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FAESA – CENTRO UNIVERSITÁRIO ESPÍRITO-SANTENSE CURSO DE DIREITO RONNY FAVARO WUNDERLICH OS ATOS ORDINATÓRIOS DO PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL PRATICADOS PELA SECRETARIA DO JUÍZO COMO GARANTIA DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO VITÓRIA 2020 RONNY FAVARO WUNDERLICH OS ATOS ORDINATÓRIOS DO PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL PRATICADOS PELA SECRETARIA DO JUÍZO COMO GARANTIA DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO Projeto de pesquisa apresentado no curso de Direito do FAESA Centro Universitário Espírito- Santense, como requisito parcial para avaliação na disciplina de Projeto de Pesquisa Aplicada. Orientador: Prof. Me. Bruno Buback Teixeira. VITÓRIA 2020 RONNY FAVARO WUNDERLICH Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faesa – Centro Universitário Espírito-Santense, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito. OS ATOS ORDINATÓRIOS DO PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL PRATICADOS PELA SECRETARIA DO JUÍZO COMO GARANTIA DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO BANCA EXAMINADORA BRUNO BUBACK TEIXEIRA Orientador __________________________ PATRÍCIA BERSAN PINHEIRO DE PAIVA GONÇALVES __________________________ SAYURY SILVA DE OTONI __________________________ VITÓRIA/ES, 11 DE NOVEMBRO DE 2020. Dedico este trabalho à ciência e a todos os seus colaboradores, que com dedicação e esforços ampliam os horizontes da humanidade, afastando-a das trevas da ignorância. “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes”. (Isaac Newton) RESUMO A presente pesquisa tem por escopo apresentar uma lista de atos de mero expediente que devem ser praticados pela secretaria do juízo sem a necessidade de chancela do magistrado. O tema recebe pouca atenção da literatura, embora essencial à efetivação da razoável duração do processo. A falta de positivação legal sobre a matéria é fator de insegurança jurídica aos serventuários e operadores do Direito, acarretando mora no andamento processual, motivo que sustenta a importância do estudo sobre o tema. Para atingir o objetivo desejado, necessário se faz perpassar por temas como monopólio a jurisdição estatal, Emenda Constitucional nº 45/2004, razoável duração do processo, atuação da secretaria do juízo, atos processuais, atos do magistrado e atos ordinatórios, discorrendo sobre cada um desses tópicos. Ao final, apresentar-se-á um rol segmentado de cada tipo de ato, intentando distinguir quais são os exclusivos do magistrado e quais são os autoexecutáveis pelos serventuários da Justiça. Palavras-chave: razoável duração do processo; atos de mero expediente; atos ordinatórios. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7 1 MONOPÓLIO DA JURISDIÇÃO ESTATAL ................................................ 9 1.1 EMENDA CONSTITUCIONAL nº 45/2004 .......................................... 14 2 RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO ................................................ 17 3 ATUAÇÃO DA SECRETARIA DO JUIZO E DURAÇÃO PROCESSUAL 23 3.1 ATOS PROCESSUAIS DO PROCEDIMENTO COMUM .................... 26 3.1.1 Atos Exclusivos do Magistrado ................................................. 29 3.1.2 Atos Ordinatórios ....................................................................... 32 4 ATOS ORDINATÓRIOS INVESTIDOS À SECRETARIA DO JUÍZO ........ 36 4.1 ROL DE ATOS ORDINATÓRIOS........................................................ 39 4.1.1 Atos de mero impulso oficial ..................................................... 39 4.1.2 Atos de notificação ..................................................................... 42 4.1.3 Atos de Intimação ....................................................................... 43 4.1.4 Atos de remessa ......................................................................... 45 4.1.5 Atos facilitadores da execução ................................................. 46 4.1.6 Atos auxiliares da colaboração entre juízos ............................ 50 4.1.7 Considerações sobre os atos ordinatórios .............................. 51 5 CONCLUSÃO ............................................................................................ 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 54 7 INTRODUÇÃO O presente trabalho é uma proposta prática de elencar um rol exemplificativo de atos ordinatórios do procedimento comum, autoexecutáveis pela secretaria do juízo, como mecanismo de concretização da razoável duração do processo. Desta sorte, ao final do trabalho propõe-se responder à pergunta: quais atos ordinatórios do procedimento comum necessitam ser praticados de ofício pela secretaria do juízo como garantia da razoável duração do processo? Nesse intento, iniciar-se-á abordando sobre o monopólio da jurisdição estatal, ou seja, os mecanismos que levaram o Estado a assumir a responsabilidade de pacificar a sociedade, solucionando os conflitos por meio da lei. Em seguida, definir-se-á a razoável duração do processo distinguindo-a de conceitos como velocidade, fugacidade ou urgência. Mais adiante, o mote será pautado em demonstrar os atos processuais, especialmente aqueles praticados pelos órgãos jurisdicionais, especificando os atos exclusivos dos magistrados e investidos aos serventuários. Por último, arriscando num terreno bastante inexplorado, apresentar-se-á um rol classificatório de atos ordinatório de mero expediente que devem ser praticados pelo servidor como garantia à efetividade da razoável duração do processo. A fim de consagrar esse objetivo, utilizar-se-á de pesquisa bibliográfica, buscando sustentação na doutrina, em publicações científicas e no ordenamento jurídico, tendo por base livros, artigos, dissertações e teses acadêmicos; sítios oficiais na internet; legislação e demais atos normativos; bem como entendimentos e pronunciamentos de tribunais e juízos. 8 Em suma, o problema que enseja a investigação é a percepção corrente, visível a qualquer cidadão, de que a Justiça Brasileira é cara, morosa, ineficiente, abarrotada de demandas e, por vezes, injusta, com processos em que se sabe a data do ajuizamento, mas sequer se vislumbra a data em que haverá baixa. 9 1 MONOPÓLIO DA JURISDIÇÃO ESTATAL O fundamento para a compreensão de que a realização de ofício dos atos ordinatórios pela secretaria do juízo configura mecanismo prático e indispensável para a concretização da razoável duração do processo tem raízes na obrigação assumida pelo Estado de tutelar os direitos individuais e da coletividade.1 É sabido que desde os mais remotos tempos o Homo sapiens sempre viveu em sociedade.2 A condição relacional que mantém com os demais homens proporciona inúmeras vantagens aos seres humanos, mas, também, enseja situações que favorecem o conflito.3 Visando harmonizar as relações e solucionar possíveis divergências todas as sociedades humanas, mesmo com as mais distintas características, possuem em comum a existência de um conjunto mínimo normativo capaz de regular a vida coletiva,4 podendo-se asseverar que inexiste sociedade sem o Direito.5 Historicamente, resolvem-se os interesses resistidos de quatro formas distintas, podendo ocorrer, ou não, coexistência das formas em cada época ou lugar, sendo elas a autodefesa; a autocomposição (incluídas a mediação e a conciliação); a arbitragem e a jurisdição.6,7A autodefesa, ou autotutela, aduz que o mais forte impõe sua força sobre o mais fraco. Ocorre normalmente na ausência ou apatia do Estado. De origem mais 1 WERNECK, Ana Carla. A administração judiciária, na figura do juiz-gestor como meio para a concretização do direito fundamental à duração razoável do processo no contexto atual. p. 11-33 passim. Dissertação (Mestrado em Direitos Fundamentais e Democracia) - Centro Universitário Autônomo do Brasil, Curitiba: UniBrasil, 2016. 2 DALLARI. Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 22-23. 3 ALVIM, José Eduardo Carreira. Teoria geral do processo. 21. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 20-23. 4 RODRIGUES, Horácio Wanderlei; LAMY, Eduardo de Avelar. Teoria geral do processo. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2018. p. 19. 5 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 25. 6 RODRIGUES; LAMY, op. cit. p. 20, nota 4. 7 CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, op. cit. p. 26-30, nota 5. 