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Os Atos Ordinatórios do Procedimento Comum Cível Praticados pela Secretaria do Juízo como Garantia da Razoável Duração do Processo

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FAESA – CENTRO UNIVERSITÁRIO ESPÍRITO-SANTENSE 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
RONNY FAVARO WUNDERLICH 
 
 
 
 
 
 
OS ATOS ORDINATÓRIOS DO PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL 
PRATICADOS PELA SECRETARIA DO JUÍZO COMO GARANTIA DA 
RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VITÓRIA 
2020 
RONNY FAVARO WUNDERLICH 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS ATOS ORDINATÓRIOS DO PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL 
PRATICADOS PELA SECRETARIA DO JUÍZO COMO GARANTIA DA 
RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO 
 
 
 
 
 
Projeto de pesquisa apresentado no curso de 
Direito do FAESA Centro Universitário Espírito-
Santense, como requisito parcial para avaliação na 
disciplina de Projeto de Pesquisa Aplicada. 
 
Orientador: Prof. Me. Bruno Buback Teixeira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
VITÓRIA 
2020 
 
RONNY FAVARO WUNDERLICH 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faesa – 
Centro Universitário Espírito-Santense, como requisito parcial para obtenção do 
Título de Bacharel em Direito. 
 
 
 
 
 
OS ATOS ORDINATÓRIOS DO PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL 
PRATICADOS PELA SECRETARIA DO JUÍZO COMO GARANTIA DA 
RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
BRUNO BUBACK TEIXEIRA 
Orientador 
__________________________ 
PATRÍCIA BERSAN PINHEIRO 
DE PAIVA GONÇALVES 
__________________________ 
SAYURY SILVA DE OTONI 
 __________________________ 
 
VITÓRIA/ES, 11 DE NOVEMBRO DE 2020. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à ciência e a todos os 
seus colaboradores, que com dedicação e 
esforços ampliam os horizontes da 
humanidade, afastando-a das trevas da 
ignorância. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre 
ombros de gigantes”. 
 
(Isaac Newton) 
 
 
RESUMO 
 
 
A presente pesquisa tem por escopo apresentar uma lista de atos de mero 
expediente que devem ser praticados pela secretaria do juízo sem a necessidade 
de chancela do magistrado. O tema recebe pouca atenção da literatura, embora 
essencial à efetivação da razoável duração do processo. A falta de positivação 
legal sobre a matéria é fator de insegurança jurídica aos serventuários e 
operadores do Direito, acarretando mora no andamento processual, motivo que 
sustenta a importância do estudo sobre o tema. Para atingir o objetivo desejado, 
necessário se faz perpassar por temas como monopólio a jurisdição estatal, 
Emenda Constitucional nº 45/2004, razoável duração do processo, atuação da 
secretaria do juízo, atos processuais, atos do magistrado e atos ordinatórios, 
discorrendo sobre cada um desses tópicos. Ao final, apresentar-se-á um rol 
segmentado de cada tipo de ato, intentando distinguir quais são os exclusivos 
do magistrado e quais são os autoexecutáveis pelos serventuários da Justiça. 
 
Palavras-chave: razoável duração do processo; atos de mero expediente; atos 
ordinatórios. 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7 
1 MONOPÓLIO DA JURISDIÇÃO ESTATAL ................................................ 9 
1.1 EMENDA CONSTITUCIONAL nº 45/2004 .......................................... 14 
2 RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO ................................................ 17 
3 ATUAÇÃO DA SECRETARIA DO JUIZO E DURAÇÃO PROCESSUAL 23 
3.1 ATOS PROCESSUAIS DO PROCEDIMENTO COMUM .................... 26 
3.1.1 Atos Exclusivos do Magistrado ................................................. 29 
3.1.2 Atos Ordinatórios ....................................................................... 32 
4 ATOS ORDINATÓRIOS INVESTIDOS À SECRETARIA DO JUÍZO ........ 36 
4.1 ROL DE ATOS ORDINATÓRIOS........................................................ 39 
4.1.1 Atos de mero impulso oficial ..................................................... 39 
4.1.2 Atos de notificação ..................................................................... 42 
4.1.3 Atos de Intimação ....................................................................... 43 
4.1.4 Atos de remessa ......................................................................... 45 
4.1.5 Atos facilitadores da execução ................................................. 46 
4.1.6 Atos auxiliares da colaboração entre juízos ............................ 50 
4.1.7 Considerações sobre os atos ordinatórios .............................. 51 
5 CONCLUSÃO ............................................................................................ 53 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 54 
 
 
 
7 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho é uma proposta prática de elencar um rol exemplificativo de 
atos ordinatórios do procedimento comum, autoexecutáveis pela secretaria do 
juízo, como mecanismo de concretização da razoável duração do processo. 
 
Desta sorte, ao final do trabalho propõe-se responder à pergunta: quais atos 
ordinatórios do procedimento comum necessitam ser praticados de ofício pela 
secretaria do juízo como garantia da razoável duração do processo? 
 
Nesse intento, iniciar-se-á abordando sobre o monopólio da jurisdição estatal, ou 
seja, os mecanismos que levaram o Estado a assumir a responsabilidade de 
pacificar a sociedade, solucionando os conflitos por meio da lei. 
 
Em seguida, definir-se-á a razoável duração do processo distinguindo-a de 
conceitos como velocidade, fugacidade ou urgência. 
 
Mais adiante, o mote será pautado em demonstrar os atos processuais, 
especialmente aqueles praticados pelos órgãos jurisdicionais, especificando os 
atos exclusivos dos magistrados e investidos aos serventuários. 
 
Por último, arriscando num terreno bastante inexplorado, apresentar-se-á um rol 
classificatório de atos ordinatório de mero expediente que devem ser praticados 
pelo servidor como garantia à efetividade da razoável duração do processo. 
 
A fim de consagrar esse objetivo, utilizar-se-á de pesquisa bibliográfica, 
buscando sustentação na doutrina, em publicações científicas e no ordenamento 
jurídico, tendo por base livros, artigos, dissertações e teses acadêmicos; sítios 
oficiais na internet; legislação e demais atos normativos; bem como 
entendimentos e pronunciamentos de tribunais e juízos. 
 
 
 
8 
 
Em suma, o problema que enseja a investigação é a percepção corrente, visível 
a qualquer cidadão, de que a Justiça Brasileira é cara, morosa, ineficiente, 
abarrotada de demandas e, por vezes, injusta, com processos em que se sabe 
a data do ajuizamento, mas sequer se vislumbra a data em que haverá baixa. 
 
9 
 
1 MONOPÓLIO DA JURISDIÇÃO ESTATAL 
 
O fundamento para a compreensão de que a realização de ofício dos atos 
ordinatórios pela secretaria do juízo configura mecanismo prático e 
indispensável para a concretização da razoável duração do processo tem raízes 
na obrigação assumida pelo Estado de tutelar os direitos individuais e da 
coletividade.1 
 
É sabido que desde os mais remotos tempos o Homo sapiens sempre viveu em 
sociedade.2 A condição relacional que mantém com os demais homens 
proporciona inúmeras vantagens aos seres humanos, mas, também, enseja 
situações que favorecem o conflito.3 
 
Visando harmonizar as relações e solucionar possíveis divergências todas as 
sociedades humanas, mesmo com as mais distintas características, possuem 
em comum a existência de um conjunto mínimo normativo capaz de regular a 
vida coletiva,4 podendo-se asseverar que inexiste sociedade sem o Direito.5 
 
Historicamente, resolvem-se os interesses resistidos de quatro formas distintas, 
podendo ocorrer, ou não, coexistência das formas em cada época ou lugar, 
sendo elas a autodefesa; a autocomposição (incluídas a mediação e a 
conciliação); a arbitragem e a jurisdição.6,7A autodefesa, ou autotutela, aduz que o mais forte impõe sua força sobre o mais 
fraco. Ocorre normalmente na ausência ou apatia do Estado. De origem mais 
 
1 WERNECK, Ana Carla. A administração judiciária, na figura do juiz-gestor como meio para 
a concretização do direito fundamental à duração razoável do processo no contexto atual. 
p. 11-33 passim. Dissertação (Mestrado em Direitos Fundamentais e Democracia) - Centro 
Universitário Autônomo do Brasil, Curitiba: UniBrasil, 2016. 
2 DALLARI. Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 30. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2011. p. 22-23. 
3 ALVIM, José Eduardo Carreira. Teoria geral do processo. 21. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: 
Forense, 2018. p. 20-23. 
4 RODRIGUES, Horácio Wanderlei; LAMY, Eduardo de Avelar. Teoria geral do processo. 5. ed. 
rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2018. p. 19. 
5 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido 
Rangel. Teoria Geral do Processo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 25. 
6 RODRIGUES; LAMY, op. cit. p. 20, nota 4. 
7 CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, op. cit. p. 26-30, nota 5. 
10 
 
primária, tem por característica a inexistência de um julgador imparcial.8 Via de 
regra, é proibida pelo Direito e pode acarretar em desordens sociais e riscos 
àqueles que escolhem operá-la.9 
 
