Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tecnologias Educacionais Eduardo Cardoso Melo Tecnologias Educacionais M.e. Eduardo Cardoso Melo Diretoria Geral Eloane Coimbra Lima Direção Administrativa Eloane Coimbra Lima Secretaria Acadêmica Ginoã das Graças Coimbra Lima Coordenação Cleidinalva Maria Barbosa de Oliveira Coordenação do Nead Tiago Soares Da Silva MELO, Eduardo Cardoso. Tecnologias Educacionais. 1ª ed. Água Branca; Isepro – Cursos de Graduação. 190p. Bibliografia 1. Pedagogia 2. Informática 3. Título. Todos os direitos em relação ao design deste material didático são reservados à Isepro. Todos os direitos quanto ao conteúdo deste material didático são reservados ao autor. Todos os direitos de Copyright deste material didático são reservados à Isepro. 5 Sumário Ementa ..................................................................................................................... 7 Currículo Resumido do Professor ............................................................................. 9 Bibliografia Utilizada ................................................................................................. 11 Unidade 1 Concepções e Abordagens de Uso das Tecnologias da Informação e Comunicação ............................................................. 13 Módulo 1 A educação e as novas tecnologias .......................................................................... 15 Módulo 2 O relacionamento entre a escola e a tecnologia ...................................................... 21 Módulo 3 A internet como recurso educacional ....................................................................... 30 Módulo 4 Utilização das TICs através de projetos .................................................................... 38 Resumo .............................................................................................................. 50 Exercícios de Aprendizagem .............................................................................. 52 Unidade 2 O Papel do Professor na Sociedade do Conhecimento. .......................................... 57 Módulo 1 Mudanças sociais e educacionais: o fazer e o compreender .................................... 59 Módulo 2 As novas tecnologias e os desafios atuais para a prática docente ........................... 68 Módulo 3 A utilização da informática na sala de aula ............................................................... 74 Módulo 4 O perfil cognitivo do leitor em ambientes virtuais ................................................... 80 Resumo .............................................................................................................. 91 Exercícios de Aprendizagem .............................................................................. 92 Tecnologias Educacionais 6 Sumário Unidade 3 Novos Gêneros do Discurso nos Ambientes Digitais ............................................... 97 Módulo 1 A comunicação, a educação e as novas tecnologias ................................................ 99 Módulo 2 Processo de formação docente com linguagens comunicacionais ........................... 106 Módulo 3 Diferentes tipos de softwares utilizados na educação .............................................. 112 Módulo 4 Impacto da tecnologia na educação através das ferramentas Web 2.0 ................... 120 Resumo .............................................................................................................. 144 Exercícios de Aprendizagem .............................................................................. 145 Unidade 4 Formação Online de Educadores: Limites e Possibilidades ..................................... 151 Módulo 1 O que é Educação a Distância (EaD) ........................................................................ 153 Módulo 2 A formação docente em EaD .................................................................................... 163 Módulo 3 A formação de professores tutores ........................................................................... 170 Módulo 4 Mídias e tecnologia para EaD ................................................................................... 177 Resumo .............................................................................................................. 185 Exercícios de Aprendizagem .............................................................................. 186 7 Ementa Dimensão política e pedagógica da organização escolar brasileira. As Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – princípios orientadores, finalidades e objetivos. Estrutura e gestão da educação básica. Legislação específica para o ensino fundamental. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental 9 Possui mestrado em Administração pela Universidade FUMEC. Especialização em Engenharia de Software pela Universidade Federal de Lavras e graduação em Tecnologia da Informática pelo Centro Universitário Newton Paiva. Além do trabalho como docente universitário, possui experiência prática e funcional em desenvolvimento de sistemas, banco de dados e engenharia de software. Atualmente, também é professor da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Bom Despacho. Currículo Resumido do Professor 11 Bibliografia Básica: MARQUES, Mara Rubia Alves (Orgs.) LDB - Balanços e perspectivas para a educação Brasileira. Campinas: Alineia, 2013 DEMO, PEDRO. A Nova LDB: Ranços e avanços. Campinas: Papirus, 2013 CARNEIRO, MOACI ALVES. LDB Fácil- Leitura critico- compreensiva artigo a artigo.21ª ed. Rio de janeiro: Vozes, 2013 Bibliografia Complementar: BIANCHETTI, Lucídio; MEKSENAS,Paulo (Orgs). A trama do conhecimento: teoria, método e escrita em ciência e pesquisa. Campinas, SP: Papirus, 2008. SOARES, Marco Aurélio Silva. O pedagogo e a organização do trabalho pedagógico. 2 ed. Curitiba: Intersaberes, 2014. FERRAREZI JÚNIOR, Celso. Sintaxe para a educação básica. 1 ed. São Paulo: Contexto, 2012. PILETTI, Nelson. Educação básica: da organização legal ao cotidiano escolar. 1 ed. São Paulo: Ática, 2010. Bibliografia Utilizada 13UNIDADE 1 UNIDADE 1 Concepções e Abordagens de Uso das Tecnologias da Informação e Comunicação 15UNIDADE 1 MÓDULO 1 A educação e as novas tecnologias A discussão, teórica ou não, acerca da introdução de tecnologias computacionais no espaço escolar é hoje uma realidade. Qualquer pessoa tem algo a falar a respeito deste tema, alguns com maior nível de conhecimento, outros nem tanto, porém há um ponto comum a todos: a questão é extremamente polêmica. Paralela a essa constatação, percorrendo a produção teórica inserida nesta temática – informática e educação – verificamos que seu núcleo de debate se localiza na educação: possuímos técnicos em computação, linguistas, psicólogos, engenheiros de produção, antropólogos, neurologistas, enfim, uma gama variada de interessados discutindo as possibilidades cognitivas desses equipamentos, todavia poucos pedagogos. Este tópico visa trazer a discussão para o campo pedagógico, quer dizer, conhecer e estudar as efetivas possibilidades de um trabalho pedagógico reconhecidamente superior mediante a utilização dessas tecnologias computacionais. O que, de fato, elas trazem como novidade em relação aos materiais de ensino tradicionais? Possibilitam elas, um processo de interação confiável relativamente à interatividade? Estas questões de cunho teórico é que estão nos preocupando no momento, e são elas que pretendemos discutir no decorrer deste material, ainda que de forma sucinta, contudo buscando colocar determinadas questões-chave, no âmbito dessa temática, a serem debatidas. A ocorrência de tecnologias de infor- mação e de comunicação nos processos educacionais é cada vez mais evidente, de modo especial nos países do chamado “Primeiro Mundo”, seja na condição de veículos principais, seja como recursoscomplementares. Significativas trans- formações ocorridas na educação, mais especificamente na teoria pedagó- gica, estão de algum modo ligadas às mudanças que também ocorreram nos meios de comunicação: da educação protagonizada através da oralidade e da imitação, ao ensino via linguagem escrita, tendo como suporte o livro impresso, até os recursos computacionais hoje à dispo- sição dos usuários. Computadores (hardware), a cada dia mais poderosos, facilitam o aparecimento de ferramentas (software) de apoio de maior sofisticação, assim Tecnologias Educacionais 16 UNIDADE 1 como sistemas de autorias e sistemas de hipertexto, utilizando multimídia e inteligência artificial. Desde 1945, nos Estados Unidos, quando Vannevar Bush mostrou sua ideia de um dispositivo mecanizado capaz de folhear e inserir, com rapidez e flexibilidade, anotações em sua grande biblioteca de literatura científica, podendo conter textos, fotografias, desenhos, gráficos, assim criando o hipertexto, quer dizer, um sistema capaz criar e manter conjuntos de trechos de textos interligados de forma não sequencial, incontáveis avanços tecnológicos se tornaram realidade na área de informática e comunicação. O desenvolvimento do hardware vem tornando possíveis microcomputadores dotados de recursos impensáveis até pouco tempo atrás, assim difundindo a possibilidade de um trabalho multimídia que, ao juntar o realismo da televisão com a flexibilidade do computador, está gerando uma revolução nunca imaginada no campo da educação. Entretanto, ainda não ficou definida em que metodologia de ensino e aprendizagem se basearia, para melhor utilização desta tecnologia, a partir das concepções pedagógicas vivenciadas no cotidiano