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148800297-Historia-Da-Briga-Araquan-e-Bem-Vindo

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Prévia do material em texto

FRANCISCO JOSÉ BARBOSA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL 
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação 
Pró-Reitoria do Ensino a Distância 
Fundação Universidade Luterana do Brasil 
 
PROGRAMA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA COM CIDADANI A 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EVOLUÇÃO DO BANDITISMO MODERNO E FORMAS DE ATUAÇÃO 
EFICAZES DA POLICIA MILITAR NO SERTÃO PERNAMBUCANO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Olinda-PE 
2009 
 
 
2 
FRANCISCO JOSÉ BARBOSA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EVOLUÇÃO DO BANDITISMO MODERNO E FORMAS DE ATUAÇÃO 
EFICAZES DA POLICIA MILITAR NO SERTÃO PERNAMBUCANO. 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no 
Curso de Pós-Graduação em Gestão da Segurança 
Pública na Sociedade Democrática na Universidade 
Luterana do Brasil – ULBRA – e Programa Nacional 
de Segurança Pública com Cidadania – PRONASCI - 
para obtenção do grau de Especialista em Segurança 
Pública, sob a orientação da Profª MS. Carmem 
Aristimunha de Oliveira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Olinda-PE 
2009 
 
 
3 
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
 
 
 
EVOLUÇÃO DO BANDITISMO MODERNO E FORMAS DE 
ATUAÇÃO EFICAZES DA POLICIA MILITAR NO SERTÃO 
PERNAMBUCANO. 
 
 
 
 
 
FRANCISCO JOSÉ BARBOSA 
 
 
 
 
 
______________________________ 
NOME DE PROFESSOR ARGUIDOR 
 
 
 
______________________________ 
NOME DE PROFESSOR ARGUIDOR 
 
 
 
____________________________________ 
MS.CARMEM ARISTIMUNHA DE OLIVEIRA 
PROFESSORA ORIENTADORA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Olinda-PE 
2009 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A minha família, meus sinceros 
agradecimentos pelo estímulo e pela 
compreensão que demonstraram ao longo 
desta trilha, e cuja força me impulsionou para 
que chegasse ao término de mais uma 
jornada. 
 A Deus, agradeço o dom da vida, e da 
perseverança. Aos mestres, meu 
reconhecimento e admiração pelos 
ensinamentos compartilhados. 
 
 
 
 
5 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho monográfico consiste em uma investigação teórica 
acompanhada de pesquisa de campo, sobre as forma similares e díspares nas 
formas de atuação e combate do cangaço, banditismo moderno e forças policiais 
no sertão pernambucano. O objetivo precípuo deste trabalho foi mostrar que os 
problemas relativos à violência de outrora, Atribuídos aos cangaceiros, são 
hodiernamente os mesmos, tornando-se mais abrangentes e imensuráveis no 
contexto social, aliados aos avanços tecnológicos e de comunicações, que de 
forma indireta beneficiaram os protagonistas da violência e do narcotráfico, 
tornando-os cada vez mais ousados, deixando assim o sertanejo sério, honrado 
e íntegro, com disbulia na eubiótica dignamente. Tendo como tema central à 
violência gerada a partir da década de 90, principalmente nas cidades de Belém 
do São Francisco e Cabrobó, palco das brigas de famílias, envolvendo 
diretamente os Benvindo e Araquan e suas uniões com outras famílias. 
Destacando o clã Araquan, principal gerador das contendas, bem como os 
Benvindo, não ficam apenas nas contendas, partem para a prática de diversas 
ilicitudes, assaltando bancos, veículos, tráfico e plantio de maconha (Cannabis 
Sativa Linneu), e outros mais, tudo para financiar o conflito. Neste contexto, 
explicita-se a grande necessidade de uma maior conscientização sócio-educativa 
e política da sociedade sertaneja, bem como de um melhor aparato policial. 
 
PALAVRAS-CHAVE: violência, brigas de família, narcotráfico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
APF.................................................................................Agente de Polícia Federal 
Asp.............................................................................................................Aspirante 
ASRI................................................Agência de Serviço Reservado de Inteligência 
BG........................................................................................................Boletim geral 
BO..........................................................................................Boletim de ocorrência 
BPChoque...............................................................Batalhão de Polícia de Choque 
BPM.................................................................................Batalhão de Polícia Militar 
BPTRAN.................................................................Batalhão de Polícia de Trânsito 
BPRV.......................................................................Batalhão de Polícia Rodoviária 
BPRP...........................................................Batalhão de Polícia de Rádio Patrulha 
CAMIL....................................................................................................Casa Militar 
CAP..............................................................................................................Capitão 
CBMPE.................................................Corpo de Bombeiro Militar de Pernambuco 
CEL...............................................................................................................Coronel 
CFAP.......................................Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças 
CIOE........................................Companhia Independente de Operações Especiais 
CIOSAC.......Curso Intensivo de Operações e Sobrevivência na Área de Caatinga 
CIOSAC..........Companhia Independente de Operações e Sobrevivência na Área 
de Caatinga. 
CIPM....................................................Companhia Independente de Polícia Militar 
CIPOMA..................Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente 
COMAR.................................................................Comando Militar da Aeronáutica 
CMNE.........................................................................Comando Militar do Nordeste 
COT.......................................................................Comando de Operações Táticas 
CPA..............................................................Comando de Policiamento do Agreste 
CPAC........................................Companhia de Policiamento em Área de Caatinga 
CPA/I-2........................................2º Comando de Policiamento de Área do Interior 
CPE.........................................................Comando de Policiamento Especializado 
CPI.................................................................Comando de Policiamento do Interior 
CPI...................................................................Comissão Parlamentar de Inquérito 
CPS................................................................Comando de Policiamento do Sertão 
 
 
7 
CPZM.................................................Comando de Policiamento da Zona da Mata 
DEIP........................................................Diretoria de Ensino Instrução e Pesquisa 
DGO...........................................................................Diretoria Geral de Operações 
DPC..................................................................................Delegacia de Polícia Civil 
DPF.............................................................................Delegacia de Polícia Federal 
EB ...............................................................................................Exército Brasileiro 
EM........................................................................................................Estado Maior 
FAB.......................................................................................Força Aérea Brasileira 
FAL...........................................................................................fuzil automático leve 
GAPI-2..................................................2ª Grande Área de Policiamento do Interior 
N.A.............................................................................................Núcleo de Análises 
OME............................................................................OrganizaçãoMilitar Estadual 
PMAP.................................................................................Polícia Militar do Amapá 
PMBA.................................................................................. Polícia Militar da Bahia 
PMPB............................................................................... Polícia Militar da Paraíba 
PMPE....................................................................... Polícia Militar de Pernambuco 
PMPI..................................................................................... Polícia Militar do Piauí 
SD................................................................................................................Soldado 
SGT............................................................................................................Sargento 
SOP.........................................................................................Seção de Operações 
TEN..............................................................................................................Tenente 
TC...................................................................................................Tenente Coronel 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 10 
 
1.0 REVISÃO DA LITERATURA..................................................................... 13 
1.1 O Cenário.................................................................................................. 13 
1.2 O Rio Pajeú............................................................................................... 16 
1.3 O Rio São Francisco.................................................................................. 17 
1.4 O cangaço................................................................................................ 24 
1.5 Origem da “família Ferreira”..................................................................... 30 
1.6 Primeiras questões dos “Ferreiras” no Sertão Pernambucano................ 32 
1.7 As Volantes............................................................................................... 33 
1.8 Confrontos................................................................................................ 38 
1.8.1 O saque de Souza-PB .......................................................................... 38 
1.8.2 Serrote Preto-AL.................................................................................... 39 
1.8.3 Serra Grande-PE .................................................................................. 39 
1.8.4 Angicos: o fim de Lampião .................................................................... 40 
1.9 O Cangaço Moderno............................................................................... 45 
1.10 Origem da Grei dos Araquan.................................................................. 47 
1.11 O início das brigas.................................................................................. 48 
1.12 Os Benvindo causam terror.................................................................... 58 
1.13 Pelotões de Caçadores: uma Força Policial eficaz no 
 combate ao banditismo.......................................................................... 61 
1.14 s principais confrontos, prisão e fuga dos Araquan............................. 69 
1.15 Os Araquan causam terror..................................................................... 72 
1.16 A despedida de um Guerreiro: e a busca incessante de 
 seu algoz.............................................................................................. 74 
1.17 Serrote do Frio....................................................................................... 77 
1.18 Chico Benvindo: seu último combate..................................................... 81 
1.19 A morte de Cleiton: um fim esperado..................................................... 84 
 
 
 
 
9 
2.0 METODOLOGIA..................................................................................... 94 
2.1 Diagrama da problemática da pesquisa................................................. 94 
2.2 Procedimentos........................................................................................ 95 
 
3.0 ANÁLISE DOS RESULTADOS............................................................... 97 
 
4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 103 
 
5.0 REFERÊNCIAS....................................................................................... 107 
 
6.0 ANEXOS................................................................................................. 110 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10
 
INTRODUÇÃO 
 
 A Zona da Mata nordestina foi a primeira área do Brasil a ser povoada. 
Isso aconteceu ainda no século XVI, e o povoamento teve como base a monocultura 
da cana de açúcar. Os portugueses que vinham recebiam da metrópole grandes 
extensões de terra para serem cultivadas. Foi aí que surgiram os latifúndios, cuja 
mão-de-obra era de escravos trazidos da África. Apesar de a cana-de-açúcar trazer 
grandes lucros, tal cultivo não trouxe enriquecimento para o Brasil. 
O povoamento do sertão foi realizado no século VII com base na 
criação de gado e da agricultura de subsistência, também formando grandes 
latifúndios. Com o passar do tempo foram surgindo os minifúndios, ou seja, 
pequenos imóveis rurais onde era praticada uma agricultura da subsistência. Hoje 
em dia, a maior parte da população rural do Nordeste vive em minifúndios. O agreste 
foi povoado depois do Litoral e do Sertão, principalmente no século XVIII, com base 
na pequena propriedade. 
 Com mais de 35 milhões de habitantes, o Nordeste é a terceira 
região mais populosa do Brasil. A distribuição da população se dá de forma muito 
irregular. O elemento humano predominante na Zona da Mata, região mais 
populosa, é o mulato, que é um mestiço de branco com o negro. 
O Agreste também apresenta densidades demográficas elevadas, por 
ser uma zona de pequenas propriedades, exploradas com mão-de-obra familiar. 
O Sertão possui as mais baixas densidades demográficas de todo o 
Nordeste. Esse fato se dá em conseqüência do clima semi-árido, dos solos pobres e 
da existência de latifúndio pastoril, que exige pouca mão-de-obra. O elemento 
humano característico do sertão, o Sertanejo, é mestiço de branco com índio e é 
denominado mameluco ou caboclo. 
A saída de nordestinos de sua região vem ocorrendo há muito tempo e 
em número elevado. A principal área de expulsão é, sem dúvida, o Sertão. E a 
adversidade da natureza, a seca, é o fator causador da evasão. Assim quando não 
vêm as chuvas de dezembro, muitos caboclos abandonam suas terras e dirigem-se 
para o litoral. 
Ao completar a esparsa ocupação daquele meio hostil, através das 
barrancas do rio São Francisco, curtido no braseiro e por entre os espinhos da 
 
