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Resumo - Olhares geográficos

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Olhares geográficos – Modos de ver e viver o espaço
Introdução (CASTRO; GOMES; CORRÊA)
	Os textos deste livro propõem-se a debater as diferentes formas assumidas pelo processo de estruturação social que se expressam no espaço. Além de manifestação da diversidade e da complexidade sociais, o espaço constitui uma dimensão fundadora do “ser no mundo”, mundo este — tanto material quanto simbólico — que se concretiza em formas, conteúdos e movimentos. Falar de espaço significa, portanto, visualizar a materialidade que deriva daquele processo.
	Política, cultura e economia são os três eixos privilegiados na análise dessa coletânea e indicam as diferentes maneiras como as práticas sociais interagem com o espaço, apropriam-se dele, transformam-no e revelam-no em uma ordem espacial coerente que deve ser interpretada pela Geografia. As perspectivas apresentadas e discutidas abrem grandes possibilidades para tratar do espaço, qualificando-o a partir de suas diferentes ordens organizativas, as quais dão a conhecer a inescapável interação entre o mundo material e simbólico, e possibilitam uma abordagem dimensional mais adequada ao espaço, um réu complexo cuja compreensão não pode ignorar sua base material concreta nem as formas simbólicas de apreendê-lo.
	Nesse sentido, tão importante quanto um esforço de definição do espaço objeto da Geografia é o esforço de analisar algumas de suas dimensões para interpretar os ordenamentos que resultam e integram a dinâmica do mundo social. Espaço material e espaço simbólico são formas-conteúdos do encontro de pares opostos, mas sempre em interação. Nenhuma é superior a outra, e cada uma revela uma faceta da multiplicidade desse objeto de investigação e análise. Nessa coletânea, política, cultura e economia são eixos que estabelecem grades de leitura do espaço que permitem revelar as especificidades de cada um deles. Esses eixos constituem três dimensões que expressam tanto o processo de estruturação e organização sociais quanto a materialidade que lhes é subjacente. Nenhum deles esgota as possibilidades de descrição e análise geográfica, e todos contribuem para uma melhor compreensão do objeto comum dos trabalhos, que é o espaço da Geografia.
	A política é contemplada sob dois aspectos: considerando o papel normativo dos conflitos de interesses e os arranjos e estratégias espaciais do fato política subjacentes às noções de espaço político e espaço público (Iná Elias de Castro e Paulo Cesar da Costa Gomes). A dimensão espacial da cultura é contemplada em três aspectos: a dimensão simbólica do espaço; a força do sagrado como ordenador e difusor espacial da dimensão religiosa; a que busca um esclarecimento original em torno das questões englobadas no termo cultura a partir da noção de espaço (Roberto Lobato Corrêa, Zeny Rosendahl e Vincent Berdoulay). Por fim, a dimensão econômica é abordada no texto de Gisela Aquino Pires do Rio, que apresenta o percurso da agenda da Geografia Econômica, contribuindo para a compreensão das dimensões do espaço econômico nesse trajeto.
 
Espaços públicos: um modo de ser do espaço, um modo de ser no espaço
Paulo Cesar da Costa Gomes
	A expressão “espaço público” vem sendo amplamente utilizada há mais de 40 anos. Alguns críticos arguem que essa ampla utilização e diversidade de significados é um obstáculo para sua utilização e pertinência deste conceito. Dois tipos de compreensão coexistem acerca deste tipo de espaço: no primeiro, há uma referência concreta a uma área física (praças, ruas etc.) e uma preocupação prática com o planejamento urbano; já no segundo tipo, estamos tratando de um espaço abstrato, fundamento da vida política e democrática, objeto de análise da ciência política. O autor argumenta que os urbanistas trataram de um espaço público de forma despida das preocupações políticas enquanto que os cientistas políticos trabalham a ideia do espaço público como uma esfera imaterial, sendo raras as tentativas de integração dessas dimensões. Para Gomes, a abordagem geográfica do espaço público, pode demonstrar a necessidade de se estabelecer um diálogo entre as partes. “A disposição física dos objetos interage com as práticas sociais, o espaço geográfico é uma forma-conteúdo, um conjunto de interelações entre os sistemas de formas físicas e o sistema de ações sociais. A maneira como essas formas físicas se organizam possuem uma lógica, uma coerência que constitui a matéria fundamental da interpretação geográfica dos fenômenos. A isso chamamos de ordem espacial”.