A autocomposição trata da solução das incompatibilidades pelos próprios 
interessados, sem imposição externa. Pode depender unilateralmente do autor 
– renúncia ou desistência; do réu – submissão ou reconhecimento; ou, ser 
bilateral, denominada transação.10 A mediação e conciliação também estão 
nesta categoria, mas já inserem um terceiro indivíduo para auxiliar a negociação 
da solução, diferindo entre elas no grau de participação desse ator.11 
 
A arbitragem, dissente substancialmente dos meios autocompositivos pela 
possibilidade de o árbitro, livremente eleito pelas partes, fixar a decisão aos 
litigantes, solucionando as desavenças e impondo um julgamento. Entretanto, os 
interessados devem ter anteriormente se sujeitado ao veredito deste decisor e 
apenas pode-se tratar de direitos disponíveis de pessoas capazes.12 
 
Todavia, tanto os métodos autocompositivos quanto a arbitragem, embora 
positivados e encorajados pelo ordenamento jurídico pátrio, por vezes esbarram 
na necessidade de ato volitivo, ou do consenso, nem sempre conseguidos dos 
contendores.13 
 
Assume-se então “[..] a ideia de que o governo civil devia [deve] regular os atos 
civis dos cidadãos, mas que isso tinha [tem] que ser feito de acordo com uma 
regra, uma lei”.14 
 
 
 
8 RODRIGUES; LAMY, 2018, p. 20. 
9 MONNERAT, Fábio Victor da Fonte. Introdução ao estudo do direito processual civil. 3. ed. 
São Paulo: Saraiva, 2018. p. 67. 
10 ALVIM, 2018, p. 26-27. 
11 RODRIGUES; LAMY, 2018, p. 21-22. 
12 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito processual civil contemporâneo: teoria geral 
do processo. v. 1. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 49. 
13 MONNERAT, loc. cit. 
14 GARCIA, Talita Cristina. A paz como finalidade do poder civil: o Defensor pacis de Marcílio 
de Pádua (1324). p. 85. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em 
História Social, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. 
11 
 
Faz-se, assim, necessária a jurisdição, uma das pedras angulares deste estudo 
como observar-se-á no seu decorrer. Resultado de um Estado capaz de impor 
as suas decisões, é uma manifestação do dever estatal de pacificar a sociedade 
na busca por alcançar o bem comum e a justiça, tendo por mecanismo realizador 
a aplicação do direito.15 
 
Importantíssima a percepção de que no uso da jurisdição como solução de 
controvérsias o Estado substitui a vontade das partes e atua de forma imparcial, 
declarando o direito no caso concreto, sendo em última análise uma expressão 
da sua soberania.16 
 
Esta última, a soberania, encontra-se inserta na concepção de Estado como um 
de seus elementares constitutivos, junto do território (sua área física), do povo 
(unidade humana) e da finalidade (o bem comum).17 Ela sustenta a própria 
existência do Estado moderno, consolidando-se como uma de suas instituições 
jurídicas basilares, capaz de solucionar os conflitos e permitir a coexistência 
social, tendo nas normas jurídicas os principais arquétipos de conduta.18 
 
Pode-se dizer então que a jurisdição é a expressão da soberania manifesta na 
forma de atividade típica do Poder Judiciário. Uma vez provocado, de maneira 
neutra e seguindo o descrito nas leis, assevera o direito, dirimindo os conflitos e 
pacificando a sociedade com justiça.19 
 
Em essência, presta-se a “[...] asegurar la justicia, la paz social y demás valores 
jurídicos, mediante la aplicación, eventualmente coercible, del derecho”.20 
 
 
15 CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 30-31. 
16 ALCÂNTARA, Fabio Bonomo de. Tutela de urgência ambiental na ação civil pública. p. 62-
63. Dissertação (Mestrado em Direitos e Garantias Fundamentais) - Programa de Pós-
Graduação em Direitos e Garantias Fundamentais, Faculdade de Direito de Vitória, Vitória, 2005. 
17 DALLARI, 2011, p. 59-122 passim. 
18 GONÇALVES, Patrícia Bersan Pinheiro de Paiva. Internacionalização da Amazônia? p. 30-
31. Dissertação (Mestrado em Direito) – Curso de Pós-Graduação em Direito da Universidade 
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001. 
19 PINHO, 2017, p. 166-174. 
20 COUTURE. Eduardo Juan. Fundamentos del derecho procesal civil. 4. ed. Colección: 
Maestros del Derecho Procesal. n. 1. Coordinada: Eduardo Vescovi. Montevideo: Júlio Cezar 
Faria Editor. 2007. p. 29. 
12 
 
Desta maneira, a jurisdição vem constituída do poder de império, pretendendo 
com seus pronunciamentos compor os conflitos sociais por meio da autoridade 
estatal exclusiva e da força normativa do Direito, configurando-se num 
monopólio do Estado.21 
 
Neste teor, já há muito se assentava acerca do elevadíssimo grau de segurança 
alcançado nas sociedades em que o Direito possui a exclusividade da coerção, 
tendo como seu operador o Estado-juiz.22 
 
Entretanto, o monopólio da jurisdição também confere ao Estado a obrigação de 
solucionar todos os conflitos que lhe forem apresentados. Essa função lhe é 
indeclinável e inafastável, não lhe sendo permitido recusar ou outorgar essa 
responsabilidade. Tamanha severidade dessa incumbência que nem mesmo a 
ausência de norma sobre a matéria exime o Estado de dirimir o conflito social.23 
 
Nessa direção, a fim de concretizar seus fins, a jurisdição se apresenta com as 
seguintes características: secundariedade – o Estado age em segundo lugar ao 
coagir, pois em princípio os indivíduos poderiam ter autocomposto a lide ou 
cumprido a decisão; instrumentalidade – dispositivo de submissão às ordens; 
declaratividade ou executividade – pronuncia acerca da norma jurídica pertinente 
ou fazendo-as cumprir; inercialidade – para agir o juiz carece de provocação; 
definitividade – as decisões tornam-se imutáveis com o passar do tempo; e, 
substitutividade – característica que veda a autotutela impondo ao Estado a 
obrigação de resolver os problemas sociais. 24,25 
 
Dessa forma, retomando-se o raciocínio iniciado no primeiro parágrafo deste 
capítulo, o julgamento tempestivo das demandas sociais é também obrigação do 
Estado por via de consequência, vez que a procrastinação de uma lide no tempo 
 
21 CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 147-148. 
22 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução: João Baptista Machado. 6. ed. São Paulo: 
Martins Fontes, 1998. p.26-27, 
23 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 20. ed. rev., atual. e ampl. 
São Paulo: Atlas, 2017. p.76-77. 
24 THEODORO JR. Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do direito 
processual civil, processode conhecimento e procedimento comum. v. I. 56. ed. rev., atual. e 
ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2015.174-176. 
25 PINHO, 2017, p. 174-176. 
13 
 
afasta a jurisdição de sua finalidade, majora a incerteza e aumenta a 
vulnerabilidade social.26 
 
A prestação jurisdicional tardia contraria a lógica do bem comum e da paz 
coletiva, pois as mazelas decorrentes da demora em solucionar os conflitos 
ultrapassam a área jurídica, atingindo a economia e o desenvolvimento social, 
afetando não somente os litigantes, mas o grupo como um todo.27,28 
 
Ressalte-se que a justiça prestada de forma intempestiva é o mesmo que a sua 
denegação, haja vista a deterioração dos direitos ocasionada pelo escoar do 
tempo. 29,30 
 
De tão notável e constante a morosidade na jurisdição que há tempos é 
considerada a causa primária da crise do Poder Judiciário, sendo consenso entre 
juristas e leigos que a Justiça é excessivamente lenta.31 
 
Visando solucionar o problema da lentidão diversos países positivaram em seus 
ordenamentos jurídicos mecanismos para tornar mais rápida a prestação 
jurisdicional, iniciando-se pela Convenção Europeia para Salvaguarda dos 
Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, assinada em 4 de 
novembro de 1950 (Tratado de Roma), prevendo no art. 6º, “1”, que toda pessoa 
tem direito ao exame de sua causa em prazo razoável, seguida pelas 
constituições mexicana (art. 17), italiana (art. 111), espanhola (art. 24), argentina 
 
26 TEIXEIRA, Bruno Buback. O direito fundamental à igualdade e a ordem de julgamento dos 
processos judiciais. p. 35. Dissertação (Mestrado em Direitos e Garantias Fundamentais) - 
Programa de Pós-Graduação em Direitos e Garantias Fundamentais, Faculdade de Direito de 
Vitória, Vitória, 2010. 
27 SOUZA, Artur César de. Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimento: 1. Celeridade 
processual e a máxima da razoabilidade no novo CPC (Aspectos positivos e negativos do art. 4.º 
do novo CPC). Revista de Processo, v. 246, p. 3, ago. 2015. Disponível em: <chrome-
extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/do
cumentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/
RPro_n.246.02.PDF>. Acesso em: 23 set. 2020. 
28 WERNECK, 2016, p. 27. 
29 TUCCI, José Rogério Cruz e. Tempo e processo: uma análise empírica das repercussões do 
tempo na fenomenologia processual (civil e penal). São Paulo: RT, 1997. p.12-87 passim. 
30 TUCCI, José Rogério Cruz e. Garantia do processo sem dilações indevidas: responsabilidade 
do Estado pela intempestividade da prestação jurisdicional. Revista Da Faculdade De Direito, 
Universidade De São Paulo, n. 97, p. 323-345, jan. 2002. Disponível em: 
<http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67551>. Acesso em: 23 jul. 2020. 
31 TUCCI, op. cit., p.13-14, nota 28. 
chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RPro_n.246.02.PDF
chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:/www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RPro_n.246.02.PDF
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http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67551
14 
 
(art. 43), colombiana (art. 86), boliviana (art. 16), americana (sexta emenda) e 
canadense (art. 11, b), que exprimem cláusulas de julgamento ágil.32,33,34 
O Brasil, seguindo nessa direção, incorporou em seu conjunto normativo, por 
advento do Decreto nº 678/9235, a Convenção Americana sobre Direitos 
Humanos, também chamado de Pacto de São José da Costa Rica, que em seu 
art. 7º, “5”, assevera sobre o direito a um julgamento em prazo razoável.36 
 
Esse movimento, assentado no monopólio da jurisdição estatal, aliado à 
crescente demanda social por soluções advindas do Poder Judiciário, que 
costumeiramente encontra obstáculo na demora deste poder em produzir 
respostas efetivas, e nos custos decorrentes dessa morosidade, ensejou uma 
ampla reforma do Poder Judiciário, com alterações de diversos dispositivos 
constitucionais e, mais concentrado no objeto deste estudo, a primeira alteração 
no art. 5º da Constituição Federal na história,37 conforme será melhor explorado 
no próximo subcapítulo. 
 