10 primária, tem por característica a inexistência de um julgador imparcial.8 Via de regra, é proibida pelo Direito e pode acarretar em desordens sociais e riscos àqueles que escolhem operá-la.9 A autocomposição trata da solução das incompatibilidades pelos próprios interessados, sem imposição externa. Pode depender unilateralmente do autor – renúncia ou desistência; do réu – submissão ou reconhecimento; ou, ser bilateral, denominada transação.10 A mediação e conciliação também estão nesta categoria, mas já inserem um terceiro indivíduo para auxiliar a negociação da solução, diferindo entre elas no grau de participação desse ator.11 A arbitragem, dissente substancialmente dos meios autocompositivos pela possibilidade de o árbitro, livremente eleito pelas partes, fixar a decisão aos litigantes, solucionando as desavenças e impondo um julgamento. Entretanto, os interessados devem ter anteriormente se sujeitado ao veredito deste decisor e apenas pode-se tratar de direitos disponíveis de pessoas capazes.12 Todavia, tanto os métodos autocompositivos quanto a arbitragem, embora positivados e encorajados pelo ordenamento jurídico pátrio, por vezes esbarram na necessidade de ato volitivo, ou do consenso, nem sempre conseguidos dos contendores.13 Assume-se então “[..] a ideia de que o governo civil devia [deve] regular os atos civis dos cidadãos, mas que isso tinha [tem] que ser feito de acordo com uma regra, uma lei”.14 8 RODRIGUES; LAMY, 2018, p. 20. 9 MONNERAT, Fábio Victor da Fonte. Introdução ao estudo do direito processual civil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 67. 10 ALVIM, 2018, p. 26-27. 11 RODRIGUES; LAMY, 2018, p. 21-22. 12 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito processual civil contemporâneo: teoria geral do processo. v. 1. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 49. 13 MONNERAT, loc. cit. 14 GARCIA, Talita Cristina. A paz como finalidade do poder civil: o Defensor pacis de Marcílio de Pádua (1324). p. 85. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História Social, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. 11 Faz-se, assim, necessária a jurisdição, uma das pedras angulares deste estudo como observar-se-á no seu decorrer. Resultado de um Estado capaz de impor as suas decisões, é uma manifestação do dever estatal de pacificar a sociedade na busca por alcançar o bem comum e a justiça, tendo por mecanismo realizador a aplicação do direito.15 Importantíssima a percepção de que no uso da jurisdição como solução de controvérsias o Estado substitui a vontade das partes e atua de forma imparcial, declarando o direito no caso concreto, sendo em última análise uma expressão da sua soberania.16 Esta última, a soberania, encontra-se inserta na concepção de Estado como um de seus elementares constitutivos, junto do território (sua área física), do povo (unidade humana) e da finalidade (o bem comum).17 Ela sustenta a própria existência do Estado moderno, consolidando-se como uma de suas instituições jurídicas basilares, capaz de solucionar os conflitos e permitir a coexistência social, tendo nas normas jurídicas os principais arquétipos de conduta.18 Pode-se dizer então que a jurisdição é a expressão da soberania manifesta na forma de atividade típica do Poder Judiciário. Uma vez provocado, de maneira neutra e seguindo o descrito nas leis, assevera o direito, dirimindo os conflitos e pacificando a sociedade com justiça.19 Em essência, presta-se a “[...] asegurar la justicia, la paz social y demás valores jurídicos, mediante la aplicación, eventualmente coercible, del derecho”.20 15 CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 30-31. 16 ALCÂNTARA, Fabio Bonomo de. Tutela de urgência ambiental na ação civil pública. p. 62- 63. Dissertação (Mestrado em Direitos e Garantias Fundamentais) - Programa de Pós- Graduação em Direitos e Garantias Fundamentais, Faculdade de Direito de Vitória, Vitória, 2005. 17 DALLARI, 2011, p. 59-122 passim. 18 GONÇALVES, Patrícia Bersan Pinheiro de Paiva. Internacionalização da Amazônia? p. 30- 31. Dissertação (Mestrado em Direito) – Curso de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001. 19 PINHO, 2017, p. 166-174. 20 COUTURE. Eduardo Juan. Fundamentos del derecho procesal civil. 4. ed. Colección: Maestros del Derecho Procesal. n. 1. Coordinada: Eduardo Vescovi. Montevideo: Júlio Cezar Faria Editor. 2007. p. 29. 12 Desta maneira, a jurisdição vem constituída do poder de império, pretendendo com seus pronunciamentos compor os conflitos sociais por meio da autoridade estatal exclusiva e da força normativa do Direito, configurando-se num monopólio do Estado.21 Neste teor, já há muito se assentava acerca do elevadíssimo grau de segurança alcançado nas sociedades em que o Direito possui a exclusividade da coerção, tendo como seu operador o Estado-juiz.22 Entretanto, o monopólio da jurisdição também confere ao Estado a obrigação de solucionar todos os conflitos que lhe forem apresentados. Essa função lhe é indeclinável e inafastável, não lhe sendo permitido recusar ou outorgar essa responsabilidade. Tamanha severidade dessa incumbência que nem mesmo a ausência de norma sobre a matéria exime o Estado de dirimir o conflito social.23 Nessa direção, a fim de concretizar seus fins, a jurisdição se apresenta com as seguintes características: secundariedade – o Estado age em segundo lugar ao coagir, pois em princípio os indivíduos poderiam ter autocomposto a lide ou cumprido a decisão; instrumentalidade – dispositivo de submissão às ordens; declaratividade ou executividade – pronuncia acerca da norma jurídica pertinente ou fazendo-as cumprir; inercialidade – para agir o juiz carece de provocação; definitividade – as decisões tornam-se imutáveis com o passar do tempo; e, substitutividade – característica que veda a autotutela impondo ao Estado a obrigação de resolver os problemas sociais. 24,25 Dessa forma, retomando-se o raciocínio iniciado no primeiro parágrafo deste capítulo, o julgamento tempestivo das demandas sociais é também obrigação do Estado por via de consequência, vez que a procrastinação de uma lide no tempo 21 CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 147-148. 22 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução: João Baptista Machado. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p.26-27, 23 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 20. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2017. p.76-77. 24 THEODORO JR. Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do direito processual civil, processode conhecimento e procedimento comum. v. I. 56. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2015.174-176. 25 PINHO, 2017, p. 174-176. 13 afasta a jurisdição de sua finalidade, majora a incerteza e aumenta a vulnerabilidade social.26 A prestação jurisdicional tardia contraria a lógica do bem comum e da paz coletiva, pois as mazelas decorrentes da demora em solucionar os conflitos ultrapassam a área jurídica, atingindo a economia e o desenvolvimento social, afetando não somente os litigantes, mas o grupo como um todo.27,28 Ressalte-se que a justiça prestada de forma intempestiva é o mesmo que a sua denegação, haja vista a deterioração dos direitos ocasionada pelo escoar do tempo. 29,30 De tão notável e constante a morosidade na jurisdição que há tempos é considerada a causa primária da crise do Poder Judiciário, sendo consenso entre juristas e leigos que a Justiça é excessivamente lenta.31 Visando solucionar o problema da lentidão diversos países positivaram em seus ordenamentos jurídicos mecanismos para tornar mais rápida a prestação jurisdicional, iniciando-se pela Convenção Europeia para Salvaguarda dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, assinada em 4 de novembro de 1950 (Tratado de Roma), prevendo no art. 6º, “1”, que toda pessoa tem direito ao exame de sua causa em prazo razoável, seguida pelas constituições mexicana (art. 17), italiana (art. 111), espanhola (art. 24), argentina 26 TEIXEIRA, Bruno Buback. O direito fundamental à igualdade e a ordem de julgamento dos processos judiciais. p. 35. Dissertação (Mestrado em Direitos e Garantias Fundamentais) - Programa de Pós-Graduação em Direitos e Garantias Fundamentais, Faculdade de Direito de Vitória, Vitória, 2010. 27 SOUZA, Artur César de. Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimento: 1. Celeridade processual e a máxima da razoabilidade no novo CPC (Aspectos positivos e negativos do art. 4.º do novo CPC). Revista de Processo, v. 246, p. 3, ago. 2015. Disponível em: <chrome- extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/do cumentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/ RPro_n.246.02.PDF>. Acesso em: 23 set. 2020. 28 WERNECK, 2016, p. 27. 29 TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo e processo: uma análise empírica das repercussões do tempo na fenomenologia processual (civil e penal). São Paulo: RT, 1997. p.12-87 passim. 30 TUCCI, José Rogério Cruz e. Garantia do processo sem dilações indevidas: responsabilidade do Estado pela intempestividade da prestação jurisdicional. Revista Da Faculdade De Direito, Universidade De São Paulo, n. 97, p. 323-345, jan. 2002. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67551>. Acesso em: 23 jul. 2020. 