qual todos os agentes económicos são movidos por um impulso de crescimento e desenvolvimento económico, que poderia ser entendido como uma ambição ou ganância individual, que no contexto macro traria benefícios para toda a sociedade. ou seja, podemos entender, desde já, que o pensamento fisiocrático é uma resposta direta, ou uma reacção, ao mercantilismo. François Quesnay (1694–1774), médico da corte de Luís XV e de Madame de Pompadour, foi o fundador da escola fisiocrata, com a publicação na França, em 1758, do livro Tableau Economique, em que apresenta a primeira análise sistémica da formação de 28 uma economia no formato macro. François Quesnay tem uma grande importância na economia e foi o mais influente representante da escola fisiocrata. Dentre as características da escola fisiocrata podemos destacar: Comércio baseado no regime do exclusivo comercial (metrópole e colónia); e Monopólio do Estado na regulamentação das actividades comerciais. Os fisiocratas concedem à ordem da natureza uma economia inteiramente de mercado (capitalista), na qual cada um trabalha para os demais, ainda que acredite que trabalhe apenas para si mesmo. Os fisiocratas acreditavam que as economias obedeciam a leis naturais. O Quadro Económico proposto por Quesnay influenciou os estudos macroeconómicos e quantitativos na ciência económica. É importante destacarmos ainda a elevada menção que os fisiocratas atribuíam à ordem natural decorrente da estrutura económica francesa por volta de meados do Século XVIII. Tratava-se de uma economia predominantemente agrícola, sendo a terra propriedade de carácter eminentemente senhorial. O capitalismo já se desenhava na agricultura, e existia uma classe bem definida de arrendatários (pessoas que arrendavam as terras dos senhores para trabalhar). Também existiam muitos camponeses (pequenos agricultores) em boa parte do país. Do confronto entre a agricultura capitalista e a camponesa, obtivemos a superioridade da agricultura capitalista em termos da capacidade produtiva. Naturalmente, isso levava à 29 crença de que agricultura baseada na produção capitalista (e não mais no fundamento do feudalismo), baseada na capacidade empresarial dos arrendatários burgueses (lembre-se disso!), constituía a mais avançada e a mais desejável das formas de produção. O único trabalho produtivo dos fisiocratas é o trabalho agrícola. E está na terra o poder de dar origem a um produto líquido que se liga, fundamentalmente, à renda fundiária. Talvez, nesse ponto, resida grande limitação teórica dos fisiocratas, na medida em que consideravam apenas produtivo o trabalho agrícola. Como observamos, para os fisiocratas, a sociedade é governada por leis naturais semelhantes às que existem na natureza. Portanto, o Estado, não deve intervir nesta ordem natural. Com isso, conforme dito antes, criticavam o intervencionismo estatal do mercantilismo e defendiam a posição liberal do Estado, com frases que ficaram na história: laissezfaire e laissez-passer (deixai fazer e deixai passar). A seguir, as principais escolas do pensamento económico: clássica, marxista, neoclássica e keynesiana. 4. Escola Clássica A Escola Clássica refere-se a uma linha de pensamento económico com base em Adam Smith e David Ricardo. Foi com esta escola que a Economia adquiriu carácter científico integral à medida que passou a centralizar a abordagem teórica do valor, cuja única fonte original era identificada no trabalho em geral. Para Paul Singer (1985, p. VII), David Ricardo foi, ao lado de Adam Smith, o principal representante da Escola Clássica de Economia Política. 30 [...] Quase não há problema teórico actualmente debatido pelos economistas, como o da teoria do valor, da repartição da renda, do comércio internacional, do sistema monetário, que não tenha como ponto de partida as formulações expostas, no começo do século passado, por David Ricardo. Além da Teoria do Valor - Trabalho, a Escola Clássica baseou-se nos preceitos filosóficos do liberalismo e do individualismo, e firmou os princípios da livre - concorrência, que exerceu decisiva influência no pensamento revolucionário burguês. Como podemos observar, a Escola Clássica foi uma escola que caracterizou a produção, deixando a procura e o consumo para o segundo plano. Segundo Smith, o objecto da economia é estender bens e riqueza a uma nação. E, nesse sentido, entende Smith (1981) que a riqueza somente pode ser conseguida mediante a posse do valor de troca. Valor de troca, ele é a capacidade de obter riquezas, ou seja, é a faculdade que a posse de determinado objecto oferece de comprar com ele outras mercadorias. Smith também refutou as ideias mercantilistas argumentando que a riqueza é constituída pelos valores de troca, e não pela moeda, na medida em que esta é apenas um meio que permite a circulação de bens. Portanto, para Smith (1981), a verdadeira fonte de riqueza de um país somente pode ser alcançada mediante o trabalho, e essa fonte somente pode ser elevada com: aumento da produtividade; A extensão de sua especialização; e A acumulação do produto sob a forma de capital. 