escolar. Partindo do sistema de Instrução Apoiada por Computador tradicional, estruturado na teoria skinneriana, no qual o software segue método dirigido de pergunta- resposta, até os sistemas de Instrução Inteligente Assistida por Computador, fundamentados nos estudos das ciências da cognição, com recursos de multimídia, deu-se um passo certeiro na conquista 17UNIDADE 1 da qualidade do ensino por computador. É conveniente frisar que o foco central desta discussão está no domínio do conhecimento pedagógico. Busca-se o exame dos termos em que o diálogo ocorre, ou seja, visa analisar o comportamento do emissor ante a transmissão de conteúdos e os níveis de intervenção do educando na recepção, produção e circulação do conhecimento. Porém, esta não é uma questão de todo nova, e tampouco surgida pelo aparecimento de tecnologias disponíveis. Pelo contrário, compõe não é de hoje, a discussão de grande parte das teorias de aprendizagem e suas correspondentes práticas pedagógicas. As relações estabelecidas a partir da sala de aula refletem o conjunto das características dos alunos e de seus professores, inclusive da possível mistura de ambos (aluno e mestre). Hoje em dia, muito se discute a provável interatividade e interação que os sistemas tele educativos são capazes de proporcionar à relação pedagógica, tendo como princípio o tripé aluno, professor e conhecimento. Nesta ótica, a informação se reduz somente a um serviço que se presta unilateralmente ao usuário- receptor; ou de outra forma se constitui num processo de interação entre alunos, professores, grupos e comunidades, que assim podem estabelecer uma comunicação plena e de fato dinâmica, multidirecional, interativa. A informática, vista neste material como união de elementos da computação, das telecomunicações e das artes técnicas gráficas e visuais, assume um papel de destaque neste movimento de utilização do espaço/tempo pedagógico de novas formas de pensar a educação e, por consequência, nas suas implicações para o trabalho docente. A tecnologia teleinformática, por sua vez, traz inscrita a possibilidade de permitir intercâmbios diretos entre dois ou mais estudantes, dispersos geograficamente, proporcionando-lhes um espaço comum de discussão, trabalho e construção de conhecimento. Através desta tecno- logia, o aluno tem possibilidade de sair de seu isolamento e aprimorar sua aprendizagem graças a diálogos efetiva- mente interativos, quer dizer, através da produção de um material multimídia que de fato componha estes meios no ato pedagógico como um todo. No esforço de determinar o alcance destas tecnologias da comunicação e informação, inúmeros teóricos buscam descrevem seus efeitos sobre as sociedades, nas variadas esferas da vida humana. Incontáveis metáforas foram usadas por estes autores para explicar a configuração da sociedade contemporânea partindo destas tecnologias, algumas tendo inclusive se Tecnologias Educacionais 18 UNIDADE 1 constituído em lugar-comum. Todos concordam num determinado aspecto: estaríamos entrando decidi- damente numa sociedade de conhe- cimento, na qual o recurso econômico mais valioso passa a ser o conhecimento. Todavia, há de se convir que a expressão incontestável para definir este momento histórico, partindo-se do potencial das tecnologias de comunicação e infor- mação, é a possibilidade de efetivação de uma “democracia cognitiva”, em que se permite a construção individual e coletiva de conhecimentos, num espaço e tempo especificados, tendo como fim último a promoção de todos os homens e mulheres. Neste aspecto, a informática se trans- forma em ferramenta que propicia a simulação/imaginação de modelos mentais, pois um modelo digital não é lido ou entendido como um texto clássico, ele geralmente é explorado de forma interativa. A mencionada possibilidade de cons- trução do conhecimento por simulação vai demandar habilidades e competên- cias, de resto qualificações, para que atue sobre o imaterial, diferentemente do paradigma tayloriano-fordista, no qual a força muscular era a principal demanda almejada. Essa alteração na natureza e conteúdo do conhecimento e, por consequência, das qualidades, traz embutidos grandes desafios à instrução escolar, os quais não pode se negar a enfrentar. Constituem, principalmente, das já constatadas e necessárias trans- formações de práticas pedagógicas no sentido de estabelecer condições para a construção dos conhecimentos almejados por esta nova configuração do mundo do trabalho que, por sua vez, exige um novo cidadão/profissional. Sobre o tema, como podemos constatar, Lévy (1993, p. 7) assim se expressa com rigorosa propriedade: Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e da informática. As relações entre os homens, o trabalho, a própria inteligência dependem na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação e aprendizagem são capturadas por uma informática cada vez mais avançada. Não se pode mais conceber a pesquisa científica sem uma aparelhagem complexa que redistribui as antigas divisões entre experiência e teoria. Tais considerações nos remetem, nova- mente, às teorias de aprendizagem e suas derivações pedagógicas, onde nos dete- remos na questão principal: de que forma o sujeito vivencia seu processo epistêmico? Quer dizer, como de fato se processa sua aprendizagem? Que mecanismos 19UNIDADE 1 cognitivos são acionados no processo de aprendizagem, que lhe permitem passar de um estado de menos complexidade do conhecimento a outro, de complexidade mais acentuada, para enfim transformar quantidade em qualidade? Qual papel cabe à informática, ou se preferirem, ao computador, neste contexto? E, por fim, como ele poderia atuar, efetivamente, como ferramenta pedagógica inserida nos princípios da interação? Para se chegar às respostas buscadas, e a partir delas imaginar as metodologiasde ensino necessárias, deve se considerar que são as ações cognitivas, de fato realmente trabalhadas pelo ambiente social que proporcionam ao sujeito a capacidade de elaboração do conhecimento. No âmbito da psicologia genética, trata- se de um processo de (re)construção, ou seja, de um trabalho que o sujeito realiza sobre as coisas. Ou para expressar diferentemente: o sujeito trabalha e atua, prática e conceitualmente, sobre as coisas, promovendo transformações nelas. Por esta transformação, ele (re) constrói o conhecimento socialmente compartilhado, em igual tempo que se (re)constrói como sujeito. As representações (das coisas e dos fatos) não estão armazenadas na cabeça do sujeito, sendo utilizados diretamente nas situações vivenciadas, porém são Tecnologias Educacionais 20 UNIDADE 1 construídas a partir de modelos mentais flexíveis proporcionados pelo contexto – o que dá ao indivíduo oportunidade para atuar heuristicamente (por experiência) e recolocar, reconstruir e reconceituar a experiência de muitas e diferentes maneiras. A discussão acerca do possível impacto dos dispositivos técnico-informacionais na estrutura educacional abrange a necessidade de criação de uma cultura informática educativa que integre os instrumentos, tanto na concepção quanto na prática, tendo presente sempre a complexidade de relação entre os instrumentos informáticos e os conhecimentos e técnicas utilizados pelo aluno. Quer dizer, uma abordagem que inclua a criação de instrumentos gerais de desenvolvimento, com qualidade para atender as necessidades, associada a reflexões próprias quanto à interação sujeito-máquina. Ao imaginar a utilização da informática como recurso didático no processo de ensino e aprendizagem, é relevante considerar três aspectos determinantes nas suas potencialidades e efetividade no espaço escolar: • Conferir a validade da introdução da informática na escola; • Estudar, conjuntamente com os professores, os conteúdos, objetivos e métodos das referidas experiências e os métodos de avaliação de sua eficiência; • Fazer chegar aos professores a capacitação técnica primária/ primordial, sem desejar formar especialistas. Finalmente, uma situação de aprendi- zagem ocupa vários atores tais como alunos, alunas e as atividades que estejam desempenhando, o professor e o papel que representa o sistema infor- mático e o lugar a ele destinado. Ou seja, uma interação efetiva entre indivíduos e instrumentos, definidos e escolhidos para preencher uma função determinada, a de permitir que os alunos aprendam. Este se constitui o grande desafio colo- cado para os educadores, a partir de necessidades reais e concretas das rela- ções sociopolítico-econômicas (como mencionado na abertura deste material) e que continuam exigindo uma nova forma de atuação pedagógica, estabe- lecida a partir uma nova relação com o saber. Portanto, torna-se imperioso e prioritário analisar as continuidades e as rupturas, visando uma real inclusão das tecnologias propiciadas com o advento e avanço técnico-científico nas práticas pedagógicas. 