31 TUCCI, op. cit., p.13-14, nota 28. chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RPro_n.246.02.PDF chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RPro_n.246.02.PDF chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RPro_n.246.02.PDF chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RPro_n.246.02.PDF http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67551 14 (art. 43), colombiana (art. 86), boliviana (art. 16), americana (sexta emenda) e canadense (art. 11, b), que exprimem cláusulas de julgamento ágil.32,33,34 O Brasil, seguindo nessa direção, incorporou em seu conjunto normativo, por advento do Decreto nº 678/9235, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, também chamado de Pacto de São José da Costa Rica, que em seu art. 7º, “5”, assevera sobre o direito a um julgamento em prazo razoável.36 Esse movimento, assentado no monopólio da jurisdição estatal, aliado à crescente demanda social por soluções advindas do Poder Judiciário, que costumeiramente encontra obstáculo na demora deste poder em produzir respostas efetivas, e nos custos decorrentes dessa morosidade, ensejou uma ampla reforma do Poder Judiciário, com alterações de diversos dispositivos constitucionais e, mais concentrado no objeto deste estudo, a primeira alteração no art. 5º da Constituição Federal na história,37 conforme será melhor explorado no próximo subcapítulo. 1.1 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004 No Diário Oficial da União de 31 de dezembro de 2004 foi publicada a Emenda Constitucional nº 45 (EC 45), promulgada em 8 de dezembro do mesmo ano, resultado de um trabalho iniciado em 1974, quando os ministros do Supremo 32 WERNECK, 2016, p. 190. 33 TEIXEIRA, 2010, p. 38. 34 ROQUE, André Vasconcelos. A luta contra o tempo nos processos judiciais: um problema ainda à busca de uma solução. Revista Eletrônica de Direito Processual, v. 7, p. 242, 2011. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/21125/15215>. Acesso em: 24 jul. 2020. 35 BRASIL. Decreto nº 678, de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Brasília, 6 nov. 1992. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm>. Acesso em: 24 jul. 2020. 36 RODRIGUES, Walter dos Santos. A duração razoável do processo na Emenda Constitucional n.º 45. Revista Eletrônica de Direito Processual, v. 2, n. 2, p. 325, 2008. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/23741/16763>. Acesso em: 24 jul. 2020. 37 ANDRADE, Fábio Martins de. Reforma do Poder Judiciário: Aspectos gerais, o sistema de controle de constitucionalidade das leis e a regulamentação da súmula vinculante. Revista de Informação Legislativa, Brasília, a. 43, n. 171, p. 179-180, jul./set. 2006. Disponível em: <chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https://www12.senado.leg.br/ril/ edicoes/43/171/ril_v43_n171_p177.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2020. https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/21125/15215 15 Tribunal Federal pediram ao Executivo uma reforma geral do Poder Judiciário, recebendo como resposta o encargo de, utilizando-se do modelo corporativo- gerencial, mapear e apresentar um diagnóstico das deficiências existentes.38,39 O relatório exibiu o incontestável: “[...] a Justiça brasileira é cara, morosa e eivada de senões que são obstáculos a que os jurisdicionados recebam a prestação que um Estado democrático lhe deve”.40 As soluções, 30 (trinta) anos depois, foram apresentadas por meio da EC 45, que transformou profundamente o Poder Judiciário, modificou normas sobre autonomia orçamentária e financeira; carreira da Magistratura; criou o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público; alterou requisitos para o Recurso Extraordinário, mediante a repercussão geral; reformulou competências do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, criou as súmulas vinculantes e, entre outras modificações, alterou pela primeira vez o art. 5º, com a inclusão do inciso LXXVIII, que, no mesmo caminho já adotado por outros países citados anteriormente, inseriu o direito à razoável duração do processo explicitamente no texto constitucional.41,42,43 Com isso, o direito à razoável duração do processo originariamente materializou- se como direito fundamental, sendo-lhe elementares a força normativa e a supremacia da Constituição,44 tendo por características a eficáciaplena e aplicação imediata.45 Mas, anos após a EC 45 esse direito ainda é denegado. 38 ANDRADE, op. cit., p. 177-179, nota 36. 39 BRASIL. Câmara dos Deputados. Exposição de Motivos da Emenda Constitucional nº 45 de 2004. Brasília, 1 maio 1992. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/emecon/2004/emendaconstitucional-45-8-dezembro- 2004-535274-exposicaodemotivos-149264-pl.html>. Acesso em: 25 jul. 2020. 40 BRASIL. Câmara dos Deputados. Exposição de Motivos da Emenda Constitucional nº 45 de 2004. Brasília, 1 maio 1992. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/emecon/2004/emendaconstitucional-45-8-dezembro- 2004-535274-exposicaodemotivos-149264-pl.html>. Acesso em: 25 jul. 2020. 41 BRASIL. Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004. Altera dispositivos dos arts. 5º, 36, 52, 92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição Federal, e acrescenta os arts. 103-A, 103B, 111-A e 130-A, e dá outras providências. Brasília, 31 dez. 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc45.htm>. Acesso em: 25 jul. 2020. 42 CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 16-19. 43 ANDRADE, 2006, p. 179-182. 44 DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria geral dos direitos fundamentais. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2014. p. 41-42. 45 ANDRADE, 2006, p. 180. 16 Dada a abstração do tema e sua ineficácia percebida junto à realidade jurisdicional concreta, o próximo capítulo dedica-se à razoável duração do processo. 17 2 RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO Transcorridos 16 (dezesseis) anos da promulgação da EC 45 e passados 46 (quarenta e seis) da reclamação por reformas feita pelo Judiciário, permanece presente o consenso social, observado pelo cidadão comum, de que a Justiça ainda padece de uma crise de morosidade. Visto que a inclusão do princípio da razoável duração do processo se concretizou no art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal,46 petrificou-se como direito fundamental, sendo violação qualquer restrição ao seu pleno exercício,47 carecendo-se transcender o texto constitucional para encontrar meios práticos que operacionalizem essa norma.48 A razoável duração do processo necessita do entendimento de que este último, o processo, é a forma pela qual a jurisdição se manifesta, sendo o mecanismo apto a materializar seus efeitos, alterando a realidade perceptível,49 tornando-se “[..] o palco de efetivação de direitos fundamentais do cidadão, sejam eles de natureza material ou processual”.50 Por outro lado, se a percepção corrente é de que a Justiça é morosa, o processo, instrumento da jurisdição, não tem cumprido sua função. O que seria, então, um tempo razoável para a prestação jurisdicional? Em princípio, pode-se sustentar que tempo razoável não se confunde com veloz ou acelerado, visto que as garantias processuais do devido processo legal, 46 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 25 jul. 2020. 47 ANDRADE, 2006, p. 180. 48 BECKERS, Richard; BARBOSA, Claudia Maria. A distribuição do tempo dos atores judiciais em processos jurídicos. Acesso à justiça II, Florianópolis, 2014. p. 18-19. Disponível em: <http://publicadireito.com.br/publicacao/ufsc/livro.php?gt=173>. Acesso em: 25 jul. 2020. 49 CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 147. 50 PINTO, Luis Filipe Marques Porto Sá. Julgamento das causas repetitivas: uma tendência de coletivização da tutela processual civil. p. 17. Dissertação (Mestrado em Direito Processual Civil) - Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2011. 18 contraditório e ampla defesa, dispostos no art. 5º, LIV e LV, da Constituição Federal51 são inconciliáveis com a urgência, a pressa ou a precipitação.52 Por este horizonte, o processo deve prestar satisfação plena aos direitos dos jurisdicionados de forma ágil e no tempo precisamente necessário para que os princípios citados não sofram restrições ou perdas.53 Razoável permanece um conceito abstrato. Todavia, parece seguro entende-lo como aquilo que a razão pode explicar, usando ponderação, lógica, comedimento, harmonia, equilíbrio, sensatez, comparação, etc. Do ponto de vista jurídico é uma forma de interpretação e uma dimensão para o controle jurisdicional, relacionando-se com princípio do devido processo legal.54 Intentando definir limites técnicos para análise da questão a Corte Europeia dos Direitos do Homem estipulou 3 (três) critérios para verificar se a duração de um processo é razoável: I – complexidade da matéria; II – comportamento das partes e patronos; e, III – atuação do órgão jurisdicional. Mister se faz, em relação à realidade brasileira, acrescer como critério a estrutura do Judiciário.55 Melhor exploração desses parâmetros dar-se-á por meio de exemplos práticos. No tocante à complexidade do assunto considere-se que toda demanda exige apuração dos fatos para elucidação da matéria discutida a fim de gerar o correto convencimento do julgador. Imagine-se então a necessidade de perícia.56 Por evidente, uma perícia fiscal ou contábil em grande empresa exigirá maior tempo 51 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 25 jul. 2020. 