 
1.1 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004 
 
No Diário Oficial da União de 31 de dezembro de 2004 foi publicada a Emenda 
Constitucional nº 45 (EC 45), promulgada em 8 de dezembro do mesmo ano, 
resultado de um trabalho iniciado em 1974, quando os ministros do Supremo 
 
32 WERNECK, 2016, p. 190. 
33 TEIXEIRA, 2010, p. 38. 
34 ROQUE, André Vasconcelos. A luta contra o tempo nos processos judiciais: um problema 
ainda à busca de uma solução. Revista Eletrônica de Direito Processual, v. 7, p. 242, 2011. 
Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/21125/15215>. 
Acesso em: 24 jul. 2020. 
35 BRASIL. Decreto nº 678, de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre 
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. Brasília, 6 
nov. 1992. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm>. Acesso 
em: 24 jul. 2020. 
36 RODRIGUES, Walter dos Santos. A duração razoável do processo na Emenda Constitucional 
n.º 45. Revista Eletrônica de Direito Processual, v. 2, n. 2, p. 325, 2008. Disponível em: 
<https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/23741/16763>. Acesso em: 24 
jul. 2020. 
37 ANDRADE, Fábio Martins de. Reforma do Poder Judiciário: Aspectos gerais, o sistema de 
controle de constitucionalidade das leis e a regulamentação da súmula vinculante. Revista de 
Informação Legislativa, Brasília, a. 43, n. 171, p. 179-180, jul./set. 2006. Disponível em: 
<chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https://www12.senado.leg.br/ril/ 
edicoes/43/171/ril_v43_n171_p177.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2020. 
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/21125/15215
15 
 
Tribunal Federal pediram ao Executivo uma reforma geral do Poder Judiciário, 
recebendo como resposta o encargo de, utilizando-se do modelo corporativo-
gerencial, mapear e apresentar um diagnóstico das deficiências existentes.38,39 
O relatório exibiu o incontestável: “[...] a Justiça brasileira é cara, morosa e 
eivada de senões que são obstáculos a que os jurisdicionados recebam a 
prestação que um Estado democrático lhe deve”.40 
 
As soluções, 30 (trinta) anos depois, foram apresentadas por meio da EC 45, 
que transformou profundamente o Poder Judiciário, modificou normas sobre 
autonomia orçamentária e financeira; carreira da Magistratura; criou o Conselho 
Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público; alterou 
requisitos para o Recurso Extraordinário, mediante a repercussão geral; 
reformulou competências do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal 
de Justiça, criou as súmulas vinculantes e, entre outras modificações, alterou 
pela primeira vez o art. 5º, com a inclusão do inciso LXXVIII, que, no mesmo 
caminho já adotado por outros países citados anteriormente, inseriu o direito à 
razoável duração do processo explicitamente no texto constitucional.41,42,43 
 
Com isso, o direito à razoável duração do processo originariamente materializou-
se como direito fundamental, sendo-lhe elementares a força normativa e a 
supremacia da Constituição,44 tendo por características a eficáciaplena e 
aplicação imediata.45 Mas, anos após a EC 45 esse direito ainda é denegado. 
 
38 ANDRADE, op. cit., p. 177-179, nota 36. 
39 BRASIL. Câmara dos Deputados. Exposição de Motivos da Emenda Constitucional nº 45 
de 2004. Brasília, 1 maio 1992. Disponível em: 
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/emecon/2004/emendaconstitucional-45-8-dezembro-
2004-535274-exposicaodemotivos-149264-pl.html>. Acesso em: 25 jul. 2020. 
40 BRASIL. Câmara dos Deputados. Exposição de Motivos da Emenda Constitucional nº 45 
de 2004. Brasília, 1 maio 1992. Disponível em: 
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/emecon/2004/emendaconstitucional-45-8-dezembro-
2004-535274-exposicaodemotivos-149264-pl.html>. Acesso em: 25 jul. 2020. 
41 BRASIL. Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004. Altera dispositivos dos 
arts. 5º, 36, 52, 92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 
127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição Federal, e acrescenta os arts. 103-A, 103B, 111-A e 
130-A, e dá outras providências. Brasília, 31 dez. 2004. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc45.htm>. Acesso em: 25 
jul. 2020. 
42 CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 16-19. 
43 ANDRADE, 2006, p. 179-182. 
44 DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria geral dos direitos fundamentais. 5. ed. rev., 
atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2014. p. 41-42. 
45 ANDRADE, 2006, p. 180. 
16 
 
Dada a abstração do tema e sua ineficácia percebida junto à realidade 
jurisdicional concreta, o próximo capítulo dedica-se à razoável duração do 
processo. 
17 
 
2 RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO 
 
Transcorridos 16 (dezesseis) anos da promulgação da EC 45 e passados 46 
(quarenta e seis) da reclamação por reformas feita pelo Judiciário, permanece 
presente o consenso social, observado pelo cidadão comum, de que a Justiça 
ainda padece de uma crise de morosidade. 
 
Visto que a inclusão do princípio da razoável duração do processo se concretizou 
no art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal,46 petrificou-se como direito 
fundamental, sendo violação qualquer restrição ao seu pleno exercício,47 
carecendo-se transcender o texto constitucional para encontrar meios práticos 
que operacionalizem essa norma.48 
 
A razoável duração do processo necessita do entendimento de que este último, 
o processo, é a forma pela qual a jurisdição se manifesta, sendo o mecanismo 
apto a materializar seus efeitos, alterando a realidade perceptível,49 tornando-se 
“[..] o palco de efetivação de direitos fundamentais do cidadão, sejam eles de 
natureza material ou processual”.50 
 
Por outro lado, se a percepção corrente é de que a Justiça é morosa, o processo, 
instrumento da jurisdição, não tem cumprido sua função. O que seria, então, um 
tempo razoável para a prestação jurisdicional? 
 
Em princípio, pode-se sustentar que tempo razoável não se confunde com veloz 
ou acelerado, visto que as garantias processuais do devido processo legal, 
 
46 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 
25 jul. 2020. 
47 ANDRADE, 2006, p. 180. 
48 BECKERS, Richard; BARBOSA, Claudia Maria. A distribuição do tempo dos atores judiciais 
em processos jurídicos. Acesso à justiça II, Florianópolis, 2014. p. 18-19. Disponível em: 
<http://publicadireito.com.br/publicacao/ufsc/livro.php?gt=173>. Acesso em: 25 jul. 2020. 
49 CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2009, p. 147. 
50 PINTO, Luis Filipe Marques Porto Sá. Julgamento das causas repetitivas: uma tendência 
de coletivização da tutela processual civil. p. 17. Dissertação (Mestrado em Direito Processual 
Civil) - Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade Federal do Espírito Santo, 
Vitória, 2011. 
18 
 
contraditório e ampla defesa, dispostos no art. 5º, LIV e LV, da Constituição 
Federal51 são inconciliáveis com a urgência, a pressa ou a precipitação.52 
 
Por este horizonte, o processo deve prestar satisfação plena aos direitos dos 
jurisdicionados de forma ágil e no tempo precisamente necessário para que os 
princípios citados não sofram restrições ou perdas.53 
 
Razoável permanece um conceito abstrato. Todavia, parece seguro entende-lo 
como aquilo que a razão pode explicar, usando ponderação, lógica, 
comedimento, harmonia, equilíbrio, sensatez, comparação, etc. Do ponto de 
vista jurídico é uma forma de interpretação e uma dimensão para o controle 
jurisdicional, relacionando-se com princípio do devido processo legal.54 
 
Intentando definir limites técnicos para análise da questão a Corte Europeia dos 
Direitos do Homem estipulou 3 (três) critérios para verificar se a duração de um 
processo é razoável: I – complexidade da matéria; II – comportamento das partes 
e patronos; e, III – atuação do órgão jurisdicional. Mister se faz, em relação à 
realidade brasileira, acrescer como critério a estrutura do Judiciário.55 
 