	Em resumo, de um ponto de vista geográfico, o espaço é simultaneamente o substrato no qual são exercidas as práticas sociais, a condição necessária para que essas práticas existam e o quadro que as delimita e lhes dá sentido – é sob essa perspectiva que o autor trabalha a noção de espaço público.
As incertezas quanto à natureza do espaço público
	O primeiro problema apontado pelo autor é a concepção binarista de que o espaço público é definido em oposição ao espaço privado. Primeiro, essa equação é simplista e não leva em consideração outros estatutos possíveis para o espaço (coletivo, comum etc.). Segundo, não se trata de uma definição, mas sim de uma classificação. Por fim, o problema principal dessa concepção é que não se percebe que existe uma necessária combinação e reforço de um estatuto sobre o outro.
	O segundo problema, reside na concepção segundo a qual os espaço públicos são juridicamente estabelecidos quando, na verdade, a existência deles precede as leis, que simplesmente os reconhecem e regulamentam. Há uma enorma confusão entre o regime de propriedade e o regime de direito desses espaços, a exemplo dos shopping centers (espaços públicos em regime de propriedade privada).
	O terceiro problema é a definição que vincula o espaço público a um pretenso atributo do livre acesso. Por um lado, essa definição confunde o status de um espaço público com outras categorias de espaço que podem possuir também esse atributo. Por outro lado, há vários espaços públicos que não dispõem de acesso livre ou indiscriminado (hospitais, escolas etc.).
O lugar da política
	Podemos dizer que espaços públicos correspondem à dimensão espacial da política em sociedades democráticas ou republicanas. Para o autor, a política é entendida como a atividade que permite a vida em comum, respeitando as diferenças individuais e os conflitos que surgem dessa coexistência – concepção liberal da política. Os espaços públicos são, nesse sentido, lugares onde os problemas são assinalados e significados, onde se exprimem tensões, o conflito se transforma em debate e a problematização da vida social é posta em cena. Características fundamentais do espaço público: copresença de indivíduos; princípio de publicidade (possibilidade de discussão, conflitos e visibilidade); o espaço físico concreto e material. 
	“Em suma, as manifestações da vida social nos espaços públicos são maneiras de ser nesses espaços, capazes, portanto, de unir uma dimensão física de copresença a uma dimensão mais abstrata de comunicação social. Por isso, nunca é demais insistir: o espaço público pode ser visto simultaneamente como lugar material e imaterial.
	
As condições para existência de um espaço público
	O espaço público é o terreno permanente de tensão entre as diferenças e a possibilidade da vida em comum. Ele aparece, por isso, como condição primeira da expressão de uma individualidade, que deve conviver com um universo plural – ele depende, pois, da permanente reafirmação do contrato social que o funda. A única identidade que deve primar sobre o espaço público é aquela que se associa à ideia de cidadania, ou seja, a que corresponde ao ordenamento espacial do pacto que funda a democracia – isto é, de uma associação que reconhece como legítimas as diferenças individuais, reconhece que os conflitos de interesse advindos são incontornáveis e devem ser regulados de forma contratual, por meio de compromissos fundados na racionalidade e na justiça. Para o autor, esse quadro conceitual tem a vantagem de nos mostrar o quãofundamental é considerar a dimensão espacial no fato político que funda o ideal democrático.