21UNIDADE 1 MÓDULO 2 O relacionamento entre a escola e a tecnologia Desde algum tempo as novas tecnologias de informação e comunicação estão presentes em nosso cotidiano como uma realidade social, notadamente para crianças e adolescentes que mantêm estreita relação com este universo, já totalmente integrado ao seu modo de ser/viver. Quando chegam à escola, estas pessoas levam consigo o desafio de que o estabelecimento também se equipe com tais tecnologias, como que assim determinando uma ação pedagógica que faça uso de tal linguagem tecnológica como portal de aprendizado. Sob este foco é que as novas tecnologias educacionais serão aqui abordadas, tal o desafio de interatividade requerido entre estudantes, professores e instituição. Tecnologia e escola. Como é que estas duas “atividades” se compatibilizam em função de exporem cultura que recaia sobre a vida prática, a ponto de não personificar efetivação automática de um processo coordenado do ato de ensinar, mas representarem um novo modo de educar que se apresente como lugar prazeroso para os estudantes, partindo da realidade social de um tempo histórico com variações comportamentais e tecnológicas? O questionamento sobre a relação escola, novas tecnologias e ação pedagógica, não é de agora e vem provocando debates e manifestações favoráveis e contrárias. A questão está colocada e deve ser discutida. Hoje, o fato já se tornou uma realidade pedagógica no convívio escolar, pela simples razão de que no tempo presente, tendo em vista sua expansão, a internet já incide sobre a cultura de nossa sociedade, inegavelmente influenciando o jeito de ser e o modo de vida tanto de crianças quanto de adolescentes. Como local social privilegiado para o desenvolvimento da cultura, a escola não pode ficar à margem da vida social e nem das mudanças culturais e científicas. Embora não seja um lugar social que viva a reboque das novidades e das influências que estas projetam sobre a vida prática e comportamental das pessoas envolvidas, é lógico pensar que é um local onde se ensina e aprende – dinâmica esta vivenciada por todos. Desta maneira, é que aparecem métodos e técnicas que vão se sucedendo no tempo, enquanto enriquecem as formas de aprender. Tecnologias Educacionais 22 UNIDADE 1 Não se almeja ver a escola como um sistema operacional. Ela tem sua vida cultural ligada à pessoa humana sob todos os aspectos, expressões e sentido. O que se busca é sinalizar para a realidade contemporânea de uma escola que progride em meio a determinada estrutura funcional digitalizada, reclamando, por isto, por uma adaptação e união entre gerações, que entendemos como resultados desafiadores e marcantes de um fato social. A escola, entendida como lugar social, realiza sua ação educadora, que como ação ideológica é capaz de edificar uma nova cultura educacional, sob os mais amplos aspectos. O presente tópico objetiva, além de demonstrar como andam os avanços tecnológicos, também ajudar na compreensão das forças transformadoras embutidas na relação dialética (de argumentação) e estabelecimento de um novo lugar cultural, nascido do entendimento entre a escola tradicional e os avanços tecnológicos modernos, como igualmente estabelecer (no contexto) o lugar do ser humano, via análise do local onde estuda. Através desta investigação sociológica pretende-se chegar à ação pedagógica coletiva da escola como realmente um fato social. Frente ao exposto, é possível afirmar que este processo de transformação já é um dado real, marca inequívoca de uma Aqui, neste tópico, enfocamos uma destas formas, que altera não só a estrutura e funcionamento da sociedade como chega ao limite de alterar a dinâmica da vida – as novas tecnologias de informação e comunicação. Nossa atenção estará centralizada na escola como sendo um lugar cultural, e onde esta boa nova emerge como sinal de transformação de formas e métodos, assim constituindo um fato social de extremo significado para a instituição denominada escola. 23UNIDADE 1 alteração dos métodos de se educar, agora cada vez mais atrelados a tecnolo- gias como marcas identificadoras de uma geração que se educa, por isto mesmo denominada geração digital. Identidade esta a ser absorvida pela instituição como um processo de coerção do modo operacional do estar no tempo (atualizar- se). Neste aspecto, esse novo perfil estenderá tal “obrigatoriedade” também sobre uma geração que ainda não tem nessa modernidade sua marca prática, contudo participando de um processo educacional em fase de transição. Assim se explica a coerção exercida sobre o indivíduo, a sociedade,a instituição, e tanto exterior como interior. Ao tempo em que se fala da escola, destacando-lhe a dimensão de vida social e vitalidade cultural, fica estabelecida também a base reflexiva a respeito do perfil temporal acerca do qual se procura orientar um foco analítico, que através deste texto se refere à cultura digital, cada vez mais disseminada na vida do estudante, e por via de consequência na da escola, local esse onde se comu- nica especialmente suas realidades existenciais. Realça-se, portanto, desta maneira, a força coercitiva como uma realidade de que a instituição escola não está imune, uma vez que pelo tempo histórico já se tornou um processo real de vida e existência, ainda que alguns indivíduos teimem em retardar a incidência das novas tecnologias. Tal procedimento traz como risco o desestímulo aos estudantes e o afrouxamento institucional, daí provo- cando incapacidade de comunicação interna. Em caso de ocorrência, este procedimento funcionaria como desestí- mulo e negação à ação cultural do tempo. Algo nada sadio nem recomendável. Sob este enfoque, o mundo digital quer garantir o crescimento de uma nova cultura educacional. Dessa maneira é que se faz patente o quanto os ambien- tes escolares vêm se guarnecendo de equipamentos de informática, para res- ponderem positivamente às aspirações relativas ao tema exigidas pelos tempos atuais. Não há excesso em afirmar que o mundo digital tem relevância para ado- lescentes e crianças que frequentam as escolas hoje, em igual proporção a tarefa de educar representa para a escola, presentes os termos de proporcionar uma educação sólida onde se busca a superação de todos os desafios. Não por outro motivo, o desafio de adaptação do ato de educar, inerente às culturas, ambientes e lugares já foi ressaltado pelo conhecido educador Paulo Freire, como necessidades efetivas a tais atos, ou seja, uma possibilidade para se alcançar sucesso mais expressivo na ação educadora reside na constância, que ainda segundo o mestre se reforça na prática, como fonte de aprendizado. Tecnologias Educacionais 24 UNIDADE 1 A prática leva, pois, ao aprendizado. E tudo em sintonia com o mundo das novas tecnologias, que ensejam favorecer o aprimoramento e o domínio funcional. A título de reforço ou encorajamento aos mais tímidos e apreensivos quanto às suas capacidades, é possível garantir que o ato de praticar abre o domínio tecnológico. Vale o antigo ditado popular: “quem não se arrisca, não petisca”. No mundo das novas tecnologias da informação e comunicação, o exercício, quer dizer, o ato de “fuçar” sem medo constitui-se num recurso de extrema importância para o aperfeiçoamento do uso, garante mais alma à tecnologia, é o fator humano que desenvolve a técnica lhe garantindo vitalidade. Ter consciência e assumir toda amplitude do ato de educar é a maneira de se continuar compreendendo o pensamento de Paulo Freire, como figura operante e de reconhecida influência na formação da grande maioria dos educadores brasileiros; educadores estes que, atualmente, se apresentam talvez temerosos a respeito de como usar as novas tecnologias da informação e comunicação, tanto na vida escolar quanto na prática educativa. A este pedagogo vale recordar que o processo educacional, em sua plenitude, é ação recheada de troca de saberes, um desafio constante, que aqui se explicita em manifestar que o estudante digital, conhecedor e dominador de um tipo de técnica, pode trocar sua experiência e praticidade com o seu professor, este igualmente dominador de respectivas técnicas, didáticas e conteúdos. Fica reforçada aqui a importância de assumir o novo, o diferente, o de pouca dominação, e juntar ao contexto das questões hoje apresentadas à escola, num trabalho que vise realizar a ação educadora em sua amplitude. 25UNIDADE 1 Um fato relevante no quadro atual, é que devido à formação (antiga), parcela considerável do professorado apresenta sensível desatualização (quando não repulsa) no campo das ações digitais. Tal posição seguramente compromete o nível de aproveitamento desejado para o ensino. Neste sentido, implementar a inclusão digital como elemento curricular na preparação do professor, deve se somar à facilitação do gestor da escola visando também uma formação continuada, que de igual modo continue servindo de maior estímulo a quem se dedique ao professorado. A adequada formação do professor é uma questão central e importantíssima, sobretudo no que diz respeito à união da tecnologia com a ação pedagógica. Ao mesmo tempo, é preciso considerar as abordagens de formação desses professores, que vão além de simples instrumentalização, englobam também a articulação entre tecnologia e as respostas pedagógicas. É fundamental pensar em iniciativas inovadoras, que além de transferirem para a máquina o que o livro didático apresenta, explorem as potencialidades tecnológicas diante das necessidades pedagógicas e que ainda discutam o novo papel que o professor ocupa no espaço escolar, não mais como transmissor de informações, e sim, como organizador do processo de aprendizagem, fazendo a articulação entre as experiências dos alunos e o saber já sistematizado pela cultura. (ALMEIDA, 2000, p. 16) Numa perspectiva prática, estamos capa- citados a anunciar que é perfeitamente possível um casamento da cultura de formação do professorado (da geração X, de 30 a 45 anos, mais ou menos, ou de gerações acima desta idade), com a cultura das gerações das crianças e adolescentes (gerações chamadas I e Y, de 0 a 29 anos, mais ou menos). Na prática, esse casamento é caracterizado por vantagens que se desdobram em ações pedagógicas, como a de um professor que conduz o trabalho por meio de