Melhor exploração desses parâmetros dar-se-á por meio de exemplos práticos. 
No tocante à complexidade do assunto considere-se que toda demanda exige 
apuração dos fatos para elucidação da matéria discutida a fim de gerar o correto 
convencimento do julgador. Imagine-se então a necessidade de perícia.56 Por 
evidente, uma perícia fiscal ou contábil em grande empresa exigirá maior tempo 
 
51 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 
25 jul. 2020. 
52 TUCCI, 1997, p. 28-31. 
53 BELLINI, Luiz Augusto. A garantia constitucional à razoável duração do processo e o 
papel do magistrado no sistema jurídico brasileiro. p. 49. Dissertação (Mestrado em Direitos 
e Garantias Fundamentais) - Programa de Pós-Graduação em Direitos e Garantias 
Fundamentais, Faculdade de Direito de Vitória, Vitória, 2010. 
54 MACHADO, Fernanda Modolo Vieira. A negociação coletiva e a intangibilidade dos direitos 
humanos da personalidade do trabalhador assalariado. p. 89-91. Dissertação (Mestrado em 
Direitos e Garantias Fundamentais) - Programa de Pós-Graduação em Direitos e Garantias 
Fundamentais, Faculdade de Direito de Vitória, Vitória, 2006. 
55 DIDIER JR. Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, 
parte geral e processo de conhecimento. 19. ed. Salvador: JusPodivm, 2017. p.109. 
56 TUCCI, 2002, p. 327. 
19 
 
do que um exame grafotécnico de uma simples assinatura. Contudo, não haverá 
violação à razoável duração do processo se as etapas da perícia fiscal ou 
contábil ocorrerem dentro do estritamente necessário, mesmo que com várias 
fases, conquanto ocorrerá ofensa ao princípio se a verificação da assinatura se 
protrair indefinidamente no tempo de maneira injustificada. 
 
Em relação ao comportamento dos litigantes e seus procuradores (ou, no caso 
do processo penal, a atuação da acusação e da defesa) excelentes exemplos de 
dilações indevidas se observam nos excessos de recursos meramente 
protelatórios ou desnecessários, nos requerimentos para produção de provas 
inócuas, ou nas demoras injustificadas para devolução de processos físicos 
retirados dos cartórios, enquanto, em contrapartida, positivos parâmetros se 
veem na tentativa amigável de transação (em qualquer fase processual), na 
prática de atos de maneira tempestiva e célere, além de, na fase de saneamento, 
na colaboração entre advogados e juízes para determinar os pontos 
controvertidos da lide. 
 
Tratando da atuação do órgão jurisdicional exemplifica-se que o respeito à 
razoável duração do processo é garantido ao se aplicar o princípio da eficiência, 
previsto no art. 37, caput, da Constituição Federal,57 no gerenciamento dos atos 
cartoriais, ao passo que se infringe taldispositivo quando o fluxo do processo 
dentro do cartório possui etapas indevidas, como a remessa ao gabinete do juiz 
para a prática de atos de mero expediente que deveriam ser praticados de ofício 
pela secretaria, atrasando o andamento processual. Tal temática é assunto 
central deste trabalho e será melhor explorado no seu decorrer. 
 
Por último, no que tange à estrutura do Poder Judiciário não poderia haver 
melhor amostra do que a Justiça Federal, totalmente informatizada e a Justiça 
do Estado do Espírito Santo, ainda se utilizando de processos físicos. Por 
evidente, os atos e trânsito processuais são significativamente mais rápidos no 
modelo eletrônico, favorecendo a realização da razoável duração do processo, 
 
57 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 
05 set. 2020. 
20 
 
enquanto o veículo físico demanda tempo evidentemente maior para o 
cumprimento das etapas, dificultando a consecução do princípio constitucional. 
 
Entende-se, ainda, que o processo terá duração razoável quando transcorrer 
sem que se protraia indevidamente no tempo, devendo a realização de seus atos 
respeitar os critérios de necessidade e adequação.58 
 
Como relação jurídica complexa o processo vincula as partes e o juiz para o 
exercício da jurisdição, sendo sua realização alcançada por meio do 
procedimento, que acontece como uma sequência ordenada de atos praticados 
no decorrer do tempo, tendo por escopo a efetiva tutela jurisdicional.59,60,61 
 
Diante dessa lógica, a duração do processo é regulada pela ordem e pelo tempo 
em que os atos processuais acontecem.62 Sendo assim, haverá irrazoabilidade 
toda vez que ocorrer descumprimento dos prazos legais na sua execução, ou, 
se ele forem praticados sem causas que os validem, ou, ainda, se realizados de 
maneira desnecessária, inadequada ou desproporcional.63 
 
Deduz-se, então, que a razoável duração do processo é o próprio princípio da 
eficiência aplicado à jurisdição.64 Este princípio está positivado no caput do art. 
37 da Constituição Federal65, exigindo observância obrigatória por todos os 
 
58 TEIXEIRA, Bruno Buback; ESTEVES, Carolina Bonadiman. A razoável duração do processo 
e a deliberação dos atos ordinatórios pela secretaria do juízo. Panóptica. Vitória, vol. 6, n. 2, p. 
71-73. 2011. Disponível em: <chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http:// 
www.panoptica.org/seer/index.php/op/article/download/Op_6.2_2011_65-90/29>. Acesso em: 
25 jul. 2020. 
59 COUTURE, 2007, p. 107. 
60 RODRIGUES; LAMY, 2018, p. 24-25. 
61 ALCÂNTARA, 2005, p. 66-69. 
62 TEIXEIRA; ESTEVES, 2011, p. 72. 
63 ESTEVES, Carolina Bonadiman. Direito fundamental à igualdade na duração do processo 
judicial. REVISTA JURÍDICA ESMP-SP, v. 3, p. 124, 2013. Disponível em: 
<http://www.esmp.sp.gov.br/revista_esmp/index.php/RJESMPSP/article/view/78>. Acesso em: 
25 jul. 2020. 
64 ESTEVES, 2013, p. 124. 
65 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 
25 jul. 2020. 
21 
 
Poderes e Entes da Federação, em todas as suas funções e ações, exprimindo-
se como excelência, diligência, resposta útil e efetiva.66 
 
Todavia, pesquisa anual realizada (desde 2005) pelo Departamento de 
Pesquisas Judiciárias, órgão do Conselho Nacional de Justiça, intitulada “Justiça 
em Números”67, constatou flagrante violação à norma constitucional. Até o ano 
de 2016 ocorria no Brasil o fenômeno do congestionamento processual, em que 
mais ações eram ajuizadas do que processos baixados. Somente a partir de 
2017 a situação timidamente começou a se inverter, restando ainda cerca de 
78,7 milhões de casos pendentes no final de 2018, existindo fundamento 
concreto na afirmação de que o “[...] maior ‘gargalo’ da demora do processo é o 
cartório [...]”.68 
 
Outra pesquisa, feita em 2011 pelo Ministério da Justiça, classificou as Varas da 
Justiça em rápidas e lentas, sendo as primeiras aquelas que cumpriam os prazos 
previstos em lei; enquanto as últimas, as que os desrespeitavam, concluindo que 
72% (setenta e dois por cento) das varas federais e 77% (setenta e sete por 
cento) das varas estaduais eram lentas, sendo apenas 28% (vinte e oito por 
cento) das varas federais e 23% (vinte e três por cento) das varas estaduais 
classificadas como rápidas.69 
 
Adiciona-se ao raciocínio o contemporâneo conceito de responsabilidade civil, 
visto que toda violação a direito autoriza o prejudicado à retomada do estado 
anterior, mesmo sendo o próprio Estado o transgressor, entendendo-se que “[...] 
responsabilizar civilmente o lesante é tornar indene o injustamente lesado”.70 
 
66 MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 66-92 
passim. 
67 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números 2020. Brasília, p. 93-94, 2020. 
Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/pesquisas-judiciarias/justica-em-numeros/>. Acesso em: 
12 set. 2020. 
68 BRASIL. Ministério da Justiça. O impacto da gestão e do funcionamento dos cartórios 
judiciais sobre a morosidade da justiça brasileira: diagnóstico e possíveis soluções. 
Coordenadora: ESTEVES, Carolina Bonadiman. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria da 
Reforma do Judiciário, 2011. p. 61. 
69 Ibid., p. 63-64. 
70 OTONI, Sayury Silva de. RESPONSABILIDADE CIVIL: A EXTENSÃO DO DANO E O DILEMA 
DA AVALIAÇÃO. Revista Científica FAESA, Vitória, v. 3, n. 1, p. 2, dez. 2007. Disponível em: 
<http://revista.faesa.br/revista/index.php/Faesa/issue/view/10>. Acesso em: 29 jul. 2020. 
22 
 
A título exemplificativo, no direito alienígena encontra-se o caso “CAPUANO 
versus ITÁLIA”, primeira condenação na história71 da Corte Europeia de Direitos 
Humanos por desrespeito ao art. 6, “1” do Tratado de Roma, já citado, cujo 
dispositivo da sentença se apresenta in verbis. 
 