 
11
caatinga, para sobreviver, com semblante sofrido, mas, com estrutura rígida e 
coragem indômita, forma-se uma personalidade singular com os seguintes traços e 
características. Assim foram se formando os elementos da nossa história sertaneja, 
com uma grande etnia e traços de personalidades marcantes e fortes, atrelados ao 
grande misticismo e fanatismo religioso. 
 Com o grande aumento da violência no sertão do estado de 
Pernambuco, principalmente da década de 90 até nossos dias, correlacionado e, 
muitas vezes, comparados aos “modus operandis” dos famigerados cangaceiros que 
aterrorizaram com uma forma exacerbada de violência as famílias sertanejas no 
início do século XX. Especificamente os municípios Salgueiro, Floresta, Belém do 
São Francisco, Cabrobó e Santa Maria da Boa Vista,passaram a sofrer uma onda 
crescente de assalto a bancos, carros-fortes, ônibus e carros particulares, bem como 
o plantio e tráfico de Maconha. 
A realidade de municípios como Cabrobó, Orocó ou Belém, no alto sertão 
de Pernambuco, com isso, revela cidades sem mendigos. As ruas quase 
sempre esburacadas e sem asfalto são evidências dos poucos recursos das 
prefeituras. Mas o número de carros importados na região é um sinal de 
que alguma coisa mudou no padrão de vida dos sertanejos destes lugares. 
No coração do Polígono das Secas está rolando dinheiro grosso e ilegal. 
(JC, 1994) 
 Não obstante a atuação regular das forças policiais em conjunto, os 
conflitos entre famílias nos municípios de Belém do São Francisco e Cabrobó 
contribuíram para uma escalada vertiginosa da criminalidade na região, que passou 
a utilizar nas ações de grupos bem organizados e armados com poder de fogo de 
última geração, os quais passaram a utilizar métodos correlatos as táticas utilizadas 
pelos cangaceiros nas décadas de 20 e 30. 
 O tema central desse estudo, as ações criminosas levadas a efeito pela 
grei dos Araquan no sertão pernambucano e Estados adjacentes, tem sido objeto de 
constante preocupação nas agendas governamentais, a exigir das instâncias oficiais 
e da sociedade sertaneja pernambucana, como um todo, uma pronta e efetiva 
capacidade de respostas às demandas de segurança e a real ameaça que decorrem 
do fenômeno da criminalidade planejada, mesmo que tosca ou empiricamente 
organizada. Verifica-se que os problemas relativos à violência nas décadas de 20 e 
30 têm suas similitudes com os da década de 90, tornando-se mais abrangentes e 
 
 
12
imensuráveis no contexto social, aliados aos avanços tecnológicos e de 
comunicações, que de forma indireta beneficiaram os protagonistas da violência e 
do narcotráfico, tornando-os cada vez mais ousados. 
 Destarte, o presente trabalho, de caráter social, visa a identificar as 
igualdades e diferenças existentes nas formas de atuação dos malfeitores das 
distintas épocas, bem como reconhecer as principais forças policiais que 
intensificaram esforços no combate destas ilicitudes, caracterizando-as através das 
pelejas, procurando assim subsídios necessários para dirimir os problemas 
existentes com os conflitos atuais, geradores de violências na região em epígrafe, 
minimizando os sofrimentos de seus habitantes, que já sofrem em tentar sobreviver 
em uma região tão inóspita. 
 Trazendo assim dados dos quais possam auxiliar no atendimento das 
principais ações, no sertão pernambucano, das forças policias no combate ao 
banditismo atual, bem como correlacionar as atividades precípuas ilícitas das quais 
tornaram o nosso sertão pernambucano campeão do narcotráfico. 
 Tendo como objetivo deste trabalho, Caracterizar e justificar os 
principais motivos das desavenças as quais deram inicio aos grandes conflitos as 
quais passaram a agir de formas ilícitas no sertão Pernambucano, Identificando de 
forma precípua as diferenças e igualdades nas atuações dos cangaceiros e dos 
bandidos modernos. 
 Externando as principais formas de combates pelas forças policiais, 
explicitando os seus fatores negativos e positivos, a fim de identificar as formas mais 
eficazes para dirimir os elevados índices de violência no seio da sociedade 
pernambucana e Conscientizando a sociedade, através de palestras nas unidades 
de ensino acerca dos principais motivos geradores de violência e as possíveis 
soluções. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13
 
1.0 REVISÃO DE LITERATURA 
 
1.1 O Cenário. 
 
Caatinga (do Tupi-Guarani: caa (mata) + tinga (branca) = mata branca) 
 
É o único bioma exclusivamente brasileiro, o que significa que grande 
parte do seu patrimônio biológico não pode ser encontrado em nenhum outro lugar 
do planeta. A caatinga ocupa uma área de cerca de 750.000 km², cerca de 11% do 
território nacional englobando de forma contínua parte dos estados do Maranhão, 
Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e 
parte do Norte de Minas Gerais (Sudeste do Brasil)1. 
Antigamente acreditava-se que a caatinga seria o resultado da 
degradação de formações vegetais mais exuberantes, como a Mata Atlântica ou a 
Floresta Amazônica. Essa crença sempre levou à falsa idéia de que o bioma seria 
homogêneo, com biota pobre em espécies e em endemismos, estando pouco 
alterada ou ameaçada, desde o início da colonização do Brasil, tratamento este que 
tem permitido a degradação do meio ambiente e a extinção em âmbito local de 
várias espécies, principalmente de grandes mamíferos, cujo registro em muitos 
casos restringe-se atualmente à associação com a denominação das localidades 
onde existiram. Entretanto, estudos e compilações de dados mais recentes apontam 
a caatinga como rica em biodiversidade e endemismos, e bastante heterogênea. 
Muitas áreas que eram consideradas como primárias são, na verdade, o produto de 
interação entre o homem nordestino e o seu ambiente, fruto de uma exploração que 
se estende desde o século XVI2. 
A vegetação da caatinga é adaptada às condições de aridez (xerófila). 
Quanto à flora, foram registradas até o momento cerca de 1000 espécies, 
estimando-se que haja um total de 2000 a 3000 plantas. Com relação à fauna, esta 
é depauperada, com baixas densidades de indivíduos e poucas espécies 
endêmicas. Apesar da pequena densidade e do pouco endemismo, já foram 
 
1 http://www.fundacaobunge.org.br/site/dicionario_de_cidadania/ 
2 http://www.espacoecologiconoar.com.br/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=19&Itemid 
 
 
14
identificadas 17 espécies de anfíbios, 44 de répteis, 695 de aves e 120 de 
mamíferos, pouco se conhecendo em relação aos invertebrados. Descrições de 
novas espécies vêm sendo registradas, indicando um conhecimento botânico e 
zoológico bastante precário deste ecossistema, que segundo os pesquisadores é 
considerado o menos conhecido e estudado dos ecossistemas brasileiros. 
Além da importância biológica, a caatinga apresenta um potencial 
econômico ainda pouco valorizado. Em termos forrageiros, apresenta espécies 
como o pau-ferro, a catingueira verdadeira, a catingueira rasteira, a canafístula, o 
mororó e o juazeiro que poderiam ser utilizadas como opção alimentar para 
caprinos, ovinos, bovinos e muares. Entre as de potencialidade frutífera, destacam-
se o umbú, o araticum, o jatobá, o murici e o licuri e, entre as espécies medicinais, 
encontram-se a aroeira, a braúna, o quatro-patacas, o pinhão, o velame, o 
marmeleiro, o angico, o sabiá, o jericó, entre outras. 
Porém, este patrimônio nordestino encontra-se ameaçado. A 
exploração feita de forma extrativista pela população local, desde a ocupação do 
semi-árido, tem levado a uma rápida degradação ambiental. Segundo estimativas, 
cerca de 70% da caatinga já se encontra alterada pelo homem, e somente 0,28% de 
sua área encontra-se protegida em unidades de conservação. Estes números 
conferem à caatinga a condição de ecossistema menos preservado e um dos mais 
degradados. 
Como conseqüência desta degradação, algumas espécies de plantas 
já figuram na lista das espécies ameaçadas de extinção do IBAMA. Outras, como a 
aroeira e o umbuzeiro, já se encontram protegidas pela legislação florestal de serem 
usadas como fonte de energia, a fim de evitar a sua extinção. Quanto à fauna, os 
felinos (onças e gatos selvagens), os herbívoros de porte médio (veado catingueiro e 
capivara), as aves (ararinha azul, pombas de arribação) e abelhas nativas figuram 
entre os mais atingidos pela caça predatória e destruição do seu habitat natural. 
Para reverter este processo, estudos da flora e fauna da caatinga são 
necessários. Neste sentido, a Embrapa Semi-Árido, UNEB e Diretoria de 
Desenvolvimento Florestal da Secretaria de Agricultura da Bahia aprovaram o 
projeto "Plantas da Caatingaameaçadas de Extinção: estudos preliminares e 
manejo", junto ao Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), que tem por objetivo 
estudar a fenologia, reprodução e dispersão da aroeira do sertão, quixabeira, 
 