52 TUCCI, 1997, p. 28-31. 53 BELLINI, Luiz Augusto. A garantia constitucional à razoável duração do processo e o papel do magistrado no sistema jurídico brasileiro. p. 49. Dissertação (Mestrado em Direitos e Garantias Fundamentais) - Programa de Pós-Graduação em Direitos e Garantias Fundamentais, Faculdade de Direito de Vitória, Vitória, 2010. 54 MACHADO, Fernanda Modolo Vieira. A negociação coletiva e a intangibilidade dos direitos humanos da personalidade do trabalhador assalariado. p. 89-91. Dissertação (Mestrado em Direitos e Garantias Fundamentais) - Programa de Pós-Graduação em Direitos e Garantias Fundamentais, Faculdade de Direito de Vitória, Vitória, 2006. 55 DIDIER JR. Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 19. ed. Salvador: JusPodivm, 2017. p.109. 56 TUCCI, 2002, p. 327. 19 do que um exame grafotécnico de uma simples assinatura. Contudo, não haverá violação à razoável duração do processo se as etapas da perícia fiscal ou contábil ocorrerem dentro do estritamente necessário, mesmo que com várias fases, conquanto ocorrerá ofensa ao princípio se a verificação da assinatura se protrair indefinidamente no tempo de maneira injustificada. Em relação ao comportamento dos litigantes e seus procuradores (ou, no caso do processo penal, a atuação da acusação e da defesa) excelentes exemplos de dilações indevidas se observam nos excessos de recursos meramente protelatórios ou desnecessários, nos requerimentos para produção de provas inócuas, ou nas demoras injustificadas para devolução de processos físicos retirados dos cartórios, enquanto, em contrapartida, positivos parâmetros se veem na tentativa amigável de transação (em qualquer fase processual), na prática de atos de maneira tempestiva e célere, além de, na fase de saneamento, na colaboração entre advogados e juízes para determinar os pontos controvertidos da lide. Tratando da atuação do órgão jurisdicional exemplifica-se que o respeito à razoável duração do processo é garantido ao se aplicar o princípio da eficiência, previsto no art. 37, caput, da Constituição Federal,57 no gerenciamento dos atos cartoriais, ao passo que se infringe taldispositivo quando o fluxo do processo dentro do cartório possui etapas indevidas, como a remessa ao gabinete do juiz para a prática de atos de mero expediente que deveriam ser praticados de ofício pela secretaria, atrasando o andamento processual. Tal temática é assunto central deste trabalho e será melhor explorado no seu decorrer. Por último, no que tange à estrutura do Poder Judiciário não poderia haver melhor amostra do que a Justiça Federal, totalmente informatizada e a Justiça do Estado do Espírito Santo, ainda se utilizando de processos físicos. Por evidente, os atos e trânsito processuais são significativamente mais rápidos no modelo eletrônico, favorecendo a realização da razoável duração do processo, 57 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 05 set. 2020. 20 enquanto o veículo físico demanda tempo evidentemente maior para o cumprimento das etapas, dificultando a consecução do princípio constitucional. Entende-se, ainda, que o processo terá duração razoável quando transcorrer sem que se protraia indevidamente no tempo, devendo a realização de seus atos respeitar os critérios de necessidade e adequação.58 Como relação jurídica complexa o processo vincula as partes e o juiz para o exercício da jurisdição, sendo sua realização alcançada por meio do procedimento, que acontece como uma sequência ordenada de atos praticados no decorrer do tempo, tendo por escopo a efetiva tutela jurisdicional.59,60,61 Diante dessa lógica, a duração do processo é regulada pela ordem e pelo tempo em que os atos processuais acontecem.62 Sendo assim, haverá irrazoabilidade toda vez que ocorrer descumprimento dos prazos legais na sua execução, ou, se ele forem praticados sem causas que os validem, ou, ainda, se realizados de maneira desnecessária, inadequada ou desproporcional.63 Deduz-se, então, que a razoável duração do processo é o próprio princípio da eficiência aplicado à jurisdição.64 Este princípio está positivado no caput do art. 37 da Constituição Federal65, exigindo observância obrigatória por todos os 58 TEIXEIRA, Bruno Buback; ESTEVES, Carolina Bonadiman. A razoável duração do processo e a deliberação dos atos ordinatórios pela secretaria do juízo. Panóptica. Vitória, vol. 6, n. 2, p. 71-73. 2011. Disponível em: <chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:// www.panoptica.org/seer/index.php/op/article/download/Op_6.2_2011_65-90/29>. Acesso em: 25 jul. 2020. 59 COUTURE, 2007, p. 107. 60 RODRIGUES; LAMY, 2018, p. 24-25. 61 ALCÂNTARA, 2005, p. 66-69. 62 TEIXEIRA; ESTEVES, 2011, p. 72. 63 ESTEVES, Carolina Bonadiman. Direito fundamental à igualdade na duração do processo judicial. REVISTA JURÍDICA ESMP-SP, v. 3, p. 124, 2013. Disponível em: <http://www.esmp.sp.gov.br/revista_esmp/index.php/RJESMPSP/article/view/78>. Acesso em: 25 jul. 2020. 64 ESTEVES, 2013, p. 124. 65 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 25 jul. 2020. 21 Poderes e Entes da Federação, em todas as suas funções e ações, exprimindo- se como excelência, diligência, resposta útil e efetiva.66 Todavia, pesquisa anual realizada (desde 2005) pelo Departamento de Pesquisas Judiciárias, órgão do Conselho Nacional de Justiça, intitulada “Justiça em Números”67, constatou flagrante violação à norma constitucional. Até o ano de 2016 ocorria no Brasil o fenômeno do congestionamento processual, em que mais ações eram ajuizadas do que processos baixados. Somente a partir de 2017 a situação timidamente começou a se inverter, restando ainda cerca de 78,7 milhões de casos pendentes no final de 2018, existindo fundamento concreto na afirmação de que o “[...] maior ‘gargalo’ da demora do processo é o cartório [...]”.68 Outra pesquisa, feita em 2011 pelo Ministério da Justiça, classificou as Varas da Justiça em rápidas e lentas, sendo as primeiras aquelas que cumpriam os prazos previstos em lei; enquanto as últimas, as que os desrespeitavam, concluindo que 72% (setenta e dois por cento) das varas federais e 77% (setenta e sete por cento) das varas estaduais eram lentas, sendo apenas 28% (vinte e oito por cento) das varas federais e 23% (vinte e três por cento) das varas estaduais classificadas como rápidas.69 Adiciona-se ao raciocínio o contemporâneo conceito de responsabilidade civil, visto que toda violação a direito autoriza o prejudicado à retomada do estado anterior, mesmo sendo o próprio Estado o transgressor, entendendo-se que “[...] responsabilizar civilmente o lesante é tornar indene o injustamente lesado”.70 66 MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 66-92 passim. 67 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números 2020. Brasília, p. 93-94, 2020. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/pesquisas-judiciarias/justica-em-numeros/>. Acesso em: 12 set. 2020. 68 BRASIL. Ministério da Justiça. O impacto da gestão e do funcionamento dos cartórios judiciais sobre a morosidade da justiça brasileira: diagnóstico e possíveis soluções. Coordenadora: ESTEVES, Carolina Bonadiman. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria da Reforma do Judiciário, 2011. p. 61. 69 Ibid., p. 63-64. 70 OTONI, Sayury Silva de. RESPONSABILIDADE CIVIL: A EXTENSÃO DO DANO E O DILEMA DA AVALIAÇÃO. Revista Científica FAESA, Vitória, v. 3, n. 1, p. 2, dez. 2007. Disponível em: <http://revista.faesa.br/revista/index.php/Faesa/issue/view/10>. Acesso em: 29 jul. 2020. 22 A título exemplificativo, no direito alienígena encontra-se o caso “CAPUANO versus ITÁLIA”, primeira condenação na história71 da Corte Europeia de Direitos Humanos por desrespeito ao art. 6, “1” do Tratado de Roma, já citado, cujo dispositivo da sentença se apresenta in verbis. FOR THESE REASONS, THE COURT UNANIMOUSLY 1. Holds that there has been a violation of Article 6 § 1 (art. 6-1); 2. Holds that the respondent State is to pay to the applicant the sum of eight million lire (8,000,000 LIT) by way of just satisfaction; 3. Rejects the remainder of the claim for just satisfaction. Done in English and in French, and delivered at a public hearing in the Human Rights Building, Strasbourg, on 25 June 1987.72,73(grifou-se). Embora inexista paradigma de julgados brasileiros,74 o Tribunal Europeu de Direitos Humanos amiúde tem julgado favorável a reparação civil contra Estados como Espanha, Portugal e Itália por excessiva mora na prestação jurisdicional.75 Assim, compreendida a relevância da razoável duração do processo para o provimento da justiça real, observado o atual cenário dos órgãos jurisdicionais e as possíveis repercussões danosas da mora, passa-se a estudar como os atos ordinatórios praticados pelo cartório são ferramentas impreteríveis para sua efetivação. 