FOR THESE REASONS, THE COURT UNANIMOUSLY 
 
1. Holds that there has been a violation of Article 6 § 1 (art. 6-1); 
 
2. Holds that the respondent State is to pay to the applicant the 
sum of eight million lire (8,000,000 LIT) by way of just satisfaction; 
 
3. Rejects the remainder of the claim for just satisfaction. 
 
Done in English and in French, and delivered at a public hearing in the 
Human Rights Building, Strasbourg, on 25 June 1987.72,73(grifou-se). 
 
Embora inexista paradigma de julgados brasileiros,74 o Tribunal Europeu de 
Direitos Humanos amiúde tem julgado favorável a reparação civil contra Estados 
como Espanha, Portugal e Itália por excessiva mora na prestação jurisdicional.75 
 
Assim, compreendida a relevância da razoável duração do processo para o 
provimento da justiça real, observado o atual cenário dos órgãos jurisdicionais e 
as possíveis repercussões danosas da mora, passa-se a estudar como os atos 
ordinatórios praticados pelo cartório são ferramentas impreteríveis para sua 
efetivação. 
 
71 SCHENK, Leonardo Faria. BREVE RELATO HISTÓRICO DAS REFORMAS PROCESSUAIS 
NA ITÁLIA. UM PROBLEMA CONSTANTE: A LENTIDÃO DOS PROCESSOS CÍVEIS. Revista 
Eletrônica de Direito Processual, v. 2, n. 2, p. 187-191, 2008. Disponível em: <https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/23735/16756>. Acesso em 29. Jul. 2020. 
72 CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Capuano v. Italy (9381/81). Disponível 
em: <https://hudoc.echr.coe.int/eng#{%22tabview%22:[%22document%22],%22itemid%22: 
[%22001-57458%22]}>. Acesso em: 29 jul. 2020. 
73 Em tradução livre: 1. Considera que houve violação do artigo 6.º, nº 1 (art. 6-1); 
2. Considera que o Estado demandado deverá pagar ao demandante a 
quantia deoito milhões de liras (8.000.000 LIT) a título de justa 
satisfação; 
3. Rejeita o restante da reclamação por justa satisfação. 
Feito em inglês e em francês, e proferido em audiência pública no 
Edifício dos Direitos Humanos, Estrasburgo, em 25 de junho de 1987. 
74 BELLINI, 2010, p. 59-60. 
75 RODRIGUES, 2018, p. 332. 
23 
 
3 ATUAÇÃO DA SECRETARIA DO JUIZO E DURAÇÃO PROCESSUAL 
 
Conforme abordado nos capítulos anteriores a razoável duração do processo é 
um direito fundamental, razão pela qual é amparado por princípios 
constitucionais, tais como superioridade hierárquica, força normativa e máxima 
eficácia e efetividade, que em particular, funde-se ao princípio da eficiência76 e 
tem fundamental importância para o presente estudo. 
 
Também já foi comentado que (a morosidade da) Justiça brasileira é quantificada 
em números desde 2005 pelo relatório “Justiça em Números”77, do Conselho 
Nacional de Justiça, restando evidenciado que a atividade meio demanda mais 
tempo que a atividade fim no tocante à jurisdição, com as etapas cartoriais sendo 
as que mais consomem tempo, chegando à ordem de 50% (cinquenta por cento) 
à mais que outras fases em algumas situações.78 
 
Face a essas constatações, importa entender como a atividade cartorária retarda 
o andamento processual e viola a razoável duração do processo. 
 
Dentre as causas prováveis de interferir negativamente na marcha processual 
cartorária, no que concerne à atuação da secretaria do juízo, encontrou-se: erros 
na execução de tarefas; falta de treinamento; ausência de procedimento 
operacional;79 rotinas ultrapassadas;80 deficiências estruturais, como falta de 
recursos materiais ou humanos;81 inexistência de gestão e remessa indevida de 
atos para o gabinete do juiz,82 foco central desta pesquisa. 
 
 
76 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito 
constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 240. 
77 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números 2020. Brasília, p. 9-11, 2020. 
Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/pesquisas-judiciarias/justica-em-numeros/>. Acesso em: 
12 set. 2020. 
78 BECKERS; BARBOSA, 2014, p. 16. 
79 BORDASCH, Rosane Wanner da Silva. GESTÃO CARTORÁRIA: controle e melhoria para a 
razoável duração dos processos p.72. Dissertação (Mestrado Profissionalizante em Poder 
Judiciário) – Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 
2008. 
80 BORDASCH, op. cit., p. 3, nota 66. 
81 ESTEVES, 2013, p. 130. 
82 TEIXEIRA; ESTEVES, 2011, p. 66-67. 
24 
 
Nesse contexto, oportuno observar a atividade jurídico-cartorária pela ótica da 
Administração,83 entendendo sua dinâmica como um conjunto integrado, lógico 
e inter-relacional de etapas, atividades, incumbências e encargos que, a partir 
de um input (entrada do processo) gerará ao final um output (saída com a 
decisão), 84 devendo evitar as remessas inúteis ao juiz. 
 
Exemplificar-se-á com 2 (duas) situações hipotéticas: no primeiro caso, ocorre o 
envio do ato ordinatório para despacho do juiz – o cartório analisa o processo e 
o ato a ser praticado e o coloca na fila para conclusão. O processo, é 
encaminhado ao gabinete. No gabinete, sofre uma segunda análise, efetuando-
se um tipo de triagem, que definirá se tratar de despacho de mero expediente. 
Segue para a fila, aguardando despacho do magistrado. O juiz pratica o ato. O 
gabinete devolve o processo ao cartório. Em cada uma dessas fases o processo 
necessita entrar na fila correspondente a cada ato a ser praticado, aguardando 
chegar a sua vez. 
 
Na segunda hipótese, não há encaminhamento do ato ordinatório para despacho 
do magistrado – o cartório analisa o processo e o ato a ser praticado. Entra na 
fila para a prática do ato pela serventia. Pratica-se o ato de mero expediente. 
 
Essa abordagem evidencia a diferença de tempo gasto entre as duas situações, 
demonstrando que o envio desnecessário de atos ordinatórios de mero 
expediente ao gabinete do juiz para despacho acarreta delonga demasiada no 
andamento processual, violando a razoável duração do processo.85 
 
A assertiva apresentada se confirma no enunciado do art. 93, XIV, da 
Constituição Federal, incluído pela mesma EC 45 que pretendeu acelerar o 
andamento da Justiça, nos dizeres que “os servidores receberão delegação para 
a prática de atos de administração e atos de mero expediente sem caráter 
 
83 BORDASCH, 2008, p. 33. 
84 FERREIRA, André Ribeiro. Gestão de processos: Módulo 3. Brasília: ENAP/DDG, 2013. p. 
16-17. 
85 TEIXEIRA; ESTEVES, 2011, p.73-75. 
25 
 
decisório”86, reafirmado no §4º do art. 203 do Código de Processo Civil ao 
asseverar que “os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista 
obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo 
servidor e revistos pelo juiz quando necessário”.87 
 
Neste ponto, necessária se faz uma observação. A norma constitucional ora 
citada utiliza a expressão delegação, enquanto a lei infraconstitucional declara 
que os atos devem ser praticados de ofício. Embora a primeira seja 
hierarquicamente superior,88 no decorrer deste trabalho observar-se-á que a 
razoável duração do processo encontra maior alcance e realização quando a 
prática dos atos de mero expediente são imputados ao servidor como um dever 
de ofício pautado em norma posta e não numa delegação do magistrado. 
 
A justificativa que sustenta esse entendimento perpassa pela ideia de que um 
rol, mesmo que não exauriente, concederia segurança jurídica e uniformidade 
para atuação de todos os cartórios judiciais, enquanto atos de delegação 
dependem de interpretação de cada juiz, havendo, como se verá, muita 
heterogeneidade na realidade prática cartorial. 
 
Nesses termos, o impacto acarretado pela remessa desnecessária de atos 
ordinatório para o gabinete do juiz tem magnífico exemplo em estudo realizado 
em 2010, junto à 8 (oito) Varas Cíveis não especializadas do município de Vitória 
– ES.89 
 
A pesquisa90 identificou que não havia norma positivada sobre a deliberação de 
atos ordinatórios diretamente pela secretaria do juízo; que não se julgava 
importante treinar servidores e estagiários acerca da dispensabilidade de 
 
86 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 
25 jul. 2020. 
87 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 
mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 27 jul. 2020. 
88 TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2020. p.115-119. 
89 TEIXEIRA; ESTEVES, 2011, p. 75-87. 
90 Ibid. 
26 
 
conclusão dos autos ao se tratar de atos ordinatórios; e que em metade das 
varas havia interferência dos magistrados na disposição dos atos ordinatórios. 
 
Sobretudo, o estudo em comento91 apontou situação em que o tempo supérfluo 
gasto com a conclusão dos autos para despacho alcançou 556 (quinhentos e 
cinquenta e seis) dias; e casos em que os autos sofreram dupla conclusão, 
acarretando acréscimo médio de 394 (trezentos e noventa e quatro) dias. Em 
todas as situações o tempo excessivo adveio da remessa indevida ao gabinete, 
sendo o acréscimo justamente o tempo demandado para a conclusão. 
 
Contrário senso, constata-se que a prática de ofício de tais atos é imperativo 
para a garantia da razoável duração do processo, visto que reduzirá do seu curso 
o tempo de conclusão desnecessária. 
 