 
15
imburana de cheiro e baraúna na Reserva Legal do Projeto Salitre, Juazeiro, Bahia3. 
Este projeto contribuirá com importantes informações sobre a biologia destas plantas 
e servirá de subsídios para a elaboração do plano de manejo destas espécies na 
região. 
 A vegetação é xerofítica, caducifoliar e aberta, bem adaptada para 
suportar a falta de água. A paisagem mais comum da Caatinga é a que ela 
apresenta durante a seca. Apesar do aspecto seco das plantas, todas estão vivas; 
apenas perderam as folhas para suportar a falta de água. Mesmo durante a seca, a 
vida animal também é rica e diversificada. Contudo, é após as chuvas que a 
diversidade animal e vegetal das caatingas se torna evidente. As plantas florescem e 
os animais se reproduzem, deixando descendentes que já possuem adaptações 
para suportar o longo período de seca seguinte. 
 O sertão pernambucano com quase 70.000 Km² compreendendo as 
mesorregiões de Sertão pernambucano e do São Francisco, atualmente abrange 
uma área que vai do município de Arcoverde ao município de Petrolina, sendo os 
municípios de Araripina, Bodocó, Exú, Granito, Ipubi, Ouricuri, Santa Cruz, 
Moreilândia, Trindade, Santa Filomena, Parnamirim, Cedro, Mirandiba, Salgueiro, 
Serrita, Verdejante, São José do Belmonte, Afogados da Ingazeira, Brejinho, 
Iguaraci, Ingazeira, Itapetim, Santa Terezinha, São José do Egito, Solidão, Tabira, 
Tuparetama, Calumbí, Carnaíba, Flores, Quixaba, Santa Cruz da Baixa Verde, Serra 
Talhada, Triunfo, Custódia, Ibimirim, Inajá, Manari, Sertânia, Betânia e Arcoverde 
pertencentes à mesorregião do sertão pernambucano e os municípios de Afrânio, 
Dormentes, Santa Maria da Boa Vista, Lagoa Grande, Petrolina, Cabrobó, Orocó, 
Terra Nova, Belém do São Francisco, Jatobá, Tacaratú, Carnaubeira da Penha, 
Floresta, Itacuruba e Petrolândia pertencentes à mesorregião do São Francisco 
Pernambucano, onde predomina a economia agropecuária4. 
Desse amontoado hodierno de cidades, nas décadas de 20 e 30, 
algumas delas foram palcos de conflitos, principalmente Serra Talhada (Vila Bela) e 
Floresta, com a crescente onda do cangaceirismo. Mais de meio século depois 
surgem novos conflitos com inúmeras particularidades com o cangaço. Se o primeiro 
nasce às margens do Pajeú, o segundo tem suas origens nas margens do Rio São 
Francisco, principalmente nas cidades de Belém do São Francisco e Cabrobó. 
 
3 http://pt.wikipedia.org/wiki/Caatinga 
4 www.codevasf.gov.br/programas_acoes/programa-florestal-1/diagnostico-araripe.pdf 
 
 
16
1.2 Rio Pajeú 5 
 
O Rio Pajeú nasce na chapada da Borborema no maciço dos Cariris 
Velho, Serra da Balança entre (PE/PB,) divisor de águas, no município de Brejinho 
na localidade Sítio Brejinho dos Ferreira, propriedade do Sr. Agenor Ferreira dos 
Santos. O Sítio Brejinho dos Ferreira fica 8 km de distância da cidade de Brejinho. O 
local onde o rio nasce é um buraco escuro com muitas pedras soltas e 
avermelhadas, permanece por alguns meses seco, mas quando a temperatura baixa 
e chove começa a minar. 
 Aproximadamente 400 metros da nascente tem o primeiro açude, 
depois o rio continua o percurso em direção ao leste cruzando a BR 110 em placa 
de piedade, a 5 km da cidade de Brejinho para depois entrar no município Itapetim. 
Até 1963, a nascente do rio Pajeú constava na Serra da Balança no município de 
Itapetim (Brejinho antes pertencia a Itapetim). 
 Em 1964 Brejinho tornou-se município, desmembrando-se de Itapetim, 
a nascente do rio Pajeú que até 1963 figura parte da história de Itapetim, passou a 
pertencer à história de Brejinho desde 1964. Os municípios banhados pelo o rio 
Pajeú, segundo o IBGE são: Brejinho, Itapetim, São José do Egito, Tuparetama, 
Ingazeira, Iguaraci, Tabira, Afogados da Ingazeira, Carnaíba, Flores, Triunfo 
Calumbí, Mirandiba, Serra Talhada, Itacuruba e Floresta. 
 O Rio Pajeú possui formadores na serra das Balanças e serra dos 
Cariris Velhos, ramificação da Borborema, nos municípios de São José do Egito e 
Brejinho, desembocando no Rio São Francisco, pela margem esquerda, a cerca de 
120 km distante da Cachoeira de Paulo Afonso, no lugar denominado Berra do 
Pajeú, município de Floresta – PE. Ele é considerado temporário, por correr apenas 
durante alguns meses por ano, após a queda de fortes aguaceiros de verão, tendo 
em geral leito muito largo e pouco profundo. Apresentando uma extensão de 350 
km, sendo mais um afluente do velho Chico. 
 
 
 
 
 
5 www.serratalhada.net/meioambiente/mostra.asp?noticia=noticia6.asp 
 
 
17
1.3 O Rio São Francisco 
 
 O rio São Francisco, ou simplesmente “Velho Chico”, como os 
sertanejos costumam chamá-lo, no seu curso natural, percorre da sua nascente até 
a sua foz a extensão de 2.700 km do território brasileiro, desde São Roque de 
Minas, em Minas Gerais, a Piaçabuçu, em Alagoas, incluindo na sua bacia 
hidrográfica: 07 estados, 504 municípios e uma população estimada de 13 milhões 
de pessoas, as quais se espalham pelo diversos ambientes por onde passa o rio e 
seus afluentes. O trajeto percorrido compreende os estados de Minas Gerais, Goiás, 
Pernambuco, Sergipe, Alagoas e Distrito Federal. Sua nascente aparece no alto da 
serra da Canastra, no município de São Roque de Minas, Minas Gerais, a uma 
altitude de 1.428 m, na localidade conhecida como “Chapadão do Zagaia”. Sua foz 
encontra-se entre os estados de Alagoas e Sergipe, desaguando no oceano 
Atlântico. 
 Sua malha fluvial banha Pernambuco em uma extensão de 
aproximadamente 398 km, passando pelos municípios de Petrolina, Lagoa Grande, 
Santa Maria da Boa Vista, Orocó, Cabrobó, Belém do São Francisco, Itacuruba e 
Petrolândia, indo aos estados de Alagoas e Sergipe até o mar. Os municípios 
pernambucano banhados pelo “Velho Chico” totalizam uma área de 15.135,6 km², 
com uma população aproximada de 359.900, em seu percurso pelos municípios 
epigrafados temos as ilhas6: 
1. Ilha de Nossa Senhora; 
2. Ilha do Jatobá; 
3. Ilha do Carneiro; 
4. Ilha do Umbu; 
5. Ilha do Combate; 
6. Ilha Grande; 
7. Ilha do Badeco; 
8. Ilha de Santa Luzia; 
9. Ilha do Quipá; 
10. Ilha do Ferro; 
11. Ilha das Conchas; 
 
6 Dados obtidos através do IBGE e informações das prefeituras dos municípios banhados pelo São Francisco. 
 
 
18
12. Ilha do Meio D’água; 
13. Ilha do Ouro; 
14. Ilha do Pico; 
15. Ilha Do Rato; 
16. Ilha Dos Bois; 
17. Ilha Do Gato; 
18. Ilha da Maniçoba; 
19. Ilha do Pontal; 
20. Ilha do Baiacu; 
21. Ilha dos Guinhães; 
22. Ilha do Albenor; 
23. Ilha das Cabaças; 
24. Ilha do Nenzin; 
25. Ilha do Capim; 
26. Ilha Grande; 
27. Ilha Grande II; 
28. Ilha da Cachoeira; 
29. Ilha do Umbuzeiro; 
30. Ilha do Curaçá; 
31. Ilha Bom Sucesso; 
32. Ilha Jatobá; 
33. Ilha Caraíba; 
34. Ilha Surubim; 
35. Ilha do Angico; 
36. Ilha Pequena; 
37. Ilha da Missão; 
38. Ilha do Caraputé; 
39. Ilha do Panamá; 
40. Ilha do Estreito; 
41. Ilha dos Mortos; 
42. Ilha Inhanhum; 
43. Ilha Missão Velha; 
44. Ilha Jacaré; 
45. Ilha Guiné; 
 
 
19
46. Ilha Chede; 
47. Ilha do Mosquito; 
48. Ilha Grande; 
49. Ilha Jiquié; 
50. Ilha Tabuleiro; 
51. Ilha Cachoeira; 
52. Ilha da Vila; 
53. Ilha do Quiri-Quiri; 
54. Ilha das Almas; 
55. Ilha Redonda; 
56. Ilha da Tapera; 
57. Ilha São Félix; 
58. Ilha Aracapá; 
59. Ilha de Assunção; 
60. Ilha da Boa Vista; 
61. Ilha da Várzea; 
62. Ilha do Cajueiro; 
63. Ilha dos Brandões; 
64. Ilha das Flores; 
65. Ilha das Missões; 
66. Ilha Cachauí; 
67. Ilha do Curralinho; 
68. Ilha do Curralinho Baiano; 
69. Ilha do Meio; 
70. Ilha do Meio II;71. Ilha de Casa; 
72. Ilha do Estado; 
73. Ilha Pataratá; 
74. Ilha da Barra; 
75. Ilha de Baixo; 
76. Ilha do Cuité; 
77. Ilha da Viúva; 
78. Ilha das Cabaças; 
79. Ilha do Tucurú; 
 
 
20
80. Ilha do Boi; 
81. Ilha de São Miguel; 
82. Ilha de Santo Antônio; 
83. Ilha de Crueira; 
84. Ilha do Sububabel e 
85. Ilha da Tapera; 
Além de todas essas ilhas identificadas, existem, entretanto cerca de 
360 (trezentos e sessenta) ilhotas das quais não são cadastradas. Com toda essa 
extensão, principalmente nas ilhas dos municípios de Belém do São Francisco, 
Cabrobó, Orocó e Santa Maria da Boa Vista, na década de 90 houve um grande 
aumento da criminalidade com tráfico de armas e munições, tráfico e plantio de 
maconha (Cannabis Sativa Lineu), fugitivos, pistolagens, etc. 
O Rio São Francisco apresenta características expressivas. Conheça 
algumas delas: 
O descobrimento do Rio São Francisco é atribuído ao genovês 
Américo Vespúcio, que navegou em sua foz em 04 de outubro de 1501, dia 
dedicado ao santo São Francisco. 
Os indígenas chamavam o rio de “Opara” que significa Rio-Mar. 
Em 1560 já existia o povoado de Penedo, a cidade mais antiga do vale. 
O São Francisco é o maior rio genuinamente brasileiro. 
O São Francisco tem 2.700 km de comprimento. Este comprimento 
equivale à distância rodoviária entre Brasília (DF) e Chuí (RS) (2779 km), ao 
comprimento do Danúbio (2775 km) e mais que o dobro do Reno (1200 km). 
A área da bacia do São Francisco é de 640.000 km², ou seja, 64 
milhões de hectares em área assemelha-se à bacia do Colorado (631.960 km²). 
Essa área é equivalente à soma dos territórios de Alagoas, Minas Gerais e Sergipe 
(639.254 km²), o que ultrapassaria em extensão os países da França e Portugal 
juntos (632.938 km²). 
A vazão média do São Francisco é de 2.980 m³/s. é ligeiramente 
superior à do Nilo (2.800 m³/s). A descarga anual do São Francisco é de 94 bilhões 
m³. Tal descarga poderia encher o reservatório da hoover Dan (USA) em cerca de 
cinco meses (37 bilhões m³) ou de Owenffaa (Uganda) em cerca de vinte e seis 
meses (204,8 bilhões m³). 
 