71 SCHENK, Leonardo Faria. BREVE RELATO HISTÓRICO DAS REFORMAS PROCESSUAIS NA ITÁLIA. UM PROBLEMA CONSTANTE: A LENTIDÃO DOS PROCESSOS CÍVEIS. Revista Eletrônica de Direito Processual, v. 2, n. 2, p. 187-191, 2008. Disponível em: <https://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/23735/16756>. Acesso em 29. Jul. 2020. 72 CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Capuano v. Italy (9381/81). Disponível em: <https://hudoc.echr.coe.int/eng#{%22tabview%22:[%22document%22],%22itemid%22: [%22001-57458%22]}>. Acesso em: 29 jul. 2020. 73 Em tradução livre: 1. Considera que houve violação do artigo 6.º, nº 1 (art. 6-1); 2. Considera que o Estado demandado deverá pagar ao demandante a quantia deoito milhões de liras (8.000.000 LIT) a título de justa satisfação; 3. Rejeita o restante da reclamação por justa satisfação. Feito em inglês e em francês, e proferido em audiência pública no Edifício dos Direitos Humanos, Estrasburgo, em 25 de junho de 1987. 74 BELLINI, 2010, p. 59-60. 75 RODRIGUES, 2018, p. 332. 23 3 ATUAÇÃO DA SECRETARIA DO JUIZO E DURAÇÃO PROCESSUAL Conforme abordado nos capítulos anteriores a razoável duração do processo é um direito fundamental, razão pela qual é amparado por princípios constitucionais, tais como superioridade hierárquica, força normativa e máxima eficácia e efetividade, que em particular, funde-se ao princípio da eficiência76 e tem fundamental importância para o presente estudo. Também já foi comentado que (a morosidade da) Justiça brasileira é quantificada em números desde 2005 pelo relatório “Justiça em Números”77, do Conselho Nacional de Justiça, restando evidenciado que a atividade meio demanda mais tempo que a atividade fim no tocante à jurisdição, com as etapas cartoriais sendo as que mais consomem tempo, chegando à ordem de 50% (cinquenta por cento) à mais que outras fases em algumas situações.78 Face a essas constatações, importa entender como a atividade cartorária retarda o andamento processual e viola a razoável duração do processo. Dentre as causas prováveis de interferir negativamente na marcha processual cartorária, no que concerne à atuação da secretaria do juízo, encontrou-se: erros na execução de tarefas; falta de treinamento; ausência de procedimento operacional;79 rotinas ultrapassadas;80 deficiências estruturais, como falta de recursos materiais ou humanos;81 inexistência de gestão e remessa indevida de atos para o gabinete do juiz,82 foco central desta pesquisa. 76 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 240. 77 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números 2020. Brasília, p. 9-11, 2020. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/pesquisas-judiciarias/justica-em-numeros/>. Acesso em: 12 set. 2020. 78 BECKERS; BARBOSA, 2014, p. 16. 79 BORDASCH, Rosane Wanner da Silva. GESTÃO CARTORÁRIA: controle e melhoria para a razoável duração dos processos p.72. Dissertação (Mestrado Profissionalizante em Poder Judiciário) – Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2008. 80 BORDASCH, op. cit., p. 3, nota 66. 81 ESTEVES, 2013, p. 130. 82 TEIXEIRA; ESTEVES, 2011, p. 66-67. 24 Nesse contexto, oportuno observar a atividade jurídico-cartorária pela ótica da Administração,83 entendendo sua dinâmica como um conjunto integrado, lógico e inter-relacional de etapas, atividades, incumbências e encargos que, a partir de um input (entrada do processo) gerará ao final um output (saída com a decisão), 84 devendo evitar as remessas inúteis ao juiz. Exemplificar-se-á com 2 (duas) situações hipotéticas: no primeiro caso, ocorre o envio do ato ordinatório para despacho do juiz – o cartório analisa o processo e o ato a ser praticado e o coloca na fila para conclusão. O processo, é encaminhado ao gabinete. No gabinete, sofre uma segunda análise, efetuando- se um tipo de triagem, que definirá se tratar de despacho de mero expediente. Segue para a fila, aguardando despacho do magistrado. O juiz pratica o ato. O gabinete devolve o processo ao cartório. Em cada uma dessas fases o processo necessita entrar na fila correspondente a cada ato a ser praticado, aguardando chegar a sua vez. Na segunda hipótese, não há encaminhamento do ato ordinatório para despacho do magistrado – o cartório analisa o processo e o ato a ser praticado. Entra na fila para a prática do ato pela serventia. Pratica-se o ato de mero expediente. Essa abordagem evidencia a diferença de tempo gasto entre as duas situações, demonstrando que o envio desnecessário de atos ordinatórios de mero expediente ao gabinete do juiz para despacho acarreta delonga demasiada no andamento processual, violando a razoável duração do processo.85 A assertiva apresentada se confirma no enunciado do art. 93, XIV, da Constituição Federal, incluído pela mesma EC 45 que pretendeu acelerar o andamento da Justiça, nos dizeres que “os servidores receberão delegação para a prática de atos de administração e atos de mero expediente sem caráter 83 BORDASCH, 2008, p. 33. 84 FERREIRA, André Ribeiro. Gestão de processos: Módulo 3. Brasília: ENAP/DDG, 2013. p. 16-17. 85 TEIXEIRA; ESTEVES, 2011, p.73-75. 25 decisório”86, reafirmado no §4º do art. 203 do Código de Processo Civil ao asseverar que “os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessário”.87 Neste ponto, necessária se faz uma observação. A norma constitucional ora citada utiliza a expressão delegação, enquanto a lei infraconstitucional declara que os atos devem ser praticados de ofício. Embora a primeira seja hierarquicamente superior,88 no decorrer deste trabalho observar-se-á que a razoável duração do processo encontra maior alcance e realização quando a prática dos atos de mero expediente são imputados ao servidor como um dever de ofício pautado em norma posta e não numa delegação do magistrado. A justificativa que sustenta esse entendimento perpassa pela ideia de que um rol, mesmo que não exauriente, concederia segurança jurídica e uniformidade para atuação de todos os cartórios judiciais, enquanto atos de delegação dependem de interpretação de cada juiz, havendo, como se verá, muita heterogeneidade na realidade prática cartorial. Nesses termos, o impacto acarretado pela remessa desnecessária de atos ordinatório para o gabinete do juiz tem magnífico exemplo em estudo realizado em 2010, junto à 8 (oito) Varas Cíveis não especializadas do município de Vitória – ES.89 A pesquisa90 identificou que não havia norma positivada sobre a deliberação de atos ordinatórios diretamente pela secretaria do juízo; que não se julgava importante treinar servidores e estagiários acerca da dispensabilidade de 86 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 25 jul. 2020. 87 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 27 jul. 2020. 88 TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p.115-119. 89 TEIXEIRA; ESTEVES, 2011, p. 75-87. 90 Ibid. 26 conclusão dos autos ao se tratar de atos ordinatórios; e que em metade das varas havia interferência dos magistrados na disposição dos atos ordinatórios. Sobretudo, o estudo em comento91 apontou situação em que o tempo supérfluo gasto com a conclusão dos autos para despacho alcançou 556 (quinhentos e cinquenta e seis) dias; e casos em que os autos sofreram dupla conclusão, acarretando acréscimo médio de 394 (trezentos e noventa e quatro) dias. Em todas as situações o tempo excessivo adveio da remessa indevida ao gabinete, sendo o acréscimo justamente o tempo demandado para a conclusão. Contrário senso, constata-se que a prática de ofício de tais atos é imperativo para a garantia da razoável duração do processo, visto que reduzirá do seu curso o tempo de conclusão desnecessária. Nessa mesma linha, a inexistência positivada dos atos de mero expediente que devam ser praticados de ofício pelo serventuário gera desorganização e insegurança, levando-os a despachodo juiz.92 Assim, no intento de apresentar um rol exemplificativo de quais atos ordinatórios têm de ser executados prontamente pelo servidor, é indispensável o conhecimento acerca dos atos processuais, a ser realizado nos próximos subcapítulos. 3.1 ATOS PROCESSUAIS DO PROCEDIMENTO COMUM Retomando conteúdo já apresentado, o processo é uma relação jurídica múltipla vinculando as partes e o juiz, sendo instrumento para o exercício da jurisdição, 91 TEIXEIRA; ESTEVES, 2011, p. 84-85. 92 TEIXEIRA; ESTEVES, 2011, p. 67. 