Alguns dos principais debates
	A crítica mais comum, de inspiração marxista, provêm de uma posição que contesta a possibilidade da democracia funcionar como justiça, uma vez que as sociedade liberais democráticas não conseguiram uma radical igualdade para todos os cidadãos (na bibliografia, refere-se a democracia como “democracia burguesa”, “liberalismo americano” etc.). Para estes críticos, o espaço público não é um espaço de pessoas iguais, de modo que eles contestam a ideia segundo a qual ele serve para misturar e promover o encontro de pessoas diferentes que tem direitos e deveres semelhantes. O contraponto liberal afirma que a igualdade republicana é a que mais próxima alcança a igualdade de condições de base, educação e saúde – um limiar de mesmas oportunidades, a partir do qual cada um construirá sua vida e terá mais ou menos sucesso nas escolhas que fizer. Os resultados não podem ser iguais uma vez que a sociedade diz respeito a pessoas com imposições desiguais, com anseios, expectativas e prioridades diferentes. O importante é manter a igualdade de princípios, não de resultados.
	Qualquer que seja o ponto de vista, é necessário perceber que as variadas interpretações sobre as dinâmicas com lugar no espaço público falam essencialmente das condições concretas das democracias. Para a Geografia, o espaço público, nesse sentido, é sempre um objeto central na discussão do espaço e da política ou do espaço político, e a contribuição do geógrafo pode ser justamente a de unir nessa discussão a forma material à esfera abstrata da ação política.
O espaço político: limites e possibilidades do conceito
Iná Elias de Castro
	A autora considera que apesar de Geografia Política ser um campo bem estabelecido, a discussão e a evidência do que deve ser compreendido como um espaço político ainda não se colocou para a maioria dos geógrafos, embora faça parte do léxico da ciência política. O desafio deste artigo é propor uma discussão sobre o espaço político a partir de uma dupla perspectiva, isto é, a dos fundamentos da política que se prolongam no espaço e a da ordem espacial dos fenômenos que se manifestam e afetam a ordem e os conteúdos da política. O “caminho” do artigo para cumprir com esse objetivo é primeiro traçar uma definição de política, tendo em vista as variadas possibilidade de compreensão do fenômeno de acordo com as diversas matrizes filosóficas. Na segunda parte do artigo, Iná discute a apropriação da Geografia da discussão política, apontando obstáculos, contribuições etc. Por fim, serão apresentados os argumentos que apontam o fenômeno político como relevante para a organização do espaço, e o espaço político será sugerido como uma possibilidade tanto conceitual quanto empírica.
A política como fundamento
	A política deve ser compreendida como a essência das normas socialmente instituídas para o controle das paixões, tornando-se a condição do surgimento do espaço político no qual é possível a convivência entre os diferentes, mesmo dispondo de direitos iguais. Seu significado clássico está em Aristóteles.
	
Da geografia sem política à geografia do poder
Início do século XX  Disciplina focada no território controlado pelo Estado-nação, tendo como principais escalas de análise o nacional e o global. Após a I GM, geógrafos e conhecimento produzido por eles foram mobilizados para ajudar a traçar novas fronteiras na Europa. Na II GM, a escola geopolítica alemã forneceu a justificativa intelectual para o autoritarismo do III Reich e para o expansionismo alemão. Os desdobramentos do nazismo, do fascismo e do Holocausto conduziram a disciplina ao ostracismo e seus tradicionais como fronteiras, minorias, territórios dos Estados, divisões políticas etc. passaram a ser tratados num empirismo despolitizado, abandonando suas ambições teóricas anteriores.
Segunda metade do século XX  Com a chegada das décadas de 1970 e 1980 há uma renovação no interesse pela disciplina no meio acadêmico, provocado pelo fim da Guerra Fria, a desagregação da União Soviética, a globalização, as disputas de minorias oir territórios dentro das fronteiras nacionais, a expansão e o fortalecimento da democracia representativa etc, paralelamente ao enfraquecimento do Estado nacional como interlocutor institucional privilegiado nos processos de transformação contemporanea. Esse novo interesse colocou em foco novos temas e novas escalas, como a local e a regional.