seu conhecimento e didática. Em igual tempo, os estudantes associam suas capacitações próprias de operacionalização das novas tecnologias, finalizando a ação pedagógica com maior elevado no aprendizado. Em reforço destas posições, faremos a seguir breves menções a experiências de campo que podem ser aplicadas para alcançar estes objetivos. Na primeira, se aborda uma mudança na ação pedagógica em duas fases do currículo programático, de turmas com crianças dos anos iniciais do ensino fundamental. Na aula de geografia é sugerido que tratem da questão dos meios de comunicação, centrando o foco no envio de correspondências escritas. As crianças seriam motivadas a escrever cartas para amigos e familiares, envelopá-las e postá-las, podendo serem, inclusive, levadas em passeio Tecnologias Educacionais 26 UNIDADE 1 até a agência dos correios. Tal atividade – que aos olhos do tempo presente parece ligada à disciplina de história, ou coisa de “antigamente”, visto que hoje as crianças não recebem cartas, ou recebem poucas –; ainda assim será capaz de despertar interesse das crianças envolvidas, sobretudo pelo valor agregado da elaboração do material (folha/envelope), da arte de produção (texto), da movimentação geográfica (ida ao correio), etc. Esta mesma turma, em oportunidades posteriores, poderia ser levada ao laboratório de informática da escola e lá começar a desenvolver habilidades de uso e envio de e-mails, pois esta será a realidade de comunicação daquela geração. Outra experiência que também pode ocorrer nas aulas de geografia é a construção de maquetes, permitindo aos alunos exercitar a compreensão física da organização de uma cidade. Além de habilidades em artes, os alunos poderiam exercitar áreas de história, língua portuguesa, etc. Concluídos os trabalhos, os mesmos seriam expostos para colegas e familiares, reforçando a autoestima escolar. Num instante seguinte, os professores poderiam conduzir estes mesmos estudantes ao laboratóriode informática e estimulá-los a entrar no Google Earth e Google Maps, para buscarem as mesmas áreas anteriormente utilizadas na maquete. A terceira exemplificação consiste de uma exercitação prático-pedagógica de elaboração de pequenos vídeos, voltados para questões sociais como violência urbana, drogas, pichações, etc. Poderiam ser usadas câmeras digitais e celulares, fazendo com que o material produzido se torne um recurso didático para as apresentações na escola, via “mostra cinematográfica” para colegas, familiares e convidados. Além disso, os alunos poderiam disponibilizar os materiais produzidos no Youtube, ampliando sua capacidade de acesso e visualização. Como foi possível acompanhar, o uso das novas tecnologias educacionais é um processo dinâmico, que estabelece relação estreita com a vida dos educandos, e isto se constitui em instrumento de reconhecida importância ao ato de ensinar. Neste aspecto, a utilização dos recursos da web já é de grande valia como suporte didático para o ato de educar hoje. Para saber mais sobre aplicação de tecnologia no ensino da matemática, acesse o link: http://goo.gl/5jld0V Para saber mais: 27UNIDADE 1 Pelos exemplos demonstrados de ação pedagógica numa unidade escolar, é possível ver que os professores devem associar os recursos didáticos às novas tecnologias da informação e comuni- cação. Porém é bom destacar que se está apenas no começo e que muito há pra se fazer, notadamente no que diz respeito ao currículo para formação dos professores, além de estímulos e facilita- ções que possibilitem sua atualização. Crianças e adolescentes de hoje gostam das experiências inovadoras e instan- tâneas, a qualquer hora e em qualquer lugar. Com isto, o discurso atualmente em voga é o de que a sala de informática já começa a fazer parte do patrimônio histórico. Haja vista que celulares, note- books, tablets, iPhones, câmeras digitais e tantos outros permitem acesso rápido e a qualquer tempo à internet. Assim sendo, o laboratório de informática agora está no bolso ou na bolsa dos estu- dantes; sem mais as limitações físicas das velhas salas de laboratórios (que estão sendo derrubadas). Sem este controle, com acesso livre, seja dos serviços wifi (internet sem fio), seja dos provedores das operadoras de telefonia móvel, crianças e adolescentes, andam, quer dizer, navegam por onde desejarem, inclusive para muito distante das salas e pátios da escola. Certamente, o modelo de ação peda- gógica que temos em vigor enfrentará muitas dificuldades, principalmente nos aspectos de trato comportamental da disciplina entre os estudantes, se pensarmos como serão os procedimentos de orientação educacional para com atitudes de navegações indevidas por sites indesejáveis na ausência de filtro e do controle virtual, até aqui as garantias do uso no ambiente escolar. Tecnologias Educacionais 28 UNIDADE 1 Pode-se igualmente prognosticar a derrubada dos muros da escola, se a mudança do processo de educação continuar atrelada aos avanços tecnoló- gicos, fato este considerado por muitos como uma tendência natural e inevitável. Inclusive, é possível resgatar a memória da história da educação, recordando que todo o universo dos conhecimentos, na passagem de seus procedimentos iniciais, apresentou dificuldades e rejeições, talvez devido a razões de cunho filosófico e comportamentais, marcadamente ao que tange a quase natural resistência ao novo. Temos hoje um novo cenário tecnológico aparecendo na vida da escola, as lousas digitais (realidade ainda pouco acessível, mas sinalizadora do futuro), e essas obedecem a toques físicos ou comandos a distância por meio de equipamentos eletrônicos. Igualmente, temos equipamentos de elevada capacidade tecnológica tipo notebooks e tablets, que não apenas guardam uma imensa quantidade de dados (muitíssimo mais que as bibliotecas escolares), como também conectam o estudante a sites de busca que representa um recurso de valor comparável a um “mega professor externo” que, entretanto ofusca o professor presente na sala de aula, pela ligeireza e acerto de pormenores com que responde aos cliques da consulta. 29UNIDADE 1 Esse, em resumo, é o mundo digital que responde aos costumes e onde as crianças nascidas a partir de 1990 (a denominada geração I, i de internet) têm apresentado como o seu jeito de ser. Até uns anos atrás, quando se tirava uma fotografia, tinha que se esperar o final do filme, para serem revelados todos os retratos contidos nele. Hoje, com os diversos instrumentos fotográficos acessíveis e à disposição, uma foto pode ser vista e avaliada instantaneamente, inclusive por crianças, e aquela que não corresponda às expectativas, ou apresente defeitos pode ser descartada/apagada imediatamente. Em se desejando, uma nova pose pode ser feita a seguir. Isto para não dizer que de posse de câmeras e celulares as crianças hoje, no jardim de infância, já produzem suas próprias fotos e postam nas redes. Como pode ser visto é uma geração sui generis, como todas nas gerações na história da humanidade. Isto deve ser um indicativo do quanto é errôneo querer interpretar a geração dos jovens que cresceram com o mundo das novas tecno- logias, pelos parâmetros de comparação com a geração de seus pais, professores, principalmente procurando distinguir e destacar uma geração da outra. Por outro lado, não há exagero em dizer que o uso das tecnologias digitais está influenciando no modo de pensar e agir das pessoas, como poucas ou talvez nenhuma vez antes se viu, com tamanha intensidade. Exatamente este novo indivíduo é que a escola tem por missão educar. Portanto, na educação desta geração, mais do que nunca a escola precisa compreender que deve transmitir valores humanos e referências pessoais, para que não se perca o convívio da vida social, mais íntimo do que aquele conseguido através dos chats (sala de bate-papo), ou das salas de jogos virtuais; que se cuide em oferecer calor e contato humano para além dos contatos virtuais. Assista à videoaula com este conteúdo. Tecnologias Educacionais 30 UNIDADE 1 MÓDULO 3 A internet como recurso educacional Ainda que se evite utilizar o termo “revo- lução”, um dos aspectos mais destacados da internet é, com certeza, o espaço de tempo relativamente breve em que ela se desenvolveu e penetrou praticamente em todos os setores da vida social – aí incluída, claro, a escola; considerando-se também as consequências. Como ilustração deste fato, tome-se o seguinte exemplo referente ao ocorrido em Portugal. Num seminário promovido pelo Conselho Nacional de Educação, em 1993, sobre A Educação e os Meios de Comunicação Social, os conferencistas referiam-se à mídia como “novos meios de comunicação social”, aí discorrendo sobre o rádio e a televisão, e destacando os progressos alcançados no domínio de ambos – TV e rádio. Porém, não constando de suas palestras nenhuma citação à internet! No entanto, apenas cinco anos depois, o mesmo Conselho Nacional de Educação promovia já um debate sobre A Sociedade da Informação na Escola, em que se pretendia fazer um levantamento a respeito da situação da internet nas escolas. 