27 desenvolvendo-se no tempo como sequência lógica e ordenada de atos previstos em lei (atos e sequência), denominada de procedimento, ou rito.93,94,95 Este último, por sua vez, é matéria de ordem pública e cumprimento compulsório,96 dividindo-se em procedimento comum, modelo padrão adotado pela legislação processual, e os procedimentos especiais, para casos excepcionais aos quais lei processual ou extravagante determinou rito distinto, conforme a necessidade de tutela diferenciada.97 O ato processual, é, por dedução, a estrutura basilar do processo, sendo a conduta humana arbitrária capaz de produzir nele efeitos jurídicos tais como a instauração, o desenvolvimento, a modificação ou o encerramento.98,99 A execução dos atos processuais é atribuição dos sujeitos do processo, como as partes, os terceiros interessados e o juiz; mas, também compete aos sujeitos externos à relação jurisdicional, nesse caso, preponderantemente, aos auxiliares da justiça.100 Nesses termos o Código de Processo Civil Brasileiro disciplina sobre os atos dos particulares: “Art. 200. Os atos das partes consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade produzem imediatamente a constituição, modificação ou extinção de direitos processuais”.101 Dessa base legal entende-se que as partes podem praticar atos: postulatórios – requerimentos ao juiz, visando seu pronunciamento; instrutivos – inserem 93 THEODORO JR, 2015, p. 195-196. 94 DIDIER JR, 2017, p. 36. 95 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; Coordenação: WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 10. ed. São Paulo: Revista do Tribunais, 2008. p. 180-181. 96 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: teoria geral e processo de conhecimento (1ª parte). v.1., 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 306. 97 DONIZETI, 2017, p. 477. 98 DIDIER JR, 2017, p. 422. 99 DONIZETI, 2017, p. 477 100 THEODORO JR, 2015. p. 624-626. 101 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 28 jul. 2020. 28 elementos probatórios no processo; dispositivos – ocorre a disposição sobre direito disponíveis; e reais ou materiais – as condutas processuais concretas.102 Passando-se aos atos do magistrado, a norma processualista brasileira assevera: “Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos”. 103 As sentenças são os atos do juiz que encerram a fase cognitiva ou executiva do processo; as decisões interlocutórias são pronunciamentos decisórios, mas sem o condão de encerrar as fases processuais; e os despachos são provimentos jurisdicionais sem conteúdo deliberativo, visando apenas o andamento processual.104 Há, ainda, os acórdãos, disciplinados no art. 204 do códex processualista: “Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais”.105 Existem também os atos entre juízos, a saber, a carta de ordem, a carta precatória e a carta rogatória, em que um juízo requer ou solicita a outro juízo a realização de determinado ato.106 Os atos do magistrado, dada sua importância ao presente estudo, serão retomados no próximo subcapítulo. De outra natureza, entre o artigo 206 e 211 do Código de Processo Civil, tem-se disciplinados os atos do escrivão ou da secretaria do juízo.107 Esses atos realizam etapas meramente burocráticas do serviço jurisdicional.108 102 PINHO, 2017, p. 517-521. 103 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 28 jul. 2020. 104 DONIZETTI, 2017. p. 477-480. 105 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 27 jul. 2020. 106 PINHO, 2017, p. 530-531. 107 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 27 jul. 2020. 108 SANTOS, Ernane Fidelis dos. Manual de direito processual civil: processo de conhecimento. v. 1. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 532. 29 Entende-se que os atos do escrivão, tais como autuações, enumeração de páginas, anotações dos termos de juntada, vista e conclusão, bem como a certificação de ocorrência de manifestação das partes, entre outros, relacionam- se à segurança jurídica, referindo-se à organização administrativa dos autos e ao estabelecimento de uma ordem cronológica no processo.109 Por último, tem-se os atos ordinatórios, objeto maior deste estudo, citados expressamente no Código de Processo Civil, no art. 203, §4º que aduz que “os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessário”.110 Contudo, a presente pesquisa não encontrou na legislação uma definição precisa e líquida de quais atos ordinatórios de mero expediente são autoexecutáveis por toda e qualquer secretaria do juízo, restando ausência legislativa sobre o tema. Verifica-se, então, necessidade de aprofundamento no exame da matéria, primordialmente, em razão do impacto gerado na mora processual. Assim, pretendendo conhecer dos atos delegáveis desprovidos de conteúdo decisório, inicia-se, no próximo subcapítulo, em contrário senso, com o estudo dos atos indeclináveis da autoridade jurisdicional. 3.1.1 Atos Exclusivos do Magistrado A definição dos atos processuais exclusivos do magistrado se faz necessária, vez que os atos ordinatórios, de prática mandatória para a secretaria do juízo, 109 MONTENEGRO FILHO, Misael. Novo Código de Processo Civil Comentado. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2018. p. 240-243. 110 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 27 jul. 2020. 30 encontram-se alocados na seção reservada aos pronunciamentos do magistrado no Código de Processo Civil (art. 203, §4º).111 Os atos do juiz podem ser estudados em duas categorias principais: os provimentos judiciais – atos em que há prolação do juiz, decidindo sobre o processo, seus incidentes, o mérito ou suas condições de existência e confere andamento por via do impulso oficial; e os atos materiais – nos quais se encontram a inquirição das partes, interrogatórios, oitivas, inspeções e demais atos materiais.112 Os atos materiais, ainda, subdividem-se em atos instrutórios e atos de documentação. Assim, a autoridade jurisdicional é emanada nos pronunciamentos; ao passo que os atos instrutórios se prestam à formação do convencimento, como oitivas e demais atos materiais; enquanto os atos de documentação referem-se aoregistro e autenticação de outros atos processuais.113 Como já visto, a carta processualista divide os pronunciamentos do juiz em: sentenças, decisões interlocutórias e despachos. Conceitua-se sentença como ato exclusivo do magistrado, de cunho decisório, que finda a fase de conhecimento ou executiva do processo, podendo ou não apreciar o mérito.114 Entretanto, a sentença não necessariamente extingue o processo, pois é possível a continuidade da relação processual jurisdicional pela impetração de recurso. Contudo, pelo seu conteúdo decisório, põe fim às etapas processuais, denominadas de fase de conhecimento ou de fase de execução.115 111 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 27 jul. 2020. 112 GONÇALVES, 2012, p. 228 113 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. p. 119. 114 BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 282-283. 115 PINHO, 2017, p. 528-529. 31 Por sua vez, as decisões interlocutórias são entendidas como atos decisórios proferidos pelo juiz no curso do processo, sem o poder de encerrar qualquer das fases processuais.116 Em prosseguimento, os despachos tem por finalidade exclusiva movimentar, impulsionar ou ordenar o processo, não possuindo conteúdo decisório, nem carecendo de requerimento das partes, bem como inexistindo previsão de recursos.117 Em suma, prestam-se ao impulso oficial do processo.118 Dentre os atos exclusivos dos órgãos jurisdicionais, encontram-se também os acórdãos, que são as decisões proferidas pelos órgãos colegiados, podendo ter efeitos equivalentes às decisões interlocutórias ou às sentenças.119 Destacam-se, ademais, os atos de cooperação nacional e internacional. São de atos entre juízos, também denominados atos de comunicação. No primeiro caso, tem-se a carta de ordem, a carta precatória e a carta arbitral; enquanto no segundo caso trata-se da carta rogatória.120 A carta de ordem ocorre quando um juízo de hierarquia superior requisita determinado ato de juízo inferior; a carta precatória é empregada quando não há hierarquia, mas há necessidade de cooperação entre juízos de comarcas distintas; a carta arbitral é uma solicitação expedida pelo juízo arbitral para o Poder Judiciário, solicitando a prática de alguma diligência ou ato; e, a carta rogatória é o pedido de colaboração entre juízos de países distintos.121 Contudo, ao se estudar sobre os atos exclusivos do magistrado, constata-se uma singularidade no sistema jurídico brasileiro, a de não haver distinção legal entre os despachos e os atos ordinatórios. Embora ambos não possuam qualquer teor 116 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 10. ed. Salvador: Juspodivm, 2018. p. 419. 117 SCARPARO, Eduardo. Anotações aos artigos 200 a 211. In: OAB. Novo código de processo civil anotado. Porto Alegre: OAB RS, 2015. p. 183. 118 THEODORO JR, 2015, p. 653. 119 SANTOS, 2017, p. 530. 120 PINHO, 2017, p. 530-534. 121 Ibid. 32 decisório, os primeiros são indelegáveis, enquanto os últimos devem ser praticados de ofício pelo servidor. Não obstante, inexiste lei distinguindo os conteúdos de cada ato. Intentando esclarecer essa dúvida, segue-se para o próximo subcapítulo, dedicado à matéria. 