Nessa mesma linha, a inexistência positivada dos atos de mero expediente que 
devam ser praticados de ofício pelo serventuário gera desorganização e 
insegurança, levando-os a despachodo juiz.92 
 
Assim, no intento de apresentar um rol exemplificativo de quais atos ordinatórios 
têm de ser executados prontamente pelo servidor, é indispensável o 
conhecimento acerca dos atos processuais, a ser realizado nos próximos 
subcapítulos. 
 
 
3.1 ATOS PROCESSUAIS DO PROCEDIMENTO COMUM 
 
Retomando conteúdo já apresentado, o processo é uma relação jurídica múltipla 
vinculando as partes e o juiz, sendo instrumento para o exercício da jurisdição, 
 
91 TEIXEIRA; ESTEVES, 2011, p. 84-85. 
92 TEIXEIRA; ESTEVES, 2011, p. 67. 
27 
 
desenvolvendo-se no tempo como sequência lógica e ordenada de atos 
previstos em lei (atos e sequência), denominada de procedimento, ou rito.93,94,95 
 
Este último, por sua vez, é matéria de ordem pública e cumprimento 
compulsório,96 dividindo-se em procedimento comum, modelo padrão adotado 
pela legislação processual, e os procedimentos especiais, para casos 
excepcionais aos quais lei processual ou extravagante determinou rito distinto, 
conforme a necessidade de tutela diferenciada.97 
 
O ato processual, é, por dedução, a estrutura basilar do processo, sendo a 
conduta humana arbitrária capaz de produzir nele efeitos jurídicos tais como a 
instauração, o desenvolvimento, a modificação ou o encerramento.98,99 
 
A execução dos atos processuais é atribuição dos sujeitos do processo, como 
as partes, os terceiros interessados e o juiz; mas, também compete aos sujeitos 
externos à relação jurisdicional, nesse caso, preponderantemente, aos auxiliares 
da justiça.100 
 
Nesses termos o Código de Processo Civil Brasileiro disciplina sobre os atos dos 
particulares: “Art. 200. Os atos das partes consistentes em declarações 
unilaterais ou bilaterais de vontade produzem imediatamente a constituição, 
modificação ou extinção de direitos processuais”.101 
 
Dessa base legal entende-se que as partes podem praticar atos: postulatórios – 
requerimentos ao juiz, visando seu pronunciamento; instrutivos – inserem 
 
93 THEODORO JR, 2015, p. 195-196. 
94 DIDIER JR, 2017, p. 36. 
95 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; 
Coordenação: WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil. 10. ed. São 
Paulo: Revista do Tribunais, 2008. p. 180-181. 
96 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: teoria geral e 
processo de conhecimento (1ª parte). v.1., 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 306. 
97 DONIZETI, 2017, p. 477. 
98 DIDIER JR, 2017, p. 422. 
99 DONIZETI, 2017, p. 477 
100 THEODORO JR, 2015. p. 624-626. 
101 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 
mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 28 jul. 2020. 
28 
 
elementos probatórios no processo; dispositivos – ocorre a disposição sobre 
direito disponíveis; e reais ou materiais – as condutas processuais concretas.102 
 
Passando-se aos atos do magistrado, a norma processualista brasileira 
assevera: “Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, 
decisões interlocutórias e despachos”. 103 
 
As sentenças são os atos do juiz que encerram a fase cognitiva ou executiva do 
processo; as decisões interlocutórias são pronunciamentos decisórios, mas sem 
o condão de encerrar as fases processuais; e os despachos são provimentos 
jurisdicionais sem conteúdo deliberativo, visando apenas o andamento 
processual.104 
 
Há, ainda, os acórdãos, disciplinados no art. 204 do códex processualista: 
“Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais”.105 
 
Existem também os atos entre juízos, a saber, a carta de ordem, a carta 
precatória e a carta rogatória, em que um juízo requer ou solicita a outro juízo a 
realização de determinado ato.106 Os atos do magistrado, dada sua importância 
ao presente estudo, serão retomados no próximo subcapítulo. 
 
De outra natureza, entre o artigo 206 e 211 do Código de Processo Civil, tem-se 
disciplinados os atos do escrivão ou da secretaria do juízo.107 Esses atos 
realizam etapas meramente burocráticas do serviço jurisdicional.108 
 
 
102 PINHO, 2017, p. 517-521. 
103 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 
mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 28 jul. 2020. 
104 DONIZETTI, 2017. p. 477-480. 
105 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 
mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 27 jul. 2020. 
106 PINHO, 2017, p. 530-531. 
107 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 
mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 27 jul. 2020. 
108 SANTOS, Ernane Fidelis dos. Manual de direito processual civil: processo de 
conhecimento. v. 1. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 532. 
29 
 
Entende-se que os atos do escrivão, tais como autuações, enumeração de 
páginas, anotações dos termos de juntada, vista e conclusão, bem como a 
certificação de ocorrência de manifestação das partes, entre outros, relacionam-
se à segurança jurídica, referindo-se à organização administrativa dos autos e 
ao estabelecimento de uma ordem cronológica no processo.109 
 
Por último, tem-se os atos ordinatórios, objeto maior deste estudo, citados 
expressamente no Código de Processo Civil, no art. 203, §4º que aduz que “os 
atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem 
de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz 
quando necessário”.110 
 
Contudo, a presente pesquisa não encontrou na legislação uma definição 
precisa e líquida de quais atos ordinatórios de mero expediente são 
autoexecutáveis por toda e qualquer secretaria do juízo, restando ausência 
legislativa sobre o tema. 
 
Verifica-se, então, necessidade de aprofundamento no exame da matéria, 
primordialmente, em razão do impacto gerado na mora processual. 
 
Assim, pretendendo conhecer dos atos delegáveis desprovidos de conteúdo 
decisório, inicia-se, no próximo subcapítulo, em contrário senso, com o estudo 
dos atos indeclináveis da autoridade jurisdicional. 
 
 
3.1.1 Atos Exclusivos do Magistrado 
 
A definição dos atos processuais exclusivos do magistrado se faz necessária, 
vez que os atos ordinatórios, de prática mandatória para a secretaria do juízo, 
 
109 MONTENEGRO FILHO, Misael. Novo Código de Processo Civil Comentado. 3. ed. rev. e 
atual. São Paulo: Atlas, 2018. p. 240-243. 
110 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 
mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 27 jul. 2020. 
30 
 
encontram-se alocados na seção reservada aos pronunciamentos do magistrado 
no Código de Processo Civil (art. 203, §4º).111 
 
Os atos do juiz podem ser estudados em duas categorias principais: os 
provimentos judiciais – atos em que há prolação do juiz, decidindo sobre o 
processo, seus incidentes, o mérito ou suas condições de existência e confere 
andamento por via do impulso oficial; e os atos materiais – nos quais se 
encontram a inquirição das partes, interrogatórios, oitivas, inspeções e demais 
atos materiais.112 
 
Os atos materiais, ainda, subdividem-se em atos instrutórios e atos de 
documentação. Assim, a autoridade jurisdicional é emanada nos 
pronunciamentos; ao passo que os atos instrutórios se prestam à formação do 
convencimento, como oitivas e demais atos materiais; enquanto os atos de 
documentação referem-se aoregistro e autenticação de outros atos 
processuais.113 
 
Como já visto, a carta processualista divide os pronunciamentos do juiz em: 
sentenças, decisões interlocutórias e despachos. 
 
Conceitua-se sentença como ato exclusivo do magistrado, de cunho decisório, 
que finda a fase de conhecimento ou executiva do processo, podendo ou não 
apreciar o mérito.114 
 
Entretanto, a sentença não necessariamente extingue o processo, pois é 
possível a continuidade da relação processual jurisdicional pela impetração de 
recurso. Contudo, pelo seu conteúdo decisório, põe fim às etapas processuais, 
denominadas de fase de conhecimento ou de fase de execução.115 
 
111 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 
mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 27 jul. 2020. 
112 GONÇALVES, 2012, p. 228 
113 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 
2017. p. 119. 
114 BUENO, Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. 3. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2017. p. 282-283. 
115 PINHO, 2017, p. 528-529. 
31 
 
Por sua vez, as decisões interlocutórias são entendidas como atos decisórios 
proferidos pelo juiz no curso do processo, sem o poder de encerrar qualquer das 
fases processuais.116 
 
Em prosseguimento, os despachos tem por finalidade exclusiva movimentar, 
impulsionar ou ordenar o processo, não possuindo conteúdo decisório, nem 
carecendo de requerimento das partes, bem como inexistindo previsão de 
recursos.117 Em suma, prestam-se ao impulso oficial do processo.118 
 
Dentre os atos exclusivos dos órgãos jurisdicionais, encontram-se também os 
acórdãos, que são as decisões proferidas pelos órgãos colegiados, podendo ter 
efeitos equivalentes às decisões interlocutórias ou às sentenças.119 
 
Destacam-se, ademais, os atos de cooperação nacional e internacional. São de 
atos entre juízos, também denominados atos de comunicação. No primeiro caso, 
tem-se a carta de ordem, a carta precatória e a carta arbitral; enquanto no 
segundo caso trata-se da carta rogatória.120 
 
A carta de ordem ocorre quando um juízo de hierarquia superior requisita 
determinado ato de juízo inferior; a carta precatória é empregada quando não há 
hierarquia, mas há necessidade de cooperação entre juízos de comarcas 
distintas; a carta arbitral é uma solicitação expedida pelo juízo arbitral para o 
Poder Judiciário, solicitando a prática de alguma diligência ou ato; e, a carta 
rogatória é o pedido de colaboração entre juízos de países distintos.121 
 
Contudo, ao se estudar sobre os atos exclusivos do magistrado, constata-se uma 
singularidade no sistema jurídico brasileiro, a de não haver distinção legal entre 
os despachos e os atos ordinatórios. Embora ambos não possuam qualquer teor 
 
116 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 10. ed. Salvador: 
Juspodivm, 2018. p. 419. 
117 SCARPARO, Eduardo. Anotações aos artigos 200 a 211. In: OAB. Novo código de processo 
civil anotado. Porto Alegre: OAB RS, 2015. p. 183. 
118 THEODORO JR, 2015, p. 653. 
119 SANTOS, 2017, p. 530. 
120 PINHO, 2017, p. 530-534. 
121 Ibid. 
32 
 
decisório, os primeiros são indelegáveis, enquanto os últimos devem ser 
praticados de ofício pelo servidor. Não obstante, inexiste lei distinguindo os 
conteúdos de cada ato. 
 