 
21
A disponibilidade hídrica total da região Nordeste é de 97,3 bilhões de 
m³/ano, sendo 92,9 bilhões oriundos de águas superficiais e, desses, 87,4 bilhões de 
m³/ano, responde por 69% da disponibilidade de águas superficiais e por 73% da 
disponibilidade superficial garantida do nordeste. 
A capacidade total de acumulação de água superficial do nordeste é de 
85,1 bilhões de m³. desses, 50,9 bilhões se localizam no vale do São Francisco: 
Sobradinho (34,1 bilhões), Itaparica (11,8 bilhões), Xingó (3,8 bilhões) e Moxotó (1,2 
bilhões). Três Marias (fora da região Nordeste, porém no vale) acumula outros 19,3 
bilhões de m³7. 
Outras curiosidades interessantes é que com 15.000 m³ de água: em 
01 hectare é produzida uma safra de arroz, 100 pessoas e 450 cabeças de gado são 
abastecidas por três anos, 100 famílias rurais são abastecidas durante quatro anos, 
100 famílias urbanas são abastecidas durante três anos, 100 hóspedes, em hotel de 
luxo são atendidas durante 55 dias. 
Com a água de um pivô para 90 hectares, dimensionado para 100 l/s, 
pode-se abastecer uma cidade de porte médio, com população da ordem de 
100.000 habitantes. 
Desde o início da formação do Brasil, o rio São Francisco tem 
desempenhado importante papel na ocupação do nosso território. Como rota de 
interiorização das Bandeiras nos séculos XVII e XVIII, foi denominado “Rio da 
Unidade Nacional”. 
Os primeiros estudos para seu aproveitamento foram elaborados 
durante o império, dos quais aqueles realizados por Liais e Halfeld foram os mais 
importantes, pela abrangência e pelo rigor técnico. Em 1852, o engenheiro francês 
Emmanuel Liais foi contratado, pelo Imperador Dom Pedro II, para estudar o rio e 
suas possibilidades de desenvolvimento da navegação, desde as nascentes até 
Pirapora, observando o curso do rio das velhas até Gaicuí; um exemplar do seu 
relatório, denominado Hidrografhie du Haut San-Francisco et du Rio das Velhas, 
datado de 1865, é acervo da biblioteca da CODEVASF. Em 1855, o engenheiro 
alemão Henrique Guilherme Fernando Halfeld foi contratado, pelo governo Imperial, 
para desenvolver estudos semelhantes, desde a cachoeira de Pirapora até a sua 
 
7 http://www.integracao.gov.br/comunicacao/noticias/noticia.asp?id=1609 
 
 
22
foz, no Oceano Atlântico, datado de 1860, também é acervo da biblioteca da 
CODEVASF. 
Da mesma forma, a partir de 1948, os esforços da Comissão do Vale 
do São Francisco, da Superintendência do Vale do São Francisco e da Companhia 
do Desenvolvimento do Vale do São Francisco, ao longo desses 50 anos, resultaram 
em expressivo acervo, onde se tem como marcos referenciais básicos, os seguintes 
planos regionais: 
Plano Geral para o Aproveitamento Econômico do Vale do São 
Francisco, CVSF, 1950; 
Primeiro Plano Qüinqüenal para o Vale do São Francisco, período 
1951-1955, CVSF, 1951; 
O Rio São Francisco como Via de Navegação, CVSF, 1952; 
A Valorização do Vale do São Francisco, CVSF/Missão Francesa, 
1957; 
Reconhecimento dos Recursos Hidráulicos e de solos da Bacia do Rio 
São Francisco, CVSF/SUVALE/SUDEN/BUREC/USAID, 1970; 
Levantamento Sócio Econômico em Áreas do Baixo e Médio São 
Francisco, SUVALE/Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1972; 
Plano de Desenvolvimento Integrado do Vale do São Francisco, 
SUVALE/Development and Resoucers Corporation, 1974; 
Plano de Desenvolvimento Integrado dos Recursos Hídricos da Bacia 
Hidrográfica do São Francisco, CEEIVASF, 1982; e 
Plano Diretor para o Desenvolvimento do Vale do São Francisco – 
PLANVASF, CODEVASF/SUDENE/OEA, 1989. 
Das incontáveis obras literárias sobre o São Francisco, três merecem 
destaque, pela abordagem técnico/desenvolvimentista, cultural/antropológica e 
histórico/política: 
 O Rio São Francisco – Fator Precípuo da Existência do Brasil, Geral 
Rocha, 1940; Homem no Vale do São Francisco, Donald Pierson, SUVALE, 1972; e 
Memórias do São Francisco, Manoel Novaes, CODEVASF, 1989. 
 A transposição do Rio São Francisco se refere ao polêmico e antigo 
projeto de transposição de parte das águas do rio São Francisco, orçado atualmente 
em R$ 6,5 bilhões, que prevê a construção de dois canais que totalizam 700 
quilômetros de extensão. Tal projeto, teoricamente, irrigará a região nordeste e 
 
 
23
semi-árida do Brasil. A idéia de transposição das águas é tida como, desde a época 
de Dom Pedro II, única solução para a seca do nordeste. Naquela época não foi 
iniciado o projeto por falta de recursos da engenharia, mas, algumas décadas mais 
tarde, foi retomada a discussão do projeto, como em 1943 por Getúlio Vargas e em 
1994 por Fernando Henrique Cardoso. 
 O projeto prevê a construção de dois canais, sendo que um deles, o 
leste, terá cerca de 220 km, e trará água ao estado de Pernambuco e levará água, 
também, para a Paraíba. O canal norte, por sua vez, terá 402 km e também 
beneficiará Pernambuco e Paraíba, mais o Ceará e o Rio Grande do Norte. Com 
previsão de beneficiar 12 milhões de pessoas, o projeto prevê a captação de 1,4% 
da vazão de 1.850 metros cúbicos por segundo (m³/s). 
Muitos afirmam que o projeto, caso seja implantado, deverá "chover no 
molhado", pois levaria a água do rio São Francisco para os principais rios da região, 
onde já se concentram os maiores estoques de água. Apenas alguns dos maiores 
reservatórios da região deveriam receber as águas da transposição, ou seja, a água 
não irá chegar onde realmente se necessita. A problemática das secas na região 
mudaria muito pouco com a implantação do projeto de transposição, tendo em vista 
que a água do rio São Francisco passaria muito distante dos locais mais secos, 
onde o quadro é mais grave. Portanto, apesar do enorme volume de recursos 
envolvidos na transposição, mesmo assim, continuariam as demandaspor medidas 
emergencias governamentais de combate aos efeitos das secas. 
O projeto efetivamente consiste no bombeamento de águas do rio São 
Francisco para as bacias hidrográficas dos principais rios da região setentrional do 
nordeste brasileiro, abrangendo os estados de PE, PB, RN e CE, seguindo dois 
eixos, norte e leste. A captação do eixo norte é em Cabrobó (PE), abastecendo os 
rios Jaguaribe (CE), Piranhas-Açu (PB/RN), Apodi (RN) e Brígida (PE). O eixo leste 
interliga o rio São Francisco com os rios Paraíba (PB) e Moxotó (PE), com um 
bombeamento diretamente do reservatório de Itaparica (PE). 
A transposição tem sido usada na região como uma grande bandeira 
política. Contudo, os grandes beneficiários seriam os empreiteiros da obra. Claro 
que muitos empregos temporários deveriam ser criados; entretanto, há um grande 
custo para a nação. O projeto destina-se, principalmente, à irrigação - 70% do 
consumo médio do projeto deveriam ser gerados nos pólos tradicionais de irrigação 
da região. Apenas 4% da água do projeto teriam fins para o abastecimento difuso 
 
 
24
que está associado diretamente com o quadro mais grave das secas. No RN, a 
irrigação consumiria 92% da água destinada ao Estado8. 
 
1.4 O Cangaço 
 
 O cangaço é filho da capangagem e neto do latifundiário. Juntos 
formam uma família de bastardos sociais, responsáveis pelo desencadeamento de 
muitos problemas de ordem política, econômica e social no Sertão do nordeste 
brasileiro. Ocupadas com a ajuda logística oferecida pelos rios, principalmente pelo 
São Francisco, o Velho Chico, as terras de pastos foram se empanturrando de gado 
bovino que lá chegava, trazendo o homem a reboque e este, por sua vez, 
carregando consigo as esperanças e angústias típicas dos aventureiros. 
 O mundo sertanejo não foi tão unânime na dependência passiva do 
homem pelo seu senhor. Tornar-se cangaceiro representava a obediência a vários 
critérios comportamentais que o sertão impunha ou oferecia ao jovem; havia três 
motivos básico para seguir a vida nômade e livre de cangaceiro: a vingança, o 
refúgio ou meio de vida, segundo Frederico Pernambucano, sendo o último onde se 
concentrou o maior número de voluntários. Tudo contribuía para haver sucesso na 
empreitada de viver solto na caatinga, tendo o fuzil e o punhal como companheiros 
maiores. 
O banditismo parece ser um fenômeno universal. É difícil encontrar um 
povo no mundo que não teve (ou tenha) bandido: indivíduos frios, calculistas, 
insensíveis à violência e à morte. Sem entrar no mérito das atrocidades cometidas 
pelos colonizadores portugueses, que escravizaram os negros africanos e quase 
exterminaram os índios nativos do país, a região Nordeste do Brasil vivenciou um 
período de quase meio século de violência, especialmente no final da década de 
1870, após a grande seca de 1877. 
O monopólio da terra e o trabalho servil, heranças das capitanias 
hereditárias, sempre mantiveram o empobrecimento da população e impediram o 
desenvolvimento do Nordeste. Apesar do empenho de Joaquim Nabuco e da 
abolição da escravatura, as pessoas continuam sendo relegadas à condição de 
objetos, cujo maior dever é servir aos donos de terras. 
 