31UNIDADE 1 Eis porque se justifica plenamente falar da internet como recurso educativo. Contudo, tratar desta questão implica cuidar, primeiro, de uma questão mais geral que: a da relação entre a educação ou, mais precisamente, entre a escola e os meios de comunicação. Por conseguinte, o presente tópico será dividido em três partes para melhor discussão e entendimento deste assunto. Na primeira, intitulada “A relação problemática entre a escola e os meios de comunicação”, serão tratadas as principais razões que explicam como o convívio entre aescola e os meios de comunicação se tornou problemático, sobretudo nas últimas décadas do século XX. Na segunda, chamada “A internet como recurso educativo”, nos referiremos às principais especificidades que caracterizam este meio de comunicação como recurso educativo e a distinção de outros meios eletrônicos, especialmente a televisão. Na última e terceira parte deste tópico, sob o título “Os riscos associados ao uso da Internet”, abordaremos alguns dos mais destacados riscos relativos ao uso da internet por estudantes, sejam eles jovens, crianças ou adultos. A relação problemática entre a escola e os meios de comunicação A relação estabelecida entre a escola e os meios de comunicação tem se tornado cada vez mais problemática – até ao limite de hoje se falar, mesmo, em conflito entre uma e outros. Quanto a saber quais as razões que tornam cada vez mais proble- mática tal relação – e quando –, parece haver, pelo menos, razões fundamen- tadas para a admitirmos como hipótese prática. Principalmente, referimos à coin- cidência entre, por um lado, a evolução das mídias eletrônicas, em particular da televisão, após a II Guerra Mundial e, por outro lado, a crise da escola (e também da universidade), que começa a ser mani- festada no Ocidente a partir desta época, para finalmente explodir nos finais da década de 1960. Acrescente-se, ainda, a concepção de que a televisão tem efeitos profundos sobre o conjunto da sociedade e da cultura e, assim, sobre a escola. Pode-se argumentar que as mídias, incluindo a televisão, fornecem todo um conjunto de informações que acabam por ampliar, e muito, a informação fornecida pela escola. Tome-se o exemplo do que acontece com canais temáticos, como o National Geographic e o Futura. Os meios de comunicação parecem constituir, dessa forma, um verdadeiro complemento à escola. Este argumento não deixa de ser verdadeiro, pelo menos em parte. Contudo, ele obriga a pelo menos duas observações. A primeira, a de que aquilo que na TV se pode considerar como especificamente informativo e Tecnologias Educacionais 32 UNIDADE 1 educativo é mais a exceção do que a regra. A segunda, que pode ser vista como explicativa da primeira, a de que, se aceitarmos que as principais funções das mídias residem em informar, divertir e educar, podemos afirmar que a televisão se centra no divertimento – já que a informação e a educação, quando acontecem, têm também elas de se submeter às exigências do entretenimento. Desta forma, a informação tem que se transformar naquilo que os ingleses denominam infotainment e nós “informação-espetáculo”, não sendo por acaso que, a respeito da informação noticiosa, principalmente televisiva, se tem generalizado nos últimos tempos a expressão “circo midiático”. No que diz respeito aos chamados “educativos”, o seu potencial de educar acaba por ser submergido pela necessidade de inserir mecanismos de sedução dos seus destinatários infantis e juvenis que lhes dá a possibilidade de distância e reflexão que a educação exige. Além disso, existe a ideia de que aquilo que diverte – a comédia, o objeto de lazer, o circo – apela às emoções, aos sentimentos mais baixos do ser humano, à distração, aos esquecimentos, que são contrários à cultura. Esta, considerada no sentido individual – a educação –, não pode deixar de ser entendida como cultivo de si mesmo, tendo em conta o desenvolvimento de todas as suas potencialidades. Ora, como em tempos passados, também hoje o papel da escola terá de residir não em divertir, ainda que o divertimento até possa ser utilizado como uma estratégia pedagógica, entre outras, contudo exigindo um esforço de reflexão e de elaboração da informação. Até porque nem sempre o que exige um esforço equivale às dificuldades. A internet como recurso educativo Qual é esta nova estrutura educativa que poderia (poderá) evitar o fracasso da escola perante as forças de educação indireta, aí incluindo notadamente a televisão? Seja qual for esta mencionada estrutura educativa, ela não pode caminhar nem no sentido de oposição à mídia, o que, dada a extensiva presença desta no cotidiano de cada um dos estudantes e dos cidadãos em geral, seria uma perfeita idiotice, nem no sentido da sua imitação que, se possível, equivaleria a decretar o fim da própria escola, transformada então num sucessor do “circo midiático”. Significa tal questionamento que a escola não pode competir com as mídias no seu domínio específico? Exatamente! No domínio do divertimento, a escola não tem qualquer chance de competir com a força irresistível das mídias, em particular 33UNIDADE 1 da TV. Porém, isto não quer dizer que a escola não possa utilizar as mídias em seu favor, como, aliás, já tem feito. No que tange efetivamente à utilização educativa na internet, devido às suas características específicas enquanto meio de comunicação, ela permite não uma revolução, como muitas vezes se anuncia, mas sim a ampliação e aprofundamento de cada uma das possibilidades educativas já permitidas há muito tempo por meios como rádio e televisão. Mais objetivamente, a internet pode ser utilizada como: Fonte de informação Conforme sua natureza digital, interativa e colaborativa, a internet é vista, praticamente desde seu início, como uma espécie de biblioteca universal, onde podemos encontrar tudo o que desejamos nas várias enciclopédias digitais, nas diversas bibliotecas temáticas, nos inúmeros portais ou através de incontáveis meios de busca. A internet pode ser utilizada, assim, de forma perfeita, como fonte de informação, como também ponto de partida dos temas a tratar de maneira mais aprofundada e/ ou alternativa pela própria escola. Neste particular, projetos como a Wikipedia ou o Youtube têm assumido, nos últimos anos, uma relevância crescente tanto no que se refere à quantidade e qualidade dos conteúdos disponibilizados, como ao número sempre crescente de seus visitantes e utilizadores. Recurso pedagógico-didático Mediante um computador ou um projetor de vídeo, a exposição do professor ou dos alunos pode apoiar-se nos vários recursos disponíveis na internet, como textos, fotografias, gráficos e vídeos, seja de forma direta, em tempo real, seja de forma indireta, depois de submetê-los a determinado tratamento (adaptação). Tecnologias Educacionais 34 UNIDADE 1 Ainda neste aspecto, é possível utilizar a internet para disponibilizar aos alunos, especialmente os que não puderem estar presentes nas aulas, os conteúdos destas últimas, os materiais utilizados ou a pesquisar, os exercícios e as bibliografias. Isso pode ser feito colocando esta informação numa página da web ou enviando-a aos alunos por e-mail. É neste conjunto de realidades, precisamente, que deve ser encarado o papel da internet, que tem assumido e muito mais ainda assumirá seu papel de relevância como recurso educativo. Instrumento de materialização de projetos A internet pode ser e já vem sendo utilizada, seja em nível de turma, seja em nível de escola, para dar vida a projetos digitais como um jornal, uma rádio ou uma televisão escolar, para construir uma página, fazer um blog, etc. Projetos deste tipo são uma ótima maneira de motivar os alunos e levá-los a desenvolver a sociabilidade e a capacidade de trabalhar em grupo, a aprender de forma autônoma e a aprofundar seus conhecimentos. Objeto de estudo Tal como se verifica com outras mídias, a internet é (ou deve ser) objeto de estudo e análise não somente nas disciplinas criadas para promoção da chamada “literacia midiática”, como é o caso das disciplinas de Tecnologias da Informação e da Comunicação, mas também em disciplinas de âmbito geral como a Sociologia, Antropologia, Economia e Língua Portuguesa,que buscam estudar as diversas questões de informação e da comunicação e, em particular, os funcionamentos e efeitos sociais próprios das TICs. Verdade é que, como aqui já nos refe- rimos, meios como o rádio ou a televisão são, não é de agora, objetos destes quatro tipos de utilização. Entretanto, as características próprias da internet, enquanto meio de comunicação, possibi- litam que esses tipos de utilização se desenvolvam de uma forma que aqueles meios não permitam, transformando-a num meio mais amigável para a escola e sua cultura escrita de base humanista. Fique atento! O computador pode ser utilizado para a resolução mecânica de exercícios – segundo Castillo (1998), exercícios e problemas são distintos, neste caso, o uso do computador para a resolução de exercícios poderia se constituir em prática que reforça a reprodução de conteúdo, à qual está veiculada a ideia de ensino mecânico e de uma Matemática cujo conhecimento está dado, não se constrói. 