31 A distribuição do produto nacional, no pensamento clássico, continuousendo tratada de forma tradicional onde os remunerados seguiam este padrão: Trabalho – salário; capital – lucro; e Terra – renda. Devemos ainda destacar que a Teoria Clássica é elaborada em função de um equilíbrio automático, que ignora as crises e os ciclos económicos. Desse modo, a oferta deve criar, necessariamente, sua própria procura – Lei de Say, e a soma dos salários e dos ganhos retidos pelos consumidores deve corresponder à quantidade global de bens oferecidos no mercado. Como vimos, o referencial económico e social dessa escola se dava com base nos princípios do liberalismo e do individualismo. Acreditava-se que um sistema de liberdade económica, através de um mecanismo impessoal de mercado – Mão Invisível –, conseguiria harmonizar os interesses individuais. Bem, considerando que sua obra clássica contém vários pressupostos actuais do neoliberalismo económico, podemos afirmar que as ideias de Smith correspondiam aos anseios do poder da burguesia, e, como um liberal, ele defendia: A mais ampla liberdade individual; O direito inalienável à propriedade; A livre iniciativa e a livre concorrência; e A não - intervenção do Estado na economia. 32 Entretanto, para Smith (1981), o Estado deveria ter três funções: Proteger a sociedade da violência e da invasão de outras sociedades independentes; Proteger, na medida do possível, todo membro da sociedade da injustiça e da opressão de qualquer de seus membros ou oferecer uma perfeita administração da justiça; e Fazer e conservar certas obras públicas, e criar e manter certas instituições públicas, cuja criação e manutenção nunca despertariam o interesse de qualquer indivíduo ou de um grupo de indivíduos, porque o lucro nunca cobriria as despesas que teriam esses indivíduos, embora, quase sempre, tais despesas pudesse beneficiar e reembolsar a sociedade como um todo. Na sua análise histórica e sociológica, Smith acreditava que, embora os indivíduos pudessem agir de forma egoísta e estritamente em proveito próprio, existia uma “mão invisível”, decorrente da providência divina, que levava esses conflitos à harmonia. Assim podemos dizer que a “mão invisível” era o próprio funcionamento sistemático das leis naturais. O fundamento no pensamento smithiano é o fato de haver indicado quase todos os problemas que viriam a ser objectos de reflexão científica subsequente. De Smith, partiram todas as demais linhas de pesquisa que serão tratadas por outros economistas, como Marx Keynes. Adam Smith teve muitos seguidores, dos quais destacamos os seguintes: John Stuart Mill e Jean Baptiste Say. Cabe ressaltar que alguns economistas daquela época rejeitaram a lei formulada por Say e dentre eles podemos destacar: Malthus, Karl Marx e Keynes. 33 Thomas Robert Malthus, estudioso pensador inglês do seu tempo, continua fazendo história ainda nos dias de hoje com a sua famosa tese sobre o crescimento da população. Na sociedade mundial contemporânea os seus seguidores ficaram conhecidos como neomalthusianos. Foi com a obra Ensaio sobre o princípio da população, publicada anonimamente em 1798, que Malthus tornou-se conhecido mundialmente. Das suas ideias, a mais famosa dizia que, enquanto a população tinha tendência a crescer de forma geométrica, os alimentos cresciam de forma aritmética. Embora atraente, é óbvio que, nos dias de hoje, temos certa dificuldade em pensar assim, devido às transformações tecnológicas ocorridas na agricultura e ao sucesso dos métodos de controlo de natalidade. Malthus quanto Ricardo tiveram grande influência de Adam Smith. Na realidade, o inglês Ricardo adquiriu fortuna, desde muito jovem, operando na Bolsa de Valores. Divergiu dos estudos sobre população, de Malthus, por não acreditar que a demanda efectiva seria incapaz de se realizar no mercado. De Ricardo, herdamos o importante estudo sobre a renda da terra. Segundo os seus ensinamentos, a expansão agrícola, ao se dar em terras menos férteis, levava à valorização da terra mais fértil, e nas relações económicas internacionais, à Teoria das Vantagens Comparativas. Ao estudar a produção, Ricardo dedicou-se a tentar entender a formação do valor a partir das horas trabalhadas e sua distribuição. Na concepção ricardiana, a troca das mercadorias estava directamente ligada às quantidades de trabalho relativas que haviam sido utilizadas para sua produção. Era a Teoria do Valo r– Trabalho, que começava a ser explicada com certos detalhes e que Adam Smith não conseguira superar. A importância da contribuição de Ricardo para o entendimento da formação do valor na Economia só veio ser percebida a partir dos estudos de Karl Marx. 34 5. Escola Marxista O representante maior desta escola foi Karl Marx (1818- 1883). Nascido em Trier, no sul da Alemanha, teve a sua principal obra, O capital, publicada pela primeira vez em 1867. Ao mergulhar nos estudos dos clássicos, Marx avançou nas formulações, e realizou uma leitura das mais completas e ampliadas do processo capitalista. Marx trouxe interpretações consistentes sobre a Teoria do Valor – Trabalho e buscou compreender de forma profunda a realização do capital. As contribuições efetivas de Karl Marx sobre o sistema capitalista estão reunidas nos três volumes da obra O Capital. O volume I foi publicado em vida e os outros dois alguns anos após sua morte. Depois da propagação da teoria formulada por Marx, que ficou conhecida como Marxista, o mundo não foi mais o mesmo. Mesmo nos dias de hoje, com forte presença do neoliberalismo, as teorias elaboradas por Marx são respeitadas, as defesas das suas ideias continuam despertando interesse e sendo estudada. Foi no estudo do processo de acumulação capitalista que Marx observou a génese das crises, ora