8 BARBIERI, Edison. Polêmica sobre o Velho Chico. Revista MUNDO e MISSÃO. 
 
 
25
Enquanto o capitalismo avançava nos grandes centros urbanos, no 
meio rural persistia o atraso da grande propriedade: a presença do latifúndio 
semifeudal, elemento dominador que, da monarquia à república, se mantém 
intocável em seus privilégios. Os problemas das famílias abastadas são resolvidos 
entre si, sem a intervenção do poder do Estado, mas com a substantiva ajuda de 
seus fiéis subordinados: policiais, delegados, juízes e políticos. 
No final do século XIX, os engenhos são tragados pelas usinas, porém 
as relações pré-capitalistas de produção se conservam: os trabalhadores rurais se 
tornam meros semi-servos. E o dono da terra - o chamado "coronel" - representa o 
legítimo árbitro social, mandando em todos (do padre à força policial), com o apoio 
integral da máquina do Estado. Contrariar o coronel, portanto, é algo a que ninguém 
se atreve. 
É importante registrar, também, a presença dos jagunços, ou capangas 
dos "coronéis", aqueles assalariados que trabalham como vaqueiros, agricultores ou 
mesmo assassinos, defendendo com unhas e dentes os interesses do patrão, de 
sua família e de sua propriedade. 
Diante das relações semifeudais de produção, da fragilidade das 
instituições responsáveis pela ordem, lei e justiça, e da ocorrência de grandes 
injustiças, homicídios de familiares, violências sexuais, roubo de gado e de terras, 
além de secas periódicas que vêm agravar a fome, o analfabetismo e a pobreza 
extrema, os sertanejos buscaram fazer justiça com as próprias mãos, gerando, como 
forma de defesa, um fenômeno social que propagava vinganças e mais violências: o 
cangaço. 
Fora o cangaço, dois outros elementos que surgem nos sertões 
nordestinos são o fanatismo religioso e o messianismo, a exemplo de Canudos (na 
Bahia) com Antonio Conselheiro; de Caldeirão (na chapada do Araripe, município do 
Crato, no Ceará) com o Beato Lourenço; e dos seus remanescentes em Pau de 
Colher, na Bahia. O cangaço, o fanatismo religioso e o messianismo são episódios 
marcantes da guerra civil nordestina: representam alternativas através das quais a 
população regional pode retaliar os danos sofridos, garantir um lugar no céu, 
alimentar o seu espírito de aventura e/ou conseguir um dinheiro fácil. 
A expressão cangaço está relacionada à palavra canga ou cangalho: 
uma junta de madeira que une os bois para o trabalho. Assim como os bois 
 
 
26
carregam as cangas para aperfeiçoar o labor, os homens que levam os rifles nas 
costas são chamados de cangaceiros. 
O cangaço advém do século XVIII, tempo em que o sertão ainda não 
havia sido desbravado. Já naquela época, o cangaceiro Jesuíno Brilhante (vulgo 
Cabeleira) ataca o Recife, e é preso e enforcado em 1786. De Ribeira do Navio, 
estado de Pernambuco, surgem também os cangaceiros Cassemiro Honório e 
Márcula. O cangaço passa a se tornar, então, uma profissão lucrativa, surgindo 
vários grupos que roubam e matam nas caatingas. São eles: Zé Pereira, os irmãos 
Porcino, Sebastião Pereira e Antônio Quelé. No começo da história, contudo, eles 
representam grupos de homens armados a serviço de coronéis. 
Em 1897, surge o primeiro cangaceiro importante: Antônio Silvino. Com 
fama de bandido cavalheiresco, que respeita e ajuda muitos, ele atua, durante 17 
anos, nos sertões de Alagoas, Pernambuco e Paraíba. É preso pela polícia 
pernambucana em 1914. Um outro cangaceiro famoso é Sebastião Pereira 
(chamado de Sinhô Pereira), que forma o seu bando em 1916. No começo do século 
XX, frente ao poder dos coronéis e à ausência de justiça e de cumprimento da lei, 
tais indivíduos entram no cangaço com o propósito de vingar a honra de suas 
famílias. 
Para combater esse novo fenômeno social, o Poder Público cria as 
"volantes". Nestas forças policiais, os seus integrantes se disfarçavam de 
cangaceiros, tentando descobrir os seus esconderijos. Logo, ficava bem difícil saber 
ao certo quem era quem. Do ponto de vista dos cangaceiros, eles eram, 
simplesmente, os "macacos". E tais "macacos" atuavam com mais ferocidade do que 
os próprios cangaceiros, criando um clima de grande violência em todo o sertão 
nordestino. 
Por outro lado, a polícia chama de coiteiros todas as pessoas que, de 
alguma forma, ajudam os cangaceiros. Os residentes no interior do sertão - 
moradores, vaqueiros e criadores, por exemplo - se inserem, também, dentro dessa 
categoria. 
Sob ordens superiores, as volantes passam a atuar como verdadeiros 
"esquadrões da morte", surrando, torturando, sangrando e/ou matando coiteiros e 
bandidos. Se os cangaceiros, portanto, ao empregar a violência, agem 
completamentefora da lei, as volantes o fazem com o apoio total da lei. 
 
 
27
Nesse contexto, surge a figura do Padre Cícero Romão Batista, 
apelidado pelos fanáticos de Santo de Juazeiro, que nele vêem o poder de realizar 
milagres e, sobretudo, uma figura divina. Endeusado nas zonas rurais nordestinas, o 
Padre Cícero concilia interesses antagônicos e amortece os conflitos entre as 
classes sociais. Em meio a crendices e superstições, os milagres - muitas vezes, 
resumidos a simples conselhos de higiene ou procedimentos diante da subnutrição - 
atraem grandes romarias para Juazeiro, ainda mais porque os seus conselhos são 
gratuitos. O Santo de Juazeiro, contudo, a despeito de ser um bom conciliador e 
uma figura querida entre os cangaceiros, utiliza a sua influência religiosa para agir 
em favor dos "coronéis", desculpando-os pelas violências e injustiças cometidas. 
Em meio a essa turbulência, surge o mais importante de todos os 
cangaceiros e quem mais tempo resiste (cerca de vinte anos) ao cerco policial: 
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, também chamado rei do cangaço e 
governador do sertão. Os membros do seu bando usam cabelos compridos, lenço 
em volta do pescoço, grande quantidade de jóias e um perfume exagerado. Seus 
nomes e alcunhas são os seguintes: Antônio Pereira, Antônio Marinheiro, Ananias, 
Alagoano, Andorinha, Amoredo, Ângelo Roque, Beleza, Beija-Flor, Bom de Veras, 
Cícero da Costa, Cajueiro, Cigano, Cravo Roxo, Cavanhaque, Chumbinho, 
Cambaio, Criança, Corisco, Delicadeza, Damião, Ezequiel Português, Fogueira, 
Jararaca, Juriti, Luís Pedro, Linguarudo, Lagartixa, Moreno, Moita Braba, Mormaço, 
Ponto Fino, Porqueira, Pintado, Sete Léguas, Sabino, Trovão, Zé Baiano, Zé 
Venâncio, entre outros. 
A partir de 1930, a mulher é inserida no cangaço. Tudo começa com 
Maria Bonita, companheira de Lampião, e depois vêm outras. Muito embora não 
entrassem diretamente nos combates, as mulheres são preciosas colaboradoras, 
participando de forma indireta das brigadas e/ou empreitadas mais perigosas, 
cuidando dos feridos, cozinhando, lavando, e, principalmente, dando amor aos 
cangaceiros. Elas sempre portam armas de cano curto (do tipo Mauser) e, em caso 
de defesa pessoal, estão prontas para atirar. 
Seja representando um porto seguro, ou funcionando como um ponto 
de apoio importante para se implorar clemência, as representantes do sexo feminino 
contribuem muito para acalmar e humanizar os cangaceiros, além de aumentar-lhes 
o nível de cautela e limitar os excessos de desmandos. As cangaceiras mais 
famosas do bando de Lampião, juntamente com os seus companheiros, são: Dadá 
 
 
28
(Corisco), Inacinha (Galo), Sebastiana (Moita Brava), Cila (José Sereno), Maria 
(Labareda), Lídia (José Baiano) e Neném (Luís Pedro). 
Como as demais sertanejas nordestinas, as mulheres recebem a 
proteção paternalista dos seus companheiros, mas o seu cotidiano é mesmo bem 
difícil. Levar a termo as gestações, por exemplo, no desconforto da caatinga, 
significa muito sofrimento para elas. Às vezes, precisavam andar várias léguas, logo 
após o parto, para fugir das volantes. E caso não possuíssem uma resistência física 
incomum, não conseguiriam sobreviver. 
Em decorrência da instabilidade e dos inúmeros problemas da vida no 
cangaço, os homens não permitem a presença de crianças no bando. Assim que 
seus filhos nascem, são entregues a parentes não engajados no cangaço, ou 
deixados com as famílias de padres, coronéis, juízes, militares, fazendeiros. 
Vale ressaltar que um fator decisivo para o extermínio do bando de 
Lampião é o uso da metralhadora, que os cangaceiros tentam comprar, mas não 
obtêm sucesso. No dia 28 de abril de 1938, Lampião é atacado de surpresa na grota 
de Angico, local que sempre julgou como o mais seguro de todos. O rei do cangaço, 
Maria Bonita, e alguns cangaceiros são mortos rapidamente. O resto do bando 
consegue fugir para a caatinga. Com Lampião, morre também o personagem 
histórico mais famoso da cultura popular brasileira. 
Em Angicos, os mortos são decapitados pela volante e as cabeças são 
exibidas em vários estados do Nordeste e sul do país. Posteriormente, ficam 
expostas no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, por cerca de 30 anos. Apesar de 
muitos protestos, no sentido de enterrar os restos mortais mumificados, o diretor do 
Museu - Estácio de Lima - é contra o sepultamento. 
Após a morte de Lampião, Corisco tenta assumir durante dois anos o 
lugar de chefe dos cangaceiros. A sua inteligência e competência, porém, estão 
longe de se comparar àquelas de Virgulino. 
No dia 23 de março de 1940, a volante Zé Rufino combate o bando. 
Dadá é gravemente ferida no pé direito; Corisco leva um tiro nas costas, que lhe 
atinge a barriga, deixando os intestinos à mostra. O casal é transportado, então, 
para o hospital de Ventura. Devido à gangrena, Dadá (Sérgia Maria da Conceição) 
sofre uma amputação alta da perna direita, mas Corisco (Cristino Gomes da Silva 
Cleto) não resiste aos ferimentos, vindo a falecer no mesmo dia. 
 