35UNIDADE 1 Destacamos, aqui, as seguintes características: Comunicação interativa A interatividade é, com certeza, a característica de rede que mais tem sido destacada pelos estudiosos. Se estiver correto que o rádio e a televisão também (já) envolvem formas e estratégias de interatividade específicas – telefonemas ou e-mails dos destinatários, participação do público em programas ao vivo, etc., –, elas estão distantes de ter o alcance e a importância da internet, que não seria o que é sem essa mesma interatividade. Ora, não é a mesma coisa assistirmos, de forma passiva, a um “circo” que se desenrola a frente de nossos olhos, nos envolve e nos faz sentir determinadas emoções, ainda que possamos mudar desse “circo” para o do lado, ou utilizarmos um meio em que não nos limitamos a receber o que outros produzem, mas podemos, de nosso lado, produzir também coisas a que também os outros assistam. Revalorização da escrita As funcionalidades mais utilizadas e importantes na internet, como sejam o correio eletrônico, os vários instrumentos de publicação, dentre os quais se destacam, nos dia de hoje, os blogs, e a pesquisa através dos instrumentos de busca, fazem interagir a escrita e a leitura de um modo que nenhum dos outros meios eletrônicos faz, aproximando mais a internet da escola e da cultura escrita do que os demais meios. Economia de recursos A internet é um meio de comunicação cujo conteúdo é composto também dos outros meios de comunicação, inclusive os eletrônicos como o rádio e a televisão. Nesse sentido, a sua utilização representa uma enorme economia de recursos, ao tornar possível a conjugação de meios que, sozinhos, são sempre limitados. Ainda mais se considerarmos uma tecnologia relativamente fácil de adquirir e utilizar por onde quer que se esteja ou vá, na escola, em casa ou numa biblioteca pública. Os riscos associados ao uso da internet A despeito de todas as suas vantagens aqui citadas, a internet não está isenta de riscos. Dentre os variados riscos envolvendo a sua utilização e considerando que eles são de natureza diversificada e afetam diversas atividades e instituições, referimo-nos aqui, mais especificamente à sua utilização por estudantes, a saber: O plágio O fato de a internet representar uma “super biblioteca” e um “super arquivo Tecnologias Educacionais 36 UNIDADE 1 de informações”, onde se encontra tudo aquilo que se queira pesquisar, permite aos estudantes, especialmente os de nível mais adiantado, nos seus trabalhos de investigação individuais ou em grupo, que utilizem materiais copiados de forma direta, quer dizer, sem nenhum esforço individual de elaboração e/ou sem as referências às fontes consultadas. Dado o volume de informações em causa, nem sempre é possível ao professor (para não dizermos que lhe é quase sempre impossível) identificar a ocorrência e a origem do plágio. A luta do professor contra o plágio passa, antes de qualquer coisa, pela explicação aos estudantes da diferença existente entre uma citação, um comentário, que enriquece um texto e um plágio (motivo de confusão para boa parte dos estu- dantes, quando assim agem). Por fim, uma estratégia de que se pode valer o professor, na ‘tarefa’ de identificar plágios escolares, é valer-se da apresentação dos trabalhos e sua respectiva discussão, em sala de aula. A confusão informativa Novo risco a que frequentemente são levados os estudantes é o que deriva de sua incapacidade ou dificuldade de seleção das informações buscadas, de separar entre material importante e aquilo 37UNIDADE 1 que se classifica como desnecessário, fonte confiável e fonte suspeita. O presente risco pode ser contornado ou pelo menos suavizado pelo professor se este selecionar previamente e indicar aos alunos determinados sites de informação e pesquisa, um processo de reconhecida eficácia que previne efetivamente a ocorrência de plágios. O desvio e a tagarelice Os aplicativos de chats constituem duas das funcionalidades mais utilizadas pelos estudantes, notadamente os mais jovens. Estas modalidades, que correspondem a uma necessidade de sociabilidade que lhes é própria, servem na maior parte das vezes para prolongar e aprofundar no ciberespaço as amizades e outras relações cotidianas, proporcionando riscos não descartáveis. No caso do chat a que qualquer um pode ter acesso, o risco principal está na criança ou jovem se conectar com indivíduos, geralmente disfarçados, que procuram aliciá-los para atividades nocivas, quando não criminosas. Além disso, há de se consi- derar como um risco o tempo excessivo passado em conversas pouco úteis. O jogo e o vício Mais uma funcionalidade arriscada, porém de largo uso entre jovens, é a participação nos variados jogos on-line. A generalidade destes jogos envolve, como no caso da conversa on-line que acabamos de nos referir, o sério risco de se criar certo vício que leva os jovens a esbanjarem tempo e dinheiro que bem pode redundar em acentuado problema envolvendo apostas, como admitido em certos jogos disponíveis. Tecnologias Educacionais 38 UNIDADE 1 MÓDULO 4 Utilização das TICs através de projetos Talvez nenhuma outra inovação tecnológica haja provocado tantas mudanças significativas em tão pouco tempo na sociedade como as chamadas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). No meio destas, está incluída a educação. Ainda antes do aparecimento do computador - hoje fazendo parte praticamente de quase todas as formas estruturais de informação - mais precisamente em 1945, Vannevar Bush idealizou, com admirável precisão, aplicações como hipertexto, armazenamento ótico, bibliotecas virtuais, multimídia e interfaces gráficas. Previsões como estas demonstram que a expectativa de se utilizarem novas tecnologias para facilitar a vida humana em diversos aspectos, inclusive educacional, já se fazia presente antes mesmo do desenvolvimento dos recursos técnicos que a transformasse em realidade. Estas novas tecnologias trazem consigo inúmeras questões, frente a inevitabili- dade de se ter que conviver com elas na educação: como educadores, que bene- fícios podemos usufruir com as novas tecnologias? Que mudanças teremos que realizar, efetivamente, em nossa ativi- dade diária? Que novos conhecimentos e habilidades devemos desenvolver para fazer bom uso desta tecnologia? Para os educadores e as escolas, a neces- sidade mais importante criada pelo uso generalizado das TICs é ter domínio em como aplicar todo o potencial existente no sistema educacional, de maneira espe- cial nos seus componentes pedagógicos e processos de aprendizagem. O que acontecerá com os métodos de ensino, com a própria Pedagogia como conhe- cemos, daqui pra frente? Que novas tecnologias e equipamentos estarãodisponíveis, para que as pessoas possam absorver novos conhecimentos em qual- quer lugar e a qualquer momento? Não dispomos ainda das respostas para os quesitos acima, porém já se tem conhecimento, com certeza, que os resultados obtidos até o momento com a introdução das TICs na rede escolar têm sido muito abaixo dos investimentos empregados, e abaixo também das expectativas mais realistas. A linha que serve de divisa entre o sistema educacional e o mundo do trabalho – com processos produtivos intensamente dependentes da informação e do 39UNIDADE 1 conhecimento – tem se mostrado cada vez mais frágil, sendo muitas vezes difícil entender com exatidão a que mundos pertencem as práticas que estão sendo utilizadas para aprender, trabalhar e até para divertir. Com a difusão do uso das redes de computadores e dos inumeráveis recursos de software, atividades ligadas à diversão, trabalho e aprendizado acontecem quase ao mesmo tempo, assim alterando substancialmente as tradicionais formas de buscar informação, produzir um bem, executar um trabalho, promover conhecimento ou usufruir momentos de lazer. Torna-se, portanto, progressivamente mais desafiadora a preparação do aluno para o mundo do trabalho. Cada vez mais se exige maior empenho e conheci- mento. A educação tem, pois, um papel ímpar no desenvolvimento pessoal e social e pode ser vista ainda como um dos principais meios disponíveis para incrementar uma forma de progresso humano mais duradouro e profundo na busca de conhecimento e habilidades, daí levando a reduzir a pobreza, igno- rância e exclusão. Ao mesmo tempo, outro aspecto de realce a ser considerado nesta análise é o conjunto de iniciativas em andamento, Tecnologias Educacionais 40 UNIDADE 1 abrangendo a reforma e modernização da administração pública, resultado de um processo complexo de transição das estruturas políticas, administrativas e econômicas. Essas iniciativas levam a um ambiente favorável a dar sustentação às propostas apresentadas aqui. No Brasil, a educação é um setor que se tornou alvo das políticas públicas, em íntima articulação com as características que definem o seu processo de modernização e desenvolvimento. No conjunto de modificações iniciadas na administração pública, o desenvolvimento de programas de governo eletrônico (e-Gov) tem sido um assunto constante na discussão do novo modelo de gestão pública. O e-Gov pode ser entendido como uma forma natural de se buscar modernização do estado e da administração pública por meio do uso estratégico e intensivo das TICs nas relações internas dos próprios órgãos e dependências do governo, e nas relações do governo com a sociedade (serviços, processos, informações e pessoas). Os programas e- Gov devem incrementar, dentre outras, as iniciativas para promover a inclusão digital e a universalização da educação, assegurando que toda a sociedade tenha acesso ao ensino fundamental e médio de qualidade. No campo educacional, o incremento desses programas merece um debate amplo e democrático, a respeito do uso de novas tecnologias na escola, bem como a metodologia a ser aplicada no desenvolvimento destas novas políticas educacionais. (Chahin et al., 2004) Pelo contexto apresentado, o problema em destaque consiste no estabelecimento claro de qual será o caminho mais eficaz para introduzir, de forma adequada, organizada e efetiva, recursos de TIC como elementos facilitadores dos processos didático-pedagógicos da escola, buscando aprendizagens significativas e melhoria dos indicadores de desempenho do sistema educacional como um todo, onde novas tecnologias sejam utilizadas de forma transparente e natural. Evolução das Tecnologias da Informação A palavra “informação” diz respeito aos fatos ou dados, geralmente fornecidos a uma máquina para, com