	A renovação se deu conservando o polêmico pluralismo temático e metodológico e aderiu novos interesse pelas questões politicas na geografia, se estabelecendo nos debates que se fundamentam no território como fonte ou estratégia de poder. Além disso, tal renovação levantou questões quanto a opção por uma variedade de temas e de métodos ou por um método único para abordar temas variados. Ao contrário dos demais ramos da geografia que obtiveram suporte teóricos de outras ciências sociais (teorias da localização da economia; modelos de ecologia urbana da sociologia; modelos da ciência política) que nem sempre serviram à geografia política. Após a crítica a Ratzel do início do século, para os críticos da geografia política continua faltando uma base teórica unificadora. Contudo, esse é, na verdade, um problema das ciências sociais em geral. A geografia política em si sempre respondeu à necessidade acadêmica de marcos metodológicos bem claros, apesar de nem sempre ter recorrido àqueles modelos abrangentes.
	Superado o fantasma da associação da geografia política com o projeto nazista de poder, fundado na expansão territorial, presente nas décadas de 1950 e 1960, e a sua marginalização na vaga quantitativa dos anos 70, novas perspectivas emergiram. Com o desmonte da União Soviética e a queda do socialismo na Europa ressurgiram os problemas clássicos dos territórios, fronteiras e do Estado, recolocando na agenda da disciplina os temas relativos às nações, aos nacionalismos e aos regionalismos.
	
Do espaço do poder ao espaço político
	É possível indicar que o espaço político tem algumas características distintivas, como: é delimitado pelas regras e estratégias da política, é um espaço dos interesses e dos conflitos, da lei, do controle e da coerção legítima. Em outras palavras, uma abordagem do espaço a partir da política define um recorte onde interesses se organizam, onde as ações possuem efeitos abrangentes na sociedade e no espaço e onde existe a possibilidade do recurso à coerção, pela lei ou pela força legítima.
	A política, de acordo com o dicionário, pode ser um substantivo que quer dizer a arte ou ciência de: governar, ou ainda da organização, direção e administração de nações ou Estados e a aplicação desta arte aos negócios internos e externos da nação. Em sentido estrito, a palavra política refere-se à ação institucional do Estado. Em sentido amplo, engloba os objetivos e a ação de outros atores sociais, nesta acepção se pode falar em política de uma empresa, de uma associação, de uma igreja etc. Há uma diferença fundamental na abrangência das ações entre cada uma destas acepções. A política como ação das instituições públicas é social e territorialmente abrangente, enquanto a ação de qualquer outro ator social é restrita, ou seja, afeta apenas áreas e grupos diretamente vinculados.
	A partir dessa diferenciação, podemos delimitar o campo da geografia política apontando três dimensões necessárias aos problemas considerados pertinentes a sua análise: (1) o pressuposto da política, em seu sentido restrito, como central ao controle e à definição dos limites do cotidiano das sociedades; (2) o território como materialidade e arena dos interesses e das disputas dos atores sociais; (3) o poder como um exercício resultante de relações assimétricas que se organizam no interespaço do mundo social.
	A geografia política analisa como os fenômenos políticos se territorializam e recortam espaços significativos das relações sociais, dos seus interesses, solidariedades, conflitos,controle, dominação e poder. Esses espaços podem ser identificados como fronteiras, centro, periferia, guetos, unidades políticas etc. - análise desses espaços, o recurso metodológico da escala é necessário. Para análise desses espaços, o recurso ao artifício metodológico da escala tem sido uma perspectiva adequada porque identifica o significado das escalas de ação institucional e os recortes territoriais produzidos por esta ação.