 
29
O fiel amigo de Lampião é enterrado no dia 23 de março de 1940, no 
cemitério da cidade Miguel Calmon, na Bahia. Dez dias após o sepultamento, o seu 
cadáver foi exumado: decepam-lhe a cabeça e o braço direito e expõem essas 
partes, também, no Museu Nina Rodrigues. 
Naquela época, o cangaço já se encontra em plena decadência e, com 
Lampião, morre também a última liderança desse fenômeno social. Os cangaceiros 
que vão presos e cumprem pena conseguem se reintegrar no meio social. Alguns 
deles são: José Alves de Matos (Vinte e Cinco), Ângelo Roque da Silva (Labareda), 
Vítor Rodrigues (Criança), Isaías Vieira (Zabelê), Antônio dos Santos (Volta Seca), 
João Marques Correia (Barreiras), Antônio Luís Tavares (Asa Branca), Manuel 
Dantas (Candeeiro), Antenor José de Lima (Beija-Flor), e outros. 
Após décadas de protestos, por parte das famílias de Lampião, Maria 
Bonita e Corisco, no dia 6 de fevereiro de 1969, por ordem do governador Luís Viana 
Filho, e obedecendo ao código penal brasileiro que impõe o devido respeito aos 
mortos, as cabeças de Lampião e Maria Bonita são sepultadas no cemitério da 
Quinta dos Lázaros, em Salvador. Em 13 de fevereiro, do mesmo ano, o governador 
autoriza, ainda, o sepultamento da cabeça e do braço de Corisco, e das cabeças de 
Canjica, Zabelê, Azulão e Marinheiro. 
Por fim, registram-se informações sobre alguns ex-cangaceiros que 
retornam ao convívio social. Tendo fugido para São Paulo, depois do combate na 
grota de Angico, Criança adquire casa própria e mercearia naquela cidade, casa-se 
com Ana Caetana de Lima e tem três filhos: Adenilse, Adenilson e Vicentina. Zabelê 
volta para o roçado, assim como Beija-Flor. Eles continuam pobres, analfabetos e 
desassistidos. Candeeiro segue o mesmo rumo, mas consegue se alfabetizar. 
Vinte e Cinco vai trabalhar como funcionário do Tribunal Eleitoral de 
Maceió, casa com a enfermeira Maria de Silva Matos e tem três filhas: Dalma, Dilma 
e Débora. 
Volta Seca passa muito tempo preso na penitenciária da Feira de 
Curtume, na Bahia. É condenado, inicialmente, a uma pena de 145 anos, depois 
comutada para 30 anos. Através do indulto do presidente Getúlio Vargas, porém, em 
1954, ele cumpre uma pena de 20 anos. Volta Seca se casa, tem sete filhos e é 
admitido como guarda-freios na Estrada de Ferro Leopoldina. 
Conhecido também como Anjo Roque, Labareda consegue se 
empregar no Conselho Penitenciário de Salvador, casa e tem nove filhos. 
 
 
30
E, intrigante como possa parecer, o ex-cangaceiro Saracura torna-se 
funcionário de dois museus, o Nina Rodrigues e o de Antropologia Criminal, os 
mesmos que expuseram as cabeças mumificadas dos velhos companheiros de 
lutas. 
 
1.5 Origem da “Família Ferreira 9” 
 
 Em Inhamuns, sertão cearense, houve uma grande questão entre as 
famílias Alves Feitosa e Monte, havendo desta forma a saída da família AlvesFeitosa para outros estados, tendo muitos deles se refugiado em Pernambuco, onde 
fixaram residências às margens do rio Pajeú, de São José do Egito a Vila-Bela. 
Nesta época, chega em Vila-Bela um cidadão com o nome de Antônio Alves Feitosa, 
oriundo de Inhamuns, no entanto, ao chegar em Vila-Bela, adotou os nomes de 
Antônio Ferreira de Magalhães e Antônio Ferreira de Barros, fixa residência no 
Carrapicho, situado nas proximidades da rua de Vila-Bela, casa-se no lugarejo Peru 
do Riacho de São Domingos com a tecedeira Maria Francisca das Chagas, criada 
pelo fazendeiro Manoel Gomes do São Miguel. Após o matrimônio, Antônio Ferreira 
de Magalhães ou “de Barros” passa a residir no Peru. 
Passado algum tempo, retornou para o Carrapicho, em seguida muda-
se para a Serra da Bernada, município de Triunfo, área fronteiriça com o estado 
paraibano. Da união, houve vários filhos, sendo um deles de nome José, o qual se 
casara no distrito de São Francisco, com Maria Vieira da Soledade, pertencente à 
família “Paulo Lopes”, a qual era descendente do facínora conhecido por “Paulo 
Lopes”, oriundo de Jardim-CE, fugitivo da região em epígrafe após haver 
assassinado um padre, em virtude de no passado o dito Paulo Lopes haver dado 
uma surra em um oficial da polícia do estado, tendo o padre em revide mandado oito 
“cabras” dar um surra em Paulo Lopes, restabelecido da tunda, saiu Paulo Lopes em 
busca dos elementos, encontrando 06 (seis) no Ceará, 01 (um) em Canhotinho-PE e 
o último, três anos depois em Oeiras-PI, matando-os todos por vingança, cumprida a 
missão retorna para Jardim-CE a fim de ressarcir os gastos realizados na buscas 
dos cabras, ao apresentar as notas das despesas ao vigário, o mesmo recusou-se a 
recebê-las, sendo alvejado por Paulo Lopes o qual tombou sem vida. 
 
9 LIRA, João Gomes de. LAMPIÃO Memórias de um Soldado de Volante. Volume I 
 
 
31
Inicia-se assim a grei dos “Ferreira”, uma mistura genética de falsidade 
ideológica com vingança premeditada e sem precedentes, levando às últimas 
conseqüências seus atos criminosos no intuito de satisfazer um ego. Desta forma, o 
que se pode esperar de uma união com esses precedentes, vivendo em uma época 
totalmente conturbada, violenta, com o poder do estado nas mãos dos latifundiários, 
controladores de toda economia local, enquanto que a classe miserável sempre 
esperançosa de melhores tempos, chuvas, lavouras, farturas e nada disso chega, 
ficando assim sem perspectivas de vida melhores. 
Conforme registros de nascimentos, feitos por José Ferreira, no 
cartório do Sr. Honório de Moura, em São João do Barro Vermelho, da união com 
Maria Soledade, houve os seguintes filhos: Antônio Ferreira, nascido em 15 de julho 
de 1895, foram padrinhos seus avós, Manoel Pedro Lopes, Jacoza Vieira da 
Soledade, Antônio Ferreira de Barros e Maria Francisca das Chagas; Levino 
Ferreira, nascido em 07nov1896, seus padrinhos Luiz Barbosa Nogueira e Gertrudes 
Vieira da Soledade; Virgulino Ferreira, nascido em 04 de junho de 1898, batizado 
por Manoel Pedro Lopes e Maria José da Soledade; Virtuosa Maria da Soledade, 
nascida a 24 de agosto de 1900, foram seus padrinhos, João Ferreira de Souza e 
Maria Barbosa Nogueira; Anália, nascida a 01 de novembro de 1902, seus 
padrinhos, Terto Alves Feitosa e Maria Lima da Soledade; Angélica, nascida a 15 de 
abril de 1904, batizada por Purcino Nunes Nogueira e Ana; Ezequiel Profeta de 
Souza, nascido a 10 de abril de 1908, seus padrinhos Tibúrcio de Godoy e Ana; 
Maria Sulema Filha (Mocinha), nascida a 10 de outubro de 1910, seus padrinhos, 
Raimundo Gomes de Barros e Maria; e o caçula João Ferreira Batista, nascido em 
24 de junho de 1912, foram seus padrinhos, Manoel Ferreira de Lima e Joana Maria 
da Soledade10. 
Diocese de Pesqueira-PE, paróquia de Floresta, em Pesqueira: “certifico 
que, revendo os livros de termos de batizados realizados nesta paróquia, 
foi encontrado o teor seguinte: livro 15 fls. 146, do ano de 1898, a três de 
setembro do mesmo ano, na capela de São Francisco. Batizei solenemente 
a Virgulino, nascido a 04 de junho de 1898, filho legítimo de José Ferreira e 
Maria Vieira da Soledade, desta freguesia. Foram padrinhos: Manoel Pedro 
Lopes e Maria José da Soledade. Do que mandei passar este termo que 
assino: Pe. Cônego e Vigário Joaquim Antônio de Siqueira Torres”. 
(LIRA, 1997, vol. I, p. 18) 
 
10 LIRA, João Gomes de. LAMPIÃO Memórias de um Soldado de Volante. Volume I 
 
 
32
Temos, assim, a consagração cristã daquele que iria percorrer e 
aterrorizar vários estados nordestinos, causando todos os tipos de ilícitos 
imaginados por um terrorista sem escrúpulos ou compaixão. Apesar de tudo o 
patriarca José Ferreira sempre procurou dar aos filhos uma educação primária, 
apesar de todas as dificuldades, em 1910, Antônio Ferreira, Levino e Virgulino 
estudaram na escola particular do professor Domingos Soriano de Souza, em Serra 
Vermelha, distrito de São Francisco (atual Pajeú). Dos três, Virgulino era o mais 
desenvolto; apesar do pequeno período escolar, aprendeu a ler e “escrever uma 
carta”. José Ferreira tinha verdadeira dedicação aos filhos, tendo maior admiração 
por Virgulino, e envidava todos os esforços no sentido de conduzir os filhos no 
caminho do bem e da paz, sem jamais imaginar o destino que os aguardava. 
 