de superprodução, ora de estagnação, bem como a distribuição da renda. Para ele, o valor da força de trabalho despendido para produzir uma mercadoria era determinado pelo tempo de trabalho empregado na produção da mercadoria. Logo podemos dizer que Marx refere-se a compreensão de um valor social. Marx publicou alguns livros em parceria com o amigo de vida Friedrich Engels, sendo o primeiro A sagrada família, de 1845. O livro Ideologia alemão, escrito por Marx e Engels 35 por volta de 1845 a 1846, só veio a ser publicado em 1932, e é considerado um dos trabalhos mais significativos para a compreensão do materialismo histórico. Outro factor que precisamos destacar é que Karl Marx elaborou uma crítica científica do capitalismo, e este é um dos motivos pelos quais sua obra continua tendo grande repercussão, tornando-se um autor obrigatório a ser lido ainda hoje. Segundo Braga (1997), são inúmeras as evidências históricas da contemporaneidade da teoria económica de Marx. Por exemplo, a Lei Geral da Acumulação Capitalista e a Globalização Financeira. 6. Escola Neoclássica Podemos dizer que o desenvolvimento deste pensamento foi evidenciado em 1870, ano que marcou a mundialização das relações económicas, e estendeu-se até 1929, quando uma grande crise atingiu as economias dos países, colocando em suspende os pressupostos da Ciência Económica dos clássicos. Isso mesmo a Escola Neoclássica foi uma extensão da Escola Marginalista, por buscar a integração da Teoria do Valor com a Teoria do Custo de Produção. Uma maior optimização dos recursos devido à escassez passou a ser objectivada. Destacamos como sendo da Escola Neoclássica: Vilfredo Pareto: político, sociólogo e economista italiano, que formulou a famosa teoria do bem-estar social, influenciado pelos princípios do equilíbrio geral. Sua principal obra, Manual de Política Económica, foi publicada em 1906. Pareto influenciou a análise atual onde se discute o grau de satisfação dos indivíduos, ao aperfeiçoar a teoria de Walras.De acordo com Brue, o estado ótimo de Pareto implica em: uma distribuição ideal de bens entre os 36 consumidores; uma alocação ideal técnica de recursos e quantidades ideais de produção (BRUE, 2006, p. 394). Léon Walras: demonstrou em suas formulações a interdependência entre os preços, quando na busca pelo equilíbrio geral macroeconómico da economia. Pertenceu a Escola Matemática de Lausanne (PINHO; VASCONCELLOS, 2003, p. 36-37). Alfred Marshall: nascido em Bermondsey, um subúrbio de Londres, em 26 de julho de 1842. Filho de William Marshall e Rebeca Oliver, cresceu no bairro londrino de Clapham. Estudou em Cambridge, onde se dedicou à matemática, à física e, posteriormente, à economia. Morreu em julho de 1924, aos 81 anos. Foi um dos mais influentes economistas de seu tempo. Em seu livro, Princípios de Economia (Principles of Economics) procurou reunir num todo coerente as teorias da oferta e da demanda, da utilidade marginal e dos custos de produção, tornando- se o manual de economia mais adotado na Inglaterra por um longo período. 7. Escola Keynesiana O ponto de partida do pensamento de John Maynard Keynes é que o sistema capitalista tem um carácter profundamente instável. Ou seja, a operação da “mão invisível”, ao contrário do que afirmavam os economistas clássicos, não produz a harmonia no mercado. Em momentos de crises, argumenta Keynes, a intervenção do Estado pode gerar demanda, mediante os investimentos, com vistas a garantir níveis elevados de emprego. O pensamento de Keynes comandou as bases do capitalismo mundial entre a década de 1940 e final dos anos 70. 37 A análise keynesiana veio opor-se aos postulados das economias Clássica e Neoclássica, que tinham na Lei de Say3 a sua pedra angular. Os pensadores que mais contribuíram para a concepção e divulgação dessa Lei, passada como um dos princípios inquestionáveis da Economia Política Clássica, foram os economistas Jean Say, David Ricardo e Stuart Mill. Introdutoriamente, a Lei de Say estabeleceu que toda produção encontra uma demanda, ou seja, que toda a renda (lucros, juros, salários) é inteiramente gasta na compra de mercadorias e serviços, e, portanto, não pode haver um excesso de produção ou renda em relação à demanda ou às despesas efectivamente realizadas. Observando a Lei de Say, muitos economistas deduziram que o seu princípio é válido para uma economia de produtores simples, de troca, de escambo, na qual cada família seria proprietária de seus meios de produção e trocaria apenas o excedente de bens que ela mesma produz, mas não consome. Exactamente nesta Lei, o dinheiro é visto apenas como um meio de troca, sendo gasto imediatamente. Para Say, ninguém teria interesse em conservá-lo (atribuindo-lhe reserva de valor). Para Ricardo, o fato de ninguém querer conservá-lo se deve ao fato de o dinheiro servir apenas para aquisição de bens de consumo ou bens de produção, para a criação de bens de consumo no futuro. Assim podemos afirmar que dentro da filosofia de Say os produtores ou possuidores de dinheiro não tinham interesse em mantê-lo em suas mãos mais que o necessário e a demanda seria ilimitada. 3 Diz que a soma dos valores de tudo aquilo que é produzido é sempre equivalente à soma dos valores empregados como factores na produção. Fonte: Lacombe (2004). 