	
O sagrado e sua dimensão espacial
Zeny Rosendahl
	“O sagrado irrompe determinados espaços, qualificando-os em uma dimensão religiosa, além das dimensões econômicas, política e social que apresentam. A religião imprime uma ordem para o espaço, para os crentes essa ordem é marcada por momento de transcendencia que a cada tempo sagrado os diferencia, criando lugares, territórios e itinerários sagrados. O presente texto (…) inicia-se disutindo os conceitos de espaço sagrado e espaço profano, seguindo-se de uma breve apresentação do tema da difusão espacial. Os lugares sacrados e sacralizados, o território e a terrirtorialidade do sagrado e os itinerários das peregrinações e procissões também são discutidos. Esse temário expõe, em realidade, a dimensão espacial do sagrado, ratificando a espacialidade como foco principal com o qual o geógrafo analisa a sociedade e a sua dinâmica.”
	“A Geografia da Religião deve ser compreendida como o estudo da ação desempenhada pela motivação religiosa do homem em sua criação e sucessivas transformações espaciais. Supõe-se a existência de um impulso religioso no homem que o leva a agir sobre seu ambiente, qualificando-o com formas espaciais que estão diretamente relacionadas com as suas necessidades. São marcas simbólicas que respondem aos desejos do devoto em suas práticas espaciais”.
	A literatura aponta forte continuidade ao estudo do sagrado e do profano em três dimensões de análise, a saber, (a) a dimensão econômica que abrange a mercantilização dos bens simbólicos e o lugar religioso; (b) a dimensão política na qual reconhece as estratégias político-religiosas das instituições possuem a gestão do sagrado; e (c) a dimensão do lugar simbólico que trata do significado das práticas religiosas na diversidade da difusão da fé e na pluralidade de identidades religiosas.
 
Considerações finais
	O presente texto busca evidenciar a espacialidade do sagrado, ratificando o domínio da emoção e do sentimento do ser no mundo com alguns temas que fazem parte da tradição geográfica; O sagrado, como manifestação cultural, afirma-se no lugar, no espaço, no território, na paisagem e na região. Ocorre no tempo sagrado, recriado e vivenciado com intensidade pelo devoto.
 
Espaço e cultura
Vincent Berdoulay
	O temo cultura é altamente polissêmico, ele revela uma percepção da diversidade dos modos de vida, dos costumes, dos símbolos ou das práticas que os seres humanos utilizam nas diversas esferas da vida pessoal ou coletiva. O olhar geográfico nos indica que essas práticas têm uma dimensão espacial, que requerem uma organização de territórios ou uma interação com o meio ambiente, levando a uma adaptação deste ou à sua transformação.
A relação com o meio ambiente: determinismo ou possibilismo?
	Glacken (1967) distingue três espécies de questionamentos a respeito das relações entre o homem e a natureza, cujas repercussões se encontram posteriormente no momento de fundação das ciências humanas. O primeiro deles tem origem teleológica, e diz respeito aos questionamentos acerca de um plano divino prevendo a diversidade das configurações e das particularidades terrestres. O que predomina nesses debates é a existência ou contestação de uma ordem natural, orientando o que deveria ser a ordem cultural – ponto de vista bastante minoritário entre os geógrafos contemporâneos.
	Outro questionamento diz respeito ao determinismo da natureza no futuro das culturas. Na concepção determinista, as características do meio ambiente natural influenciam o homem de tal modo que seus costumes, comportamentos e formas de governo dependem dela totalmente, ainda que, muitas vezes, esse determinismo não seja absoluto, deixando margens de manobras ao homem. Essa concepção exercerá grande influência no momento de fundação das ciências humanas no séc. XIX. No entanto, desde o fim do século XVIII as observações que foram feitas em relação ao impacto da ação humana sobre a natureza constituiram objeto de uma visão global. Aqui, o homem aparece como um transformador importante do meio ambiente, devendo ele ser considerado um agente geográfico (ascensão do protecionismo/conservacionismo). A percepção sobre essa ação humana transformadora, era otimista, sendo ela percebida de maneira positiva por sua capacidade de transformar o meio ambiente para o bem comum. “A cultura modifica o meio ambiente, e não, ou pouco, o inverso.”