 
1.6 Primeiras questões dos “Ferreiras” no Sertão Pe rnambucano. 
 
 
 Por ser José Ferreira cunhado de Manoel Lopes, bem conceituado por 
toda a vizinhança, principalmente pelo grande fazendeiro Saturnino Alves de Barros, 
viu a grande necessidade de um posto policial na fazenda Pedreira. Diante disto, foi 
à Vila-Bela e como muita peleja e desenvolto político conseguiu com o chefe político 
do município, Cel Antônio Timóteo, a nomeação de Inspetor de quarteirão para o Sr. 
Manoel Lopes, o qual empossado no cargo, passou juntamente com os sobrinhos 
Antônio Levino e Virgulino, fazer o policiamento da jurisdição que lhes competia. 
Segundo Lira, 
Para aqueles que dizem que os Ferreira entraram na vida do cangaço 
forçados, porque mataram seus pais, é um completo engano, 
desconhecem a vida dos mesmos, estão equivocados. 
(LIRA,1997, p.56) 
 No ano de 1916, após receber denúncia de furto de bode, o inspetor 
Manoel Lopes, realizando o policiamento com seus ajudantes, prendem José 
Caboclo, morador do Sr. Saturnino Alves de Barros, trazendo esta prisão grande 
descontentamento por desconhecerem qualquer ato de desonestidade do seu 
morador tanto para Saturnino Alves, bem como ao seu filho José Alves de Barros, o 
qual, era conhecido na localidade Pedreira por “José Saturnino”, que veio a ser o 
 
 
33
primeiro inimigo de Virgulino Ferreira. 
 Dias depois, José Caboclo, quando vinha da Ribeira do Pico, onde 
tinha ido à busca de alguns animais, depara-se em lugar ermo com Antônio Ferreira, 
onde iniciaram uma grande luta corporal, saindo vitorioso José Caboclo, dizendo 
ainda que não o mataria pois não era covarde como o mesmo. Em conseqüência 
disto, inicia-se, assim, uma das maiores contendas no sertão pernambucano, 
oriunda de um fato meramente desprezível e sem importância. No entanto, para um 
sertanejo acostumado a levar tudo às “últimas conseqüências”, não levar ofensas 
para casa e resolver tudo “na faca” ou “cano do fuzil”, pois, tais brigas assim eram 
comuns. Desse dia em diante surgiram de ambos os lados, muitas ameaças e 
pilhérias, acendendo a chispa causadora desta altercação, marchando os sertanejos 
do Pajeú para um triste e desventurado destino. 
 
1.7 As Volantes 
 
 As Volantes foram criadas para combater o banditismo que sempre 
existiu no interior. Desde a época do Brasil Holandês que havia grupos de 
cangaceiros e bandoleiros. Não com o nome de cangaceiros, mas de bandoleiros, já 
no fim da Zona da Mata, no início do Agreste e noSertão. Depois o Cangaço tornou-
se um fato normal. Frederico Pernambucano chama de Cangaço Endêmico, que 
quer dizer: tem sempre em pequenas quantidades. 
 Durante algum tempo no século XX houve o chamado Cangaço 
Epidêmico e este teve três fases. A 1ª fase foi de Antônio Silvino. Ele foi o primeiro. 
Atuou mais nas Zonas do Agreste e da Mata, quase não chega ao Sertão. Em 1914 
ele foi denunciado por um “coiteiro”, foi baleado por Teófilo Ferraz Torres e foi preso. 
Passou 14 anos preso e depois foi anistiado pelo Presidente Getúlio Vargas. Depois 
temos o segundo que foi um cangaceiro que divide o Cangaço em: “Cangaço 
Refúgio”, “Cangaço Vingança” e “Cangaço Meio de vida”. O primeiro foi Cangaço 
Vingança de Antônio Silvino que terminou virando o Cangaço Meio de Vida. Ele que 
para sobreviver assaltava, saqueava etc.. Mas ele tinha um aspecto meio “Rob 
Hoodiano”, ele muitas vezes dava aos pobres. Depois veio o Cangaço Vingança de 
Luís Padre e o seu primo Sr. Pereira. O Sr. Pereira ficou na cabeça do grupo e foi à 
famosa luta lá em Bodocó e nas adjacências entre os Pereiras e os Carvalhos. Ele 
 
 
34
foi o primeiro e o único patrão de Lampião. Ele matava os inimigos dele, que eram 
os Carvalhos. Quem fosse amigo dos Carvalhos e fizesse “cara feia” para ele, 
também morria. Atuou durante 07 a 08 anos e depois foi embora para Goiás e só 
voltou quando tinha mais de 70 anos, deixando Virgulino Ferreira no comando, que 
já havia entrado para o Cangaço por meio dele mesmo. 
 Virgulino era um homem chegado a certas coisas, a muitos problemas. 
Um homem que absolutamente não tinha nada de herói. Era um homem que não 
lutava por terra. Que por falta de terra querem enquadrá-lo, às vezes, como um sem-
terra da época. Pelo contrário, o pai dele era um fazendeiro, um homem de bem. Na 
verdade Virgulino entrou para o Cangaço porque gostava de ser anarquista, gostava 
de ser bandoleiro, gostava de ser ladrão. Então, diante disso, ele vai comandar o 
grupo de Sr. Pereira e desvirtuar o Cangaço Vingança que o Sr. Pereira introduziu. 
Primeiro, ele vai vingar um bocado de gente que o Sr. Pereira pediu para ele vingar, 
antes de viajar, deixando essa missão. Depois vai tornar o grupo à sua 
personalidade. Isso era a grande figura do Cangaço em 1920 ou 1922 até 1938 
quando morreu, em julho, em Angico, em meio a uma emboscada. Transformando 
assim o cangaço para meio de vida. Certa vez um repórter perguntou a ele (a 
Lampião): “Capitão, por que o senhor não deixa de ser cangaceiro?” Ele disse: “Se o 
senhor estiver em um negócio e o negócio estiver lhe dando bom dinheiro, você 
deixaria?” “Não”. “Então, eu também não deixo, eu vivo bem nisso” (MONTEIRO, 
Roberto Pedrosa. 2004). Existem outras provas que o introduzem no Cangaço Meio 
de Vida. 
 Inicia, assim, a origem das Forças Volantes. Foi para combater esse 
tipo de elemento que tornou o Cangaceirismo como uma coisa epidêmica no Sertão. 
Lampião arrasou o sertão e deixou desnorteada a população sertaneja, se de um 
lado tinha os cangaceiros do outro vinha as volantes no seu encalço, e assim 
ninguém nunca estava seguro. Lampião foi a pior coisa que poderia ter havido. A 
pior de todas as secas não chegou aos pés do que Lampião fez. Ele foi um grande 
terrorista. Ele matava, ele chegou certa vez em uma cidade e matou um menino de 
08 anos e uma mulher de 80 anos. O recado dele é “que matava de 08 a 80”, deixou 
bem explícito. E ele fez muita coisa, muita barbaridade que ainda hoje se ressente, 
mas há o outro lado também, se algumas pessoas se ressentem outras o admiram e 
o mitificam erroneamente, transformando-o muitas vezes em herói, mas, esquecem 
o significado de herói ou confundem como sinônimo de monstruosidade. 
 
 
35
As volantes eram formadas por indivíduos nascidos e educados no 
mesmo ambiente dos cangaceiros. O que os diferenciavam dos grupos de 
bandoleiros era apenas o fato de fazerem parte da força legal, ou seja, eram 
homens da lei, era esta, muita vezes, a única diferença entre eles, a Lei. Existiam 
grupos oficiais, que faziam parte do contingente normal da força policial, e os 
contratados que eram voluntários ou convidados a ingressar na força policial e ainda 
os que estavam ali por interesse próprios em combater e matar o temido e 
destemido fora da lei, por serem muitas vezes inimigos pessoais e estarem mais 
seguros nas fileiras das volantes, sempre perseguindo seu inimigo. Um dos grupos 
mais importantes da época, que dava caça a cangaceiros e não fazia inicialmente 
parte da policia como força oficial eram os nazarenos, onde hoje se situa 
Carqueja/PE. Estes homens dedicaram suas vidas no combate aos bandos de 
cangaceiros. 
 Os destaques das Forças Volantes eram muitos porque havia, dentro 
das Forças Volantes, duas forças em destaque. Existiam nas Forças Volantes 
soldados que vinham de outras cidades ou mesmo das cidades como Serra 
Talhada, ou como Floresta, mas havia uma força especial, não que a Polícia tivesse 
feito ela de especial, ela era especial. Eram os Nazarenos, eram homens de Nazaré, 
um povoado entre Serra Talhada e Floresta, que foi construído para se tornar um 
interposto comercial. E Lampião morava lá. Houve lá um problema com o povo de 
Nazaré e Lampião então se tornou um grande inimigo. Eram cerca de 60 homens, 
morreram 16 durante os combates. O primeiro foi Idelfonso Ferraz, filho de João 
Flor, que foi o grande idealizador das Forças Volantes, e o comandante da Polícia 
João Nunes que era um homem de uma valentia impressionante, era de Águas 
Belas. Ele foi lá para queimar, incendiar o povoado, pensando que o pessoal de 
Nazaré era aliado de Lampião. Quando ele tomou conhecimento então do fato, ele 
convocou o pessoal e alguns foram, sendo os homens mais valentes. 
 Manuel Sousa Neto, tenente Coronel, já falecido, da Polícia Militar de 
Pernambuco (Antigamente não havia o posto de Coronel), Mané Neto, era um 
nazareno. Uma parte Floresta, parte Serra Talhada e também Nazaré. Enquadrado 
dentro do pessoal nazareno. Foi um dos homens mais valente que o Cangaço teve 
em seu encalço. Ele entrava numa cidade, comandando sua tropa, dava tanto tiro 
que era conhecido como “Mane Fumaça”, pois diziam que a fumaça encobria toda a 
cidade. Ele não obedecia a uma ordem que achasse que ela não estivesse correta, 
 