38 Significa que sempre existirá uma demanda por um ou outro tipo de produto ou seja, ainda que ocorra excesso de produção, isso acontece apenas para certos tipos de mercadoria e em carácter temporário. Esse argumento de que a demanda é ilimitada é essencial para os clássicos e neoclássicos, pois assegura a inexistência de um excesso de produção em relação à demanda. Isso significa que tudo o que for produzido é, naturalmente, vendido. Todo o poder de compra da sociedade é sempre utilizado. Diante do que vimos até aqui, fica entendido que toda a renda ganha é sempre gasta no processo produtivo, sinalizando a inexistência de entesouramento. Ou seja, na Lei de Say, inexiste entesouramento do dinheiro. Nenhum indivíduo, ao auferir uma renda, deixa de usá-la inteiramente. Uma parte dela é utilizada para o consumo pessoal, enquanto a outra parte é poupada. Cuidado: aqui, poupança, deve ser dito, não significa entesouramento para a Lei de Say. A poupança será sempre utilizada. Ou o indivíduo a emprega para acumular capital ou a empresta para outro, que deve imediatamente fazer uso dela. Assim podemos dizer que tudo que é ganho deve ser gasto. E se parte não é, outra pessoa o faz, recebendo o dinheiro por empréstimo. Considerando que o volume dos meios de produção e da força de trabalho é regulado pela produção, temos que a economia tende a operar com pleno emprego de recursos (ou plena capacidade de produção). Nesse caso, os recursos empregados se deslocariam para outro ramo da actividade no qual existisse demanda suficiente para absorver uma produção adicional, assegurando, desta forma, uma taxa de lucro compensatória. Os economistas adeptos da Lei de Say encaravam o desemprego como uma pequena anormalidade do sistema capitalista, que tinha a sua origem na intervenção estatal e na associação dos trabalhadores sindicais. Indicavam que também umas das causas do 39 desemprego eram os altos salários pagos. Então, para corrigir o desemprego, os salários deveriam ser flexíveis. Baseados na Lei de Say, os gastos públicos não exerciam qualquer efeito positivo sobre a economia e, em especial, sobre o crescimento económico. Acreditavam, que os gastos do Estado poderiam ser um obstáculo para o crescimento económico, visto que transferiam fundos de acumulação para utilizá-los em actividades improdutivas. O pensamento de Keynes é a própria negação do pensamento clássico. Ao contrário de Ricardo e Say, Keynes entendeu que, para a sobrevivência do capitalismo, era necessária uma acção efectiva do Estado na regulação das crises do capital. Keynes pode ser considerado como o retrato do indivíduo liberal de seu tempo. Detinha um carácter profundamente individualista, mas percebia os problemas sociais de sua época. É considerado o mais célebre economista do Século XX, pioneiro da Macroeconomia. As obras de Keynes mostram que suas preocupações estavam sempre ligadas a questões práticas e políticas de conjuntura. Não parecia interessado em reconstruir a teoria económica a partir da análise do valor, mas em verificar por que as teses marginalistas, nas quais fora educado, conduziam a políticas inconsistentes. Em 1930, escreveu Tratado sobre a moeda, e em 1936 a sua principal obra, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. Foi esta última que mais contestou a Teoria Marginalista, Neoclássica ou Clássica. A Teoria Geral abalou profundamente os pressupostos do liberalismo económico, mostrando a inexistência do princípio do equilíbrio automático na economia capitalista. Até então, nos meios marginalistas, a economia de mercado encontrava naturalmente seu equilíbrio, numa situação em que todos os que desejassem trabalhar por uma remuneração correspondente à sua produtividade poderiam fazê-lo. 40 A questão da produção e do emprego foi demasiadamente avaliada por Keynes. Ele concluiu que o factor responsável pela alteração do volume de emprego é a procura de mão-de-obra, e não a sua oferta, como pensavam os neoclássicos. Logo, o desemprego é o resultado de uma demanda insuficiente de bens e serviços, e somente pode ser resolvido por meio de investimentos. O investimento, para Keynes, é o factor dinâmico na economia, capaz de assegurar o pleno emprego e influenciar a demanda. Ao contrário da tradição clássica e neoclássica, Keynes enfatiza acentuadamente o papel do Estado na economia, e destaca que as mudanças no sistema produtivo não poderiamocorrer sem a acção efectiva do poder público. O grande eixo da análise de Keynes sobre a intervenção do Estado na economia é a superação da crise, no curto prazo, durante a própria crise, possibilitando o aumento dos investimentos através de uma política de aumento da demanda. O aumento das despesas em obras públicas, graças ao multiplicador, provocaria o aquecimento da economia, que se espalharia para os demais sectores. Contudo é através dos investimentos privados, visto como eixo central de toda economia, que promovemos a elevação do nível de emprego, aumentamos a renda e o crescimento económico. Nesse sentido, é do Estado a responsabilidade de activar o investimento e de assegurar a alocação dos recursos. Keynes estava convencido da importância da acção do Estado na economia, e toda a acção governamental deveria estar pautada na busca de reduzir os efeitos da crise de acumulação de capitais, que, de qualquer forma, promoveria a queima de certa quantidade de capital. Há uma procura incessante por novas alternativas ao modelo keynesiano. Os pós- keynesianos se enquadram neste grupo e estão entre os que se preocupam com o princípio da demanda efectiva, o desempenho da moeda e as expectativas do comportamento das 41 economias. É por isso que, nessa escola, os estudos da determinação dos títulos no mercado são realizados com bastante atenção. 