Intentando esclarecer essa dúvida, segue-se para o próximo subcapítulo, 
dedicado à matéria. 
 
 
3.1.2 Atos Ordinatórios 
 
Consta no art. 93, XIV, da Constituição Federal Brasileira que “os servidores 
receberão delegação para a prática de atos de administração e atos de mero 
expediente sem caráter decisório”.122 
 
Consoante, o Código de Processo Civil, no art. 203, §4º disciplina que “os atos 
meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de 
despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz 
quando necessário”.123 
 
Entretanto, inexiste uma norma posta pelo Poder Legislativo, ou mesmo regra 
interna de organização do Poder Judiciário, aplicável a todos os órgãos deste 
poder, que defina quais são os atos ordinatórios previstos no código 
processualista passíveis de delegação. 
 
A lei, no máximo, atribui ao juiz titular a responsabilidade pela regulamentação 
da matéria, não discorrendo sobre os conteúdos transmissíveis. 
 
Art. 152. Incumbe ao escrivão ou ao chefe de secretaria: [...] 
 
VI - praticar, de ofício, os atos meramente ordinatórios. 
 
 
122 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 
28 jul. 2020. 
123 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 
mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 27 jul. 2020. 
33 
 
§ 1º O juiz titular editará ato a fim de regulamentar a atribuição prevista 
no inciso VI.124 
 
Necessário, então, distinguir os atos ordinatórios dos despachos, pois, como 
visto no subcapítulo anterior, esses últimos também não possuem conteúdo 
decisório, apenas impulsionando o processo. 
 
Interessa observar a leitura sistemática do Código de Processo Civil, que 
identifica os atos ordinatórios alocados na “Seção IV”, “Capítulo I”, Título I” do 
“Livro IV”, intitulado “Dos Pronunciamentos do Juiz” e não na “Seção V” do 
mesmo capítulo, denominada “Dos Atos do Escrivão ou do Chefe de 
Secretaria”.125 
 
Curiosamente, parte dos estudiosos não diferencia os dois atos, entendendo que 
a prática de ofício pelo servidor se baseia na contemporânea inclinação para a 
celeridade e efetividade processual.126 Ademais, em face da similaridade entre 
ambos há quem denomine os despachos de “despachos ordinatórios ou de 
expediente”.127 
 
Por outro lado, distinguindo os conceitos, há quem assegure terem os despachos 
um teor deliberatório mínimo, enquanto os atos ordinatórios são desprovidos de 
qualquer conteúdo decisório.128 
 
Sustenta esse entendimento o Provimento 62/2017, da Corregedoria Regional 
do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por ordem de seu art. 221, que 
expressa uma relação de 36 (trinta e seis) atos processuais que prescindem de 
decisão judicial, elencando, no §2º, um rol negativo, com 9 (nove) atos 
indelegáveis, justamente pelo teor mínimo decisivo, conforme observável na 
leitura. 
 
124 Ibid. 
125 BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF. 16 
mar. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 28 jul. 2020. 
126 PINHO, 2017, p. 527-528. 
127 THEODORO JR, 2015. p. 653-657. 
128 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 10. ed. Salvador: 
Juspodivm, 2018. p. 421. 
34 
 
Art. 221 [...] 
 
§ 2º Não são passíveis de delegação: 
 
a) a determinação para emenda da petição inicial nos termos do art. 
321 do CPC; 
 
b) o cancelamento de audiências a pedido e que dependa de análise 
subjetivada justificativa; 
 
c) as nomeações de curador e de advogado dativo; 
 
d) a análise da necessidade de produção de prova pericial, salvo em 
caso de pedido de benefício por incapacidade; 
 
e) a dilação de prazo, salvo se não peremptório e por uma única vez; 
 
f) as requisições de pagamento; 
 
g) a destinação de bens apreendidos; 
 
h) a determinação de juntada de documentos para instrução de pedido 
de liberdade provisória; 
 
i) a audiência admonitória no processo de execução penal.129 (grifou-
se). 
 
Nesse condão, distinguindo os atos, tem-se que os despachos seriam gênero do 
qual os atos ordinatóriossão espécie, cuja natureza meramente administrativa 
permite delegação.130 
 
Por último, é possível diferenciar os despachos dos atos ordinatórios em função 
do saber técnico-jurídico exigido para sua consecução. Entende-se que “quando 
a providência independe de conhecimento técnico-jurídico, deve ser adotada por 
serventuário, sem necessidade de chancela jurisdicional”131, restando ao 
magistrado somente atos que exijam conhecimento acerca do Direito. 
 
Tais raciocínios assentam-se na inteligência de que a atuação do magistrado, 
não deve “[...] se perder em questiúnculas formais secundárias”;132 
 
129 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Provimento nº 62, de 13 
de junho de 2017. Dispõe sobre a Consolidação Normativa da Corregedoria Regional da Justiça 
Federal da 4ª Região. Corregedoria Regional. Corregedor Regional da Justiça Federal da 4ª 
Região Celso Kipper. Diário Eletrônico Da Justiça Federal da 4ª Região. Disponível em: <chrome-
extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https://www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.
php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2
017_06_23_a.pdf>. Acesso em 28 jul. 2020. 
130 BUENO, 2017, p. 282-283. 
131 MONTENEGRO FILHO, 2018, p. 239. 
132 THEODORO JR, 2015, p. 115-116. 
chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2017_06_23_a.pdf
chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2017_06_23_a.pdf
chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2017_06_23_a.pdf
chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/www2.trf4.jus.br/trf4/diario/download.php?arquivo=%2Fvar%2Fwww%2Fhtml%2Fdiario%2Fdocsa%2Fde_adm_20170623161002_2017_06_23_a.pdf
35 
 
Embora permaneça tênue a diferença, pode-se concluir que os atos de mero 
expediente autoexecutáveis pelo servidor são então as ações, atividades e 
responsabilidade administrativas-operacionais que os agentes do cartório devem 
ter na qualidade de atores junto ao processo. 
 
Em outras palavras, é o cartório garantindo a eficiência por meio da atividade 
administrativo-gerencial diretamente aplicada ao processo, com ações que lhe 
são pertinentes (tal qual máquina administrativa do Estado) e não fazem parte 
do escopo decisório-jurisdicional. 
 
Esboçada a separação entre despachos de atos ordinatórios, pretende-se, no 
capítulo seguinte, melhor demarcar essa distinção por meio da exposição de um 
rol exemplificativo dos atos que devem ser praticados de oficio pela secretaria 
do juízo como garantia da razoável duração do processo. 
 
 
36 
 
4 ATOS ORDINATÓRIOS INVESTIDOS À SECRETARIA DO JUÍZO 
 
Até o presente, discorreu-se sobre o monopólio da jurisdição estatal, conceituou-
se a razoável duração do processo, apresentou-se o panorama atual do fluxo 
temporal na Justiça brasileira e diferenciaram-se os atos processuais, com 
ênfase aos atos do magistrado e ordinatórios. 
 
Quanto a estes últimos, delineou-se a fina separação que os distingue dos 
despachos. 
 
Doravante, pretende-se, com fulcro em iniciativas isoladas de diversos tribunais 
e juízes singulares, apresentar um rol exemplificativo, no procedimento comum, 
de quais atos devem ser praticados de imediato pelo serventuário, sem 
conclusão para o magistrado. 
 