3.1.2 Atos Ordinatórios Consta no art. 93, XIV, da Constituição Federal Brasileira que “os servidores receberão delegação para a prática de atos de administração e atos de mero expediente sem caráter decisório”.122 Consoante, o Código de Processo Civil, no art. 203, §4º disciplina que “os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessário”.123 Entretanto, inexiste uma norma posta pelo Poder Legislativo, ou mesmo regra interna de organização do Poder Judiciário, aplicável a todos os órgãos deste poder, que defina quais são os atos ordinatórios previstos no código processualista passíveis de delegação. A lei, no máximo, atribui ao juiz titular a responsabilidade pela regulamentação da matéria, não discorrendo sobre os conteúdos transmissíveis. Art. 152. Incumbe ao escrivão ou ao chefe de secretaria: [...] VI - praticar, de ofício, os atos meramente ordinatórios. 122 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 28 jul. 2020. 123 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 27 jul. 2020. 33 § 1º O juiz titular editará ato a fim de regulamentar a atribuição prevista no inciso VI.124 Necessário, então, distinguir os atos ordinatórios dos despachos, pois, como visto no subcapítulo anterior, esses últimos também não possuem conteúdo decisório, apenas impulsionando o processo. Interessa observar a leitura sistemática do Código de Processo Civil, que identifica os atos ordinatórios alocados na “Seção IV”, “Capítulo I”, Título I” do “Livro IV”, intitulado “Dos Pronunciamentos do Juiz” e não na “Seção V” do mesmo capítulo, denominada “Dos Atos do Escrivão ou do Chefe de Secretaria”.125 Curiosamente, parte dos estudiosos não diferencia os dois atos, entendendo que a prática de ofício pelo servidor se baseia na contemporânea inclinação para a celeridade e efetividade processual.126 Ademais, em face da similaridade entre ambos há quem denomine os despachos de “despachos ordinatórios ou de expediente”.127 Por outro lado, distinguindo os conceitos, há quem assegure terem os despachos um teor deliberatório mínimo, enquanto os atos ordinatórios são desprovidos de qualquer conteúdo decisório.128 Sustenta esse entendimento o Provimento 62/2017, da Corregedoria Regional do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por ordem de seu art. 221, que expressa uma relação de 36 (trinta e seis) atos processuais que prescindem de decisão judicial, elencando, no §2º, um rol negativo, com 9 (nove) atos indelegáveis, justamente pelo teor mínimo decisivo, conforme observável na leitura. 124 Ibid. 125 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 28 jul. 2020. 126 PINHO, 2017, p. 527-528. 127 THEODORO JR, 2015. p. 653-657. 128 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 10. ed. Salvador: Juspodivm, 2018. p. 421. 34 Art. 221 [...] § 2º Não são passíveis de delegação: a) a determinação para emenda da petição inicial nos termos do art. 321 do CPC; b) o cancelamento de audiências a pedido e que dependa de análise subjetivada justificativa; c) as nomeações de curador e de advogado dativo; d) a análise da necessidade de produção de prova pericial, salvo em caso de pedido de benefício por incapacidade; e) a dilação de prazo, salvo se não peremptório e por uma única vez; f) as requisições de pagamento; g) a destinação de bens apreendidos; h) a determinação de juntada de documentos para instrução de pedido de liberdade provisória; i) a audiência admonitória no processo de execução penal.129 (grifou- se). Nesse condão, distinguindo os atos, tem-se que os despachos seriam gênero do qual os atos ordinatóriossão espécie, cuja natureza meramente administrativa permite delegação.130 Por último, é possível diferenciar os despachos dos atos ordinatórios em função do saber técnico-jurídico exigido para sua consecução. Entende-se que “quando a providência independe de conhecimento técnico-jurídico, deve ser adotada por serventuário, sem necessidade de chancela jurisdicional”131, restando ao magistrado somente atos que exijam conhecimento acerca do Direito. Tais raciocínios assentam-se na inteligência de que a atuação do magistrado, não deve “[...] se perder em questiúnculas formais secundárias”;132 129 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Provimento nº 62, de 13 de junho de 2017. Dispõe sobre a Consolidação Normativa da Corregedoria Regional da Justiça Federal da 4ª Região. Corregedoria Regional. Corregedor Regional da Justiça Federal da 4ª Região Celso Kipper. Diário Eletrônico Da Justiça Federal da 4ª Região. Disponível em: <chrome- extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https://www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download. php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2 017_06_23_a.pdf>. Acesso em 28 jul. 2020. 130 BUENO, 2017, p. 282-283. 131 MONTENEGRO FILHO, 2018, p. 239. 132 THEODORO JR, 2015, p. 115-116. chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2017_06_23_a.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2017_06_23_a.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2017_06_23_a.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2017_06_23_a.pdf 35 Embora permaneça tênue a diferença, pode-se concluir que os atos de mero expediente autoexecutáveis pelo servidor são então as ações, atividades e responsabilidade administrativas-operacionais que os agentes do cartório devem ter na qualidade de atores junto ao processo. Em outras palavras, é o cartório garantindo a eficiência por meio da atividade administrativo-gerencial diretamente aplicada ao processo, com ações que lhe são pertinentes (tal qual máquina administrativa do Estado) e não fazem parte do escopo decisório-jurisdicional. Esboçada a separação entre despachos de atos ordinatórios, pretende-se, no capítulo seguinte, melhor demarcar essa distinção por meio da exposição de um rol exemplificativo dos atos que devem ser praticados de oficio pela secretaria do juízo como garantia da razoável duração do processo. 36 4 ATOS ORDINATÓRIOS INVESTIDOS À SECRETARIA DO JUÍZO Até o presente, discorreu-se sobre o monopólio da jurisdição estatal, conceituou- se a razoável duração do processo, apresentou-se o panorama atual do fluxo temporal na Justiça brasileira e diferenciaram-se os atos processuais, com ênfase aos atos do magistrado e ordinatórios. Quanto a estes últimos, delineou-se a fina separação que os distingue dos despachos. Doravante, pretende-se, com fulcro em iniciativas isoladas de diversos tribunais e juízes singulares, apresentar um rol exemplificativo, no procedimento comum, de quais atos devem ser praticados de imediato pelo serventuário, sem conclusão para o magistrado. Para tanto, efetuar-se-á uma compilação de vários documentos positivados, adaptando-os à realidade cível, ou utilizando-os como base teórica, dentre os quais: Portaria nº 2/2020133, da 2ª Vara de Família do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios; Portaria nº 8/2020134, do Juizado Especial Federal Cível de São Paulo; Portaria nº 2/2019135, da 2ª Vara de Órfãos e 133 DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Portaria 02 de 04 de fevereiro de 2020. Estabelece mecanismos para agilizar o impulso oficial dos processos em tramitação na 2ª Vara de Família e de Órfãos e Sucessões da Circunscrição Judiciária do Paranoá – DF. Juiz de Direito da 2ª Vara de Família e de Órfãos e Sucessões da Circunscrição Judiciária do Paranoá – DF Marcelo Castellano Junior. DJ-E 05 fev. 2020. Disponível em: <https://www.tjdft.jus.br/publicacoes/publicacoes-oficiais/portarias-serventias- judiciais/2020/portaria-2vfospar-2-de-04-02-2020>. Acesso em: 30 jul. 2020. 134 SÃO PAULO. Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Portaria SP-J EF-P RES nº 8, de 04 de junho de 2020. Consolidação dos atos ordinatórios expedidos no âmbito do Juizado Especial Federal de São Paulo, em virtude do novo Código de Processo Civil em vigor e dos fluxos internos de gerenciamento processual. Juíza Federal Presidente do Juizado Especial Federal Cível de São Paulo, Maria Vitória Maziteli de Oliveira. Diário Eletrônico da Justiça Federal da 3ª Região. 05 jun. 2020. Disponível em: <chrome- extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http://web.trf3.jus.br/diario/Consulta/BaixarP df/24177>. Acesso em: 30 jul. 2020. 135 ESPÍRITO SANTO. 2ª Vara de Órfãos e Sucessões de Vitória. Portaria 02/2019. Delega a prática de todo ato de mero expediente/atos ordinatórios, não decisório, aos servidores da segunda vara de órfãos e sucessões de vitória/es, sob a coordenação do analista judiciário especial ou do chefe de secretaria. Juiz de Direito José Francisco Milagres Rabello. DJ-E 4 out. 2019. Disponível em: <https://sistemas.tjes.jus.br/ediario/index.php/component/ediario/875111?view=content>. Acesso em: 30 jul. 2020. 