os mesmos, realizar algum tipo de operação ou processamento, tais como: armazenar, transmitir, codificar, comparar, indexar, etc. Em contextos específicos, como na Teoria da Informação, por exemplo, uma mensagem contém informação na proporção em que produz algo novo, até aí desconhecido, diminuindo nossa incerteza sobre um determinado estado de coisas. Num sentido mais geral, toda técnica ou recurso utilizado para realizar 41UNIDADE 1 algum processo ou operação sobre certo tipo de informação, constitui uma tecnologia de informação. No tempo presente, é inevitável a associação da expressão “tecnologia da informação” com “rede de computadores”, “banco de dados”, “multimídia”, “internet” e outros recursos oferecidos pelo computador. As demais tecnologias (TV, rádio, telefone, áudio, vídeo, etc.), que antes eram utilizados separadamente, hoje se encontram integradas por meio do computador e seus periféricos – câmeras de vídeo, impressoras, conexão à internet, dentre outros. Esta integração possibilitou o armazenamento da informação sob as mais diferentes formas e nos mais diversos meios, assim como sua transformação de uma forma em outra com extrema facilidade, transformando o computador no centro de processamento que torna possível todas estas operações. Sociedade da Informação Por definição, sociedade da informação é um sistema sociopolítico e econômico no qual o conhecimento e a informação constituem fontes fundamentais de bem-estar e progresso. O florescimento desta nova sociedade exige a prática de princípios fundamentais como o respeito aos direitos humanos, no âmbito de seu contexto mais amplo. É justo colocar o direito à educação como centro desta questão. A sociedade de informação se firma na utilização intensiva das novas tecnolo- gias, especialmente, as tecnologias da informação e da comunicação e é cons- tituída de organização social moderna, onde as redes de comunicações e os recursos de tecnologia da informação são extremamente desenvolvidos, o acesso equitativo e onipresente às informações, o conteúdo apropriado, em formatos acessíveis e comunicação eficiente devem possibilitar que todas as pessoas consigam o seu potencial pleno. O domínio e o controle dessas tecnolo- gias têm alterado e decidido a sorte das sociedades. (CHAHIN et al., 2004) Esta mesma sociedade de informação deve ainda ter um viés inclusivo, onde todas as pessoas tenham possibilidade de ter liberdade e condições para criar, compartilhar, receber, e utilizar informações e conhecimentos por meio da educação. Outros questionamentos podem surgir, dentre eles: como a aplicação e uso dessas tecnologias na escola podem, efetivamente, contribuir para criar a sociedade de informação? Existem metodologias que possam ser aplicadas de forma genérica? Tanto no Brasil quanto no mundo, inúmeros governos estão implementando programas de reforma e Tecnologias Educacionais 42 UNIDADE 1 modernização da administração pública, e todos beneficiam a realidade das novas tecnologias e incentivam o crescimento da sociedade da informação, como maneira de responder aos desafios de desenvolvimento adicionais impostos pela exclusão digital. Nesse rumo, têm buscado soluções viáveis para introduzir uma infraestrutura da informação e da comunicação que dê possibilidade de acesso universal a essas tecnologias. Uma infraestrutura de redes de informação e de comunicação bem desenvolvida e acessível é primordial para o progresso econômico, social e de bem estar para todos os cidadãos da comunidade. A melhoria da conectividade e o acesso às redes de comunicação das escolas são de suma importância neste sentido. Impactos das Tecnologias da Informática e Comunicação na Educação É possível afirmarmos que nenhuma outra tecnologia produziu tantas mudanças em tão curto espaço de tempo e com tamanha profundidade, em todos os setores da atividade humana, comoa TIC, intensificada nas derradeiras décadas com a utilização (popularização) do computador e da internet. O contexto mundial apresenta um verdadeiro desafio quanto à forma de assimilar as transformações que estão acontecendo com o desenvolvimento das telecomunicações, da informática e de suas interações com o sistema educacional. Em decorrência dos avanços tecnológicos, vivemos atualmente uma economia na qual a informação e o conhecimento são considerados matérias-primas de muitos processos produtivos. Só este fato já seria bastante para justificar a necessidade de uma extensa revisão do sistema educacional, em todos os seus níveis. No cenário que se apresenta, até os ambientes de trabalho estão se transformando para possibilitar a aprendizagem permanente, como forma de acompanhar e se manter atualizado com o ritmo de desenvolvimento. Os conhecimentos e as informações são recursos inesgotáveis, podendo ser reutilizados na geração de produção de novos conhecimentos e informações. Por essa razão, as fontes de dados, de informações, as comunicações simbólicas, etc., são consideradas valores da nova economia. Sem dúvida o desenvolvimento da sociedade, hoje, depende da capacidade de gerar, processar, transmitir, recuperar e armazenar informações de forma eficiente. Por este motivo, a população escolar necessita ter chance de acesso a esses instrumentos e adquirir capacidade para produzir e desenvolver conhecimentos de uso na TIC. Isto pede a reforma e ampliação do sistema de 43UNIDADE 1 produção e de difusão do conhecimento, permitindo o acesso à tecnologia. Contudo, o simples acesso à tecnologia, em si, não é o item mais importante, mas sim, a criação de novos ambientes de aprendizagem e de novas dinâmicas sociais a partir do uso dessas ferramentas. A seguir, apresentaremos algumas mudanças necessárias para que o cenário seja mais propício à utilização da TIC como recurso efetivo de aprendizagem. Currículos A configuração tradicional dos currículos precisa ser revista para incorporar necessidades específicas da era da informação. Como a atual padronização dos currículos ainda é da era pré-digital, certamente estes serão substituídos por sistemas nos quais o conhecimento pode ser obtido quando e onde for necessário. As estruturas curriculares atuais, caracterizadas por uma tradicional imobilidade, não consideram nem ao menos uma fração das inumeráveis possibilidades oferecidas pela TI (Tecnologia da Informação). A utilização mais apropriada de novas tecnologias em sala de aula se dá através de projetos multidisciplinares, o que não corresponde, na prática, à atual organização dos currículos. Incluir TI nos currículos não corresponde exatamente no mesmo que incluir laboratório de informática em horário de aulas (o efeito da utilização de apenas uma hora por semana, de uso de computadores em laboratório, significa pouco ou nada). Alunos Em tempos passados, os alunos enxergavam o professor como principal ou, muitas vezes, única fonte de conhecimento e informação. Agora, têm iguais possibilidades de acesso às bases de dados das redes de computadores: bibliotecas, publicações, cursos, simuladores, laboratórios virtuais, grupos de intercâmbio, listas de discussão, projetos cooperativos e inúmeras outras Tecnologias Educacionais 44 UNIDADE 1 possibilidades superando, em todos os sentidos, as limitações de antigamente. Além do mais, tanto professores quanto alunos podem contribuir para adicionar informações às bases de dados existentes, de modo simples e rápido, seja publicando eletronicamente resultados de seus trabalhos, seja pela criação de páginas próprias de informação na internet, modificando substancialmente o panorama educacional em vigência. Escolas O ritmo ou compasso de atuação das esco- las está distante de assimilar as mudanças na mesma velocidade em que as mesmas ocorrem no mundo em seu redor. Por esta razão, encontram-se diante da angustian- te e urgente necessidade de promover a alfabetização digital de seus professores e técnicos, exigência de vital importância para introduzir efetivamente as novas tec- nologias no ambiente educacional. O pro- blema, contudo, não se resolve somente com a simples aquisição de tecnologia, na sua dimensão física, representada pela compra de equipamentos, construção ou adaptação de novas instalações e, até mesmo, com a contratação de equipes especializadas para esta finalidade. A experiência demonstra que pouco resolve simplesmente instalar computadores nas escolas, se as pessoas não aprenderem como integrá-los às variadas atividades curriculares. Professores Relativamente às novas tecnologias, os professores têm visões pessimistas, otimistas ou indiferentes. Sob a visão otimista eles consideram as numerosas facilidades oferecidas pela TI e projetam para o futuro um mundo de maravilhas. Contudo, a questão do uso sistemático e organizado da TI na educação não é tão simples como aparenta. A falta de contexto, a quantidade e a veloci- dade da informação e a virtualidade dos novos meios de informação estão exigindo do professor um trabalho de acompanhamento e orientação muito mais intenso e profundo. Pelo novo contexto tecnológico, o professor passa a ter um destaque ainda maior, frente a questionamentos do tipo: como ensinar a administrar as inúmeras possibilidades de receber informações a qualquer hora e lugar? Como formar no aluno a capa- cidade analítica e seletiva sobre as infor- mações que recebe? Como aprimorar os processos intelectivos de transformação da informação em conhecimento? As novas tecnologias e a metodologia de projetos A implantação da TIC na educação básica tem possibilidade de ser significativamente enriquecida, se complementada pela Metodologia