42 Actividades de Aprendizagem 1. Faça um quadro síntese das principais escolas do pensamento económico. 2. Fale sobre a importância da Escola Fisiocrata para a economia. 3. Pesquise sobre o significado do pensamento keynesiano na actualidade. 4. Apresente as principais ideias da Escola Marxista. 43 PARTE III: MICROECONOMIA OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE APRENDIZAGEM Ao finalizar esta Unidade você deverá ser capaz de: Entender como se formam as curvas de demanda e oferta, no caso de uma economia de concorrência perfeita, e a formação do preço de equilíbrio; e Identificar a formação do monopólio e do oligopólio numa economia de concorrência imperfeita. A Microeconomia trata das escolhas dos indivíduos quanto à afectação dos recursos escassos que têm disponíveis, a afectação das coisas. Assim, estuda os fundamentos das escolhas económicas de cada indivíduo e a sua evolução com a alteração dos preços das coisas. Além de considerar os indivíduos, a Microeconomia pode ainda considerar um certo nível de agregação. No entanto a agregação é sempre de coisas idênticas (homogéneas). Por exemplo, pode considerar em conjunto os consumidores de laranjas e em conjunto os vendedores de laranjas, sendo que, apesar de haver muitas variedades de laranjas, para um certo grau de abstracção são todas idênticas. 44 1. Procura e Oferta 1.1. Lei da Procura A procura de um determinado produto é definida como o agregado das intenções de aquisição desse produto por parte dos consumidores. A lei da procura relaciona a quantidade procurada de um produto com o respectivo preço, e o pode ser anunciada da seguinte forma: a quantidade procurada de um bem aumenta quando o preço desce, e desce quando o preço aumenta. Não devemos confundir procura com aquisição, pois a procura somente traduz a intenção de aquisição. Para um dado preço existe uma quantidade procurada, mas essa procura só se traduzira em aquisição se existir quantidade suficiente de bens no mercado, equivalente ou superior à quantidade procurada. No caso de não existirem bens em quantidade suficiente, parte da procura ficara por satisfazer. 45 Figura 2: Curva de Procura A figura mostra a relação entre o preço e quantidade, onde P representa o preço e a variável Q representa quantidade. A lei da procura é representa d apela linha D. Neste caso é uma recta, por mera simplificação, embora o gráfico da procura real tenda a ser uma curva – por isso que se usa a expressão curva da procura somo sinonimo de lei da procura. O curva da procura apresenta o declive negativo, isto é, as variáveis apresentam uma relação inversa ou seja quando uma desce outra sobe, vice-versa. A curva de procura descreve as combinações de preços e quantidades procuradas quando todos os restantes factores que podem influenciar a procura se mantêm constantes (principio de certeris paribus). Esses factores podem ser: Rendimento do consumidor; Moda Preços de bens substitutos. 46 Quando ocorrem variações nos preços, mantendo-se o resto constante, o que se verifica é a própria lei da procura em acção, isto é, movimento ao longo da curva. Um outro fenómeno é a deslocação da curva da procura. Vejamos o exemplo do gráfico seguinte, onde a curva da procura está inicialmente na posição D1, e sofre uma deslocação para direita (D2). Figura 3: Curva de Procura Na posição D2 a quantidade procurada é maior para todos os possíveis preços, do que acontecia na posição D1. As possíveis causas para esta alteração de comportamento podem ser as seguintes: Aumento do número de consumidores, consequentemente a quantidade demandada aumentou; Aumento do rendimento médio dos consumidores; 47 Variação dos gostos dos consumidores, no sentido do produto em causa ser agora mais atractivo (moda); Variações nos preços de produtos relacionados, esses podem ser bens substitutos ou bens complementares. Figura 4: Deslocaçãi na Curva da Procura Na presente situação, a curva D2 diz-nos que a quantidade procurada do bem é agora sistematicamente menor para todos os preços possíveis. As causas do presente cenário podem ser as opostas do que referimos para o caso da deslocação da curva da procura para direita. 1.2. Lei da Oferta A oferta de um determinado produto é definida como o agregado das intenções de venda dum produto por parte do produtor. 48 A lei da oferta relaciona a quantidades oferecidas de um produto com o preço do produto, e pode ser enunciada da seguinte forma: a quantidade oferecida de um produto aumenta quando o preço aumenta, vice-versa. Não devemos confundir a oferta com vendas. A oferta apenas traduz as intenções de venda. Para um dado preço existe uma quantidade oferecida, esta oferta se traduzirá em vendas se existir uma procura suficiente. No caso de não existir procura suficiente, parte da procura ficara por vender. A figura seguinte representa graficamente a lei da procura. Onde a variável P é o preço e variável Q representa as quantidades oferecidas. A lei da oferta é representada pela recta S. Neste caso é uma recta, por mera simplificação, embora o gráfico da oferta real tenda a ser uma curva – por isso que se usa a expressão curva da oferta somo sinonimo de lei da oferta. Figura 5: Curva da Oferta As variáveis preço e quantidade apresentam uma relação positiva, pois a curva da procura apresenta um declive positivo, isto é, quando o preço aumenta as quantidades oferecidas também aumentam. Pois o produtor desejara vendar maiores quantidades do seu produto. 