37 Sucessões de Vitória, Espírito Santo; Portaria nº 1/2019136, da 2ª Vara Federal da Seção Judiciária do Amazonas; Portaria nº 1/2018137, da Vara do Trabalho de Iturama, Minas Gerais; Provimento nº 62/2017138, da Corregedoria Regional do Tribunal Regional Federal da 4ª Região; Portaria nº 744/2016139, expedida pelas Desembargadoras Federais Vânia Hack de Almeida e Salise Monteiro Sanchotene, vinculadas ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região; Portaria nº 1/2016140, da 1ª Vara do Trabalho de Gramado, Rio Grande do Sul; Portaria nº 1/2015141, expedida pelo Terceiro Vice Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro; Portaria 001/2014142, da Vara Única do Trabalho De Limoeiro Do Norte, Estado do Ceará; Provimento nº 2/2013143, do Tribunal 136 AMAZONAS. 2ª Vara da Seção Judiciária do Amazonas. Portaria 001, de 02 de abril de 2019. Juiz Federal Marllon Souza. Disponível em: < chrome- extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https://trf1.jus.br/dspace/bitstream/123/2040 87/1/Portaria%20ato%20ordinat%C3%B3rio%202019.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2020. 137 MINAS GERAIS. Vara do Trabalho de Iturama. Portaria nº 1, de 25 de abril de 2018. Regulamenta a prática de atos meramente ordinatórios nos termos do artigo 203 §4º do CPC e artigo 93 inciso XIV da Constituição Federal. Juiz do Trabalho Marco Aurélio Ferreira Clímaco dos Santos. Disponível em: <chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/ http://as1.trt3.jus.br/bd-trt3/bitstream/handle/11103/36022/PORTARIA%20VTITUR%20N.%201 %2C%20DE%2025%20DE%20ABRIL%20DE%202018.pdf?sequence=4&isAllowed=y>. Acesso em: 30 jul. 2020. 138 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Provimento nº 62, de 13 de junho de 2017. Dispõe sobre a Consolidação Normativa da Corregedoria Regional da Justiça Federal da 4ª Região. Corregedoria Regional. Corregedor Regional da Justiça Federal da 4ª Região Celso Kipper. Diário Eletrônico Da Justiça Federal da 4ª Região. Disponível em: <chrome- extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https://www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2 017_06_23_a.pdf>. Acesso em 28 jul. 2020. 139 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Portaria nº 744, de 21 de julho de 2016. Estabelece atos ordinatórios a serem praticados pelos servidores lotados nos gabinetes das Desembargadoras Federais Vânia Hack de Almeida e Salise Monteiro Sanchotene. Diário Eletrônico Da Justiça Federal da 4ª Região. Porto Alegre, 08 ago. 2016. Disponível em: <chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/ /www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdo csa%2Fde_adm_20160808161002_2016_08_08_a.pdf>. Acesso em 30 jul. 2020. 140 RIO GRANDE DO SUL. 1ª Vara do Trabalho de Gramado. Portaria nº 1/2016 da 1ª Vara do Trabalho de Gramado. Justiça do Trabalho da 4ª Região. Disponível em: <chrome- extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http://www.trt4.jus.br/ItemPortlet/download/7 0531/Gramado_-_1Ae_Vara_do_Trabalho_-_Portaria_nAu_01.2016_(doc).pdf>. Acesso em: 30 jul. 2020. 141 RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça. Portaria 3VP nº 01/2015. Delega atos ordinatórios. Terceiro Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Desembargador Celso Ferreira Filho. Disponível em: < chrome- extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/1492 484/portaria-3VP-01-20151.pdf.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2020. 142 CEARÁ. Única Vara do Trabalho de Limoeiro do Norte. Portaria nº 1, de 25 de fevereiro de 2014. Juiz do Trabalho Konrad Saraiva Mota. Limoeiro do Norte. Disponível em: < chrome- extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http://www.trt7.jus.br/files/atos_normativos/p ortarias_vt/portarias_vt_limoeiro/2014/PORT_1-2014.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2020. 143 BAHIA. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Provimento 002, de 26 de setembro de 2013. Elenca os atos processuais cuja realização independe de despacho, conforme autorizado chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2017_06_23_a.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2017_06_23_a.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2017_06_23_a.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2017_06_23_a.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20160808161002_2016_08_08_a.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20160808161002_2016_08_08_a.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20160808161002_2016_08_08_a.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/www.trt7.jus.br/files/atos_normativos/portarias_vt/portarias_vt_limoeiro/2014/PORT_1-2014.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/www.trt7.jus.br/files/atos_normativos/portarias_vt/portarias_vt_limoeiro/2014/PORT_1-2014.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/www.trt7.jus.br/files/atos_normativos/portarias_vt/portarias_vt_limoeiro/2014/PORT_1-2014.pdf 38 Regional Federal da 5º Região; e Portaria nº 1/2013144, da 16ª Vara do Trabalho de Fortaleza, adaptando-se à realidade civilista quando necessário. Ter-se-á por base o raciocínio de que “[...] os atos ordinatórios têm duas finalidades primordiais: regularizar a tramitação de processos e promover seu andamento”.145 Isso posto, passa-se ao rol exemplificativo de atos de mero expediente autoexecutáveis pela secretaria do juízo. Reitere-se que o próximo subcapítulo é dedicado à sistematização dos atos ordinatórios colhidos nas iniciativas já positivadas por juízes e tribunais. Essa organização em tópicos é nuclear para o presente trabalho visto que as portarias e provimentos, em regra, não o fazem de maneira estruturada por assunto ou tema, dificultando a execução das atividades pelos serventuários e prejudicando a consagração da razoável duração do processo por meio da atividade cartorial. Nas parcas ocasiões em que se observou algum grau de categorização a metodização utilizada demonstrou-se incipiente e pouco apta a cumprir o mandamento constitucional. Assim, optou-se por sistematizar os atos de mero expediente de forma compartimentada, tornando simples, organizada e didática sua compreensão, gerando elevado grau de transparência, facilitando a operação e efetivando a realização da razoável duração do processo por meio da segurança jurídica oferecida ao serventuário para a autoexecutoriedade de tais atos. pelo art. 162, parágrafo 4º do CPC e disciplina as rotinas da Secretaria da Turma Regional de Uniformização de Jurisprudência da 5ª Região – TRU. Desembargador Federal Lazaro Guimarães. Disponível em: < chrome- extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http://jef.trf5.jus.br/resolucoes/PDFsNorma s/provimentos/TRF/PROVIMENTO%20N%20002.pdf >. Acesso em 30 jul. 2020. 144 CEARÁ. 16º Vara do Trabalho de Fortaleza. Portaria nº 1, de 06 de maio de 2013. Dispõe sobre a prática de atos meramente ordinatórios pelos servidores da 16ª Vara do Trabalho de Fortaleza. Juíza do Trabalho Aldenora Maria de Souza Siqueira. Fortaleza. Disponível em: < chrome- extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http://www.trt7.gov.br/files/atos_normativos/ portarias_vt/portarias_16vt_fortaleza/2013/PORT_1-2013.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2020. 145 SERGIPE. Tribunal de Justiça. Ato Ordinatório – Manual da Secretaria – Serviço Interno I. 2018. Disponível em: <https://www.tjse.jus.br/portal/arquivos/documentos/publicacoes/ manuais/area-judicial/manual-da-secretaria/Servico-Interno-I/servico-interno-1.html? {388046AA-C0D1-4E44-8BC5-AFE3CE2B9BD8}.htm>. Acesso em: 30 jul. 2020. chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/jef.trf5.jus.br/resolucoes/PDFsNormas/provimentos/TRF/PROVIMENTO%20N%20002.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/jef.trf5.jus.br/resolucoes/PDFsNormas/provimentos/TRF/PROVIMENTO%20N%20002.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/jef.trf5.jus.br/resolucoes/PDFsNormas/provimentos/TRF/PROVIMENTO%20N%20002.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/www.trt7.gov.br/files/atos_normativos/portarias_vt/portarias_16vt_fortaleza/2013/PORT_1-2013.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/www.trt7.gov.br/files/atos_normativos/portarias_vt/portarias_16vt_fortaleza/2013/PORT_1-2013.pdf chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/www.trt7.gov.br/files/atos_normativos/portarias_vt/portarias_16vt_fortaleza/2013/PORT_1-2013.pdf 39 4.1 ROL DE ATOS ORDINATÓRIOS São atos meramente ordinatórios, cuja execução independe de decisão do magistrado: 4.1.1 Atos de mero impulso oficial Os atos apresentados nesse subcapítulo fomentam a consagração da razoável duração do processo em razão de serem absolutamente administrativos, sendo uma parcela burocrática do processo que sequer tangenciam qualquer medida decisória. Tratam tão somente do aspecto cartorial da gestão processual, por isso não devendo ser conclusos ao magistrado, o que seguramente acarretaria em demora desnecessária, destoando da função precípua do juiz, julgar aplicando a lei ao caso concreto, como já abordado anteriormente. Esses atos
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