de Projetos – MP. Os pressupostos e as 45UNIDADE 1 Pr r s As novas tecnologias e a metodologia de projetos diretrizes da MP possuem elementos seguros para evitar muitos problemas, bem como para resolver outros de costume, encontrados nas ações de implantação dessas tecnologias, como também em programas de informática aplicada à educação. A implantação da MP neste contexto exige um esforço complementar, no sentido de conhecer com segurança e profundidade razoável o significado e as diretrizes da metodologia de projetos. Tem-se, contudo, que este trabalho a mais é compensado pelas vantagens trazidas com a aplicação segura de uma metodologia com potencial extraordinário de mudanças importantes ao processo educacional. A ajuda principal que essa metodologia proporciona para a implantação da TIC no ensino pode ser notada tanto no desenvolvimento de aulas e laboratórios especializados de informática, como na realização de atividades de ensino, pesquisa e estudo dos conteúdos curri- culares. Neste aspecto, estamos levando em conta as aplicações da TIC em diversas instâncias: em aulas específicas de informática, destinadas à aprendi- zagem dos recursos correspondentes; no desenvolvimento de projetos de trabalho; em atividades complementares e extracurriculares diversas; e, principal- mente, na utilização da informática nas disciplinas gerais do currículo. Tecnologias Educacionais 46 UNIDADE 1 Fundamentos da Metodologia de Projetos Inúmeras publicações e experiências escolares apontam para o potencial da MP como contribuição para a melhoria do processo educativo, notadamente no que se refere à implantação de uma aprendizagem significativa, em oposição à aprendizagem tradicional do tipo verbal, livresca, retórica, com destaque para a teoria e descontextualizada. A experiência de alguns estudiosos demonstra como a valorização e o desenvolvimento de projetos de trabalho por alunos e professores podem representaruma forma indispensável de compensar ou equilibrar os problemas decorrentes de uma ênfase exagerada na utilização de recursos virtuais, sem considerar as situações reais e contextuais. Um dos pressupostos essenciais da MP é a consideração das situações reais da vida no sentido mais ampliado, que devem estar relacionadas ao objetivo central do projeto em desenvolvimento. São fundamentais os pressupostos seguintes na Metodologia de Projetos: • Realização de projetos de trabalho por grupos de alunos com número de participantes definido criteriosamente para cada experiência; • Definição de um período de tempo limite para a concretização do projeto, como fator relevante no seu desenvolvimento e concretização (geralmente, períodos de 2 a 6 meses); • A forma de escolha dos temas dos projetos, oferecendo liberdade para os alunos (com negociação entre professores e alunos visando deter- minar múltiplos objetivos e interesses); • Os projetos devem contemplar uma finalidade útil, de modo tal que os alunos tenham uma percepção do sentido real dos projetos propostos; • Utilização de múltiplos recursos no desenvolvimento dos projetos, incluindo aqueles que os próprios alunos podem providenciar junto a outras fontes, como no caso da comunidade; • Socialização dos resultados dos projetos nos vários níveis de comunicação, como a própria sala de aula, a escola, a comunidade, incluindo a apresentação dos resultados pelos autores. As atividades orientadas pela Metodo- logia de Projetos possuem, ainda, as características seguintes: constituem um objeto de realização concreta; têm deter- minado impacto no ambiente; alteram a relação aluno-professor; estão baseadas 47UNIDADE 1 numa nova abordagem/conceituação de saberes; proporcionam uma nova con- cepção de avaliação; são apresentadas como um desafio aos alunos; e possuem uma abrangência coletiva. Assim, a valorização das atividades de desenvolvimento de projetos, por parte de alunos e professores, poder ser uma forma relevante de compensar ou equilibrar a tendência da nova era de (re) valorização da informação, na medida em que tais atividades promovam uma interação determinante. A tendência atual na direção de valorização da chamada dimensão “virtual”, associada fortemente ao elemento “informação”, pode no âmbito do desenvolvimento educacional dos jovens, induzir a dificuldades e problemas complexos relacionados à necessidade de formação integral do ser humano. Assim, a conjunção harmônica entre princípios da MP e as proposições e demandas relativas à TIC, revestem-se de uma importância capital, no âmbito do tema levantado. A MP utilizada como recurso para inserção da TIC na educação Estudos recentes mostram o aparecimento de um novo tipo de distúrbio chamado “fadiga da informação”. Ela diz respeito a um problema resultante da exposição excessiva e sem controle a fontes de informação, cujo conteúdo é bastante superior à capacidade de assimilação pelos usuários dos sistemas de informação, com destaque para a internet. Esta realidade cria necessidade do desenvolvimento de filtros para adaptá-la aos processos mentais, que são ativados para sua utilização proveitosa. Excessos podem ser contornados quando situações mais favoráveis ao processo de construção do aprendizado são admitidas, como aquelas em que o aluno participa realmente do planejamento das atividades com objetivos claramente determinados, ainda que as tarefas e seu significado venham a se modificar ao longo da execução do projeto negociado com a turma. Quanto mais intenso o grau de comprometimento do aprendiz com o processo de aprendizagem, com os objetivos de seu conhecimento, maiores também as possibilidades de êxito. Sozinha, a tecnologia tem pouca signi- ficação na educação. Por outro lado, unilateralmente, a informação igualmente carece de utilidade. Para ocupar seu papel a informação precisa suprir processos mentais de entendimento, análise, compreensão, decisão, criação e, em instância mais elevada, conduzir a ações concretas atribuídas ao valor do contexto da informação. Todas estas ponderações reforçam a importância de sempre se investir mais e mais no fator humano. Tecnologias Educacionais 48 UNIDADE 1 Em resumo, a MP contextualiza a informação e beneficia a aprendizagem significativa. Três observações reforçam a adequação desta proposta: • Ausência de contexto na internet: o acesso à informação na internet é, de modo geral, desprovido de contexto. Referências a tempo, espaço, fatos, dados, etc., pedem pouca exigência de experiência ou conhecimento antecipado para sua identificação. Em tal ambiente é comum o aluno sentir-se desorientado ou confuso. Se do ponto de vista tecnológico esta “viagem” representa uma conquista extraordinária, sob a ótica educacional possivelmente seja arriscado/temerário enaltecer o fato. • O desafio de usar a TIC como um meio e não como um fim: para alcançar este objetivo, os professores precisam estar suficientemente capacitados a utilizar os recursos tecnológicos disponíveis de forma natural e transparente. Na MP, é primordial ainda que os professores tenham vivenciado situações reais de ensino, onde o método tenha sido aplicado com sucesso, de maneira que sua utilização seja entendida no contexto das novas tecnologias. • A necessidade de capacitar os agentes transformadores: na introdução das novas tecnologias na educação o foco pedagógico deve levar em conta que o computador e seus periféricos são ferramentas. O professor é o principal agente e o responsável maior pela criação de ambientes propícios à aprendizagem ao utilizar a TIC. A maioria dos alunos desenvolve melhor suas habilidades com as novas tecnologias, quando estas são utilizadas naturalmente em aulas regulares. Terceirizar a 49UNIDADE 1 • • implantação de informática nas escolas através de equipes especializadas tem se mostrado pouco eficaz e produ- tivo em termos educacionais. Outro aspecto a ser ressaltado é a ênfase nos aspectos de infraestrutura física, como aquisição de máquinas, equi- pamentos, softwares, etc. sem iguais cuidados com os recursos humanos, o que via de regra tem levado a resul- tados pouco animadores. A velocidade das mudanças tecnológicas, estranhamente, tem promovido certo entorpecimento (acomodação) nos educadores e gestores do sistema, que ficam paralisados, como que na expectativa do próximo movimento neste cenário repleto de novidades, para só depois decidir que rumo tomar. O número de estudos ainda a serem desenvolvidos nesta área, se compara ao esforço exigido na reinvenção de novo sistema educacional, o que realmente está por ser feito. Os impactos das novas tecnologias de informação e comunicação na educação carecem de estudos mais alentados e definitivos. Os computadores decididamente estão chegando às escolas, porém a contribuição que se espera deles em âmbito educacional é pouco significativa, até agora. Há que se considerar, também, os pressupostos de que programas de e-Gov podem favorecer na adoção da TIC, à medida que tais programas se tornem uma realidade para todos. Assista à videoaula com este conteúdo. Tecnologias Educacionais 50 UNIDADE 1 RESUMO O primeiro tópico desta unidade apresentou as ideias iniciais sobre a vinculação entre a educação e as novas tecnologias, em especial no que se refere ao ambiente escolar. Conforme foi abordado, a inclusão de novas tecnologias no espaço de aprendizagem é hoje uma realidade, devendo a escola se adequar para que isso ocorra da maneira mais proveitosa possível para seus alunos e professores. É importante termos em mente que as novas tecnologias não trazem apenas impactos negativos, mas principalmente positivos,
Compartilhar