49 No entanto podem ocorrer deslocações na curva da oferta. Vejamos o exemplo do gráfico seguinte, onde a curva da oferta – inicialmente na posição S1 – sofre uma deslocação para a direita, para a posição S2. Figura 6: Deslocação na Curva da Oferta Na posição S2 a quantidade oferecida é sistematicamente maior para todos os possíveis preços, do que acontecia na posição inicial. Causas que conduziram para esta alteração de comportamento da curva da oferta, podem ser as seguintes: Diminuição dos custos de produção. Desta forma pode-se produzir os mesmos produtos a um preço mais baixo, as empresas poderão colocar maior quantidades desses produtos a venda, e mesmo assim obter lucros suficientes á sua actividade. A diminuição dos custos de produção pode ter origensdiversas: descidas do preço da matéria-prima, descida do preço da mão-de-obra, progressos tecnológicos ou melhorias organizativas que permitam produzir mais com os mesmos custos. Condições climatéricas favoráveis que se traduzem em maiores níveis de produção para os mesmos custos. 50 A deslocação da curva da oferta para a esquerda pode ser visualizada na figura seguinte. Figura 7: Deslocação na Curva da Oferta Neste caso, o significado da deslocação da curva para a posição S2 é que a quantidade oferecida do bem e agora sistematicamente menor para todos os possíveis preços do que acontecia na situação inicial. As causas possíveis para esta podem ser exactamente as opostas das que referiu-se acima – aumento dos custos de produção ou condições climatéricas desfavoráveis. A figura seguinte mostra a situação de equilíbrio (ponto e), oferta é igual a procura, onde os consumidores e os produtores estão satisfeitos, isto é, todas ordens de compra e de venda forma satisfeitas. E se a demanda for maior que a oferta então estamos perante escassez e se a oferta for maior que a demanda então estamos perante o caso de excedente. 51 Figura 8: Procura e Oferta O preço e a quantidade do equilíbrio ocorrem no nível em que o montante que está disposto a fornecer é igual ao montante que está disposto a consumir. Ao preço de equilíbrio não existem nem escassez nem excedentes. 2. Elasticidade Elasticidade do preço da procura ( ), simplesmente designada por elasticidade do preço – mede a variação na quantidade procurada de um bem quando o seu preço varia, ou é o variação percentual da quantidade procurada dividida pela variação percentual do preço. Designa-se como procura elástica – uma variacao de 1% no preço corresponde a uma variacao superior a 1% na quantidade procurada. Um exemplo, um aumento de 1% no preço resulta uma reducao de 5% na quantidade procurada. 52 Designa-se como procura inelástica ou rígida – quando uma variação de 1% no preço corresponde a uma variação inferior a 1% na quantidade procurada. Designa-se como procura com elasticidade unitária (Neutral) – quando a percentagem de variação da quantidade é exactamente igual a percentagem de variação do preço. Elasticidade do preço da oferta ( ) é a variação percentual das quantidades oferecidas, dividida pela variação percentual do preço do bem. Designa-se como procura perfeitamente rígida – é aquela em que a quantidade procurada não responde nada a variação de preço. Graficamente é representada por uma curva vertical. Designa-se como procura perfeitamente elástica – é aquela em que uma variacao no preço levará a uma variação infinita da quantidade procurada. Graficamente é representada por uma curva horizontal. 3. Teoria do consumidor Na presente secção continua a investigação sobre a procura, analisando os princípios básicos da escolha e do comportamento do consumidor. 53 A economia baseia-se na premissa fundamental de que as pessoas tendem a escolher os bens e serviços a que atribuem valor. Esta escolha é feita na base de conceito utilidade (noção desenvolvida a mais de um século). A utilidade significa satisfação. Aliando a utilidade e a teoria da procura, pode-se dizer que as pessoas maximizam a sua utilidade, o que significa que escolhem o conjunto de bens de consumo que mais lhe agrada. É de salientar que os economistas clássicos Smith, Ricardo e seus discípulos preocuparam-se em saber ö que dá o valor as coisas”daqui nasceu a teoria do valor apresentado por Adam Smith. Só na década de 1870 deu-se a revolução em economia com as ideias de Utilitarismo e Marginalismo apresentadas separadamente, em locais diferentes, pelos: Inglês William e Jevon em Manchester; Austríaco Carl Menger em Viena; Léon Walras em Lausanne. A utilidade Marginal corresponde a utilidade adicional de deriva de consumo de unidade adicional de um bem. A expressão marginal ‘e um termo chave em economia significa sempre adicional. Do estudo da actividade da utilidade seguiu-se uma lei da utilidade marginal decrescente: a medida que uma pessoa consome uma maior quantidade de um bem a utilidade adicional ou marginal diminui. 54 A utilidade é uma forma de medir o bem-estar obtidos pelos bens materiais. 