 
36
tornando-se assim um pouco indisciplinado. Certa vez foi subir uma serra onde 
estavam muitos cangaceiros intocados esperando que a Força subisse e o Tenente 
Higino, conhecido como “Nego Higino”, disse: “Não suba não Mané Neto (ele era 
cabo). Ele disse:” Eu vou “subir”. O tenente disse: “Vamos almoçar e depois a gente 
sobe”. “Eu vou almoçar é bala”. E subiu e foi a maior luta que houve entre os 
cangaceiros e as Volantes, a qual teve 24 baixas entre mortos e feridos e os 
cangaceiros também tiveram baixas não se sabendo quantas. O próprio Mane Neto 
saiu ferido, de perna quebrada. Era um homem feroz , de uma ferocidade 
impressionante. Era quase onça! Houve outros como: Euclides Flor, Davi Jurubeba, 
João Jurubeba, Manoel Flor, João Gomes de Lira, muitos soldados, muita gente. 
 No entanto nas Volantes existiam inúmeras dificuldades. A maior 
dificuldade que as Volantes tiveram foi o próprio povo. O próprio povo era uma 
grande dificuldade porque o povo tinha medo, não só dos cangaceiros, como medo 
das próprias Volantes. Eles não sabiam o que viriam de lá. Havia o medo duplo. O 
medo das Volantes: quem era do lado dos cangaceiros não conversavam, batiam e 
batiam forte. Não se matava tanto como se fala. Não se torturava tanto como se fala. 
A tortura é uma coisa do tempo de hoje, advindo do período militar. Eles batiam, 
batiam e batiam. Bastava suspeitar que as pessoas fossem coiteiros, e muito coiteiro 
falou debaixo de pau. 
 De tantas táticas que havia, uma delas era Lampião falar do pessoal 
das Volantes. “Comprou fulano, comprou sicrano...comprou bala a um e a outro”.Mas havia umas táticas interessantes, uma delas era a “TÁTICA DO URUBU”. Essa 
tática era usada de modos diferentes de um lado e do outro lado do cangaço. Do 
lado do cangaço era quando Lampião queria ficar mais tempo numa fazenda 
descansando com um grupo, ele pegava os caminhos, as veredas que davam para a 
casa sede e como toda casa sede têm um grande pátio, então, o pessoal ficava ali 
no pátio, assim ele pegava, mandava matar um bode e existindo sempre cinco ou 
seis entradas que, por caminhos diversos sairiam lá no pátio da casa sede. Ele 
pegava o bode partia em pedaços, enrolava em pano, melava de sangue (pano era 
para dificultar os urubus) e colocava os pedaços nas estradas, nos caminhos. E se 
viesse algum soldado de algum grupo de soldados, os urubus, então, que estavam 
lá embaixo comendo, voavam e um cangaceiro que estava escalado de guarda 
olhava e dava o sinal, então eles fugiam. 
 A Polícia usava também a tática do urubu, mas de um modo diferente. 
 
 
37
Ela recebia geralmente informações, através de bilhetes, dizendo o paradeiro dos 
cangaceiros. Então o comandante da Volante mandava um soldado subir na árvore 
mais alta, de lá ele olhava um panorama maior e ali via onde houvesse urubu 
sobrevoando era porque os cangaceiros haviam saído, deixando o resto de comida. 
Em contrapartida haviam quebrado o resto da louça de barro ou de outra coisa 
qualquer para os Volantes, os soldados das volantes, não se alimentarem do resto 
deles. Então, os urubus vinham esfomeados, ficavam rodando, aproximando da 
comida. E aquilo ali era o sinal de onde começar a rastrear. O rastreador fazia o 
resto. 
 Havia também uma tática dos cangaceiros de pularem numa pedra. 
Eles vinham em um grupo e quando eles percebiam que as volantes não saiam dos 
pés deles, das pegadas deles, eles, então, pulavam de um em um numa pedra, sem 
tocar o chão, sempre em cima de pedras, dificultando assim o trabalho do rastreador 
em localizar as pegadas. E os próprios soldados, claro, eram os elementos 
multiplicadores da informação falsa: que os cangaceiros se desmaterializavam e 
eram vistos a quilômetros e quilômetros, léguas e léguas de distâncias. 
Até que os comandantes das Volantes contrataram os rastreadores, 
que esses foram os grandes elementos do cangaço que Lampião tinha horror. 
Chamavam a eles de “os cachorros” porque eles viviam ao lado do comandante 
sempre cantando toda passagem dos cangaceiros. Eles sabiam até quando eles iam 
muito municiados ou não. Quando eles iam carregando alguma coisa pesada ou 
não. Quando eles iam feridos ou não. Chegavam alguns deles até ao requinte de 
identificar “esse era Lampião”. Porque Lampião foi ferido no pé direito e ele tinha um 
defeito. Por coincidência todos os ferimentos de Lampião se localizavam no lado 
direito do seu corpo: o olho cego era o olho direito, foi ferido no pé direito, que quase 
fica podre o pé dele. 
 
1.8 Confrontos 
 1.8.1 O Saque de Souza-PB 11 
 
 Em março de 1924, Lampião sofre um ferimento no pé direito quando 
nas imediações da Lagoa dos Vieiras foi cercado por um grupo da volante do major 
 
11 LIRA, João Gomes de. LAMPIÃO Memórias de um Soldado de Volante. Volume I 
 
 
38
Teófanes Torres Ferraz, onde teve o calcanhar esfacelado por um tiro de 
espingarda, quando estava indo negociar armas e munições. Ferido, conseguiu se 
evadir do local do tiroteio com a ajuda dos dois cangaceiros que o acompanhavam, 
indo se esconder na Serra das Panelas, onde um coiteiro trataria do seu ferimento. 
 Com a volante do sargento Quelé (Clementino Furtado), que antes era 
um cangaceiro do seu bando e por causa de uma discussão com o bandido Meia 
Noite havia abandonado o bando, Lampião foi mais uma vez cercado e, tendo que 
fugir, teve o ferimento mais uma vez aberto. Na fuga, se perde do resto do grupo e 
por um milagre não é pego pela volante, pois se escondera atrás de umas folhagens 
e por pouco não é encontrado. Quatro meses depois, ainda em tratamento e se 
recuperando do ferimento, Lampião idealiza um assalto à cidade de Souza, na 
Paraíba. Procurado pelo cangaceiro Chico Pereira, que queria se vingar de uns 
desafetos nesta cidade, Lampião manda o irmão Antônio Ferreira e Sabino 
realizarem o feito como se ele próprio estivesse no comando. 
 O saque foi terrível. O alvo seria a família Mariz, pois Otávio Mariz 
havia dado uma surra em Chico Lopes que possuía uma bodega na cidade antes de 
entrar no cangaço. Chico Pereira também tinha acertos de contas com esta família 
que fora co-responsáveis pela morte do seu pai. Invadida a cidade, sem nenhuma 
resistência, pois só havia 10 policiais no destacamento local e que se evadiram aos 
primeiros tiros, a mesma foi tomada por vinte e quatro horas. Fios de telégrafos 
foram cortados, estabelecimentos incendiados e o saque tivera um saldo de 200 
contos, uma pequena fortuna na época. A importância desse saque foi a presença 
de espírito do cangaceiro chefe, mesmo distante do palco de luta, o que, aliás, 
pouca gente sabia, quando outros achavam até que o bandido estava morto ou 
inutilizado. O dinheiro do saque foi dado, em parte, ao coronel José Pereira, de 
Princesa, PB, que era uma espécie de banco de Lampião. Este coronel futuramente 
viria a traí-lo, devido à grande quantia de numerário que este já havia amealhado do 
cangaceiro. Lampião jamais perdoou esta traição. 
 
 1.8.2 Serrote Preto-AL 12 
 
 Em janeiro de 1925, já recuperado do ferimento no calcanhar, Lampião 
 
12 LIRA, João Gomes de. LAMPIÃO Memórias de um Soldado de Volante. Volume I 
 
 
39
dá combate em Custódia. De lá, envia telegramas desaforados para o governador 
do Estado avisando que no sertão era ele quem mandava. Em fevereiro, destroça 
em Alagoas as forças policiais de Pernambuco e Paraíba, na batalha conhecida 
como “Serrote Preto”. Foi nessa batalha que seu gênio guerreiro mais se destacou. 
Numa estratégia fenomenal coloca as forças para correr embaixo da chuva de balas 
do seu bando que brigava sempre cantando o hino da “mulher rendeira”. Os três 
irmãos eram imbatíveis no guerrear. Antônio Ferreira, que tinha o vulgo de 
”vassoura”, lutava na retaguarda atacando as volantes por trás. Os soldados ficavam 
apavorados e desnorteados com este ataque. 
 Livino Ferreira, o “esperança”, costumava avançar pelos flancos direito 
ou esquerdo no intuito de dispersar a volante, e Virgulino na linha de frente, nunca 
brigava desprotegido. Cinco meses depois a polícia pernambucana indignada com o 
ataque de Alagoas, após um cerrado tiroteio, mata Livino. Ainda ferido Livino é 
levado para casa de coiteiros a fim de receber tratamento adequado, porém, devido 
à gravidade do ferimento, o jovem vem há falecer oito dias depois. 
 
 1.8.3 Serra Grande-PE 13 
 
 Em vinte e seis de novembro de 1926, Lampião, numa incursão em 
terras de Serra Talhada, seqüestra dois funcionários da Standard Oil Company, 
solicitando vultosa quantia para o resgate. Numa ação desastrosa a volante 
pernambucana do Major Teófanes Torres Ferraz, sob o comando do tenente Higino 
Belarmino, ataca o grupo de cangaceiros nos paredões da Serra Grande, em Serra 
Talhada. Este combate rendeu a Lampião a maior vitória de sua carreira, pois 
conseguiram emboscar uma força policial composta de 297 praças com apenas 
cerca de 90 cangaceiros. O grupo, bem entrincheirado, cercou a volante e a 
emboscou, deixando treze feridos e onze mortos. Algumas praças, sem condições 
sequer de revidarem ao ataque, saíram fugindo apavorados, deixando para trás 
armas e apetrechos. Segundo João Gomes de Lira, em sua obra Lampião: 
memórias de um soldado de volante, Lampião nada sofreu naquele grande fogo. O 
bandido estava bem amparado dentro da famosa Serra Grande, que naquele vinte e 
seis de novembro foi transformada num alarmante vulcão.

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