	Nesse contexto que se desenvolveu a Geografia como disciplina universitária. Essa disciplina, na divisão de tarefas que tende a se impor, é a que mais se dedicou a ideia de homem transformador do meio ambiente. Os pioneiros dessa formulação foram La Blache e seus discípulos - “é esse possibilismo que insiste sobre a iniciativa humana e, ao mesmo tempo, sobre a força dos hábitos privilegiando os estudos dos gêneros de vida e das organizações regionais, como mediações, que fornecem a abordagem mais sutil em matéria de relações entre homem e meio ambiente).
	O fim do século XIX e o começo do século XX são também épocas em que o termo cultura começa a entrar no vocabulário das ciências humanas. Antes de entrar na questão da chamada geografia cultural, Berdoulay lembra as conotações que aparecem no uso do termo. Na Alemanha, cultura era visto em oposição à natureza, conotava um grupo humano unido por tradições e língua e que pretende-se perpetuar em um território bem definido. Na Grã-Bretanha a concepção estava ligada sobretudo à etnologia que surgia para estudar os povos arcaicos. Segundo Tylor (1871), a cultura é esse todo complexo que engloba noções, conhecimentos, crenças, artes, leis, a moral e os costumes e todas as outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade.
Uma geografia cultural ao risco das teorias da cultura
	A expressão geografia cultural foi difundida por Carl Sauer e a “Escola de Berkeley”. Ao difundir a expressão, Sauer procurou promover uma Geografia Humana que não caísse no determinismo ambiental nem no economismo, em oposição àquela divulgada pela Universidade de Chicago. Sauer, insistindo sobre o papel do homem, seus valores, atitudes e crenças na modificação do espaço terrestre, investigou a transformação da paisagem natural em paisagem cultural. Por sua vez, aliando-se à escola francesa, a escola de Berkeley privilegiou a perspectiva histórica, as formações regionais e o estudo das paisagens transformadas pela ação humana. Nessa concepção, ao invés de inventariar todo estudo geográfico deve contribuir para responder as questões sobre a transformação cultural do globo. 
	Os estudos culturais na Geografia lançaram as bases para o que veio a ser a abordagem humanista na Geografia, onde se desenvolveram estudos sobre o sentido dos lugares, as atitudes em relação à natureza, as percepções do meio ambiente, religiões, modalidades de comunicação etc. Os estudos culturais também foram amplamente criticados, sobretudo pelos geógrafos de filiação marxista, para quem os fatos culturais deveriam ser analisados tendo em vista as estruturas produtivas da sociedade. A despeito das muitas críticas e reticências, a Geografia Cultural demonstrou certa resiliência, tendo se firmado nos debates de geógrafos ao redor do mundo.
A dimensão ideológica da paisagem cultural: manipulação ou referencial
	O conceito de paisagem sempre configurou um conceito central na Geografia Cultural. O interesse por tal conceito é renovado a partir do momento que, com base em Sauer, os estudiosos se debruçam sobre a morfologia da paisagem no entanto, com foco nos propósitos das atitudes, nas crenças e nos valores morais da sociedade (paisagemvernacular).
	Segundo a concepção marxista, ideologia representa uma função de mascaramento da realidade, uma representação falsa imposta pelas classes dominantes para facilitar sua dominação sobre as outras. A partir disso, a paisagem pode ser lida e analisada como um texto produzido para fortalecer um poder. Essa geografia cultural crítica procurou denunciar as relações de poder presentes na paisagem e na organização do espaço. Também há entre os geógrafos aqueles que se interessam pela ideologia não apenas como um instrumento de poder e apropriação de territórios, mas também, como “representações que visam à ação”. Essa concepção considera as ideologias atividades ordinárias, constitutivas da vida em sociedade – um fenômeno social e geográfico nem bom nem ruim em si mesmo.

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