3.1. Curvas de Indiferença Uma abordagem alternativa para a análise do comportamento do consumidor pode ser feita através das curvas de indiferença. Vejamos o gráfico seguinte onde se encontra representada a possibilidade de consumo de dois bens: Bem A e Bem B. No gráfico encontra – se desenhada a uma curva de indiferença, que é formada por pontos que representam combinações de diferentes quantidades de bens A e B, combinações estas relativamente o consumidor é indiferente, porque qualquer combinações dos bens lhe proporciona a mesma utilidade. Figura 9: Curva da Indiferença Quando ocorre uma deslocação ao longo da curva, por exemplo de ponto a para o ponto b, o consumidor prescindi de uma certa quantidade de bens B em troca de uma certa quantidade de bens A. A perda da utilidade pela diminuição de bens B é igual ao acréscimo de utilidade pelo aumento de bens A. A utilidade conjunto dos bens mantém se igual, ‘e por esta razão que o consumidor é indiferente estar em qualquer ponto ao longo da curva I. 55 A relação de troca entre os dois bens numa curva de indiferença designa-se como taxa marginal de substituição (TMS). De uma forma geral a taxa marginal de substituição num ponto é igual ao declive da curva nesse ponto. As curvas de indiferença são convexas em relação a origem, quanto mais distantes da origem maior ‘e a utilidade, a curva de indiferença apresenta um declive negativo, e as curvas de indiferença não se intersectam. É fácil de compreender que o consumidor prefere as curvas de ordem superior (distante de origem) porque traduz-nos maior utilidade. No entanto existe uma limitação a quantidade bens que um consumidor pode adquirir, e que esta limitação é estabelecida pelo seu rendimento. Esta limitação pode ser traduzida graficamente pela restrição orçamental ou recta orçamental. A recta orçamental (R) representa todas as combinações possíveis de dois bens que utilizam totalmente o rendimento do consumidor. Ela foi formalizada da seguinte maneira: Onde: Preço do bem X Preço do bem Y R Rendimento Fixo. 56 Figura 10: Recta Orçamental Agora já podemos concretizar o comportamento do consumidor, atendendo a estas duas realidades: Preferência pelas curvas de indiferença de ordem superior; Impossibilidade de se situar à direita da restrição orçamental. Juntando as duas linhas no mesmo gráfico obtemos a figura seguinte: Figura 11: Equilibriu do Concumidor 57 A conclusão que pode retirar da figura é a de que o consumidor faz a sua aquisição no ponto onde a recta é tangente á curva de indiferença de ordem superior neste ponto a rácio substituição é igual ao declive da recta orçamental. Esta análise do comportamento do consumidor foi desenvolvida pelo economista inglês John Hicks (1904 – 1989). Esta análise continua a ser utilizada num grande leque de situações para mostrar como as decisões dos consumidores afectam o processo económico. Constitui também um exemplo de como uma ideia matemática simples pode servir como uma poderosa ferramenta teórica. 4. Teoria do Produtor Um mercado pode ser definido como um conjunto de agentes que transaccionam entre si um bem. É no mercado que são estabelecidos os preços dos bens. Um mercado exige: Consumidores, ou seja, compradores Produtores ou empresas, ou seja, vendedores Bens para transaccionar. A teoria económica supõe que os produtoressão agentes racionais que tomam as suas decisões de forma a maximizar o seu bem-estar. Objectivo do produtor: utilização dos seus recursos para produzir os bens que permitam obter o maior lucro possível (maximizar os seus lucros). A curva da oferta tem em geral inclinação positiva pois: Preços superiores permitem às empresas aumentar a produção pois há hipótese de aumentar os lucros Produções superiores aumentam os custos de produção exigindo as empresas preços superiores para não terem redução dos lucros. 58 4.1. A Função de Produção Função de Produção é a relação técnica que mostra a quantidade física obtida do produto a partir da quantidade física utilizada dos factores de produção, num determinado período de tempo. A forma matemática geral da função de produção é a seguinte: Onde, Representa a quantidade produzida do bem ou serviço; Representam as quantidades utilizadas dos diferentes factores de produção Os factores de produção são terra, capital e mão-de-obra. Nos nossos modelos usaremos apenas dois factores de produção, de cada vez, como por exemplo o insumo mão-de-obra (L) e o insumo Capital (K). A função produção mostra-nos somente as quantidades máximas que a firma pode produzir utilizando uma dada quantidade da mão-de-obra e do capital, isto porque a função produção toma em consideração somente o processo de produção eficiente. 4.2. Factores de Produção Fixos e Variáveis: O Curto Prazo e o Longo Prazo Na Teoria Económica a questão do prazo está definida em termos de existência ou não de factores fixos no processo produtivo. Podemos assim distinguir entre: 59 Factores de produção fixos são aqueles que permanecem inalterados quando a produção varia como é o caso das instalações de uma fábrica, do equipamento físico de uma unidade industrial, etc; Factores variáveis, são aqueles que variam com a variação das quantidades produzidas do produto ou serviço. Temos como exemplo de factor variável, o Trabalho. Ligado a isso, podemos então classificar os prazos, do ponto de vista da Economia, da seguinte maneira: Curto Prazo, como sendo o período de tempo durante o qual existe pelo menos um factor de produção fixo; Longo Prazo, refere-se ao período de tempo durante o qual todos os factores são variáveis. 