Para tanto, efetuar-se-á uma compilação de vários documentos positivados, 
adaptando-os à realidade cível, ou utilizando-os como base teórica, dentre os 
quais: Portaria nº 2/2020133, da 2ª Vara de Família do Tribunal de Justiça do 
Distrito Federal e dos Territórios; Portaria nº 8/2020134, do Juizado Especial 
Federal Cível de São Paulo; Portaria nº 2/2019135, da 2ª Vara de Órfãos e 
 
133 DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Portaria 02 de 
04 de fevereiro de 2020. Estabelece mecanismos para agilizar o impulso oficial dos processos 
em tramitação na 2ª Vara de Família e de Órfãos e Sucessões da Circunscrição Judiciária do 
Paranoá – DF. Juiz de Direito da 2ª Vara de Família e de Órfãos e Sucessões da Circunscrição 
Judiciária do Paranoá – DF Marcelo Castellano Junior. DJ-E 05 fev. 2020. Disponível em: 
<https://www.tjdft.jus.br/publicacoes/publicacoes-oficiais/portarias-serventias-
judiciais/2020/portaria-2vfospar-2-de-04-02-2020>. Acesso em: 30 jul. 2020. 
134 SÃO PAULO. Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Portaria SP-J EF-P RES nº 8, de 04 
de junho de 2020. Consolidação dos atos ordinatórios expedidos no âmbito do Juizado Especial 
Federal de São Paulo, em virtude do novo Código de Processo Civil em vigor e dos fluxos 
internos de gerenciamento processual. Juíza Federal Presidente do Juizado Especial Federal 
Cível de São Paulo, Maria Vitória Maziteli de Oliveira. Diário Eletrônico da Justiça Federal da 3ª 
Região. 05 jun. 2020. Disponível em: <chrome-
extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/http://web.trf3.jus.br/diario/Consulta/BaixarP
df/24177>. Acesso em: 30 jul. 2020. 
135 ESPÍRITO SANTO. 2ª Vara de Órfãos e Sucessões de Vitória. Portaria 02/2019. Delega a 
prática de todo ato de mero expediente/atos ordinatórios, não decisório, aos servidores da 
segunda vara de órfãos e sucessões de vitória/es, sob a coordenação do analista judiciário 
especial ou do chefe de secretaria. Juiz de Direito José Francisco Milagres Rabello. DJ-E 4 out. 
2019. Disponível em: 
<https://sistemas.tjes.jus.br/ediario/index.php/component/ediario/875111?view=content>. 
Acesso em: 30 jul. 2020. 
37 
 
Sucessões de Vitória, Espírito Santo; Portaria nº 1/2019136, da 2ª Vara Federal 
da Seção Judiciária do Amazonas; Portaria nº 1/2018137, da Vara do Trabalho de 
Iturama, Minas Gerais; Provimento nº 62/2017138, da Corregedoria Regional do 
Tribunal Regional Federal da 4ª Região; Portaria nº 744/2016139, expedida pelas 
Desembargadoras Federais Vânia Hack de Almeida e Salise Monteiro 
Sanchotene, vinculadas ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região; Portaria nº 
1/2016140, da 1ª Vara do Trabalho de Gramado, Rio Grande do Sul; Portaria nº 
1/2015141, expedida pelo Terceiro Vice Presidente do Tribunal de Justiça do 
Estado do Rio de Janeiro; Portaria 001/2014142, da Vara Única do Trabalho De 
Limoeiro Do Norte, Estado do Ceará; Provimento nº 2/2013143, do Tribunal 
 
136 AMAZONAS. 2ª Vara da Seção Judiciária do Amazonas. Portaria 001, de 02 de abril de 
2019. Juiz Federal Marllon Souza. Disponível em: < chrome-
extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https://trf1.jus.br/dspace/bitstream/123/2040
87/1/Portaria%20ato%20ordinat%C3%B3rio%202019.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2020. 
137 MINAS GERAIS. Vara do Trabalho de Iturama. Portaria nº 1, de 25 de abril de 2018. 
Regulamenta a prática de atos meramente ordinatórios nos termos do artigo 203 §4º do CPC e 
artigo 93 inciso XIV da Constituição Federal. Juiz do Trabalho Marco Aurélio Ferreira Clímaco 
dos Santos. Disponível em: <chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/ 
http://as1.trt3.jus.br/bd-trt3/bitstream/handle/11103/36022/PORTARIA%20VTITUR%20N.%201 
%2C%20DE%2025%20DE%20ABRIL%20DE%202018.pdf?sequence=4&isAllowed=y>. 
Acesso em: 30 jul. 2020. 
138 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Provimento nº 62, de 13 
de junho de 2017. Dispõe sobre a Consolidação Normativa da Corregedoria Regional da Justiça 
Federal da 4ª Região. Corregedoria Regional. Corregedor Regional da Justiça Federal da 4ª 
Região Celso Kipper. Diário Eletrônico Da Justiça Federal da 4ª Região. Disponível em: <chrome-
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017_06_23_a.pdf>. Acesso em 28 jul. 2020. 
139 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Portaria nº 744, de 21 de 
julho de 2016. Estabelece atos ordinatórios a serem praticados pelos servidores lotados nos 
gabinetes das Desembargadoras Federais Vânia Hack de Almeida e Salise Monteiro 
Sanchotene. Diário Eletrônico Da Justiça Federal da 4ª Região. Porto Alegre, 08 ago. 2016. 
Disponível em: <chrome-extension://oemmndcbldboiebfnladdacbdfmadadm/https:/ 
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csa%2Fde_adm_20160808161002_2016_08_08_a.pdf>. Acesso em 30 jul. 2020. 
140 RIO GRANDE DO SUL. 1ª Vara do Trabalho de Gramado. Portaria nº 1/2016 da 1ª Vara do 
Trabalho de Gramado. Justiça do Trabalho da 4ª Região. Disponível em: <chrome-
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jul. 2020. 
141 RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça. Portaria 3VP nº 01/2015. Delega atos ordinatórios. 
Terceiro Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Desembargador 
Celso Ferreira Filho. Disponível em: < chrome-
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142 CEARÁ. Única Vara do Trabalho de Limoeiro do Norte. Portaria nº 1, de 25 de fevereiro de 
2014. Juiz do Trabalho Konrad Saraiva Mota. Limoeiro do Norte. Disponível em: < chrome-
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ortarias_vt/portarias_vt_limoeiro/2014/PORT_1-2014.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2020. 
143 BAHIA. Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Provimento 002, de 26 de setembro de 
2013. Elenca os atos processuais cuja realização independe de despacho, conforme autorizado 
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Regional Federal da 5º Região; e Portaria nº 1/2013144, da 16ª Vara do Trabalho 
de Fortaleza, adaptando-se à realidade civilista quando necessário. 
 
Ter-se-á por base o raciocínio de que “[...] os atos ordinatórios têm duas 
finalidades primordiais: regularizar a tramitação de processos e promover seu 
andamento”.145 
 
Isso posto, passa-se ao rol exemplificativo de atos de mero expediente 
autoexecutáveis pela secretaria do juízo. 
 
Reitere-se que o próximo subcapítulo é dedicado à sistematização dos atos 
ordinatórios colhidos nas iniciativas já positivadas por juízes e tribunais. Essa 
organização em tópicos é nuclear para o presente trabalho visto que as portarias 
e provimentos, em regra, não o fazem de maneira estruturada por assunto ou 
tema, dificultando a execução das atividades pelos serventuários e prejudicando 
a consagração da razoável duração do processo por meio da atividade cartorial. 
Nas parcas ocasiões em que se observou algum grau de categorização a 
metodização utilizada demonstrou-se incipiente e pouco apta a cumprir o 
mandamento constitucional. Assim, optou-se por sistematizar os atos de mero 
expediente de forma compartimentada, tornando simples, organizada e didática 
sua compreensão, gerando elevado grau de transparência, facilitando a 
operação e efetivando a realização da razoável duração do processo por meio 
da segurança jurídica oferecida ao serventuário para a autoexecutoriedade de 
tais atos. 
 
pelo art. 162, parágrafo 4º do CPC e disciplina as rotinas da Secretaria da Turma Regional de 
Uniformização de Jurisprudência da 5ª Região – TRU. Desembargador Federal Lazaro 
Guimarães. Disponível em: < chrome-
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s/provimentos/TRF/PROVIMENTO%20N%20002.pdf >. Acesso em 30 jul. 2020. 
144 CEARÁ. 16º Vara do Trabalho de Fortaleza. Portaria nº 1, de 06 de maio de 2013. Dispõe 
sobre a prática de atos meramente ordinatórios pelos servidores da 16ª Vara do Trabalho de 
Fortaleza. Juíza do Trabalho Aldenora Maria de Souza Siqueira. Fortaleza. Disponível em: < 
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portarias_vt/portarias_16vt_fortaleza/2013/PORT_1-2013.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2020. 
145 SERGIPE. Tribunal de Justiça. Ato Ordinatório – Manual da Secretaria – Serviço Interno 
I. 2018. Disponível em: <https://www.tjse.jus.br/portal/arquivos/documentos/publicacoes/ 
manuais/area-judicial/manual-da-secretaria/Servico-Interno-I/servico-interno-1.html? 
{388046AA-C0D1-4E44-8BC5-AFE3CE2B9BD8}.htm>. Acesso em: 30 jul. 2020. 
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4.1 ROL DE ATOS ORDINATÓRIOS 
 
São atos meramente ordinatórios, cuja execução independe de decisão do 
magistrado: 
 
 
4.1.1 Atos de mero impulso oficial 
 
Os atos apresentados nesse subcapítulo fomentam a consagração da razoável 
duração do processo em razão de serem absolutamente administrativos, sendo 
uma parcela burocrática do processo que sequer tangenciam qualquer medida 
decisória. Tratam tão somente do aspecto cartorial da gestão processual, por 
isso não devendo ser conclusos ao magistrado, o que seguramente acarretaria 
em demora desnecessária, destoando da função precípua do juiz, julgar 
aplicando a lei ao caso concreto, como já abordado anteriormente. Esses atos

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