4.2.1. A Produção com um Insumo Variável e um Fixo: Análise de Curto Prazo Suponha, por simplificação, que a função de produção comporta apenas dois factores de produção, nomeadamente o factor variável, Trabalho (L) e o factor fixo, Capital (K). Analiticamente será: Dado que o Capital é considerado fixo ou constante, você poderá facilmente reescrever aquela função assim: 60 Significa esta expressão que, no curto prazo, o nível de Produção varia apenas em função das alterações do factor Variável que, neste caso é o Trabalho. Para completar esta passagem, você deve socorrer-se da Bibliografia recomendada para estudar como se determinam os seguintes conceitos relacionados com a análise de Curto Prazo e que são: Produto Total, Produto Médio, e Produto Marginal. Preste atenção particular à forma de cálculo e à relação que se estabelece entre si. A Lei dos Rendimentos Decrescentes do Factor Variável Lei dos Rendimentos Decrescentes do factor variável, é o seguinte: Ao aumentar o factor variável (L), sendo dada a quantidade do factor fixo (K), o Produto Marginal (PMg) do factor variável cresce (primeiro a taxas crescentes e depois a taxas decrescentes) até um certo ponto, a partir do qual decresce, até tornar-se negativo. Esta Lei só é válida se pelo menos um dos factores for mantido fixo, o que significa que só ocorre no Curto Prazo. 4.2.2. Produção Com Dois Insumos Variáveis: O Longo Prazo Você está recordado que, até agora, a nossa discussão sobre a produção tem sido em volta da função produção em que apenas um factor é variável e outro é mantido fixo. Esta situação descreve a produção no Curto Prazo, conceito que também é já do seu conhecimento. Chegou o momento de estudarmos o que acontece quando podemos variar os dois factores de produção. Vamos agora estender a nossa análise para o Longo Prazo. A questão de partida é a seguinte: Como é que podemos medir o que acontece quando ambos os factores de produção (Trabalho e Capital) variam enquanto o nível de produção se mantém fixo? 61 A introdução de dois novos conceitos ajudar-nos-á a responder a esta questão: trata-se da Curva de Isoquanta (ou de Igual Produto) e da Taxa Marginal de Substituição Técnica (TMST). Curva de Isoquanta ou Curva de Igual Produto Isoquanta, significa, igual quantidade e pode ser definida como sendo o lugar geométrico das combinações alternativas de factores de produção que geram a mesma quantidade de produto produzido. Como você pode ver, trata-se de um conceito análogo ao da Curva de Indiferença que você estudou na Teoria do Consumidor, desta feita adaptado à Teoria de Produtor. Graficamente a Curva de Isoquanta pode ser apresentada como se segue: Figura 12: Curva de Isoquanta K A curva de isoquanta apresenta inclinação negativa e é convexa em relação à origem. Taxa Marginal de Substituição Técnica Observe agora os movimentos ao longo da Curva de Isoquanta, na Fig. 12. O nosso interesse é entender a taxa de substituição de dois factores de produção. Como você deve 62 estar lembrado, falamos de um conceito similar na Teoria do Consumidor a que chamamos de Taxa Marginal de Substituição entre dois bens. No presente cenário, estamos a falar da Taxa Marginal de Substituição Técnica (TMST) dos factores de produção, que é a taxa pela qual um factor é substituído pelo outro mantendo-se o mesmo nível de produção. O que é que a TMST nos diz acerca da substituição do Capital por Trabalho quando nos movemos ao longo da Isoquanta? Repare que a Isoquanta é convexa em relação à origem o que permite a substituibilidade dos factores de produção. Isto é mostrado na Fig 12 quando nos movemos da esquerda para a direita ao longo da isoquanta. Quando substituímos mais Capital por Trabalho, a TMST diminui porque precisamos de substituir menores quantidades de Capital para cada unidade adicional de Trabalho. Ao mesmo tempo o PMgK está aumentando enquanto o PMgL vai baixando. 4.3. Economia ou Retornos de Escala No Longo Prazo, interessa analisar as vantagens e desvantagens da empresa aumentar a sua dimensão, o que implica demandar mais factores de produção. Isto introduz os conceitos de Retornos (dito também Rendimentos de Escala ou Economias de Escala. O conceito de Retornos de Escala refere-se ao que acontece com a Produção quando todos os factores de produção podem ser aumentados no Longo Prazo. Devemos constatar as seguintes situações: 63 Se, por exemplo, a quantidade de Trabalho e de Capital for duplicada e em consequência disso a quantidade de produto produzido também duplicar, estamos em presença de Retornos Crescentes de Escala; Se o produto mais do que duplicar, temos Retornos Crescentes de Escala; Alternativamente se a duplicação dos factores gerar um produto menos que o dobro, estamos em presença de Retornos Decrescentes de Escala. 4.4. Teoria de Custos de produção Até agora focalizamos a nossa análise na relação técnica entre os factores de produção e o produto no processo de produção sem nos preocuparmos com o que acontece aos custos dos factores de produção. Vejamos agora o lado dos custos de produção que determinarão a chamada Curva da Oferta da empresa. Antes de prosseguir é importante que você conheça a diferença entre custos económicos e custos contabilísticos. Custos contabilísticos são todos os pagamentos feitos directamente pela firma “out-of- pocket”, estes podem ser os pagamentos feitos pela compra de matéria-prima, salários,
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